quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Quarta-feira de Cinzas Ano B



Ano B
Quarta-feira de Cinzas 

"Ó Deus, vós tendes compaixão de todos e nada do que criastes desprezais: perdoais nossos pecados pela penitência porque sois o Senhor nosso Deus." (Sb 11, 24s.27)
Iniciamos com a Quarta-Feira de Cinzas um tempo muito especial na vida da Igreja Católica. A Igreja quer santificar o tempo e neste sentido nos convida a viver um momento de retiro espiritual: a SANTA QUARESMA.

Na Santa Quaresma tudo nos leva a pensar no tripé de conduta de vida: a penitência, percorrendo estes quarenta dias preparando-nos para a Páscoa, quando então celebraremos o mistério da morte e ressurreição de Nosso Senhor, centro da nossa fé, dedicando maior atenção para a ORAÇÃO, AO JEJUM e à RECONCILIAÇÃO com Deus e com os nossos semelhantes. 

Meus irmãos, 

As cinzas que serão impostas no dia de hoje são o principal símbolo litúrgico do início da Santa Quaresma, tanto que dão o nome ao dia e ao sagrado ofício litúrgico. As cinzas representam a pequenez do homem. Abraão ao falar com o Senhor, no Antigo Testamento, intercedendo por Sodoma, considera-se uma nulidade diante de Deus e, por isso mesmo, considera uma ousadia fazer um pedido: “Sou bem atrevido em falar a meu Senhor, eu que sou pó e cinza” (Gn 18,27). Por isso, ao recebermos as cinzas na Liturgia hodierna vamos pensar em duas atitudes fundamentais da vida cristã: ARREPENDIMENTO e PENITÊNCIA, PURIFICAÇÃO e RESSURREIÇÃO.

Receber as cinzas é um compromisso de conversão: o abandono do pecado, de penitência pública, pedindo perdão a Deus pelos nossos pecados, purificando de nossas faltas e ressurgindo para uma vida nova, a vida da graça e da amizade com Deus, para viver nos quarenta dias do tempo quaresmal uma permanente e contínua vontade de retorno à vida da graça e mudança de vida, atendendo a própria oração de imposição de cinzas: “Convertei-vos e credes no Evangelho”. 

Irmãos caríssimos, 

Quaresma é tempo de oração, de penitência, de jejum e de abstinência de carne, tudo isso em função de ser a morte e a ressurreição de Jesus o centro da celebração de nossa fé. Por isso, para fazer penitência e se converter, é preciso muita humildade, muita disposição de mudança e muita persistência.

A penitência começa conosco mesmos, dentro de nossas pequenas e grandes limitações, procurando corrigir nossos desvios e pecados e buscando lucrar a graça santificante de Deus. O orgulhoso é incapaz de fazer penitência, pois ela pressupõe humildade, o reconhecimento da pequenez de nossa natureza humana diante do Criador, diante do próprio mistério da criação.

Irmãos e Irmãs, 

A Sagrada Liturgia insiste na autenticidade da penitência: rasgar o coração, não apenas as vestes. “Agora - diz o Senhor -, voltai para mim com todo o vosso coração com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes, e voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar do castigo” (Joel 2,12-13). Além disso, a Liturgia insiste no caráter interior do jejum, juntamente com as outras “boas obras”, a esmola e a oração.

A Primeira Leitura de hoje é uma exortação à penitência, ao jejum e a súplica. Penitência significa volta para Deus, por isso nós somos convocados pelo escritor sagrado: “rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e  cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo”(cf. Jl 2,13). Esta nota sagrada nos convida a entrar em espírito penitencial, de mudança de vida, de hábitos, para a procura da via ordinária da santidade.

Na Segunda carta de São Paulo aos Coríntios(2Cor 5,20-6,2), o Apóstolo proclama o novo tempo de reconciliação com Deus, com vistas à iminência da Parusia: “Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus. Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornemos justiça de Deus” (2Cor 5, 20b-21). São Paulo nos exorta a valorizar a reconciliação, aproveitando o sacramento da penitencia oferecido por Cristo, que assumiu o nosso pecado, e a não deixar passar a oportunidade, já que este é o tempo oportuno e favorável, para a mudança de vida e a busca do rosto de Deus. 

Caros irmãos,

O Evangelho deste dia(Mt 6,1-6.16-18) nos apresenta a esmola, o jejum e a oração como o triple fundamental para se viver bem o tempo favorável da Quaresma. Jesus nos apresenta estas três boas obras, que devem ser feitas em seu valor intrínseco, que só Deus vê, e não para serem vistos pelos homens e pelas mulheres.

O verme da vaidade, que incita o orgulho e à hipocrisia, tira à justiça cristã da generosidade, da gratuidade, a sua pureza virginal que busca a Deus unicamente. O olhar do homem deturpa tudo o que toca; é de um ardil sutil e fatal; pode haver uma tendência a praticar a justiça “só para ser visto pelos homens”. 

As pessoas que fazem o pela de dar esmola, apenas para aparecer, que reza, que jejua, no palco de nossa ilimitada vaidade apenas e, secretamente não procura a justiça, mas ao egoísmo é réu da sua própria condenação. 

Jesus é claro no dia de hoje: o jejum, a esmola e a oração são agradáveis a Deus somente quando Ele vê: “Ao contrário, quando tu orares, entra no teu quarto, fecha a porta, e reza ao teu Pai que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa”(cf. Mt 6,6)

Caros irmãos,

Na Quaresma somos chamados a contemplação do rosto do Senhor:  rosto que na Quaresma se apresenta como "rosto sofredor". Na Liturgia, nas Stationes quaresmais, e também na piedosa prática daVia Crucis, a oração contemplativa leva a unir-nos ao mistério d'Aquele que, mesmo não tendo conhecido o pecado, Deus identificou-O com o pecado em nosso favor (cf. 2 Cor 5, 21). Na escola dos Santos, cada batizado é chamado a seguir cada vez mais de perto Jesus que, subindo a Jerusalém e prevendo a sua paixão, confia aos discípulos:  "Tenho de receber um batismo" (Lc 12, 50). O caminho quaresmal torna-se para nós, desta forma, seguimento dócil do Filho de Deus, que se fez Servo obediente.

O caminho para o qual a Quaresma nos convida realiza-se, em primeiro lugar, na oração:  as comunidades cristãs devem tornar-se, nestas semanas, autênticas "escolas de oração". Depois, outro objetivo privilegiado é a aproximação dos fiéis ao Sacramento da reconciliação, para que cada um possa voltar a "descobrir Cristo como mysterium pietatis, no qual Deus nos mostra o seu coração compassivo e nos reconcilia plenamente Consigo" (Novo millennio ineunte, 37). A experiência da misericórdia de Deus, além disso, não pode deixar de suscitar o empenho da caridade, estimulando a comunidade cristã a "apostar na caridade" (cf. Novo millennio ineunte, IV). Na escola de Cristo, ela compreende melhor a exigente opção preferencial pelos pobres, opção que se for vivida "é dado testemunho do estilo do amor de Deus, da sua providência, da sua misericórdia" (ibid.).Meus Irmãos, 

A celebração de hoje tem outro significado muito importante: louvar e agradecer ao Senhor pela sua abundante misericórdia: “Lembra-te de que és pó e ao pó tornarás”. Perante a grandiosidade de Deus nós somos um “verme”, o menor, o mais ínfimo de todos os servidores. Por isso, Deus nos ama com profundidade e derrama sobre nós a sua misericórdia e a sua paz. Mesmo sendo pó, Deus sempre se lembrará de nós e cumprirá a Sua promessa de conceder o Reino das Bem-aventuranças. 

Fazer penitência não é ficar triste, mas, pelo contrário, é ficar alegre e feliz. “Misericórdia, ó Senhor, pois pecamos” (Sl 50), rezamos no Salmo Responsorial desta celebração. É o canto da humildade clamando a misericórdia do Deus da Vida, sempre pronto a nos acolher, santos pela sua graça e pobres pecadores pelas nossas misérias, e nos coloca dentro da economia de sua Salvação. Nesse contexto de penitência e conversão, devemos perceber a misericórdia de Deus que confia com abundância na capacidade do homem de assimilar o Reino de Deus. 

Desta forma, a Liturgia de hoje nos ensina que penitência é um reflexo de reparação depois de uma falta. Sentimos a insuficiência do homem natural que somos. Tratamos de reparar isso, mas sabemos que o único que pode reparar mesmo é Deus. Por isso, a melhor penitência é: abrir espaço para Deus. 
Abrindo espaço para Deus, caminharemos quarenta dias, para vê-lo em toda a sua majestade, o SENHOR RESSUSCITADO QUE  NA CRUZ MORREU PARA QUE RESSUSCITEMOS COM ELE. AMÉM!

História da Quarta-feira de cinzas da Quaresma 

Com a Quarta-Feira de Cinzas, começa oficialmente o tempo da Quaresma e o Ciclo Pascal.

Quaresma, uma vez mais. Tempo forte na caminhada do ano eclesiástico. Convite e apelo para o silêncio, a prece, a conversão.

E quando se fala em quaresma, geralmente a gente tem uma idéia de uma coisa negativa, como antigamente.

Tempo de medo, de cachorro zangado, de mula sem cabeça e outras coisas mais.Para outros a quaresma parece superada pelo modernismo e é hoje apenas uma recordação negativa do passado ou um retrato na parede, simplesmente.

Penso, para nós cristãos é o tempo de conversão, de mudança de vida, de acolher com mais amor a misericórdia de Deus que nos quer perdoar.

E é também o tempo onde as comunidades se preparam para viver o mistério da páscoa. Isto é, tempo da hora de Jesus Cristo do seu seguimento em que ele caminha em direção da sua hora que é a entrega total da sua vida a Deus pelos homens, seus irmãos.A quaresma é para cada um de nós um tempo de oração e de conversão.

Tempo de crescer em comunhão com todos os homens, principalmente com os mais pobres e necessitados.

Eles nos lembram o rosto sofrido de Jesus e nos convidam a viver com mais fidelidade a caridade, o amor fraterno, que o Evangelho exige de nós.:

A quaresma se inicia com a Quarta-feira de cinzas. Por que?

A Bíblia nos conta que, certa vez, o general Holofernes, com um grande exército, marchou contra a cidade de Betúlia. O povo da cidade, aterrorizado, reuniu-se para rezar a Deus. E todos cobriram de cinzas as suas cabeças, pedindo o perdão e a misericórdia de Deus. E Deus salvou o povo pelas mãos de Judite. A cinza, por sua leveza, é figura das coisas que se acabam e desaparecem. É usada como um sinal de penitência e de luto. Nós a usamos hoje, neste Quarta-feira de cinzas, o primeiro dia da quaresma, reconhecendo que somos pecadores e pedindo perdão de Deus, desejosos de mudarmos de vida.

Quarta-feira de cinzas tempo de jejum e abstinêcia!

Certa vez, numa exposição de pinturas em Londres, um artista apresentou um quadro que ficou famoso. Quem olhasse para aquela pintura, à primeira vista tinha a impressão de estar vendo um homem piedoso em atitude de oração: ajoelhado, de mãos postas, cabeça baixa, possuído de grande paz interior. Aproximando-se, porém, da tela e vendo com mais atenção, percebia-se que a coisa era bem diferente: via-se um homem espremendo um limão num copo, tendo o rosto tomado de ira. O genial pintor quis retratar ali um homem hipócrita. De fato, olhando superficialmente, o hipócrita parece um homem piedoso. Mas é só aparência. Na realidade, até quando está rezando, está muitas vezes tramando alguma coisa contra alguém. O grande pecado do hipócrita é esse: Ele não serve a Deus. Pelo contrário: serve-se de Deus. É um falso santo. Tem mãos postas, a cabeça inclinada e olhar de piedade, mas não está orando. Ao contrário: está apenas tirando proveito da religião em benefício de seu egoísmo. Esse tipo de gente só faz mal à Igreja tanto é que, quando a televisão quer ridicularizar a religião, focaliza esses piedosos hipócritas. Mostra tais beatas rezando na igreja, com véu na cabeça, rosário na mão e olhares piedosos... Depois mostra os mesmos fazendo o contrário fora da Igreja.

Jesus era chamado de o bom mestre. Como de fato Ele o era. Perdoou a Maria Madalena, a pecadora, perdoou a Pedro que o traiu, perdoou o ladrão no alto da cruz, mas se existia uma classe de gente que ele não engolia eram os escribas e os fariseus. Para eles Jesus lançou as palavras mais duras: "Ai de vós escribas e fariseus hipócritas... vós pareceis com os sepulcros caiados , que é pintado por fora, mais lá dentro existe toda a espécie de podridão". Gostavam de se mostrar ao fazer o jejum, ao dar esmolas, pagar o dízimo, etc.O jejum, a esmola e a oração são expressões de nossa gratidão a Deus por tudo o que ele nos concede, por isso não há motivo para exaltar nossas ações caridosas perante os homens.

Com a imposição das cinzas, inicia-se uma estação espiritual particularmente relevante para todo cristão que quer se preparar dignamente para viver o Mistério Pascal, quer dizer, a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor Jesus.

Este tempo vigoroso do Ano litúrgico se caracteriza pela mensagem bíblica que pode ser resumida em uma palavra: " matanoeiete", que quer dizer "Convertei-vos". Este imperativo é proposto à mente dos fiéis mediante o austero rito da imposição das cinzas, o qual, com as palavras "Convertei-vos e crede no Evangelho" e com a expressão "Lembra-te de que és pó e para o pó voltarás", convida a todos a refletir sobre o dever da conversão, recordando a inexorável caducidade e efêmera fragilidade da vida humana, sujeita à morte.

A sugestiva cerimônia das cinzas eleva nossas mentes à realidade eterna que não passa jamais, a Deus; princípio e fim, alfa e ômega de nossa existência. A conversão não é, com efeito, nada mais que um voltar a Deus, valorizando as realidades terrenas sob a luz indefectível de sua verdade. Uma valorização que implica uma consciência cada vez mais diáfana do fato de que estamos de passagem neste fadigoso itinerário sobre a terra, e que nos impulsiona e estimula a trabalhar até o final, a fim de que o Reino de Deus se instaure dentro de nós e triunfe em sua justiça.

Sinônimo de "conversão", é também a palavra "penitência" … 
Penitência como mudança de mentalidade. Penitência como expressão de livre positivo esforço no seguimento de Cristo. 

Tradição

Na Igreja primitiva, variava a duração da Quaresma, mas eventualmente começava seis semanas (42 dias) antes da Páscoa.

Isto só dava por resultado 36 dias de jejum (já que se excluem os domingos). No século VII foram acrescentados quatro dias antes do primeiro domingo da Quaresma estabelecendo os quarenta dias de jejum, para imitar o jejum de Cristo no deserto.

Era prática comum em Roma que os penitentes começassem sua penitênica pública no primeiro dia de Quaresma. Eles eram salpicados de cinzas, vestidos com saial e obrigados a manter-se longe até que se reoconciliassem com a Igreja na Quinta-feira Santa ou a Quinta-feira antes da Páscoa. Quando estas práticas caíram em desuso (do século VIII ao X) o início da temporada penitencial da Quaresma foi simbolizada colocando cinzas nas cabeças de toda a congregação.

Hoje em dia na Igreja, na Quarta-feira de Cinzas, o cristão recebe uma cruz na fronte com as cinzas obtidas da queima das palmas usadas no Domingo de Ramos do ano anterior. Esta tradição da Igreja ficou como um simples serviço em algumas Igrejas protestantes como a anglicana e a luterana. A Igreja Ortodoxa começa a quaresma a partir da segunda-feira anterior e não celebra a Quarta-feira de Cinzas.

Origem, história e espiritualidade da Quaresma
Pode-se entender melhor o significado da Quaresma, decidida pelo Vaticano II,conhecendo a história deste tempo litúrgico.A celebração da Páscoa, nos três primeiros séculos da Igreja, não tinha um período de preparação. Limitava-se a um jejum realizado nos dois dias anteriores. A comunidade cristã vivia tão intensamente o empenho cristão, até o testemunho do martírio , que não sentia a necessidade de um período de tempo para renovar a conversão já acontecida com o batismo. 

Ela prolongava, porém, a alegria da celebração pascal por cinqüenta dias ( Pentecostes). Após a Paz de Constantino, quando a tensão diminuiu no empenho da vida cristã, começou-se a perceber a necessidade de um período de tempo para admoestar os fiéis sobre uma maior coerência com o batismo.Nascem assim as prescrições sobre um período de preparação à Páscoa. 

No Oriente, encontramos os primeiros sinais de um período pré-pascal, como preparação espiritual à celebração do grande mistério, no princípio do século IV. Santo Atanásio nas "Cartas pascais" (entre os anos 330 e 347), São Cirilo de Jerusalém nas Protocatequeses e nas Catequeses mistagógicas (347), fala desse período como realidade conhecida. Eusébio (+340) em De solemnitate paschali fala do "quadragesimo exercitium......santos Moyses e Eliam imitantes" (Cf. PG 24,697).

No Ocidente, temos testemunhos diretos somente no fim do século IV. Falam desse período Etéria (385) em seu Itinerarium (27,1) pela Espanha e Aquitânia; Santo Agostinho para a África; Santo Ambrosio (+ 396) para Milão. Não sabemos com certeza onde, por meio de quem e como surgiu a Quaresma, sobretudo em Roma; apenas sabemos que ela foi se formando progressivamente. Ela tem uma pré-história , ligada a uma praxe penitencial preparatória à Páscoa, que começou a firmar-se desde a metade do século II. Até o século IV, a única semana de jejum era aquela que precedia a Páscoa . Na metade do século IV, já vemos acrescentadas a esta semana outras três, compreendendo assim quatro semanas.A partir do fim do século IV, a estrutura da Quaresma é aquela dos "quarentas dias", considerados à luz do simbolismo bíblico, que dá a este tempo um valor salvífico-redentor, cujo sinal é a denominação "sacramentum".

Celebrar a Quaresma é portanto, reconhecer a presença de Deus na caminhada, no trabalho, na luta, no sofrimento e na dor da vida do povo.Como o povo de Israel, que andou 40 anos no deserto antes de chegar à terra prometida, terra da promessa onde corre leite e mel. Como Jesus, que passou quarenta dias de retiro no deserto antes de anunciar a vinda do Reino.Que subiu a Jerusalém para cumprir a missão que o Pai lhe confiou: dar a sua vida e ser glorificado.A Quaresma, e isso é bem evidenciado na sua história, é um tempo forte de conversão e de mudança interior, tempo de deixar tudo o que é velho em nós, tempo de assumir tudo o que traz vida para a gente.Tempo de graça e salvação, em que nos preparamos para viver, de maneira intensa, livre e amorosa, o momento mais importante do ano litúrgico, da história da salvação, a Páscoa, aliança definitiva, vitória sobre o pecado, a escravidão e a morte. A espiritualidade da quaresma é caracterizada também por uma atenta, profunda e prolongada escuta da Palavra de Deus. É esta Palavra que ilumina a vida e chama à conversão, infundindo confiança na misericórdia de Deus.O confronto com o Evangelho ajuda a perceber o mal, o pecado, na perspectiva da Aliança, isto é, a misteriosa relação nupcial de amor entre deus e o seu povo. Motiva para atitudes de partilha do amor misericordioso e da alegria do Pai com os irmãos que voltam convertidos. Fazer da Quaresma um tempo favorável de avaliação de nossas opções de vida e linha de trabalho, para corrigir os erros e aprofundar a vivencia da fé, abrindo-nos a Deus, aos outros e realizando ações concretas de fraternidade, de solidariedade. 

Conheça o signifícado dos símbolos da Quaresma.

INCENSO

O incenso vem de "incendere", "incender", é uma das resinas que produz um agradável aroma ao arder. Esta palavra latina dá também origem ao termo "incensário" (instrumento metálico para incensar), enquanto a raíz grega "tus", que também significa incenso, explica a palavra "turíbulo" (incensário) e "turiferário"(o que carrega o turíbulo).

O incenso é encontrado principalmente no Oriente, e desde antigamente no Egito, antes de os israelitas chegarem era usado em cerimônias religiosas, por seu fácil simbolismo de perfume e festa, de sinal de honra e respeito ou de sacrifício aos deuses. Já antes em torno da Arca da Aliança, mas sobretudo no templo de Jerusalém era clássico o rito do incenso (Ex. 30). A rainha de Sabá trouxe entre outros presentes grande quantidade de aromas a Salomão (1Rs.10). Os cristãos no século IV introduziram o incenso na linguagem simbólica de suas celebrações, quando se considerou superado o perigo anterior de confusão com os ritos idolátricos do culto romano.

Atualmente, o incenso é usado na missa, quando se quer ressaltar a festividade do dia, o altar, as imagens da Cruz ou da Virgem, o livro do evangelho, as oferendas sobre o altar, os ministros e o povo cristão no ofertório, o Santíssimo depois da consagração ou nas celebrações de culto eucarístico. Com isso quer significar às vezes um gesto de honra (ao Santíssimo, ao corpo do defunto nas exéquias), ou símbolo de oferenda sacrificial (no ofertório, tanto o pão e o vinho como as pessoas).

JEJUM

Chamamos "jejum" (latim "ieunium") à privação voluntária de comida durante algum tempo por motivo religioso, como ato de culto perante Deus.

Na Bíblia no jejum pode ser sinal de penitênica, expiação dos pecados, oração intensa ou vontade firme de conseguir algo.

Outras vezes, como nos quarenta dias de Moisés no monte ou de Elias no deserto ou de Jesus antes de começar sua missão, marca a preparação intensa para um acontecimento importante.

O jejum Eucarístico tem uma tradição milenar; como preparação para este sacramento, o cristão se abstém antes de outros alimentos.

É na Quaresma, desde o século IV, que sempre teve mais sentido aos cristãos o jejum como privação voluntária da que existem em outras culturas religiosas ou por motivos religiosos.

O jejum junto com a oração e a caridade, tem sido desde muito tempo uma "prática quaresmal" como sinal de conversão interior aos valores fundamentais do evangelho de Cristo. Atualmente nos abstemos de carne todas as sextas-feiras de Quaresma que não coincidem com alguma solenidade; fazemos abstinência e além do jejum (uma só refeição ao dia) na quarta-feira de Cinzas e a Sexta-feira Santa.

A esmola
Esmola: a palavra “esmola” soa mal. Dá idéia de resto, de poder de uns sobre o nada de outros.
O termo “esmola” deriva do grego “eleéo”, “ter piedade”, cuja forma imperativa “eleéson” figura no “kyrie” do ato penitencial da celebração eucarística. Antes que possamos ter piedade dos outros é Deus quem teve piedade de nós. Precisamente porque brota da piedade divina e se modela sobre ela, a esmola não se reduz a um gesto de ordem apenas material: ela manifesta um ato que indica o fazer-se companheiro de viagem de quantos se encontram em dificuldade, participando na sua situação, com ternura.

é o sentido da caridade. Quando alguém pede esmola, está com as mãos estendidas, necessitado de ajuda. E ajudar o outro é amá-lo. Não importa o nome, se é gordo ou magro, se é barbudo ou cabeludo, mas alguém com a mão estendida está precisando de auxílio. É assim também que nós fazemos com Deus: levantamos nossas mãos para o alto e pedimos ajuda a Ele. Na nossa pobreza, na nossa limitação, precisamos do socorro do Senhor. 

Esmola não é apenas no sentido de dar coisas, mas também de se dar para o outro, seja por meio de um sorriso ou um abraço. Quantas pessoas carentes de um abraço, porque estão feridas na sua afetividade paternal e maternal, que se sentem carentes do amor do pai e da mãe!

A penitência é a mortificação, é morrer para si por causa do Senhor. Jesus se sacrificou, morreu por nós e penitenciou-se em nosso favor. A penitência nos leva a morrer um pouco no "eu", na vontade própria, no egoísmo; principalmente no mundo de hoje, no qual o "eu" tem gritado muito e já não temos o sentido do "nosso". Quando nós rezamos a oração que o Senhor nos ensinou, sempre dizemos "Pai nosso" e não "Pai meu", porque Deus partilha tudo o que Ele tem com todos os filhos d'Ele. A penitência nos ajuda a ter uma profunda conversão, por meio da qual nos colocamos na presença de Deus e isso nos leva a uma disciplina de equilíbrio no comer, no beber, no vestir, no modo de ser, de falar, de agir e nos impulsos. 

Oração: oração em tempos de tecnologia e de rapidez parece algo sem sentido.
No entanto, a oração nos ajuda a buscar sentido em todas as experiências, pois ela nos aproxima da simplicidade e da ternura. Ou seja, a oração torna o coração mais dócil, fazendo-nos mais humanos e, por isso, mais próximos de Deus. A oração é uma mão estendida para o divino; não é dobrar a vontade de Deus a nosso favor; pelo contrário, é colocar-nos em sintonia com Deus, para entendermos o que é melhor para nosso verdadeiro bem. É deixar Deus ser Deus, ou seja, revelar sua paternidade e maternidade com cada um de nós.

Orar é sentir-nos participantes da riqueza divina e de seus dons. É sentir-nos agraciados e plenos de sentido do infinito, tirando-nos da mesmice e do vazio. Orar nos molda o coração de acordo com o coração de Deus, nos ajuda a sermos mais irmãos uns dos outros e reforça a certeza de que somos filhos e filhas amados(as) de Deus.



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