Cristologia



CRISTOLOGIA

          Quem é Jesus Cristo? É a pergunta que nos propomos responder, e o objetivo desta matéria. Embora a mensagem apostólica e a literatura neotestamentária sejam enfáticas em apresentar a Jesus Cristo como o Messias, Filho de homem e Filho de Deus, digno de adoração, este mistério permanecia um desafio à razão humana, e por isso mesmo mais perguntava-se: quem é este Homem?
        As respostas a esta pergunta desde o primeiro século foram as mais variadas:
  · Os arianos negavam a Cristo, sua consubstancialidade divina.
  · Os docetas, gnósticos e apolinários negavam sua integridade humana.
  · Os nestorianos negavam sua unidade pessoal.
 · Os eutiquianos negavam sua dualidade de natureza.
 · Os monotelitas negavam sua dualidade de vontades e operações.
 · A corrente do Jesus histórico negou o Jesus da teologia.
       Em suma, a Cristologia dividia estes homens, quando seu objetivo devia ser uni-los e reuni-los na mesma igreja.
Neste processo histórico da Cristologia houve basicamente duas correntes que caracterizaram e caracterizarão a igreja até o fim:
[a] Ora, a ênfase na humanidade minimizando a divindade.
[b] Ora, a ênfase na divindade minimizando a humanidade.

Contudo, no decorrer da história cristã, quatro concílios estabeleceram alguns marcos no estudo da pessoa de Cristo: Nicéia (325AD), Constantinopla (381), Éfeso (431) e Calcedônia (451). Nestas ocasiões a igreja definiu:
· A consubstancialidade do Verbo com o Eterno Pai.
· A integridade e realidade de sua natureza humana.
· A verdade de sua encarnação.
· A união hipostática de suas duas naturezas (em uma só pessoa).
Temos no estudo de Cristologia algumas razões subjacentes para empreendê-lo:
· Ver como o Espírito Santo tem procurado guiar as pessoas através dos séculos.
· Ver como certas idéias novas que surgem e surgiram entre os ASD, que nada mais são do que antigas soluções diversas vezes já apresentadas, e não poucas vezes são heresias.
· Ver o que as pessoas crêem sobre Cristo, e esclarecer problemas de crença sobre a pessoa de Cristo.
         A reflexão da Cristologia Católica é muito necessária, já que a Igreja Católica é Cristocêntrica, ou seja, tem Jesus Cristo como centro de sua existência e missão.
[1]“Todos os homens são chamados a esta união com Cristo, luz do mundo, do qual vimos, por quem vivemos, e para o qual caminhamos”.
        O centro da fé cristã é, sem dúvida, Cristo. Mas, nem sempre Jesus Cristo é conhecido pelos seus seguidores como deveria ser. Conhecê-lo na profundidade de quem Ele é e na missão que Ele veio realizar, não deixará que a fé se reduza apenas em devoções de cunho popular ou numa espiritualidade superficial. Saber quem é Jesus Cristo, e tomar conhecimento de sua proposta, é o caminho autêntico para decidir-se por Ele em cada situação da vida, até a decisão definitiva e fundamental no ato da morte.
       A Cristologia também é responsável por aquilo que a Igreja Cristã Católica prega. O ensinamento Católico deseja sempre promover um [2]encontro entre a pessoa e Cristo vivo, por isso precisa conhecer este Cristo para apresentá-lo de modo autêntico aos ouvintes.
      Observa-se em outras igrejas de denominação cristã, que são mais [3]pneumatológicas que cristológicas, como o acento não se faz tanto na pessoa de Jesus, no seu ensinamento ou prática de sua doutrina. O acento se faz na vivência dos carismas do Espírito. Quase sempre com fins de prosperidade, cura, e expulsão do demônio. Todo o rumo da evangelização é outro se Cristo não for o centro da fé. Sem dúvida que a Igreja Católica é Trinitária, ou seja, crê na existência e na ação de Deus como uno e trino: Pai, Filho e Espírito Santo. Mas, compreende que o [4]caminho para entrar na vida da Trindade é Jesus, e que a obra do Espírito         Santo, o paráclito, é [5]anunciar o que recebe de Cristo, [6]não fala nada por si mesmo.
        A Igreja Cristã Católica sabe que mergulha na esperança que se realiza e se satisfaz em Jesus Cristo, pois o aceita como o salvador que a humanidade carecia. A vontade deve ser, portanto, conhecer qual é a esperança que esse Jesus Cristo veio se propor a responder.
 
2 UM CONCEITO DE TEOLOGIA

[7]Teologia (do grego θεóς, transl. theos = "Deus" + λóγος, logos = "palavra", por extensão, "estudo"), no sentido literal, é o estudo sobre Deus. Como toda ciência, tem um objeto de estudo: Deus. Como não é possível estudar diretamente um objeto que não vemos e não tocamos, estuda-se Deus a partir da sua revelação, ou, em termos seculares, conforme suas representações nas variadas culturas.
[8]Ao que se sabe, o primeiro usar o termo Teologia foi o filosofo grego Platão, do século IV antes de Cristo. Na ocasião, Platão criou o termo para tratar da natureza divina de forma racional, contrapondo as idéias divinas presentes de maneira literária na poesia.
Através dos tempos, o termo TEOLOGIA foi evoluindo no seu sentido, chegando até a compreensão cristã de seu uso, entendendo a Teologia como revelação de Deus presente, sobretudo, na narrativa bíblica.
Deus em si mesmo não pode ser estudado. Sua realidade não cabe na capacidade humana de conhecer. Não há como a mera inteligência descobrir Deus pelas suas próprias forças, ela precisa ser ajudada para conhecê-lo. Deus é quem se dá a conhecer, revela-se. À consciência humana cabe estudar as coisas que Deus revelou de si mesmo e de sua realidade divina.
Um conceito de Teologia, pois, na visão cristã: Teologia é a busca do entendimento e do sentido mais coerente das coisas que Deus revelou de si mesmo.

3 A Cristologia no estudo teológico
        A Teologia se divide em matérias específicas para serem estudadas: Cristologia, Mariologia, Dogmática, Liturgia, Escatologia, Eclesiologia, Trinitária, Bíblia, etc.
Como sempre, é certo que todas as matérias são importantes, já que todas tratam da revelação. No entanto, sendo Jesus Cristo o centro da revelação e da vida cristã, parece justo entender a cristologia como a matéria central para justificar e legitimar o estudo das demais matérias, já que tudo fala de Jesus Cristo.


5 Como é possível estudar a Cristologia?

Para se estudar a Cristologia, como qualquer outra matéria teológica, pode-se escolher um método, ou caminho que se julgue mais oportuno, desde que não se abra mão das fontes da revelação: Escritura e Tradição, e a reta interpretação doutrinal do Magistério.
A preferência pode ser de trabalhar conceitos teológicos a cerca da pessoa do Cristo, visando temas específicos como, por exemplo, a relação das duas naturezas (humana e divina em Jesus), a questão da consciência divina de Jesus, o mistério de sua morte, etc. No entanto, o estudo proposto aqui, seguirá uma cristologia baseada em fundamentar a escolha dos cristãos por Jesus como sendo o Cristo, o messias tão esperado pelo povo de Israel, embora o povo de Israel não o tenha reconhecido como enviado de Deus. Assim, acredita-se que se fará um estudo da cristologia com efeito vivencial, não apenas de conhecimento intelectual. Que seja conhecer o Cristo para experimentar e vida como Ele a vive.
A base do estudo será responder: Qual foi a esperança Deus fez existir no coração humano, tendo o povo de Israel como seu portador, e como reconhecer Jesus como sendo verdadeiramente a resposta a esta esperança?

6 De que Esperança os cristãos participam para reconhecer Jesus Cristo como a resposta daquilo que esperam?
Há cristãos que talvez nunca se fizeram a seguinte pergunta: Por que eu sou cristão? Ou, o que significa fazer parte da religião criada por Jesus? Ainda que poucos, porém, tenham se dado conta de que saber responder a estas perguntas é fundamental para o melhor aproveitamento possível dos privilégios trazidos por Jesus Cristo, na salvação realizada por Ele em benefício de toda a humanidade, não se pode ignorar sua necessidade. Sendo a salvação da humanidade a obra a que Jesus veio realizar, outra pergunta importante: salvar de que? Conhecer o que Deus prometeu facilitará para se reconhecer em Jesus o messias esperado, já que Ele cumpriu o que Deus havia prometido. Respondeu à esperança plantada por Deus no coração humano.
4.1 A Esperança de Israel
Todos os cristãos mergulham na esperança que, em primeiro lugar, foi-se construindo na mentalidade e na história do povo israelita. Por única e exclusiva vontade Deus, Israel é o seu [9]povo eleito. A este povo Deus revelou suas [10]intenções e fez dele o [11]lugar de onde sua luz atrairia todos os povos. Ao mesmo tempo em que o povo israelita via se construir a esperança da salvação, da vinda de um messias, também via pesar sobre si essa missão de ser a [12]luz das nações.
Eles aguardavam o messias, o [13]Emanuel, o [14]ungido de Deus que traria ao mundo as realizações salvíficas da parte deste Deus. Mas, por razões de um orgulho racial exagerado, o povo de Israel acabou por endurecer seu coração, a ponto de não reconhecer o messias quando Ele veio, além de esquecer por completo sua missão de ser luz das nas nações.
Israel teria compreendido errado o que Deus prometeu como salvação? Os israelitas criaram dentro de si uma esperança equivocada, sem aceitar o que realmente Deus propôs? Ao que tudo indica sim. E isso comprometeu a realização da esperança na vida deles, uma vez que, por não aceitarem Jesus como o Cristo, abriram mão da graça que o messias trouxe para suas vidas e, até hoje aguardam a vinda do prometido messias. A frustração dos assim chamados discípulos de Emaús, antes de se abrirem para a ressurreição de Cristo, confirma: [15] “Esperávamos que fosse ele quem iria redimir a Israel”.

7 Os Cristãos
Os cristãos não são membros de uma raça, de um povo racialmente constituído, mas, sim, de um povo formando pela opção e pela identidade religiosa da qual fazem parte. É o povo de Jesus Cristo. Povo que o aceitou como salvador.
Os cristãos são aqueles de quem Jesus fala: [16] “A pedra que os pedreiros rejeitaram tornou-se agora a pedra angular”. Os cristãos, portanto, assumiram para a si a esperança que Deus formou no meio do povo de Israel e crê que Jesus é a resposta a esta esperança, além de ter assumido, também, a missão de ser a luz das nações.

8 JESUS E O CRISTO
Sem dúvida que Jesus é o Cristo, mas, os próprios judeus, que foram os primeiros a esperar a vinda de um salvador, não o reconheceram, e não o reconhecem, como sendo o Cristo. E, aos judeus, podemos acrescentar todos os povos e as demais religiões não cristãs, como a islâmica e a budista que não reconhecem a Jesus como um enviado de Deus. Eis a razão do estudo da cristologia: constatar que Jesus é o Cristo, aquele quem pode responder a esperança cristã de liberdade e vida plena.
Jesus é um personagem histórico, isto é, trata-se de um homem que realmente existiu. Há fatos e documentos históricos da existência de Jesus. Tal que a seqüência do tempo se divide em antes e depois do seu nascimento. A existência, então do homem Jesus, cidadão judaico, é fato inquestionável. Quanto a Jesus ser o Cristo, não é consenso, embora a fé dos cristãos afirme que sim.
Cristo não é o sobrenome de Jesus. A Palavra Cristo indica, sim, uma missão: o messias; o ungido; o enviado; o missionário; o libertador; o salvador vindo de Deus. Quando se declara que Jesus é o Cristo se está afirmando que Ele é o salvador anunciado pelas escrituras, mas, isso só é possível no campo da fé.

9 O NASCER DA ESPERANÇA NO CORAÇÃO HUMANO
Ainda que o pecado seja algo abominável aos olhos de Deus, é na experiência do pecado original, vivenciada por Eva e Adão, que se encontra o nascer da esperança humana pela salvação. O pecado rompeu o relacionamento de comunhão entre Deus Criador e sua mais amada criatura, o ser humano. A desobediência de Eva e Adão os fez escravos de uma existência marcada destrutivamente pelos efeitos do pecado original, como o sofrimento, a injustiça, assassinatos, etc.
[17]No ato do pecado original, a serpente, sinalizando as distorções da verdade, provoca em Eva um desejo: ser igual a Deus. Eva conheceu nesta experiência os riscos da liberdade, sobretudo a liberdade de confiar ou não em Deus. Encantada com a descoberta de que poderia ser igual a Deus, Eva envolve Adão no mesmo erro, atraindo para si as conseqüências amargas de sua escolha, como a expulsão do Paraíso.
Deus, no entanto, embora despreze o pecado, não quis abrir mão de ajudar o homem, agora manchado pelo pecado original. Por isso, embora cumprindo com sua justiça e punindo Eva e Adão conforme havia alertado que faria caso eles comessem do tal fruto da árvore do bem e do mal, Deus os faz sentir seu terno e eterno amor, ao dizer que a serpente teria a cabeça esmagada por um descendente da mulher, apesar de que a serpente iria ferir o seu calcanhar.
Quanto ao ferir o calcanhar, é a constatação de que o ser humano seria tentado novamente a tomar o lugar de Deus. E, constantemente, o ser humano tenta fazer isso. Se se quiser um exemplo bem atual disso, basta refletir sobre o aborto: a pessoa não é capaz de devolver a vida, mas se julga no direito de tirá-la, ainda que se trate de um inocente que nem sequer pode ser ouvido em sua defesa.
A notícia maravilhosa, porém, é a derrota definitiva da serpente. A opressão do pecado tem um fim. A escravidão não será para sempre. Alguém esmagará sua cabeça. Esta esperança Deus coloca no coração humano. Não se está falando aqui de um dom, o dom da esperança, dado ao povo Israelita, mas a humanidade, já que Adão e Eva são os símbolos do gênero humano.
[18]Ainda no Livro do Gênesis, encontra-se o episódio conhecido como A Arca de Noé. Este episódio narra como a iniqüidade, o pecado se alastrou no mundo, levando a uma destruição plena do relacionamento entre o humano e Deus.
Deus quis purificar o mundo do pecado que o havia dominado. Mas, o pecado está na decisão e na prática das pessoas, por isso, purificar o mundo significava apagar a existência humana da terra. No entanto, Deus se agradou de um homem e sua família: Noé. A esperança humana de ser liberta da escravidão do pecado era refletida na boa vontade de Noé, o que o fez ser, aos olhos de Deus a possibilidade de uma humanidade purificada do mal do pecado.
Noé recebeu de Deus a missão de fazer a Arca e a construiu. Após o período do Dilúvio, Noé, sua família e os animais que salvou puderam sair da Arca para recomeçar a vida. Neste recomeço Deus oferece sua aliança, sua parceria para Noé, garantindo que não mais iria destruir o mundo, e colocaria seu Arco no céu para servir como sinal desta aliança. Novamente a esperança se reacende na vida humana, Deus não desistiu dela e encontra um modo de salvá-la sem que ela se perca.
Sem dúvida que para Adão e Eva, como para Noé e sua família, não havia compreensão do que realmente significaria, em profundidade, esta aliança, esta espera pela salvação. Nem como aconteceria. Mas, uma coisa é certa: Deus seria fiel.
Fazendo uso desses dois episódios como referências: têm-se esclarecido: o pecado gerou uma escravidão [19]mortal ao ser humano, fazendo-o se distanciar de Deus, mas, Deus não quis abrir mão de sua mais bela criação e por isso, fez o ser humano caminhar pelo mundo com uma esperança no coração: de algum modo, Ele salvará a humanidade e toda sua criação, e devolverá a ela a plenitude da vida na comunhão com Ele.     

10 A ESPERANÇA NO POVO DE ISRAEL

Para se conhecer a esperança humana pela salvação como cura e libertação da escravidão do pecado original e vê-la se realizando, é preciso mergulhar na história da salvação revelada ao povo de Deus, chamado primeiramente de Povo Hebreu, depois de Israel e, por fim, estabelecendo-se como Povo Judeu. Pois, foi a este povo que Deus quis revelar por primeiro seu amor criativo e salvífico.
Não há aqui como fazer todo o percurso bíblico da história da salvação, o que significaria percorrer a bíblia toda. Mas, captar alguns relatos que ajudarão a sintonizar o processo da formação da esperança da salvação que vinha por meio de um salvador e sua realização com a chegada de Jesus que se revelou ser o Cristo.
Quando quis formar um povo em especial para ser o “berço” de sua revelação, escolheu um homem arameu: Abraão. Abrão foi chamado para deixar sua terra e seguir para onde Deus o enviasse.
[20]A Abraão Deus fez a promessa de abençoá-lo e fazê-lo uma benção, além de torná-lo o pai de numeroso povo: [21]Com a entrada de Abraão no cenário bíblico, inicia-se a história de dois mil anos do pacto de Deus com ele, e através dele, com toda a humanidade. Na pessoa de Abraão, Deus começa a obra de redenção daquele que crê (Rm 4,11). Tem início com Abraão, vai a Isaque, seu filho, a Jacó, seu neto, a Judá, seu bisneto, e segue até Jesus Cristo (cf. MT 1,17; Rm 3,21-22). É ele o perfeito exemplo do que significa viver pela fé (....), o "projeto-piloto" de Deus na redenção de todos os povos.” A esperança de Abraão foi como Deus começou a trabalhar a convicção do seu povo em esperar que as suas promessas se cumpram, ainda que tardem: [22] “Esperando contra toda a esperança, Abraão acreditou, tornando-se pai de muitos povos, como lhe tinha sido dito: «Assim será a tua descendência».”
 De Abrão até a chegada do povo que se formou de sua descendência no Egito, vimos figurar os patriarcas: Isaac e Jacó, a quem fora dado o apelido de [23]Israel, por haver lutado com um anjo de Deus. O nome Israel será mais tarde o nome assumido como nome da nação dos hebreus.
Já no Egito, José, o filho de Jacó vendido como escravo pelos irmãos a alguns mercadores, e que se tornou uma espécie de “vice”-faraó, foi o último grande patriarca que os hebreus conheceram até o surgimento de Moisés.
[24]O povo hebreu tornou-se numeroso com o passar dos tempos e, ao subir ao trono um faraó que não conheceu José, temeu que os hebreus pudessem causar uma rebelião se apoderar do Egito. A partir de então, o povo hebreu passou a ser hostilizado e escravizado. [25]Logo nasceu no meio deste povo a esperança de que Deus ouviria seu clamor e os libertaria daquela escravidão, e Deus os ouviu e lembrou-se de sua Aliança com Isaac e Jacó, vindo ao encontro do clamor dos israelitas.
 [26]Deus se fez o Deus do povo de Israel e fez deste povo o seu povo. Ele realizou [27]a libertação do seu povo, tirando-o da escravidão do Egito em meio à grande prodígio, e dando-o a [28]Lei que guiaria seus passos pelo caminhão da retidão. A idéia de salvação tornava-se mais concreta a cada acontecimento que se seguia, enquanto o povo de Deus caminhava com Ele. Como uma forma de aprendizado para a grande salvação que viria acontecer, a salvação da desarmonia e da destruição causada pelo pecado na vida humana. O povo de Israel vai se construindo como um povo que aprende a esperar em Deus, e que Deus não decepciona ao que promete.
Ao decorrer dos tempos, o povo de Israel se solidificou, passando por modelos e transformações de organização social, religiosa e administrativa diferentes, como o tempo dos [29]juízes, e se organizou como uma nação soberana, tendo seu ponto alto no reinado do [30]Rei Davi. E é na época do rei Davi que surge um [31]fato que irá redirecionar a compreensão do povo de Israel a respeito da salvação. A esperança deste povo mudará da espera de acontecimentos grandiosos da parte de Deus, para a espera de um homem que viria como um enviado de Deus. Davi queria construir uma casa para a presença de Deus e, após o repreender, por meio do profeta Natã, Deus afirma que um filho de Davi é quem construiria uma digna morada para Ele, e este filho de Davi teria um reinado que duraria para sempre. Inicialmente, esperava-se que fosse um filho imediato de Davi, herdeiro do trono, mas, com o tempo, passando por decepções com seus reis, a espera tornou-se uma expectativa de futuro: um dia o messias virá.
A espera seria então, em torno de um herdeiro de Davi. Senão foi um dos primeiros como [32]Salomão e [33]Roboão, talvez algum seguinte, que garantiria a presença de Deus no meio do povo. Mas, de um a outro a espera se prolongou. Em períodos seguintes, principalmente na experiência do exílio babilônico, o messias esperado passou a ser imaginado pelo povo de Israel como um líder ou governante político e militar, que reuniria o povo dispersado por territórios estrangeiros e reestabeleceria Israel como um reino forte e livre dos domínios inimigos.
[34]Roboão, filho de Rei Salomão, sucede-lhe como rei. Porém, o Reino de Israel fica dividido em dois: a Norte, o Reino das 10 Tribos, também chamado de Reino de Israel com capital em Siquém, e no Sul, o Reino das 2 Tribos, chamado Reino de Judá, cuja capital ficou sendo Jerusalém.” Tal divisão foi causada pelo dentendimento que houve entre os lideres das tribos do norte e o rei Roboão que, além de não querer diminur os impostos cobrados do norte pormeteu cobrar ainda mais. Em consequencia disso, tanto o reino do norte quanto o do sul se fragilizou, inclusive militarmente. Tando que o reino do norte, que ficou sendo chamado Reino de Israel, tombou diante da Assíria em 721 a.C., sendo tomada o povo exilado. Os samaritanos acabaram por ser muito influenciados por cultos religiosos dos povos tidos como pagãos, por isso, os povos do reino do sul, isto é, do reino de Judá, os discriminavam. Está indiferença é bem visivel na abordagem que a mulher samaritana faz a Jesus: “Sendo tu um judeu, pedes de beber a mim que sou uma mulher samaritana?”[35] Já o reino do sul conseguiu manter a fidelidade religosa de modo mais zeloso, conservando e praticando suas tradições, mesmo no temo do exílio vivido na Babilônia, quando esta tomou o reino de Judá em 588 a.C. Por isso Jesus acrescentrá à mulher samaritana: “A salvação vem dos judeus”[36]  
A maneira com que os israelitas foram evoluindo na esperança messiânica, ou seja, na vinda de um salvador, passou de alguém que iria garantir a presença de Deus entre o seu povo para uma salvação de ordem política. A liberdade da escravidão imposta por reinos que dominaram Israel, como o babilônico e o romano, por exemplo, ainda que a lei e os profetas anunciassem um messias com um propósito diferente: [37]para anunciar, um ano da graça do Senhor, libertar os cativos, etc.
  
 11 A ESPERANÇA DA VINDA DE UM CRISTO, UM MESSIAS, QUE LIBERTA O SER HUMANO DA ESCRAVIDÃO IMPOSTA PELO PECADO

[38]Trechos bíblicos que sintonizam a espera messiânica com o propósito de Deus.
8.1 Primeiramente, críticas que Deus faz por meio dos profetas Isaías e Jeremias ao comportamento do seu povo. Comportamento que leva os israelitas experimentarem a derrota diante dos assírios e babilônicos, tornando-se escravos destes povos e exilados de sua pátria.

* Is 1,1-3 → Deus faz uma crítica bastante dura ao seu povo, e reprova seu comportamento de rebeldia.
“Visão de Isaías, filho de Amós: o que ele viu a respeito de Judá e Jerusalém no tempo de Osias, Joatão, Acaz e Ezequias, reis de Judá. Escutai, ó céus! Atenção, terra, é o SENHOR quem fala: “Filhos fiz crescer e prosperar, mas eles se rebelaram contra mim. O boi entende o seu proprietário, o burro conhece o cocho de seu dono; só Israel não tem conhecimento, só o meu povo não entende!”

* Is 1,21-28 → Deus prossegue criticas as más ações do seu povo, mas garante que fará justiça e recuperará sua pureza.
“Como foi que se transformou em prostituta a cidade fiel, possuída pelo direito? Nela, quem morava era a justiça, agora são os assassinos. Tua prata virou borra, o teu vinho ficou aguado! Teus chefes são corruptos, sócios dos ladrões: todos gostam de um suborno, correm atrás de ‘comissão’, aos órfãos não fazem justiça e a causa das viúvas nem chega às suas mãos. Por isso, diz o SENHOR, o DEUS dos exércitos, o Herói de Israel: “Ah! Vou rir dos meus inimigos, vingar-me dos adversários! Voltarei a minha mão contra ti! Vou cozinhar a tua borra até limpar e te arrancar toda a sujeira! Farei que teus juízes voltem a ser como eram antigamente, teus conselheiros, como eram no princípio. Depois disso, poderás ser chamada ‘Cidade da Justiça’, ‘Capital fiel’”. Sião será libertada pelo direito, seus cativos, pela justiça. Ao mesmo tempo vem a eliminação dos rebeldes e dos pecadores; e serão liquidados os que abandonaram o SENHOR”.

*Jr 2,26-29→ Deus aponta a infidelidade do seu povo, em especial do reino do sul, Judá. A prática da idolatria e o abandono do verdadeiro Deus fizeram com que o povo se visse desamparado, e, ao se socorrer no Deus verdadeiro, procurando salvação, tem de reconhecer seu erro.
“Como a vergonha de ladrão pego em flagrante, assim será a vergonha da casa de Israel, dos seus reis e chefes, sacerdotes e profetas, que dizem a um pedaço de pau: ‘És o meu pai’ e a uma pedra: ‘Foste tu que me geraste’. Voltaram-me as costas, não o rosto, mas na hora da aflição hão de dizer: ‘Vem salvar-nos’! Mas onde estão os deuses que para ti fizeste? Venham eles salvar-te na hora da aflição. Os teus deuses, Judá, multiplicaram-se como o número de tuas cidades. Como vos quereis justificar diante de mim? Todos me fostes infiéis — oráculo do SENHOR.” 

*Jr 7,3-11→ Deus continua a censurar a prática de idolatria, mas, também, o comportamento injusto e imoral vivido por seu povo. E reprova sua atitude de não seguir seus ensinamentos, mas, na tribulação, procurar a salvação na casa a Ele consagrada.
“Assim diz o SENHOR dos exércitos, o Deus de Israel: Melhorai vossa conduta e vossas práticas, que vos farei repousar sempre neste lugar. Não confieis nestas palavras mentirosas: ‘É o templo do SENHOR, o templo do SENHOR, o templo do SENHOR! ’” Só se endireitardes mesmo vosso caminho, vosso modo de agir, se fizerdes valer a justiça uns com os outros e não continuardes a tapear o migrante, o órfão e a viúva, se, neste lugar, nunca mais tirardes a vida ao inocente, nem fordes atrás dos deuses estranhos, para a vossa própria desgraça, só então vos farei repousar neste lugar, terra que dei a vossos pais, desde sempre e para sempre. Estais colocando vossa confiança em palavras mentirosas, que para nada servem. Como é isso: roubar, assassinar, cometer adultério, jurar falso, incensar a Baal, seguir outros deuses que jamais conhecestes e, depois, entrardes e vos colocardes diante de mim, nesta Casa consagrada ao meu nome e dizer: ‘Estamos salvos! ’, para continuardes cometendo todas essas vergonhas? Acaso esta casa consagrada ao meu nome tornou-se, a vosso ver, um esconderijo de ladrões? Eu mesmo vi — oráculo do SENHOR.”

8.2 Deus que se compadece do seu povo, e promete que enviará um homem forte que será sua presença no meio dele. Alguém que será da descendência de Davi, que reinará para sempre. O povo o chamará de messias, o Cristo, o ungido de Deus. Ele terá qualidades especiais, que reunirá seu povo disperso e o fará sair da prisão do pecado. A esperança do povo é ser livre do que o separa de Deus e com Ele voltar a ter comunhão.

* Is 7,10-15 → Deus promete um sinal de vitória e de reeguimento. Mesmo que Acaz não o peça, este sinal virá. E trata-se de uma pessoa, um homem forte que será o próprio Deus conosco. Será sua presença no meio da humanidade. Inicialmente, os israelitas imaginaram que se tratava de Ezequias, filho de Acaz e herdeiro do trono. Mas, como Ezequias não preencheu esta esperança, logo se voltou para alguém futuro. O que depois, os evangelistas apontarão para o nascimento do Cristo.
“O SENHOR continuou falando com Acaz. Disse: “Pede um sinal ao SENHOR teu Deus, quer da profundeza da terra quer das alturas sublimes”. Mas Acaz respondeu: “Não pedirei, não tentarei o SENHOR”. Ele disse-lhe: “Ouvi, então, vós da casa de Davi: Será que achais pouco incomodar os homens, e passais a incomodar até o meu Deus? Pois bem, o próprio SENHOR vos dará um sinal. Eis que a jovem conceberá e dará à luz um filho e lhe porá o nome de Emanuel.  Ele vai comer coalhada e mel até aprender a rejeitar o mal e escolher o bem.” 

* Is 8,9-10.23; 9,1-6 → Deus dá garantias de que sua presença no meio do seu povo será para sempre. Um reinado de justiça e paz com a realeza de Devi. O projeto libertador prometido por Deus prevê uma vida de paz para seu povo. O seu reinado será de um rei paz. A paz parece ser o fruto nobre desta libertação. O messias, portanto, será identificado por trazer a paz para o povo.
“Gritai, povos, sereis derrotados! Atenção, pontos mais distantes da terra: pegai em armas, sereis derrotados! Pegai armas, sereis derrotados! Podeis fazer planos, adiante não irão! Fazei ameaças, não se cumprirão! Porque Deus conosco está! Não haverá mais trevas onde havia opressão. Num tempo passado ele rebaixou o distrito de Zabulon e o distrito de Neftali; depois, porém, glorificou o caminho do mar, o Além-Jordão, Galiléia dos gentios. O povo que andava na escuridão viu uma grande luz, para os que habitavam as sombras da morte uma luz resplandeceu. Multiplicaste sua alegria, redobraste sua felicidade. Adiante de ti vão felizes, como na alegria da colheita, alegres como se repartissem conquistas de guerra. Pois a canga que lhes pesava ao pescoço, a vara que lhes batia nos ombros, o chicote dos capatazes, tudo quebraste como naquele dia de Madiã. Toda bota que marcha com barulho e a farda que se suja de sangue vão para a fogueira, alimento das chamas. Pois nasceu para nós um menino, um filho nos foi dado. O poder de governar está nos seus ombros. Seu nome será Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai para sempre, Príncipe da Paz. Ele estenderá seu domínio e para a paz não haverá limites. Sentado no trono, com o poder real de Davi, fortalece e firma esse poder, com a prática do direito e da justiça, a partir de agora e para sempre. O amor apaixonado do SENHOR dos exércitos é que há de fazer tudo isso.”

* Is 11,1-12→ A promessa de libertação dos exílios que afligem o povo de Deus agora é descrita como a vinda de um descendente de Davi. Jessé é o pai de Davi, por isso de seu tronco brotará um ramo novo. As qualidades atribuídas àquele que Deus enviará para libertar seu povo, são virtudes morais de um governante justo, que irá reunir os israelitas dispersos e promover a paz. Um reino onde os menos favorecidos têm especial atenção, e que as diferenças pessoais serão superadas em vista do bem de todos.
Um broto vai surgir do tronco seco de Jessé, das velhas raízes, um ramo brotará. Sobre ele há de pousar o espírito do SENHOR, espírito de sabedoria e compreensão, espírito de prudência e valentia, espírito de conhecimento e temor do SENHOR. No temor do SENHOR estará sua inspiração. Não é pelo que vê à primeira vista que ele fará seu julgamento, nem dará sua sentença pelo que acabou de ouvir. Julgará os fracos com justiça, com retidão dará sentença em favor dos humilhados da terra. Castigará o opressor com a vara que é sua boca, matará esse criminoso com o sopro dos seus lábios. A justiça será o cinto que ele usa, a verdade o cinturão que ele não deixa. O lobo, então, será hóspede do cordeiro, o leopardo vai se deitar ao lado do cabrito, o bezerro e o leãozinho pastam juntos, uma criança pequena toca os dois, ursa e a vaca estarão pastando, suas crias deitadas lado a lado; o leão, assim como o boi, comerá capim. O bebê vai brincar no buraco da cobra venenosa, a criancinha enfia a mão no esconderijo da serpente. Ninguém fará mal, ninguém pensará em prejudicar, na minha santa montanha. Pois a terra estará repleta do conhecimento do SENHOR, assim como as águas cobrem o mar. Acontecerá naquele dia que a raiz que restou de Jessé, erguida como bandeira para os povos, será procurada pelas nações e gloriosa será sua moradia. E acontecerá naquele dia que o SENHOR tornará a esticar o braço para resgatar o resto do seu povo, o que restou na Assíria e no Egito, em Patros, em Cuch, em Elam, em Senaar, em Emat e nas ilhas do mar. Erguerá uma bandeira no meio das nações a fim de reunir os israelitas exilados, para juntar os dispersos de Judá dos quatro cantos da terra.

* Is 25,6-9→ A promessa de salvação vem acompanha de sinais de grande alegria. A interpretação que o profeta faz da chegada desta salvação prevê, inclusive, a superação da morte.
“O SENHOR dos exércitos dará nesta montanha para todos os povos um banquete de carnes gordas, um banquete de vinhos finos, de carnes suculentas e vinhos depurados. Nesta montanha ele vai destruir o véu que envolvia os povos todos, a mortalha estendida sobre as nações. Acabou com a morte para sempre. O Senhor DEUS enxugará as lágrimas de todas as faces e, pela terra inteira, eliminará os vestígios da desonra do seu povo. Foi o SENHOR quem falou! Naquele dia vão comentar: “Este é o nosso Deus, dele esperávamos que nos salvasse, este é o SENHOR, nele confiamos, vamos exultar de alegria porque ele nos salvou.  ”

* Is 35,1-10→ A salvação como um resgate, já que a experiência do povo de Deus é de escravidão. Privado, inclusive, de voltar para sua própria terra. Deus é um rei que promove o bem estar do seu povo, prometendo uma vida feliz.
“Alegrem-se o deserto e a terra seca, dance o chão duro, florido como a palma. Que se cubra de flores, dance e comemore, pois Deus lhe deu o esplendor do Líbano, a beleza do Carmelo e do Saron. Eles hão de ver a glória do SENHOR, a majestade do nosso Deus. Fortalecei esses braços cansados, firmai os joelhos vacilantes. Dizei aos aflitos: “Coragem! Nada de medo! Aí está o vosso Deus, é a vingança que chega, é o pagamento de Deus, ele vem para vos salvar!”Então, os olhos dos cegos vão se abrir e abrem-se também os ouvidos dos surdos. Então os aleijados vão pular como cabritos e a língua dos mudos entoará um cântico, porque águas vão correr no deserto, rios na terra seca. O chão duro vai se mudar em pântano e o seco vai se encher de minas d’água, o lugar onde dormiam os chacais será lavoura de juncos e papiros. Haverá aí uma estrada, um caminho, que será chamado de caminho santo. Nenhum impuro passará por ele. Será para eles um caminho reto: nele nem os tolos se perderão. Aí não haverá leão, nem qualquer animal selvagem poderá alcançar esse caminho, ou nele será encontrado. Por ele só andarão os que foram libertados. Os que foram resgatados pelo SENHOR voltarão e chegarão a Sião cantando louvores, cobertos de alegria sem fim. Alcançaram a felicidade e o prazer, a dor e a tristeza foram-se embora.”

* Is 40,3-5→ Um mensageiro surgirá como um alerta de que a salvação, o messias de Deus está próximo. Este messias será acolhido por quem se dispor a sua exigência de uma vida de retidão.
“Grita uma voz: “No deserto abri caminho para o SENHOR! No ermo rasgai estrada para o nosso Deus! Todo vale seja aterrado, toda montanha, rebaixada, para ficar plano o caminho acidentado e reto, o tortuoso. A glória do SENHOR vai, então, aparecer e todos verão que foi o SENHOR quem falou!”

* Is 61,1-3→ O messias é enviado, ungido por Deus. Sobre ela repousa o Espírito de Deus. Ele realiza todas as obras de reeguimento humano, de libertação da toda prática maldosa. Aqui já se vê além de uma libertação de correntes. Mais do que sair do exílio em uma terra distante e voltar para própria pátria. É uma libertação de atitude, da humilhação e discriminação. É um retorno para consciência de vida e de mundo sem a desordem que o pecado causou. Jesus se auto-definirá como sendo este messias, o Cristo, o ungido enviado por Deus como mostra a narrativa de Lucas 4,16  
“O espírito do SENHOR Deus está sobre mim, porque o SENHOR me ungiu. Enviou-me para levar a boa nova aos pobres, para curar os de coração aflito anunciar aos cativos a libertação, aos prisioneiros o alvará de soltura; para anunciar o ano do agrado do SENHOR, o dia de nosso Deus fazer justiça, para consolar os que estão tristes, para levar aos entristecidos de Sião um adorno em vez de cinzas, perfume de festa em vez de luto, ação de graças em vez de espírito abatido. Serão chamados de Carvalhos da Justiça, árvores ornamentais do SENHOR.”

*Jr 23,5-6→ Um salvador é prometido. A mesma promessa ouvida da boca de Isaías agora em Jeremias: um broto descendente de Davi virá em nome do Senhor e reunirá seu povo, governando-o com direito e justiça. Assim como a paz, a justiça é uma prerrogativa para o reconhecimento do verdadeiro messias.
“Um dia chegará — oráculo do SENHOR —, quando farei brotar para Davi um rebento justo! Ele reinará de verdade e com sabedoria, porá em prática no país a justiça e o direito. Naquele dia, Judá estará a salvo e Israel vai se deitar confiante. E o nome que lhe darão será SENHOR-Nossa-Justiça!”

*Jr 30,8-9→ A salvação vista aqui como libertação do exílio, confirmando a vinda de um rei que será Davi para este povo. O ungido do senhor está intimamente ligado com a promessa feita a Davi quando este quis construir uma morada para Deus, e Deus prometeu que um filho de Davi perpetuaria seu reinado para sempre.
“Naquele dia, diz o SENHOR dos exércitos, quebrarei a canga que está em teu pescoço, arrebento também as correntes que te prendem, para que esses estrangeiros não mais te escravizem. Israel será, sim, servo do SENHOR, seu Deus, e também de Davi, rei que lhes darei.”

*Mq 5,1→ O profeta Miquéias não é um profeta muito citado ou mesmo conhecido. No entanto, ele é responsável por uma das profecias de maior repercussão a cerca do Cristo que viria. Ele estabelece o ambiente geográfico de onde viria o salvador. É o que norteia a direção final dos reis magos ao encontro com o menino Jesus e marca uma importante identificação de que Jesus é o Cristo. [39]O evangelista Mateus explorará muito bem esta profecia para se referir a Jesus. 
“Mas tu, Belém de Éfrata, pequenina entre as aldeias de Judá, de ti é que sairá para mim aquele que há de ser o governante de Israel. Sua origem é antiga, de épocas remotas.”

12 JESUS SE APRESENTA COMO O MESSIAS, O CRISTO ESPERADO. ELE PREENCHE A ESPERANÇA DA HUMANIDADE, E REALIZA AS OBRAS QUE DEUS PROMETEU QUE ELE FARIA

*Mt 1,18-25 → Mateus, após percorrer as gerações antecedentes de Jesus, a fim de justificá-lo como descendente Davi, o firma como o Cristo esperado. Ele é de origem divina, e será reconhecido como o Deus Conosco prometido a Acaz. Ele é o salvador. De que Ele veio salvar: dos povos inimigos? Não. Veio salvar do pecado. Concebido por obra do Espírito Santo no ventre de uma virgem, firma Jesus como sendo indiscutivelmente o enviado de Deus. De um jeito inimaginável pelo povo, sem dúvida. Mas Deus é assim, surpreendente.
“Ora, a origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José e, antes de passarem a conviver, ela encontrou-se grávida pela ação do Espírito Santo. José, seu esposo, sendo justo e não querendo denunciá-la publicamente, pensou em despedi-la secretamente. Mas, no que lhe veio esse pensamento, apareceu-lhe em sonho um anjo do Senhor, que lhe disse: “José, Filho de Davi, não tenhas receio de receber Maria, tua esposa; o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. “Ela dará à luz um filho, e tu lhe porás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados”. Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor tinha dito pelo profeta: “Eis que a virgem ficará grávida e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: Deus-conosco”. Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor tinha mandado e acolheu sua esposa. E, sem que antes tivessem mantido relações conjugais, ela deu à luz o filho. E ele lhe pôs o nome de Jesus.”

*Mt 2,1-6 → A vinda de Jesus é primeiramente para seu povo, mas já de início demonstra sua universalidade, ou seja, Ele é a luz das nações. Veio para todos os povos da terra, para toda a humanidade. Ele é o Cristo, pois Ele seu nascimento corresponde à profecia de Miquéias.
“Depois que Jesus nasceu na cidade de Belém da Judéia, na época do rei Herodes, alguns magos do Oriente chegaram a Jerusalém, perguntando: “Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? “Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”. Ao saber disso, o rei Herodes ficou alarmado, assim como toda a cidade de Jerusalém. Ele reuniu todos os sumos sacerdotes e os escribas do povo, para perguntar-lhes onde o Cristo deveria nascer. Responderam: “Em Belém da Judéia, pois assim escreveu o profeta: “E tu, Belém, terra de Judá, de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti sairá um príncipe que será o pastor do meu povo, Israel”.

*Mt 3,1-3.10-12 → Não haveria cumprimento de toda palavra se não viesse também o mensageiro prometido. A Voz que clama no deserto. João Batista é aquele que Escritura anuncia como o que vem prepara o caminho do Senhor. Ele anuncia a proximidade do messias, revela a atuação desse messias como cumpridor da justiça. Na descrição de João Batista, Jesus será um messias de atitude intempestiva, ousado.
“Naqueles dias, apresentou-se João Batista, no deserto da Judéia, proclamando: “Convertei-vos, pois o Reino dos Céus está próximo”. É dele que falou o profeta Isaías: “Voz de quem clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as veredas para ele”. (...) O machado já está posto à raiz das árvores. Toda árvore que não der bom fruto será cortada e jogada ao fogo. Eu vos batizo com água, para a conversão. Mas aquele que vem depois de mim é mais forte do que eu. Eu não sou digno nem de levar suas sandálias. Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo. Ele traz a pá em sua mão e vai limpar sua eira: o trigo, ele o guardará no celeiro, mas a palha, ele a queimará num fogo que não se apaga”.”

*Mt 11,2-6 → O passar de um pequeno tempo já foi o suficiente para João avaliar a ação de Jesus como o Cristo, e parece ter dúvidas. Jesus, embora, realizando grandes feitos não demonstrava ter aquela personalidade idealizada por João, de alguém com atitude mais impositiva. Jesus, no entanto, manda dizer a João o que todos estão vendo: ele realiza exatamente as obras que foram anunciadas que o messias faria. Ou seja, Jesus é a resposta a esperança que Deus foi construindo no coração do seu povo. 
“Ora, João Batista, estando na prisão, ouviu falar das obras do Cristo e mandou alguns discípulos para lhe perguntar: “És tu, aquele que há de vir, ou devemos esperar outro?”Jesus respondeu-lhes: “Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: cegos recuperam a vista, paralíticos andam, leprosos são curados, surdos ouvem, mortos ressuscitam e aos pobres se anuncia a Boa-Nova. E feliz de quem não se escandaliza a meu respeito!”” 

*Mc 1,9-11; 9,2-8→ A questão de que como era a consciência divina de Jesus, desde que momento Ele sabia que era também Deus, é um campo de investigação teológica.  Os episódios do batismo de Jesus e sua transfiguração revelam sua natureza divina, tendo sua vida conduzida pelo Espírito. Deus o confirma como seu Filho e, no ato da transfiguração, cumpre nele tudo o que há na lei e nos profetas, representados por Moisés e Elias: Jesus é aquele de quem falava toda a escritura. É o messias, o cristo, o ungido, enviado por Deus pra resgatar a humanidade. A novidade, porém, é que não se esperava que o messias fosse um ser divino.
“Naqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galiléia e foi batizado por João, no rio Jordão. Logo que saiu da água, viu o céu rasgar-se e o Espírito, como pomba, descer sobre ele. E do céu veio uma voz: “Tu és o meu Filho amado; em ti está meu pleno agrado”.”
“Seis dias depois, Jesus levou consigo Pedro, Tiago e João e os fez subir a um lugar retirado, no alto de uma montanha, a sós. Lá, ele foi transfigurado diante deles. Sua roupa ficou muito brilhante, tão branca como nenhuma lavadeira na terra conseguiria torná-la assim. Apareceram-lhes Elias e Moisés, conversando com Jesus. Pedro então tomou a palavra e disse a Jesus: “Rabi, é bom ficarmos aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias”. Na realidade, não sabia o que devia falar, pois eles estavam tomados de medo. Desceu, então, uma nuvem, cobrindo-os com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: “Este é o meu Filho amado. Escutai-o!”E, de repente, olhando em volta, não viram mais ninguém: só Jesus estava com eles.”

*Mc 1,23-27→ A messianidade de Jesus é reconhecida até pelos espíritos impuros. Eles confirmam a santidade Jesus, isto é, alguém que tem qualidade divina. Suas realizações o revelam como alguém incomum para as pessoas que o acompanham.
“Entre eles na sinagoga estava um homem com um espírito impuro; ele gritava: “Que queres de nós, Jesus Nazareno? Vieste para nos destruir? Eu sei quem tu és: o Santo de Deus!”Jesus o repreendeu: “Cala-te, sai dele!”O espírito impuro sacudiu o homem com violência, deu um forte grito e saiu. Todos ficaram admirados e perguntavam uns aos outros: “Que é isto? Um ensinamento novo, e com autoridade: ele dá ordens até aos espíritos impuros, e eles lhe obedecem!”


*Mc 10,46-52→ Um dos títulos atribuídos a Jesus que indicam ser Ele o messias esperado, é o título de Filho de Davi. No encontro com Bartimeu, o refrão “Filho de Davi, tem compaixão de mim” entoado por esse que até então era cego, confirma que mesmo os menos favorecidos, e, até, discriminados do povo conseguem reconhecer em Jesus aquele que foi anunciado como o messias que seria da descendência de Davi. Jesus, diante do voto de fé de Bartimeu, por tratá-lo como o messias prometido, o atende com certa prontidão. Jesus é aquele que, entre outras graças, veio para devolver a visão aos cegos, como anunciou Isaías. 
“Chegaram a Jericó. Quando Jesus estava saindo da cidade, acompanhavam-no os discípulos e uma grande multidão. O mendigo cego, Bartimeu, filho de Timeu, estava sentado à beira do caminho. Ouvindo que era Jesus Nazareno, começou a gritar: “Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim”. Muitos o repreendiam para que se calasse. Mas ele gritava ainda mais alto: “Filho de Davi, tem compaixão de mim”. Jesus parou e disse: “Chamai-o!”Eles o chamaram, dizendo: “Coragem, levanta-te! Ele te chama!”O cego jogou o manto fora, deu um pulo e se aproximou de Jesus. Este lhe perguntou: “Que queres que eu te faça?”O cego respondeu: “Rabûni, meu Mestre, que eu veja”. Jesus disse: “Vai, tua fé te salvou”. No mesmo instante, ele recuperou a vista e foi seguindo Jesus pelo caminho.”

*Mc 12,35-37→ Jesus esclarece a relação entre o Cristo esperado e Davi. Novamente surge o título “Filho de Davi”, mas agora na boca do próprio Jesus, com uma compreensão mais profunda: O Cristo não é filho de Davi como que na carne, pois o próprio Davi o trata igual a Deus. Assim, a espera do povo pelo messias, que outrora se dava na espera de um homem especialmente enviado por Deus, agora se torna clara: o messias é literalmente o Deus Conosco, o Emanuel.
“Então Jesus tomou a palavra e ensinava, no templo: “Por que os escribas dizem que o Cristo é filho de Davi? O próprio Davi, movido pelo Espírito Santo, falou: ‘Disse o Senhor ao meu senhor: Senta-te à minha direita, até que eu ponha teus inimigos debaixo dos teus pés’. Se o próprio Davi o chama de ‘senhor’, como então ele pode ser seu filho?”E a grande multidão o escutava com prazer.”

*Mc 13,24-27→ Jesus antecipa a plenitude da sua salvação fazendo uma alusão escatológica de sua missão. Jesus faz uso do título “Filho do Homem”, que também era uma forma de se referir a um ser divino. A salvação, segundo este trecho, é um processo, mas que se findará pelas mãos do próprio Cristo.
“Mas, naqueles dias, depois daquela aflição, o sol ficará escuro e a lua perderá sua claridade, as estrelas estarão caindo do céu e as potências celestes serão abaladas. Então verão o Filho do Homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. Ele enviará os anjos para reunir os seus eleitos dos quatro cantos da terra, da extremidade da terra à extremidade do céu.”

*Lc 2,1-11→ Lucas não economiza nas informações a respeito do nascimento de Jesus, relacionando fatos históricos com teológicos. Como a intenção é firmar Jesus como o Cristo, descreve Jesus como o centro do cumprimento das profecias como a descendência de Davi, o nascimento na cidade de Belém e a figura dos seres celestiais como anunciadores de que nasceu o salvador. Os primeiros a receber a notícia foram os pastores, que simbolizaram as classes menos favorecidas.
“Naqueles dias, saiu um decreto do imperador Augusto mandando fazer o recenseamento de toda a terra— o primeiro recenseamento, feito quando Quirino era governador da Síria. Todos iam registrar-se, cada um na sua cidade. Também José, que era da família e da descendência de Davi, subiu da cidade de Nazaré, na Galiléia, à cidade de Davi, chamada Belém, na Judéia, para registrar-se com Maria, sua esposa, que estava grávida. Quando estavam ali, chegou o tempo do parto. Ela deu à luz o seu filho primogênito, envolveu-o em faixas e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar para eles na hospedaria. Havia naquela região pastores que passavam a noite nos campos, tomando conta do rebanho. Um anjo do Senhor lhes apareceu, e a glória do Senhor os envolveu de luz. Os pastores ficaram com muito medo. O anjo então lhes disse: “Não tenhais medo! Eu vos anuncio uma grande alegria, que será também a de todo o povo: hoje, na cidade de Davi, nasceu para vós o Salvador, que é o Cristo Senhor!”

*Lc 4,16-21→ A narrativa de Jesus na sinagoga, lendo a profecia de Isaías a respeito do messias, é prova cabal do esforço em unir numa única pessoa, o homem histórico Jesus e o cristo tão esperado pelo povo Judeu que cria na profecia. Ao se identificar com o messias esperado, caberá a Jesus realizar as obras descritas na missão deste messias, o que Jesus fará com perfeição.
“Foi então a Nazaré, onde se tinha criado. Conforme seu costume, no dia de sábado, foi à sinagoga e levantou-se para fazer a leitura. Deram-lhe o livro do profeta Isaías. Abrindo o livro, encontrou o lugar onde está escrito: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me consagrou com a unção, para anunciar a Boa Nova aos pobres: enviou-me para proclamar a libertação aos presos e, aos cegos, a recuperação da vista; para dar liberdade aos oprimidos e proclamar um ano de graça da parte do Senhor”. Depois, fechou o livro, entregou-o ao ajudante e sentou-se. Os olhos de todos, na sinagoga, estavam fixos nele. Então, começou a dizer-lhes: “Hoje se cumpriu esta passagem da Escritura que acabastes de ouvir.””

*Lc 22,66-71→ Apesar das obras de Jesus, o Sinédrio não crê nele como o Cristo e, o interrogatório, não era para que Jesus provasse isso a eles, mas para enquadrar Jesus em uma blasfêmia. Jesus, contudo, afirma que não se trata apenas do Cristo esperado, mas que é também o Filho de Deus. O messias enfim, não é apenas um homem. Ele é divino.
“Ao amanhecer, os anciãos do povo, os sumos sacerdotes e os escribas reuniram-se e levaram Jesus ao sinédrio. E o interpelavam: “Se tu és o Cristo, dize-nos!”Ele respondeu: “Se eu vos disser, não me acreditareis, e se eu vos fizer perguntas, não me respondereis. Mas, de agora em diante, o Filho do Homem estará sentado à direita do Deus Todo-Poderoso”. Então todos perguntaram: “Tu és, portanto, o Filho de Deus?”Jesus respondeu: “Vós mesmos estais dizendo que eu sou!”Eles disseram: “Será que ainda precisamos de testemunhas? Nós mesmos o ouvimos de sua própria boca!””

*Lc 24,25-27→ Com os discípulos de Emaús a ignorância do povo judeu é trazida à tona. Apesar de serem verdadeiros veneradores das Escrituras, não haviam conseguido nem compreender como realmente deveria ser o Cristo esperado, e nem muito menos ver em Jesus o cumprimento da Escritura.
“Então ele lhes disse: “Como sois sem inteligência e lentos para crer em tudo o que os profetas falaram! Não era necessário que o Cristo sofresse tudo isso para entrar na sua glória?”E, começando por Moisés e passando por todos os Profetas, explicou-lhes, em todas as Escrituras, as passagens que se referiam a ele. (...) Neste momento, seus olhos se abriram, e eles o reconheceram. Ele, porém, desapareceu da vista deles.  Então um disse ao outro: “Não estava ardendo o nosso coração quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?”Naquela mesma hora, levantaram-se e voltaram para Jerusalém, onde encontraram reunidos os Onze e os outros discípulos. E estes confirmaram: “Realmente, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!”


*Jo 1,1-8.14-18→ João é mais teológico ao tratar de messianidade de Jesus. Primeiramente desvenda a divindade de Jesus para daí declará-lo como o Cristo. Jesus é Deus como luz no meio da humanidade perdida nas trevas. Ele é aquele que as Escrituras anunciavam.
“No princípio era a Palavra, e a Palavra estava junto de Deus, e a Palavra era Deus. Ela existia, no princípio, junto de Deus. Tudo foi feito por meio dela, e sem ela nada foi feito de tudo o que existe. Nela estava a vida, e a vida era a luz dos homens. E a luz brilha nas trevas, e as trevas não conseguiram dominá-la. Veio um homem, enviado por Deus; seu nome era João. Ele veio como testemunha, a fim de dar testemunho da luz, para que todos pudessem crer, por meio dele. Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz. (...)E a Palavra se fez carne e veio morar entre nós. Nós vimos a sua glória, glória que recebe do seu Pai como filho único, cheio de graça e de verdade. João dá testemunho dele e proclama: “Foi dele que eu disse: ‘Aquele que vem depois de mim passou à minha frente, porque antes de mim ele já existia’”. De sua plenitude todos nós recebemos, graça por graça. Pois a Lei foi dada por meio de Moisés, a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo. Ninguém jamais viu a Deus; o Filho único, que é Deus e está na intimidade do Pai, foi quem o deu a conhecer.”


*Jo 3,16-18.25-30→ Jesus é Filho de Deus salvador. O testemunho de João Batista, reconhecido como o precursor, a voz que clama no deserto na profecia de Isaías, aponta para Jesus como o Cristo. A missão de João se conclui quando o Cristo aparece.
“De fato, Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele. Quem crê nele não será condenado, mas quem não crê já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho único de Deus. (...) Surgiu então, da parte dos discípulos de João, uma discussão com um judeu, a respeito da purificação. Eles foram falar com João: “Mestre, aquele que estava contigo do outro lado do Jordão, e de quem tu deste testemunho, está batizando, e todos vão a ele”. João respondeu: “Ninguém pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu. Vós mesmos sois testemunhas daquilo que eu disse: ‘Eu não sou o Cristo, mas fui enviado à sua frente’. Quem recebe a noiva é o noivo, mas o amigo do noivo, que está presente e o escuta, enche-se de alegria, quando ouve a voz do noivo. Esta é a minha alegria, e ela ficou completa. É necessário que ele cresça, e eu diminua”.”


*Jo 4,25-26→ No encontro com a Samaritana, Jesus se revela o messias que os samaritanos também esperavam. Ele reconstrói o elo que havia se rompido entre os israelitas do norte e do sul da Palestina, assim como se anunciava que o Cristo reuniria os filhos de Israel. A samaritana faz uma afirmação a respeito do messias diante da qual, Jesus, não esboça nenhum vacilo. Quando ela se refere ao messias como aquele que fará conhecer todas as coisas, Jesus declara: “Sou eu, que estou falando contigo”.       
“A mulher disse-lhe: “Eu sei que virá o Messias (isto é, o Cristo); quando ele vier, nos fará conhecer todas as coisas”. Jesus lhe disse: “Sou eu, que estou falando contigo”.”

*Jo 6,67-71→ Ainda que os doze apóstolos demonstrem muitas dificuldades para assimilar o jeito e o projeto messiânico de Jesus, ao longo dos evangelhos, eles, de modo especial Pedro, refletem também atitudes de confiança. Mesmo sem compreender como deveria que Jesus era o Cristo de Deus, ele identifica em Jesus um enviado de Deus.
“Jesus disse aos Doze: “Vós também quereis ir embora?”Simão Pedro respondeu: “A quem iremos Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus”.

*Jo 7,25-29→ A crença de que o Cristo veria de modo surpreendente, sem uma origem conhecida e chegaria com vozes de comando, dificultava para que a maior parte dos judeus acatasse Jesus como sendo o Cristo. O questionamento do povo se baseava nos elementos humanos da vida Jesus, por isso Jesus insiste na sua origem divina e que sua missão é fazer a vontade daquele que o enviou. 
“Alguns de Jerusalém diziam: “Não é este a quem procuram matar? Olha, ele fala publicamente e ninguém lhe diz nada. Será que os chefes reconheceram que realmente ele é o Cristo? Mas este, nós sabemos de onde é. O Cristo, quando vier, ninguém saberá de onde é”. Enquanto, pois, ensinava no templo, Jesus exclamou: “Sim, vós me conheceis, e sabeis de onde eu sou. Ora, eu não vim por conta própria; aquele que me enviou é verdadeiro, mas vós não o conheceis. Eu o conheço, porque venho dele e foi ele quem me enviou!”Eles procuravam, então, prendê-lo, mas ninguém lhe pôs as mãos, porque ainda não tinha chegado a sua hora. Eles procuravam, então, prendê-lo, mas ninguém lhe pôs as mãos, porque ainda não tinha chegado a sua hora. Da multidão, muitos acreditavam nele, e comentavam: “Quando vier o Cristo, acaso fará mais sinais do que este?””

*Jo 8,12 (Is 9,1; 60,19) → Jesus revela cada vez mais intensamente seu propósito salvífico. Não é um sistema de governo, uma revolta ou manifestação política, mas uma consciência de vida trilhada na vontade de Deus.
“Jesus falou ainda: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não caminha nas trevas, mas terá a luz da vida”.

*Jo 8,22-30.52-59→ Neste trecho do Evangelho de João Jesus revela duas coisas fundamentais: Ele é o enviado de Deus para realizar no mundo a promessa que Deus fez de salvar seu povo. E declara do que realmente Ele veio salvar: da escravidão do pecado. O povo ainda se mostra distante de aceitar o jeito messiânico de Jesus, e, ainda mais, de compreender que o messias não veio para ajudá-los a vencer os povos inimigos, mas vencer o mal que o pecado fez existir no coração humano.
“Os judeus, então, comentavam: “Acaso ele irá se matar? Pois ele diz: ‘Para onde eu vou, vós não podeis ir’”. Ele continuou a falar: “Vós sois daqui de baixo; eu sou do alto. Vós sois deste mundo; eu não sou deste mundo. Eu vos disse que morrereis nos vossos pecados. De fato, se não acreditais que ‘eu sou’, morrereis nos vossos pecados”. Eles lhe perguntaram: “Quem és tu, então? Jesus respondeu: “De início, isto mesmo que vos estou falando”. Tenho muitas coisas a dizer a vosso respeito, e a julgar também. Mas, aquele que me enviou é verdadeiro, e o que ouvi dele é o que eu falo ao mundo”. Eles, porém, não compreenderam que estava lhes falando do Pai. Por isso, Jesus continuou: “Quando tiverdes elevado o Filho do Homem, então sabereis que ‘eu sou’, e que nada faço por mim mesmo, mas falo apenas aquilo que o Pai me ensinou. Aquele que me enviou está comigo. Ele não me deixou sozinho, porque eu sempre faço o que é do seu agrado”. Como falasse estas coisas, muitos passaram a crer nele. Jesus, então, disse aos judeus que acreditaram nele: “Se permanecerdes em minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, e conhecereis a verdade, e a verdade vos tornará livres”. Eles responderam: “Nós somos descendentes de Abraão e nunca fomos escravos de ninguém. Como podes dizer: ‘Vós vos tornareis livres’?”Jesus respondeu: “Em verdade, em verdade, vos digo: todo aquele que comete o pecado é escravo do pecado.”

*Jo 10,24-28.31-33→ Jesus enfrenta a limitação do povo, mas declara que não há como crer que Ele é o Cristo se pertencer a Ele. A fé é indispensável para acolher Jesus como o enviado de Deus. Mesmo com tantos milagres, a maioria do povo e, principalmente os chefes judaicos, não se abrem à proposta do messias tão esperado, mas pouco compreendido. O que não aceitavam, mortalmente, é que o messias fosse também divino.
“Os judeus, então, o rodearam e disseram-lhe: “Até quando nos deixarás em suspenso? Se tu és o Cristo, dize-nos abertamente!”Jesus respondeu: “Eu já vos disse, mas vós não acreditais. As obras que eu faço em nome do meu pai dão testemunho de mim. Vós, porém, não acreditais, porque não sois das minhas ovelhas. As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna. Por isso, elas nunca se perderão e ninguém vai arrancá-las da minha mão. (...) De novo, os judeus pegaram em pedras para apedrejar Jesus. E ele lhes disse: “Eu vos mostrei muitas obras boas da parte do Pai. Por qual delas me quereis apedrejar?” Os judeus responderam: “Não queremos te apedrejar por causa de uma obra boa, mas por causa da blasfêmia. Tu, sendo apenas um homem, pretendes ser Deus!””

*Jo 11,21-27→ Em cada encontro de Jesus com alguém, nas mais diferentes situações da vida, acontecimentos inclusive bem cotidianos, Ele revela sua atuação no mundo como o Cristo. Ele esbarra sempre na falta de fé ou na dificuldade de crer dos seus interlocutores. No entanto, muitos foram os que professaram uma fé profunda em Jesus, mesmo que ainda se surpreendessem com as obras maravilhosas que Ele realizava, como ressuscitar os mortos.  
“Marta, então, disse a Jesus: “Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria morrido. Mesmo assim, eu sei que o que pedires a Deus, ele te concederá”. Jesus respondeu: “Teu irmão ressuscitará”. Marta disse: “Eu sei que ele vai ressuscitar, na ressurreição do último dia”. Jesus disse então: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que tenha morrido, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais. Crês nisto?”Ela respondeu: “Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Cristo, o Filho de Deus, aquele que deve vir ao mundo”.”

*Jo 12,12-21.23.28-33→ Aproximando-se de sua hora, de sua morte, Jesus causa um momento triunfal na entrada de Jerusalém. Acolhido verdadeiramente como rei. A motivação do povo estava na ressurreição de Lázaro, um feito que não deixava dúvidas quanto ao poder messiânico de Jesus. O povo o exalta com aclamações messiânicas presente nas Escrituras. Sem dúvida que esta acolhida fez parecer que seria o momento em Jesus ocuparia o trono de rei dos judeus, mas não foi para este tipo de reinado que Ele veio. Por isso, começa a falar que sua glorificação está ligada a sua morte. Sua obra se conclui na obediência a Deus até as ultimas conseqüências.
“No dia seguinte, a grande multidão que tinha subido para a festa ouviu dizer que Jesus estava chegando em Jerusalém. Apanharam ramos de palmeiras e saíram ao seu encontro, gritando: “Hosana! Bendito aquele que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel!”Jesus encontrou um jumentinho e montou nele, como está escrito: “Não temas, filha de Sião! Eis que o teu rei vem montado num jumentinho!”Naquele momento, os discípulos não entenderam o que estava acontecendo. Mas depois que Jesus foi glorificado, eles se recordaram que isso estava escrito a seu respeito e que assim lhe tinham feito. Os que estiveram presentes quando chamou Lázaro do sepulcro, ressuscitando-o dos mortos, davam testemunho. Foi por este motivo que a multidão foi ao seu encontro, porque ouvira dizer que ele tinha feito este sinal. Os fariseus, então, comentavam entre si: “Estais vendo que nada conseguis? Olhai, todo mundo se foi, atrás dele”. Havia alguns gregos entre os que tinham subida a Jerusalém para adorar durante a festa. Eles se aproximaram de Filipe, que era de Betsaida da Galiléia, e disseram: “Senhor, queremos ver Jesus”. (...)Jesus respondeu-lhes: “Chegou a hora em que o Filho do Homem vai ser glorificado. (...) Sinto agora grande angústia. E que direi? ‘Pai, livra-me desta hora’? Mas foi precisamente para esta hora que eu vim. Pai, glorifica o teu nome!”Veio, então, uma voz do céu: “Eu já o glorifiquei, e o glorificarei de novo”. A multidão que ali estava e ouviu, dizia que tinha sido um trovão. Outros afirmavam: “Foi um anjo que falou com ele”. Jesus respondeu: “Esta voz que ouvistes não foi por causa de mim, mas por vossa causa. É agora o julgamento deste mundo. Agora o chefe deste mundo vai ser expulso, e quando eu for elevado da terra, atrairei todos a mim”. Ele falava assim para indicar de que morte iria morrer.”

JESUS É O CRISTO
Tendo encontrado a esperança na qual os cristãos quiseram participar, esperança está dada a toda a humanidade, também foi possível confirmar que Jesus é o Cristo, isto é, aquele que foi prometido para realizar a esta esperança. Ele é homem. É histórico. Mas, também, é divino. Ele é de Deus o ungido, mas, é Deus com Deus. Suas obras o revelam como o Cristo, e Ele revela a vontade de Deus: que seja toda a humanidade livre da escravidão e das trevas do pecado. Ele esmagou a cabeça da serpente, e se fez o exemplo de obediência a Deus e resgatou o ser humano, fazendo-o capaz de voltar à comunhão com Deus.

13– O CONTEÚDO HISTÓRICO DO DESENVOLVIMENTO DA DOUTRINA DA PESSOA DE CRISTO


Começa no ano 95 A.D., com primeira epístola de Clemente e se estende até ao Concílio de Calcedônia em 451 A.D. Este é o mais rico na discussão cristológica.
[1] – Pais Apostólicos  são os primeiros autores do primeiro século e início do segundo. Através de seus escritos, estes cristãos ensinaram uma bem definida Cristologia com salientada ênfase na divindade de Cristo.
[a] Considerava-se Cristo como o Pré-Existente Filho de Deus, que participou na obra da criação.
[b] Era visto como o Senhor do Céu, que aparecerá como Juiz dos vivos e dos mortos.
[c] Jesus é denominado Deus nas epístolas de Inácio: “Nosso Deus, Jesus Cristo, nascido de Maria, segundo o decreto de Deus... mas também do Espírito Santo .” (Epístola dos Efésios XVIII, 2).
[2] – Apologistas –as acusações contra os cristãos e a atitude hostil do Império Romano fizeram com que surgissem defensores do cristianismo, reconhecidos como os apologistas. Através de sua defesa dos cristãos, eles deixaram entrever suas crenças.
[a] O mais importante representante deste é Justino, o mártir. Ele via Cristo como o Logos Divino, Mestre, Filho e Apóstolo do Pai. Por ocasião da criação do mundo, o Logos Endiáthetos (esteve com Deus, como sua própria razão), nasceu do Pai, e através dele o mundo veio a existir.
[b] Para Justino, o Logos Divino, na plenitude dos tempos, encarnou em Cristo, e assim surgiu o Homem Jesus. Desta forma o Filho procedeu do Pai.
[b.1] Subordicionismo é uma conclusão natural. Os apologistas são vistos como subordinacionistas.
[3] –  Ebionitas – Cristianismo judaico –  (os pobres) – sua origem está envolta em muitas incertezas. Eram grupos sectários que surgiram da congregação de Jerusalém, e se caracterizavam por sua confusão de elementos judaicos e cristãos.
[a] Nos escritos cristãos judaicos pode-se ver o contorno de sua cristologia:
·                    Cristo é posto em igualdade com os profetas do Antigo Testamento.
·                    Cristo é visto como um novo Moisés.
·                    Para os ebionitas Cristo era apenas homem, e negavam sua encarnação virginal.
·                    Cristo recebera o Espírito Santo no batismo, quando foi escolhido para ser o Messias e Filho de Deus. Foi escolhido por Deus para ser o Messias, por ter cumprido a lei judaica de maneira plena.
·                    Negavam à sua morte e ressurreição qualquer poder salvífico. A  salvação era relacionada com sua vinda para fundar um reino messiânico para os judeus em Jerusalém.
·                    A ênfase é posta no Jesus histórico, humano em detrimento do Cristo da fé.
[4] – O Gnosticismo –  é anterior ao surgimento do Cristianismo. Era, então, um fenômeno religioso vago e difuso. Ele procede do Oriente, influenciado pelas religiões de Babilônia e da Pérsia. Posteriormente o gnosticismo surgiu na Síria e em território judaico, especialmente, em Samaria, onde assumiu características judaicas. Foi esta forma gnóstica que os apóstolos encontraram com Simão, o mágico. A gnose cristã se inicia com Simão, conforme a tradição cristã (os pais eclesiásticos).
[a] Características básicas do gnosticismo pré-cristão:
[1] Visão dualista do universo: o contraste entre o mundo espiritual e real das idéias e o mundo totalmente mau da matéria, dos fenômenos materiais.
[a] O mundo espiritual, ou das idéias é o mundo bom. O homem deve se esforçar para retornar a ele.
[b] O instrumento de libertação deste mundo mau e  entrada no mundo bom, é o conhecimento, gnósis, que é uma iluminação espiritual mística.
[c] Sincretismo – mistura de conceitos filosóficos e religiosos de Babilônia, Pérsia, Síria, Egito.
[b] Características básicas do Gnosticismo Cristão – Em relação à Cristologia.
[1] Negação da humanidade de Cristo. Diante da glória da pré-existência de Cristo e de sua pós-existência eterna, eles, os gnósticos, assumiram uma postura docética, negando a existência da vida terrena de humilhação de Cristo. eles negavam a vinda de Cristo em carne. Tratava-se apenas de uma aparência. Cristo era um ser celestial, um fantasma, e não um homem de carne e osso.
· Logo sua encarnação não era real. Seu nascimento da virgem era aparente.
· Negavam a morte efetiva de Jesus.
· Não existia o Jesus histórico.
[2] A morte de Cristo não tinha significado salvífico. Cristo era apenas o Revelador da sabedoria esotérica. E este conhecimento proporcionava a salvação a um pequeno grupo (pneumáticos) que podia entender e receber este conhecimento salvífico. Cristo era visto, somente, como o transmissor de gnose que salvava o perdido.
[3] Ênfase posta na divindade e negação absoluta de sua humanidade.
[c] O Gnosticismo representou a crise mais grave por que passou o cristianismo desde os dias do primeiro concílio em Jerusalém, quando se discutiu o lugar da lei na salvação. Foi a segunda grave crise do Cristianismo.
[1] Apóstolo João escreveu sua primeira carta direcionada à heresia gnóstica então embrionária. (I João 4:2,3).
[5]  – Os Pais Antignósticos – Caracterizaram-se sob este título por causa do seu conflito contra o gnosticismo. Lutaram especialmente contra o repúdio gnóstico à criação. por isso mesmo a teologia da igreja primitiva estava centrada na criação divina, bem como na doutrina de Deus.
[a] Cristologia de Irineu. Irineu era discípulo de Policarpo, que por sua vez era discípulo de João, o apóstolo. Para Irineu, Bispo de Lyons, no final do II século, a Bíblia era a única fonte de fé. Era por causa disso um teólogo bíblico na acepção da palavra.
[1] A Teologia da Salvação de Irineu pressupõe sua Cristologia. Para ele Cristo é Verdadeiro Homem, Verdadeiro Deus (Vere Homo, Vere Deus).
“Se os inimigos do homem  não foram vencidos pelo homem, não podem ter sido verdadeiramente vencidos: além disso, se a nossa salvação não procede de Deus, não podemos estar plenamente seguros que estamos salvos. E se o homem, não se unisse com Deus, não lhe seria possível compartilhar a imortalidade.”
[2] O Filho existiu com o Pai desde toda eternidade.
[3] Cristo é o Segundo Adão, o oposto do primeiro. No primeiro Adão herdamos a perdição e através do Segundo Adão recebemos a salvação. Pelo poder de sua obediência e obra de expiação tornou-se o cabeça da nova humanidade.
[4] Cristo é a plena revelação de Deus.
[b] Cristologia de Tertuliano – nasceu e abastada família pagã em Cartago. Estudou Direito e exerceu a profissão em Roma. Entre os anos 190 e 195 converteu-se ao cristianismo em Roma, provavelmente. É considerado o Pai da Teologia Latina. Seu grande mérito foi o esclarecimento preciso de muitos termos teológicos, até então vagos. Em Cartago foi nomeado presbítero, em Cartago faleceu.
[1] Na obra “Contra Praxeas” define sua teologia do Logos, Cristo. Faz nesta obra declarações que antecipam as conclusões do Concílio de Nicéia, 100 anos depois. “Todos são de um, por unidade de substância, embora ainda esteja oculto o mistério da dispensação que distribui a unidade numa Trindade, colocando em sua ordem os três, Pai, Filho e Espírito Santo, três, contudo... não em substância, mas em forma.”
[a] Mesma ousia (substância), mas não a mesma upostáseis – são três pessoas. (Persona).
[2] Sua Cristologia é subordinacionista. O Logos, Cristo, procedeu da razão de Deus na Criação (Justino).  Quando Deus disse “Haja Luz”, nasceu a Palavra. Cristo procedeu da essência do Pai, logo, o Filho está subordinado ao Pai.  O Pai é Maior que o Filho, pois é o Pai quem gera e envia o Filho.
[3] O Logos, Cristo, é distinto do Pai. O Logos é uma “Persona”. O Filho é uma pessoa independente que veio do Pai.
[a] Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste... Não foi Deus Pai quem clamou, pois neste caso estaria clamando a si mesmo, foi o Homem, o Filho que clamou ao Pai.
[b] Foi enviado pelo Pai. O que envia é distinto do que é enviado.
[4] Qualidade divinas e humanas estão em Cristo. o Logos, Cristo, é uma só pessoa com duas substâncias diferentes, que estão unidas numa só pessoa. Jesus possui duas naturezas, divina e humana, que se uniram numa só pessoa, mas não se combinaram. “Vemos seu duplo estado, não misturado, mas conjugado em uma única pessoa, Jesus, Deus e Homem (“Contra Praxeas”, 27).
[a] O Logos, Cristo, apareceu em carne, revestido de forma corpórea, mas não se transformou em carne.
[b] A pessoa de Cristo possui duas naturezas: divina e humana.
[5] A Doutrina Posterior das duas naturezas de Cristo baseou-se em Tertuliano, que pode assim ser resumida:
· Ousia – uma substância – expressa a unidade.
· Upostáseis  - três pessoas – expressa distinção de pessoas.
[6] – Teologia Alexandrina – Orígenes – Alexandria era um centro comercial e cultural, que foi fundada por Alexandre, o Grande, em 332 AC. Em Alexandria, Ptolomeu Soter criou uma biblioteca com mais de 700 mil volumes. Havia nela um museu, e uma renomada universidade, onde se reuniam os mais distinguidos homens cultos. Era um centro de cultura helênica e semítica. Além disso outros povos participavam da visa da cidade: babilônicos – astrologia, persas – dualismo, religiões de mistérios. Encontra-se nesta cidade dois dos mais famosos nomes da Igreja: Clemente de Alexandria, Orígenes.
[a] Em Alexandria havia a Escola Catequética, por volta de 185, e liderada por Panteno.  Mas foi Clemente de Alexandria que a escola adquiriu proeminência.
[b] Em Alexandria o ensino religioso não tinha as características apologéticas como no Ocidente e Ásia Menor, onde a filosofia foi severamente condenada, vista como incompatível com a fé cristã apostólica.
[c] Em Alexandria a filosofia era considerada como serva do cristianismo. O resultado deste casamento foi o surgimento do gnosticismo cristão.
[d] Clemente de Alexandria foi um representante típico desta teologia acentuadamente especulativa. Depois continuado após sua morte, por seu discípulo Orígenes.
                     Cristologia de Clemente de Alexandria:
[1] O Logos Divino, tem uma função pedagógica através da história. Entre os judeus o Logos proclamou a lei, entre os gregos a filosofia; e no Cristianismo deu-se sua manifestação definitiva e final, em Jesus Cristo – o conhecimento salvador pelo qual os homens são trazidos à fé.
“Nosso pedagogo é o Deus Santo, Jesus, o Verbo que é o guia da humanidade toda”. (Pedagogo 1:7).
[2] O Logos encarnado não sentia dor nem prazer devido ao seu estágio espiritual superior. Esta era uma visão quase docética.
[e] Orígenes, nascido de família cristã entre 182 a 185, tornou-se o mais completo conhecedor da Bíblia  entre todos os escritores da igreja primitiva. Sucedeu a Clemente como diretor da Escola Catequética de Alexandria, no ano 203. Perseguido pelo bispo local., foi para Cesaréia, onde fundou uma escola catequética. Morreu em Cesaréia em 251, ou em Tiro em 254.
Cristologia de Orígenes:
[1] O Logos, faz parte do mundo espiritual criado por Deus. O Logos preexistiu eternamente de modo independente. Disse: “Nunca houve tempo em que Ele não existisse”.
[2] O Logos não foi criado no início do tempo, Ele nasceu de Deus na eternidade, como uma emanação do mundo espiritual da divindade.
[3] O Logos é uma essência do Pai, e a Ele subordinado. O Filho é um segundo Deus. Só o Pai não nasceu, ou seja, é Agénnetos. Tanto o conceito Homooúsios como o subordinacionismo estão presentes na teologia de Orígenes (igualdade com Deus e mesma substância).
[f] Estas duas tendências da teologia viveram em tensão e mais tarde dividiram-se em duas escolas:
[1] RIGHT WING – Ênfase na divindade e eternidade do Filho, o que trona Cristo igual ao Pai. ( Homoousios ).
[2] LEFT WING – Ênfase na distinção entre o Pai e o Filho. Ele (Orígenes) se recusa em definir esta distinção como uma limitação do Filho – Subordinacionismo. ( Homoiousios ).
[7] – Adocionismo ou Monarquianismo Dinamista – Negava-se, aqui, o conceito de trindade, pois alegavam ser incompatível com a fé em um Deus único – monoteísmo. O Adocionismo rejeitava o conceito da divina economia (distinção das três pessoas da divindade condicionada ao plano da salvação).
[a] Os adocionistas repudiavam a divindade de Cristo. Acreditavam ser Cristo mero homem. Negava sua preexistência.
[b] Ensinavam que por ocasião de seu batismo o homem Jesus recebeu o Cristo como uma energia divina, que se tornou ativa dentro dele a partir do batismo.
[c] Cristo, assim, era um homem dotado de poder divino. E este poder era uma energia impessoal, nunca o logos como persona, ou como hipóstase independente.
[d] O mais destacado defensor desta corrente teológica foi Paulo de Samósata, bispo de Antioquia por volta do ano 260 A.D.
[8] – Modalismo – Não aceitava a doutrina da Trindade, sob nenhum aspecto. Só o Pai é Deus, é o único. Para o Modalismo, o Pai e o filho são a mesma hipóstase, mesma essência, mesma pessoa. São o mesmo Deus sob nome e forma diferentes. A diferença entre eles está só no nome  -  o Filho e o Espírito Santo são apenas as formas que a Divindade assumiu conforme a necessidade ao aparecer no mundo.
[a] Deus apareceu em formas diversas em épocas diferentes. Primeiro de modo geral em a natureza, depois como Filho, e por fim como o Espírito Santo.
[b] As três pessoas são três diferentes modos em que o mesmo Deus se revelou. Não são hipóstases independentes, negava também sua preexistência.
[c] O Modalismo nem faz juz à divindade de Jesus, pois diz que se trata apenas de modo da revelação da divindade. Nem pode , ao mesmo tempo, fazer justiça a usa humanidade, pois Jesus é um modo de ser da divindade. Não se trata nem de outra pessoa divina ou humana.
[d] O principal teólogo desta escola foi Sabélio, que ensinou em Roma em 215 A.D.
[9] – Cristologia de Novaciano – Teólogo do Ocidente – do III século. Era presbítero em Roma em torno de 250 A.D. Foi o primeiro da congregação cristã a escrever em latim. Ele se limitou a defender a corrente teológica de Tertuliano.
[a] Para ele entre o Pai e o Filho existe uma comunhão de substancialidade. É o equivalente latino ao famoso termo posteriormente consagrado em Nicéia “Homoousios”. Para ele, Cristo era plenamente Deus e plenamente Homem.
[b] A consubstancialidade com o Pai era contra o Adocionismo.
[c] A verdadeira humanidade de Cristo e a distinção entre as pessoas da Divindade era contra o Modalismo.
[d] Estabelecia uma distinção entre o Pai e o Filho, que o conduziu a subordinacionismo. O Pai é imutável e absolutamente transcendente. Por isso não pode se comunicar com o homem. Para que a comunicação fosse possível, ela acontecia através do Filho, portanto tratava-se de um ser inferior. O Filho esteve eternamente no Pai, por um ato seu o Filho veio a estar com o Pai, num momento da eternidade.
[e] Ele não nega a divindade do Filho, mas o subordina ao Pai. É esta corrente de pensamento que vai dar origem ao Arianismo.
[10] – Concílio de Nicéia e o Arianismo325 A.D. – IV século.
[a] O IV século testemunhou o início de uma nova era para a igreja. Constantino transformou a igreja perseguida na igreja tolerada; e mais tarde, com a fundação de Constantinopla, a igreja tolerada passou a ser a igreja favorecida. Isto trouxe algumas consequências.
[1] Agora os pais da igreja tiveram tempo para pensar. Desta época são os maiores pais da igreja: Atanásio, Agostinho, Ambrósio e Jerônimo.
[2] Conversões em massa, comprometendo a pureza da Igreja.
[3] Desenvolvimento teológico inigualado até então sob a proteção do império.
[4] Condenação imperial por se tomar posições teológicas que não fossem do interesse do império. As discordâncias teológicas passaram a ter uma dimensão política.
[b] Ário – presbítero da Igreja de Alexandria – foi treinado na tradição subordinacionista de Orígenes (Left Wing). Negava a consubstancialidade do Filho no Pai. Foi discípulo de Luciano de Antioquia que foi seguidor de Paulo de Samósata, (Adocionismo) por volta do ano 310 A.D.
[1] Monoteísmo Absoluto – Deus não podia conferir sua essência e qualquer outro ser por se tratar de um ser uno e indivisível. Assim o Filho não podia ser uma emanação do Pai, nem parte de sua substância, nem outro similar ao Pai.
[2] O Filho não pode ser preexistente, sem começo, poios neste caso seria irmão e não Filho de Deus. Houve um tempo em que Ele não era, foi criado, quando Deus resolveu criar o homem, e através dele, Filho, fomos criados.
[3] O Filho veio a existir por um ato criador de Deus. para Ário, Cristo é uma Criatura. Assim, o Filho tem começo. Houve um tempo em que Ele não existia.
[4] Cristo era, para Ário, um Ser intermediário: inferior a Deus e superior ao homem. Contudo, conferia-lhe atributos divinos no sentido honorífico em função do significado de Cristo na salvação do homem. Estes ensinos se alastraram pelo Oriente.
[c] Alexandre, bispo de Alexandria, convoca um sínodo, que tem a participação de 100 bispos egípcios. Por motivo de heresia, ele depõe e condena Ário por volta do ano 320 A.D.
[d] Ário escreveu a simpatizantes de sua causa, conseguindo apoio especial de Eusébio de Nicomédia, que o recebe em sua diocese sob os protestos de Alexandre, bispo de Alexandria. Esta disputa ameaçava a unidade da igreja e a coesão do Império Romano.
[e] Constantino – Ele sonhou que o cristianismo seria a causa da unidade do império. Agora ele o via à beira de uma cisma. Isto colocava em jogo também a unidade do próprio império. (hósio/hóssio).
[1] Para solucionar esta crise, e como não entendia o alcance do assunto, enviou seu conselheiro teológico: Hósio de Córdoba, ao Oriente como seu representante para conciliar as duas partes. Vendo Hósio que a divisão entre os partidos era profunda demais para ser resolvida por esforço de conciliação, informou a Constantino sobre a seriedade da crise.
[2] Constantino, então, resolveu convocar um concílio para a cidade de Nicéia, na Bitínia, em 325 A.D. O assunto era o problema de Ário. Participaram deste concílio 300 bispos, que se dividiram em três grupos:
[a] Pequeno grupo liderado por Eusébio de Nicomédia, que pensava ser fácil alcançar a adesão da grande maioria. Este era o grupo de arianos puros.
[b] Pequeno grupo de opositores do Arianismo liderado por Alexandre, Bispo de Alexandria. Ao seu lado estavam Atanásio, seu diácono e Hósio de Córdoba.
[c]  3º grupo formava a grande maioria, liderado por Eusébio de Cesaréia. Este grupo não tinha opinião firme e não percebia a importância do assunto. E por medo do sabelianismo (modalismo) , eram relutantes em condenar o subordinacionismo de Ário em termos radicais.
[d] Além disso estava a influência do imperador, mais interessado na unidade do império do que no problema teológico. Ele queria encontrar uma fórmula mais aceitável que conciliasse a maioria.
[3] Julgando os arianos ser fácil conseguir a adesão do grande grupo, Eusébio leu, cruamente, a posição ariana. Diante das claras implicações do arianismo os bispos se escandalizaram e daí em diante a causa ariana estava perdida.
[f] Implicações de doutrina de Ário afetavam a doutrina de Deus e a da salvação.
[1] Introduziu idéias politeístas e adoração à criatura.
[2] Destruiu a base da salvação por negar a divindade de Cristo.
[3] Idolatria.
[g] A fórmula de Nicéia foi aceita sob a sugestão do imperador Constantino ao apresentar a palavra Homoousios (mesma substância) para acabar com a discussão de que o Filho não era criatura de Deus. Palavra que diferia de homoiousios, que significa substância parecida, semelhante. Cristo, na decisão de Nicéia é consubstancial, ou seja, possui a mesma substância do Pai.
[1] O credo afirmava que o Filho era verdadeiro Deus do Verdadeiro Deus, da mesma substância – Homoousios.
[2] Além disso o credo (niceno) acrescenta, no final, uma seção de anátemas. Ficava claro que se visava não deixar nenhum espaço para o Arianismo que a partir daí foi considerado como herético.
[h] Devido às diversas maneiras como foi interpretada a palavra Homoousios por diversos grupos, a discussão se estendeu por mais 50 anos.
[1] Homoousios – unidade de substância, tradução aproximada.
[2] Homoousios – unidade absoluta entre o Pai e o Filho, sem distinções fundamentais (similar a anterior).
[3] Homoousios – eternidade e divindade do Filho. Mesma substância.
[4] Homoousios – Arianos: substâncias diferentes – um grupo de arianos assinou o credo e os anátemas, procurando conciliar o credo com suas idéias; um segundo grupo aceitou o credo e recusou assinar os anátemas; o terceiro grupo recusou assinar o documento por inteiro. Aqueles que recusaram assinar parte ou todo do documento foram banidos do império e excomungados.
[i] A ascensão de Constâncio (Ariano) – Os maiores oponentes do arianismo no Oriente foram: Eustáquio de Antioquia, Marcelo de Ancira, Atanásio de Alexandria, amigo e substituto do bispo de Alexandria, Alexandre, após sua morte. Todos os três foram condenados e banidos pela habilidade política de Eusébio de Nicomédia. O mais proeminente entre eles foi Atanásio. Era o mais temido devido a importância de sua sede, Alexandria. Além disso era um dos maiores homens da igreja de todos os tempos. Era um defensor da fé nicena. Banido duas vezes, conseguiu assumir sua diocese 362 A.D. Com a morte do imperador Constâncio, em 361 A.D., ariano, foi restabelecida a fé nicena sob a influência de Atanásio.
[11] – O Concílio de Constantinopla (381 A.D.) e os Três Capadócios Basílio, o Grande, m. 379, arcebispo de Cesaréia, figura principal na vitória final da teologia nicena sobre o arianismo; Gregório de Nissa (m. em torno de 384), irmão mais moço de Basílio, e Gregório de Nazianzo. Por causa da influência destes três se deu a derrota final do arianismo. Eles prepararam o caminho para a vitória da ortodoxia.
[a] A Solução da Controvérsia Ariana – A falta de precisão nos termos empregados na decisão foi uma das causas da dificuldade.
[1] No Ocidente havia uma terminologia mais ou menos fixa, já por este motivo não houve muito problema.
[a] No Ocidente, desde a época de Teturliano usava-se o termo substância para indicar o elemento comum da divindade, sua natureza básica.
[b] E a palavra persona  para falar da personalidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Distinção das pessoas.
[2] No Oriente não havia a mesma precisão de termos. As palavras ousia e  hipostasis eram usadas como sinônimos. Não havia um que pudesse traduzir adequadamente a palavra persona do latim.
[3] Quando os defensores do credo niceno falavam de ousia, muitos bispos viam muito perigo de sabelianismo (modalismo) porque entendiam ousia como pessoa. Eles entendiam mesma substância, por mesma pessoa, quando a intenção era falar da substância.
[4] Quando os outros bispos do oriente falavam da dualidade de ousias (diferença de substâncias), os nicenos pensavam que eles estavam falando de subordinacionismo. Eles entendiam como diferença de substâncias e não distinção de pessoas, quando a intenção era falar da distinção de pessoas.
[5] Foi Atanásio, que, reunindo o sínodo de Alexandria, em 362, declarou que as diferenças verbais não eram importantes desde que o significado do que se dizia ficasse claro.
[a] Primeiro, que três hipóstases não fosse concessão ao triteísmo.
[b] Segundo, que uma hipóstase não fosse concessão ao sabelianismo.
[b] Os três capadócios tomaram sobre si a tarefa de definir os termos. Criaram uma terminologia capaz de clarificar e harmonizar os dois polis em litígio. A solução foi baseada na distinção entre  ousia e hipostasis. Em Nicéia, os termos eram usados sinônimos com a tradução de substância.
[1] Os capadócios reservaram o termo hipostasis para indicar real individualidade, logo o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três pessoas distintas. São substâncias distintas em uma ousia.
[2] Ousia – uma só substância, a mesma substância. Pai, Filho e Espírito Santo possuem a mesma substância. 
[c] O imperador Teodósio convocou o Concílio de Constantinopla, em 381. Foi a fórmula dos capadócios que ganhou a decisão da maioria dos bispos.
[1] Este concílio condenou todas as formas de arianismo. A partir das decisões do Concílio de Constantinopla, o arianismo deixou de ter importância nas questões teológicas e ficou restrito aos bispos bárbaros: vândalos, visigodos e lombardos.
[2] Quatro razões para o declínio do arianismo.
[a] Superioridade intelectual dos seus adversários.
[b] Durante toda controvérsia todos os bispos do Ocidente e a maioria do Oriente permaneceram ao lado da posição nicena.
[c] As fragmentações do arianismo.
[d] A tentativa do arianismo de introduzir no cristianismo a prática de adorar a criatura, um ser menor do que Deus, além de  comprometer a salvação, uma vez que o pecado trouxe a morte, a salvação só poderia ser conseguida se a morte fosse vencida. E só  um ser de vida própria, não derivada, poderia descer ao túmulo e por seu próprio poder vital voltar a viver, ressuscitando-se a si mesmo. Isto foi negado pelo arianismo, ao colocar o Filho de Deus como um ser criado, com vida derivada, não-própria.
[12] – O Problema Cristológico do Final do IV até o VI Século – Como se relaciona com a humanidade de Cristo com sua divindade? Como pode aquele, que é Verdadeiro Deus, ser ao mesmo tempo homem? Como um Ser Divino pode aparecer em forma humana? Em suma, qual a relação entre divino e humano na sua pessoa? O credo niceno não se preocupava com este aspecto, nem mesmo Atanásio, o seu grande campeão.
[a] Já por influência de Tertuliano o Ocidente se manteve unido em torno da plena divindade e da plena humanidade que existiam em Cristo, sem confusão e sem diminuição das qualidades inerentes a cada um desses elementos.
[b] O Oriente estava dividido por sua teologia mais profunda.
[c] Os dois extremos da questão:
[1] Alexandria – realçou a tal ponto a unidade de Cristo, que acabou falando da absorção da sua humanidade pela divindade.
[2] Antioquia – afirmou a integridade dos dois elementos (divino e humano), que deu lugar a se dizer que havia em Cristo dois seres separados.
[d] Apolinário  - Sua proposta pode ser chamada de Psicológica. Sua Cristologia é uma tricotomia. Dizia ele que o homem é composto:
[1] Soma – Corpo.
[2] Psiquê – Alma irracional.
[3] Nous – Alma racional (posição platônica).
Em Cristo o Logos desalojou a alma racional e nela foi colocado o Logos. De tal forma isso se deu, que apenas o seu corpo era humano. Jesus tinha corpo e alma animal iguais ao homem, mas sua alma racional era o Logos. Assim o princípio determinador da vida dele não era a razão humana, mas uma mente divina. Tinha que ser assim para Apolinário, pois para ele a mente humana era corrompida, estando a serviço das paixões carnais. Para ele a natureza humana de Cristo foi transmutada pela natureza divina. Cristo, segundo ele, não recebeu sua natureza humana da virgem Maria, mas trouxe do céu uma espécie de carne celestial.
[e] Esta posição pecava por negar a realidade da humanidade de Cristo. Sua posição foi rejeitada sucessivamente por Roma em 377 e 382 A.D., em Antioquia em 379 A.D. e no segundo Concílio Ecumênico de Constantinopla em 381 A.D.
[f] Nestório, respeitado pregador, presbítero e monge de Antioquia, tornou-se patriarca de Constantinopla em 428 A.D. Era representante da Escola de Antioquia, que procurava fazer justiça tanto ao elemento divino como ao histórico e humano de Cristo.
[1] O veredicto da história sobre Nestório, inicialmente, foi injusto. Foi declarado herege pelo Sínodo de Éfeso em 431 A.D. Dizia-se que ele ensinava a doutrina dos “Dois Cristos”, um divino e outro humano, invalidando assim a fé cristã. Era considerado como o protótipo do ponto de vista que apresenta uma falsa antítese entre o divino e o humano na pessoa de Cristo, como se fora dois cristos.
[2] A pesquisa moderna descobriu outras obras de Nestório. Entre elas, principalmente, se encontra, uma obra autobiográfica: “Tratado de Heráclides de Damasco”. Com isso a pesquisa moderna pôde fazer justiça a Nestório, pois havia sido mal compreendido e mal interpretado por seu adversário Cirilo. Nestório, de fato, não admitia que houvesse em Cristo duas pessoas. Nestório dava ênfase na realidade e na plenitude do humano e do divino em Cristo, bem como na união de vontades entre eles (elemento divino e humano). “Nenhum dos grandes hereges da história do dogma ostentaram este nome tão injustamente como Nestório”, segundo Seeberg.
[a] Apesar disso Nestório foi longe demais para distinguir as duas naturezas, a ponto de dizer que não via unidade real na pessoa de Cristo. “Distingo as duas naturezas, mas adoro apenas um” (Cristo). Isto foi chamado de diofisismo.
[g] O mais acirrado adversário de Nestório era Cirilo, patriarca de Alexandria (412 a 444). Apesar de ambicioso e inescrupuloso de caráter, Cirilo não lançou seus ataques contra Nestório a não ser por causa de sua fidelidade à tradição Alexandria. Ele procurou reunir os conceitos básicos da teologia antioquiana com os da tradição alexandriana. Cirilo ensinava que há uma união verdadeira, substancial entre as duas naturezas de Cristo, rejeitando a idéia de união moral ou devocional. O Logos, que veio de Deus Pai se uniu hipostaticamente com a carne para formar um Cristo, Deus e Homem ao mesmo tempo. Para Cirilo a união entre Deus e o homem é uma união física ou substancial. União com respeito à hipóstase, ou seja, união pessoal, ou unio personalis. Em Cirilo esta união em hipóstase não significa pessoa, é antes empregada como ousia, isto é, substância. Isto significa união com respeito à essência. O que ele quer dizer é que se trata de união real, implícita em Cristo mesmo.
[1] Apesar disso, Cirilo afirmava que as duas naturezas precisam manter sua identidade separada. Então, o que ele fez, foi colocar as duas naturezas distintas ao lado da idéia alexandrina de união física. Este paradoxo, mais nitidamente delineado, foi finalmente fixado e aceito como definitivo no Concílio de Calcedônia em 451.
[2] Resumo: “Duas naturezas em uma pessoa. É o Logos que constitui a pessoa de Cristo, que assumiu a natureza humana e se uniu a ela e agiu através dela. Cristo é apenas uma pessoa, e esta pessoa leva a marca da natureza divina, embora se enfatize a distinção entres as duas naturezas.” História da Teologia”, Bengt Hàgglund, página 82.
[h] Eutiques, abade do Mosteiro de Constantinopla, dizia que Cristo depois de se tornar Homem, tinha apenas uma natureza (monofisismo). E sua humanidade não era da mesma natureza da nossa. Foi excomungado em Constantinopla. No Sínodo de Éfeso em 449 A.D., Eutiques foi posto em seu cargo de novo. Este Sínodo é lembrado como o “Sínodo dos Ladrões”, porque transcorreu em atmosfera muito tumultuada, por isso mesmo nunca foi reconhecido como concílio ecumênico.
[1] Foi, nestas circunstâncias, e para desfazer as decisões de Éfeso, que o Papa Leão I convocou o Sínodo de Calcedônia. A decisão de Calcedônia é o resultado final das controvérsias cristológicas ocorridas desde o 1º Século.
“Confessamos um e o mesmo filho (contra Nestório que falava da existência de dois Filhos), Nosso Senhor Jesus Cristo, que é perfeito em divindade (contra o dinamismo, Ário e Nestório) e perfeito na humanidade com alma racional e corpo (contra Apolinário), de uma essência com o Pai segundo a divindade e da mesma essência que nós segundo a humanidade (contra Eutiques), igual a nós em todas as coisas, exceto que não tinha pecado; que segundo sua divindade foi gerado pelo Pai antes de todos os tempos, e que segundo a humanidade, nasceu da virgem Maria, Mãe de Deus, para nossa salvação: um e o mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, revelado em duas naturezas sem confusão, sem modificação (contra Eutiques, Apolinário e outros), indivisivelmente e inseparavelmente, sendo a distinção das naturezas de nenhum modo eliminada pela união, sendo preservadas as propriedades de cada natureza, convergindo elas em uma pessoa, uma hipóstase, não separadas ou divididas em duas pessoas, mas um e o mesmo Filho e Unigênito de Deus, Logos, o Senhor Jesus Cristo.”
[2] Aqui ficaram combinadas as idéias de Roma, Alexandria e Antioquia numa formulação doutrinária comum e ortodoxa.
[3] Após Calcedônia, discussões se levantaram contra a fórmula deste concílio apenas para repisar os conceitos já anteriormente discutidos – como o monofisitismo de Severo, ou o docetismo incorruptível defendido por Julião de Halicarnasso.
[4] A definição de Calcedônia foi aceita pelos católicos, ortodoxos e protestantes.
“É mediante a operação do Espírito Santo que Deus se comunica com o homem.” PP, 405.

14 – Cristologia na Reforma – Século XVI

[1] – Desde 451 A.D., Concílio de Calcedônia, até 1546 na morte de Martinho Lutero, não houve mudanças na Cristologia.
[a] A única referência, mais significativa, é a Cristologia de Calvino, como explicação da ceia. Ele dizia que o corpo de Cristo está no céu, localmente limitado, não pode estar presente nos elementos da ceia de modo físico, substancial.
[b] Só o Espírito de Cristo é capaz de unir os fiéis com Cristo no céu. Pois o Espírito que não está limitado ao espaço pode unir os pólos separados: fiéis na Terra e Cristo no céu.
[c] Pela mediação do Espírito, os fiéis podem participar do corpo e do sangue do Senhor. Esta comunhão ocorre na Ceia do Senhor.
[2] – A fórmula de Concórdia ou Bergisches Buch, formalizada em 1576, fala de uma Cristologia que surgiu da discussão sobre a ceia, conhecida como (Comunicatio Idiomatum) comunicação dos atributos. São de três tipos:
[a] Atributos. Os atributos que pertencem a uma natureza, pertencem a mesma pessoa, que é simultaneamente divina e humana – Genus Idiomaticum.
[b] Os Ofícios. Os ofícios de Cristo (Profeta, Sacerdote e Rei) não são exercidos apenas em, com e através de uma das naturezas mas em, com e através de ambas. Genus Apostelematicum. Foi a tradição protestante, a primeira a falar sobre os três ofícios de Cristo.
[1] Como Rei, Cristo reina sobre os fiéis e sobre a criação.
[2] Como Sacerdote, Cristo apresentou seu sacrifício pelos pecados dos homens e por eles intercede.
[3] Como profeta, Cristo proclamou o decreto eterno da salvação de Deus e continuamente opera na congregação e no mundo através do ministério da Palavra.
[c] As naturezas – a natureza humana recebeu majestade, glória e poder divinos, que transcendem seus atributos originais. A natureza divina não se modificou (Deus é imutável) com esta comunicação. Seus atributos divinos não são nem diminuídos, nem aumentados por causa da comunicação das naturezas. Genus Majestaticum.  E o que acontece à natureza humana? Assemelha-se a Nestório.


[1] – Antecedentes – a intolerância e as guerras religiosas vieram no bojo da antipatia entre católicos e protestantes. De ambos os lados se partia do princípio que era impossível aceitar diversidades de credos religiosos dentro das fronteiras de qualquer país.
[a] O Catolicismo assassinou Giordano Bruno, um dos primeiros defensores da Teoria Heliocêntrica de Copérnico. Queimado em 1600 A.D.
[b] O Protestantismo Calvinista assassinou Miguel Serveto, o descobridor da circulação pulmonar do sangue. Foi lentamente queimado por rejeitar a doutrina da Trindade. Calvino tentou substituir este tipo de execução, fazendo recomendação para uma decapitação “misericordiosa”, contudo tal sugestão não foi aceita.
[c] Essas atitudes de intolerância levaram a Europa a uma prolongada guerra religiosa, que durou cerca de 100 anos. Desde o primeiro conflito, a guerra da Liga de Schmalkalden (1546 – 1547). Provocada por Carlos V no esforço de restaurar a unidade do Sacro Império Romano sob a fé Católica, até ao final da guerra dos 30 anos, com a assinatura do Tratado de Paz de Westfália, em 1648.  (França, Huguenotes, 1562 e 1598; Países Baixos, Bélgica e Holanda, 1567 a 1609).
[d] A Reforma Protestante e suas ramificações trouxeram benefícios à sociedade européia e mundial, que possibilitaram, entre outros, o surgimento do Iluminismo:
[1] Individualismo. Autonomia da liberdade da consciência individual. Direito de julgamento individual.
[2] Educação das massas. Fundaram escolas para o povo comum.
[3] Através do Congregacionalismo, os protestantes introduziram o princípio da Democracia. Primeiramente em sua estrutura religiosa e depois foi sugerida para os governos do estado.
[e] Até esta época, a Igreja dirigia cada aspecto da vida do homem. Toda universidade, sem exceção, na Europa, sempre começava com a Teologia, que era a rainha das ciências. Neste período, se alguém queria informação sobre qualquer questão, deveria primeiro perguntar à Igreja, se fosse católico, ou à Bíblia, se fosse protestante.
[2] – Contudo desde a Renascença, com o seu antropocentrismo, o homem despertou, a partir do século XV, para as potencialidades do próprio homem. O homem, com sua capacidade, passou a ser o centro do pensamento em geral: Filosofia, Literatura, Pintura e Ciências.
[3] – Os séculos XVII e XVIII mergulharam na atmosfera cultural conhecida como o Iluminismo. A razão, até então, serva da religião, passou a ser o padrão de todas as medidas. A razão e a Filosofia passaram a ser o meio de se provar a verdade sobre todas as coisas. A razão é o critério para tudo. A confiança foi posta na razão humana. Agora a Teologia é serva da razão. Os olhos se voltaram para o mundo material com toda a sua diversidade. O objetivo da Filosofia era de ensinar o homem a entender e controlar seu ambiente e gozar a felicidade neste mundo.
[a] Era como se o homem dissesse: Parem de dizer o que devemos fazer. O que vocês fizeram durante 1700 anos? Quase nada. Então dê uma chance à razão. O centro da verdade deixou de ser o templo, para ser o laboratório. É a idade da razão e da liberdade individual de pesquisa. O homem voltado para a religião é substituído por um homem voltado para dentro de si mesmo e do mundo circundante em busca das respostas  às suas inquirições. O objetivo era explicar o mundo com base nos princípios da razão humana.
[1] A Revolução Francesa, em 1789, é a hegemonia da razão contra a Igreja e a Monarquia absoluta. Em 1800 toda a Europa está mergulhada no Iluminismo. Perdeu-se a confiança na Igreja. Em 1798 dá-se o aprisionamento do Papa Pio VI. Desaparecem os reis, libertam-se os povos. Surgem as primeiras repúblicas.
[4] – O Iluminismo e Sua Influência sobre a Teologia.  Nesta época, a Cristologia foi muito afetada, assim como as outras doutrinas.
[a] Apenas na 2ª metade do século XVIII que a Teologia Racionalista, Neologia, começou a aparecer entre os protestantes. Sua primeira característica foi o conceito de religião natural.
[1] Há uma religião natural, comum a todos os homens, que os torna felizes, sem a necessidade da revelação especial. Cristo é visto como um Mestre de sabedoria e um padrão moral.
[2] A Teologia passou a ser dependente do pensamento racionalista. A argumentação racional foi posta em pé de igualdade com a revelação e a revelação devia ser justificada diante do tribunal da razão. Na revelação não se podia encontrar nada em contradição com a razão.
[a] As verdades bíblicas devem ser despidas do elemento milagroso ou sobrenatural. Rejeição do que é lendário, místico e sobrenatural.
[3] Tendência moralizante. Moralidade era a principal finalidade do cristianismo.
[4] Concepção individualista. A certeza se baseava na experiência da própria pessoa.
[5] Humanização do Cristianismo. Preocupação com a felicidade neste mundo.
[6] Ampliação dos estudos textuais e históricos da Bíblia.
[7] Distinguia as verdades permanentes da Escritura e os elementos devido às circunstâncias do tempo em que foram escritos. Verdades subjacentes.
[8] Negação de igual valor de revelação de todas as partes das Escrituras. A revelação está na Escritura, mas toda Escritura não é revelação.
[a] Principais teólogos alemães do início do Iluminismo Teológico: Cristiano Wolf, Johann Lorentz, Hermann Samuel Reimarus, Jean Astruc.
[9] Negação da Religião Ortodoxa. O Racionalismo procurou expor ao descrédito a religião, especialmente, em sua forma ortodoxa. Luta entre ciência e religião é sempre o vilão que procura obliterar ou tragar a verdade.
[a] Heliocentrismo – suas consequências.
[b] Evolucionismo – suas consequências.
[c] Comunismo – sociedade mais justa. A religião é uma das barreiras.
[d] Psicanálise. Para Freud, religião é uma ilusão, pois se baseava na recusa de aceitar a realidade da existência.
[10] Nietzche – Teologia da morte de Deus. Deus estava fora de perspectiva para o homem moderno. E cabe ao homem ocupar o lugar de Deus.
[11] Autoridade máxima em religião passou a ser a iluminação interior, e não a Bíblia. A Bíblia foi submetida a um exame crítico-histórico e gramatical. Criticismo.
[a] Baixa Crítica – trata dos problemas relacionados com o texto e procura pesar o valor dos manuscritos da Bíblia, procurando sempre o melhor texto. Buscar maior exatidão das datas atribuídas aos manuscritos mais antigos.
[b] Alta Crítica – Interessa-se pela semântica do texto. Significação das palavras. Ele procura a lição real dos acontecimentos escriturísticos. Para conseguir isto, eles precisam fixar bem o tempo quando foi produzida cada passagem da Escritura, quem a escreveu e para quem. É preciso ter toda a situação contemporânea do texto em mente. Exemplo: Salmo. Não foi escrito por Davi, como informa a tradição teológica (ortodoxia), mas é o resultado de cânticos populares surgidos dos sofrimentos ocorridos pelos judeus no exílio. (Crítica Histórica). Resultados: Moisés não escreveu o Pentateuco, mas foi escrito pelo menos por 4 autores diferentes. Semelhantemente, com relação a Isaías – não há profecia, tais textos foram escritos após terem os fatos acontecidos (Ciro).
[5]  – Um dos Desenvolvimentos do Alto Criticismo foi a Teologia do “Jesus Histórico”. A idéia que o Jesus que viveu na história da humanidade foi diferente do Jesus dos evangelhos. Para os teólogos da corrente, Jesus histórico, a Igreja Primitiva e os evangelhos fizeram muitos acréscimos ao relato propriamente bíblico. Assim, a tarefa deles era fazer um levantamento entre os ditos e feitos de Jesus, para estabelecer os que lhe eram autênticos.
[a] Por causa do exposto surgiram inúmeras biografias de Jesus no século XIX, cada uma forcejando por apresentar o autêntico perfil de Cristo. Duas são bem conhecidas: a Vida de Jesus, de David Friedrich Strauss (M.1836), e a Vida de Jesus de Renan (1863).
[1] Todas estas biografias procuram eliminar elementos miraculosos. Os milagres, segundo estes autores, são uma impossibilidade à luz da Ciência, e disseram que Jesus jamais ensinou ser o Messias ou que o mundo se aproximasse de uma consumação. Assim, o Jesus da Teologia não é o verdadeiro.
[2]  Isto levou alguns a um extremo (Redultio Ad Absurdum), em que eles concluíram que Jesus jamais existiu, em face da falta de fidedignidade do evangelho. Jesus não passava de um mito inventado pela Igreja Cristã. Rejeição da natureza divina de Jesus.
[b] Albert Schweitzer escreveu o livro “A Questão do Jesus Histórico” (1906). Nesta obra ele fez uma análise das obras sobre o Cristo, neste período, defendendo a idéia de que estas obras não passavam de representações imaginárias de um personagem que nada tinha a ver com o primeiro século, porém, mais parecia um intelectual do XIX século.
[1] Schweitzer disse que Jesus tinha clara consciência de sua messianidade, e que o Reino de Deus desceria do céu e a Terra seria recriada.
[2] A ética de Jesus visava nortear a conduta dos seus seguidores até a vinda do seu reino.
[3] Jesus pensou que enfrentando a morte, apressaria o estabelecimento do reino, porém tudo não passou de uma ilusão. Jesus se enganou.
[6] – Friederich Schleiermacher (M.1834). Substituiu o relacionalismo do século XVIII, pelo Romantismo Subjetivo do século XIX em sua teologia. Segundo Schleiermacher, cada homem tem um sentimento de Deus. Jesus tinha este sentimento no mais alto grau. E por isso ele mereceu e merece ser chamado de Deus. Ele não é Deus, mas deve assim ser chamado por causa do alto nível deste sentimento nele. O que interessa não é sua morte e ressurreição, mas seu sentimento de Deus (Consciência de Deus). Por isso que só Cristo, por ter tal consciência, era um homem pleno de Deus, e apenas Ele estava capacitado a comunicar esta consciência (sentimento) de Deus.
[a] Assim o centro da autoridade religiosa foi deslocado da Escritura para a experiência do homem.
[b] Pelo fato do pecado ter acarretado uma separação entre Deus e o homem, e com seus semelhantes, Deus enviou um Mediador do homem na pessoa de Jesus, como portador do conhecimento, cuja função é comunicar a consciência de Deus, de modo vital e vitalizante. Esta consciência de Deus é comum a todas as religiões, a despeito de suas diferenças doutrinárias. Por isso que religião para Ele não é o assentimento a um corpo de doutrinas.
[1] Para Schleiermacher, religião é a experiência individual subjetiva do sentimento de Deus, que em Jesus havia em toda plenitude.
[2] Não há, portanto, religiões falsas e verdadeiras, pois todos os progressos da religião na história são verdadeira religião. O que se deve procurar em cada uma é o seu grau de eficiência em comunicar o sentimento de Deus.
[a] De todas elas o Cristianismo é a melhor, pois é nela onde se alcança mais cabalmente o alvo de todas elas: o sentimento (consciência de Deus).
[c] Cristo ocupa o lugar central, pois une o temporal ao infinito, o homem a Deus. Religião cristocêntrica.
[d] O resultado deste sentimento de Deus no homem, através do Mediador, Cristo, é a moralidade.
[1] Schleiermacher é o pai da Teologia Liberal, o seu teólogo mais influente.
[7] – Albrecht Ritschl – Com ele se inicia, no final do final do século XIX, uma outra escola do pensamento: a religião como algo de caráter eminente prático. Ritschl se voltou para a vida de Jesus, e sua mensagem. O que ele proclamou? Qual o centro de sua mensagem (kerigma)? O centro da sua mensagem é o reino de Deus, cuja principal natureza é o amor por toda a humanidade. O reino de Deus é um reino de amor, que nos liberta, não só de nossos pecados, mas do nosso egotismo também.
[a] Cristo merece ser chamado Deus, porque Ele é o clímax do amor.
[b] Já que sua busca é o aspecto prático da religião, e a rejeição de toda discussão teológica metafísica, a ele interessava a pesquisa em torno do Jesus histórico.
[c] Ritschl busca a harmonia entre a ciência e a religião, postulando que isto é possível, se cada uma se mantiver dentro dos limites de sua área de pesquisa. A religião não deve ousar fazer declarações de valor dos fatos científicos, como a ciência não pode avaliar os postulados da Teologia com base em leis e teorias científicas.
[1] Isto não significa que elas nunca possam ter diálogos entres suas duas realidades.
[2] Ciência e religião são duas formas distintas através das quais a existência pode ser observada.
[3] Isto fez com que se avaliasse o criticismo bíblico, que pretende ter forum de ciência. A descoberta de fatos relacionados à religião não significa, necessariamente mudança de valores. O Jesus histórico do criticismo bíblico não pode afetar os valores, no coração do crente, do significado divino de Cristo.
[d] Para Ritschl, Jesus é divino porquê Ele pode fazer por nós aquilo que só Deus poderia realizá-lo.
[8] – A Teologia Iluminista reduziu a confiança na Bíblia e na Igreja à quase total insignificância. Não há autoridade na Bíblia nem na Igreja. Além disso, Jesus Cristo foi designado pelo racionalismo, quando se rejeitou o sobrenatural aplicado a Ele, porque se rejeitou a fidedignidade dos evangelhos.
[a] Nesta ocasião veio a catástrofe da I Guerra, e o sonho do progresso ilimitado com o racionalismo se desmoronaram. Nestes conceitos não podia estar a solução. Depois de 200 anos o racionalismo se mostrou inoperante. No início do século XX, (1918), a Teologia estava sem perspectiva.
[b] Nesta época surge o Marxismo, que fez com que a Rússia aumentasse de importância no cenário mundial.
[c] Neste contexto surge a Teologia Dialética ou Neo Ortodoxia.
[9] – Karl Barth, criado e educado no liberalismo, verificou que o liberalismo não o ajudava em dar apoio espiritual aos membros que passavam dificuldades várias. Ele convidou o povo a uma reforma – a nova ortodoxia. Em 1920 e 1930 o racionalismo foi abandonado como uma solução. A Bíblia voltou a ter autoridade.
[a] Nesta ocasião surgem os Três B da Teologia: Karl Barth, Emil Brunner, Rudolf Bultman.
[b] Logo após a I Guerra Mundial, foi publicado um comentário sobre a carta aos Romanos (Der Romerbrief, 1919) pelo Pr. Karl Barth. Esta obra foi um libelo contra a Teologia Contemporânea e contra a tradição teológica que se vinha formando desde Schleiermacher. Der Romerbrief foi um protesto contra as escolas que tinham transformado a Teologia em Ciência da Religião e tinham feito uma análise histórico-crítica da Bíblia.
[c] A Segunda edição desta sua obra (1922) foi reconhecida como o início da nova escola teológica conhecida como Escola Dialética, que em Barth é a busca mais profunda da verdade com base no contraste fundamental entre eternidade e o tempo, entre Deus e o homem. Para ele, neste contraste teológico, está o tema da Bíblia. Contudo o divino implica a negação do humano. Com isso ele nega a teologia natural, porque é impossível o divino estar imanente na natureza humana.
[1] A Bíblia é vista como uma mera analogia da palavra. A Bíblia apenas aponta para a verdadeira revelação divina, ou seja, a Palavra de Deus em sentido absoluto e transcendental.
[2] O esclarecimento da revelação divina só pode ser feito com base no confronto permanente de afirmações contrastantes. Princípio hermenêutico.
[3] A proclamação, a palavra anunciada, assume posição central, pois é o momento em que o ouvinte se defronta com a “Palavra de Deus”. Essa confrontação com a Palavra de Deus pode se dar também através da palavra escrita (Bíblia), que dá as normas para a pregação. Contudo, a Escritura não é a “Palavra de Deus”, ela apenas se refere à palavra revelada, ou seja, o aparecimento do Deus oculto em Cristo. Assim a Escritura não é, em sentido direto, a Palavra de Deus, a Bíblia aponta para ela.
[4] A Bíblia dá testemunho da revelação que ocorreu com a vinda de Cristo. Uma vez  que a Bíblia está no nível temporal ela só pode apenas apontar para o divino.
[d] O abismo entre Deus e o homem é transposto na encarnação, quando a Palavra de Deus assumiu a natureza humana, o que se deu em Jesus Cristo. Por isso, a Cristologia ocupa lugar central em Barth.
[e] Cristo para Barth é a revelação do Verdadeiro Deus e Verdadeiro Homem.
[f] Cristo, mediante sua obra, venceu, perdoou e destituiu o pecado do seu terror. Através dele, o homem pode usufruir a nova vida, que é a vitória de Cristo sobre o pecado.
[g] A encarnação de Cristo, visa, também mostrar ao homem o que é ser verdadeiro homem, enquanto julga o homem em seu atual estado de pecaminosidade. Só que o juízo caiu sobre Deus mesmo em Cristo, isto só foi possível, pela realidade da encarnação. Com esta atitude Cristo liberta o homem do juízo, da separação e da morte. E a ressurreição, que é a garantia dessa nova vida, foi dada ao homem.
[h] Em Cristo está a dupla predestinação, e não que Deus destinou homens para perdição ou salvação. Cristo representa a escolha e a rejeição do homem. O destino sofrido por Cristo é uma escolha feita dentro da Trindade, no qual Deus permite que o Filho se submeta à morte, para que possa ser ressuscitado para a glória eterna na ressurreição e através dela. Este sofrimento de Jesus, representa a rejeição dele por Deus. Cristo é rejeitado no lugar do homem. Assim, a predestinação é uma decisão eterna feita por Deus, significando que todos os homens são admitidos para salvação, enquanto o próprio Deus, na forma de Filho, toma sobre si mesmo a condenação. Este fato se deu como um processo dentro da Divindade. Assim a morte e a ressurreição de Jesus para Barth é uma analogia no processo eterno de Deus em rejeitar o Filho no sofrimento da morte, e na ressurreição a sua eleição.
[1]  A Cristologia de Barth tem tendências docéticas e nestorianas. É docética porque aquilo que é relatado no evangelho é apenas uma ilustração do evento intratrinitariano. É nestoriana porque a humanidade de Cristo nunca é identificada com sua divindade, é vista como uma analogia, ou seja, o seu relato histórico só é significativo se expressa o modo como o Pai trata com o Filho dentro da relação na divindade.
[2] Cristo na história não é nem Filho de Deus, nem Filho do homem em sentido exato. Cristo, apenas, por analogia, ilustra e nos apresenta as ações do Eterno Filho de Deus e nos fornece o modelo para o papel do homem diante de Deus. Cristo, como pessoa histórica, não realizou a salvação do homem. No contexto da mesma história, apenas Ele deu testemunho da salvação eterna, operada intratrinitarianamente. A realidade da salvação se encontra no decreto divino efetuado dentro da divindade, antes do tempo.
[10] – Rudolph Bultmann – Em 1941, ele publicou o livro “Novo Testamento e a Mitologia”. Nesta obra ele fala que universo bíblico do N. T. é incompatível com o conceito de realidade do homem moderno. Conceitos tais como demônios, milagres, ações sobrenaturais, preexistência de Cristo, cataclismos mundiais são aceitáveis à mentalidade moderna. A esses elementos ele os chama de mitológicos, não para eliminá-los, mas interpretá-los conforme sua finalidade original. A isso Bultmann chamava de desmitificação, ou seja, a interpretação dos relatos sobrenaturais e sua significação para a existência humana.
[a] Assim ele reinterpreta a morte e sua relação com a vida presente do homem moderno. Esta visão teológica de Bultmann é existencialista, e por isso rejeita a história, pois para o existencialismo o passado nada tem a revelar. Só o presente apresenta ao homem a realidade das coisas. E Bultmann, através da teologia, quer dar um novo significado dos elementos da história bíblica, reinterpretando-os e aplicando às necessidades do homem moderno.
[b] Nesta visão sua cristologia rejeita e reinterpreta a pessoa de Cristo. nega sua preexistência, divindade, Jesus é apenas um homem excepcional.

 16– O ASPECTO BÍBLICO DA CRISTOLOGIA


[1] – Jesus preexistiu eternamente antes do nascimento em Belém. Visão do Antigo Testamento.
[a] Is 9:6 – Este verso faz parte de um contexto maior (vs. 2 e 7). Ele ocupa o centro da mensagem. Esta perícope fala do fim de uma era de sofrimento (trevas, região da sombra da morte, jugo, vara que fere, opressor, botas de guerra e vestes embebidas em sangue) e do início de uma nova era de felicidade e paz ( resplandece grande luz, alegria, fim da opressão e fim da guerra).
[1] A causa dessa transformação é o nascimento de um Rei, cujas características, só podem se referir ao Rei messiânico, que veio para governar; é um Rei de um reino futuro. Seus característicos transcendem tudo o que o homem é ou possa vir a ser.
[2] Maravilhoso Conselheiro – Ele transcende os limites comuns da humanidade (cf. Jz 13:11,18 e 22) e por isso é chamado de Maravilhoso. É Conselheiro, porque sendo ungido pelo Espírito Santo com  sabedoria tem os conselhos sábios tão necessários para o exercício do ofício real. Fazer decisões sábias.
[3] Deus Forte – A execução dos seus conselhos como governante está garantida, porque unida à sabedoria está a força do seu poder divino. Este Menino é transcendente, sábio e divino.
[4] Pai da eternidade – fala de sua preexistência. Se a eternidade, que é algo que não tem começo nem fim, se tivesse começo, este Menino, este Filho seria o iniciador dela. O Messias é alguém que possui a eternidade, na qualidade amorosa de um Pai. (Sl 90:2). Isso iguala o Messias ao Pai: Ele é transcendentemente sábio, possui poder divino, por ser chamado de Deus Forte, e é Agenétos (não nascido, sem início) por ser chamado de Pai da Eternidade.
[b] Mq 5:2 – A mensagem de Miquéias é uma advertência dirigida a Israel do Norte e do Sul, quanto ao grave risco de sofrerem os juízos de Deus, por causa de sua apostasia. Nesta segunda unidade de seu livro (3:1 a 5:15), o profeta adverte os dirigentes da nação. Apesar disso, a situação espiritual e política do reino do Norte rapidamente se deteriorou. Como eles não foram sensíveis aos reclamos de Deus, Ele permitiu que fossem levados em cativeiro pelos assírios em 722 A.C. Judá seguiu a mesma direção de Israel e em 586 A.C. Jerusalém foi, também, invadida e destruída por Babilônia.
[1] Nos anos que antecederam a estes dois juízos, Miquéias promete um Rei que trará paz ao seu povo. É o Rei messiânico, que nascerá em Belém, cujas saídas são desde os dias da eternidade.
[2] O termo é Motsa’oth, era traduzido corretamente como saídas e não origens. Esta profecia é interpretada no Novo Testamento em referência ao seu nascimento no tempo (nascimento virginal) e no espaço (em Belém). (Mt 2:5,6;  Jo 7:42). A expressão “cujas saídas são desde os dias da eternidade”, se referem à preexistência do Messias, pois o termo hebraico não exclui a idéias de eternidade. Sl 90:2 é interpretado por EGW em 1º ME, 248, como falando da preexistência de Cristo.
[a] EGW, assim interpreta o texto: “declara-se Aquele que tem existência própria, Aquele que fora prometido a Israel, ‘cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade”(DTN, 354).
[b] “Cristo é o Filho de Deus, preexistente... falando de sua preexistência, Cristo reporta sua mente através dos séculos incontáveis. Afirma-nos que nunca houve tempo que Ele não estivesse em íntima comunhão com o Eterno Deus”. (Evangelismo, 615).
[2] – Preexistência de Cristo no Novo Testamento.
[a] Textos implícitos sobre a preexistência – vem, foi enviado. O pensamento se acha contido no texto subrepticiamente (veladamente).
[1] Lc 19:10 – Veio, de onde? Veio antes. Este é o método paciente de Cristo ensinar – “O Filho do homem veio.”
[2] Mc 10:45 – “O Filho do homem não veio para servir.” De onde?
[3] Mc 2:17 – “não vim chamar justos...” De onde?
[4] Mt 15:24 – “Não fui enviado senão...” – Mulher cananéia.
[5] Jo 3:13 – “Aquele que desceu do céu.”
[6] Jo 6:62 – “Lugar onde primeiro estava.”
Cristo expôs a verdade de sua preexistência, paulatinamente, até poder declará-la explicitamente.
[b] Textos explícitos sobre a preexistência:
[1] Jo 8:23 – “Eu não sou deste mundo, eu sou de cima”. Nunca ninguém fez tal declaração. Veio do reino superior.
[2] Jo 16:28 – “Vim do Pai e entrei no mundo.”
[3] Jo 17:5 – “Glorifica-me com a glória que eu tive junto de Ti, antes que houvesse mundo.”
[4] Jo 8:58 – “antes que Abraão existisse, Eu Sou.”
Os verbos não estão em relação temporal (pret. imperfeito do subjuntivo e pres. do indicativo). Ele não diz simplesmente que Ele era antes de Abraão. O verbo está no presente. E na regência de verbo intransitivo, indicando existência eterna. É ser de forma absoluta, é a existência de um Ser eternamente preexistente, cuja existência se estende para toda eternidade futura, e para toda eternidade passada do ponto de vista do momento em que Ele o declara, o presente. (Cf. Êx 3:13,14 ). Eu Sou o que Sou, Eu Sou me enviou a vós outros. Jesus existe sem referência ao tempo. (Cl 1:17).
[5] “Desde toda eternidade esteve Cristo unido ao Pai, e quando assumiu a natureza humana, era ainda um com Deus...” (1ME, 228). “Mas ao mesmo tempo que a Palavra de Deus fala da humanidade de Cristo quando aqui na Terra, também fala ela, positivamente, em sua preexistência. A palavra existiu como Ser divino, a saber o Eterno Filho de Deus, em união e unidade com o Pai. Desde a eternidade Ele é o Mediador do Concerto.” (1Me, 247).
“O Senhor Jesus Cristo, o Divino Filho de Deus, existiu desde a eternidade, como pessoa distinta, mas um com o Pai.” (1Me, 247).
[c] Declarações de outras testemunhas.
[1] Jo 1:29 e 30. João Batista eram mais velho do que Jesus seis meses. João, apesar disso, disse: “Porque já existia antes de mim. Logo João Batista cria na preexistência de Cristo.
[2] Jo 1:14 – “E o Verbo se fez carne”. Ele existiu antes de sua vida na carne, e como Verbo Ele era Deus.
[3] 1Tm 1:15 – “Jesus veio ao mundo para salvar.”
Se Ele veio ao mundo para salvar é porque Ele existia antes.
[4] Hb 7:1 e 3 – Melquisedeque é um personagem verdadeiro, pois Abraão lhe devolveu os dízimos. Por ser rei e sacerdote, tendo recebido dízimos de Abraão e o tendo abençoado, é dito ser superior a este. E por não se registrar sua genealogia na Bíblia nem anterior, nem posteriormente, é dito ser Ele sem fim, e sem começo de dias. Assim ele se torna, mesmo como personagem real, um tipo de Cristo, que não sendo da tribo de Levi, é sacerdote, mas também rei. Logo o seu sacerdócio não é levítico e sim segundo a ordem de Melquisedeque. E como tal, na realidade, não tem começo nem fim de dias, é preexistente.
[5] Fp 2:5-8 – “... Ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou por usurpação o ser igual a Deus... assumindo forma de servo, tornando-se em semelhança de homem.”
[a] Em forma de Deus (Morphe Theou) – Morphe indica que substancialmente Cristo é igual ao Pai. Refere-se à natureza essencial. Possui a mesma natureza de Deus. Igualdade de substância.  uJpavpcwn - nom, sing, masc, Part Pres, (linear, contínua) – existindo permanentemente. (Preexistência de Deus).
[b] Não julgou por usurpação o ser igual a Deus. Harpagmos é traduzida por usurpação. Seu sentido básico é “uma ato de pilhagem”, “um sanque”. Ou seja, não é uma injustiça Cristo ser igual a Deus, pelo simples fato de que Ele é igual a Deus. Cristo não considerou a igualdade dele com Deus como se fosse violência à verdade dos fatos.
[c] Forma de servo. De novo aparece Morphe. Substancialmente Ele tornou-se um Escravo (doulos).
[d] Semelhança de homem – semelhança (oJmoiwvmati - homoioma). É o mesmo que dizer que Jesus era homem completo, sem perder sua ligação superior com a divindade. genovmeno" – nom, sing, masc, part 2º Aor, (pontilear) – tornou-se, veio a ser homem, nasceu como homem.
[e] Figura humana – figura (skema). O vocábulo destaca a aparência ou forma externa. Quem o via exteriormente, só o via como homem. Nada vendo, exteriormente, nele que indicasse sua substância divina, que estava velada aos olhos humanos, e que só percebiam a forma externa. (cf. Hb 2:17).
[6] Cl 1:16 e 17 – Cristo é retratado como o Criador de todos os seres e mundos e poderes. Ele é a origem da criação e também sua finalidade, porque tudo não só foi criado por, mas para Ele. A conclusão natural vem no verbo seguinte sua preexistência: “Ele é antes de todas as coisas.”
[3] – Primeira objeção, Filho Unigênito. A argumentação é que, se Jesus é Filho Unigênito de Deus, isto vem significar que Ele foi gerado pelo Pai, logo Ele teve um princípio. A palavra usada é monogenes, que é traduzida por Unigênito.
[a] Monogenes aparece no N. T. 9 vezes. Cinco delas se aplicam a Jesus, e as outras 4 se aplicam às outras pessoas.
[1] A Jesus: Jo 1:14; Jo 1:18; Jo 3:16; Jo 3:18; 1Jo 4:9.
[2] Outras pessoas: Lc 7:12; Lc 8:42; Lc 9:38 e Hb 11:17.
[3] Monos e Genos – o que significam? A tradução Unigênito (filho único) é errada, porque monos  se traduz por único, e genos, por espécie. Sua tradução deveria ser: um da espécie, ou único de uma espécie.
(a)                                              Unigênito é monogennetos (Monos e Gennao).
[4] Assim as Bíblias traduzem Monogenes como se fosse Monogennetos . o que é um erro à luz das maiores autoridades do grego: Liddell e Scott, no Greek English Lexicon, definem Monogenes como “Único membro de um título, único, singular, exclusivo.”
[5] Kittel em sua Teologia do N. T., vl. 4, p. 745-750, defende o mesmo conceito.
[6] Bruce em seu Comentário de João, p. 46, define como Amado e Filho Único.
[7] A BJ traduz, no rodapé, na página 1384, por “Deus, Filho Único. Jesus é o Filho Único de Deus, Amado pelo Pai, em intimidade perfeita e recíproca com Ele, no conhecimento e no amor.” Então nos textos onde Monogenes é traduzido por Unigênito é errado, deveria ser único de uma espécie.
[8] Na LXX e a palavra hebraica traduzida por Monogenes é YACHID, cujo sentido no hebraico é querida, muito amada.
[a] l 22:20. O Messias clama por socorro, por livramento diante do sofrimento a que é exposto. “Livra... das presas dos cães a minha vida (minha YACHID). Literalmente, meu Único – que é tudo quanto me sobra, a minha única e mais preciosa possessão.
[b] Sl 35:17 – Davi clama por socorro e refere-se a sua vida como a “minha predileta (YACHID). Refere-se, a si mesmo, como querido, predileto, único, mais amado.
[c] Jz 11:34 – Jefté, ao voltar da batalha contra os amonitas, encontra-se com sua filha a quem qualifica de filha única, YACHID, portanto, a mais querida.
Na evidência baseada neste texto podemos dizer que Monogenes significa único, mais querido, íntimo, particular.
[9] No N. T. Monogenes possui o mesmo sentido.
[a] Lc 7:112 – vendo Cristo o sofrimento da viúva de Naim, compadeceu-se dela por estar sepultando o seu filho único, Monogenes, que é assim chamado, não porque ela o gerou, mas, que depois da morte de seu marido, era o seu maior bem. Além disso era uma tragédia não ter filho. Assim Monogenes tem o sentido de mais querido, único.
[b] Lc 8:41-42 – filha de Jairo. É dito ter uma filha única, mesmo que houvesse outros filhos (homem), ela ainda era a mais querida e íntima, por ser a única daquela espécie (feminina).
[c] Lc 9:37, 38 – Os discípulos lutam com um endemoniado, enquanto ocorre a transfiguração, sem nada poder resolver. O Pai, em desespero, suplica a Cristo por seu filho, e querendo persuadir Cristo a ajudá-lo, acrescenta ao pedido o significado que o filho tinha para ele, é o meu único, Monogenes.
[d] Hb 11:17,18 – Isaque, unigênito (único) de Abraão. É assim identificado, não apenas por ter sido gerado por Abraão, mas porque ele era o único conforme a promessa. Ele era único, por ser da espécie da promessa.
[b] Como o Unigênito veio a ser colocado no texto bíblico? Cerca de 380 A. D. as versões latinas estavam corrompidas, então Damásio, bispo de Roma, pediu a Jerônimo que fizesse uma revisão nas versões e apresentasse uma que fosse confiável.
[1] Em 382 A. D., ele partiu para a Palestina, onde estudou o hebraico por 20 anos. Deste empenho de Jerônimo surgiu a Vulgata Latina, que foi oficialmente, reconhecida no Concílio de Trento (1545 e 1563).
[2] As versões latinas da época traduziram Monogenes por unicus. Jerônimo, entretanto, substituiu o termo Unicus por Unigenitus. A base para a sua tradução do Pai como gerador e o Filho como gerado, é que o Filho de alguém é da mesma substância do seu pai, assim como um camelo só pode gerar outro da mesma espécie. Há uma identidade de natureza entre o gerador e o gerado. Esta tradução só ocorreu nos textos aplicados a Cristo, logo se tratou de uma tradução com intenção interpretativa.
[3] No pensamento Joanino Jesus é Único (Monogenes), Filho de Deus, exaltado em status, acima de toda criatura no céu e na Terra, por ter uma exclusiva função, que é única e singular: a de revelador do Pai e Redentor dos Homens.
[4] Cristo é ainda apresentado em seu caráter exclusivo nos escritos joaninos porque João lhe reservou o título de Filho, usando a palavra HUIOS só para Cristo (Jo 1:34,49; 5:25; 10:36; 11:4, 20:31; 1Jo 1:3; 3:7,8,23; 5:5,9,10,12,16,20) enquanto para os filhos dos homens ele usa TEKNA (1Jo 2:12; 3:1,2; 3Jo 3).
[4] – Segunda Objeção – Prototokos, primogênito. Este título é usado para Jesus com freqüência no N. T. e possui o seguinte significado: Protos – primeiro, Tikto – refere-se ao momento da criança sair do ventre materno. Em relação a Cristo, o termo é usado 6 ou 7 vezes dependendo do manuscrito usado. O sentido literal indicava que Cristo teve um começo, como alguns interpretam Cl 1:15 “Primogênito da Criação”.
[a] Primogênito de Maria.
[1] Mt 1:25 – Texto questionável, onde Prototokos é usado nos manuscritos bizantinos (28, 565, 700, 892, 1009...).
[2] Lc 2:7 – “Deu à luz a seu Filho Primogênito.”
Ambos os textos são usados em referência ao seu nascimento.
[b] Primogênito entre os irmãos.
[1] Rm 8:29 – Designa a prioridade de Cristo entre muitos.
[c] Primogênito de toda a criação.
[1] Cl 1:15 – Designa a Cristo como a causa e a primazia da criação.
[d] Primogênito dos mortos.
[1] Cl 1:18 – causa da vida pela sua ressurreição.
[2] Ap 1:4,5 – Causa da vida pela sua ressurreição.
[e] Primogênito.
[1] Hb 1:6 – Indica a superioridade de Cristo acima dos anjos, digno de adoração.
[5] – Primogenitura – Constitui os deveres e os direitos do primogênito, o primeiro macho nascido. Sob a legislação mosaica, os privilégios da primogenitura eram: exercer o sacerdócio da família, herdar a autoridade oficial do pai, herdar uma dupla porção da propriedade paterna. Na família de Abraão se acrescentavam os seguintes privilégios: a herança da promessa da posse da Canaã terrestre e as bênçãos do pacto, a honra de ser o progenitor da semente ou descendente prometido. Depois da experiência da páscoa, o filho primogênito, depois de ser redimido pelo pagamento do resgate, era especialmente dedicado ao serviço de Deus. Gn 48:13-18; Dt 21:15-17; 2Cr 21:3; Êx 13:2,12; Nm 3:13; Êx 13:13-15.
[a] O termo primogênito tem também um sentido figurativo como em Jó 18:13, primogênito da morte, significando o principal dos males que devorará os ímpios.
[1] Em Is 14:30, os primogênitos dos pobres serão apascentados, significando o mais pobre dos pobres.
[b] O uso figurativo de Prototokos explica o seu uso, não para o primeiro nascido em ordem cronológica, mas o primeiro em importância.
[1] Isaque é o segundo filho de Abraão, mas chamado de primogênito, por ser o filho da promessa, o primeiro em importância. Gn 22:2.
[2] Efraim é chamado de Primogênito, quando Manassés é o primeiro nascido, Jr 31:9 cf. Gn 41:50 e 52, cf. Gn 48:17 e 19. A ordem, aqui, de novo, não é do nascimento, mas de importância. E apesar da intervenção de José a bênção da primogenitura foi dada a Efraim, o segundo filho.
[3] Davi, em Sl 89:20-27, é chamado de primogênito, não por ele ser o primeiro nascido, mas por ser o mais elevado, por ser o escolhido de Deus, a quem Deus conheceu de antemão, por isso foi o escolhido entre tantos irmãos mais velhos. 1Sm 16:10-12. (Davi era o mais moço).
[4] Israel, dos filhos de Isaque, não é o primeiro a nascer (Gn 25:25,26), e sim seu irmão Esaú, contudo é chamado de primogênito em Êx 4:22.
[c] Jesus é chamado Prototokos no sentido figurado. Não por ser o primeiro nascido, mas antes por ser o mais elevado, o mais importante, o mais exaltado. É Aquele que possui os privilégios, prerrogativas e direitos de sua posição como Criador e Salvador do homem. Prototokos é um título que retrata a sua importância, como o mais eminente.
[1] Ele é o Primogênito dos mortos, não porque foi o primeiro ressuscitado, pois Moisés ressuscitou antes dele, como muitos outros. Ele é assim retratado para mostrar a importância da sua ressurreição como a garantia dos benefícios já desfrutados por aqueles que foram ressuscitados e trasladados, como a garantia dos que um dia ressuscitarão.
[2] Ele é o Primogênito da criação, não porque foi o primeiro a ser criado, mas porque nele foram criadas todas, todos os seres, todas as autoridades na Terra e no céu. Ele é origem da criação universal, Ele é mantenedor desta mesma criação e sua eterna finalidade. Isto indica a sua primazia. Cl 1:15-20.
[d] Logo Mogenes e Prototokos são títulos aplicados em Jesus, não para diminuir, mas para exaltar a sua pessoa divina e humana. Ele é posto à parte, como o mais destacado, o maior em importância, o mais exaltado, o primeiro.
[6] – Terceira Objeção – Hb 1:5 “Tu és Meu Filho e hoje te gerei.” Refere-se esta passagem a um dia do calendário em que Jesus foi gerado pelo Pai?  O verbo aqui usado é Genao, que aparece três vezes no N. T.: At 13:33; Hb 1:5 e 5:5 . Todas elas são citações do Salmo 2, e especialmente do v. 7.
[a] Este é um salmo de coroação, que foi escrito para a coroação de um rei, ocasião em que Ele foi ungido. Segundo Abraham Cohen, é comum interpretar o texto em conexão com Davi, à luz da declaração de 2Sm 5:17.
[1] A entronização de um rei era sempre um momento de crise. O novo rei era inexperiente no ato de governar. Por causa disso os povos vassalos, através de uma conspiração e motim, aproveitavam o momento para se libertar do domínio do novo rei.
O primeiro verso, e os versos 4 a 6, declaram a inutilidade desta tentativa vã. Os reis procuram escapar do domínio do rei de Israel e Deus ri-se, porque Ele dominará a situação.
[2] Neste contexto da entronização de um novo rei, o Espírito Santo coloca aspectos que são, inegavelmente, messiânicos. Abraham Cohen declara que no Comentário Rashi é dito que os rabinos interpretam este Salmo como se referindo ao Rei Messias.
[3] Nos vv. 7 a 9, Deus está falando ao novo rei no momento da sua coroação, cujo rei está nesta posição por decreto divino. Este rei é também declarado filho. No Sl 89:27 Deus diz que Davi é seu filho. Por que? Porque no momento da coroação o rei foi gerado por Deus, na qualidade de seu servo para guiar os destinos do seu povo. Isto se harmoniza, perfeitamente, com o momento em que Deus prometeu a Salomão o trono, nesta ocasião Deus disse: “Eu lhe serei por Pai, e ele me será por filho”. 2Sm 7:14.
[4] Quando Deus diz: “Tu és Meu Filho, Eu hoje te gerei”, não é uma referência à geração física por Deus em algum dia do remoto passado. Não. Mas refere-se à coroação do rei, quando o rei passa a ter uma nova relação com Deus, é neste momento, da coroação, que ele é gerado por Deus.
[5] Os comentaristas judeus apoiam esta interpretação. S. B. Frehof – Sl 2:7 “hoje te gerei”, quer dizer “este dia você foi ungido rei. Portanto não é nascimento físico, mas é na colocação no trono.
COHEN – “Eu hoje te gerei”, deve ser entendido figuradamente, com respeito a sua ascensão ao trono...”.
[b] O mesmo acontece com Hb 1:5, Hb 5:5 e At 13:33. Deve ser entendido figuradamente segundo a opinião dos judeus.
[1] Hb 5:5 – Refere-se ao início do seu ministério como mediador. Nesta ocasião Ele foi entronizado para o exercício de sua obra intercessória. (Sl 24:7-10) cf. Mc 16:19 e Zc 6:13. Jesus foi gerado pelo Pai no sentido figurado, espiritual, como o Sumo-Sacerdote. (Hb 5:7-10). O rei dos reinos da graça (Hb 4:16), e como tal foi coroado.
[2] Hb 1:5,6 – É uma clara referência à encarnação. Cristo é figurada e espiritualmente gerado no momento da sua encarnação.
[a] Lc 3:21,22 – Por ocasião do batismo de Jesus Cristo é dito: “Tu és Meu Filho amado, em Ti me comprazo”. Contudo em alguns manuscritos como o Codex reza, em vez desta expressão, dizem: “Tu é Meu Filho, hoje te gerei”. A tradição diz que a Igreja primitiva entendia o batismo de Jesus como um cumprimento do Sl 2:7. Cristo foi entronizado no batismo
[3] At 13:33 – Gerado na ressurreição.
[c] Portanto, não faz referência ao momento da origem de Cristo, mas ao momento da sua coroação. Trata-se assim da exaltação de Cristo na encarnação, no seu batismo, no início do seu ministério sumo-sacerdotal e na sua ressurreição. A conclusão a que chegamos é que gegenneka é para exaltar a Cristo acima da criação – Ele é Deus.
[1] Jesus é Filho de Deus, não por uma causa genética, mas porque Ele partilha da mesma natureza, da sua essência, porque Ele é consubstancial com o Pai. Isto porque a idéia da filiação envolve dizer que alguém partilha do caráter e atributos do outro: filhos do trovão, filhos da iniqüidade, filhos da ira, filhos da obediência. Do mesmo modo Cristo é Filho de Deus porque é substancialmente igual ao Pai, assim como todo filho, na natureza toda, o é.

B – Encarnação e Humanidade de Cristo


[1] – A Bíblia se refere à encarnação como um ministério: o mistério da piedade, 1Tm 3:14-16, cf. 1Co 15:51,52, cf. Ef 3:3,6,9.
[a] Em Timóteo, Paulo fala do mistério da piedade, para então declarar o que ele é. O mesmo Jesus que encarnou, que foi manifestado em carne, é o mesmo que foi justificado em espírito... O mistério da piedade, não é algo reservado só para Deus, mas é uma verdade muito importante que só pode ser conhecida quando revelada por Deus, pois não pode ser percebida pela inteligência do homem. Mt 16:16, 17. (só pela revelação).
[b] Em 1Co 15 fala-se de um mistério para logo se explicar o que ele é, em que consiste: quase todos morreremos, todos seremos transformados, todos serão ressuscitados, num corpo incorruptível e imortal.
[1] Mistério é alguma coisa que só conhecemos por termos sido ensinados por revelação especial. Conhecemos o que conhecemos porque nos foi revelado. Só através da revelação pode ser conhecido. O mistério, é o conhecimento de algo que só conhecemos porque foi revelado.
[2] “A encarnação de Cristo é um mistério. A união da divindade com a humanidade certamente é um mistério, oculto com Deus, ‘mistério escondido desde os séculos’. Foi guardado em silêncio eterno por Jeová, e primeiro foi revelado mediante a profecia do descendente da mulher... “SDA Bible Commentary, EGW, v. 7, p. 1082.
[3] “Apresentar ao mundo este mistério que Deus manteve em silêncio durante séculos eternos, antes que o mundo fosse criado, era a parte que Cristo devia cumprir na obra que Ele empreendeu quando veio a esta Terra. E este mistério da encarnação de Cristo e a expiação que fez, deve ser declarado a cada filho e filha de Adão (Signes of the Times, 30/01/1912, SDA Bible Commentary, 1082, v. 6).
“A encarnação de Cristo é o mistério de todos os mistérios (carta 276, 1904, SDA Bible Commentary, 1082, v.6).
[c] O cristianismo, incluso o adventismo, tem professado que há um só Jesus Cristo perfeito em divindade e perfeito em humanidade. Há suficiente evidência bíblica que confirma esta convicção. Rm 1:2,3.
[2] – A Humanidade de Jesus. Jesus se refere a si mesmo, como homem, em Jo 8:39,40. No verso 40, no original, aparece a palavra Antropon, que é uma referência de Cristo a si mesmo. O termo é omitido nas traduções de língua Portuguesa, substituído pelo pronome oblíquo tônico de primeira pessoa.
[a] Alguns homens se referiram a Jesus como homem.
[1] Pilatos. Jo 19:5.
[2] Os guardas. Jo 7:46.
[3] O centurião. Mc 15:39.
Jesus era homem porque as pessoas o viam como Homem, e Ele também.
[b] Os evangelhos o reconhecem como Homem, sujeito às contingências da vida humana; cansaço, fome, sede, desenvolvimento físico, orgânico e intelectual.
[1] Sua genealogia. Mt 1:16 e Lc 3:23 e 38.
“... José, marido de Maria, da qual nasceu Jesus.”
“... Jesus... Filho de José, filho de Heli...”
[2] Seu desenvolvimento foi como de qualquer outro homem.
Lc 2:40 e 42 e 52 cf. Lc 1:80 – Jesus e João Batista. Ele estava se submetendo às mesmas leis biológicas de qualquer outro ser humano, aprendendo a falar, andar, ler.
[3] Cristo sujeito às contingências humanas, às necessidades biológicas comuns a todos os seres humanos: fome, sede, cansaço, etc... Jo 4:7; Jo 19:28; Lc 24:42,43; Jo 4:6.
[4] Há outros textos que confirmam a humanidade do Filho do homem. 1Jo 4:2 “... Todo o que confessa que Cristo veio em carne é de Deus”.  Rm 5:18,19.
[5] Pelo testemunho da Escritura fica suficientemente esclarecido que Jesus era homem.
[3] – Textos do Espírito de Profecia sobre a natureza humana de Cristo:
“Quando Jesus tomou a natureza humana, e se tornou semelhante ao homem, possuía todo o organismo humano. Suas necessidades eram as necessidades de um homem.” SDA B. C., v.5, p.1130.
“Enquanto Ele trabalhava, na infância e na mocidade, iam-se-lhe desenvolvendo a mente e o corpo”. L A., p. 290.
“A humanidade do Filho de Deus é tudo para nós. É a corrente de ouro que liga nossa alma a Cristo, e por meio de Cristo a Deus. Isto deve constituir nosso estudo. Cristo foi um homem real; deu prova de sua humanidade, tornando-se homem. Entretanto, era Ele Deus na carne.” 1ME, p. 244.
“... A divindade e a humanidade achavam-se misteriosamente combinadas, e o homem e Deus tornaram-se um” (Fé Pela Qual Eu Vivo, p. 48).


[1] – Entre o homem e Adão há similaridades e diferenças. O Adão antes da queda, embora um ser humano, era diferente do homem hoje. “Quando o Adão saiu das mãos do Criador, trazia ele em sua natureza física, intelectual e espiritual, a semelhança de seu Criador.” (Gn 1:27). Ed, p. 15.
“Não havia no Adão original qualquer propensão corrupta ou tendência para o mal”. 1BC, p. 1083 (MM 1974, p. 342).
“Antes da fundação do mundo estava em harmonia com o determinado conselho de Deus que o homem fosse criado, dotado com poder para fazer a vontade divina...” ST, 25/4/1892, MM 1974, p. 27).
[a] A principal diferença entre Adão antes da queda e homem hoje, não estava na estatura, longevidade, capacidade mental, força física, mas na esfera moral. O homem após a queda nasce com uma irresistível tendência para pecar, enquanto Adão não. Rm 5:12.
[2] – Tinha Jesus ou não tendência ou propensão para o pecado?
Alguns ASD pensam que sim outros não. No meu curso teológico tive representantes das duas linhas: Bruno Steinweg, Elias Gomez e Dean Davis.
[a] É preciso se saber que em alguns casos, para se entender a verdade, deve-se manter os paradoxos: santidade e pecaminosidade em Cristo, unidade e trindade na divindade, fraco e forte na vida cristã, liderança e serviço. Em todos estes casos é conveniente que mantenha os paradoxos bíblicos, por que esta é uma forma de pensar do judeu.
[b] Neste caso é necessário que se tenha em vista os textos que enfatizam a semelhança da natureza humana de Cristo com o homem e as suas dessemelhanças, e como uma pode explicar a outra, dando os limites dessa similaridade ou desse diferença. Este paradoxo é percebível tanto na Bíblia como no Espírito de Profecia.
[3] – Textos que enfatizam a Natureza Carnal – 1º grupo.
[a] Fp 2:5-7 – Quando se declara a preexistência divina se usa o verbo Hupárkon, ( u´Jpa´´´vrcwn ), nom, sing., masc, Part. Pres. At., linear, ação contínua –  existindo permanentemente.
[1] Quando se declara sua humanidade usa-se a palavra Homoiomati ( oJmoiwvmati ), que se traduz por semelhança, similaridade, similitude. E nesta caso, é que Ele tornou-se (Genómenos), nom, sing, masc., Part., 2º Aor, médio, pontilear, ação realizada e terminada no passado. A idéia é “veio a ser homem, nasceu como homem, tendo se tornado homem. Sua definitiva entrada no tempo através de sua humanidade. A similitude é entre o que Ele é em si mesmo e a natureza com que Ele apareceu aos olhos dos seres humanos; ou até que ponto Ele assumiu a natureza humana.
[a] O texto não fala que Ele transformou-se em homem, mas que adquiriu uma Segunda natureza, semelhante aos homens.
[b] Rm 8:3 – “Enviando seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa” e no tocante ao pecado ( en oJmoiwvmati sarkov" aJmartiva").
[c] Hb 2:14 “... Os filhos têm participação comum de carne e sangue, destes também, Ele, igualmente, participou...”.
Argumentos da Posição Pós-Lapsariana.
[1] Por causa destes textos muitos vêem base bíblica para ensinar a natureza humana de Cristo com tendência para o pecado.
[2] Pensam assim, porque acham que natureza pecaminosa não é pecado, e portanto Cristo poderia tê-la sem comprometer a declaração que Ele não cometeu pecado. E que ver pecado na natureza pecaminosa é uma identificação com a doutrina do pecado original da Igreja Católica, em que o homem não só adquiriu a natureza pecaminosa através de Adão, mas também sua culpa.
[3] Pensam ainda, que Cristo só poderia ser suficiente Salvador se tivesse descido até onde o pecado lançou o homem: o homem com a propensão para o pecado. Caso contrário esta salvação seria uma  farsa.
[4] – Textos que Enfatizam a Natureza Humana sem Propensão para o Pecado. 2º grupo.
[a] 2Co 5:21. “Aquele que não conheceu pecado, Ele o fez pecado por nós”.
[1] Ele não só cometeu pecado, Ele não o conheceu. Como o conhecedor judaico, semita, é mais do que compreensão intelectual, isto significa, que na sua forma de viver Ele não teve relacionamento íntimo com o pecado. ( ginwvskw – oi\da ) (Ginosko e oida). Oida é conhecer mentalmente, percepção mental, conhecimento objetivo, enquanto Ginosko é conhecer por experiência subjetiva. É conhecer como se conhecem os casais nas suas mais íntimas relações.
[a] 1Pe 2:22; Hb 4:15; Hb 7:26.
[b] 1Jo 3:5 – “N’Ele não existe pecado”. ( aJmartiva ejn aujtw/////////////~ ouk e[stin ). Pecado é usado aqui no sentido coletivo singular. É o princípio pecaminoso que não está nele, não porque não pecou e sim porque o pecado não está em sua natureza. Este texto fala do pecado numa perspectiva muito mais ampla do que atos pecaminosos. Fala do pecado como um princípio na natureza humana.
[c] Jo 14:30 – “... aí vem o príncipe deste mundo, e ele nada tem em mim”. Satanás nada tinha em Jesus em relação ao pecado, nem como ato, como origem, ou suas consequências na natureza humana. Aceitamos que nada temos que ver com a culpa do pecado de Adão. Contudo, não podemos deixar de reconhecer que nossa propensão para o pecado, é uma conseqüência do pecado na natureza do homem. É a fonte de onde começa o ato pecaminoso. É a nossa irresistível vontade de pecar.
[1] Quando Cristo diz que não conheceu, não há, e nada tem nele do pecado e seu originador, Ele está se referindo à natureza, inclinação ou propensão ao pecado e não só ao ato pecaminoso.
[2] Se houvesse um homem que não pecasse, mas que tivesse propensão para o pecado não poderia dizer que não conhece o pecado, ou que não há nele o pecado, ou que Satanás nada tem nele. Pois o princípio originador do pecado como ato está neste homem.
[a] Por isso Cristo disse: “Quem dentre Vós me vence de pecado” Jo 8:46. Pergunta retórica de valor negativo. Resposta: Ninguém.
[3] Jo 14:30 – Está dentro do contexto de Jo 14:1-30, onde Cristo fala sobre sua unidade com o Pai. “Quem vê a mim, vê o Pai.” v. 9 “eu estou no Pai e que o Pai está em mim”. Ele fala não só de sua unidade, mas de sua igualdade e mútua habitação. E ao falar da sua relação com o diabo, Ele diz que “O princípio do mundo nada tem em mim”. Como Deus não pode ter tendência ou propensão ao pecado, e como Jesus diz que “Eu e o Pai somos um”. “Quem vê a mim vê o Pai” e “Eu estou no Pai e o Pai em mim”, logo conclui-se que Cristo, à luz da Escritura, não possui tendência para o pecado. Cristo é Cordeiro perfeito, sem mancha nenhuma, oferta pelo nosso pecado, portanto sem propensão ao pecado.
[d] Objeção: Não é justo esperar de um homem a mesma perfeição que houve em Cristo. Jesus não teve tendência para o pecado e o homem tem. Cristo estava em vantagem. Acontece que Cristo é identificado como o Segundo Adão, possuindo semelhança de carne pecaminosa, não identidade, o quê o primeiro Adão não possuía. No plano moral Cristo tinha vantagem em relação a um homem comum, que tem a carne pecaminosa, mas desvantagem em relação a Adão, que não tinha semelhança de carne pecaminosa.
[1] No plano espiritual Cristo estava em desvantagem em relação a ambos, porque tendo a possibilidade de pecar, não podia contar com o perdão, pois o pecado nele seria a ruína de todo universo e de todo homem.
[2] Sendo que Ele veio como segundo Adão, Ele veio para lutar contra na natureza moral em que Adão caiu, ou seja, natureza sem propensão ao pecado. A comparação é feita com Adão, e não com Moisés, Elias, Abraão ou qualquer outro, mas com Adão. Ele é o segundo Adão.
[a] Cristo veio para mostrar que mesmo em situação desvantajosa em relação a Adão, que Ele, Adão, poderia viver sem pecado: Cristo não veio mostrar que o homem com tendência para o pecado pode viver sem pecado. Simplesmente, porque depois da queda nunca houve um homem que pudesse viver sem pecado. Rm 3:10-12; 3:23; 5:12. Ele veio, sim, para mostrar como o pecador pode ser livrar do pecado, de sua condenação e do seu poder. Rm 3; 4-8, porque Ele foi isento de pecado.
[3] Há que diferenciar entre as três seguintes idéias: natureza pecaminosa (qualquer homem após o pecado), semelhança de natureza pecaminosa (consequências físicas e biológicas do pecado, mas não propensão ao pecado (Cristo), sem natureza pecaminosa (Adão antes da queda,...). Cristo foi enviado em semelhança não em identidade da natureza pecaminosa.
[e] A Bíblia não está falando de duas idéias incongruentes entre si. Mas de verdades que se completam e explicam. A ênfase na natureza humana, não é para falar de Cristo como um homem com propensão ao pecado, mas que recebeu uma natureza humana real, enfraquecida pela lei da hereditariedade por 4000 anos. E que apesar dessa desvantagem, sua natureza moral sem tendência para o pecado, e sem poder contar com o perdão, saiu vitoriosa, usando os mesmos recursos que nós precisamos para lutar contra o pecado: o estudo da Escritura, a comunhão com Deus e o testemunho. Sendo que o homem conta com a grande vantagem de ter direito ao perdão.
[5] – A natureza de Cristo e EGW – Há em EGW os mesmos dois grupos de passagens como na Bíblia.
[a] Primeiro grupo de textos, ênfase na natureza humana de Cristo, semelhante à de Adão após o pecado.
“Por quatro mil anos estivera a raça a descrer em forças físicas, vigor mental e valor moral; e Cristo tomou sobre si as fraquezas da humanidade degenerada, mas Nosso Salvador revestiu-se da humanidade com todas as contingências da mesma...” DTN, 82.
“Cristo carregou os pecados e as enfermidades da raça como existiam... A favor da raça, com as fraquezas do homem caído sobre si, Ele devia enfrentar as tentações...” 5BC 1081.
“Mas Jesus aceitou a humanidade quando a raça caída havia sido enfraquecida por quatro mil anos de pecado. Como qualquer filho de Adão, aceitou os resultados da grande operação da grande lei da hereditariedade... veio com essa hereditariedade para partilhar de nossas dores e tentações...” DTN, 33,34.
“Tomando sobre si a natureza do homem e sua condição caída, Cristo... foi sujeito pelas fraquezas e enfermidades que envolvem o homem”. SDA B. C., v.5, p. 1131.
“A fim de realizar seu desígnio de amor em benefício da raça caída, Ele se tornou osso de nosso osso e carne de nossa carne...” “A fé pela qual vivo”, 48.
“Tomando sobre si a natureza humana em seu estágio decaído, Cristo... era sujeito às debilidades e fraquezas que atribulam o homem.” 1ME, 256.
“Ele tomou sobre sua natureza sem pecado a nossa pecaminosa natureza. MS, 181.
“Ele tomou sobre sua natureza sem pecado a nossa pecaminosa natureza.”
“O Filho de Deus humilhou-se e tomou a natureza humana, depois de haver a raça vagueado quatro mil anos fora do Éden e do seu estado original de pureza... Em favor da raça, tendo sobre si as fraquezas do homem caído, devia Ele resistir às tentações. 1ME, 267, 268.
[b] Segundo grupo de textos, ênfase na natureza humana sem pecado.
“Cristo veio à terra, tomando a natureza humana na posição de representante do homem, para mostrar na controvérsia com Satanás que o homem, como Deus o criou, conectado com o Pai e o Filho, podia obedecer cada mandamento divino.” ST, 8 de junho, 1898.
“Ele (Cristo) começou onde o primeiro Adão começou. Logo, Ele venceu onde o primeiro Adão caiu”. YI, 2 de junho, 1898.
“Quando Adão foi assaltado pelo tentador no Éden, ele estava sem a tendência do pecado.” RH, 28/7/1874.
“Ele venceu Satanás na mesma natureza sobre a qual, no Éden, Satanás obteve a vitória.” YI, 25/4/1901.
“Nós não teríamos receio em olhar para a perfeita ausência de pecado da natureza de Cristo. “ 5BC, 1131; ST, 9/6/1898.
“Em nenhum momento houve n’Ele uma má propensão”. 5BC, 1128.
“Ele não foi enviado diante do povo como um homem com propensões ao pecado. 5BC, 1128.
“Nunca, de maneira nenhuma, deixe a mais leve impressão sobre a mente humana que a mancha de, ou inclinação à corrupção ficou sobre Cristo, ou que Ele, de alguma forma consentiu com a corrupção.”  5BC, 1128, 1129.
“Ele nasceu sem a mancha do pecado.”  Letter 97, 1898.
“Ele tomou sobre sua natureza sem pecado nossa pecaminosa natureza, para que pudesse saber socorrer aqueles que são tentados.
“Identificando-se a si mesmo com nossas necessidades, nossas fraquezas e nossos sentimentos... Ele foi um poderoso intercessor, não possuindo as paixões de nossa natureza caída.” Testimonies, v.2, 508,509.
“Sede cuidadosos, extremamente cuidadosos quando tratais com o tema da natureza humana de Cristo. Não o apresenteis perante as pessoas como um homem com as propensões para o pecado. Ele é o segundo Adão. Ele poderia ter caído, mas nem por um momento houve n’Ele uma propensão maligna...” SDA BC, v.5, 1131.
[c] – Conclusão. Cristo assumiu a natureza humana com enfraquecimento na força física e mental, embora sem se envolver com o pecado. Ele estava sujeito às enfermidades e fraquezas desta experiência, conseqüência da lei da hereditariedade por 4000 anos de pecado. Identificou-se com todo tipo de necessidade e debilidades tão comuns à raça humana.
[1] A humanidade de Cristo não foi a humanidade de Adão antes da queda, pois Cristo estava enfraquecido física e mentalmente, nem foi a humanidade de Adão após a queda, pois Cristo não tinha propensão para o pecado. Sua natureza era mais apropriadamente a nossa humanidade, porém sem tendência para pecar e sem pecado. Pois estava sujeito à fome, dor, tristeza, cansaço, sede e enfermidades, contudo sem tendência para o pecado.
[2] Esta é a posição do Pr. Froom, Moviment of Destiny, p. 300. Esta é a posição do livro Questions on Doctrines, 650-660. Esta é a posição do Dr. Edward Heppenstall, The Man Who is God, p. 129-150. Esta é a posição do livro Nisto Cremos, pp. 65-72.
  

D – As Tentações

A palavra Peirasmós, no sentido de tentação aparece vinte e uma  (21) vezes no N. T. Ela tem o sentido de por em prova, tentar, examinar e contestar. Satanás utiliza a tentação com a finalidade de conduzir o homem ao pecado para afastá-lo de sua filiação divina e fazer dele um filho de Satanás. 1Jo 3:7-10. Cristo permite a tentação para o progresso ético deste mesmo homem. Tg 1:2-4 cf. 1Co 10:13. Cristo tem uma relação com a tentação e o pecado, que é única e singular. A sua resistência até à morte ao pecado, não só lhe dá o progresso ético ao clímax, como esta obediência até à morte possibilita ao homem a salvação. 2Co 5:21; 1Pe 2:22; 1Jo 3:5 e 1Pe 3:18; 1Co 15:3.
[1] – Pecado – Da noção do que seja pecado depende nossa noção de salvação, santificação e justificação.
[a]  Pecado pode ser errar o alvo de Deus para sua vida. ( aJmartiva) ou ( aJmarthma).
[1]  Pecado como um princípio ou um poder da vida, conjunto de pecados.
[2] Um ato de pecado.
[b] Pecado é o ato de passar além da linha (paravbasi") –estabelecida por Deus. (Ec 7:16).
[c] Pecado é a desobediência a uma voz. (parakohv).
[1] Ouvir com má vontade que resulta em desobediência.
[d] Pecado é cair quando era obrigado a ficar em pé (ereto). (paravptwma).
[1] Tropeço, desvio da verdade.
[e] Pecado é ignorância do que se devia conhecer. (ajgnovhma).
[1] Cegueira moral, ofensa impensada, falta de conhecimento.
[f] Pecado é escassez ou diminuição do que se devia possuir em plenitude. (h{tthma).
[1] Falta de poder, abatimento.
[g] Transgressão de uma lei. (ajnomiva).
[1] Desobediência, ato contra a lei.
[h] Pecado é uma discórdia. (plhmmevleia).
[i] Pecado é uma dádiva à justiça divina. (ojfeivlhma).
[1] Ofensa.
[2] – Na base de todo pecado está o espírito de independência e revolta, falta de confiança. Atitudes por não pôr a Deus como o primeiro. Este foi o sentido em que Jesus foi tentado em todas as coisas como todo homem. Pecado não é só transgressão da lei. É rebelião contra uma pessoa. É quebrar um relacionamento com uma pessoa que nós amamos – Deus. É uma  rebelião eterna, que está no coração.
[3] – A Bíblia testifica da veracidade e realidade das tentações de Cristo.
[a] 1Pe 2:20-22 – Cristo é nosso exemplo não por ter sofrido, mas porque sofreu sendo tentado. E assim, pode socorrer aos que são tentados. Em Cristo a tentação é singular, porque o seu sofrimento na tentação é vicário e messiânico.
[b] Hb 2:18,17 – Cristo experimentou o poder da tentação na sua natureza para poder ser misericordiosos Sumo-Sacerdote, e para fazer propiciação pelos pecados da humanidade. Pois naquilo que sofreu sendo tentado, pode socorrer os que por sua vez são tentados. Quem experimentou a tentação é magnânimo. Cristo está perto dos que são tentados, porque Ele, no padecimento enfrentado na tentação, pode salvar perfeitamente a todos os que a Ele se achegam.
[1] Para que a tentação seja real, o pecado tem que ser uma possibilidade. Só na encruzilhada da opção e da decisão livre é que a tentação tem sentido.
[c] Lc 22:28 – Todo o caminho de Cristo até à paixão foi palmilhado pela tentação.
[4]– Natureza da Tentação de Cristo.
[a] Hb 4:14,15 – “Tentado em todas as coisas.” Isto não significa que Cristo enfrentou todas as tentações do ser humano em todas as circunstâncias, pois Ele era uma pessoa específica que nasceu e viveu em condições específicas. Ele não podia ser tentado em coisas que estavam fora de suas circunstâncias:
[1] Como as tentações próprias do sexo feminino, pois era homem.
[2] Nem sofreu as tentações de uma pessoa de classe social rica, porque era pobre, nem de um casado, porque era solteiro.
[3] Também não enfrentou tentações que não eram próprias de sua época: programas pornográficos de TV, cinema, uso de drogas injetáveis e muitas outras.
[b] Além do mais o caráter das tentações de Cristo estavam relacionados com a sua missão e natureza divina. Eram tentações que tinham perspectivas cósmicas, pois sua vitória sobre elas vindicava o caráter justo de Deus, sustava apostasia iniciada no céu e a salvação da raça humana.
[1] Foi tentado em usar a divindade para fins próprios, interesse particular, pois tinha que viver como o segundo Adão. Era o representante da raça na tentação. Tentações específicas dele.
[c] Ele era um Ser santo (1Pe 3:18). Cristo é o Santo de Deus, Lc 1:35 e Jo  6:69, e como tal o pecado lhe era mais ofensivo e agressivo do que ao pecador.
[d] Foi tentado em não cumprir a missão do Messias Sofredor.
[e]Cristo foi “tentado em todas as coisas como nós” significa que foi tentado na mesma base de toda tentação: confio em Deus realmente, para esperar só nele, ou sou independente? A base da tentação é a mesma: confiar em Deus ou em mim? Deus é o Primeiro em todas as circunstâncias da minha vida? Esta é a base da tentação. Foi neste ponto de rebeldia contra Deus, de independência, falta de confiança que Adão foi tentado, nós e Cristo. É neste sentido que Cristo foi tentado em tudo como nós, a um nível muito mais intenso quanto mais intensa foi a sua reação para não pecar.
[f] Contudo houve ainda uma outra diferença, em relação à tentação enfrentada pelo homem e Cristo, que mostra a natureza de sua tentação.
[1] O homem é induzido ao pecado por tentações interiores (Tg 1:14, 13, 15), e por aquelas que nos induzem a partir do exterior. Só as pessoas com propensão ao pecado podem sofrer tentações interiores. Cristo não podia ter tal tentação porque não tinha propensão ao mal. Neste sentido a natureza de suas tentações era diferente da nossa. Não devia isto causar estranheza, pois quando diz que “foi Ele tentado em todas as coisas”, diz também a “nossa semelhança” (oJmoiwvmati), isto não significa igualdade. Adão foi tentado sem ter propensão e caiu.
[5] – A Resistência de Cristo à Tentação – foi um processo de aprendizagem, que lhe deu progresso ético ou moral. Hb 5:7-9. Embora seja Filho de Deus, Jesus teve que suportar com paciência o sofrimento proveniente da obediência, seu progresso moral, porque Jesus, como em todas as outras coisas, era um aprendiz da obediência, no sentido que a obediência e sofrimento juntos eram uma maturação do cumprimento da função cristológica: o seu sacrifício. Cada novo dia através deste sofrimento na obediência, Ele entendia melhor o significado do Messias sofredor.
[a] Hb 10: 7-10 – Depois de falar da inoperância do sistema sacrifical, mostra que aquilo em que Deus se deleita é o fazer a vontade de Deus. E esta vontade de Cristo (de obediência) é que santifica, porém através dos méritos do seu sacrifício, que é o clímax da sua obediência: obediência até à morte
[1] Esta obediência no sofrimento o conduz desde a tentação no deserto, passando pelas palavras aliciadoras de Pedro,  negação por Pedro, traição de Judas, abandono dos discípulos, Getsêmane, onde toma a decisão final de sorver até a última gota do cálice do sofrimento do Messias até ao sacrifício da cruz.
[2] Em todo este processo, a tentação de Lúcifer era oferecer-lhe o mundo que Ele vinha conquistar sem sofrimento. Contudo Cristo sabia que não podia separar o sofrimento da obediência. A negação do primeiro implicava a rejeição do segundo. E sem ambos não haveria redenção. Por isso esta era a vontade de Cristo (Jo 4:31e 34) cf. Jo 17:4. Era a obediência em meio à angústia do terrível juízo, a ira de Deus contra o pecado, o quinhão de Cristo, a sua missão: Jo 12:20-36.
[a] O segredo de sua vitória foi pôr Deus em primeiro lugar em sua vida, isto é, saber a sua vontade em cada situação. Daí a necessidade de relacionamento pelo estudo da Bíblia.
[6] - O Conflito na Tentação.

A IRRUPÇÃO DO REINO DOS CÉUS

Na tentação. A palavra peirasmós aparece vinte e uma vezes no Novo Testamento. Ela tem o sentido de pôr em prova, tentar, testar, examinar e contestar. Mateus localiza a tentação, definindo o tempo (então), o lugar (no deserto) e a extensão (40 dias).[40]  O tempo salvífico, o reino dos céus, irrompe no tempo de prova e contestação contra Jesus. O caminho através da tentação é o único que conduz ao reino de Deus. O princípio da distinção e do antagonismo aos reinos deste mundo e ao Diabo, é a única forma de estabelecer o reino dos céus. “A vida de Cristo foi uma guerra perpétua contra os agentes de Satanás.” 5 SDA BC, 1080.
Este princípio se torna mais evidente na essência das tentações. Na base delas está a contestação à declaração do Pai. “Tu és o meu filho amado, em quem me comprazo.” Através da conjunção SE ele introduz uma oração de condição de primeira classe, que declara uma verdade duvidando-a. Seria uma oração conclusiva e condicional ao mesmo tempo. Gramaticalmente condicional, e ideologicamente conclusiva: Já que você é filho de Deus, se de fato é. Aqui Jesus é tentado e Deus é contestado.
Através da história da aliança de Deus com os homens, sua fé é sempre testada, para verificar até que ponto há contestação de Deus, ou confiança implícita. São exemplos eminentes de fé provada: Abraão e Jó. De Abraão é dito que ele ousou esperar sem haver esperança.  (Rm 4:18),  e Tiago referindo-se a Jó declara: “Ouvistes falar da constância de Jó e vistes o fim que o Senhor lhe concedeu, pois o Senhor por fim é tão misericordioso e compassivo” (Tg 5:11). Jesus da mesma forma foi provado para ver se estava disposto a deixar a via fácil da aprovação social pelo caminho da renúncia e sofrimento (Is 53).
A tentação básica era Jesus ser o Messias-Rei sem ser o Messias-Sofredor.[41] Os reinos deste mundo tinham que ser conquistados através da luta contra o príncipe deste mundo. Só poderia haver reino dos céus pela destruição do reino e rei deste mundo. Pecado e morte são correlativos e ambos pertencem a Satanás cujo reino se opõe ao de Cristo. O apóstolo João condiciona a presença do reino, ou a presença da salvação, no fato de Lúcifer ser deitado abaixo (1Jo 3: 8). “Também Ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo” (Hb 2:14, 15; Jo 16:11; cf. Rm 8:13 e Fp 2:6-11).
Não sem obstáculos, devia o comandante celestial conquistar a humanidade para Seu reino. Desde criancinha, em Belém, foi continuamente assaltado pelo maligno... e  nos conselhos de Satanás, decidiu-se que fosse vencido... Foram-Lhe soltas no encalço as forças da confederação do mal, empenhando-se contra Ele, no intuito de, se possível, vencê-Lo.[42]
No princípio desta inimizade inerente dos reinos, está estabelecido o reino de Deus e a destruição do reino de Satanás neste mundo. Nisto há um paralelo com a história da queda no A. T. Na inimizade contra a serpente estava o segredo da reconciliação. Tudo isto se daria através de um descendente que esmagaria a cabeça da serpente, e a posteridade é Cristo (Gl 3:16). Por isso Cristo rejeitou o conselho de Pedro que se esquivasse da paixão. O Servo-Sofredor era a sua missão como Messias.
A missão de Cristo só se podia cumprir através de sofrimento. Achava-se diante dEle uma existência de dores, privações, lutas e morte ignominiosa. Cumpria-Lhe carregar sobre Si os pecados de todo o mundo. Tinha de sofrer a separação do amor do Pai.[43]
Assim como a tentação se deu em três aspectos, a irrupção do reino, igualmente, se deu em três níveis correspondentes: Palavra, Confiança e Sofrimento.
O que mantém a vida no reino não é a satisfação da necessidade do pão, mas da Palavra. Foi pela Palavra que Deus através da história deu o pão. No lançar a dúvida da Sua filiação divina, Satã quis colocar a ordem de prioridade em sentido inverso. Primeiro o pão, depois a Palavra. Esta ordem nega a confiança na Palavra e está posto o pecado. No reino cabe à Palavra a prioridade. O reino de Deus só irrompe pela primazia da Palavra. Assim toda e qualquer teologia que condiciona o ouvir a Palavra à satisfação do pão, está estabelecendo o reino de Satanás pensando estabelecer o reino de Cristo. Era este o propósito último do inimigo que foi frustrado por Cristo. Assim irrompeu o reino dos céus no mundo pela primazia da Palavra sobre o Pão.
Satanás queria que Jesus legitimasse sua confiança em Deus, através da manifestação miraculosa, a que Deus seria constrangido a realizar. A legitimação necessária da confiança em Deus, não é confiança. Condicionar confiança ao milagre é fazer surgir no homem a presunção, e tentar a Deus ao mesmo tempo. No reino do céu o milagre é contingente e não condicional, só a confiança incondicional na declaração de Deus introduz o Reino. E esta confiança de Jesus fez irromper o Reino. A atmosfera do reino é a de uma confiança incondicional.
Na terceira alternativa Satã propôs a Cristo realizar sua missão sem sofrimento. Estabelecer o reino dos céus sem o sofrimento do Messias, incluía troca de autoridade, e mudança de adoração. O reino dos céus se fundamenta no sofrimento do Messias e na adoração da divindade. Quando o homem adora a Deus, compungido pelo sofrimento do Messias, ele entra no reino dos céus, e só assim irrompe no mundo o reino de Deus.
Ora, o tentador oferecia entregar-Lhe o poder que usurpara. Cristo poderia livrar-Se do terrível futuro mediante o reconhecimento da supremacia de Satanás. Fazer isso, porém, era renunciar à vitória no grande conflito.[44]
Cristo entrou no mundo escravizado pelo Diabo, com Sua filiação divina, não apenas para outorgar o perdão. Ele veio para o terreno do inimigo para uma luta. As expulsões de demônios das criaturas possessas são uma evidência disto. E mais, que o reino de Deus é chegado. “Se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, é conseguintemente chegado a vós o reino de Deus.” (Mt 12:28).
“Estas vitórias sobre o poder do mal não são apenas irrupções isoladas no reino de Satã. Significam mais. São a aurora do tempo salvífico, e começo na aniquilação de Satã.”[45]
O que se pretende declarar é que na tentação do deserto o tempo da salvação está a irromper, pelo fato de que a tentação e o tentador foram vencidos pelo Messias. E esse era o único caminho: fazer surgir o reino, mediante luta e vitória contra Satanás, através da soberania da Palavra, da prioridade da confiança e da primazia do sofrimento do Messias.
Nos milagres de cura. Jesus pretende que os eventos de cura sejam um cumprimento das profecias vétero-testamentárias. Em pelo menos duas ocasiões ele relaciona cura e cumprimento. Em Lucas 4:16-21, Ele assegura que os adoradores em Nazaré são testemunhas oculares de que a Escritura se cumpre diante deles. É o que quer significar o texto “én toîs ôsin hynon”. A Escritura caiu em seus ouvidos.[46] E o que eles testificam é que: “apregoar liberdade aos cativos”, “dar vistas aos cegos”, “pôr em liberdade os cativos” implica em dizer que o reino dos céus está a irromper (cf. Is 61:1).
Na resposta à pergunta de João Batista “És tu aquele que havia de vir, ou esperamos outro?” (Mt 11: 2-6), está mais uma vez posto o evento da cura como cumprimento do tempo salvífico (cf. Is 29:18 e Is 35:5).
As figuras de que lançam mão – luz para os cegos, ouvir dos surdos, grito jubiloso do mudo, etc. – constituem no Oriente expressões antiquíssimas para dizer o tempo da salvação, no qual não haverá sofrimento, nem grito de luto ou de dor.[47]
Seis vezes, aparece relacionada aos milagres de cura a referência de Jesus à fé: Mc 5: 34, 36; Lc 10:52; 17:19; Mt 8:10; Mc 9:23. Assim as curas concluem com o pensamento: “A tua fé te salvou”. Em todas estas narrativas há um necessitado em busca de auxílio, que desistiu de se ajudar, e que só encontra a sanidade nEle, quando crê nEle. Isto é, confia que nEle se pode concretizar a promessa, e prepara-se para o futuro, o reino. As mesmas narrativas que falam da fé do indivíduo asseguram o poder de Deus para operar conforme a necessidade do que O busca. Fé é a confiança de que o suprimento da necessidade, impossível ao ser humano, é possível a Deus, porque Ele pode, como se vê em seus atos através da história do homem e do mundo, como Criador e Redentor. Assim a relação com Deus é o essencial e a sanidade física pelo milagre, o secundário.
Por isso o essencial nos milagres de Jesus não é a diferença exterior constatável desses milagres frente ao que normalmente ocorre no mundo, mas a quebra do esquema da recompensa: o homem recebe graça onde deveria contar com a desgraça e merecê-la.[48]
Portanto, o poder salvador do reino de Deus prometido está a irromper. O servo sofredor toma as doenças dos outros sobre si (Mt 8:17), pondo fim ao poder de Satã. É a presença do tempo da salvação em realização. O que era a promessa no Antigo Testamento, o que era pré-anúncio em João Batista, é agora com Jesus Cristo, em sua tentação, em seus milagres e palavras, a realização do reino dos céus.
Alie-se a isto que havia a crença comum de que toda sorte de doenças era atribuída diretamente aos demônios. Assim, o oriental via nas curas de Jesus uma vitória sobre os demônios que os possuía.[49] E estas vitórias são a aurora do tempo salvífico. É sempre um reino espiritual e nunca um reino eterno de Deus sobre Israel como nação e na presente era. A vitória é o anúncio de que a hora escatológica chegou em Cristo.
Nas núpcias. Na resposta de Jesus à pergunta: “Por que os teus discípulos não jejuam?” está configurado mais uma vez o ensinamento da presença da salvação. As núpcias tiveram seu início, o noivo está presente, há júbilo. Quem pode, em tal situação, jejuar? Esta é mais uma figura para apresentar a contemporaneidade do reino. Na declaração de Batista em se declarar amigo do noivo, evidencia-se uma vez mais este ensinamento. O “sosheben”, amigo do noivo, era uma figura social, cuja função era fazer todos os preparativos da festa e da noite de núpcias. E guardar de forma especial o leito conjugal, para o encontro dos noivos. E quando isso ocorria, a ele cabia desaparecer na escuridão da noite. Assim o encontro de Cristo com sua noiva era o clímax do banquete nupcial. De forma alguma cabia no clímax do banquete espiritual o jejum. Cristo encontrou-se com o homem perdido. E a função de Batista era propiciar este encontro, e não enciumar-se por causa do novo Mestre. O reino espiritual da graça, no interior do homem, estava presente com a chegada do noivo que se encontra com seu povo transviado.

[7]- Segredos da Vitória de Cristo em Face da Tentação:
[a] Jesus venceu pela Palavra.
“Está escrito” era sua norma de resistência, e esta é a espada do Espírito que cada ser humano pode usar”. 5 BC, 1128,1129.
“Por que meio Jesus venceu no conflito contra Satanás? Pela Palavra de Deus, unicamente pela Palavra, pôde resistir à tentação... Quando assaltados pela tentação, não olheis às circunstâncias, ou à fraqueza do próprio eu, mas ao poder da Palavra. Pertence-vos toda a sua força...” DTN, 87.
[b] Cristo venceu pela oração.
“Como uma pessoa identificada conosco, participante de nossas necessidades e fraquezas, dependia inteiramente de Deus e no lugar de oração, buscava força divina, a fim de poder sair escudado para o dever e a provação.” DTN, 269.
[c] Cristo vence por sua confiança em seu Pai.
“Confiava no poder de seu Pai. Foi pela fé, fé no amor e cuidado de Deus que Jesus repousou, e o poder que impôs silêncio à tempestade, foi o poder de Deus.” Como Jesus descansou pela fé no cuidado do Pai, assim devemos repousar no de nosso Salvador”. DTN, 249
“... pela fé saiu Cristo vitorioso”. DTN, 563, 564.
[d] Cristo venceu pela presença interior e graça do Espírito Santo.
“A humanidade de Cristo estava unida à divindade, estava habilitado para o conflito, mediante a presença interior do Espírito Santo... Deus nos toma a mão da fé e a leva a apoderar-se firmemente da divindade de Cristo, a fim de atingirmos a perfeição de caráter”. DTN, 87.
[e] Segredos e alvos na tentação do homem.
“As tentações muitas vezes parecem irresistíveis porque, pela negligência da oração e estudo da Bíblia, o que é tentado não pode facilmente, lembrar-se das promessa de Deus e enfrentar Satanás com as armas das Escrituras. CS, 599.
“Se formos a Deus em fé, Ele nos receberá e nos dará força para alcançarmos a perfeição...” MM, 1974, p. 283.
“Tende o alvo de tornar vossos filhos perfeitos no caráter...” OC, 73.
“Nenhum dos apóstolos e profetas declarou jamais estar sem pecado. Homens que viveram mais próximos de Deus... confessaram a pecaminosidade de sua natureza.” AA, 561.

E – A Divindade de Cristo

A divindade de Nosso Senhor Jesus está estabelecida por pelo menos em dez evidências distintas, que reunidas formam um todo, que estabelece com toda segurança a divindade dele.
[1] – O título Filho de Deus aplicado por Jesus a si mesmo. Mt 27:41-43 – “Porque disse: sou Filho de Deus” cf. Jo 8:58,59, cf. Jo 10:28-31 – O pecado de blasfêmia é acusação lançada contra Cristo com o conseqüente apedrejamento, por se declarar Deus, que se fundamenta em três afirmações que se equivalem por causarem a mesma acusação e a mesma pena, são elas: Eu sou, Eu e o Pai somos um, Sou Filho de Deus.
[a] Outros personagens o reconheceram como Filho de Deus.
[1] Mt 16: 15-17 – Pedro.
[2] Jo 1:32-34 – João Batista.
[3] Jo 1:48,49 – Natanael – associa onipresença ao título Filho de Deus.
[4] Jo 11:27 – Marta.
[5] Jo 20:28 – Tomé.
[b] Este título: Filho de Deus, da mais explícita forma, incorpora, seu relacionamento único com o Pai. Sendo Filho, por força do título é da mesma natureza do seu Pai: Deus.
[2] – Aplicação a Jesus Cristo de uma relação de nomes e títulos reservados à divindade.
[a] No A. T. cerca de 70 nomes e títulos são aplicados a Cristo, e no N. T. são relacionados 170 mais.
[b] Os nomes restritos exclusivamente à divindade são:
Deus – Jo 1:1
Deus conosco – Mt 1:23
O Grande Deus – Tt 2:13
Deus bendito – Rm 9:5
Filho de Deus (cerca de 40 vezes)
O Verdadeiro Deus – 1Jo 5:20
Senhor (usado continuamente)
Senhor da Glória – 1Co 2:8
Rei da Glória – Sl 24:8-10
Maravilhoso – Is 9:6
Pai da Eternidade – Is 9:6
Verbo de Deus _ AP 19:13
Emanuel – Mt 1:23
Rei dos reis, Senhor dos senhores – Ap 19:16
[3] – Aplicação a Cristo de atributos exclusivos da divindade:
[a]Onipotência – Mt 28:18; Ap 1:8; 2:8; 21:6; 22:13.
[b] Onisciência – Mt 9:4
[c] Onipresença – Mt 18:20, Jo 1:47-49
[d] Imutabilidade – Hb 13:8
[4] – Aplicação a Cristo de ofícios e prerrogativas só atribuídos a Deus:
[a] Criador – Jo 1: 1-3
[b] Preservação do universo – Hb 1:3
[c] Direito e poder para perdoar – Mc 2:5-12; 1Jo 1:9.
[d] Direito e poder para julgar – At 17:31; Tg 4:12.
[e] Autoridade e poder sobre a morte – Jo 10:17,18; 1Tm 6:14-16.
[f] Transforma nosso corpo – Fl 3:21
[5] – Aplicação do Eu Sou do A.T. a Cristo:
[a] Jo 8:58 cf Êx 3:14
[6] - Aplicação do nome Jeová a Cristo no N. T.:
[a] Sl 102:22-28 cf Hb 1:10-12
[b] Hc 2:2,3 cf Hb 10:37
[c] Jr 31:31 cf Hb 8 e 10
[d] Zc 11:4,12,13 cf. Mt 27:3-8
[e] Is 40:3 cf. Mt 3:3
[7] – Igualdade do Pai e Filho
[a] Mesma honra – Jo 5:23
[b] Ver a Cristo é ver o Pai – Jo 14:7-9
[c] Crer em Cristo é crer em Deus – Jo 12:44
[d] Cristo faz as mesmas obras do Pai – Jo 5:19
[e] Cristo tem o mesmo poder de ressuscitar – Jo 5:21
[f] Como o Pai, Cristo tem vida em si mesmo – Jo 5:26
[g] Pé de igualdade nas fórmulas bíblicas – 2Co 13:13; Mt 28:19
[h] Digno de adoração e oração
[1] Anjos e homens rejeitaram a adoração por considerá-la prerrogativa exclusiva de Deus. – Ap 19:10; At 10:25,26
[2] Ap 5:7-9; Mt 14:33, Mt 28:9,17
[8] – Plenitude da divindade – Cl 2:8,9
[9] – Deus o Pai o chama de Deus – Hb 1:8
[10] – Textos de EGW.
“...’Eu e o Pai somos um’. As palavras de Cristo estavam repletas de significação ao apresentar a reivindicação de que Ele e o Pai eram de uma substância, e possuidores dos mesmos atributos.” ST, 27/11/1893.
“Todavia, o filho de Deus, era o reconhecido Soberano do céu igual ao Pai em poder e autoridade.” CS, 495.
“Cristo era Deus essencialmente, e no mais elevado sentido. Estava com Deus desde toda eternidade, Deus sobretudo, eternamente bendito”. RH, 5/4/1906.



[1] Lúmen Gentium, numero 3
  
[15] Lc 24,21a
[16] MT 21,42
[17] Cf. Gn 3

[18] Cf. Gn
[19] Cf. Gn 2,17
[20] Cf. Gn 12,1-4
[21] http://www2.uol.com.br/bibliaworld/igreja/estudos/at022.htm
[22] Rm 4,18
[23] Cf. Gn 32,22-28
[24] Cf. Ex 1,6-14
[25] Cf. Ex 2,23-25
[26] Cf. Jr 31,33
[27] Cf Ex 14,21-22
[28] Cf. Ex 20
[29] Cf. Livro dos Juízes
[30] Cf. II Sm 2,4
[31] Cf. II Sm 7,12-17
[32] Cf. I Rs 2,12
[33] Cf. I Rs 11,43
[34] http://pt.wikipedia.org/wiki/Reino_de_Israel
[35] Cf. Jo 4,9
[36] Cf. Jo 4,22
[37] Cf. Is 61,1
[38] Textos bíblicos tirados da Bíblia da CNBB online: http://www.bibliacatolica.com.br/
[39] Cf. MT 2,1-6
[40] A. T. Robertson. Word Pictures in the New Testament., (Tenessee: Broadman Press, 1930), Vol. I, p. 30.
[41] Joachin Jeremias, Teologia do Novo Testamento, (São Paulo: Edições Paulinas, 1977), p. 119.
[42] Ellen G. White, O Desejado de Todas as Nações, (Santo André, São Paulo: Casa Publicadora Brasileira, 1979), p. 101.
[43] Idem., p. 113.

[44] Ibid., p. 113.
[45] Teologia do Novo Testamento, Op. Cit., p. 148.
[46] Idem., p. 162.


[47] Loc Cit.
[48] Leonhard Goppelt, Teologia do Novo Testamento, (Petrópolis, RJ: Editora Sinoda/Vozes, 1976), p. 174.
[49] Joachin Jeremias, Op. Cit., p. 146.

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