Teologia Fundamental



TEOLOGIA FUNDAMENTAL

A Teologia Fundamental é aquela disciplina que estuda os fundamentos da Teologia.
Este curso tem por objetivo refletir sobre:
1.                  O fenômeno religioso que acompanha o homem desde os seus primórdios;
2.                   As razões para crer em Deus;
3.                   As razões para crer em Jesus Cristo;
4.                   As razões para crer na Igreja Católica.
Objeto da Teologia:
- A revelação de Deus Trino em Jesus Cristo;
- A manifestação de Deus através dos Patriarcas e dos Profetas;
- A transmissão da revelação;
- A pessoa humana nas suas várias dimensões;
Justificativa:
A Teologia busca interpretar a revelação e a partir daí relacionar a fé com a razão, a fé católica com outras religiões, a fé com o ateísmo. É também da competência da Teologia procurar ler os acontecimentos  do homem de hoje à luz da revelação.
PRESSUPOSTO BÁSICO PARA A TEOLOGIA

O ponto de partida da teologia é a fé. A teologia nasce do coração da própria fé. – Teologia é a fé que ama saber.
A fé possui três elementos básicos que nos ajudam a elaborar uma concepção do que é teologia:
-  Fé  +  elemento cognitivo  =  fé-palavra (texto).
-  Fé  +  elemento afetivo  =  fé-experiência.
-  Fé  +  elemento ativo  =  fé-prática.
             * Fé e Teologia = fé e razão.

       FÉ        -----------------               TEOLOGIA
- Em quê?                           - A Fé que ama saber, busca de se compreender.
- Para quem?                       - O crer para entender (S. Agostinho).
- Para quê?                          - A fé que se experimenta como construção
                                               humana e aposta em Deus.

Hermenêutica - movimento circular (dialético) entre:
Contexto-Situação ------------ Texto-Tradição  ------------ Interpretação
# Primeiramente do contexto aos dados da revelação (o texto) e, depois, no sentido contrário e, assim sucessivamente.

a)      Texto: contém a Escritura, a Tradição e o Magistério da Igreja.
b)      Contexto: é o lugar e os diversos modos como o ser humano interage
                       sua realidade. Abrange toda a realidade cultural circundante.
c)      Intérprete: é importante não pensar de imediato em uma pessoa individual
                       Como teólogo, mas a comunidade eclesial a que o teólogo
                        pertence e a serviço da qual é chamado.
                        O intérprete é a comunidade de fé local, como povo de Deus
                        Que vive sua experiência de fé em comunhão diacrônica
                        (ligação com a realidade histórica do passado, desde os
                        Apóstolos) e em comunhão sincrônica com todas as Igrejas
                        Locais na unidade da fé e do amor.
Etimologia do termo:
Teologia (do grego theos = "Deus" + logos = "palavra", por extensão, "estudo"), no sentido literal, é o estudo sobre Deus. Porém, partindo do princípio da definição hegeliana do termo "Teologia", a teologia é o estudo das manifestações sociais de grupos em relação às divindades. Como toda área do conhecimento, possui então objetos de estudo definidos. Como não é possível estudar Deus diretamente, como sugere o termo literalmente observado, a definição de Hegel que, somente se pode estudar aquilo que se pode observar se torna pertinente e atual, conforme as representações sociais nas mais variadas culturas.

Evolução do termo “Teologia”

No cristianismo, isso se dá a partir da Bíblia. O teólogo suíço Karl Barth definiu a Teologia como um "falar a partir de Deus". O termo teologia foi usado pela primeira vez por Platão, no diálogo A República, para referir-se à compreensão da natureza divina de forma racional, em oposição à compreensão literária própria da poesia, tal como era conduzida pelos seus conterrâneos. Mais tarde, Aristóteles empregou o termo em numerosas ocasiões, com dois significados:
  • Teologia como o ramo fundamental da filosofia, também chamada filosofia primeira ou ciência dos primeiros princípios, mais tarde chamada de Metafísica por seus seguidores;
  • Teologia como denominação do pensamento mitológico imediatamente anterior à Filosofia, com uma conotação pejorativa, e sobretudo utilizado para referir-se aos pensadores antigos não-filósofos (como Hesíodo e Ferécides de Siro).
Santo Agostinho tomou o conceito de teologia natural da obra Antiquitates rerum humanarum et divinarum, de Terêncio Varrão, como única teologia verdadeira dentre as três apresentadas por Varrão: a mítica, a política e a natural. Acima desta, situou a Teologia Sobrenatural, baseada nos dados da revelação e, portanto, considerada superior. A Teologia Sobrenatural, situada fora do campo de ação da Filosofia, não estava subordinada, mas sim acima da última, considerada como uma serva que ajudaria a primeira na compreensão de Deus.
Na tradição cristã (de matriz agostiniana), a Teologia é organizada segundo os dados da revelação e da experiência humana. Esses dados são organizados no que se conhece como Teologia Sistemática ou Teologia Dogmática.
A teologia é fortemente influenciada pelas mais diversas religiões e, portanto, existe a teologia budista, a teologia islâmica, a teologia católica, a teologia mórmon, a teologia protestante, a teologia umbandista, a teologia hindu, e outras.
A Teologia se constrói sobre a fé. A fé, por sua vez, tem que estar fundamentada em critérios objetivos, que dêem credibilidade às proposições da fé. O cristão deve saber por que crê..., e por que crê em Jesus e não neste ou naquele mestre. Essa credibilidade é obtida mediante o emprego da razão. A fé precisa da razão, como lembra o Papa João Paulo II na sua encíclica "Fé e Razão".
É importante lembrar que, antes de crer, o Apóstolo Tomé quis tocar em Jesus; e o Senhor lhe permitiu. Em nossos dias Cristo permite a quem o queira, que o toque ou o alcance pela razão antes de nele crer. Sem dúvida, muitas e muitas pessoas sinceras desejam saber por que hão de crer ou quais as credenciais dos artigos de fé.
Embora o cristão não veja o que crê, ele deve ver que deve crer; a fé não é um ato cego, mas ao contrário, um ato altamente inteligente. Para crer, o homem, longe de renunciar a sua razão, põe em exercício a sua inteligência dotada de toda a capacidade que lhe é peculiar.
A Identidade da Teologia
Apologética (derivação de "apologia", do grego: "defesa verbal").
A origem da Teologia está na Apologética clássica.
A Apologética surgiu com uma função de ataque e de defesa da Igreja católica. Ela procurava responder a todos os ataques contra a fé e o seu modo de compreender e sistematizar os dogmas cristãos..
Apologética é a disciplina teológica própria de uma certa religião que se propõe a demonstrar a verdade da própria doutrina, defendendo-a de teses contrárias.
A apologética desenvolveu-se sobretudo no Cristianismo –"apologética cristã", ou seja, como a prática da explanação, demonstração (de ordem moral, científica, histórica, etc.) e defesa sistematizada da fé cristã, sua origem, credibilidade, autenticidade e superioridade em relação às demais religiões.
Na Patrística, chamam-se apologistas alguns Padres da Igreja que, sobretudo no século II, se dedicaram a escrever apologias ao Cristianismo, usando temas e argumentos filosóficos que se mostraram compatíveis com a revelação cristã. O objetivo desses escritos além  de defender o Cristianismo contra correntes filosóficas diferentes ou contra religiões a ele opostas, também intencionava convencer o Imperador do direito de existência legal dos cristãos dentro do Império Romano. Os textos apologéticos constituíram as bases para o esclarecimento posterior dos dogmas teológicos e portanto, dos conceitos fundamentais usados em teologia.
Período Patrístico  (I ao VII d/C)
É um período que se caracteriza pelo resultado dos esforços dos apóstolos (João e Paulo) e dos primeiros Padres da Igreja para conciliar a nova religião com o pensamento filosófico mais corrente da época entre os gregos e os romanos. Não obstante, tomou como tarefa a defesa da fé cristã, frente às diversas críticas advindas de valores teóricos e morais dos “antigos”.
Os nomes mais salientes desse período são os de Justino, Tertuliano, Clemente de Alexandria, Orígenes, Gregório de Nazianzo, Basílio, Gregório de Nissa. Eles representam a primeira tentativa de harmonizar determinados princípios da Filosofia grega (particularmente do Epicurismo, do Estoicismo e do pensamento de Platão) com a doutrina cristã. (...). Eles não só estavam envolvidos com a tradição cultural helênica como também conviviam com filósofos estóicos, epicuristas, peripatéticos (sofistas), pitagóricos e neoplatônicos. E não só conviviam, como também foram educados nesse ambiente multiforme da Filosofia grega ainda antes de suas conversões”.
Apologética filosófica
Esta escola procura demonstrar que o cristianismo é a religião mais conforme o raciocínio correto. Ela especula sobre o sentido da vida, a origem das coisas e a natureza humana, para apontar a doutrina bíblica como um sistema coerente.
Um exemplo dessa abordagem: o apologista procura provar a existência de Deus.
Ora, tudo o que começa a existir deve ter uma causa. O Universo começou a existir. Logo, o Universo tem uma causa.
Agora, continua o apologista, se o Universo (espaço, tempo e energia) teve um início, é porque existe Algo maior e diferente do próprio Universo, que deu-lhe causa, e que não possui causa. O Deus descrito na Bíblia se encaixa nessa definição.
Outro exemplo: a existência da moralidade. O apologista argumenta que, sem valores absolutos, não há razão para lutar por melhorias na sociedade, ou para condenar os atos de barbaridade. Agora, valores são formas de julgar ações, e o cristianismo apresenta um Deus que decide o que é correto, e que revelou Sua lei na mente de cada pessoa e na Bíblia. Assim, o fato de que todas as pessoas têm noção de culpa e responsabilidade seria uma evidência a favor do cristianismo, que contém um manual de regras para vivermos em harmonia com os outros, de acordo com palavra divina.

Teologia natural

Teologia Natural é uma parte da filosofia da religião que lida com as tentativas de se provar a existência de Deus e outros atributos divinos puramente filosóficos, isto é, sem recurso a qualquer revelações especiais ou sobrenaturais. (O outro lado deste esforço é por vezes chamado como "Ateísmo natural", em que filósofos ateus tentam provar que Deus não existe, ou tentam refutar as provas dos filósofos teístas.)
Teologia Natural (ou religião natural) é Teologia baseada na razão e na experiência, explicando os deuses racionalmente, como parte do mundo físico. Assim é diferenciado deTeologia da Revelação, que é baseada na bíblia e em experiências religiosas de vários tipos; E também da teologia transcendental, do raciocínio teológico a priori A Teologia Natural era originalmente parte de filosofia e Teologia, e teólogos continuam a estudá-la, mas a maior parte do seu conteúdo faz parte do filosofia da religião.
Teodicéia, termo empregado atualmente como sinônimo de teologia natural, foi criado no século XVIII por Leibniz, como título de uma de suas obras (chamada Ensaio de Teodicéia. Sobre a bondade de Deus, a liberdade do ser humano e a origem do mal), embora Leibniz utilize tal termo para referir-se a qualquer investigação cujo fim seja explicar a existência do mal e justificar a bondade de Deus.
Platão dá os primeiros passos de uma "teologia natural", em suas leis que estabelecem a existência dos deuses pela argumentação racional. Aristóteles em sua Metafísica sustenta a existência de um "Primeiro Motor”. Tomás de Aquino (c.1225-1274), escreveu a Summa Theologica e a Summa Contra Gentiles, ambas apresentam diversas versões do argumento cosmológico e teleológico , respectivamente.
A metafísica é uma área da filosofia que busca investigar os aspectos mais fundamentais da existência por meio da razão. Ela trata daquilo que não nos é imediatamente acessível através dos sentidos, daquilo não poderia ser investigado direta e experimentalmente, isto é, por meio da ciência. Faz perguntas como “o que é existir?”, “o que é a razão?”, “o que é a realidade?” Etc. A metafísica faz questionamentos tão básicos que a ciência não pode respondê-los diretamente. A própria prática da ciência pressupõe muitos assuntos que apenas a metafísica investiga. A ciência somente observa fatos e os registra metodicamente — ela investiga com os olhos; a noção de realidade da ciência atual está baseada nas suposições metafísicas que conhecemos por objetivismo e naturalismo.
O objetivismo afirma que, fora de nossas cabeças, existe uma realidade comum a todos. O naturalismo afirma que o mundo funciona em seus próprios termos, que não possui qualquer essência sobrenatural que o determina de fora para dentro.  metafísica, com a razão.
Gnosis vem de gignósko, conhecer.
Para os Gnósticos, Gnosis é um conhecimento superior, interno, espiritual e iniciático.
Na gnose a pessoa procura alcançar o ápice de seu autoconhecimento espiritual, em sintonia com o cosmo, desenvolvendo uma harmonia prazerosa com sua Essência Eterna. O seu princípio é a intuição de seus sentimentos e o rompimento com as situações de sofrimento.
A Instituição que desenvolve a Gnose são escolas e seitas esotéricas. O promotor Avatar da gnose no século XX é Samael Aun Weor, tido pela cabala como Arcanjo ou Quinto Anjo do Apocalipse.  No Brasil, o centro de difusão está em Curitiba.
Existencialismo Niilista
            A filosofia niilista (do latim, nihil = nada) concebe a existência humana como desprovida de qualquer sentido.
Aquilo que se preocupa em buscar o que está além da realidade não é a ciência, mas a metafísica, que significa literalmente depois da física. Mas o que está além da física? Ora, a resposta é óbvia: nada; muito menos razões. Num mundo onde tudo é físico, só aquilo que inventamos pode ser metafísico.
Com o niilismo moral, toda a moral é reduzida a nada. A redução da moral a nada, está respaldada não na gramática, mas na suposição de que a moral é vazia em si mesma, de que ela não tem fundamentos reais e objetivos.
Maniqueísmo
Considerado durante muito tempo uma heresia cristã, possivelmente por sua influência sobre algumas delas, o maniqueísmo foi uma religião que, pela coerência da doutrina e a rigidez das instituições, manteve firme unidade e identidade ao longo de sua história.
Denomina-se maniqueísmo a doutrina religiosa pregada por Maniqueu -- também chamado Mani ou Manes -- na Pérsia, no século III da era cristã. Sua principal característica é a concepção dualista do mundo como fusão de espírito e matéria, que representam respectivamente o bem e o mal.
Maniqueu e sua doutrina
Maniqueu nasceu em 14 de abril do ano 216, no sul da Babilônia, região atualmente situada no Iraque, e na juventude sentiu-se chamado por um anjo para pregar uma nova religião. Pregou na Índia e em todo o império persa. Durante o reinado de Bahram I, porém, foi perseguido pelos sacerdotes do zoroastrismo e morreu em cativeiro entre os anos 274 e 277.
Maniqueu se acreditava o último de uma longa sucessão de profetas, que começara com Adão e incluía Buda, Zoroastro e Jesus, e portador de uma mensagem universal destinada a substituir todas as religiões. Para garantir a unidade de sua doutrina, registrou-a por escrito e deu-lhe forma canônica. Pretendia fundar uma religião ecumênica e universal, que integrasse as verdades parciais de todas as revelações anteriores, especialmente as do zoroastrismo, budismo e cristianismo.
O maniqueísmo é fundamentalmente um tipo de gnosticismo, filosofia dualista segundo a qual a salvação depende do conhecimento (gnose) da verdade espiritual. Como todas as formas de gnosticismo, ensina que a vida terrena é dolorosa e radicalmente perversa. A iluminação interior, ou gnose revela que a alma, a qual participa da natureza de Deus, desceu ao mundo maligno da matéria e deve ser salva pelo espírito e pela inteligência.
O conhecimento salvador da verdadeira natureza e do destino da humanidade, de Deus e do universo é expresso no maniqueísmo por uma mitologia segundo a qual a alma, enredada pela matéria maligna, se liberta pelo espírito.
Epicuro (341-270 a.C.), não só considerava sem sentido as angústias em relação à morte, como ria do destino e pregava que o sentido da vida era o prazer: filosofia hedonista. O prazer do epicurismo é calmo e sereno. O sábio deve evitar a dor e as perturbações, levando uma vida isolada da multidão, dos luxos e excessos. Colocando-se em harmonia com a natureza, ele desfruta da paz.
O papel da filosofia, para Epicuro, é bem claro: cuidar da saúde da alma. Assim como a medicina precisa se ocupar dos males do corpo, a filosofia só tem valor se cuidar  da alma, longe de consistir num discurso vazio e abstrato. Epicuro resumiu a sabedoria de seu mestre em quatro “remédios” de cunho bem prático:
1) Os deuses não devem ser temidos;
 2) A morte não deve amedrontar;
 3) O bem é fácil de ser obtido;
4) E o mal, fácil de suportar.
Antropocentrismo que vem do Renascimento(séc. XIII – XVII, do grego άνθρωπος, anthropos, "humano"; e κέντρον, kentron, "centro") é uma concepção que considera que a humanidade deve permanecer no centro do entendimento dos humanos, isto é o universo deve ser avaliado de acordo com a sua relação com o Homem. É normal se pensar na ideia de "o Homem no centro das atenções". Se na Idade Média a cultura era teocêntrica, Deus estava sempre no centro; com a Renascença, o homem passa a ocupar o centro.
 Materialismo, em filosofia é o tipo de fisicalismo (física) que sustenta que a única coisa da qual se pode afirmar a existência é a matéria; que, fundamentalmente, todas as coisas são compostas de matéria e todos os fenômenos são o resultado de interações materiais; que a matéria é a única substância.
O estoicismo é uma doutrina filosófica fundada por Zenão de Cítio (III a/C), que afirma que todo o universo é corpóreo e governado por um Logos divino. A alma está identificada com este princípio divino, como parte de um todo ao qual pertence. Este lógos (ou razão universal) ordena todas as coisas: tudo surge a partir dele e de acordo com ele, graças a ele o mundo é um kosmos (termo que em grego significa "harmonia").
O estoicismo propõe viver de acordo com a lei racional da natureza e aconselha a indiferença (apathea) em relação a tudo que é externo ao ser. O homem sábio obedece à lei natural reconhecendo-se como uma peça na grande ordem e propósito do universo, devendo assim manter a serenidade perante as tragédias e coisas boas. Deve-se «viver conforme a natureza»: sendo a natureza essencialmente o logos, essa máxima é prescrição para se viver de acordo com a razão.
Filosofia ou Doutrina Cínica, desenvolvida por Diógenes, o Cínico, a/C.  Filosofia que se transformou em uma “ordem religiosa sem religião”. Os “cínicos” viviam como pobres e ocupavam seu tempo como professores, e não tinham lar. Provavelmente a influência de sua doutrina, de seu modo de viver, terá reaparecido entre os essênios.
Nas concepções filosóficas do cinismo, sobressaía um sistema de livre pensamento como o maior bem social da humanidade. Um livre pensar sem obstáculos e sem peias, capaz de levar o homem a buscar por si próprio a sua própria verdade.
“A Maçonaria dos homens superiores, da elite pensante e compenetrada do seu papel na sociedade, abraçando esse supremos ideais de Diógenes, se constituiria em uma alavanca eficiente para o progresso da humanidade.” (Portal Massônico - Samaúma)
Essênios -  Em 1923, o húngaro Edmond Szekely obteve permissão para pesquisar os arquivos secretos do Vaticano. Viu uma obra em especial lhe chamou a atenção. Era o Evangelho Essênio da Paz. O livro teria sido escrito pelo apóstolo João e narrava passagens desconhecidas da vida de Jesus Cristo, apresentado ali como o principal líder de uma seita judaica até então pouco comentada - os essênios.
      Gideon Ouseley, inglês, 1880, achou um manuscrito chamado O Evangelho dos Doze Santos em um mosteiro budista na índia. O texto em aramaico - a língua que Jesus falava - teria sido levado para o Oriente por essênios refugiados.
     Ouseley ficou eufórico e saiu espalhando que tinha descoberto o verdadeiro Novo Testamento. Afirmava que a Bíblia estava incorreta, pois Cristo era um essênio que defendia a reencarnação e o vegetarianismo.
Os Essênios Hoje
     Em 1984, o americano Abba Nazariah fundou a Igreja Essênia de Cristo.Tudo começou em 1966, quando tinha apenas 8 anos de idade. Naquele ano, Abba, que então se chamava David Owen, teria recebido a visita de Jesus Cristo, que, em carne e osso, teria lhe passado a missão de preparar a sua segunda vinda a Terra. Mais tarde, com 17 anos, Owen teria encontrado um egípcio de nome Zadok pedindo carona numa estrada da Califórnia, sentado na posição de lótus - a mesma do Buda. Ele afirmava ser um essênio e acabou ajudando Owen a formar a nova igreja.
     Desde então, Abba (o nome significa "pai" em aramaico) tem professado sua teoria e recrutado muitos seguidores.
     Os novos essênios são despojados. Vestem-se de branco, usam barba longa e cabelos que em alguns casos tocam o chão. Pregam uma vida saudável que passa por uma dieta absolutamente vegetariana e por exercícios espirituais. Fazem relaxamentos, meditações e preces.
     Segundo a Igreja Essênia de Cristo, depois de dez anos de constante aperfeiçoamento, os féis se tornam aptos a receber a visita de Jesus. Eles também acreditam em reencarnação. Para Fernando Travi, líder da igreja essênia no Brasil, "todas as pessoas iniciadas estão aptas a conhecer suas vidas passadas".
  
Fontes da Teologia: Sagrada Escritura, Tradição e Magistério da Igreja.
            A Revelação traz, portanto, para a Razão fontes novas que lhe eram necessárias para saciar esta sede de conhecer o que há para além daquilo que ela já possa ser. É o que se tem chamado de fontes teológicas, às quais tem que se reportar constantemente todo discurso elaborado ao nível da Fé. Estas fontes são: Sagrada Escritura,  Tradição  e frente a estas duas temos o Magistério da Igreja.

Sagrada Escritura: Ao oferecer-nos sua Palavra na Sagrada Escritura, Deus nos atinge como seres conscientes que sempre tem necessidade de compreender e entender o que se lhes diz e o que se espera deles. Esta Palavra só age na medida em que encontra uma palavra que lhe responda: Palavra de Deus ao Homem, palavra do Homem a Deus. Em se revelando nas Escrituras, Deus se nos oferece suscitando de nossa parte um consentimento do espírito, consentimento este objetivamente definido.
            Um dos grandes problemas com que deparamos na Revelação está precisamente em não cairmos em subjetivismo que nos levaria a conferir à nossa pobre palavra humana o mesmo valor que tem a Palavra de Deus. Com isto substituiríamos a Revelação pelas nossas próprias palavras, extraídas da linguagem humana, com o risco de anular completamente a Palavra de Deus.
            É a esta altura que intervém a Tradição. Em suma, trata-se de perguntar-nos onde encontra a Palavra de Deus, em função da qual arriscamos nossa vida, nossa morte, enfim, toda a nossa existência. Para bem interpretarmos a mensagem divina, impõe-se retornar àqueles que desfrutaram da maior proximidade com Cristo, e cuja fidelidade era mais fácil em razão da própria proximidade em relação ao temo em que deus se manifestou diretamente.  Nesta tradição, é evidente que os apóstolos são os primeiros, pois viveram, dia após dia, todo i itinerário de Jesus e tiveram a possibilidade de fazer-lhe perguntas e esclarecer suas dúvidas, de compreender bem o que o Senhor lhes dizia e o que ele tencionava ensinar-lhes ao dizê-lo. É o que se denomina Tradição Apostólica.
            Mas os apóstolos não eram eternos. Para que a Palavra não se extinguisse, transmitiram-na, portanto, àqueles que os cercavam, e estes, por sua vez, aos seus contemporâneos. Os primeiros séculos irradiavam sempre o eco da Palavra de Jesus. Esta ecoava neles de modo a atravessar a História e a chegar até nós. A Igreja se organizava justamente sob a orientação daqueles que haviam recebido autoridade dos Apóstolos ou de seus sucessores consecutivos.  Estes eram chamados de Padres da Igreja. É com eles que se organizou o que se costuma denominar Tradição Patrística, à qual tem que se reportar toda Teologia que queira ser fiel à Palavra de Cristo. Nesta Tradição reencontramos aquilo que Jesus deixou ao Povo da nova Aliança como garantia de sua presença e de sua fidelidade. Ela é o lugar por Excelência do Espírito, o Qual, através dela, vigia para que não se deturpe o sentido autêntico da Palavra revelada. Entretanto, é importante na medida em que dá testemunho da fé das primeiras comunidades da Igreja dispersas pelo mundo.
            Por outra parte, se, de um lado, há que se precaver para não deturpar o carisma de verdade recebido pela Igreja fundada sobre Pedro, por outro lado  cumpre reconhecer que o Espírito de verdade é fonte de discernimento e de conhecimento interior também nos fiéis. Das comunidades cristãs  primeiras às comunidades cristãs de hoje. Esta é a razão pela qual a Teologia da Libertação se preocupar tanto com as Comunidades Eclesiais de Base. É porque deseja que a Tradição se prolongue simultaneamente na fidelidade e na renovação. Para que a Igreja permaneça viva, há que prestar ouvido atento a essas Comunidades, através das quais Deus fala, como fazia outrora nas comunidades dos primeiros séculos. Negar isto seria fazer a Tradição perder todo o seu sentido nos dias de hoje. Assim como os Bispos que nos guiam estão ligados aos Apóstolos, da mesma forma as comunidades de hoje estão ligadas às comunidades primitivas. Assim como se prestava ouvido as estas últimas, da mesma forma é preciso saber prestar ouvido àquelas. A Revelação se nos oferece através das comunidades de hoje, assim como se oferecia às comunidades da época patrística. Negar isto equivaleria a esvaziar a Tradição de todo o seu sentido.
            A Teologia interpreta essas Fontes sob a orientação e a vigilância do Magistério. Ele é exercido de três formas: o Magistério Extraordinário, o Magistério Ordinário e Universal, e o Magistério Simplesmente-Ordinário.
            O Magistério Extraordinário e o Magistério Ordinário-Universal envolvem a infabilidade e, por conseguinte, não deixam dúvida quando se trata de definir um dogma.
            O Magistério Simplesmente-Ordinário não envolve a autoridade infalível, se bem que mereça respeito.
            O Magistério Extraordinário é constituído do Papa e os bispos reunidos em Concílio Ecumênico.
            O Magistério Ordinário e Universal é constituído pela pregação unânime dos bispos, sucessores diretos dos apóstolos.
            O Magistério Simplesmente-Ordinário é constituído através dos documentos pontifícios, de acordo com as situações temporais e necessidade de pronunciamento da Igreja.

 

Doutrina da Igreja Católica

A doutrina da Igreja Católica, ou simplesmente a doutrina católica, é constituída por um conjunto de crenças, de ensinamentos, de preceitos e de leis" da Igreja Católica Apostólica Romana. Segundo o Catecismo de São Pio X, a doutrina católica "é a doutrina que Jesus Cristo Nosso Senhor nos ensinou, para nos mostrar o caminho da salvação" e da vida eterna "As partes principais e mais necessárias da Doutrina […] são quatro: o Credo, o Pai-Nosso, os Mandamentos e os Sacramentos".
A Igreja Católica professa que todas as coisas que ela acredita foram sendo gradualmente reveladas por Deus através dos tempos, atingindo a sua plenitude e perfeição em Jesus Cristo, que é considerado pelos católicos como o Filho de Deus, o Messias e o Salvador do mundo e da humanidade. Mas, a definição e compreensão da doutrina católica (que é baseada na Revelação) é progressiva, necessitando por isso do constante estudo e reflexão da Teologia, mas sempre fiel à Revelação divina e sempre orientada pelo Magistério da Igreja.
Para os católicos, a sua em Deus inclui a sua livre e total entrega (e amor) "a Deus, prestando ao Deus revelador o obséquio pleno do seu intelecto e da sua vontade, e dando voluntário assentimento à Revelação feita por Ele". Esta Revelação é transmitida pela Igreja sob a forma de Tradição. A fé em Deus "opera pela caridade" ou amor (Gal 5,6), por isso a vida de santificação de um católico obriga-o, além de participar e receber os sacramentos, a "conhecer e fazer a vontade de Deus",através, como por exemplo, da prática dos ensinamentos revelados (que se resumem nos mandamentos de amor ensinados por Jesus), das boas obras e também das regras de vida propostas pela Igreja fundada e atualmente encabeçada por Jesus.Essa entrega a Deus tem por finalidade e esperança últimas à sua própria salvação e à implementação do Reino de Deus. Neste reino misterioso, o Mal será inexistente e os homens salvos e justos, após a ressurreição dos mortos e o fim do mundo, passarão a viver eternamente em Deus, com Deus e junto de Deus.
As principais verdades da fé encontram-se expressas e resumidas no Credo dos Apóstolos, no Credo Niceno-Constantinopolitano e também em variadíssimos documentos da Igreja, como por exemplo no "Catecismo da Igreja Católica" (CIC). Actualmente, para um acesso e compreensão mais fácil à doutrina, encontra-se também a síntese do CIC, designada por "Compêndio do Catecismo da Igreja Católica" (CCIC).

Dogmas, verdades de fé e hipóteses

A Igreja Católica, bem como todas as outras Igrejas cristãs, professa um conjunto bastante alargado de doutrinas. No entanto, apesar de todas fazerem parte da fé professada pela Igreja, existe entre elas "uma ordem ou hierarquia […], já que o nexo delas com o fundamento da fé cristã é diferente".

O Papa São Pio X foi um grande defensor da ortodoxia doutrinária e condenou, por isso, o modernismo. Foi o único Papa do século XX a ser canonizado.
Deste modo existem os Dogmas, que são verdades infalíveis e "absolutamente seguras sobre as quais não podem pairar nenhuma dúvida", constituindo por isso a base de toda a doutrina católica. Os dogmas são definidos e proclamados solenemente pelo Supremo Magistério (Papa ou Concílio ecumênico com o Papa) como sendo verdades definitivas e imutáveis, porque eles estão contidos, implícita ou explicitamente, na Revelação imutável ou têm com ela uma "conexão necessária".Uma vez proclamado solenemente, "nenhum dogma pode ser negado, nem mesmo pelo Papa ou por decisão conciliar". Por isso, o católico é obrigado a aderir, aceitar e acreditar nos dogmas de uma maneira irrevogável.
Além dos Dogmas, existe ainda muitas definições doutrinárias que, não estando "expressamente definidas nas Sagradas Escrituras ou pela Tradição, […] suscitam ainda dúvidas porque seus contornos não se encontram plenamente desenvolvidos". Estas definições, que depois podem se tornar em dogmas (ver a subsecção Magistério da Igreja e desenvolvimento da Doutrina), são divididas em:
  • "Verdades de fé", que "são objeto de crença e reverência por toda a Igreja, mesmo que ainda não tenham recebido o selo do dogma e possam sofrer alguma modificação" ou desenvolvimento posterior;
  • "Verdades próximas à fé", que "são aquelas verdades que estão a um passo de se tornarem" verdades de fé;
  • Hipóteses que a Igreja, como tal, não subscreve oficialmente, mas que podem ser acreditadas ou não por parte dos seus fiéis, sem prejuízo da fé católica, e que permanecem só como hipóteses de trabalho e reflexão "por parte de teólogos devidamente credenciados pela Santa Sé".

 Ortodoxia, Heterodoxia e Heresia

Além da Doutrina oficial ou ortodoxa proposta pela Magistério da Igreja Católica, apareceram várias outras versões teológicas heterodoxas, sendo actualmente a teologia da libertação um dos seus exemplos mais paradigmáticos. Estes desvios do "ensino normativo da Igreja" podem ser tolerados ou então condenados pela Igreja. Porém, estas doutrinas não são consideradas heréticas por não pôr em causa dogmas ou outras verdades fundamentais.

 Revelação divina e Tradição
Segundo a fé católica, "Deus revela-se ao homem […], mediante acontecimentos e palavras", para que o homem conheça Deus e o "seu desígnio de benevolência, que Ele, desde a eternidade, preestabeleceu em Cristo a favor dos homens. Tal desígnio consiste em fazer participar, pela graça do Espírito Santo, todos os homens na vida divina, como seus filhos adotivos no seu único Filho, que é Jesus Cristo. Esta infalível Revelação divina, manifestada já desde do princípio do mundo e ao longo dos séculos que correspondem ao Antigo Testamento, é plenamente realizada e completada em Jesus Cristo. "Com a morte e a ressurreição de Cristo, nada mais será revelado aos homens até à Parusia". Mas, "apesar de a Revelação já estar completa, ainda não está plenamente explicitada. E está reservado à fé cristã apreender gradualmente todo o seu alcance, no decorrer dos séculos".
A partir daí, com a assistência e inspiração sobrenatural do Espírito Santo, a Revelação imutável (ou o depósito de fé) é transmitida ininterrupta e integralmente pela Igreja através de uma dupla Tradição (que em latim significa entrega ou acto de confiar) indissociável, que pode ser oral ou escrita (2 Tessalonicenses 2,15; 2 Tim 1,13-14; 2,2):
  • a Tradição oral ou simplesmente a Tradição, radicada essencialmente no testemunho dos Apóstolos à revelação de Jesus, aos quais Ele "deixou o encargo de levar o Evangelho da Salvação a todas as criaturas, testemunho depois assumido" e transmitido integralmente aos fiéis pelos bispos. A Tradição "conserva a Palavra de Deus, confiada por Cristo Senhor e pelo Espírito Santo aos Apóstolos, e transmite-a integralmente aos seus sucessores" (os bispos unidos com o Papa), "para que eles, com a luz do Espírito Santo, fielmente a conservem, exponham e difundam na sua pregação".
  • a Tradição escrita ou a Sagrada Escritura (Bíblia), que é o produto do registro escrito da Tradição oral pelos 4 evangelistas e outros escritores sagrados, sempre inspirados pelo Espírito Santo. Para os católicos, a Bíblia é constituída por 73 livros divinamente inspirados, que são organizados no Antigo Testamento e no Novo Testamento (a palavra testamento significa, neste caso, aliança entre Deus e o homem).
Nem toda a tradição oral foi registrada, sendo ela hoje ainda transmitida oralmente e sob a forma de hábitos, ensinamentos ou costumes de geração para geração pelos bispos e pelo Papa.
Apesar de a Revelação divina já estivesse completada em Jesus, isto não impede que, "no decurso dos séculos, tem havido revelações ditas «privadas», algumas das quais foram reconhecidas pela autoridade da Igreja". Mas, estas revelações privadas (ex: as aparições marianas) "não pertencem ao depósito da fé. O seu papel não é «aperfeiçoar» ou «completar» a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a vivê-la mais plenamente, numa determinada época da história". Por isso, "o Magistério da Igreja […] não pode" aceitar as revelações privadas "que pretendem superar ou corrigir a Revelação definitiva que é Cristo".

 Magistério da Igreja e desenvolvimento da Doutrina

A Tradição, seja ela oral ou escrita, é interpretada e aprofundada autentica e progressivamente, à luz da Revelação, pela Igreja. Foi com base nesta interpretação fiel que ela "definiu quais os livros que fazem parte do cânone das Escrituras". A Igreja "não tira só da Sagrada Escritura a sua certeza a respeito de todas as coisas reveladas", querendo isto dizer que as Tradições oral e escrita "devem ser recebidas e veneradas com igual espírito de piedade e reverência". Esta autoridade de poder interpretar e ensinar a Tradição chama-se Magistério.
O Catecismo da Igreja Católica afirma que, "apesar de a Revelação já estar completa, ainda não está plenamente explicitada. E está reservado à fé cristã apreender gradualmente todo o seu alcance, no decorrer dos séculos". Por isso, a Igreja admite a clarificação e o desenvolvimento progressivo da sua doutrina, bem como os costumes e a expressão da dos seus fiéis, ao longo dos séculos. Mas, nunca se deve confundir a interpretação gradual da Revelação (que resulta depois na formulação e no desenvolvimento doutrinal) e a matéria da própria Revelação (ou depósito de fé), que é inalterável. Por outras palavras, o Magistério da Igreja, ao meditar sobre "as realidades […] e as palavras do depósito da fé", aperceberá progressivamente "de certas facetas deste diamante da Revelação que antes não [se notou] explicitamente".
Este entendimento progressivo, que não adiciona nada à Revelação em si, é designado por "crescimento na inteligência da fé". Este crescimento fez-se à custa do estudo de inúmeros teólogos, bispos e Papas, muitas vezes reunidas em concílios ecuménicos, bem como dos famosos Pais e Doutores da Igreja, sempre sob a orientação do Magistério da Igreja e sempre sob a assistência e a "graça do Espírito Santo". Fazendo isto, esta pessoa divina purifica gradualmente a Igreja, levando-a a conhecer mais profunda e correctamente as variadas facetas e realidades da Tradição.
O processo do desenvolvimento doutrinal, que tem que ser sempre contínuo e fiel à Tradição católica, implica a formulação (e não a criação) gradual e infalível de dogmas, que, uma vez proclamados, são imutáveis e eternas. Mas, "a de­­fi­nição dos dogmas ao longo da his­tó­­ria da Igreja não quer dizer que tais ver­dades só tardiamente tenham sido re­veladas, mas que se tornaram mais cla­ras e úteis para a Igreja na sua progres­são na fé". Uma vez proclamado solenemente, "nenhum dogma pode ser negado, nem mesmo pelo Papa ou por decisão conciliar".

 Notas históricas

O Primeiro Concílio de Niceia (325) formulou o Credo Niceno e, ao debater sobre a natureza de Jesus Cristo, condenou o arianismo.
Os principais dogmas da doutrina cristã acerca de Deus, da Santíssima Trindade, de Cristo (e da sua natureza e concepção virginal) e da Salvação ficaram praticamente definidas nos primeiros concílios ecumênicos: Primeiro Concílio de Niceia (325), Primeiro Concílio de Constantinopla (381), Concílio de Éfeso (431) e Concílio de Calcedónia (451). Tais verdades definitivas estão sintetizadas no Credo Niceno-Constantinopolitano.
Santo Agostinho, no século V, baseando-se nas epístolas de S. Paulo, desenvolveu a doutrina do pecado original e da graça. A partir do século XIII, vários teólogos, nomeadamente São Tomás de Aquino, procurou reafirmar que a supera mas não contradiz a razão humana. No século XVI, o Concílio de Trento tornou definitiva a doutrina dos sete sacramentos e reiterou a presença real de Cristo na Eucaristia. Após este Concílio, no confronto com os protestantes, desenvolveram-se as grandes doutrinas relativas à Igreja.

O Concílio de Trento (1545 - 1563) lutou contra a Reforma Protestante, que foi, a par do Cisma do Oriente, uma das maiores cisões que a Igreja Católica jamais enfrentou.
Ao longo dos séculos XVII e XVIII, os jesuítas e os jansenistas confrontaram-se com polêmicas acerca do papel da graça e da participação do homem na sua própria salvação. Durante o século XIX, foram proclamadas como dogmas a Imaculada Conceição de Maria e a Infalibilidade Papal. E, em meados do século XX, foi proclamado pelo Papa Pio XII o dogma da Assunção da Virgem Maria ao céu. Este foi a única vez que um Papa usou solenemente a infalibilidade papal.
O último concílio ecumênico realizado foi o Concílio Vaticano II, onde se tratou de vários temas como a Liturgia, a constituição e a pastoral da Igreja (que passou a ser alicerçada na igual dignidade de todos os fiéis e a ser mais virada para o mundo moderno), a relação entre a Revelação divina e a Tradição, a liberdade religiosa, o ecumenismo e o apostolado dos leigos. Não foi proclamado nenhum dogma, mas as suas orientações doutrinais e pastorais são de extrema importância para acção da Igreja nos tempos actuais.[46][47][48]

 A doutrina e o conhecimento científico


São Tomás de Aquino (século XIII) afirmou que a e a razão podem ser conciliadas, porque "provêm ambas de Deus", sendo a razão um meio de entender a fé.
O Magistério da Igreja Católica defende que boa parte da Tradição, nomeadamente da Bíblia e mais especificamente o livro de Gênesis, devem ser interpretadas como alegorias e de acordo com os costumes e com os conhecimentos científicos da época. Neste caso, estas alegorias seriam portadoras de verdade teológica, mas que não possuiriam necessariamente verdade histórica ou científica. Logo, as interpretações literais são oficialmente abandonadas, muito embora ainda permaneçam certos sectores mais conservadores e fundamentalistas que não o aceitam por inteiro. Esse modo alegórico de interpretar a Bíblia não é algo surgido apenas nos tempos atuais. Por exemplo, já no século V, Santo Agostinho afirmava que as Sagradas Escrituras deveriam ser interpretadas de modo a harmonizá-las com os conhecimentos disponíveis em cada época sobre o mundo natural.
Aliás, a Igreja Católica, defendendo o pensamento de Santo Agostinho e de São Tomás de Aquino, afirma que, "embora a fé supere a razão, não poderá nunca existir contradição entre a e a ciência porque ambas têm origem em Deus. É o mesmo Deus que dá ao homem seja a luz da razão seja a luz da fé". Logo, a partir do século XX, a Igreja foi lentamente aceitando várias descobertas científicas modernas. Por exemplo, acabou por aceitar oficialmente as teorias do Big Bang e da evolução, defendendo que são compatíveis com a crença da criação divina do mundo. Além disso, não considera o criacionismo e o design inteligente como teorias científicas ou teológicas.
A Igreja Católica e a Ciência continuam a discordarem-se em questões relacionadas, como por exemplo, com a infalibilidade e a autenticidade da Tradição revelada; com a negação da existência de Deus e da alma (e da sua imortalidade); com os momentos exactos do princípio e do fim da vida humana; e com as implicações éticas da clonagem, da contracepção ou fertilização artificiais, da manipulação genética e do uso de células-tronco embrionárias na investigação científica.

 Deus e a Santíssima Trindade

A Igreja Católica, como parte do Cristianismo, acredita obviamente no monoteísmo, que é a crença na existência de um único Deus. Ele é o Criador de todas as coisas e consegue intervir na História da sua própria Criação, bem como perdoar e salvar a humanidade, por isso alguns dos atributos divinos mais importantes são a onipotência, a onipresença e onisciência. Além destes atributos, Deus também é fortemente referido ao longo do Novo Testamento como sendo a própria Verdade e o próprio Amor: Deus ama e quer salvar todas as pessoas e estas podem estabelecer uma relação pessoal e filial com Ele através da oração.
Mas, os católicos acreditam também no mistério da Santíssima Trindade, isto é, que Deus é um ser uno mas simultaneamente trino, constituído por três pessoas indivisíveis: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, que se estabelecem entre si uma comunhão perfeita de amor. Para a Igreja, este dogma, que é uma das suas verdades centrais, não viola o monoteísmo. Estas 3 Pessoas eternas, apesar de possuírem a mesma natureza, "são realmente distintas, pelas relações que as referenciam umas às outras: o Pai gera o Filho, o Filho é gerado pelo Pai, o Espírito Santo procede do Pai e do Filho".

 Deus Pai: Criador do Mundo

Deus Pai, a primeira pessoa da Trindade, é considerado o Pai perfeito porque Ele amou e nunca abandonou os homens, os seus filhos adotivos, querendo sempre salvá-los e perdoando-os infinitamente, desde que eles se arrependam de um modo sincero. Ele não foi criado nem gerado e é considerado o “princípio e o fim, princípio sem princípio” da Vida, estando por isso mais associado à criação do mundo. Mas isto não quer dizer que as outras duas pessoas da SS Trindade não participassem também neste importante ato divino.

Criação do mundo e Anjos

O mundo, que é bom, ordenado e amado por Deus, foi criado "livremente, com sabedoria e amor", a partir do nada (2Mac 7,28), para que Deus possa "manifestar e comunicar a sua bondade, verdade, beleza" e amor supremos. A obra da criação culmina na obra ainda maior da salvação, por isso "o fim último da criação", nomeadamente da humanidade, "é que Deus, em Cristo, possa ser «tudo em todos» (1 Cor 15,28)" no seu eterno Reino.
A criação é constituída por "seres espirituais", que são os anjos, e por "seres materiais", que constituem o "mundo visível" ou o mundo natural.[66] Os anjos são seres pessoais "puramente espirituais, incorpóreas, invisíveis, imortais" e inteligentes. Eles servem e obedecem à vontade de Deus, especialmente "no cumprimento da missão de salvação, em prol de todos os homens". Segundo São Basílio Magno, «cada fiel tem ao seu lado um anjo como protetor e pastor, para o conduzir à vida», sendo estes protetores chamados de anjos da guarda.
Segundo a doutrina católica, o Gênesis, ao narrar que o mundo foi criado em «seis dias» por Deus, quer acima de tudo revelar à humanidade "o valor dos seres criados e a sua finalidade de louvor" e serviço a Deus, dando particular destaque ao valor do Homem,[68] que é "o vértice da criação visível".[69] Logo, a Igreja Católica, corroborando com a ideia de Santo Agostinho, admite a possibilidade de o mundo não ser criado literalmente em apenas seis dias.

 Demônios e Mal

No princípio do mundo, ocorreu a chamada queda dos anjos, que consiste na rebelião de um grupo de anjos, liderado por Satanás (ou Lúcifer). Eles, sendo "criados bons por Deus", transformaram-se em demônios, "porque, mediante uma opção livre e irrevogável, recusaram Deus e o seu Reino, dando assim origem ao Inferno". Eles, o símbolo do mal, "procuram associar o homem à sua rebelião […]; mas Deus afirma em Cristo a Sua vitória segura sobre o Maligno", que se irá realizar plenamente no fim dos tempos, quando o Mal acabará por desaparecer.
A Igreja ensina que o mal "é uma certa falta, limitação ou distorção do bem"  e é ainda a causa do sofrimento humano, que "está na interação do bem e do mal no mundo" e que "está enredado no mistério da liberdade humana". Os católicos professam que a existência do Mal é um grande mistério, mas eles têm a certeza de que Deus, sendo bom e onipotente, não pode nunca ser a causa e origem do Mal. Eles têm fé de que Deus "não permitiria o mal se do próprio mal não extraísse o bem". O exemplo mais marcante disso seria "a morte e ressurreição de Cristo", que, sendo o maior mal moral, trouxe a salvação para a humanidade.

Homem, a sua Queda e o Pecado original

O homem foi "criado à imagem e semelhança de Deus", significando que, ao contrário de todas as criaturas, ele "tem a dignidade de pessoa: não é uma coisa, mas alguém capaz de se conhecer a si mesmo, de se dar livremente e de entrar em comunhão com Deus e com as outras pessoas", sendo por isso chamado à santidade e à bem-aventurança (felicidade) eternas.
Segundo o Gênesis, que pode ser interpretada como uma alegoria, todo o gênero humano é descendente de Adão e Eva, o primeiro casal da Terra. Ambos têm "uma igual dignidade enquanto pessoas humanas e, ao mesmo tempo", vivem "numa complementaridade recíproca enquanto masculino e feminino". Logo, são chamados a serem "um para o outro", formando um matrimônio indissolúvel de «uma só carne» (Gn 2, 24), e também "a transmitir a vida humana […] e a dominar a Terra como «administradores» de Deus", daí a grande responsabilidade do Homem no eterno projeto ou plano de Deus.
Na perspectiva católica, o homem é "ao mesmo tempo corpóreo e espiritual", sendo o corpo mortal, mas a alma imortal. Isto porque a alma "é criada diretamente por Deus", por isso ela "voltará a unir-se novamente ao corpo, no momento da ressurreição final". Segundo o projeto inicial de Deus, todo o gênero humano não devia "nem sofrer nem morrer", mas sim, viver eternamente em santidade e junto de Deus.[77] Mas, Adão e Eva, como eram livres e por isso sucumbiram à tentação do Diabo, comeram o fruto proibido, desobedecendo assim a Deus e querendo "tornar-se «como Deus», sem Deus e não segundo Deus (Gn 3, 5)". Assim, eles perderam a sua santidade original e cometeram o seu primeiro pecado, dando origem ao pecado original (veja a subsecção Pecado).
Além disso, eles espalharam este pecado a todos os homens, que são seus descendentes, fazendo com que todos passassem a morrer, a cometer muitos pecados, a sofrer e a serem ignorantes.[79] Mas, felizmente, "Deus não abandonou o homem ao poder da morte. Pelo contrário, pré-anunciou de modo misterioso que o mal seria vencido". É o primeiro anúncio da vinda de Jesus, o Salvador, que, entre outras coisas, instituiu o Batismo para a remissão (mas não a eliminação) do pecado original e de outros pecados.

Deus Filho: Jesus Cristo, o Salvador

Jesus Cristo é a figura central do Cristianismo, porque, por vontade de Deus Pai, ele encarnou-se (veio à Terra) para anunciar a salvação e as Bem-aventuranças à humanidade inteira, "ou seja: para nos reconciliar a nós pecadores com Deus; para nos fazer conhecer o seu amor infinito; para ser o nosso modelo de santidade; para nos tornar «participantes da natureza divina» (2 Ped 1, 4)"; e para "anunciar as boas novas do Reino de Deus".Santo Atanásio, um famoso Padre e Doutor da Igreja, afirmou que Jesus, "o Filho de Deus, Se fez homem, para nos fazer Deus", ou seja, para nos tornarmos santos como Deus.
Jesus (do hebraico, Yeshua), que significa "Deus Salva", é o o «Messias» (em hebraico) ou o «Cristo» (em grego), porque é o «Ungido do Senhor». Mais especificamente, Ele é consagrado por Deus Pai e ungido pelo Espírito Santo para a sua missão salvífica. Para os cristãos, Ele aceitou o título de Messias e exprimiu o seu verdadeiro significado e sentido para toda a Humanidade: Jesus, «descido do céu» (Jo 3,13), foi crucificado e depois ressuscitado, e é o Servo Sofredor «que dá a sua vida em resgate pela multidão» (Mt 20,28).
O Credo Niceno-Constantinopolitano (texto aprovado pela Conferência Episcopal Portuguesa) faz referência a Jesus Cristo:
Creio em um só Senhor, Jesus Cristo,
Filho Unigênito de Deus,
nascido do Pai antes de todos os séculos:
Deus de Deus, luz da luz,
Deus verdadeiro de Deus verdadeiro;
gerado, não criado, consubstancial ao Pai.
Por Ele todas as coisas foram feitas.
E por nós, homens, e para nossa salvação
desceu dos Céus.
no seio da Virgem Maria.
e se fez homem.
Também por nós foi crucificado sob Pôncio Pilatos;
padeceu e foi sepultado.
Ressuscitou ao terceiro dia,
conforme as Escrituras;
e subiu aos Céus, onde está sentado à direita do Pai.
De novo há-de vir em sua glória
para julgar os vivos e os mortos;
e o seu Reino não terá fim.
O dogma cristológico ensina que Jesus Cristo, Nosso Senhor, é a encarnação do Verbo divino, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, Salvador e Bom Pastor da Humanidade. Ele é também «o Filho Unigénito de Deus» (1 Jo 2, 23), a segunda Pessoa da Santíssima Trindade, porque, "no momento do Batismo e da Transfiguração, a voz do Pai designa Jesus como seu «Filho predileto»" Aliás, Jesus Cristo apresenta-se a Si mesmo como o Filho que «conhece o Pai» (Mt 11,27), afirmando assim "a Sua relação única e eterna com Deus Seu Pai". Por isso, ele é o único e verdadeiro Sumo Sacerdote  e Mediador entre os homens e o Pai que está nos céus, chegando a afirmar que "«Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vai ao Pai senão por Mim» (Jo 14, 6)"
Jesus, sendo Deus, rebaixou-se da sua condição divina para ser um homem, tendo aprendido, tal como as outras pessoas, muitas coisas através da experiência e da sua inteligência humana, apesar de conhecer íntima e plenamente os desígnios eternos de Deus e logo a Sua infinita sabedoria.[93] Segundo o dogma mariológico, Jesus foi concebido virginalmente no seio da Virgem Maria pelo poder do Espírito Santo. Ele nasceu em Belém, na Palestina, no tempo de Herodes, o Grande e do imperador romano Otávio César Augusto.
Jesus procede de Deus Pai e é eternamente consubstancial (pertencente à mesma natureza e substância) a Ele. Não foi criado pelo Pai, mas gerado porque encarnou-se, assumindo a Sua natureza humana. Jesus é considerado o filho perfeito porque subordinou a sua vontade humana à vontade divina do Pai, que consiste na salvação de toda a humanidade. Por isso, é-lhe atribuído a redenção do mundo.

Ministério e ensinamentos

Durante o seu ministério, é dito que Jesus fez vários milagres, como andar sobre a água, transformar água em vinho, várias curas, exorcismos e ressuscitação de mortos (como Lázaro). Ele desenvolveu seu ministério principalmente na Galiléia, tendo feito de Cafarnaum uma de suas bases evangelísticas. Esteve também em vários lugares de Israel, nomeadamente na Samaria, na Judéia e sobretudo em Jerusalém logo antes de sua crucificação.
Nas suas muitas pregações, Jesus Cristo ensinou, entre outras coisas, o Pai Nosso, as bem-aventuranças  e insistiu sempre «que o Reino dos Céus está próximo» (Mt 10,7) e que Deus estava preparando a Terra para um novo estado de coisas. Anunciou também que quem quisesse fazer parte do Reino de Deus teria de nascer de novo, de se arrepender dos seus pecados, de se converter e purificar. Jesus ensinava também que o amor, o poder, a graça e a misericórdia de Deus era muito maior que o pecado e todas as forças do mal, insistindo por isso que o arrependimento sincero dos pecados e a em Deus podem salvar os homens.
Ele também mandou os seus discípulos a amar a Deus de todo teu coração, de toda tua alma e de todo teu espírito (Mateus 22:37) e amar o teu próximo como a ti mesmo (Mateus 22:39). Para Jesus, estes dois mandamentos constituem o resumo de toda a Lei e os Profetas do Antigo Testamento (Mateus 22:40). Ele deu inclusivamente aos homens um novo e radical mandamento de Amor: «amai-vos uns aos outros, como Eu vos amo» (João 15:10).
Jesus alertou aos seus crentes e discípulos que só "quem aceita os meus mandamentos e lhes obedece, esse é que Me ama. E quem Me ama será amado por meu Pai. Eu o amarei e manifestar-Me-ei a ele. […] Nós viremos a ele e nele faremos a nossa morada" (João 14:21-23). Sobre este aspecto, a Igreja acredita também que quem ama a Deus permanecerá no amor. E quem "permanecer no amor permanece em Deus e Deus nele", porque "Deus é amor" (1 João 4:16).

Jesus e o Antigo Testamento

Durante o Antigo Testamento, Deus, através de profetas, já anunciava a vinda do Messias, para que a humanidade, nomeadamente o povo escolhido de Israel (ou povo judaico), possa reconhecê-lo quando Ele vier. A Igreja ensina que Jesus, sendo o Messias, cumpriu todas as profecias do Antigo Testamento acerca dessa vinda salvífica, nomeadamente as do profeta Isaías.
Logo, Jesus não veio para superar, substituir ou «abolir a Lei ou os Profetas» do Antigo Testamento, «mas sim para levá-los à perfeição» (Mt 5,17). Isto quer dizer que Ele deu o sentido último e pleno à doutrina e às verdades reveladas por Deus ao longo do Antigo Testamento, levando-as e cumprindo-as perfeitamente. Isto significa também que Jesus, que trouxe simultaneamente continuidade e inovação, renovou também a Aliança entre Deus e os homens, instaurando assim o Novo Testamento (ou a Nova Aliança).

Mistério pascal e Salvação

amou tanto os homens que entregou-se incondicional e totalmente para eles, chegando ao ponto de sacrificar voluntariamente a sua própria vida na cruz para livrar-lhes do pecado e abrir-lhes na plenitude o caminho da salvação e da santidade (temas tratados na secção Salvação e Santidade). Foi também Jesus que, ao cumprir a vontade de Deus Pai, derrotou o pecado e o mal, através da sua morte redentora na cruz. E, para derrotar a própria morte, ele ressuscitou ao terceiro dia, após a sua crucificação em Jerusalém. Este fato dá aos católicos esperança que Jesus já garantiu aos homens "a graça da adoção filial que é a participação real na sua vida" divina e trinitária e também esperança que, no dia do Juízo Final, todos os homens serão ressuscitados por Deus.
Após a ressurreição, Jesus continuou na Terra durante quarenta dias, junto dos apóstolos, passando-lhes ainda ensinamentos e confirmando que eles e a Igreja em geral receberiam o Espírito Santo, algo que aconteceu no Pentecostes. Após este período de 40 dias, Ele foi elevado ao céu, mas continua actualmente a "permanecer misteriosamente sobre a terra, onde o Seu Reino já está presente como germe e início na Igreja" fundada e encabeçada por Ele. Ele está também presente na Eucaristia, um dos sacramentos instituídos por Ele para a salvação e santificação do Homem No dia do Juízo Final, que coincide com a realização final do seu novo Reino, Jesus "voltará em glória, mas não sabemos quando"

Deus Espírito Santo: o Guardião da Igreja

O Espírito Santo "procede do Pai e do Filho" e, apesar de invisível, personaliza o Amor íntimo e infinito de Deus sobre os homens. Manifestou-se primeiramente no Batismo de Jesus e plenamente revelado no dia de Pentecostes, 50 dias após a ressurreição de Cristo. Foi comunicado e enviado aos corações dos fiéis, por meio dos sacramentos, para "recebermos a vida nova de filhos de Deus",[117] estabelecendo entre estes e Jesus uma comunhão íntima, tornando-os unidos num só Corpo Místico. Por isso, "finalmente, o Espírito Santo é o Mestre da oração". Ele foi enviado por Jesus para guiar, edificar, animar e santificar a Igreja e para que ela sempre testemunhe e interprete bem a Palavra de Deus, revelado plenamente por Jesus.
Em relação à Virgem Maria, o Espírito Santo enche-a de graça e concebeu Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado, no seio desta mulher virgem. O Espírito faz dela a Mãe de Cristo e, como Jesus Cristo é o próprio Deus encarnado, também a Mãe de Deus. O Espírito inspirou também os profetas do Antigo Testamento para falarem "em nome de Deus", sendo estas profecias conduzidas "ao seu pleno cumprimento em Cristo", que revelou a existência do Espírito Santo, a Pessoa divina que o ungiu e consagrou Messias.
Resumindo, atribuiu-se ao Espírito Santo, a terceira Pessoa da Trindade, a santificação da Igreja e do Mundo com a graça divina e os seus dons. O Credo Niceno-Constantinopolitano (texto aprovado pela Conferência Episcopal Portuguesa) faz referência ao Espírito Santo:
Creio no Espírito Santo, Senhor que dá a vida,
e procede do Pai e do Filho;
e com o Pai e o Filho
é adorado e glorificado:
Ele que falou pelos Profetas

A Oração
A oração, ou simplesmente "falar com Deus", é uma graça de "Deus que vem ao encontro do homem" e permite o estabelecimento de uma "relação pessoal e viva dos filhos de Deus com o Pai infinitamente bom, com o seu Filho Jesus Cristo e com o Espírito Santo que habita no coração daqueles". Na oração, o crente eleva "a alma a Deus" para O louvar ou pede "a Deus bens conformes à sua vontade".A Igreja acredita que "a fé e a oração são forças que podem influir na história" e que podem mudar assim o destino da humanidade
A oração "pressupõe acre­ditar num Deus pessoal e na possibilidade de entrar em contacto" directo com Ele, sendo por isso "a expressão mais espontânea" do "desejo de Deus por parte do homem". Esta desejo humano é testemunhado por "todas as religiões e, em especial, toda a história da salvação, […] se bem que é sempre Deus que primeiro e incessantemente atrai cada uma das pessoas para o encontro misterioso da oração". A Igreja acha que a "maravilha da oração revela-se precisamente" nesta atração e nesta procura de Deus por nós. Logo, a oração é "o encontro da sede de Deus com a nossa. Deus tem sede de que nós tenhamos sede d'Ele".
No Antigo Testamento, a oração já estava presente, como por exemplo, nos vários episódios importantes de personagens bíblicos (nomeadamente de Abraão, Moisés, David, Isaías, etc.) e do próprio povo de Deus, sendo os salmos um exemplo da sua expressão. Já no Novo Testamento, Jesus, apesar de estar em íntima comunhão com Deus Pai, é considerado o perfeito modelo e mestre de oração, "rezando ao Pai em longas vigílias e em momentos decisivos da sua vida, desde o batismo no Jordão à morte no Calvário".
Jesus, para além de ensinar o Pai-Nosso, ensinou também "os discípulos a rezar devota e persistentemente", transmitindo-lhes "as disposições requeridas para uma verdadeira oração".[127] Jesus garantiu-lhes também "que seriam ouvidos sempre que rezas­sem bem",[123] porque a oração humana "está unida à de Jesus mediante a fé. N’Ele, a oração cristã torna-se comunhão de amor com o Pai". Aliás, é o próprio Jesus que manda rezar: "«Pedi e recebereis, assim a vossa alegria será completa» (Jo 16,24)".

Oração na vida da Igreja

O Espírito Santo é o "Mestre interior da oração cristã", porque "forma a Igreja para a vida de oração e a faz entrar cada vez mais profundamente na contemplação e na união com o insondável mistério de Cristo". Por isso, a oração é "inseparável do progresso da vida espiritual" e, em suma, da vida cristã da Igreja e de cada católico. Logo, pouco a pouco, a liturgia foi-se desenvolvendo e tornou-se na "oração oficial da Igreja", com particular destaque para a missa (e a Eucaristia, que "contém e exprime todas as formas de oração" [132]) e a Liturgia das Horas. "Parale­la­men­te, desenvolveu-se também a oração devocional (piedade popular), tanto comunitária como individual".
Assim sendo, "as formas essenciais da oração cristã" são "a bênção e a adoração, a oração de petição e a intercessão, a ação de graças e o louvor". Embora a "adora­ção e louvor a Deus seja a mais perfeita", a oração de petição e intercessão "pelo próprio, por outras pessoas (vivas ou no Purgatório) ou por causas nobres é necessária e meritória".
Apesar de toda a oração ter "como destino final" a Santíssima Trindade, isto não impede os crentes de prestarem devoção e de rezarem "a Nossa Senhora, aos Anjos e aos Santos do Céu como intercessores junto de Deus". Aliás, "a Igreja gosta de orar à Virgem Maria e de orar com Maria, a Orante perfeita", porque ela "«mostra-nos o caminho» que é o Seu Filho Jesus, o único Mediador" junto de Deus Pai. Orações como a Ave Maria e o Rosário são exemplos disso.
A oração, que "pressupõe sempre uma resposta decidida da nossa parte", é também considerada um combate "contra si mesmo, contra o ambiente e sobretudo contra o Tentador". O Diabo tenta a todo o custo retirar o crente da oração, através, como por exemplo, da distracção, da preguiça, "das dificuldades e dos insucessos aparentes".
Para concluir, no século XX, São Pio de Pietrelcina afirmou que:
Cquote1.png
A oração bem feita toca o coração de Deus, incitando-O a ouvir-nos. Quando rezamos, que todo o nosso ser se volte para Deus. […] O Senhor deixar-Se-á vencer e virá em nosso auxílio. […] Reza e espera. Não te agites; a agitação é inútil. Deus é misericórdia e há-de escutar a tua oração. A oração é a nossa melhor arma: é a chave que abre o coração de Deus. Deves dirigir-te a Jesus, menos com os lábios do que com o coração.
Cquote2.png
.

Pai-Nosso: a síntese do Evangelho

No Sermão da Montanha, Jesus ensinou o Pai Nosso aos seus discípulos, que estavam ansiosos em saber como rezar bem. O Pai-Nosso é uma "oração cristã insubstituível", "a «síntese de todo o Evangelho» (Tertuliano) e «a oração perfeitíssima» (São Tomás de Aquino)".[136] O Pai-Nosso é também "a oração da Igreja por excelência […] visto que as suas sete petições, fundadas no mistério da salvação já realizada, […] serão plenamente atendidas na vinda do Senhor. O Pai Nosso é também parte integrante da Liturgia das Horas".[137] Nestas "sete petições a Deus Pai", os católicos pedem "a santificação do Nome de Deus, a vinda do seu Reino, a realização da sua Vontade", o alimento quotidiano, o perdão divino dos pecados e a possibilidade de livrarem-se das tentações e "do Maligno".
Para além destas petições, o Pai-Nosso também revela à humanidade a sua relação especial e filial com Deus Pai. A partir de então, "podemos invocar a Deus como «Pai» […] porque Ele nos foi revelado por seu Filho feito homem e porque o seu Espírito no-Lo faz conhecer. […] Ao rezar a oração do Senhor estamos conscientes" e absolutamente confiantes de sermos filhos de Deus e de sermos "amados e atendidos" por Deus Pai. "Sempre que rezamos ao Pai, adoramo-Lo e glorificamo-Lo com o Filho e o Espírito", porque estas três Pessoas divinas formam a Santíssima Trindade.

Igreja: Corpo de Cristo e semente do Reino de Deus

A Igreja é "o povo que Deus convoca e reúne de todos os confins da Terra, para constituir a assembléia daqueles que, pela fé e pelo Batismo, se tornam filhos de Deus, membros de Cristo e templo do Espírito Santo".Os católicos acreditam que a única Igreja fundada e encabeçada por Jesus Cristo,[12] "como sociedade constituída e organizada no mundo, subsiste (subsisti in) na Igreja Católica, governada pelo sucessor de Pedro e pelos Bispos em comunhão com ele".] Segundo a Tradição católica, a Igreja está alicerçada sobre o Apóstolo Pedro, a quem Cristo prometeu o Primado, ao afirmar que "sobre esta pedra edificarei a minha Igreja" e que "dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus" (cf. Mt 16, 17-20).
A Igreja de Cristo é a detentora na plenitude dos sete sacramentos e dos outros meios necessários para a salvação, dados por Jesus à Igreja. Tudo isto para reunir, santificar, purificar e salvar toda a humanidade e para antecipar a realização do Reino de Deus, cujo semente é necessariamente a Igreja ] (para mais informações, veja a secção Salvação e Santidade). Por esta razão, a Igreja, guiada e protegida pelo Espírito Santo, insiste na sua missão de anunciar o Evangelho a todo o mundo, sendo aliás ordenada pelo próprio Cristo: "ide e ensinai todas as nações, batizando-as no nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28,19).[147] A Igreja, mediante os sacramentos do Batismo e da Reconciliação, tem também a missão e o poder de perdoar os pecados, porque o próprio Cristo lho conferiu"
No Credo Niceno-Constantinopolitano, é atribuída à Igreja as propriedades de “una, santa, católica e apostólica. Além disto, ela é também chamada de <<Esposa de Cristo>>, <<Templo do Espírito Santo>> e <<Corpo de Cristo>>, sendo este último revestido de um significado importante e mais especial para a Igreja. Este último nome assenta na crença de que a Igreja não é apenas uma simples instituição, mas um corpo místico constituído por Jesus, que é a Cabeça, e pelos fiéis, que são membros deste corpo inquebrável, através da fé e do sacramento do Batismo. Este nome é assente também na crença de que os fiéis são unidos intimamente a Cristo, por meio do Espírito Santo, sobretudo no sacramento da Eucaristia.

Organização hierárquica e regional

A Igreja Católica, regida pelo Código de Direito Canônico, é formada pelo clero e por leigos, podendo estes dois grupos terem também como membros pessoas consagradas, que normalmente agrupam-se em ordens religiosas ou em institutos seculares.[154] A Igreja dispõe de uma hierarquia ascendente, baseado nos 3 graus do Sacramento da Ordem (o Episcopado, o Presbiterado e o Diaconado) que vai desde do simples diácono até chegar ao cargo supremo de Papa, que é o Chefe e Pastor da Igreja. Considerado o Vigário de Cristo na Terra, o Papa é eleito pelo Colégio dos Cardeais.[156] A Igreja defende que todos os seus Bispos (que são coadjuvados pelos presbíteros e diáconos), devido ao sacramento da Ordem, são os sucessores dos Doze Apóstolos, sendo o Papa o sucessor directo do Apóstolo Pedro.[  Daí a autoridade e primazia que o Papa goza. É ainda considerado como "perpétuo e visível princípio e fundamento da unidade da Igreja". A Igreja acredita que os seus ministros sagrados são "ícones de Cristo",logo todos eles são homens, porque os doze Apóstolos são todos homens e Jesus, na sua forma humana, também é homem. Mas isto não quer dizer que o papel da mulher na Igreja seja menos importante, mas apenas diferente. Excetuando em casos referentes aos diáconos e a padres ordenados pelas Igrejas orientais, todo o clero católico é celibatário
Ao todo, a Igreja Católica é constituída por 23 Igrejas particulares autônomas sui juris, que, professando a mesma doutrina e fé católicas, possuem uma tradição histórica, cultural, teológica e litúrgica diferentes, bem como uma estrutura hierárquica e organização territorial separadas. Estas Igrejas autônomas são, por sua vez, constituídas por uma ou mais circunscrições eclesiásticas ou Igrejas particulares locais, sendo o seu modelo paradigmático a diocese (na Igreja Latina sui juris) ou a eparquia (nas Igrejas Orientais sui juris). Todas estas igrejas particulares, sejam elas autônomas ou locais, são lideradas por ministros sagrados, que, em última instância, respondem todos ao Papa.
Com toda esta organização regional e constituição hierárquica, a Igreja Católica desenvolveu um sistema elaborado de governo global, centrado no Papa e em Roma, enquanto que, no dia a dia, o catolicismo é vivido na comunidade local, unida na sua paróquia, liderada pelo pároco (um presbítero).

Culto católico

Na Igreja Católica, para além do culto de adoração a Deus (latria), existe também o culto de veneração aos Santos (dulia) e à Virgem Maria (hiperdulia). Estes dois cultos, sendo o primeiro mais importante, são muito diferentes, mas ambos são expressos através da liturgia, que é o culto oficial e público da Igreja, e também através da piedade popular, que é o culto privado dos fiéis [167][168]
Dentro da piedade popular, destacam-se indubitavelmente as devoções e as orações quotidianas; enquanto que na liturgia, destaca-se a Missa (de frequência obrigatória aos Domingos e festas de guarda) e a Liturgia das Horas. A Igreja permite também a veneração de imagens e de relíquias sagradas de Cristo, dos Santos e da Virgem Maria. Apesar de a piedade popular ser de certo modo facultativa, ela é muito importante para o crescimento espiritual dos católicos.

 

Liturgia

A liturgia é a celebração pública e oficial do "Mistério de Cristo e em particular do seu Mistério Pascal",sendo por isso "o cume para onde tendem todas as ações da Igreja e, simultaneamente, a fonte donde provém toda a sua força vital". Através deste serviço de culto cristão, "Cristo continua na sua Igreja, com ela e por meio dela, a obra da nossa redenção".[170] Esta "presença e atuação de Jesus" são assegurados eficazmente pelos sete sacramentos,[167][168] com particular destaque para a Eucaristia, que renova e perpetua "o sacrifício da cruz no decorrer dos séculos até ao regresso" de Jesus.[171] Por isso, toda a liturgia centra-se na celebração eucarística (ou Missa), porque a Eucaristia "é fonte e cume da vida cristã" e nela "a ação santificadora de Deus em nosso favor e o nosso culto para com Ele" atingem o cume
A Missa (ou celebração eucarística) é a celebração litúrgica e sacramental mais importante da Igreja.[171]
Mais concretamente, na liturgia, mediante "o exercício da função sacerdotal de Jesus Cristo", "o culto público devido a Deus" (a latria) é exercido pela Igreja; e "a santificação dos homens é significada e realizada mediante" os sacramentos. Jesus, como Cabeça, celebra a liturgia com os membros do seu Corpo, ou seja, com a sua "Igreja celeste e terrestre", constituída por santos e pecadores, por habitantes da Terra e do Céu.[169][173] Cada membro da Igreja terrestre celebra e atua na liturgia "segundo a sua própria função, na unidade do Espírito Santo: os batizados oferecem-se em sacrifício espiritual […]; os Bispos e os presbíteros agem na pessoa de Cristo Cabeça", representando-O no altar. Daí que só os clérigos (excetuando os diáconos) é que podem celebrar e conduzir a Missa, nomeadamente a consagração da hóstia.
Toda a liturgia centra-se no Domingo e "na Páscoa anual".[175] Embora o culto católico não estivesse "ligado a nenhum lugar exclusivo, porque Cristo", e logo toda a Igreja, "é o verdadeiro templo de Deus", a Igreja terrestre tem necessidade de reunir-se em certos lugares sagrados (ex: igrejas, capelas e catedrais) "para celebrar a liturgia".[176] Apesar de celebrar o único Mistério de Cristo, a Igreja possui muitas tradições litúrgicas diferentes, devido ao seu encontro, sempre fiel à Tradição católica, com os vários povos e culturas. Isto constitui uma das razões pela existência das 23 Igrejas sui juris que compõem a Igreja Católica.

Sacramentos

A Igreja Católica acredita que os sete sacramentos foram instituídos por Jesus Cristo e confiados à Igreja, durante o seu ministério, como "sinais sensíveis e eficazes […] mediante os quais nos é concedida a vida" e a graça divinas. Através deles, "Cristo age e comunica a graça, independentemente da santidade pessoal do ministro", embora "os frutos dos sacramentos dependam também das disposições de quem os recebe". Sobre os sacramentos, São Leão Magno diz: "«o que era visível no nosso Salvador passou para os seus sacramentos»".
Ao celebrá-los, a Igreja Católica alimenta, exprime e fortifica a sua fé, sendo por isso os sacramentos uma parte integrante e inalienável da vida de cada católico e fundamentais para a sua salvação. Isto porque eles conferem ao crente a graça divina, os dons do Espírito Santo, "o perdão dos pecados, […] a conformação a Cristo Senhor e a pertença à Igreja", que o torna capaz "de viver a vida nova de filhos de Deus em Cristo acolhido com a ". Daí a grande importância dos sacramentos na liturgia católica.
Os sete sacramentos marcam as várias fases importantes de vida cristã, sendo estes divididos em três categorias:
  • sacramentos da iniciação cristã (Batismo, Confirmação e Eucaristia), que "lançam os alicerces da vida cristã: os fiéis, renascidos pelo Batismo, são fortalecidos pela Confirmação e alimentados pela Eucaristia";
  • sacramentos da cura (Reconciliação e Unção dos enfermos), que possibilitam à Igreja a cura e o fortalecimento da "vida nova, que Jesus nos deu nos sacramentos da iniciação cristã", visto que ela "pode ser enfraquecida e até perdida por causa do pecado";[183]
  • sacramentos ao serviço da comunhão e da missão (Ordem e Matrimônio), que "conferem uma graça especial para uma missão particular na Igreja em ordem à edificação do povo de Deus", contribuindo especialmente "para a comunhão eclesial e para a salvação dos outros"
"Todos os sacramentos estão ordenados para a Eucaristia «como para o seu fim» (S. Tomás de Aquino)". Na Eucaristia, renova-se o mistério pascal de Cristo, actualizando e renovando assim a salvação da humanidade.

Salvação e Santidade

Segundo a soteriologia católica, a salvação, que é oferecida por Deus, realiza-se, após a morte, no Céu, "com a visão de Deus, face a face, e comunhão eterna com Ele" e, após a ressurreição final, no seu novo Reino (veja também a secção Morte e Vida eterna). Esta salvação, que conduzirá o Homem à santidade, à suprema felicidade e à vida eterna, pode ser conseguida por muitas formas e caminhos, mas, para os católicos, ela deve ser obtida através da fé em Jesus Cristo e "da adesão vital" à Igreja fundada e encabeçada por Ele.
O caminho de santificação do cristão começou no momento do seu Batismo, quando ele recebeu a graça santificante, e deve progredir com a ajuda dos meios de salvação dispostos pela Igreja. Esta progressão, que busca também a perfeição, deve ser sempre motivada pela esperança da salvação e animada pelo "fervor da caridade". Este fervor traduz-se na realização dos ensinamentos cristãos (que se resumem nos mandamentos de amor) e na prática das boas obras, que exprimem a em Cristo e eliminam as penas temporais causadas pelo pecado. Esta postura e ação do católico e da Igreja contribuiria também para a construção de um mundo melhor e para a aceleração da realização do Reino de Deus na Terra.
Este caminho espiritual "terá o seu acabamento na ressurreição final". No novo Reino de Deus, cada santo ou salvo gozará eternamente, em "íntima união com Cristo e, n’Ele, com a Santíssima Trindade", a plenitude da felicidade e da santidade. Por esta razão, todos "são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade", que é justamente a definição de santidade.[188]

Justificação, Graça, Misericórdia, Mérito e Liberdade

Devido ao pecado e à queda do Homem, "a salvação é necessária, e é Deus Quem salva, através de Jesus Cristo" e do seu mistério pascal. Logo, a partir disto, todos os pecados dos homens, no passado e no futuro, serão perdoados por Deus, desde que os homens se arrependam de um modo livre e sincero Por outras palavras, a salvação deve-se à justificação, que é "a ação misericordiosa e gratuita de Deus" de nos conceder a salvação. Por isso, esta ação não é fruto do "merecimento humano", mas somente da misericórdia e da graça divinas.
A graça é um dom sobrenatural ou "socorro gratuito que Deus nos dá" para sermos "capazes de agir por amor d’Ele", para conceder aos homens todos os bens (espirituais ou materiais) necessários à sua existência e também para tornar-nos filhos de Deus e "participantes da natureza divina, da Vida Eterna" Aliás, "a própria preparação do homem para acolher" livremente a graça "já é obra da graça" e da predestinação (não-absoluta) de Deus. Existem vários tipos de graça, sendo o mais importante a graça habitual ou santificante, que é a origem, o início e a responsável pela justificação, conversão e santificação dos homens e por isso "nos foi merecida pela paixão de Cristo e nos foi dada no Baptismo".Além desta graça, existem ainda as graças atuais, as graças sacramentais e as graças especiais (ou carismas).
Na dinâmica da justificação, a liberdade é fundamental porque "Deus age de forma livre, concedendo a graça, e a resposta do homem também deve ser livre, pois «a alma só pode entrar livremente na comunhão do amor»".Por isso, pode-se dizer que "a concretização da salvação de cada pessoa depende também da sua adesão de e caridade ao Salvador", estabelecendo-se assim uma colaboração indissociável entre a graça e o livre-arbítrio do Homem de escolher entre a redenção e a perdição.
Isto explica o fato de a santidade não ser atingido por todos, apesar da vontade de Deus de salvar toda a humanidade. Há sempre pessoas que vão para o Inferno, simplesmente porque recusaram livremente o arrependimento e a graça da salvação, mesmo até no momento da morte. Mas a liberdade, que foi concedida por Deus, permite também à humanidade receber "o grande presente que brota do sacrifício redentor de Cristo: o participar livremente na construção do seu Reino" e o "tomar o nosso lugar no plano de Deus", como seus filhos e "co-herdeiros de Cristo".
Esta nossa participação, para além da fé, assenta-se também na prática quotidiana das boas obras, cujo mérito ou direito à recompensa deve "ser atribuído antes de mais à graça de Deus e depois à vontade livre do homem". O homem, que juridicamente "não pode merecer nada" porque recebeu tudo gratuitamente de Deus, pode merecer, por concessão e caridade de Deus, "as graças úteis para nos santificarmos e para alcançar a vida eterna, bem como os bens temporais necessários segundo os desígnios de Deus". Mas, ninguém pode ter o mérito da graça santificante
Cquote1.png
Enquanto reconhece que Deus ama todos os homens e lhes dá a possibilidade de se salvarem (cf. 1 Tim 2, 4), a Igreja professa que Deus constituiu Cristo como único mediador e que ela própria foi posta como instrumento universal de salvação. […] A universalidade da salvação em Cristo não significa que ela se destina apenas àqueles que, de maneira explícita, crêem em Cristo e entraram na Igreja. Se é destinada a todos, a salvação deve ser posta concretamente à disposição de todos. É evidente, porém, que, hoje como no passado, muitos homens não têm a possibilidade de conhecer ou aceitar a revelação do Evangelho, e de entrar na Igreja. Vivem em condições socio-culturais que o não permitem, e frequentemente foram educados noutras tradições religiosas. Para eles, a salvação de Cristo torna-se acessível em virtude de uma graça que, embora dotada de uma misteriosa relação com a Igreja, todavia não os introduz formalmente nela, mas ilumina convenientemente a sua situação interior e ambiental. Esta graça provém de Cristo, é fruto do Seu sacrifício e é comunicada pelo Espírito Santo: ela permite a cada um alcançar a salvação, com a sua livre colaboração, […] de um modo que só Deus conhece.
Cquote2.png

Comunhão dos santos

A "comunhão dos santos" indica, por um lado, "a participação de todos os membros da Igreja nas coisas santas (sancta): a , os sacramentos […], os carismas e os outros dons espirituais".[215] Por outro lado, e mais vulgarmente, significa a união viva "de todos os cristãos em estado de graça (ou seja, que não estão manchados por pecados mortais e, portanto, são considerados santos em sentido lato), que estão em três estádios espirituais diferentes:[216][217]
Todos estes são irmãos e membros da Igreja, logo eles podem intercederem e ajudarem-se mutuamente, através de orações, boas obras, sacrifícios e indulgências.[216] Mas, a Igreja é também constituída por pessoas que têm pecados mortais, embora sejam consideradas como membros imperfeitos e, por isso, não entram na comunhão dos santos, se considerarmos a segunda definição.[217]
Vulgarmente e em sentido mais restrito, um santo é considerado somente como uma pessoa canonizada ou beatificada (ou seja, reconhecida) pela Igreja por se distinguir pela sua santidade. Por isso, a Igreja reconhece-a, com certeza, como um habitante do Céu, uma intercessora dos homens junto de Deus e um modelo exemplar de imitação. Além disso, um Santo é ainda digno de culto, mas, apenas de veneração (a dulia), que é diferente do culto de adoração à Santíssima Trindade.[186] Pode-se dizer então que um Santo canonizado ou beatificado é um habitante do Céu digno de veneração pelos fiéis e mais ilustre e conhecido do que os santos anónimos do Céu.[217]

Virgem Maria: Mãe de Deus

De acordo com a Mariologia católica, "Deus escolheu gratuitamente Maria desde toda a eternidade para que fosse a Mãe de seu Filho: para cumprir tal missão, foi […] preservada do pecado original desde a sua concepção" (Imaculada Conceição).[219] O arcanjo Gabriel anunciou à Virgem Maria que Deus faria com que ela concebesse Jesus "do Espírito Santo", ou seja, em virgindade e sem participação de homem algum.[94] Logo, o Espírito faz dela a Mãe de Cristo e, como Jesus Cristo é o próprio Deus encarnado, também a Mãe de Deus.[120][220] Maria aceitou obedientemente esta missão divina tão necessária à salvação. Casou-se com São José, que assumiu a paternidade terrena de Jesus, mas, mesmo assim, ela conseguiu conservar a sua virgindade por toda a vida.[221]
Devido ao fato de ter concebido Jesus, que é a Cabeça da Igreja, ela torna-se, por isso, também na "Mãe da Igreja" e na "verdadeira Mãe dos vivos", sendo a sua maternidade espiritual estendida "a todos os homens que Jesus veio salvar". Ela "coopera com amor de mãe no nascimento e na formação na ordem da graça" de qualquer ser humano.[222] Após a sua assunção ao céu, ela "continua a interceder pelos seus filhos e a ser para todos um modelo de fé e de caridade". Os católicos "vêem nela uma imagem e uma antecipação da ressurreição que os espera", sendo por isso o "ícone escatológico da Igreja" (ou a realização mais perfeita da Igreja).[223]
O culto de veneração a Maria (chamado de hiperdulia) difere "essencialmente do culto de adoração, prestado apenas à Santíssima Trindade". O culto mariano é expresso "nas festas litúrgicas dedicadas à Mãe de Deus", nas peregrinações aos locais onde Maria apareceu e "na oração mariana, como o santo Rosário".[224] Uma das principais causas da devoção popular e do culto a Maria tem a ver com a crença dos católicos na poderosa intercessão de Maria junto de Deus, o destinatário último de todas as orações e pedidos dos homens.[225][226]

Morte e Vida eterna

Segundo a escatologia católica, após a morte de cada pessoa, a sua alma separa-se do seu corpo mortal e corruptível, iniciando assim a sua vida eterna, que "não terá fim" e que é "precedida para cada um por um juízo particular realizado por Cristo […] e que será confirmada pelo juízo final".[227] Este juízo final realizar-se-á nos últimos momentos antes do fim do mundo.[228]

Juízo particular

Basicamente, o juízo particular "é o julgamento de retribuição imediata, que cada um, a partir da morte, recebe de Deus na sua alma imortal, em relação à sua fé e às suas obras" realizadas durante o seu caminho de santificação terrestre.[229] Após essa epifania particular, a alma será destinada a estar:
  • no Paraíso (ou Céu), que é o estado de salvação e de "felicidade suprema e definitiva", reservado somente às pessoas que, devido à aceitação de Deus (e do seu amor) e ao seu arrependimento, morreram em estado de graça, isto é, sem "manchas" de qualquer pecado. Estes santos formam assim a Igreja triunfante, "onde vêem Deus «face a face» (1 Cor 13,12), vivem em comunhão de amor com a Santíssima Trindade e intercedem por nós".[230]
  • no Purgatório, que "é o estado dos que morrem na amizade de Deus, mas, embora seguros da sua salvação eterna, precisam ainda de purificação para entrarem" puros no Céu. Esta purificação temporária, que "os fiéis ainda peregrinos na terra" podem ajudar a acelerar (veja a subsecção Comunhão dos santos), consiste na eliminação das penas temporais dos pecados cujas culpas já estão perdoadas.[231]
  • no Inferno, que "consiste na condenação eterna daqueles que, por escolha livre", decidiram viver eternamente separados de Deus. Mais concretamente, eles recusaram Deus, o Seu "amor misericordioso" e a Sua graça de salvação, escolhendo voluntariamente "persistir no pecado mortal", mesmo até no momento da morte.[232] Estas decisões são respeitadas por Deus, porque Ele criou o homem como um ser "livre e responsável", apesar de Ele "querer «que todos tenham modo de se arrepender» (2Ped 3,9)".[233]
Esta doutrina escatológica, que trata sobre o destino individual das almas após a sua morte, está sintetizada nos chamados novíssimos, que são quatro: "morte, juízo, inferno e paraíso". O purgatório não entra porque é só um estado espiritual transitório e temporário.[234]

Fim do mundo, Juízo Final, Ressurreição e Reino de Deus

Acerca do destino coletivo do Homem no fim do mundo, a Igreja ensina que ocorrerá um Juízo final nos últimos momentos que precedem ao fim do mundo, "do qual só Deus conhece o dia e a hora".[228] Mesmo antes disso, Jesus Cristo, que também "verdadeiramente ressuscitou dos mortos e vive para sempre", ressuscitará toda a humanidade, dando, mais concretamente, uma nova vida, mas desta vez imortal, para todos os corpos que pereceram. Neste momento, todas as almas, quer estejam no Céu, no Purgatório ou no Inferno, regressarão definitivamente aos seus novos corpos.[235]
Assim sendo, toda a humanidade reunir-se-á diante de Deus, mais concretamente de Jesus, que irá regressar triunfalmente à terra "como juiz dos vivos e dos mortos". Ele confirmará os inúmeros juízos particulares e permitirá consequentemente que o corpo ressuscitado possa "participar na retribuição que a alma teve no juízo particular". Esta retribuição consiste na "vida bem-aventurada" e santa (para os que estão no Céu ou no Purgatório) ou "na condenação eterna" (para os que estão no Inferno).[236]
Depois do juízo final, dá-se finalmente o fim do mundo. O antigo mundo, que foi criado no início por Deus, é "libertado da escravidão" do pecado e transformado nos "«novos céus e na nova terra» (2 Ped 3,13)". Neste novo estado de coisas, é também "alcançada a plenitude do Reino de Deus, ou seja, a realização definitiva do desígnio salvífico de Deus de «recapitular em Cristo todas as coisas, as do céu e as da terra» (Ef 1,10)". Nesse misterioso Reino, onde o mal é inexistente, os santos (ou salvos) gozarão a sua vida e felicidade eternas e "Deus será «tudo em todos» (1 Cor 15,28)", formando assim uma grande família e comunhão de amor. Os condenados ou ímpios (maus) viverão para sempre no "fogo eterno" e afastados do Reino de Deus.[20]
Logo, "todo o batizado é chamado à castidade" [278] porque a sexualidade só se "torna pessoal e verdadeiramente humana quando integrada na relação de pessoa a pessoa, no dom mútuo total e temporalmente ilimitado, do homem e da mulher",[276] ambos unidos pelo sacramento do Sagrado Matrimônio (que é indissolúvel).[279] Por isso, os atos sexuais só podem "ter lugar exclusivamente no Matrimônio; fora dele constituem sempre um pecado grave".[280] Por estas razões, o sexo pré-marital, "o adultério, a masturbação, a fornicação, a pornografia, a prostituição, o estupro" e os actos sexuais entre homossexuais são condenados pela Igreja como sendo "expressões do vício da luxúria".[281]
Para a Igreja, o Amor é uma virtude teologal,[262] uma "dádiva de si mesmo" e "é o oposto de usar" e de afirmar-se a si mesmo.[282] Aplicado nas relações conjugais humanas, o Amor verdadeiramente vivido e plenamente realizado é uma "comunhão de entrega e receptividade", de "dádiva mútua do eu e […] de afirmação mútua da dignidade de cada parceiro". Esta comunhão "do homem e da mulher" é "um ícone da vida do próprio Deus" e "leva não apenas à satisfação, mas à santidade".[283] Este tipo de relação conjugal

Antropologia teológica é a parte da Teologia que estuda a realidade do ser humano sob o ponto de vista da teologia.


 O Homem: sua dignidade nativa

A Revelação diz que o homem é uma criatura feita no tempo, que não teve existência espiritual antes da corpórea. Os textos bíblicos não pretendem apresentar dados científicos, mas mostrar o relacionamento de Deus com os homens, sua superioridade em relação à natureza, etc. O homem é apresentado como imagem e semelhança de Deus, sendo Jesus imagem verdadeira do Pai, e nós, seu reflexo. O homem é “imagem de Deus”, porque foi criado com a capacidade de conhecer e amar seu Criador.

A estrutura do ser humano

O homem é um organismo psicofísico de corpo e alma, em perfeita unidade e complementaridade.
Alma e corpo se apresentam como duas substâncias independentes, porém, formando uma unidade. A alma é imortal ao passo que o corpo é corruptível, embora destinado à ressurreição. Entre corpo e alma existe uma dualidade perfeita, ao contrário do dualismo maniqueísta que coloca o corpo como cárcere da alma.
A visão perfeita da estrutura do ser humano nos apresenta são Tomás de Aquino. Ele diz que a alma é a forma do corpo, podendo subsistir sem a matéria corporal, pois mantém sua operação intelectiva aprendida mediante a operação sensorial.

Sobre a espiritualidade e imortalidade da alma

Os documentos do Magistério da Igreja afirmam que a alma é espiritual, fazendo da espiritualidade a fundamentação racional para a afirmação da imortalidade. Se a alma é espiritual, não pode ser corrompida, pois sendo espírito dotado de existência própria e independente da matéria, não se extingue com a corrupção do corpo. A Revelação não apresente profundamente o caráter natural ou sobrenatural da imortalidade da alma, pois a Escritura considera toda a vida do ser em relação a Deus.

O Homem e a Mulher

Segundo o dogma da criação, Deus criou o homem e a mulher à sua “imagem e semelhança”, com aptidão para a vida na graça e deu-lhes a missão de perpetuar a espécie, através de sua sexualidade, embasados no amor, que ultrapassa o plano carnal e exprime uma vinculação e complementação profunda dos dois.
Homem e mulher são seres idênticos e complementares: idênticos quanto à natureza, e complementares quanto às particularidades físicas e psicológicas. Realizam-se humanamente e santificam-se mutuamente dentro da Lei Moral.
Têm igual dignidade, embora no Antigo Testamento a mulher tenha sua participação limitada na sociedade. Porém, no Novo Testamento, essa situação muda, principalmente por causa da participação de Maria.
Dentro dessa igualdade, a sexualidade humana é orientada para o matrimônio monogâmico indissolúvel, destinado à complementação mútua e à procriação da espécie, sendo no Novo Testamento elevado, por Cristo, à categoria de Sacramento.

O Concurso Divino

Desde que começou a meditar sobre a Providência, o homem se pergunta como conciliá-la com a liberdade das criaturas, pois a Providência lhes tiraria a liberdade.
Chegou-se à conclusão de que Deus está na raiz do ser e do agir das criaturas. Deus dá e conserva o seu agir. E mais, as criaturas só conseguem agir porque são dependentes de Deus e como tais, são instrumentos nas mãos do Criador. Tudo o que a criatura faz é mais obra de Deus do que dela própria.

A Providência e o Mal

Esta é outra questão que surge ao homem: como aliar a verdade da Providência com a existência do mal?
Antes de tudo se deve distinguir duas categorias do mal: o sofrimento que é contra a vontade do homem, ou seja, a dor, a miséria, a aflição, etc.; e a maldade, que é própria do homem, pois parte de sua vontade, que são o crime, o pecado, etc...
As religiões têm concepções diversas sobre o tema, chegando algumas delas a atribuírem o mal à providência e a seus deuses.
Outras atribuem, num dualismo latente, o mal a um princípio mal, e o bem a um princípio bom, numa concepção maniqueísta platônica.
O pensamento filosófico moderno, de fundo ateísta, considera o sofrimento um mal necessário, já que o homem é apenas uma peça na engrenagem que faz o mundo funcionar. Tudo pode ser resolvido pela técnica e pelo progresso.
O cristianismo tem outra compreensão do problema do mal, tendo em vista dois pensamentos básicos: primeiro, que o sofrimento não é uma ilusão. É passageiro, mas existe. É fruto do pecado do homem; segundo, que a morte entra no mundo por causa do pecado do homem.
E não há nada de mal que aconteça no mundo que não passe pelo crivo da Providência. Conseqüentemente, o mal não é eterno, mas sempre esteve sob o controle de Deus.
Isto não significa que Deus seja o autor do mal, pois o mal é a ausência de um bem devido.
Surge, então, a questão de como e porque o mal existe. A resposta é que Deus criou o mundo em estado de “caminhada”, para atingir a perfeição última e, enquanto não atingi-la, o mal permanecerá, já que Deus criou tudo bom, mas o desvio das criaturas produz o mal.
Resumindo: Deus é o Senhor do mundo e da história, mas os caminhos de sua Providência muitas vezes nos são desconhecidos. Somente quando estivermos “face a face” com ele, teremos pleno conhecimento dos caminhos pelos quais terá conduzido sua criação até a glória definitiva.

Providência sobrenatural

Todos os seres criados, de maneira especial os homens e os anjos, estão sob o regime da providência sobrenatural.
Sob essa Providência, Deus tem um desígnio a nosso respeito: oferece-nos a salvação através da mediação de Cristo.
A Utilização do termo “sobrenatural” não exclui o que é “natural” ao ser humano. Porém, não se pode relativizar e achar que o homem vai encontrar a felicidade no plano meramente natural, pois Deus propôs à humanidade uma vocação sobrenatural, desaparecendo assim, todo lugar para um fim último natural. As duas dimensões integram a existência humana de forma intrínseca.

A História da Salvação

Deus se associa na nossa história no plano pessoal, e nos dá a graça através da fé. Mas também se associa no plano social e universal da história, através de suas obras.
É o que costuma se chamar de História da Salvação. Mas nem por isso o homem está livre das tribulações cotidianas.
Porém, Deus dá a todos a graça para que, perseverantes na prática do bem, procurem a salvação.
Deus revela seu plano de salvação e vem até o meio de seu povo. Entra na história de suas criaturas, tornando-se muito próximo do homem, comunicando-se por ações e por sua Palavra, pois a Revelação vem associada a acontecimentos, de modo que esses eventos ilustram e fundamentam as palavras e as palavras decifram esses eventos.

Os sinais de Deus

Na História da Salvação, Deus se faz presente por sinais, sendo Jesus o sinal máximo entre todos os outros, pois é a imagem visível do Deus invisível.
Existem outros sinais: os milagres de Cristo e diversos outros que aconteceram ao longo da História da Salvação. Os milagres apontam para Deus, seu autor e estão a serviço da manifestação divina.

PROF. ULISSES ABRUZIO
MESTRE EM CIÊNCIAS DA RELIGIÃO – PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA – PUC – SP

ANTROPOLOGIA TEOLÓGICA

1. Origem e evolução da Antropologia
A Antropologia (anthropos = homem, ser humano; Logos = estudo, tratado) surgiu com o filósofo grego Heródoto, no século V a.C. Por ser o primeiro, pelo que se sabe, a tratar sistematicamente do tema é considerado o pai da Antropologia. Ao longo da história, porém, esta ciência passou por grandes mudanças, gerando várias correntes. Destacamos três delas:
a) A Antropologia Filosófica pagã, mas aberta ao transcendente. Os filósofos antigos buscavam a autonomia da razão, mas não desprezavam ou negavam a possibilidade da existência de divindades e até as levavam em conta, chegando até mesmo à divinização do cosmos.
b) A Antropologia Teológica (de índole judaico-cristã). É a que estuda o ser humano (Anthropos) tendo como referência fundamental Deus (Theos). Passou-se da centralização no cosmo divinizado (fase pagã) para Deus, quando o cristianismo suplantou a visão grega da realidade e colocou tudo o que existe na relação com o Deus revelado (fase cristã). A Antropologia teológica trabalha sobre a profundidade do ser: origem e fim, riquezas e limites, aspirações e linguagem, comportamentos, mas à luz da revelação divina. Visa-se chegar a algo fundamental: o ser humano é capaz de Deus, de acolhê-lo, conviver com ele, em comunhão e parceria com ele (cf. Catecismo da Igreja Católica – nºs 27-73).
Há um pressuposto para esta vertente da Antropologia: Deus não é uma fantasia ou um agregado mental na vida humana. Ele integra a própria estrutura humana e lhe confere a vocação transcendente, que impulsiona o ser humano a ir além de si, a aspirar ao infinito, a reconhecer suas limitações (fraqueza, enfermidade, erros, morte, pecado), que o desafiam a respeito do sentido da vida, do sofrimento, da morte e da pós-morte. Deus lhe dá ao ser humano a capacidade de reconhecer o valor de tudo o que existe e de transcender à realidade do aqui-agora, por um valor maior e mais plenificador. É exatamente esta busca do transcendente que ele humaniza de modo maravilhoso a si mesmo como ser humano (o humanum), isto é, quanto mais ele se insere em Deus e no Projeto dele, mais encontra a felicidade. E é esta extraordinária capacidade que o faz, também, humanizar tudo no cosmos, estudá-lo, manipulá-lo e canalizar todas as suas riquezas em vista da felicidade, um desejo insaciável que faz parte de seu ser como gente.
Aos poucos apareceram dois princípios estruturais na antropologia teológica: o arquitetônico e o hermenêutico. O arquitetônico como eixo do ordenamento de todos os eventos da história da salvação em função de um Plano que Deus tem para a história do cosmos, da terra e da humanidade: é o Plano Salvífico. O hermenêutico como portador da verdade primária sob cuja luz a teologia procura compreender e interpretar e interligar os aspectos da história da salvação.
c) A Antropologia Filosófica Secularista realiza a mudança da centralização em Deus para a centralização no homem, mas sem Deus. Este passo ocorreu na época moderna em conseqüência da secularização e do ateísmo, este último desenvolvido no seio da filosofia européia e, especialmente, pelo comunismo. Para os filósofos secularistas, Deus desaparece de cena e cede lugar ao homem. O espírito humano abre-se a um novo modo de ver e agir. Dá-se um violento contraste com o modo precedente de entender todas as coisas e acontecimentos, que tinha Deus como centro de tudo e de todo interesse humano, e passa a assumir o homem como centro de tudo. Acontece, portanto, a passagem do teocentrismo para o antropocentrismo. Os mais importantes filósofos dessa virada histórica do modo de pensar o sentido e a razão de ser do ser humano são Descartes, Hume, Spinosa, Hobbes, Kant. Mas é Immanuel Kant, sem dúvida, quem atinge o ápice do pensamento independente da referência a Deus, à religião, ao afirmar que o homem não é mais simplesmente o ponto de partida, mas também o ponto de chegada da reflexão filosófica e de toda a história. É ele que abre as possibilidades para que dali em diante muitos filósofos dêem continuidade, aprofundem e motivem levar à prática o secularismo ateu.


2. A Antropologia teológica hoje
2.1 –A humanidade continua sua busca do sentido da vida e da história, do sentido da existência do cosmos e de tudo o que nele existe, especialmente do próprio ser humano na complexidade da história do cosmos. Multiplicam-se sem cessar artigos, livros, filmes, canções, obras de arte, que alimentam o debate levando-se em conta a existência de Deus nesta trama misteriosa do mundo e da vida humana ou negando-a, ridicularizando-a e considerando toda e qualquer religião como uma invenção prejudicial ao ser humano.
A Igreja continua firme em sua fé e em sua missão, afirmando que o mistério do ser humano só encontra sua verdadeira explicação e compreensão no mistério do Verbo encarnado, isto é, no Filho de Deus que assumiu a condição humana na história com o nome de Jesus de Nazaré (cf. GS 22). Para a Igreja o referencial é o ser humano [1][1] criado à imagem e semelhança do próprio Deus (mistério da criação). Este ser humano, no uso de sua liberdade, assim o ensina a Igreja, rompeu com o seu Criador (pecado original), Deus, porém, não somente não o abandonou, mas deixou plasmado na natureza própria do ser humano a necessidade de Deus e o impulso natural para buscá-lo. E ele concedeu à liberdade humana a graça do chamado incessante para restabelecer a união homem-Deus, Deus-homem. Depois de manifestar-se de muitos modos ao longo da história, quando chegou à plenitude do tempo, na linguagem bíblica, Deus deu-lhe a maior prova de amor, o seu próprio Filho divino em forma humana (cf. Hb 1, 1; 1Jo 4, 9-10), que viveu entre nós com plenitude humana, como o ser humano perfeito, por ser ao mesmo tempo “verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem”.
Portanto, assim crê a Igreja, é pelo Cristo que o ser humano é “justificado” (recupera a justiça perdida pelo pecado).
É em direção a Cristo, o referencial humano-divino que, na liberdade, o ser humano procura alcançar progressivamente e com o impulso da graça que ele nos alcançou, “o estado adulto, a estatura de Cristo em sua plenitude” (Ef. 4,13). É este o cerne da Antropologia teológica cristã.
É a partir do olhar antropológico-teológico que detectamos o que a Revelação diz sobre o ser humano no contexto da obra da criação: uma criatura feita no tempo e que não teve existência espiritual antes da corpórea para usufruir da felicidade neste mundo e da glória de Deus na vida eterna feliz.
Este mesmo olhar de comunhão, assim plena, considera o homem como “imagem e semelhança de Deus” e tem a Jesus como a imagem verdadeira do Pai, e nós, como seu reflexo. E o ser humano como “imagem de Deus” (imago Dei), carrega em si mesmo as marcas do Criador, do Filho Redentor e do Espírito Santificador, principalmente em sua a capacidade de conhecer e amar o Pai, por meio de Filho, no amor do Espírito Santo e como co-criador e cooperado em seu Plano de Amor sobre o mundo e a humanidade.

2.3 Homem e a Mulher. Segundo o dogma da criação, Deus criou o homem e a mulher à sua “imagem e semelhança”, com aptidão para a vida na graça e com dons, talentos, tendências e capacidades para cooperar no desenvolvimento deles mesmos até alcançar a plenitude deste crescimento pessoal e social e, também, para trabalharem no desenvolvimento e aperfeiçoamento do cosmos, primeiramente garantindo a continuidade de novos seres humanos na história. Deus, segundo a fé cristã, ao fazer o mundo com tudo o que ele encerra, deu a todos os seres a capacidade de se prepetuarem na história e se aperfeiçoarem.
A fé revelada diz que ambos têm igual dignidade, embora no Antigo Testamento, dentro das limitações da evolução da consciência e da praxis humana naquela época, a mulher tenha tido sua participação restringida na família, sociedade e na religião, o que imcompreensivelmente ainda perdura em muitas partes do mundo e nas religões todas, inclusiva na cristã. No Novo Testamento, essa situação tem tudo para ser mudada a partir do fato de Jesus ter aberto espaço para a mulher e, também por Deus ter dado um destaque todo especial a Maria de Nazaré, Mãe do Senhor Jesus, na história da salvação. A Igreja cristã, porém, deixou-se dominar pela ideologia machista do judaísmo do qual brotou e, também, da cultura greco-romana na qual se inseriu, e isso perdura até hoje. Ela não assumiu realmente a “igualdade da dignidade humana entre homem e mulher”, restando-lhe, portanto, uma dívida história, que ainda está longe de ser solucionada.
A Igreja cristã ensina que a sexualidade-genitalidade humana encontra sua perfeita orientação e canalização no matrimônio monogâmico indissolúvel, destinado à complementação mútua no amor conjugal e familiar e à procriação da espécie para perpetuá-la no mundo.

2.4 O mistério do mal: Pecado e Justiça Original. A Antropologia teológica estuda, também, a historicidade, fragilidade, finitude humana com base em dados bíblicos. Ela explicita que o ser humano perdeu a justiça original (sua harmonia plena), quando cometeu o pecado convencionalmente denominado de original. Para reconquistar esse estado foi necessária a redenção, oferecida gratuitamente por Deus e selada no mistério pascal de Jesus Cristo. Embora o ser humano recupere esse estado original no Batismo, a teologia ensina que as conseqüências do pecado original continuam a existir enquanto permanecemos neste mundo. Disso decorre que todo ser humano não apenas deve ser constantemente vigilante para não errar, mas, que ao pecar - pois isso acontece e sempre acontecerá -, ele tome consciência e se levante, confiante na misericórida de Deus e no seu próprio esforço, para continuar crescendo na fidelidade ao seu infinito amor de Pai e Mãe.
 O “pecado original” foi apresentado e continua sendo apresentado como “o tipo” do pecado, pelo qual teria o ser humano começado a utilizar a liberdade para se tornar autônomo e independente em relação a Deus, fazendo-se a si mesmo um absoluto. Deste modo, com o pecado de um ou de alguns, todos pecaram e estão na condição de pecadores. A participação dos descendentes no “pecado de Adão e Eva” se dá, portanto, pela “solidariedade” universal dos próprios seres humanos como corresponsáveis pela instalação do mal no mundo e por sua continuidade ao longo da história.
3. Catequese e realidade humana. Partir de realidade humana (ver) é óbvio no modo de Jesus ser, ensinar, fazer. O episódio dos Discípulos de Emaús (Lc 24, 13-35) evidencia isso, logo no começo, quando Jesus se soma aos dois caminhantes. Ele observa, escuta atentamente, interroga sobre o sofrimento deles, sobre o que de tão grave aconteceu para deixá-los assim tão abatidos e fazê-los desistir de tudo e fugir... Só depois de cuidar da realidade humana dos dois discípulos, da situação social, política e religiosa deles é que Jesus ousa dar sua opinião, iluminando tudo a partir das Escrituras Sagradas, desde Moisés. Mas ele o faz com tal pedagogia que chega a atingir a natureza humana integral dos dois, fazendo seus corações arderem, mobilizando-os para a oração, para a eucaristia e para a missão. Durante sua missão de ensinar ele está atento às pessoas e se sensibiliza com os sofrimentos, de modo especial a fome e as doenças e as injustiças sociais. De acordo com este olhar atento sobre as manifestações da natureza humana Jesus adapta e incultura seu modo de ser e viver, sua mensagem e sua missão. Como judeu não se enquadra na racionalidade dos argumentos, mas se interessa por afeto, sensibilidade, relações humanas, sentimentos, amor, fraternidade, serviço, cura, justiça.
A Fé Antropológica é fé nos oprimidos. Ela nasce da práxis. Práxis entendida como ação transformadora da situação de injustiça social, na qual viva um indivíduo, um grupo, um povo. A Fé Antropológica é, pois, conflitiva e sua racionalidade é a decisão dialética para a construção de uma sociedade não opressora. Ela não se confunde simplesmente com a fé humana, confiança em qualquer pessoa. Nem com a ideologia (de domínio ou de mudança), proposta de um substitutivo, que tanto pode ser desumanizante como humanizador. A racionalidade da Fé Antropológica, ao contrário, é sempre de-cisão para a sobrevivência humanizante dos seres humanos. Muitas mulheres e homens cristãos, bem como muitos ateus, vivem a Fé Antropológica. Jesus de Nazaré também viveu sua Fé Antropológica. Sua preocupação-vertente foi a fome injusta que a maioria de seu povo sofria. O presente trabalho quer mostrar que Jesus viveu radicalmente a Fé Antropológica, sem que seja necessário negar sua divindade.
CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA
A RESPOSTA DO HOMEM A DEUS
142. Pela sua revelação, «Deus invisível, na riqueza do seu amor, fala aos homens como amigos e convive com eles, para os convidar e admitir à comunhão com Ele» (1). A resposta adequada a este convite é a fé.
143. Pela fé, o homem submete completamente a Deus a inteligência e a vontade; com todo o seu ser, o homem dá assentimento a Deus revelador (2). A Sagrada Escritura chama «obediência da fé» a esta resposta do homem a Deus revelador (3).

EU CREIO
I. A «obediência da fé»
144. Obedecer (ob-audire) na fé é submeter-se livremente à palavra escutada, por a sua verdade ser garantida por Deus, que é a própria verdade. Desta obediência, o modelo que a Sagrada Escritura nos propõe é Abraão. A sua realização mais perfeita é a da Virgem Maria.
ABRAÃO – «O PAI DE TODOS OS CRENTES»
145. A Epístola aos Hebreus, no grande elogio que faz da fé dos antepassados, insiste particularmente na fé de Abraão: «Pela fé, Abraão obedeceu ao chamamento de Deus, e partiu para uma terra que viria a receber como herança: partiu, sem saber para onde ia» (Heb 11, 8) (4). Pela fé, viveu como estrangeiro e peregrino na terra prometida (5). Pela fé, Sara recebeu a graça de conceber o filho da promessa. Pela fé, finalmente, Abraão ofereceu em sacrifício o seu filho único (6).
146. Abraão realiza assim a definição da fé dada pela Epístola aos Hebreus: «A fé constitui a garantia dos bens que se esperam, e a prova de que existem as coisas que não se vêem» (Heb 11, 1). «Abraão acreditou em Deus, e isto foi-lhe atribuído como justiça» (Rm 4, 3) (7). «Fortalecido» por esta fé (Rm 4, 20), Abraão tornou-se «o pai de todos os crentes» (Rm 4, 11. 18) (8).
147. O Antigo Testamento é rico em testemunhos desta fé. A Epístola aos Hebreus faz o elogio da fé exemplar dos antigos, «que lhes valeu um bom testemunho» (Heb 11, 2. 39). No entanto, para nós, «Deus previra destino melhor»: a graça de crer no seu Filho Jesus, «guia da nossa fé, que Ele leva à perfeição» (Heb 11, 40; 12, 2).
MARIA – «FELIZ AQUELA QUE ACREDITOU»
148. A Virgem Maria realiza, do modo mais perfeito, a «obediência da fé». Na fé, Maria acolheu o anúncio e a promessa trazidos pelo anjo Gabriel, acreditando que «a Deus nada é impossível» (Lc 1, 37) (9) e dando o seu assentimento: «Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Lc 1, 38). Isabel saudou-a: «Feliz aquela que acreditou no cumprimento de quanto lhe foi dito da parte do Senhor» (Lc 1, 45). É em virtude desta fé que todas as gerações a hão-de proclamar bem-aventurada (10).
149. Durante toda a sua vida e até à última provação (11), quando Jesus, seu filho, morreu na cruz, a sua fé jamais vacilou. Maria nunca deixou de crer «no cumprimento» da Palavra de Deus. Por isso, a Igreja venera em Maria a mais pura realização da fé.
II. «Eu sei em quem pus a minha fé» (2 Tm 1, 12)
CRER SÓ EM DEUS
150. Antes de mais, a fé é uma adesão pessoal do homem a Deus. Ao mesmo tempo, e inseparavelmente, é o assentimento livre a toda a verdade revelada por Deus. Enquanto adesão pessoal a Deus e assentimento à verdade por Ele revelada, a fé cristã difere da fé numa pessoa humana. É justo e bom confiar totalmente em Deus e crer absolutamente no que Ele diz. Seria vão e falso ter semelhante fé numa criatura (12).
CRER EM JESUS CRISTO, FILHO DE DEUS
151. Para o cristão, crer em Deus é crer inseparavelmente n'Aquele que Deus enviou – «no seu Filho muito amado» em quem Ele pôs todas as suas complacências (13): Deus mandou-nos que O escutássemos (14). O próprio Senhor disse aos seus discípulos: «Acreditais em Deus, acreditai também em Mim» (Jo 14, 1). Podemos crer em Jesus Cristo, porque Ele próprio é Deus, o Verbo feito carne: «A Deus, nunca ninguém O viu. O Filho Unigênito, que está no seio do Pai, é que O deu a conhecer» (Jo 1, 18). Porque «viu o Pai» (Jo 6, 46), Ele é o único que O conhece e O pode revelar (15).
CRER NO ESPÍRITO SANTO
152. Não é possível acreditar em Jesus Cristo sem ter parte no seu Espírito. É o Espírito Santo que revela aos homens quem é Jesus. Porque «ninguém é capaz de dizer: "Jesus é Senhor", a não ser pela ação do Espírito Santo» (1 Cor 12, 3). «O Espírito penetra todas as coisas, até o que há de mais profundo em Deus [...]. Ninguém conhece o que há em Deus senão o Espírito de Deus» (1 Cor 2, 10-11). Só Deus conhece inteiramente Deus. Nós cremos no Espírito Santo, porque Ele é Deus.
A Igreja não cessa de confessar a sua fé num só Deus, Pai, Filho e Espírito Santo.
III. As características da fé
A FÉ É UMA GRAÇA
153. Quando Pedro confessa que Jesus é o Cristo, o Filho do Deus vivo, Jesus declara-lhe que esta revelação não lhe veio «da carne nem do sangue, mas do seu Pai que está nos Céus» (Mt 16, 17) (16). A fé é um dom de Deus, uma virtude sobrenatural infundida por Ele. «Para prestar esta adesão da fé, são necessários a prévia e concomitante ajuda da graça divina e os interiores auxílios do Espírito Santo, o qual move e converte o coração para Deus, abre os olhos do entendimento, e dá "a todos a suavidade em aceitar e crer a verdade"» (17).
A FÉ É UM ATO HUMANO
154. O ato de fé só é possível pela graça e pelos auxílios interiores do Espírito Santo. Mas não é menos verdade que crer é um ato autenticamente humano. Não é contrário nem à liberdade nem à inteligência do homem confiar em Deus e aderir às verdades por Ele reveladas. Mesmo nas relações humanas, não é contrário à nossa própria dignidade acreditar no que outras pessoas nos dizem acerca de si próprias e das suas intenções, e confiar nas suas promessas (como, por exemplo, quando um homem e uma mulher se casam), para assim entrarem em mútua comunhão. Por isso, é ainda menos contrário à nossa dignidade «prestar, pela fé, submissão plena da nossa inteligência e da nossa vontade a Deus revelador» (18) e entrar assim em comunhão intima com Ele.
155. Na fé, a inteligência e a vontade humanas cooperam com a graça divina: «Credere est actas intellectus assentientis veritati divinae ex imperio voluntatis, a Deo motae per gratiam» — «Crer é o ato da inteligência que presta o seu assentimento à verdade divina, por determinação da vontade, movida pela graça de Deus» (19).
A FÉ E A INTELIGÊNCIA
156. O motivo de crer não é o fato de as verdades reveladas aparecerem como verdadeiras e inteligíveis à luz da nossa razão natural. Nós cremos «por causa da autoridade do próprio Deus revelador, que não pode enganar-se nem enganar-nos» (20). «Contudo, para que a homenagem da nossa fé fosse conforme à razão, Deus quis que os auxílios interiores do Espírito Santo fossem acompanhados de provas exteriores da sua Revelação» (21). Assim, os milagres de Cristo e dos santos (22), as profecias, a propagação e a santidade da Igreja, a sua fecundidade e estabilidade «são sinais certos da Revelação, adaptados à inteligência de todos» (23), «motivos de credibilidade», mostrando que o assentimento da fé não é, «de modo algum, um movimento cego do espírito» (24).

A ORAÇÃO NA VIDA CRISTÃ

 534. O que é a oração?
2558-2565
2590

A oração consiste em elevar a alma a Deus ou em pedir a Deus bens conformes à sua vontade. Ela é sempre um dom de Deus que vem ao encontro do homem. A oração cristã é relação pessoal e viva dos filhos de Deus com o Pai infinitamente bom, com o seu Filho Jesus Cristo e com o Espírito Santo que habita no coração daqueles.

535. Porque é que existe um chamamento universal à oração?
2566-2567
Porque primeiramente Deus, através da criação, chama do nada todos os seres e ainda porque, mesmo depois da queda, o homem continua a ser capaz de reconhecer o seu Criador, conservando o desejo d’Aquele que o chamou à existência. Todas as religiões e, em especial, toda a história da salvação, testemunham este desejo de Deus por parte do homem, se bem que é sempre Deus que primeiro e incessantemente atrai cada uma das pessoas para o encontro misterioso da oração. 
A REVELAÇÃO DA ORAÇÃO NO ANTIGO TESTAMENTO
 536. Como é que Abraão é um modelo de oração?
2570-2573
2592

Abraão é um modelo de oração porque caminha na presença de Deus, O escuta e Lhe obedece. A sua oração é um combate da fé, porque ele continua a crer na fidelidade de Deus mesmo nos momentos de provação. Além disso, depois de receber na sua tenda a visita do Senhor, que lhe confia os seus desígnios, Abraão ousa interceder pelos pecadores, com audaciosa confiança.
537. Como rezava Moisés?
2574-2577
2593

A oração de Moisés é o tipo da oração contemplativa: Deus, que, da Sarça ardente, chama Moisés, conversa muitas vezes e longamente com ele «face a face, como um homem com o seu amigo» (Ex 33,11). Nesta intimidade com Deus, Moisés recebe a força para interceder tenazmente em favor do povo: a sua oração prefigura assim a intercessão do único mediador, Cristo Jesus.
538. Quais as relações do templo e do rei com a oração, no Antigo Testamento?
2578-2580;
2594

À sombra da morada de Deus – a Arca da Aliança e mais tarde o templo – cresce a oração do Povo de Deus, sob a orientação dos seus pastores. Entre eles, David é o rei «segundo o coração de Deus», o pastor que reza pelo seu povo. A sua oração é um modelo da oração do povo, pois é adesão à promessa divina e confiança cheia de amor n’Aquele que é o único Rei e Senhor.
539. Qual a importância da oração na missão dos profetas?
2581-2584
Os profetas recebem da oração luz e força para exortar o povo à fé e à conversão do coração. Entram numa grande intimidade com Deus e intercedem pelos irmãos, aos quais anunciam tudo o que viram e ouviram da parte do Senhor. Elias é o pai dos profetas, isto é, dos que procuram o Rosto de Deus. No Monte Carmelo, obtém o regresso do povo à fé, graças à intervenção de Deus, a quem suplica: «Responde-me Senhor, responde-me!» (1 Re 18,37).
540. Qual é a importância da oração dos salmos?
2579;
2585-2589
2596-2597

Os Salmos são o vértice da oração no Antigo Testamento: a Palavra de Deus torna-se oração do homem. Inseparavelmente pessoal e comunitária, esta oração, inspirada pelo Espírito Santo, canta as maravilhas de Deus na criação e na história da salvação. Cristo rezou os Salmos, e deu-lhes pleno cumprimento. E é por isso que eles permanecem um elemento essencial e permanente da oração da Igreja, adaptados aos homens de todas as condições e de todos os tempos. 
A ORAÇÃO PLENAMENTE REVELADA
E REALIZADA EM JESUS
 
541. Quem ensinou Jesus a rezar?
2599
2620

Jesus, segundo o seu coração de homem, foi ensinado a rezar por sua Mãe e pela tradição judaica. Mas a sua oração brota duma fonte secreta, porque Ele é o Filho eterno de Deus, que, na sua santa humanidade, dirige a seu Pai a oração filial perfeita.
542. Quando Jesus rezava?
2600-2604
2620

O Evangelho apresenta muitas vezes Jesus em oração. Ele retira-se para a solidão, mesmo de noite. Jesus reza antes dos momentos decisivos da sua missão ou da missão dos Apóstolos. De facto, toda a sua vida é oração, porque Ele existe numa comunhão constante de amor com o Pai.
543. Como rezou Jesus na sua paixão?
2605-2606
2620

A oração de Jesus durante a agonia no Jardim de Getsemani e nas últimas palavras sobre a cruz revelam a profundidade da sua oração filial: Jesus conduz à sua realização o desígnio de amor do Pai e toma sobre si todas as angústias da humanidade, todas as interrogações e intercessões da história da salvação. Ele apresenta-as ao Pai que as acolhe e escuta, para lá de toda a esperança, ressuscitando-O dos mortos.
544. Como Jesus nos ensina a rezar?
2608 – 2614
2621

Jesus ensina-nos a rezar, não só com a oração do Pai nosso, mas também com a sua própria oração. Assim, para além do conteúdo, ensina-nos as disposições requeridas para uma verdadeira oração: a pureza do coração que procura o Reino e perdoa aos inimigos; a confiança audaz e filial que se estende para além do que sentimos e compreendemos; a vigilância que protege o discípulo da tentação; a oração no Nome de Jesus, nosso Mediador junto do Pai.
545. Porque é eficaz a nossa oração?
2615-2616
A nossa oração é eficaz porque está unida à de Jesus mediante a fé. N’Ele, a oração cristã torna-se comunhão de amor com o Pai. Podemos, neste caso, apresentar os nossos pedidos a Deus e ser atendidos: «Pedi e recebereis, assim a vossa alegria será completa» (Jo 16,24).
546. Como é que a Virgem Maria rezava?
2617; 2622;
2618;2674;
2679

                                                A ORAÇÃO NO TEMPO DA IGREJA  
548. Como rezava a primeira comunidade cristã de Jerusalém?
2623 - 2624
No início dos atos dos Apóstolos está escrito que na primeira comunidade de Jerusalém, educada pelo Espírito Santo na vida de oração, os crentes «eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, fiéis à união fraterna, à fração do pão e às orações» (At 2, 42).

549. Como intervém o Espírito Santo na oração da Igreja?
2623; 2625
O Espírito Santo, Mestre interior da oração cristã, forma a Igreja para a vida de oração e a faz entrar cada vez mais profundamente na contemplação e na união com o insondável mistério de Cristo. As formas de oração, tais como as revelam os Escritos apostólicos e canônicos, permanecerão sempre normativas para a oração cristã.
Caracteriza-se pela fé e pela oferta generosa de todo o seu ser a Deus. A Mãe de Jesus é a Nova Eva, a «Mãe dos viventes»: ela pede a Jesus, seu Filho, pelas necessidades de todos. Como é que os Santos são guias de oração?
2683 - 2684
2692 - 2693

Os santos são modelos de oração e a eles pedimos para, junto da Santíssima Trindade, intercederem por nós e pelo mundo inteiro. A sua intercessão é o mais alto serviço que prestam ao desígnio de Deus. Na comunhão dos santos, desenvolveram-se, ao longo da história da Igreja, diversos tipos de espiritualidade, que ensinam a viver e a pôr em prática a oração.
565. Quem pode educar na oração?
2685-2690
2694-2695

A família cristã é o primeiro lugar da educação na oração. A oração familiar quotidiana é especialmente recomendada porque é o primeiro testemunho da vida de oração da Igreja. A catequese, os grupos de oração, a «direção espiritual» constituem uma ajuda e uma escola de oração.





AS EXPRESSÕES DA ORAÇÃO

569. Como se caracteriza a oração vocal?
2700-2704
2722

A oração vocal associa o corpo à oração interior do coração. Mesmo a mais interior das orações não poderia prescindir da oração vocal. Em todo o caso, ela deve brotar duma fé pessoal. Com o Pai Nosso, Jesus ensinou-nos uma fórmula perfeita de oração vocal.
570. O que é a meditação?
 2705-2708
2723

A meditação é uma reflexão orante, que parte sobretudo da Palavra de Deus na Bíblia. Mobiliza a inteligência, a imaginação, a emoção, o desejo, para aprofundar a nossa fé, suscitar a conversão do nosso coração e fortalecer a nossa vontade de seguir a Cristo. É uma etapa preliminar em direção à união de amor com o Senhor.
571. O que é a oração contemplativa?
2709-2719;
2724;
2739-2741

A oração contemplativa é um simples olhar sobre Deus no silêncio e no amor. É um dom de Deus, um momento de fé pura durante o qual o orante procura Cristo, se entrega à vontade amorosa do Pai e concentra o seu ser sob a ação do Espírito. Santa Teresa de Ávila define-a como uma íntima relação de amizade, «em que muitas vezes dialogamos a sós com Deus, por Quem sabemos ser amados».
CREIO NA RESSURREIÇÃO DA CARNE”
O termo carne designa o homem na sua condição de fraqueza e de mortalidade. “A carne é o eixo da salvação" (Tertuliano). Com efeito, nós cremos em Deus criador da carne; cremos no Verbo feito carne para redimir a carne; cremos na ressurreição da carne, consumação da criação e da redenção da carne.(990 1015)
Significa que o estado definitivo do homem não será apenas a alma espiritual separada do corpo, mas que também os nossos corpos mortais um dia readquirirão a vida.(990)
Como Cristo ressurgiu verdadeiramente dos mortos e vive para sempre, assim ele próprio ressuscitará a todos no último dia, com um corpo incorruptível: "Aqueles que fizeram o bem ressuscitarão para a vida; e aqueles que praticaram o mal, para a condenação" [Jo 5,29]. (998 1002-1003)
          Com a morte, separação da alma e do corpo, o corpo cai na corrupção, ao passo que a alma, que é imortal, se encaminha para o juízo de Deus e espera unir-se novamente ao corpo quando ele ressurgir transformado na volta do Senhor. Compreender como acontecerá a ressurreição supera as possibilidades da nossa imaginação e do nosso intelecto.
          992-1004 1016-1018
Significa morrer na graça de Deus, sem pecado mortal. O crente em Cristo, seguindo o seu exemplo pode assim transformar a própria morte num ato de obediência e de amor para com o Pai. "E digna de fé esta palavra: Se morremos com ele, com ele viveremos" [2Tm 2,11]. (1005-1014 1019)

"CREIO NA VIDA ETERNA"
A vida eterna é a que terá início logo depois da morte. Ela não terá fim. Será precedida para cada um por um juízo particular por obra de Cristo, juiz dos vivos e dos mortos, e será sancionada pelo juízo final. (1020 1051)
É o juízo de retribuição imediata, que cada qual, desde a sua morte, recebe de Deus na sua alma imortal, em relação à sua fé e às suas obras. Essa retribuição consiste no acesso à bem-aventurança do céu, imediatamente ou depois de uma adequada purificação, ou na condenação eterna no inferno. (1021-10221051)
Por "céu" se entende o estado de felicidade suprema e definitiva. Os que morrem na graça de Deus e não têm necessidade de ulterior purificação são reunidos em torno de Jesus e de Maria, dos anjos e dos santos. Formam assim a Igreja do céu, onde eles vem a Deus "face a face" (1 Cor 13,12), vivem em comunhão de amor coma Santíssima Trindade e intercedem por nós.(1023-10261053)
"A vida, na sua mesma realidade e verdade, é o Pai, que, mediante o Filho e no Espírito Santo, derrama como fonte sobre todos nós os seus dons celestes. E por sua bondade promete verdadeiramente também a nós homens os bens divinos da vida eterna" (São Cirilo de Jerusalém).
O purgatório é o estado dos que morrem na amizade de Deus, mas, embora certos de sua salvação eterna, têm ainda necessidade de purificação para entrar na bem-aventurança celeste. (1030-10311054)
Em virtude da comunhão dos santos, os fiéis ainda peregrinos nesta terra podem ajudar as almas do purgatório, oferecendo por elas orações de sufrágio, em particular o Sacrifício eucarístico, mas também esmolas, indulgências e obras de penitência. (1032)
 Consiste na condenação eterna dos que, por livre escolha, morrem no pecado mortal. A pena principal do inferno consiste na separação eterna de Deus, em quem unicamente o homem tem a vida e a felicidade para as quais foi criado e às quais aspira. Cristo exprime essa realidade com as palavras: "Afastai-vos de mim, malditos. Ide para o fogo eterno" [Mt 25,41]. (1033-10351056-1057)
Deus, embora desejando "que todos venham a converter-se" (2Pe 3,9), todavia, tendo criado o homem livre e responsável, respeita as decisões dele. Portanto, é o próprio homem que, em plena autonomia, se exclui voluntariamente da comunhão com Deus se, até o momento da própria morte, persiste no pecado mortal, recusando o amor misericordioso de Deus.
(1036-1037)
O juízo final (universal) consistirá na sentença de vida bem-aventurada ou de condenação eterna, que o Senhor Jesus, ao retornar como juiz dos vivos e dos mortos, emitirá a respeito "dos justos e dos injustos" (At 24,15), reunidos todos juntos diante dele. Depois desse juízo final, o corpo ressuscitado participará da retribuição que a alma teve no juízo particular.
   1038-1041 1058-1059
          Esse juízo acontecerá no final do mundo, cujo dia e hora somente Deus conhece.  (1040)
Depois do juízo final, o próprio universo, livre da escravidão da corrupção, participará da glória de Cristo com a inauguração dos "novos céus" e de uma "nova terra" (2Pe 3,13). Atingir-se-á assim a plenitude do Reino de Deus, ou seja, a realização definitiva do desígnio salvífico de Deus de "recapitular tudo em Cristo, tudo o que está no céu e na terra" (Ef 1,10). Deus então será "tudo em todos" (1 Cor 15,28) na vida eterna.  (1042-1050 1060)
Alma é um termo que deriva do latim anǐma, este refere-se ao princípio que dá movimento ao que é vivo, o que é animado ou o que faz mover. De anǐma, derivam diversas palavras tais como: animal (em latim, animalia), animador, ...
Religiosamente definida como um ser independente da matéria e que sobrevive à morte do corpo, que se julga continuar viva após a morte do corpo, podendo o seu destino ser a beatitude celestial ou o tormento eterno.
Segundo este ponto de vista, a morte é considerada como a passagem da alma para a vida eterna, no domínio espiritual.
A grande maioria das religiões, cristãs e não-cristãs, concorda em linhas gerais com esta definição. O conceito de uma alma imortal é muito antigo. De facto, as suas raízes remontam ao princípio da história humana


Alma Intelectiva
a alma intelectual
Parte más elevada del alma humana. Maior parte da alma humana.
Esta parte del alma humana no se encuentra ni en los vegetales ni en los animales y gracias a ella el hombre posee las actividades vitales propias de la voluntad o apetito superior y del intelecto o entendimiento . Esta parte da alma humana não é encontrada nem em plantas, nem em animais, mas somente no ser humano dado às atividades vitais da vontade e  intelecto.
alma Sensitiva alma sensível
Presente en los animales y los hombres, el alma sensitiva permite el conocimiento inferior o sensible (la percepción), el apetito inferior (los deseos y apetitos que tienen que ver con el cuerpo como el deseo sexual o las ganas de comer) y el movimiento local. Presente em animais e homens, a alma sensível permite o conhecimento sensível (percepção),  os desejos e apetites que têm a ver com o corpo, como o desejo sexual e o movimento local.
Alma Vegetativa ALMA Vegetativa
Presente en las plantas, los animales y los hombres, permite las actividades vitales más básicas como la reproducción, el crecimiento y la nutrición. Presente nas plantas, animais e homens, permitindo as atividades mais básicas da vida, tais como reprodução, crescimento e nutrição.

Régis Jolivet

A ALMA HUMANA
          Até aqui, limitamo-nos a descrever e analisar os fatos psicológicos, a fim de determinar suas leis empíricas. Trata-se, agora, de deduzir dos fatos observados e das leis estabelecidas a própria natureza desse sujeito metafísico sem o qual os fatos psicológicos e a própria realidade do sujeito são ininteligíveis. É este sujeito metafísico que designamos pelo nome de alma, e que é, como tal, o objeto do que se chama muitas vezes Psicologia racional, uma vez que seu objeto só é acessível à razão.
   Neste último capítulo, que não é, em suma, senão, a conclusão» do conjunto da Psicologia, teremos, então, de tratar das seguintes questões: natureza da alma, união da alma e do corpo e destinada alma.
                 NATUREZA DA ALMA
      O estudo objetivo dos fenômenos psicológicos leva-nos a afirmar que o homem possui uma alma, que é uma substância simples e espiritual. Ao demonstrar cada uma das partes desta asserção, veremos que só temos que tirar conclusões contidas nos resulta dos positivos de nossos precedentes estudos de Cosmologia e de Psicologia.
               Existência e unidade da alma
1. Existência da alma. — É impossível negar a existência da alma, sem tornar, no mesmo instante, ininteligíveis todos os fatos que estudamos.   Com   efeito,   quando   duas coisas têm propriedades opostas, concluímos, legitimamente, que têm duas naturezas diferentes. Ora, constatamos no homem duas categorias de fenômenos perfeitamente distintos: fenômenos materiais, redutíveis a movimentos e por isso quantitativamente mensuráveis (peso, inércia etc), e fenômenos qualitativos (pensamento, vontade, sentimento), irredutíveis a movimentos. Não é possível que fenômenos tão opostos procedam de um só princípio ou, ao menos, de um princípio perfeitamente uno em si mesmo. Devemos, então, admitir no homem a dupla realidade de um corpo e de uma alma, ato primeiro do corpo orgânico.
Unicidade da alma.
a)     O princípio vital único. O homem não é apenas uma inteligência; exerce, também, as funções da vida vegetativa e da vida sensível, que exigem, cada uma, um princípio proporcionado a suas operações próprias. Todavia, o homem, natureza intelectual, não possui três almas, assim como o animal não possui duas almas, uma vegetativa, outra sensitiva. A alma superior assume as funções dos graus inferiores e, sob este aspecto, a alma humana é a um tempo principio da vida vegetativa, da vida sensível e da vida intelectual.
É isto, por outro lado, o que mostra a análise psicológica da consciência: ela nos revelou a existência de um "eu", que aparece no turbilhão e no fluxo incessante dos fenômenos interiores, de qualquer natureza que sejam, como centro de convergência de todos estes fenômenos, como fonte ativa de todos os estados psíquicos (158). Ora, esta consciência do "eu", com seus caracteres, seria completamente inexplicável se a alma não fosse única.
b)     O sentimento de identidade e de responsabilidade. Por outro lado, a alma não é apenas una em número, é também uma no tempo, ou seja, permanece idêntica a si mesma. É isto o que demonstra, claramente, nossa consciência invencível de identidade através de todas as transformações de nossa vida. É o que demonstra, também, o sentimento da responsabilidade: sentimos que temos de responder por nossos atos passados e não poderíamos experimentar um tal sentimento se nossa alma não permanecesse idêntica a si mesma.
SUBSTANCIALIDADE DA ALMA
     1. Noção. — Certos filósofos materialistas quiseram reduzir a alma apenas a uma coleção de fenômenos. Mas esta doutrina contradiz os fatos psicológicos mais positivos. Esses fatos nos obrigam a admitir que a alma é uma substância, quer dizer, uma realidade -permanente, fonte e suporte dos fenômenos da vida.
2. Prova. — Com efeito, se eu posso, a cada instante, evocar meus atos de consciência passados e reconhecê-los como meus, é necessário que alguma coisa de permanente subsista em mim, senão, longe de me reconhecer nos meus estados passados, minha consciência de mim mesmo se desvaneceria à medida que esses estados desaparecessem, e eu só teria de mim mesmo uma consciência sucessiva, sempre limitada ao imediatamente presente.
Assim, a alma é uma substância. Mas esta substância é material ou espiritual? É o que nos falta estabelecer.
Simplicidade da alma
        A alma é simplesmente una em número e una no tempo, quer dizer, idêntica a si mesma, ela é ainda una em sua essência, quer dizer, simples e indivisível, ao contrário das coisas materiais, que são compostas e divisíveis. É o que demonstra a análise das operações da alma.
a)         A sensação. Temos das coisas materiais uma percepção indivisa. Ora, isto não se pode explicar senão pela simplicidade da alma. Se a alma fosse composta de partes, cada uma destas partes perceberia ou todo o objeto ou uma parte apenas do objeto, e nós teríamos então, no primeiro caso, tantas percepções totais quantas partes a alma tivesse, e, no segundo caso, tanta percepções parciais quantas partes tivesse a alma, mas jamais uma percepção una e indivisa do objeto.
b)          A reflexão. A alma pode voltar-se sobre si mesma para conhecer-se nos seus atos. Ora, o que é composto não pode conhecer-se a si mesmo como um todo, porque as partes do composto permanecem necessariamente exteriores umas às outras. A supor que uma parte possa conhecer-se a si mesma, as outras permaneceriam sempre estranhas a ela. Unicamente uma substância simples é capaz de se voltar sobre si mesma, quer dizer, conhecer-se por reflexão.
Espiritualidade da alma
165 Chama-se espiritual todo ser que não depende da matéria nem na sua existência, nem nas suas operações. Ora, dizemos que a alma humana é espiritual. Mas é necessário entender bem em que sentido nós o dizemos. É um fato que as operações sensíveis da alma aproveitam o concurso direto do corpo e que as operações superiores, inteligência e vontade, não podem exercer-se senão através de certas condições orgânicas. Mas a alma, por sua própria natureza, permanece independente do corpo, no sentido de que exerce sem órgão suas funções superiores de inteligência e de vontade, e que é capaz de existir sem o corpo. Dito isto, quais são as provas da espiritualidade da alma?
a)     Prova pela natureza da inteligência. Tal operação, tal natureza. Ora, as operações da inteligência e da vontade, em si mesmas ou intrinsecamente, não dependem do corpo. Logo, a alma, de que procedem, não depende dele, com maior razão, e deve ser chamada subsistente, quer  dizer, capaz de existir sem o corpo.
A inteligência, pelas idéias, conhece imaterialmente as coisas corporais, e seu ato, que nada tem de material nem de quantitativo, não pode proceder de uma faculdade orgânica. A inteligência é, então, uma faculdade espiritual, e a alma de que procede não pode ser senão uma substância espiritual.
b)         A vontade manifesta igualmente a espiritualidade da alma: tende ao bem imaterial e infinito, deseja os bens espirituais, persegue a ciência e a virtude. Ora, isto não se poderia dar se a vontade não fosse uma faculdade espiritual; nenhum ser deseja o que ultrapassa essencialmente a sua natureza e lhe é, portanto, incognoscível. Uma pedra não pode desejar pensar. Devemos, por isso, concluir que a alma, de que procede a vontade, é uma substância espiritual.

c)          Todavia, a alma não é um espírito puro; ela é apenas incompletamente   espiritual.   Porque,   como  já   dissemos,   certas   de suas funções (vegetativas e sensitivas) dependem intrinsecamente dos órgãos corporais, e suas funções superiores (inteligência e vontade) deles dependem extrinsecamente (82). Por isso, é uma substância incompleta, destinada a ser unida a um corpo, e a formar com ele uma única e mesma substância composta que se chama, por esta razão, o composto humano.


O DESTINO DA ALMA
168        A união da alma e do corpo não é indissolúvel: chega um dia em que ela se rompe. Sabemos o que acontece ao corpo. Mas que acontece à alma? Morremos completamente?
Mas antes de mostrar que a alma humana é imortal, cumpre; precisar bem o que se deve entender por imortalidade.
Noção de imortalidade
1.       Definição. — A imortalidade natural é uma propriedade em virtude da qual um ser não pode morrer. Tal é a imortalidade da alma humana. Chama-se natural, enquanto deriva da própria, natureza da alma.
2.       Condições da imortalidade. — A imortalidade natural exige três condições, a saber: que a alma continue a existir, após a dissolução do composto humano, — que, nesta sobrevivência, a alma, conserve sua individualidade e permaneça, por conseguinte, consciente de si mesma e de sua identidade, — que a sobrevivência seja ilimitada.

 Bibliografia  - Teologia Fundamental

1 - CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA: Compêndio  Copyright 2005 - Libreria Editrice Vaticana.
2 – Libanio, J. B. e Murad, Afonso. Introdução à Teologia: Perfil, Enfoques, Tarefas. São Paulo: Loyola.
3 – Libanio, J. B. Crer num mundo de muitas crenças e pouca libertação. São Paulo: Paulinas.
4 - _________  Eu Creio, Nós Cremos: tratado da Fé. São Paulo: Loyola.
5 – Charbonneau, E. Da Teologia ao Homem: ensaio sobre a teologia da libertação. São Paulo: Loyola.
6 – Forte, Bruno. A Teologia como companhia, memória e profecia. São Paulo: Paulinas.
7 – Schillebeeckk, Edward. História Humana: revelação de Deus. São Paulo: Paulus.
8 – Ladaria, Luís F. Introdução à Antropologia Teológica. São Paulo: Loyola.
9 – Queiruga, Andrés Torres. A Revelação de Deus na Realização Humana. São Paulo: Paulus.
10 – Miranda, Mário de França. Libertados para a práxis da justiça: a teologia da graça no atual contexto latino-americano. São Paulo: Loyola.
11 – Mesters, Carlos. Deus, onde estás?
12 – Frosini, Giordano. A Teologia Hoje: síntese do pensamento teológico. Portugal: Editorial Perpétuo Socorro.
13 – Bettencout, Pe Estevão, OSB. Curso de Teologia Fundamental [Escola “Mater Eccleiae”: cursos por correspondência]; Rio de Janeiro: Mosteiro São Bento.
14 – Compêndio do Vaticano II, Petrópolis, RJ: Vozes.

15 -  Wikipédia, a enciclopédia livre.

Prof. Pe José Roberto Rosa





[1][1]         “Adam” (originado do húmus, do barro) denominação usada em Gênesis é um termo ambíguo já que pode ser traduzido para se referir a um indivíduo como para o gênero humano, o ser humano. O mais comum, tanto no uso hebraico como cristão, foi aplicá-lo a um indivíduo que passou a ser denominado de “Adão”. Isso ocasionou, portanto, a limitação de a “imagem e semelhança de Deus” ao homem, fundamentando, em grande parte, o machismo judeu e cristão. Aconteceu que não se prestou suficientemente atenção ao fato de que na tradução dos 70 para o grego a distinção é realizada corretamente. A tradução de Adam é Anthropos, portanto, gênero humano e não um indivíduo. Ora, a partir dessa compreensão, fica claro que a mulher, integrante do gênero humano, é antropos, portanto, imagem e semelhança de Deus igual ao homem.

Nenhum comentário:

Postar um comentário