quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012



ANO A 
SOLENIDADE DO NATAL DO SENHOR – MISSA DA MEIA NOITE

Tema da “missa da meia noite” de Natal

A liturgia desta noite fala-nos de um Deus que ama os homens; por isso, não os deixa perdidos e abandonados a percorrer caminhos de sofrimento e de morte, mas envia “um menino” para lhes apresentar uma proposta de vida e de liberdade. Esse “menino será “a luz” para “o povo que andava nas trevas.
A primeira leitura anuncia a chegada de “um menino”, da descendência de David, dom de Deus ao seu Povo; esse “menino” eliminará a guerra, o ódio, o sofrimento e inaugurará uma era de alegria, de felicidade e de paz sem fim.
O Evangelho apresenta a realização da promessa profética: Jesus, o “menino de Belém”, é o Deus que vem ao encontro dos homens para lhes oferecer – sobretudo aos pobres e marginalizados – a salvação. A proposta que ele traz, não será uma proposta que Deus quer impor pela força; mas será uma proposta que Deus oferece ao homem com ternura e amor.
A segunda leitura lembra-nos as razões pelas quais devemos viver uma vida cristã autêntica e comprometida: porque Deus nos ama verdadeiramente; porque este mundo não é a nossa morada permanente e os valores deste mundo são passageiros; porque, comprometidos e identificados com Cristo, devemos realizar as obras dele.

LEITURA I – Is 9,1-6

Leitura do Livro de Isaías

O povo que andava nas trevas viu uma grande luz;
para aqueles que habitavam nas sombras da morte
uma luz começou a brilhar.
Multiplicastes a sua alegria,
aumentastes o seu contentamento.
Rejubilam na vossa presença,
como os que se alegram no tempo da colheita,
como exultam os que repartem despojos.
Vós quebrastes, como no dia de Madiã,
o jugo que pesava sobre o povo,
o madeiro que ele tinha sobre os ombros
e o bastão do opressor.
Todo o calçado ruidoso da guerra
e toda a veste manchada de sangue
serão lançados ao fogo e tornar-se-ão pasto das chamas.
Porque um menino nasceu para nós,
um filho nos foi dado.
Tem o poder sobre os ombros
e será chamado «Conselheiro admirável, Deus forte,
Pai eterno, Príncipe da paz».
O seu poder será engrandecido numa paz sem fim,
sobre o trono de David e sobre o seu reino,
para o estabelecer e consolidar por meio do direito e da justiça,
agora e para sempre.
Assim o fará o Senhor do Universo.

AMBIENTE

No Livro do profeta Isaías aparece um conjunto de oráculos ditos “messiânicos”, que falam desse mundo de justiça e de paz que Deus, num futuro sem data marcada, vai oferecer ao seu Povo. No entanto, não é seguro se esses textos provêm do profeta, ou se são oráculos posteriores que o editor final da obra de Isaías enxertou no texto original do profeta… É o caso deste texto que nos é proposto.
Se for de Isaías, o nosso texto pertence, provavelmente, à fase final da vida do profeta… Estamos na época do rei Ezequias, no final do séc. VIII a.C.; o rei, desdenhando as indicações do profeta (para quem as alianças políticas são sintoma de grave infidelidade para com Jahwéh, pois significam colocar a confiança e a esperança nos homens), envia embaixadas ao Egito, à Fenícia e à Babilônia, procurando consolidar uma frente contra a grande potência da época – a Assíria. A resposta de Senaquerib, rei da Assíria, não tarda: tendo vencido, sucessivamente, os membros da coligação, volta-se contra Judá, devasta o país e põe cerco a Jerusalém (701 a.C.). Ezequias tem de submeter-se e fica a pagar um pesado tributo aos assírios.
Desiludido com os reis e com a política, o profeta teria, então, começado a sonhar com um tempo novo, sem guerra nem armas, onde reinam a justiça, o direito e o “temor de Deus”. Este texto pode ser dessa época.
O “menino” aqui referenciado, da descendência de David pode, também, estar relacionado com o “Emanuel” de Is 7,14-17. Trata-se, em qualquer caso, de um texto que vai alimentar a esperança messiânica e que vai potenciar o sonho de um futuro novo, de paz e de felicidade para o Povo de Deus.

MENSAGEM

Para descrever a situação de opressão, de frustração, de desespero, de falta de perspectivas, de desconfiança em relação ao futuro em que a comunidade nacional estava mergulhada, o profeta fala de um “povo que andava nas trevas” e que habitava “nas sombras da morte”. O panorama é sombrio e parece não haver saída, pois os reis de Judá já provaram ser incapazes de conduzir o seu Povo em direção à felicidade e à paz.
Mas, de repente, aparece uma “luz”. Essa luz acende a esperança e provoca uma explosão de alegria. Para descrever essa alegria, o profeta utiliza duas imagens extremamente sugestivas: é como quando, no fim das colheitas, toda a gente dança feliz celebrando a abundância dos alimentos; é como quando, após a caçada, os caçadores dividem a presa abundante.
Mas porquê essa alegria e essa felicidade? Porque o jugo da opressão que pesava sobre o Povo foi quebrado e a paz deixou de ser uma miragem para se tornar uma realidade. No quadro que representa a vitória da paz, vemos os símbolos da guerra (o pesado calçado dos guerreiros e as roupas ensanguentadas) a serem destruídos pelo fogo. Quem é que provocou a alegria do Povo, derrotou a opressão, venceu a guerra, restaurou a paz? O autor não o diz claramente; mas ninguém duvida que tudo isso é ação do Deus libertador.
Como foi que Deus instaurou essa nova ordem? Foi através de “um menino”, enviado para restaurar o trono de David e para reinar no direito e na justiça (as palavras “mishpat” e “zedaqa”, utilizadas neste contexto, evocam uma sociedade onde as decisões dos tribunais fundamentam uma reta ordem social, onde os direitos dos pobres e dos oprimidos são respeitados e onde, enfim, há paz). O quádruplo nome desse “menino” evoca títulos de Deus ou qualidades divinas (o título “conselheiro maravilhoso”, celebra a capacidade de conceber desígnios prodigiosos e é um atributo de Deus – cf. Is 25,1; 28,29; o título “Deus forte” é um nome do próprio Jahwéh – cfr. Dt 10,17; Jr 32,18; Sl 24,8; o título “príncipe da paz” leva, também, a Jahwéh, aquele que é “a paz” – cf. Is 11,6-9; Mi 5,4; Zac 9,10; Sl 72,3.7). Quanto ao título “Pai eterno”, é um título do rei – cf. 1 Sm 24,12 – e é um título dado ao faraó nas cartas de Tell el-Amarna). Fica, assim, claro que esse “menino” é um dom de Deus ao seu Povo e que, com ele, Deus residirá no meio do seu Povo, oferecendo-lhe cada dia a justiça, o direito, a paz sem fim.

ATUALIZAÇÃO

A reflexão deste texto pode fazer-se a partir dos seguintes elementos:

¨ É Jesus, o “menino de Belém”, que dá sentido pleno a esta profecia messiânica de Isaías. Ele é “aquele que veio de Deus” para vencer as trevas e as sombras da morte que ocultavam a esperança e instaurar o mundo novo da justiça, da paz e da felicidade. O nascimento de Jesus que celebramos esta noite significa que, efetivamente, este “Reino” chegou e encarnou no meio dos homens. No entanto: ele é hoje uma realidade instituída, viva, atuante na história humana? Porquê?

¨ Acolher Jesus, celebrar o seu nascimento, é aceitar esse projeto de justiça e de paz que Ele veio trazer aos homens. Esforçamo-nos por tornar realidade o “Reino de Deus”? Como lidamos com a injustiça, a opressão, a guerra, a violência: com a indiferença de quem sente que não tem nada a ver com isso, ou com a inquietação de quem se sente responsável pela instauração do “Reino de Deus”?

¨ Em que ou em quem eu coloco a minha esperança e a minha segurança? Nos políticos que me prometem tudo e se servem da minha ingenuidade para fins próprios? No dinheiro que se desvaloriza e que não serve para comprar a paz do meu coração? Na situação sólida da minha empresa, que pode desfazer-se diante das próximas convulsões sociais ou durante a próxima crise energética? Isaías diz que só podemos confiar em Deus e nesse “menino” que Ele mandou ao nosso encontro, se quisermos encontrar a “luz” e a paz.

¨ Reparemos, ainda, no “jeito” de Deus: Ele não se serve da força e do poder para intervir na história e para mudar o mundo; mas é através de um “menino” – símbolo máximo da fragilidade e da dependência – que Deus propõe aos homens o seu projeto de salvação. Temos consciência de que é na simplicidade e na humildade que Deus age no mundo? E nós, seguimos os passos de Deus e respeitamos a sua lógica quando queremos propor algo aos nossos irmãos?

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 95 (96)

Refrão: Hoje nasceu o nosso Salvador, Jesus Cristo, Senhor.

Cantai ao Senhor um cântico novo,
cantai ao Senhor, terra inteira,
cantai ao Senhor, bendizei o seu nome.

Anunciai dia a dia a sua salvação,
publicai entre as nações a sua glória,
em todos os povos as suas maravilhas.

Alegrem-se os céus, exulte a terra,
ressoe o mar e tudo o que ele contém,
exultem os campos e quanto neles existe,
alegrem-se as árvores das florestas.

Diante do Senhor que vem,
que vem para julgar a terra:
julgará o mundo com justiça
e os povos com fidelidade.

LEITURA II – Tito 2,1-14

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo a Tito

Caríssimo:
Manifestou-se a graça de Deus,
fonte de salvação para todos os homens,
ensinando-nos a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos
para vivermos, no tempo presente,
com temperança, justiça e piedade,
aguardando a ditosa esperança e a manifestação da glória
do nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo,
que Se entregou por nós,
para nos resgatar de toda a iniqüidade
e preparar para Si mesmo um povo purificado,
zeloso das boas obras.

AMBIENTE

Tito, o destinatário desta carta, é um cristão convertido por Paulo (cf. Tt 1,4), que acompanhou o apóstolo em algumas missões importantes (participou, com Paulo, no concílio de Jerusalém – cf. Ga 2,1-2; esteve com ele em Éfeso; por duas vezes, foi enviado a Corinto, a fim de resolver conflitos entre Paulo e essa comunidade – cf. 2 Cor 7,6-7; 8,16-17) e que foi animador da Igreja de Creta (cf. Tt 1,5).
No entanto, esta carta não parece ser de Paulo; parece, antes, ser um texto tardio, surgido quando a preocupação fundamental das comunidades cristãs já não se centrava na vinda iminente do Senhor, mas em definir a conduta dos cristãos no tempo presente. Estamos numa época de certo marasmo, em que os cristãos perderam o entusiasmo inicial e em que muitos aparecem instalados, acomodados numa fé morna e sem grandes exigências. Era preciso recordar os fundamentos da fé e exortar a uma vida cristã exigente e comprometida. Neste contexto, a preocupação fundamental do autor desta carta será apresentar uma série de conselhos práticos que ajudem os cristãos a viver, com coerência e com verdade, a sua fé no meio do mundo.

MENSAGEM

Neste fragmento, verdadeiro centro e coração de toda a carta, o autor tenta dar aos cristãos razões válidas para viver uma vida cristã autêntica e comprometida. Quais são essas razões?
A primeira é o amor (“kharis”) de Deus, que foi oferecido a todos os homens. É esse amor que possibilita a renúncia à impiedade e aos desejos deste mundo e a vivência da temperança, da justiça e da piedade; sendo os destinatários desse amor transformador e renovador, temos de viver uma vida nova e comprometida com o Evangelho.
A segunda é a esperança na manifestação gloriosa de Cristo, que convida os homens a perceber que a terra não é a sua pátria definitiva; quem espera a segunda vinda de Cristo, percebe que só faz sentido olhar para os bens essenciais; consequentemente, desprezará os bens materiais, que só interessam a este mundo.
A terceira é a obra redentora levada a cabo por Cristo. Cristo entregou-se totalmente, até à morte, para nos salvar do egoísmo, do orgulho, do pecado e para fazer de nós homens novos. Ligados a Ele pelo batismo, tornamo-nos um com Ele e recebemos vida d’Ele… Se estamos ligados a Cristo e se recebemos d’Ele vida, essa vida tem de manifestar-se na nossa existência diária.

ATUALIZAÇÃO

A reflexão pode fazer-se a partir das seguintes questões:

¨ Temos consciência do amor de Deus e que a encarnação de Jesus é o sinal mais expressivo desse amor por nós? Sendo os destinatários de um tal amor, amamos Deus da mesma maneira? A nossa vida é uma resposta coerente ao amor de Deus – isto é, um compromisso autêntico com Deus e com os seus valores?

¨ A nossa civilização ocidental institucionalizou e sacralizou uma série de valores efêmeros (dinheiro, poder, êxito profissional, “status” social, bens de consumo…) e montou uma máquina de publicidade eficaz para apresentá-los como a chave da verdadeira felicidade. No entanto, com freqüência esses valores estão em absoluta contradição com os valores do Evangelho… Aprendemos, com Jesus, a ter um olhar crítico sobre os valores que o mundo nos propõe e a confrontar, dia a dia, a nossa vida com os valores do Evangelho?

¨ É Cristo a nossa referência? É d’Ele que recebemos vida? O seu “jeito” de viver (no amor, na entrega, no dom da vida) foi assumido na nossa vida de todos os dias e na nossa relação com os irmãos que nos rodeiam?

ALELUIA – Lc 2,10-11

Aleluia. Aleluia.

Anuncio-vos uma grande alegria:
Hoje nasceu o nosso salvador, Jesus Cristo, Senhor.

EVANGELHO – Lc 2,1-14

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas

Naqueles dias, saiu um decreto de César Augusto,
para ser recenseada toda a terra.
Este primeiro recenseamento efetuou-se
quando Quirino era governador da Síria.
Todos se foram recensear, cada um à sua cidade.
José subiu também da Galiléia, da cidade de Nazaré,
à Judéia, à cidade de David, chamada Belém,
por ser da casa e da descendência de David,
a fim de se recensear com Maria, sua esposa,
que estava para ser mãe.
Enquanto ali se encontravam,
chegou o dia de ela dar à luz
e teve o seu Filho primogênito.
Envolveu-O em panos e deitou-O numa manjedoura,
porque não havia lugar para eles na hospedaria.
Havia naquela região uns pastores que viviam nos campos
e guardavam de noite os rebanhos.
O Anjo do Senhor aproximou-se deles
e a glória do Senhor cercou-os de luz;
e eles tiveram grande medo.
Disse-lhes o Anjo: «Não temais,
porque vos anuncio uma grande alegria para todo o povo:
nasceu-vos hoje, na cidade de David, um Salvador,
que é Cristo Senhor.
Isto vos servirá de sinal:
encontrareis um Menino recém-nascido,
envolto em panos e deitado numa manjedoura».
Imediatamente, juntou-se ao Anjo
uma multidão do exército celeste,
que louvava a Deus, dizendo:
«Glória a Deus nas alturas
e paz na terra aos homens por Ele amados».

AMBIENTE

Lucas é o evangelista mais preocupado com as referências históricas… O seu Evangelho está cheio de indicações que procuram situar com precisão os acontecimentos… No que diz respeito ao nascimento de Jesus, Lucas apresenta, também, algumas indicações que pretendem situar o acontecimento numa época e num espaço concreto… Dessa forma, Lucas dá a entender que não estamos diante de um fato lendário, mas de algo perfeitamente integrado na vida e na história dos homens.
Há, no entanto, um problema… Lucas é um cristão de origem grega, que não conhece a Palestina e que tem noções muito básicas da história do Povo de Deus… Por isso, as suas indicações históricas e geográficas são, com alguma freqüência, imprecisas e incertas. Pode ser o caso das indicações fornecidas a propósito do nosso texto, já que não é muito fácil explicá-las.
É duvidoso que Quirino, como governador, tenha ordenado um recenseamento na época em que Jesus nasceu (só por volta do ano 6 d.C. é que ele se tornou governador da Síria, embora possa ter sido “legado” romano na Síria entre 12 e 8 a.C.… Pode, realmente, nessa altura, ter ordenado um recenseamento que teve efeitos práticos na Palestina por volta de 6/7 a.C., altura do nascimento de Jesus).
De qualquer forma, convém ter em conta que Lucas não está a escrever história, mas a fazer teologia e a apresentar uma catequese sobre Jesus, o Filho de Deus que veio ao encontro dos homens para lhes apresentar uma proposta de salvação.

MENSAGEM

A primeira indicação importante vem da referência a Belém como o lugar do nascimento de Jesus… É uma indicação mais teológica do que geográfica: o objetivo do autor é sugerir que este Jesus é o Messias, da descendência de David (a família de David era natural de Belém), anunciado pelos profetas (cf. Miq 5,1). Fica, desta forma, claro que o nascimento de Jesus se integra no plano de salvação que Deus tem para os homens – plano que os profetas anunciaram e cuja realização o Povo de Deus aguardava ansiosamente.
Uma segunda indicação importante resulta do “quadro” do nascimento. Lucas descreve com algum pormenor a pobreza e a simplicidade que rodeiam a vinda ao mundo do libertador dos homens: a falta de lugar na hospedaria, a manjedoura dos animais a fazer de berço, os panos improvisados que envolvem o bebê, a visita dos pastores… É na pobreza, na simplicidade, na fragilidade, que Deus se manifesta aos homens e lhes oferece a salvação. Os esquemas de Deus não se impõem pela força das armas, pelo poder do dinheiro ou pela eficácia de uma boa campanha publicitária; mas Deus escolhe vir ao encontro dos homens na simplicidade, na fraqueza, na ternura de um menino nascido no meio de animais, na absoluta pobreza. É assim que Deus entra na nossa história… É assim a lógica de Deus.
Uma terceira indicação é dada pela referência às “testemunhas” do nascimento: os pastores. Trata-se de gente considerada rude, violenta, marginal, que invadiam com os rebanhos as propriedades alheias e que tinham fama de se apropriar da lã, do leite e das crias do rebanho em benefício próprio. Eram, com freqüência, colocados ao lado dos publicanos e dos cobradores de impostos pela rígida moral dos fariseus: uns e outros eram pecadores públicos, incapazes de reparar o mal que tinham feito, tantas eram as pessoas a quem tinham prejudicado. Ora, Lucas coloca, precisamente, esses marginais como as “testemunhas” que acolhem Jesus. O evangelista sugere, desta forma, que é para estes pecadores e marginalizados que Jesus vem; por isso, a chegada de um tal “salvador” é uma “boa notícia”: a partir de agora, os pobres, os débeis, os marginalizados, os pecadores, são convidados a integrar a comunidade dos filhos amados de Deus. Eles vêm ao encontro dessa salvação que Deus lhes oferece, em Jesus, e são convidados a integrar a comunidade da nova aliança, a comunidade do “Reino”.
Uma quarta indicação aparece nos títulos dados a Jesus pelos anjos que anunciam o nascimento: Ele é “o salvador, Cristo Senhor”. O título “salvador” era usado, na época de Lucas, para designar o imperador ou os deuses pagãos; Lucas, ao chamar Jesus desta forma, apresenta-O como a única alternativa possível a todos os absolutos que o homem cria… O título “Cristo” equivale a “Messias”: aplicava-se, no judaísmo palestinense do séc. I, a um rei da descendência de David, que viria restaurar o reino ideal de justiça e de paz da época davídica; dessa forma, Lucas sugere que o “menino de Belém” é esse rei esperado. O título “Senhor” expressa o caráter transcendente da pessoa de Jesus e o seu domínio sobre a humanidade. Com estes três títulos, a catequese lucana apresenta Jesus aos homens e define o seu papel e a sua missão.

ATUALIZAÇÃO

A reflexão sobre este texto pode partir das seguintes indicações:

¨ O menino de Belém leva-nos a contemplar o incrível amor de um Deus que se preocupa até ao extremo com a vida e a felicidade dos homens e que envia o próprio Filho ao mundo para apresentar aos homens um projeto de salvação/libertação. Nesse menino de Belém, Deus grita-nos a radicalidade do seu amor por nós.

¨ O presépio apresenta-nos a lógica de Deus que não é, tantas vezes, igual à lógica dos homens: a salvação de Deus não se manifesta nos encontros internacionais onde os donos do mundo decidem o destino dos homens, nem nos gabinetes ministeriais, nem nos conselhos de administração das multinacionais, nem nos salões onde se concentram as estrelas, mas numa gruta de pastores onde brilha a fragilidade, a dependência, a ternura, a simplicidade de um bebê recém-nascido. Qual é a lógica com que abordamos o mundo: a lógica de Deus ou a lógica dos homens?

¨ A presença libertadora de Jesus neste mundo é uma “boa notícia” que devia encher de felicidade os pobres, os débeis, os marginalizados e dizer-lhes que Deus os ama, que quer caminhar com eles e que quer oferecer-lhes a salvação. É essa proposta que nós, os seguidores de Jesus, passamos ao mundo? Nós, Igreja, não estaremos demasiado ocupados a discutir questões laterais, esquecendo o essencial, o anúncio libertador aos pobres?

¨ Jesus – o Jesus da justiça, do amor, da fraternidade e da paz – já nasceu, de forma efetiva, na vida de cada um de nós, nas nossas famílias, nas nossas casas religiosas, nas nossas comunidades cristãs?


ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA A SOLENIDADE DE NATAL – Missa da “meia noite”

1. A liturgia meditada ao longo da semana.
Ao longo dos dias da semana anterior ao Dia de Natal, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa…

2. Uma assembléia excepcional.
Com vigília de Natal ou não, é preciso não esquecer que grande parte da assembléia nesta missa é composta por cristãos que só vêm à igreja uma vez por ano: precisamente nesta noite! É preciso que também eles se encontrem nesta liturgia de Natal… e não sejam “enxotados” por só virem à igreja uma vez no ano. A atitude de acolhimento passa por aí… talvez a partir dessa atitude possa haver mais participação na vida da Igreja.

3. Oração na lectio divina.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

No final da primeira leitura:
Jesus, Filho de Deus e Filho de David, em Ti o povo que caminhava nas trevas da noite viu erguer-se uma grande luz; criança que nos é dada, Tu és o Deus forte, o Príncipe da Paz, Conselheiro admirável.
Tantos povos e pessoas habitam ainda países das sombras. Guia-os nos caminhos da vida, da luz, do direito e da paz.

No final da segunda leitura:
Bendito sejas, Deus Nosso Pai, porque em Jesus, teu Filho, a tua graça tornou-se visível e manifestou-se para a salvação de todos os homens.
Purifica-nos das paixões egoístas desta terra, faz de nós um povo ardente que irradie a justiça e o bem. Que o teu Espírito nos inspire a viver no mundo presente como homens razoáveis, justos e religiosos.

No final do Evangelho:
Jesus, Messias, nosso irmão, Tu que te tornaste criança e que foste colocado num presépio, Tu que o Pai glorificou pela ressurreição, glória a Ti no mais alto dos céus. Com os anjos, prostramo-nos diante de Ti.
Que a tua presença no meio de nós traga de novo a Paz ao mundo, que o teu Espírito faça de nós portadores de Luz, de Paz e de Alegria.

4. Oração Eucarística.
Pode-se escolher a Oração Eucarística II, com as variantes próprias da Festa de Natal. O presidente pode cantar a parte da narração da instituição.

5. Palavra para o caminho.
Uma Criança!
Nas trevas e no caos de uma sociedade que só crê na força, na violência, na guerra…, Natal é a inversão destes valores. «Deus conosco” numa Criança!
Estamos preparados para arriscar com Ele nesta aventura, a única capaz de inverter a espiral infernal do Mal?
Natal é isso! E levantar-se-á sobre o mundo uma grande Luz!



FESTA DA SAGRADA FAMÍLIA
Tema da Festa da Sagrada Família
A liturgia deste domingo propõe-nos a família de Jesus, como exemplo e modelo das nossas comunidades familiares… As leituras fornecem indicações práticas para nos ajudar a construir famílias felizes, que sejam espaços de encontro, de partilha, de fraternidade, de amor verdadeiro.
O Evangelho apresenta uma catequese sobre Jesus e a missão que o Pai lhe confiou; mas, sobretudo, propõe-nos o quadro de uma família exemplar – a família de Nazaré. Nesse quadro há duas coordenadas que são postas em relevo: trata-se de uma família onde existe verdadeiro amor e verdadeira solidariedade entre os seus membros; e trata-se de uma família que escuta Deus e que segue, com absoluta confiança, os caminhos por ele propostos.
A segunda leitura sublinha a dimensão do amor que deve brotar dos gestos dos que vivem “em Cristo” e aceitaram ser Homem Novo. Esse amor deve atingir, de forma muito especial, todos os que conosco partilham o espaço familiar e deve traduzir-se em determinadas atitudes de compreensão, de bondade, de respeito, de partilha, de serviço.
A primeira leitura apresenta, de forma muito prática, algumas atitudes que os filhos devem ter para com os pais… É uma forma de concretizar esse amor de que fala a segunda leitura.

LEITURA I – Sir 3,2-6.12-14

Leitura do Livro de Ben-Sirá

Deus quis honrar os pais nos filhos
e firmou sobre eles a autoridade da mãe.
Quem honra seu pai obtém o perdão dos pecados
e acumula um tesouro quem honra sua mãe.
Quem honra o pai encontrará alegria nos seus filhos
e será atendido na sua oração.
Quem honra seu pai terá longa vida,
e quem lhe obedece será o conforto de sua mãe.
Filho, ampara a velhice do teu pai
e não o desgostes durante a sua vida.
Se a sua mente enfraquece, sê indulgente para com ele
e não o desprezes, tu que estás no vigor da vida,
porque a tua caridade para com teu pai nunca será esquecida
e converter-se-á em desconto dos teus pecados.

AMBIENTE

O Livro de Ben Sirá (também chamado “Eclesiástico”) é um livro de caráter sapiencial que, como todos os livros sapienciais, tem por objetivo deixar aos candidatos a “sábios” um conjunto de indicações práticas sobre a arte de bem viver e de ser feliz. O seu autor é um tal Jesus Ben Sirá, um “sábio” israelita que viveu na primeira metade do séc. II a.C.…
A época de Jesus Ben Sirá é uma época conturbada, para o Povo de Deus. Os selêucidas dominavam a Palestina e procuravam impor aos judeus, com agressividade, a cultura helênica. Muitos judeus, seduzidos pelo brilho da cultura grega, abandonavam os valores tradicionais e a fé dos pais e assumiam comportamentos mais consentâneos com a “modernidade”. A identidade cultural e religiosa do Povo de Deus corria, assim, sérios riscos… Neste contexto, Jesus Ben Sirá – um “sábio” tradicional – escreve para preservar as raízes do seu Povo. No seu livro, apresenta uma síntese da religião tradicional e da “sabedoria” de Israel e procura demonstrar que é no respeito pela sua fé, pelos seus valores, pela sua identidade que os judeus podem descobrir o caminho seguro para a felicidade.

MENSAGEM

O nosso texto apresenta uma série de indicações práticas que os filhos devem ter em conta nas relações com os pais.
A palavra que preside a este conjunto de conselhos do “sábio” Ben Sirá é a palavra “honrar” (repete-se 5 vezes, nestes poucos versículos). O que é que significa, exatamente, “honrar os pais”?
A expressão leva-nos ao Decálogo do Sinai (“honra teu pai e tua mãe” – Ex 20,12). Aí, o verbo utilizado é o verbo “kabad”, que costuma traduzir-se como “dar glória”, “dar peso”, “dar importância”. Assim, “honrar os pais” é dar-lhes o devido valor e reconhecer a sua importância; é que eles são os instrumentos de Deus, fonte de vida.
Ora, reconhecer que os pais são o instrumento através do qual Deus concede a vida deve conduzir os filhos à gratidão; e a gratidão não é, apenas, uma declaração de intenções, mas um sentimento que implica certas atitudes práticas. Jesus Ben Sirá aponta algumas: “honrar os pais” significa ampará-los na velhice e não os desprezar nem abandonar; significa assisti-los materialmente – sem inventar qualquer desculpa – quando já não podem trabalhar (Mc 7,10-11); significa não fazer nada que os desgoste; significa escutá-los, ter em conta as suas orientações e conselhos; significa ser indulgente para com as limitações que a idade ou a doença trazem…
Dado o contexto da época em que Ben Sirá escreve, é natural que, por detrás destas indicações aos filhos, esteja também a preocupação com o manter bem vivos os valores tradicionais, esses valores que os mais antigos preservam cuidadosamente e que os mais novos, às vezes, negligenciam.
Como recompensa desta atitude de “honrar os pais”, Jesus Ben Sirá promete o perdão dos pecados, a alegria, a vida longa e a atenção de Deus.

ATUALIZAÇÃO

A reflexão deste texto pode fazer-se a partir dos seguintes dados:

¨ Sentimo-nos gratos aos nossos pais porque eles aceitaram ser, em nosso favor, instrumentos do Deus criador? Lembramo-nos de lhes demonstrar a nossa gratidão?

¨ Apesar da sensibilidade moderna aos direitos humanos e à dignidade das pessoas, a nossa civilização cria, com freqüência, situações de abandono, de marginalização, de solidão, cujas vítimas são, muitas vezes, aqueles que já não têm uma vida considerada produtiva, ou aqueles a quem a idade ou a doença trouxeram limitações. Que motivos justificam o desprezo, o abandono, o “virar as costas” àqueles a quem devemos “honrar”?

¨ É verdade que a vida de hoje é muito exigente a nível profissional e que nem sempre é possível a um filho estar presente ao lado de um pai que precisa de cuidados ou de acompanhamento especializado. No entanto, a situação é muito menos compreensível se o afastamento de um pai do convívio familiar (e o seu internamento num lar) resulta do egoísmo do filho, que não está para “aturar o velho”… Sem julgarmos nem condenarmos ninguém, que sentido é que faz “desfazermo-nos” daqueles que foram, para nós, instrumentos do Deus criador e fonte de vida?

¨ O capital de maturidade e de sabedoria de vida que os mais idosos possuem é considerado por nós uma riqueza ou um desafio ridículo à nossa modernidade e às nossas certezas?

¨ Face à invasão contínua de valores estranhos que, tantas vezes, põem em causa a nossa identidade cultural e religiosa (quando não a nossa humanidade), o que significam os valores que recebemos dos nossos pais? Avaliamos com maturidade a perenidade desses valores, ou estamos dispostos a renegá-los ao primeiro aceno dos “valores da moda”?

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 127 (128)

Refrão 1: Felizes os que esperam no Senhor,
e seguem os seus caminhos.

Refrão 2: Ditosos os que temem o Senhor,
ditosos os que seguem os seus caminhos.

Feliz de ti, que temes o Senhor
e andas nos seus caminhos.
Comerás do trabalho das tuas mãos,
serás feliz e tudo te correrá bem.

Tua esposa será como videira fecunda
no íntimo do teu lar;
teus filhos serão como ramos de oliveira
ao redor da tua mesa.

Assim será abençoado o homem que teme o Senhor.
De Sião te abençoe o Senhor:
vejas a prosperidade de Jerusalém
todos os dias da tua vida.

LEITURA II – Cl 3,12-21

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Colossenses

Irmãos:
Como eleitos de Deus, santos e prediletos,
revesti-vos de sentimentos de misericórdia,
de bondade, humildade, mansidão e paciência.
Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente,
se algum tiver razão de queixa contra outro.
Tal como o Senhor vos perdoou,
assim deveis fazer vós também.
Acima de tudo, revesti-vos da caridade,
que é o vínculo da perfeição.
Reine em vossos corações a paz de Cristo,
à qual fostes chamados para formar um só corpo.
E vivei em ação de graças.
Habite em vós com abundância a palavra de Cristo,
para vos instruirdes e aconselhardes uns aos outros
com toda a sabedoria;
e com salmos, hinos e cânticos inspirados,
cantai de todo o coração a Deus a vossa gratidão.
E tudo o que fizerdes, por palavras ou por obras,
seja tudo em nome do Senhor Jesus,
dando graças, por Ele, a Deus Pai.
Esposas, sede submissas aos vossos maridos,
como convém no Senhor.
Maridos, amai as vossas esposas
e não as trateis com aspereza.
Filhos, obedecei em tudo a vossos pais,
porque isto agrada ao Senhor.
Pais, não exaspereis os vossos filhos,
para que não caiam em desânimo.

AMBIENTE

A Igreja
de Colossos, destinatária desta carta, foi fundada por Epafras, um amigo de Paulo, pelos anos 56/57. Tanto quanto sabemos, Paulo nunca visitou a comunidade…
Hoje, não é claro para todos que Paulo tenha escrito esta carta (o vocabulário utilizado e o estilo do autor estão longe das cartas indiscutivelmente paulinas; também a teologia apresenta elementos novos, nunca usados nas outras cartas atribuídas a Paulo); por isso, é um tanto ou quanto difícil definirmos o ambiente em que este texto apareceu…
Para os defensores da autoria paulina, contudo, a carta foi escrita quando Paulo estava prisioneiro, possivelmente em Roma (anos 61/63). Epafras teria visitado o apóstolo na prisão e deixado notícias alarmantes: os colossenses corriam o risco de se afastar da verdade do Evangelho, por causa das doutrinas ensinadas por certos doutores de Colossos. Essas doutrinas misturavam práticas legalistas (o que parece indicar tendências judaizantes) com especulações acerca do culto dos anjos e do seu papel na salvação; exigiam um ascetismo rígido e o cumprimento de certos ritos de iniciação, destinados a comunicar aos crentes um conhecimento mais adequado dos mistérios ocultos e levá-los, através dos vários graus de iniciação, à vivência de uma vida religiosa mais autêntica.
Sem refutar essas doutrinas de modo direto, o autor da carta afirma a absoluta suficiência de Cristo e assinala o seu lugar proeminente na criação e na redenção dos homens.
O texto que nos é hoje proposto pertence à segunda parte da carta. Depois de constatar a supremacia de Cristo na criação e na redenção (1ª parte), o autor avisa os colossenses de que a união com Cristo traz conseqüências a nível de vivência prática (2ª parte): implica a renúncia ao “homem velho” do egoísmo e do pecado e o “revestir-se do Homem Novo”.

MENSAGEM

O que é que significa, concretamente, “revestir-se do Homem Novo”?
Para o autor da carta, viver como “Homem Novo” é cultivar um conjunto de virtudes que resultam da união do cristão com Cristo: misericórdia, bondade, humildade, mansidão, paciência. Lugar especial ocupa o perdão das ofensas, a exemplo de Cristo que sempre manifestou uma grande capacidade de perdão. Estas virtudes, que devem ornar a vida do cristão, são exigências e manifestações da caridade, que é a fonte de onde brotam todas as virtudes do cristão.
Catálogos de exigências como este apareciam também nos discursos éticos dos gregos… O que é novo, aqui, é a fundamentação: tais exigências resultam da íntima relação do cristão com Cristo; viver “em Cristo” implica viver, como Ele, no amor total, no serviço, na disponibilidade, no dom da vida.

Uma vez apresentado o ideal da vida cristã nas suas linhas gerais, o autor da carta aplica o que acabou de dizer ao âmbito mais concreto da vida familiar. Às mulheres, recomenda o respeito para com os maridos (a referência à submissão das esposas deve ser entendida na perspectiva da linguagem e da prática da época); aos maridos, convida a amar as esposas, evitando o domínio tirânico sobre elas; aos filhos, recomenda a obediência aos pais; aos pais, com intuição pedagógica, pede que não sejam excessivamente severos para com os filhos, pois isso pode impedir o normal desenvolvimento das suas capacidades… Para uns e para outros, é essa “caridade” (“agapê”) – entendida como amor de doação, de entrega, a exemplo de Jesus que amou até ao dom da vida – que deve presidir às relações entre os membros de uma família.
É desta forma que, no espaço familiar, se manifesta o Homem Novo, o homem transformado por Cristo e que vive segundo Cristo.

ATUALIZAÇÃO

Na reflexão, considerar os seguintes elementos:

¨ Viver “em Cristo” implica fazer do amor a nossa referência fundamental e deixar que ele se manifeste em gestos concretos de bondade, de perdão, de doação, de compreensão, de respeito pelo outro, de partilha, de serviço… É este o quadro em que se desenvolvem as nossas relações com aqueles que nos rodeiam?

¨ A nossa primeira responsabilidade vai, evidentemente, para aqueles que conosco partilham, de forma mais chegada, a vida do dia a dia (a nossa família). Esse amor que deve revestir-nos sempre, traduz-se numa atenção contínua àquele que está ao nosso lado, às suas necessidades e preocupações, às suas alegrias e tristezas? Traduz-se em gestos sentidos e partilhados de carinho e de ternura? Traduz-se num respeito absoluto pela liberdade e pelo espaço do outro, por um deixar o outro crescer sem o sufocar? Traduz-se na vontade de servir o outro, sem nos servirmos dele?

¨ As mulheres não gostam de ouvir Paulo pedir-lhes a submissão aos maridos… No entanto, não devem ser demasiado severas com o autor desta carta: ele é um homem do seu tempo, que usa a linguagem do seu tempo e que coloca as coisas nos termos à volta dos quais se organizavam as comunidades familiares da época… Não podemos exigir ao autor desta carta (que escreve há quase dois mil anos) a mesma linguagem e a mesma sensibilidade que temos hoje, a propósito destas questões. Apesar de tudo, convém recordar que o autor da carta aos colossenses não se esquece de pedir aos maridos que amem as suas mulheres e que não as tratem com aspereza: sugere, desta forma, que a mulher tem, em relação ao marido, igual dignidade.

ALELUIA – Cl 3,15a.16a

Aleluia. Aleluia.

Reine em vossos corações a paz de Cristo,
habite em vós a sua palavra.

EVANGELHO – Mt 2,13-15.19-23

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Depois de os Magos partirem,
o Anjo do Senhor apareceu em sonhos a José e disse-lhe:
«Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe e foge para o Egito
e fica lá até que eu te diga,
pois Herodes vai procurar o Menino para O matar».
José levantou-se de noite,
tomou o Menino e sua Mãe e partiu para o Egito
e ficou lá até à morte de Herodes,
para se cumprir o que o Senhor anunciara pelo profeta:
«Do Egito chamei o meu filho».
Quando Herodes morreu,
o Anjo apareceu em sonhos a José no Egito e disse-lhe:
«Levanta-te, toma o Menino e sua Mãe
e vai para a terra de Israel,
pois aqueles que atentavam contra a vida do Menino
já morreram».
José levantou-se, tomou o Menino e sua Mãe,
e voltou para a terra de Israel.
Mas, quando ouviu dizer que Arquelau reinava na Judéia,
em lugar de seu pai, Herodes,
teve receio de ir para lá.
E, avisado em sonhos, retirou-se para a região da Galiléia
e foi morar numa cidade chamada Nazaré,
para se cumprir o que fora anunciado pelos Profetas:
«Há-de chamar-Se Nazareno».

AMBIENTE

O interesse fundamental dos primeiros cristãos não se centrou na infância de Jesus, mas na sua mensagem e proposta; por isso, conservaram especialmente as recordações sobre a vida pública e a paixão do Senhor.
Só num estádio posterior houve uma certa curiosidade acerca dos primeiros anos da vida de Jesus. Coligiram-se, então, algumas escassas informações históricas sobre a infância de Jesus e amassou-se esse material com reflexões e com a catequese que a comunidade fazia acerca de Jesus. O chamado “Evangelho da Infância” (de que faz parte o texto que nos é hoje proposto), assenta nessa base; parte de algumas indicações históricas e desenvolve uma reflexão teológica para explicar quem é Jesus. Nesta secção do Evangelho (cf. Mt 1-2), Mateus está muito mais interessado em dizer quem é Jesus, do que em fazer uma reportagem histórica sobre a sua infância.
Para compor o “Evangelho da Infância”, Mateus serviu-se de motivos e recursos literários que se utilizavam na literatura judia e helenística para contar a infância de heróis: misteriosos relatos de anunciação, ameaças contra a sua vida, intervenção de Deus, sinais extraordinários. Mateus serviu-se, ainda, de um recurso muito utilizado pelos escritores judaicos – o “midrash haggádico” (que consistia em comentar um texto da Escritura através de um pequeno relato). A diferença entre Mateus e os escritores judaicos é que, enquanto estes partiam de um texto da Escritura, o evangelista parte da figura de Jesus.
O nosso texto não deve, portanto, ser visto como uma informação histórica, mas como uma construção artificiosa, destinada a responder à questão: “quem é Jesus?”.

MENSAGEM

Na base do relato que nos é proposto, estão citações do Antigo Testamento… Mateus parte daí para apresentar uma reflexão cujo objetivo final é dizer quem é Jesus. Escrevendo para cristãos vindos do judaísmo, que conhecem bem o Antigo Testamento, Mateus recorre às antigas profecias para explicar quem é Jesus e qual a sua missão. Ao mesmo tempo, mostra como Jesus cumpriu plenamente essas antigas profecias.

Uma parte significativa do nosso texto (cf. Mt 2,13-15) está construída sobre Os 11,1 (“do Egito chamei o meu filho”).
Mateus apresenta um conjunto de detalhes, a propósito deste episódio, que recordam os inícios da vida de Moisés: o massacre das crianças de Belém pelo rei Herodes (cf. Mt 2,16-18) recorda a ordem do faraó de atirar ao Nilo os bebês hebreus do sexo masculino (cf. Ex 1,22); a fuga do menino Jesus através do deserto (cf. Mt 2,14) recorda a fuga do jovem Moisés através do deserto para salvar a vida (cf. Ex 2,15); o regresso de Jesus do Egito quando já tinham morrido aqueles que queriam matá-lo (cf. Mt 2,15) recorda o regresso de Moisés ao Egito quando já tinham morrido aqueles que queriam matá-lo (cf. Ex 4,19)... Através destas referências, Jesus aparece como um novo Moisés, que libertará o novo Povo de Deus e que dará a nova Lei a esse Povo (cf. Mt 5-7).
Por outro lado, Mateus põe, também, em paralelo o caminho de Jesus e o caminho do Povo de Israel. A fuga de José com Maria e o menino, recorda a ida para o Egito da família de Jacob, que emigrou para o Egito por desígnio de Deus (Gn 46,1-7); como aconteceu com Israel, também Jesus sairá daí, chamado por Deus (cf. Mt 2,19-20), a fim de iniciar o novo e definitivo êxodo. Finalmente, o regresso de Jesus à terra de Canaã repete o caminho percorrido por Israel nos seus inícios… É uma forma de ensinar que, com Jesus, tem início um novo Povo de Deus e que Jesus será o libertador (ou o novo Moisés) que conduzirá esse Povo da terra da escravidão para a terra da liberdade.

Não é clara qual a citação profética que está na base da parte final do nosso texto (“será chamado nazoraios” – Mt 2,23), embora ela possa fazer referência a Jz 13,5 (“esse menino será nazireu de Deus desde o seio de sua mãe) e a Is 11,1 (“brotará um ramo do tronco de Jessé, um rebento – em hebraico: “neçer” – brotará das suas raízes”). Embora nem a citação de Juízes nem a citação de Isaías tenham nada a ver com Nazaré, Mateus usou-as pela semelhança fonética; o seu objetivo era mostrar aos judeus que, ao instalar-se em Nazaré (apesar de ter nascido em Belém), Jesus estava a cumprir as Escrituras e os desígnios de Deus.

Fica, portanto, aqui definida a catequese que revela quem é Jesus e qual a sua missão… A presença constante de Deus conduzindo a história, enviando o seu mensageiro, comunicando com José através dos sonhos, revela que este menino vem de Deus e que tem uma missão de Deus. Qual é essa missão? É dar início a um novo Povo de Deus e, como Moisés, conduzir esse Povo da terra da escravidão para a terra da liberdade.

Neste dia em que celebramos a Sagrada Família, convém também determo-nos um pouco sobre esta família de Nazaré. É uma família unida e solidária, que não hesita em afrontar os perigos do deserto e as dificuldades do exílio numa terra estrangeira, quando um dos membros corre riscos. Na família de Nazaré manifesta-se, desta forma, esse amor até ao extremo que supera todos os egoísmos e que se faz dom ao outro. Por outro lado, é uma família que escuta a Palavra de Deus, que está atenta aos sinais de Deus e que procura cumprir à risca os projetos de Deus.
José – que continua a ser o protagonista desta história, o representante dessa dinastia davídica que leva a cabo o projeto salvador de Deus – desempenha um papel muito belo… É o homem permanentemente atento às indicações de Deus, que sabe discernir o que Deus quer, que acata na obediência a vontade de Deus, que tudo arrisca e sacrifica em defesa da vida daquele menino que Deus lhe confiou.

ATUALIZAÇÃO

A reflexão pode fazer-se a partir das seguintes questões:

¨ Este episódio do “Evangelho da Infância” apresenta-nos uma família – a Sagrada Família – que, como qualquer família de ontem, de hoje ou de amanhã, se defronta com crises, dificuldades e contrariedades (essas dificuldades que, em tantos outros casos, acabam por minar a unidade e a solidariedade familiar). No entanto, esta é uma família onde cada membro está solidário com o outro e está disposto a partilhar os riscos que o outro corre; esta é uma família onde cada membro aceita renunciar ao comodismo e sacrificar-se para que o outro possa viver; esta é uma família onde os problemas de um são os problemas de todos e onde todos estão dispostos a arriscar, quando se trata de defender o outro… Por isso, é uma família que se mantém unida e solidária. É assim a nossa família? Na nossa família há solidariedade? Sentimos os problemas do outro e empenhamo-nos seriamente em ajudá-lo a superar as dificuldades? Aquilo que acontece a um é sentido por todos? A nossa família é, apenas, um hotel onde temos (por um preço módico) casa, mesa e roupa lavada ou um verdadeiro espaço de encontro, de partilha, de fraternidade, de solidariedade, de amor?

¨ A Sagrada Família é, também, uma família onde se escuta a Palavra de Deus e onde se aprende a ler os sinais de Deus… É na escuta da Palavra que esta família consegue encontrar as soluções para vencer as contrariedades e para ajudar os membros a vencer os riscos que correm; é na escuta de Deus que esta família consegue descobrir os caminhos a percorrer, a fim de assegurar a cada um dos seus membros a vida e o futuro. A nossa família é uma família onde se escuta a Palavra de Deus, onde se procuram ler os sinais de Deus, onde se procura perceber o que Deus diz? Encontramos tempo para reunir a família à volta da Palavra de Deus e para partilhar, em família, a Palavra de Deus? A nossa família é uma família que reza?

¨ A Sagrada Família é, ainda, uma família que obedece a Deus… Diante das indicações de Deus, não discute nem argumenta; mas cumpre à risca os desígnios de Deus… E é, precisamente, o cumprimento obediente dos projetos de Deus que assegura a esta família um futuro de vida, de tranqüilidade e de paz. A nossa família aceita com serenidade os esquemas e a lógica de Deus e percorre, com confiança, os caminhos de Deus?

¨ Neste tempo de Natal convém não esquecermos o tema central à volta do qual se constrói o Evangelho que hoje nos é proposto: Jesus é o Deus que vem ao nosso encontro, a fim de cumprir o projeto de salvação que o Pai tem para os homens… A sua missão passa por constituir um novo Povo de Deus, dar-lhe uma Lei (a Lei do “Reino”) e conduzi-lo para a terra da liberdade, para a vida definitiva. Estamos dispostos a acolher Jesus como o nosso libertador e a embarcar com Ele nessa caminhada da terra da escravidão para a terra da liberdade?

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA A SOLENIDADE DA SAGRADA FAMÍLIA

1. A liturgia meditada ao longo da semana.
Ao longo dos dias da semana anterior ao Domingo da Sagrada Família, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa…

2. Fazer intervir os filhos.
Nesta festa da Sagrada Família, procure-se uma maior intervenção das crianças na celebração. Por exemplo, confiando-lhes um cântico (ou algumas estrofes cantadas por uma criança), confiando-lhes uma palavra de acolhimento na liturgia, confiando-lhes a proclamação de uma leitura, confiando-lhes a oração universal com algumas intenções por elas redigidas, confiando-lhes um momento de ação de graças…

3. As famílias à volta do altar.
Onde tal for possível, pode-se convidar algumas famílias para ficarem à volta do altar durante a oração eucarística até à comunhão. Alguns podem ajudar a levar a comunhão à assembléia, juntamente com os celebrantes. Pode-se ainda propor um tempo de silêncio após a homilia, convidando cada um a fazer memória da própria família.

4. Oração na lectio divina.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

No final da primeira leitura:
Nosso Pai, nós Te damos graças, porque nos criaste à tua imagem, para viver em comunidade. Tu és a fonte de toda a família humana.
Nós Te recomendamos os responsáveis do bem comum, que têm o papel de assegurar às famílias as condições de um pleno desenvolvimento.

No final da segunda leitura:
Deus, Nosso pai, oferecemos-Te as nossas ações de graças, cantamos-Te o nosso reconhecimento, porque nos escolheste e a tua Palavra habita nos nossos corações com toda a sua riqueza.
Nós Te pedimos por nós mesmos, teu povo. Faz-nos agir em tudo no nome do Senhor Jesus e reveste os nossos corações de bondade e de paciência.

No final do Evangelho:
Pai de bondade, nós Te bendizemos, porque guias o teu povo no caminho da salvação, para o preservar da morte; advertiste os teus fiéis de maneiras diversas, pela tua Palavra e pelos teus mensageiros. No teu Filho Jesus, conheceste a situação do emigrado e do deportado, habitaste nas nossas cidades e aldeias e nas nossas famílias humanas.
Eis porque ousamos pedir-Te pelas vítimas das perseguições, pelos refugiados, os exilados e os apátridas.

5. Oração Eucarística.
Pode-se escolher a Oração Eucarística I, com as variantes próprias de Natal e com a evocação bastante desenvolvida dos santos que são “nossa família”.


SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR
A liturgia deste domingo celebra a manifestação de Jesus a todos os homens… Ele é uma “luz”, que se acende na noite do mundo e atrai a si todos os povos da terra. Cumprindo o projeto libertador que o Pai nos queria oferecer, essa “luz” encarnou na nossa história, iluminou os caminhos dos homens, conduziu-os ao encontro da salvação, da vida definitiva.
A primeira leitura anuncia a chegada da luz salvadora de Jahwéh, que transfigurará Jerusalém e que atrairá à cidade de Deus povos de todo o mundo.
No Evangelho, vemos a concretização dessa promessa: ao encontro de Jesus vêm os “magos” do oriente, representantes de todos os povos da terra… Atentos aos sinais da chegada do Messias, procuram-no com esperança até o encontrar, reconhecem n’Ele a “salvação de Deus” e aceitam-n’O como “o Senhor”. A salvação rejeitada pelos habitantes de Jerusalém torna-se agora um dom que Deus oferece a todos os homens, sem exceção.
A segunda leitura apresenta o projeto salvador de Deus como uma realidade que vai atingir toda a humanidade, juntando judeus e pagãos numa mesma comunidade de irmãos – a comunidade de Jesus.

LEITURA I – Is 60,1-6

Leitura do Livro de Isaías

Levanta-te e resplandece, Jerusalém,
porque chegou a tua luz
e brilha sobre ti a glória do Senhor.
Vê como a noite cobre a terra,
e a escuridão os povos.
Mas sobre ti levanta-Se o Senhor,
e a sua glória te ilumina.
As nações caminharão à tua luz,
e os reis ao esplendor da tua aurora.
Olha ao redor e vê:
todos se reúnem e vêm ao teu encontro;
os teus filhos vão chegar de longe,
e as tuas filhas são trazidas nos braços.
Quando o vires ficarás radiante,
palpitará e dilatar-se-á o teu coração,
pois a ti afluirão os tesouros do mar,
a ti virão ter as riquezas das nações.
Invadir-te-á uma multidão de camelos,
de dromedários de Madiã e Efá.
Virão todos os de Sabá,
trazendo ouro e incenso
e proclamando as glórias do Senhor.

AMBIENTE

Aos capítulos 56-66 do Livro de Isaías, convencionou-se chamar “terceiro-Isaías). Trata-se de um conjunto de textos cuja proveniência não é totalmente consensual… Para alguns, são textos de um profeta anônimo, pós-exílio, que exerceu o seu ministério em Jerusalém após o regresso dos exilados da Babilônia, nos anos 537/520 a.C.; para a maioria, trata-se de textos que provêm de diversos autores pós-exílio e que foram redigidos ao longo de um arco de tempo relativamente longo (provavelmente, entre os sécs. VI e V a.C.). De qualquer forma, estamos na época a seguir ao Exílio e numa Jerusalém em reconstrução… As marcas do passado ainda se notam nas pedras calcinadas da cidade; os judeus que se estabeleceram na cidade são, ainda, poucos; a pobreza dos exilados faz com que a reconstrução seja lenta e muito modesta; os inimigos estão à espreita e a população está desanimada… Sonha-se, no entanto, com esse dia futuro em que vai chegar Deus para trazer a salvação definitiva ao seu Povo. Então, Jerusalém voltará a ser uma cidade bela e harmoniosa, o Templo será reconstruído e Deus habitará para sempre no meio do seu Povo.
O texto que nos é proposto é uma glorificação de Jerusalém, a cidade da luz, a “cidade dos dois sóis” (o sol nascente e o sol poente: pela sua situação geográfica, a cidade é iluminada desde o nascer do dia, até ao pôr do sol).

MENSAGEM

Inspirado, sem dúvida, pelo sol nascente que ilumina as belas pedras brancas das construções de Jerusalém e faz a cidade transfigurar-se pela manhã (e brilhar no meio das montanhas que a rodeiam), o profeta sonha com uma Jerusalém muito diferente daquela que os retornados do Exílio conhecem; essa nova Jerusalém levantar-se-á quando chegar a luz salvadora de Deus, que dará à cidade um novo rosto. Nesse dia, Jerusalém vai atrair os olhares de todos os que esperam a salvação. Como conseqüência, a cidade será abundantemente repovoada (com o regresso de muitos “filhos” e “filhas” que, até agora, assustados pelas condições de pobreza e de instabilidade ainda não se decidiram a regressar); além disso, povos de toda a terra – atraídos pela promessa do encontro com a salvação de Deus – convergirão para Jerusalém, inundando-a de riquezas (nomeadamente incenso, para o serviço do Templo) e cantando os louvores de Deus.

ATUALIZAÇÃO

A reflexão pode fazer-se a partir das seguintes linhas:

• Como pano de fundo deste texto (e da liturgia deste dia) está a afirmação da eterna preocupação de Deus com a vida e a felicidade desses homens e mulheres a quem Ele criou. Sejam quais forem as voltas que a história dá, Deus está lá, vivo e presente, acompanhando a caminhada do seu Povo e oferecendo-lhe a vida definitiva. Esta “fidelidade” de Deus aquece-nos o coração e renova-nos a esperança… Caminhamos pela vida de cabeça levantada, confiando no amor infinito de Deus e na sua vontade de salvar e libertar o homem.

• É preciso, sem dúvida, ligar a chegada da “luz” salvadora de Deus a Jerusalém (anunciada pelo profeta) com o nascimento de Jesus. O projeto de libertação que Jesus veio apresentar aos homens será a luz que vence as trevas do pecado e da opressão e que dá ao mundo um rosto mais brilhante de vida e de esperança. Reconhecemos em Jesus a “luz” libertadora de Deus? Estamos dispostos a aceitar que essa “luz” nos liberte das trevas do egoísmo, do orgulho e do pecado? Será que, através de nós, essa “luz” atinge o mundo e o coração dos nossos irmãos e transforma tudo numa nova realidade?

• Na catequese cristã dos primeiros tempos, esta Jerusalém nova, que já “não necessita de sol nem de lua para a iluminar, porque é iluminada pela glória de Deus”, é a Igreja – a comunidade dos que aderiram a Jesus e acolheram a luz salvadora que Ele veio trazer (Ap 21,10-14.23-25). Será que nas nossas comunidades cristãs e religiosas brilha a luz libertadora de Jesus? Elas são, pelo seu brilho, uma luz que atrai os homens? As nossas desavenças e conflitos, a nossa falta de amor e de partilha, os nossos ciúmes e rivalidades, não contribuirão para embaciar o brilho dessa luz de Deus que devíamos refletir?

• Será que na nossa Igreja há espaço para todos os que buscam a luz libertadora de Deus? Os irmãos que têm a vida destroçada ou que não se comportam de acordo com as regras da Igreja, são acolhidos, respeitados e amados? As diferenças próprias da diversidade de culturas são vistas como uma riqueza que importa preservar, ou são rejeitadas porque ameaçam a uniformidade?

SALMO RESPONSORIAL – Salmo 71 (72)

Refrão: Virão adorar-Vos, Senhor,
todos os povos da terra.

Ó Deus, concedei ao rei o poder de julgar
e a vossa justiça ao filho do rei.
Ele governará o vosso povo com justiça
e os vossos pobres com equidade.

Florescerá a justiça nos seus dias
e uma grande paz até ao fim dos tempos.
Ele dominará de um ao outro mar,
do grande rio até aos confins da terra.

Os reis de Társis e das ilhas virão com presentes,
os reis da Arábia e de Sabá trarão suas ofertas.
Prostrar-se-ão diante dele todos os reis,
todos os povos o hão-de servir.

Socorrerá o pobre que pede auxílio
e o miserável que não tem amparo.
Terá compaixão dos fracos e dos pobres
e defenderá a vida dos oprimidos.

LEITURA II – Ef 3,2-3a.5-6

Leitura da Epístola do apóstolo São Paulo aos Efésios

Irmãos:
Certamente já ouvistes falar
da graça que Deus me confiou a vosso favor:
por uma revelação,
foi-me dado a conhecer o mistério de Cristo.
Nas gerações passadas,
ele não foi dado a conhecer aos filhos dos homens
como agora foi revelado pelo Espírito Santo
aos seus santos apóstolos e profetas:
os gentios recebem a mesma herança que os judeus,
pertencem ao mesmo corpo
e participam da mesma promessa,
em Cristo Jesus, por meio do Evangelho.

AMBIENTE

A Carta aos Efésios (cuja autoria paulina alguns discutem por questões de linguagem, de estilo e de teologia) apresenta-se como uma “carta de cativeiro”, escrita por Paulo da prisão (os que aceitam a autoria paulina desta carta discutem qual o lugar onde Paulo está preso, nesta altura, embora a maioria ligue a carta ao cativeiro de Paulo em Roma entre 61/63).
É, de qualquer forma, uma apresentação sólida de uma catequese bem elaborada e amadurecida. A carta (talvez uma “carta circular”, enviada a várias comunidades cristãs da parte ocidental da Ásia Menor) parece apresentar uma espécie de síntese do pensamento paulino.
O tema mais importante da carta aos Efésios é aquilo que o autor chama “o mistério”: trata-se do projeto salvador de Deus, definido e elaborado desde sempre, escondido durante séculos, revelado e concretizado plenamente em Jesus, comunicado aos apóstolos e, nos “últimos tempos”, tornado presente no mundo pela Igreja.
Na parte dogmática da carta (Ef 1,3-3,19), Paulo apresenta a sua catequese sobre “o mistério”: depois de um hino que põe em relevo a ação do Pai, do Filho e do Espírito Santo na obra da salvação (cf. Ef 1,3-14), o autor fala da soberania de Cristo sobre os poderes angélicos e do seu papel de cabeça da Igreja (Ef 1,15-23); depois, reflete sobre a situação universal do homem, mergulhado no pecado e afirma a iniciativa salvadora e gratuita de Deus em favor do homem (Ef 2,1-10); expõe, ainda, como é que Cristo – realizando “o mistério” – levou a cabo a reconciliação de judeus e pagãos num só corpo, que é a Igreja (cf. 2,11-22) … O texto que nos é proposto vem nesta seqüência: nele, Paulo apresenta-se como testemunha do “mistério” diante dos judeus e diante dos pagãos (Ef 3,1-13).

MENSAGEM

A Paulo, apóstolo como os Doze, também foi revelado “o mistério”. É esse “mistério” que Paulo aqui desvela aos crentes da Ásia Menor… Paulo insiste que, em Cristo, chegou a salvação definitiva para os homens; e essa salvação não se destina exclusivamente aos judeus, mas destina-se a todos os povos da terra, sem exceção. Paulo é, por chamamento divino, o arauto desta novidade… Percebemos, assim, porque é que Paulo se fez o grande arauto da “boa nova” de Jesus entre os pagãos…
Agora, judeus e gentios são membros de um mesmo e único “corpo” (o “corpo de Cristo” ou Igreja), partilham o mesmo projeto salvador que os faz, em igualdade de circunstâncias com os judeus, “filhos de Deus” e todos participam da promessa feita por Deus a Abraão (Gn 12,3) – promessa cuja realização Cristo levou a cabo.

ATUALIZAÇÃO

A reflexão pode fazer-se a partir dos seguintes elementos:

• A perspectiva de que Deus tem um projeto de salvação para oferecer ao seu Povo – já enunciada na primeira leitura – tem, aqui, novos desenvolvimentos. A primeira novidade é que Cristo é a revelação e a realização plena desse projeto. A segunda novidade é que esse projeto não se destina apenas “a Jerusalém” (ao mundo judaico), mas é para ser oferecido a todos os povos, sem exceção.

• A Igreja, “corpo de Cristo”, é a comunidade daqueles que acolheram “o mistério”. Nela, brancos e negros, pobres e ricos, ucranianos ou moldavos – beneficiários todos da ação salvadora e libertadora de Deus – têm lugar em igualdade de circunstâncias. Temos, verdadeiramente, consciência de que é nesta comunidade de crentes que se revela hoje no mundo o projeto salvador que Deus tem para oferecer a todos os homens? Na vida das nossas comunidades transparece, realmente, o amor de Deus? As nossas comunidades são verdadeiras comunidades fraternas, onde todos se amam sem distinção de raça, de cor ou de estatuto social?

• Destinatários, todos, do mistério, somos “filhos de Deus” e irmãos uns dos outros. Essa fraternidade implica o amor sem limites, a partilha, a solidariedade… Sentimo-nos solidários com todos os irmãos que partilham conosco esta vasta casa que é o mundo? Sentimo-nos responsáveis pela sorte de todos os nossos irmãos, mesmo aqueles que estão separados de nós pela geografia, pela diversidade de culturas e de raças?

ALELUIA – Mt 2,2

Aleluia. Aleluia

Vimos adorar a sua estrela no Oriente
e viemos adorar o Senhor.

EVANGELHO – Mt 2,1-12

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Mateus

Tinha Jesus nascido em Belém da Judéia,
nos dias do rei Herodes,
quando chegaram a Jerusalém uns Magos vindos do Oriente.
«Onde está – perguntaram eles –
o rei dos judeus que acaba de nascer?
Nós vimos a sua estrela no Oriente
e viemos adorá-lO».
Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes ficou perturbado
e, com ele, toda a cidade de Jerusalém.
Reuniu todos os príncipes dos sacerdotes e escribas do povo
e perguntou-lhes onde devia nascer o Messias.
Eles responderam:
«Em Belém da Judéia,
porque assim está escrito pelo Profeta:
‘Tu, Belém, terra de Judá,
não és de modo nenhum a menor
entre as principais cidades de Judá,
pois de ti sairá um chefe,
que será o Pastor de Israel, meu povo’».
Então Herodes mandou chamar secretamente os Magos
e pediu-lhes informações precisas
sobre o tempo em que lhes tinha aparecido a estrela.
Depois enviou-os a Belém e disse-lhes:
«Ide informar-vos cuidadosamente acerca do Menino;
e, quando O encontrardes, avisai-me,
para que também eu vá adorá-lO».
Ouvido o rei, puseram-se a caminho.
E eis que a estrela que tinham visto no Oriente
seguia à sua frente
e parou sobre o lugar onde estava o Menino.
Ao ver a estrela, sentiram grande alegria.
Entraram na casa,
viram o Menino com Maria, sua Mãe,
e, prostrando-se diante d’Ele, adoraram-n’O.
Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes:
ouro, incenso e mirra.
E, avisados em sonhos
para não voltarem à presença de Herodes,
regressaram à sua terra por outro caminho.

AMBIENTE

O episódio da visita dos magos ao menino de Belém é um episódio simpático e terno que, ao longo dos séculos, tem provocado um impacto considerável nos sonhos e nas fantasias dos cristãos… No entanto, convém recordar que estamos, ainda, no âmbito do “Evangelho da Infância”; e que os fatos narrados nesta secção não são a descrição exata de acontecimentos históricos, mas uma catequese sobre Jesus e a sua missão… Por outras palavras: Mateus não está, aqui, interessado em apresentar uma reportagem jornalística que conte a visita oficial de três chefes de estado estrangeiros à gruta de Belém; mas está interessado em (recorrendo a símbolos e imagens bem expressivos para os primeiros cristãos) apresentar Jesus como o enviado de Deus Pai, que vem oferecer a salvação de Deus aos homens de toda a terra.

MENSAGEM

A análise dos vários detalhes do relato confirma que a preocupação do autor (Mateus) não é de tipo histórico, mas catequético.

Notemos, em primeiro lugar, a insistência de Mateus no fato de Jesus ter nascido em Belém de Judá (vers. 1.5.6.7). Para entender esta insistência, temos de recordar que Belém era a terra natal do rei David e que era a Belém que estava ligada a família de David. Afirmar que Jesus nasceu em Belém, é ligá-lo a esses anúncios proféticos que falavam do Messias como o descendente de David que havia de nascer em Belém (cf. Mi 5,1.3; 2 Sm 5,2) e restaurar o reino ideal de seu pai. Com esta nota, Mateus quer aquietar aqueles que pensavam que Jesus tinha nascido em Nazaré e que viam nisso um obstáculo para o reconhecerem como o Messias libertador.

Notemos, em segundo lugar, a referência a uma estrela “especial” que apareceu no céu por esta altura e que conduziu os “magos” para Belém. A interpretação desta referência como histórica levou alguém a cálculos astronômicos complicados para concluir que no ano 6 a.C., uma conjunção de planetas explicaria o fenômeno luminoso da estrela refulgente mencionada por Mateus; outros andaram à procura de um cometa que, por esta época, devia ter sulcado os céus do antigo Médio Oriente… Na realidade, é inútil procurar nos céus a estrela ou cometa em causa, pois Mateus não está a narrar fatos históricos. Segundo a crença popular da época, o nascimento de um personagem importante era acompanhado da aparição de uma nova estrela. Também a tradição judaica anunciava o Messias como a estrela que surge de Jacob (Nm 24,17). Ora, é com estes elementos que a imaginação de Mateus, posta ao serviço da catequese, vai inventar a “estrela”. Mateus está, sobretudo, interessado em fornecer aos cristãos da sua comunidade argumentos seguros para rebater aqueles que negavam que Jesus era esse Messias esperado.

Temos, ainda, as figuras dos “magos”. A palavra grega “magos” usada por Mateus abarca um vasto leque de significados e é aplicada a personagens muito diversas: mágicos, feiticeiros, charlatães, sacerdotes persas, propagandistas religiosos… Aqui, poderia designar astrólogos mesopotâmicos, em contato com o messianismo judaico. Seja como for, esses “magos” representam, na catequese de Mateus, esses povos estrangeiros de que falava a primeira leitura (cf. Is 60,1-6), que se põem a caminho de Jerusalém com as suas riquezas (ouro e incenso) para encontrar a luz salvadora de Deus que brilha sobre a cidade santa. Jesus é, na opinião de Mateus e da catequese da Igreja primitiva, essa “luz”.

Além de uma catequese sobre Jesus, este relato recolhe, de forma paradigmática, duas atitudes que se vão repetir ao longo de todo o Evangelho: o Povo de Israel rejeita Jesus, enquanto que os “magos” do oriente (que são pagãos) o adoram; Herodes e Jerusalém “ficam perturbados” diante da notícia do nascimento do menino e planeiam a sua morte, enquanto que os pagãos sentem uma grande alegria e reconhecem em Jesus o seu salvador.
Mateus anuncia, desta forma, que Jesus vai ser rejeitado pelo seu Povo; mas vai ser acolhido pelos pagãos, que entrarão a fazer parte do novo Povo de Deus. O itinerário seguido pelos “magos” reflete a caminhada que os pagãos percorreram para encontrar Jesus: estão atentos aos sinais (estrela), percebem que Jesus é a luz que traz a salvação, põem-se decididamente a caminho para o encontrar, perguntam aos judeus – que conhecem as Escrituras – o que fazer, encontram Jesus e adoram-n’O como “o Senhor”. É muito possível que um grande número de pagão-cristãos da comunidade de Mateus descobrissem neste relato as etapas do seu próprio caminho em direção a Jesus.

ATUALIZAÇÃO

Considerar as seguintes questões:

• Em primeiro lugar, meditemos nas atitudes das várias personagens que Mateus nos apresenta em confronto com Jesus: os “magos”, Herodes, os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo… Diante de Jesus, o libertador enviado por Deus, estes distintos personagens assumem atitudes diversas, que vão desde a adoração (os “magos”), até à rejeição total (Herodes), passando pela indiferença (os sacerdotes e os escribas: nenhum deles se preocupou em ir ao encontro desse Messias que eles conheciam bem dos textos sagrados). Identificamo-nos com algum destes grupos? Não é fácil “conhecer as Escrituras”, como profissionais da religião e, depois, deixar que as propostas e os valores de Jesus nos passem ao lado?

• Os “magos” são apresentados como os “homens dos sinais”, que sabem ver na “estrela” o sinal da chegada da libertação… Somos pessoas atentas aos “sinais” – isto é, somos capazes de ler os acontecimentos da nossa história e da nossa vida à luz de Deus? Procuramos perceber nos “sinais” que aparecem no nosso caminho a vontade de Deus?

• Impressiona também, no relato de Mateus, a “desinstalação” dos “magos”: viram a “estrela”, deixaram tudo, arriscaram tudo e vieram procurar Jesus. Somos capazes da mesma atitude de desinstalação, ou estamos demasiado agarrados ao nosso sofá, ao nosso colchão especial, à nossa televisão, à nossa aparelhagem? Somos capazes de deixar tudo para responder aos apelos que Jesus nos faz através dos irmãos?

• Os “magos” representam os homens de todo o mundo que vão ao encontro de Cristo, que acolhem a proposta libertadora que Ele traz e que se prostram diante d’Ele. É a imagem da Igreja – essa família de irmãos, constituída por gente de muitas cores e raças, que aderem a Jesus e que O reconhecem como o seu Senhor.

ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA A SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR

1. A liturgia meditada ao longo da semana.
Ao longo dos dias da semana anterior à Solenidade da Epifania do Senhor, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa…

2. Honrar as diferentes culturas.
A festa da Epifania tem a sua plena significação quando as comunidades honram as diferentes culturas que as compõem e dão lugar às expressões litúrgicas dos vários países: danças, cânticos, instrumentos de música, objetos, vestes… Uma proposta, entre outras: proclamar as leituras em diferentes línguas

3. Oração na lectio divina.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.

No final da primeira leitura:
Deus de luz, levantamos os nossos olhos para Ti, cheios de admiração, e nós Te bendizemos, porque a tua glória ergueu-se sobre nós, arrancaste-nos das trevas e colocas-nos de pé, a caminho da nova Jerusalém.
Nós Te pedimos por todos os povos da terra que ainda vivem nas trevas e pelas pessoas que conhecemos e que procuram o fim do túnel.


No final da segunda leitura:
Pai de todos os homens, nós Te bendizemos pela revelação do teu mistério, pela promessa que Tu destinas a todos os povos e pela herança à qual tanta desejas associá-los, na tua luz.
Nós Te pedimos por todos os missionários que partiram para longe a anunciar esta Boa Nova pela palavra e pelos atos.

No final do Evangelho:
Nosso Pai, único rei digno deste nome, nós Te louvamos pelos sinais que nos guiam para Ti e, sobretudo, pelo teu Filho Jesus, estrela que está sempre presente, em todos os instantes das nossas vidas.
Nós Te pedimos pela tua Casa, que é a tua Igreja, e por todas as suas comunidades: que o teu Filho Jesus nos guie, através da nova estrela que é o teu Espírito presente nas nossas vidas.

4. Oração Eucarística.
Pode-se escolher a Oração Eucarística IV.

5. Palavra para o caminho.
Audácia missionária
Assembléias dominicais que são cada vez mais diminutas…
Vocações sacerdotais e religiosas cada vez mais raras…
Não reduzamos a Missão aos nossos problemas!
A Estrela que se levanta na escuridão
brilha para todos os povos da terra
e convida-nos à audácia missionária.
Que iniciativa poderíamos tomar
- em comunidade paroquial, em equipa litúrgica –
para nos abrirmos para além de nós mesmos?

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