segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Liturgia da 25ª comum Ano Par

Liturgia da Segunda Feira — 24.09.2012
XXV SEMANA DO TEMPO COMUM 
(VERDE – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Eu sou a salvação do povo, diz o Senhor. Se clamar por mim em qualquer provação, eu o ouvirei e serei seu Deus para sempre.
Leitura (Provérbios 3,27-34)
Leitura do livro dos Provérbios.
3 27 Não negues um benefício a quem o solicita, quando está em teu poder conceder-lho.
28 Não digas ao teu próximo: "Vai, volta depois! Eu te darei amanhã", quando dispões de meios.
29 Não maquines o mal contra teu vizinho, quando ele habita com toda a confiança perto de ti.
30 Não litigues com alguém sem ter motivo, se esse alguém não te fez mal algum.
31 Não invejes o homem violento, nem adotes o seu procedimento,
32 porque o Senhor detesta o que procede mal, mas reserva sua intimidade para os homens retos.
33 Sobre a casa do ímpio pesa a maldição divina, a bênção do Senhor repousa sobre a habitação do justo.
34 Se ele escarnece dos zombadores, concede a graça aos humildes. 
Salmo responsorial 14/15
O justo habitará no monte santo do Senhor.
"Senhor, quem entrará em vossa casa?"
Aquele que caminha sem pecado
e pratica a justiça fielmente;
que pensa a verdade no seu íntimo
e não solta em calúnias sua língua.
Que em nada prejudica o seu irmão
nem cobre de insultos seu vizinho;
que não dá valor algum ao homem ímpio,
mas honra os que respeitam o Senhor.
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Vós sois a luz do mundo; brilhe a todos a vossa luz. Vendo eles vossas obras, deem glória ao Pai celeste! (Mt 5,16)
Evangelho (Lucas 8,16-18)
8 16 Disse Jesus: "Ninguém acende uma lâmpada e a cobre com um vaso ou a põe debaixo da cama; mas a põe sobre um castiçal, para iluminar os que entram.
17 Porque não há coisa oculta que não acabe por se manifestar, nem secreta que não venha a ser descoberta.
18 Vede, pois, como é que ouvis. Porque ao que tiver, lhe será dado; e ao que não tiver, até aquilo que julga ter lhe será tirado". 
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. O que está escondido deve ser manifestado
Primeiro vamos beber o “aperitivo” da primeira leitura que coloca o seu enfoque na virtude da generosidade e humildade de coração.
Essas coisas estão ocultas e ninguém sabe, olhando para nós, se somos generosos e humildes, ou egoísta e arrogantes pois somente uma boa convivência com as pessoas nos permite conhecê-las melhor pois elas se manifestam quem são, e o que trazem dentro de si mesmas, nas atitudes que tomam para com os outros. Note-se que a bondade aqui exortada no Livro dos Provérbios, é sempre algo dentro das nossas possibilidades.
Olhando o salmo responsorial, facilmente se percebe que só entra na casa do Senhor, isso é, vive em comunhão com ele, quem age para com o próximo com essa generosidade e humildade exaltadas na primeira leitura. O Justo habitará no monte santo do senhor, monte aqui nos lembra subida, ascese, e sobe até Deus o justo que anda em seus caminhos, onde a conduta está bem delineada pela liturgia e na verdade, o homem sobe até Deus quando este vem morar em seu coração e isso tem sentido, já que somos imagem e semelhança de Deus, e na medida em que damos ao próximo um forma amorosa de se relacionar com ele, manifestamos esse Deus que está escondido dentro de nós de maneira misteriosa, Deus está nas profundezas do universo e nas profundezas do ser humano que o acolhe...
E assim, fica mais fácil entender quando Jesus fala neste evangelho, de algo que está oculto e que será manifestado. Esconder que somos de Deus, e a ele pertencemos, nos omitir da prática dos valores do evangelho e não manifestar ao próximo a nossa generosidade e humildade, que brotam do coração de Deus que está dentro de nós, é cobrir a lâmpada com uma vasilha, ou colocá-la debaixo da cama.
Não é que sejamos totalmente bons, justos e santos, mas estamos a caminho dessa plenitude que um dia virá, mas a temos dentro de nós, na Graça Santificante e operante que um dia recebemos. E aqui fica uma boa pergunta “Somos pessoas iluminadas? As pessoas se sentem bem perto de nós? Como somos conhecidos, na família, no trabalho, na escola, na comunidade?”. Se somos amargos, azedos, irritantes, petulantes, egocêntricos, estamos refletindo pontos de trevas e não a Luz Divina.
Daí o evangelho acende uma luzinha de alerta: Está faltando em nós uma abertura á Palavra de Deus e a sua Graça Operante e nesse caso, somos como uma velha casa, que embora exposta ao calor e a luz do sol, encontra-se fechada e embolorada por dentro.
2. A lâmpada que ilumina
Lucas reúne neste seu texto quatro sentenças originalmente esparsas, anteriormente articuladas por Marcos (Mc 4,21-25), mas dispersas em Mateus.
A lâmpada acesa que ilumina, em Mateus (cf. 12 jun.), significa os discípulos que devem ser a luz do mundo, isto é, iluminar o mundo com a Verdade por eles proclamada. Em Marcos e em Lucas, a lâmpada é a própria Verdade, que vem revelar o que está escondido. Temos aqui dois sentidos: revelar a falsidade da doutrina dos fariseus ou revelar amplamente os mistérios de Jesus, inicialmente comunicados aos discípulos.
Neste sentido, segue-se a sentença sobre o que está escondido ou secreto, e será descoberto e tornado público.
A advertência "olhai, portanto, a maneira como ouvis!", envolve-se em obscuridade. No evangelho de Marcos encontra-se: "cuidado com o que ouvis!". Pode-se pensar no sentido de que o evangelho de Jesus seja ouvido com responsabilidade e compromisso, e não de maneira displicente e descomprometida.
A sentença final é característica da sociedade que favorece a acumulação de riquezas por alguns e a exclusão dos demais. Em um sentido figurado, ela pode ser adaptada àqueles que acolhem o Reino, em oposição àqueles submissos à ideologia da Lei, que rejeitam a Palavra e perdem suas tradições abraâmicas.
Oração
Pai, transforma-me em lâmpada do Reino, para que, por meio de meu testemunho de vida, eu possa mostrar teu caminho a muitas pessoas que vagam nas trevas.
3. O BRILHO DA LUZ
A insistência de Jesus no tema da humildade e do serviço não dispensava os discípulos de exercerem uma ação eficaz, visando a transformação do mundo. O serviço humilde era, para Jesus, algo relevante; não podia ser reservado ao âmbito do privado. A humanidade deveria encontrar, no agir do discípulo, um modelo inspirador.
O Mestre ilustrou este ensinamento com a parábola da lâmpada colocada num lugar estratégico, de modo que sua luz atingisse todos os recantos da casa. Seria insensato colocá-la debaixo da cama, pois seu lugar natural é um candelabro bem situado.
O discípulo, sem se deixar levar pelo orgulho e pela vanglória, não tem medo de fazer o bem à vista de todos. Sua ação resplandecente de amor e solidariedade ilumina as trevas do egoísmo, que contaminaram a ação humana. A violência é denunciada pela firmeza dos mansos e humildes de coração. O egoísmo revela sua face perversa ao ser colocado em contraste com o amor e a solidariedade. O que crêem na justiça identificam toda ação injusta. E, assim, todo agir inspirado na proposta do Reino vai na contramão de situações desumanizadoras que devem ser denunciadas. Isto se dá quando o discípulo do Reino tem a coragem de fazer-lhes frente, como a luz enfrenta e elimina as trevas. Portanto, é incompatível com sua vocação deixar de enfrentar o mundo que deve ser evangelizado.
Oração
Senhor Jesus, tira de mim o medo e a covardia que me impedem de iluminar, com minhas ações, o que, no nosso mundo, está mergulhado nas trevas.
Liturgia da Terça-Feira
XXV SEMANA DO TEMPO COMUM 
(VERDE – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Eu sou a salvação do povo, diz o Senhor. Se clamar por mim em qualquer provação, eu o ouvirei e serei seu Deus para sempre.
Leitura (Provérbios 21,1-6.10-13)
Leitura do livro dos Provérbios.
21 1 O coração do rei é uma água fluente nas mãos do Senhor: ele o inclina para qualquer parte que quiser.
2 Os caminhos do homem parecem retos aos seus olhos, mas cabe ao Senhor pesar os corações.
3 A prática da justiça e da eqüidade vale aos olhos do Senhor mais que os sacrifícios.
4 Olhares altivos ensoberbecem o coração; o luzeiro dos ímpios é o pecado.
5 Os planos do homem ativo produzem abundância; a precipitação só traz penúria.
6 Tesouros adquiridos pela mentira: vaidade passageira para os que procuram a morte.
10 A alma do ímpio deseja o mal; nem mesmo seu amigo encontrará graça a seus olhos.
11 Quando se pune o zombador, o simples torna-se sábio; quando se adverte o sábio, ele adquire a ciência.
12 O justo observa a cada do ímpio e precipita os maus na desventura.
13 Quem se faz de surdo aos gritos do pobre não será ouvido, quando ele mesmo clamar. 
Salmo responsorial 118/119
Guiai-me, Senhor, no caminho de vossos preceitos!!
Feliz o homem sem pecado em seu caminho,
E então meditarei vossos prodígios!
Fazei-me conhecer vossos caminhos,
E então meditarei vossos prodígios!
Escolhi seguir a trilha da verdade,
Diante de mim eu coloquei vossos preceitos.
Dai-me o saber, e cumprirei a vossa lei
E de todo o coração a guardarei.
Guiai meus passos no caminho que traçastes,
Pois só nele encontrarei felicidade.
Cumprirei constantemente a vossa lei;
Para sempre, eternamente, a cumprirei!
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Feliz quem ouve e observa a palavra de Deus! (Lc 11,28)

Evangelho (Lucas 8,19-21)
Naquele tempo, 8 19 a mãe e os irmãos de Jesus foram procurá-lo, mas não podiam chegar-se a ele por causa da multidão.
20 Foi-lhe avisado: "Tua mãe e teus irmãos estão lá fora e desejam ver-te".
21 Ele lhes disse: "Minha mãe e meus irmãos são estes, que ouvem a palavra de Deus e a observam". 
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. A Família de Jesus
Percebemos nas diversas sentenças do Livro dos Provérbios, que abre essa liturgia, uma afirmação muito séria logo de início: Até o Rei, que é soberano, deve deixar-se guiar por Deus e nenhum homem é juiz de si mesmo, mas a sua retidão é determinada por Deus, pois somente ele conhece e sonda o coração do ser humano. Quando o homem é arrogante e cheio de orgulho, só manifesta a escuridão e não deixa aparecer a luz de Deus. Todas as demais sentenças aplicam-se a esta Verdade: É Deus que nos aponta por onde ir pois os projetos do homem são muitas vezes enganosos e não levam a lugar algum.
Por isso que encontramos no Salmista essa súplica que deve ser constante em nossa vida “Guiai-me, Senhor, nos caminhos dos vossos preceitos”, pois Deus é a estrada, e ao mesmo tempo o destino a ser alcançado. Este caminho tornou-se mais nítido em Jesus Cristo, pelo qual o Pai se manifestou, se revelou e falou diretamente aos homens. Antes, os instrumentos dos quais Deus se serviu, eram homens que poderiam se enganar, como de fato muitos se enganaram, mas no templo da plenitude a Palavra de Deus tornou-se carne e tornou-se imprescindível escutá-la e pô-la em prática pois Jesus não apenas nos mostra o caminho, mas ele é o caminho.
Os que ouvem esta palavra e a coloca em prática tornam-se íntimos de Jesus, criando com ele um forte laço, mais poderoso do que qualquer parentesco como mostra o evangelho. Talvez possamos pensar que neste evangelho, a mãe de Jesus foi relegada a um segundo plano. Primeiramente é preciso saber que, o termo Mãe designava a Matriarca da Família, seria ela a Bisavó ou a Tataravó, aquela que tinha autoridade sobre a família, por esta razão ela está ali, para convencer Jesus a ir para casa e deixar de lado a missão. Maria de Nazaré agiria assim?
Digamos, entretanto que seja realmente Maria, é mais fácil entendermos que os demais membros da família a convenceram a ir até lá. No demais, o próprio Jesus sempre elogiou Maria pela sua obediência e fidelidade á Palavra de Deus, por isso ela é a primeira cristã e primeira discípula.
2. Os laços que unem a Jesus
Esta fala de Jesus se integra no conjunto de vários outros apelos ao desprendimento geral das riquezas, de bens e da própria família.
Assim ocorre na narrativa do homem (jovem) rico que se esquivou do seguimento de Jesus (cf. 28 maio), na narrativa de choques de opções na família e na opção prioritária por Jesus . A união com Jesus não se dá por vínculos de sangue ou raça, mas pela união ao amor misericordioso do Pai que vem libertar e trazer vida a todos os homens e mulheres. "Quem ama pai ou mãe mais do que a mim não é digno de mim. E aquele que ama filho ou filha mais do que a mim não é digno de mim" (Mt 10,37).
Frequentemente as famílias se fecham em torno de interesses particulares e até excludentes. Jesus aponta que o caminho é buscar a realização da vontade do Pai. É a família onde o amor transborda comunicando-se a todos, particularmente aos mais necessitados.
Sendo a família a célula fundamental da sociedade, a submissão da família à vontade de Deus remete a todas as demais entidades e religiões. Família, estado, economia, religião, tudo fica relativizado em vista do projeto fundamental de Deus que é a promoção da vida e o resgate da dignidade humana.
Com Jesus e seu discipulado a vontade do Pai está sendo realizada no mundo. Já vigora uma nova realidade projetada na eternidade do amor de Deus.
Oração
Pai, que minha condição de membro da grande família do Reino se expresse no meu modo de proceder. Pela disposição a amar, quero dar provas de ser teu filho.
3. A FAMÍLIA DO REINO
A opção pelo Reino estabelece laços profundos de amizade entre os discípulos, gerando neles uma solidariedade exemplar. Este parentesco espiritual, em muitos casos, pode ser mais sólido que o próprio parentesco sanguíneo. E, o mais importante: gera um ambiente de igualdade onde Deus Pai nos faz todos irmãos e irmãs.
O relacionamento físico com Jesus de Nazaré já não tem importância. A família do Reino se constitui a partir da escuta e da vivência da Palavra de Deus e não da pertença à família histórica de Jesus. O tempo e o espaço também não contam. Seja qual for a época em que se vive ou se viveu, é possível sentir a proximidade familiar em relação aos outros cristãos, desde pautemos nossa vida pela mesma proposta do Reino. Além disso, onde quer que estejam e de onde quer que venham, quando dois cristãos se encontram, deveriam imediatamente sentir brotar no coração um forte afeto fraternal, por terem o mesmo projeto de vida, e estarem unidos pela mesma opção por Jesus e por seu Reino.
Desde os primórdios, a comunidade cristã compreendeu este dado de sua identidade. E, assim, estabeleceu uma nítida diferença em relação à tradição judaica, cujo apego às genealogias e à consangüinidade era bem conhecida.
A família do Reino, como é constituída, pode reunir gente de todas as raças, povos, famílias e nações.
Oração
Senhor Jesus, faze crescer em mim o afeto por meus irmãos e irmãs de fé, sabendo que somos membros de uma só família, a família do Reino.
Liturgia da Quarta-Feira
XXV SEMANA DO TEMPO COMUM *
(VERDE – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Eu sou a salvação do povo, diz o Senhor. Se clamar por mim em qualquer provação, eu o ouvirei e serei seu Deus para sempre.
Leitura (Provérbios 30,5-9)
Leitura do livro dos Provérbios.
30 5 Toda a palavra de Deus é provada, é um escudo para quem se fia nele.
6 Não acrescentes nada às suas palavras, para que ele não te corrija e sejas achado mentiroso.
7 Eu te peço duas coisas, não mas negues antes de minha morte:
8 afasta de mim falsidade e mentira, não me dês nem pobreza nem riqueza, concede-me o pão que me é necessário,
9 para que, saciado, eu não te renegue, e não diga: "Quem é o Senhor?" Ou que, pobre, eu não roube, e não profane o nome do meu Deus. 
Salmo responsorial 118/119
Vossa palavra é uma luz para os meus passos!
Afastai-me do caminho da mentira
E dai-me a vossa lei como um presente!
A lei de vossa boca, para mim,
Vale mais do que milhões em ouro e prata.
É eterna, ó Senhor, vossa palavra,
Ela é tão firme e estável como o céu.
De todo mau caminho afasto os passos,
Para que eu siga fielmente as vossas ordens.
De vossa lei eu recebi inteligência,
Por isso odeio os caminhos da mentira.
Eu odeio e detesto a falsidade,
Porém amo vossas leis e mandamentos!
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Feliz quem ouve e observa a palavra de Deus! (Lc 11,28)

Evangelho (Lucas 9,1-6)
Naquele tempo, 9 1 reunindo Jesus os doze apóstolos, deu-lhes poder e autoridade sobre todos os demônios, e para curar enfermidades.
2 Enviou-os a pregar o Reino de Deus e a curar os enfermos.
3 Disse-lhes: "Não leveis coisa alguma para o caminho, nem bordão, nem mochila, nem pão, nem dinheiro, nem tenhais duas túnicas.
4 Em qualquer casa em que entrardes, ficai ali até que deixeis aquela localidade.
5 Onde ninguém vos receber, deixai aquela cidade e em testemunho contra eles sacudi a poeira dos vossos pés".
6 Partiram, pois, e percorriam as aldeias, pregando o Evangelho e fazendo curas por toda parte. 
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. Seguindo a Palavra
A dificuldade de se preparar uma homilia durante o dia da semana, está em dois fatores, primeiro que ela tem de ser breve, e aí vem o segundo problema, por causa disso focamos apenas no evangelho e ignoramos a primeira leitura e o salmo que são valiosíssimos na reflexão.
Hoje por exemplo, a primeira leitura nos coloca a Palavra de Deus como fundamento de tudo, ela é comprovadamente um escudo para os que nela se abrigam. Qual o perigo que tal afirmação nos mostra? Exatamente o que vem a seguir no versículo 6 “Nada acrescentes ás suas palavras, para que ela não te repreenda e passes por mentiroso”. O autor, consciente de que a Palavra de Deus é absolutamente imprescindível em sua vida, relativiza a pobreza ou a riqueza material, ele quer o pão que é necessário, Pão da Palavra.
No salmo há um versículo que ressalta esta verdade “A lei de vossa boca para mim, vale mais do que milhões em ouro e prata” e o refrão confirma “Vossa Palavra é uma luz para os meus passos”, a luz que está no coração e na mente e que nos ajuda a perceber o caminho a ser percorrido.
Poderá o leitor se perguntar, e o nosso evangelho, como ele se encaixa nesse pensamento de se valorizar o anúncio da Palavra? Muito simples, os discípulos foram enviados justamente para proclamarem a Boa Nova da Palavra de Deus, este envio aparece inúmeras vezes nos evangelhos sinóticos e constitui-se na missão primária da Igreja que deve sempre, em todos os tempos, buscar formas diferentes para cumprir esta missão.
Discípulo missionário preocupado com o status, bens materiais, patrimônio, conforto material (ser hospedado em hotel cinco estrelas) certamente já perdeu o foco da missão. Hoje em dia tem muitos assim e estou falando da nossa igreja...
Deve também o discípulo ser radical em sua pregação, se não for acolhido, e o homem da pós-modernidade não acolhe bem a Palavra de Deus, não se tenha com este nenhum vínculo (sacudi a poeira do sapato) significa isso: romper com qualquer modo de vida que não esteja em conformidade com a Palavra.
2. Jesus envia em missão
Depois de um tempo de convívio com os doze, chamados no início de seu ministério, Jesus os envia em missão, como cooperadores seus no anúncio do Reino. O anúncio é o objetivo central da missão. As expulsões de demônios e curas de doenças são os gestos concretos de libertação que dão credibilidade ao anúncio. É importante perceber o significado dos demônios e das doenças. Pode-se entender que os demônios são os males do espírito, enquanto as doenças são os males do corpo. Estes males estão associados às multidões de excluídos como resultado da marginalização socioeconômica que gera privações e carências, sofrimento, doenças e morte.
Os discípulos indo despojados e pobres para a missão se identificam com os excluídos, que se abrem para recebê-los. O anúncio da palavra e o amor dos discípulos libertam os pobres deprimidos em seu espírito e valoriza-os, dando-lhes vida, dignidade e iniciativa. Os pobres e excluídos, transformados pela Palavra de Deus, passam a formar comunidades que vivem a fraternidade e a partilha, como células do mundo novo possível.
Oração
Pai, tendo recebido a tarefa de continuar a missão de Jesus, ensina-me a imitá-lo tanto no modo de ser e de pregar, quanto na pobreza e na coragem de enfrentar a rejeição.
3. PARTINDO EM MISSÃO
A primeira experiência missionária dos Apóstolos comportou uma série de características que se mantém válidas para a missão da Igreja de todos os tempos. Por exemplo, ela se deu como obediência a um mandato expresso de Jesus. Portanto, não foi fruto da iniciativa pessoal dos Apóstolos. Eles partiram na qualidade de emissários do Senhor.
Foi-lhes conferido o poder e a autoridade para expulsar demônios, curar doenças e pregar o Reino de Deus. Tarefa idêntica à que foi levada adiante por Jesus. A atividade do Mestre centrou-se no anúncio da palavra e na realização de sinais comprovadores da irrupção do Reino na história humana. A missão dos Apóstolos era, portanto, a continuação e a atualização da missão de Jesus. Onde quer que estivesse um Apóstolo do Reino, aí estaria atuando Jesus meio dele.
Os Apóstolos deveriam exercer seu ministério como pobres. Nada carregavam consigo, quando iam de aldeia em aldeia, anunciando o Evangelho e fazendo o bem. Desta forma, as pessoas não correriam o risco de serem atraídas por outro motivo, a não ser pela proposta de Jesus.
O testemunho de pobreza dava aos apóstolos liberdade para anunciarem o Evangelho sem restrições. Caso não fossem acolhidos, só lhes restava ir adiante, sem se deixar abater.
Oração
Senhor Jesus, faze crescer em mim a consciência de que sou teu mensageiro, enviado para proclamar o Reino confiado unicamente em ti.
Liturgia da Quinta-Feira
SÃO VICENTE DE PAULO - PRESBÍTERO
(BRANCO, PREFÁCIO COMUM OU DOS PASTORES – OFÍCIO DA MEMÓRIA)
Antífona da entrada: Repousa sobre mim o Espírito do Senhor; ele me ungiu para levar a boa-nova aos pobres e curar os corações contritos (Lc 4,18).
Leitura (Eclesiastes 1,2-11)
Leitura do livro do Eclesiastes.
1 2 "Vaidade das vaidades, diz o Eclesiastes, vaidade das vaidades! Tudo é vaidade".
3 Que proveito tira o homem de todo o trabalho com que se afadiga debaixo do sol?
4 Uma geração passa, outra vem; mas a terra sempre subsiste.
5 O sol se levanta, o sol se põe; apressa-se a voltar a seu lugar; em seguida, se levanta de novo.
6 O vento vai em direção ao sul, vai em direção ao norte, volteia e gira nos mesmos circuitos.
7 Todos os rios se dirigem para o mar, e o mar não transborda. Em direção ao mar, para onde correm os rios, eles continuam a correr.
8 Todas as coisas se afadigam, mais do que se pode dizer. A vista não se farta de ver, o ouvido nunca se sacia de ouvir.
9 O que foi é o que será: o que acontece é o que há de acontecer. Não há nada de novo debaixo do sol.
10 Se é encontrada alguma coisa da qual se diz: Veja: isto é novo, ela já existia nos tempos passados.
11 Não há memória do que é antigo, e nossos descendentes não deixarão memória junto daqueles que virão depois deles. 
Salmo responsorial 89/90
Ó Senhor, vós fostes sempre um refúgio para nós.
Vós fazeis voltar ao pó todo mortal
Quando dizeis: "Voltai ao pó, filhos de Adão!"
Pois mil anos para vós são como ontem,
Qual vigília de uma noite que passou.
Eles passam como o sono da manhã,
São iguais à erva verde pelos campos:
De manhã ela floresce vicejante,
Mas à tarde é cortada e logo seca.
Ensinai-nos a cotar os nossos dias
E dai ao nosso coração sabedoria!
Senhor, voltai-vos! Até quando tardareis?
Tende piedade e compaixão de vossos servos!
Saciai-nos de manhã com vosso amor,
E exultaremos de alegria todo o dia!
Que a bondade do Senhor e nosso Deus
Repouse sobre nós e nos conduza!
Tornai fecundo, ó Senhor, nosso trabalho.
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim (Jo 14,6).

EVANGELHO (Lucas 9,7-9)
Naquele tempo, 9 7 o tetrarca Herodes ouviu falar de tudo o que Jesus fazia e ficou perplexo. Uns diziam: "É João que ressurgiu dos mortos"; outros: "É Elias que apareceu";
8 e ainda outros: "É um dos antigos profetas que ressuscitou".
9 Mas Herodes dizia: "Eu degolei João. Quem é, pois, este, de quem ouço tais coisas?" E procurava ocasião de vê-lo. 
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. Experiência de Deus
Eclesiastes e o aparente “pessimismo” do autor, quer na verdade nos mostrar algo que é muito verdadeiro: a nossa vida e tudo o que fazemos, projetamos, construímos, e tudo o que somos com os nossos potenciais e fragilidades. Tudo isso de nada adiante e de nada serve. É a rotina do dia a dia, a mesmice de sempre, nada nos encanta e nem nos atrai. Assim é a existência de todo aquele que não vive uma experiência religiosa, pois sem Deus, a Salvação e a Graça que ele nos oferece em Jesus Cristo, o trabalho e o estudo e todos os nossos projetos, para nada servem, pois um dia serão conosco sepultados e irão voltar a ser pó, lembra-nos o salmista.
Por outro lado, refugiar-se em Deus, que é o único abrigo realmente seguro, não significa viver em fuga em uma religião alienante, ao contrário, é a oração do homem sensato, para o qual todas essas coisas terrenas têm um sentido novo a partir de Deus. Quando a vida parece ser um tédio, e certas coisas não fazem sentido, nos abrigamos no coração de Deus que nos ensina a fazer esta releitura dos acontecimentos da vida.
E assim, no evangelho encontramos com Herodes, um Soberano que não tinha noção dos seus limites, um homem arrogante e presunçoso que queria ter tudo sob seu controle, até mesmo as coisas pertinentes a Deus e à sua Verdade. Tendo ouvido falar das maravilhas de Jesus e sabendo das interpretações do povo, de que ele seria João Batista que voltou, ou algum dos profetas, o Tirano perturbou-se e queria ver Jesus.
Querer ver Jesus é algo belíssimo, quando se está encantado com a sua pessoa e o seu evangelho. Claro que não era este o caso do Rei Herodes, homem que se julgava deus e não admitia concorrência. Qualquer semelhança com o homem da pós-modernidade, não é mera coincidência...
2. Prática libertadora
Enquanto Marcos e Mateus descrevem detalhadamente a execução por decapitação de João Batista na narrativa simbólica do banquete de Herodes, com a presença de Herodíades, Lucas limita-se a, apenas, uma breve menção a esta execução.
Jesus, por sua prática inovadora e libertadora, é foco de atenção de todos e, particularmente, desperta a suspeita dos representantes do poder romano e do poder religioso judaico, sediado em Jerusalém. Surgem logo interrogações sobre a sua origem. Entre o povo eram diversas as opiniões sobre quem era Jesus. Uns o associavam a alguma figura libertadora popular da tradição do antigo Israel, tais como Elias ou os antigos profetas. Outros viam nele a figura de João Batista, martirizado por Herodes, com o qual o anúncio de Jesus tinha muita afinidade. Havia ainda aqueles que tinham a expectativa de que Jesus fosse o messias davídico que restauraria a humilhada Judeia, transformando-a no pretenso Israel glorioso do tempo de Davi, como hoje pretendem os sionistas do atual Estado de Israel.
A resposta sobre quem é Jesus pode ser encontrada por todos aqueles que são compassivos e misericordiosos, descobrindo Jesus entre os pobres e oprimidos, humildes e excluídos.
Oração
Pai, diversamente dos inimigos de Jesus, quero conhecer a identidade e a missão de teu Filho, pois é por ele que me guiarei para ser fiel a ti.
3. O DESEJO DE VER JESUS
As palavras e os milagres de Jesus atraíam em torno dele verdadeiras multidões. Contudo, era impossível controlar a intenção de cada pessoa. Muitos vinham por pura curiosidade. Outros, esperando que Jesus os curasse de alguma enfermidade ou, de qualquer forma, os libertasse. Outros, ainda, eram movidos por um desejo sincero de escutar Jesus e tornar-se seus discípulos, escolhendo como projeto de vida a proposta do Reino.
Esta variedade de intenções não influenciava a conduta do Mestre. Ele não satisfazia a curiosidade das pessoas, por exemplo, fazendo milagres sob encomenda. Suas curas beneficiavam somente àquelas que, de algum modo, demonstravam ter fé. Os corações sinceros dependiam da vontade expressa de Jesus para se tornarem seus discípulos. Só se punha a segui-lo quem ele chamava pelo nome. Não adiantava oferecer-se.
O violento Herodes, tendo ouvido falar de Jesus, manifestou curiosidade de vê-lo. Este rei não sabia de quem se tratava. As hipóteses levantadas lhe satisfaziam. Daí seu desejo de vê-lo pessoalmente. Quiçá esperasse presenciar o espetáculo de um milagre realizado por Jesus, pois tivera notícia de sua fama. Seu desejo de ver o Mestre só seria realizado por ocasião da paixão. Mas, naquela ocasião, Jesus o decepcionou, por não ceder a seus caprichos.
Oração
Senhor Jesus, eu quero seguir-te com sinceridade, com o único desejo de aderir ao Reino por ti anunciado e fazer-me teu discípulo.
Liturgia da Sexta-Feira
XXV SEMANA DO TEMPO COMUM *
(VERDE – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Eu sou a salvação do povo, diz o Senhor. Se clamar por mim em qualquer provação, eu o ouvirei e serei seu Deus para sempre.
Leitura (Eclesiastes 3,1-11)
Leitura do livro do Eclesiastes.
3 1 Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus. 2 Tempo para nascer, e tempo para morrer; tempo para plantar, e tempo para arrancar o que foi plantado. 3 Tempo para matar, e tempo para sarar; Tempo para demolir, e tempo para construir. 4 Tempo para chorar, e tempo para rir; tempo para gemer, e tempo para dançar. 5 Tempo para atirar pedras, e tempo para ajuntá-las; tempo para dar abraços, e tempo para apartar-se. 6 Tempo para procurar, e tempo para perder; tempo para guardar, e tempo para jogar fora; 7 Tempo para rasgar, e tempo para costurar; tempo para calar, e tempo para falar; 8 Tempo para amar, e tempo para odiar; tempo para a guerra, e tempo para a paz. 9 Que proveito tira o trabalhador de sua obra?10. Eu vi o trabalho que Deus impôs aos homens:11. todas as coisas que Deus fez são boas, a seu tempo. Ele pôs, além disso, no seu coração a duração inteira, sem que ninguém possa compreender a obra divina de um extremo a outro.
Salmo responsorial 143/144
Bendito seja o Senhor, meu rochedo!
Bendito seja o Senhor, meu rochedo.
ele é meu amor, meu refúgio,
libertador, fortaleza e abrigo.
É meu escudo: é nele que espero.
Que é o homem, Senhor, para vós?
Por que dele cuidais tanto assim
e no filho do homem pensais?
Como o sopro de vento é o homem,
os seus dias são sobra que passa.
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Veio o filho do homem, a fim de servir e dar sua vida em resgate por muitos (Mc 10,45).

EVANGELHO (Lucas 9,18-22)
9 18 Num dia em que ele estava a orar a sós com os discípulos, perguntou-lhes: "Quem dizem que eu sou?"
19 Responderam-lhe: "Uns dizem que és João Batista; outros, Elias; outros pensam que ressuscitou algum dos antigos profetas".
20 Perguntou-lhes, então: "E vós, quem dizeis que eu sou?" Pedro respondeu: "O Cristo de Deus".
21 Ordenou-lhes energicamente que não o dissessem a ninguém.
22 Ele acrescentou: "É necessário que o Filho do Homem padeça muitas coisas, seja rejeitado pelos anciãos, pelos príncipes dos sacerdotes e pelos escribas. É necessário que seja levado à morte e que ressuscite ao terceiro dia". 
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. Quem é Jesus?
O homem sábio e prudente sabe o tempo certo de se fazer as coisas, mas porque elas devem ser feitas e para que servem. Essa resposta ele não sabe e nunca saberá. Ao acompanhar uma obra o arquiteto sempre tem diante de si a obra em seu acabamento, mas este não é o caso do humilde servente que prepara a massa e o tijolo, ele entrega tudo isso ao pedreiro que vai fazer as paredes, assentando os tijolos e a massa, tanto pedreiro como ajudante só vêm a parede que está sendo levantada, não tem uma visão mais ampla de todo o conjunto e do produto final que este trabalho irá resultar.
Assim é o homem em sua caminhada por esta vida, segundo ensina o Eclesiastes. E o mais interessante é que, a ação Divina é toda voltada para o homem como exclama, admira e pergunta o salmista “Que é o homem Senhor, para vós, porque dele cuidais tanto assim?” e o próprio salmista conclui que o homem é um nada “Como o sopro do vento é o homem, e os seus dias são sombras que passa”.
Na verdade o homem só se encontra enquanto homem, compreende quem é e fica sabendo do seu valor, quando se encontra com Jesus Cristo, pois só ele têm a chave da nossa existência, só Nele temos consciência de que somos filhos e filhas de Deus, que ajudam a edificar o Reino inaugurado por Jesus, um reino que não é concebido aos moldes dos reinos do mundo.
Nesse sentido, responder quem é Jesus para mim é o primeiro passo para este conhecimento sobre nós mesmos. Para o povo Jesus era João Batista reencarnado, ou algum dos profetas, mas para os discípulos Jesus era o Cristo de Deus, como responderia Pedro em nome do grupo. A resposta está de bom tamanho, mas Jesus os proíbem de dizer isso para as pessoas, e esta Verdade sobre ele só será bem clara a partir da sua ressurreição. Os discípulos iriam participar de um momento nada agradável na vida de Jesus, sua paixão e morte na cruz. Difícil entender como uma tragédia daquelas pudesse trazer um Reino Novo, e aqui voltamos à primeira leitura, há em nossa vida certos acontecimentos que, em si mesmo não tem sentido, mas clareados pela Luz da Fé ganham sentido novo.
Nós não precisamos mais esperar para dizer isso às pessoas, e Jesus não nos proíbe, ao contrário, envia-nos para fazer este anúncio inédito!
2. Prática humilde e amorosa de Jesus
A expectativa dos discípulos era a de um messias que libertaria o povo judeu do império romano e criaria um estado poderoso. O modelo deste estado era o reinado de Israel sob o rei Davi, ao qual a tradição atribuíra grande prosperidade, glória e poder. Jesus repreende os discípulos.
Com sua prática humilde e amorosa, ele distanciava-se muito de tal concepção. Jesus exprimia a singeleza de sua condição humana identificando-se com o "Filho do Homem". Os gestos de amor de Jesus tinham tal efeito transformador nas pessoas que os possuídos pela ideologia opressora os interpretavam como gestos de poder. Corre a imagem de um Jesus taumaturgo, um João Batista ou um antigo profeta ressuscitado ou um Elias que voltou.
Se Jesus pretendesse se mostrar poderoso, destruiria seus inimigos, como a divindade no Antigo Testamento. A opção pelo amor remove a competição pelo poder. A comunicação de vida pelo amor supera a destruição da vida pelo ódio e pelo poder. O poder necessariamente mata os que o ameaçam, porém o amor de Deus garante a permanência na vida.
Oração
Pai, só tu podes revelar-me a identidade de teu Filho Jesus. Que eu a conheça de forma verdadeira para poder conformar com ela a minha vida.
3. QUEM SOU EU?
A experiência de contato com Jesus permitia aos discípulos formarem uma idéia a respeito dele. Suas palavras e seus gestos revelavam sua identidade. O senhorio de Deus em sua vida ficava patente na consciência de ser o Filho, enviado para falar as palavras do Pai e realizar suas obras. As dimensões do poder que lhe fora conferido podiam ser percebidas nos milagres e prodígios que realizava. Sua liberdade interior evidenciava-se na insubmissão a certos costumes e tradições, absolutizados por algumas facções religiosas da época. Sua visão de sociedade manifestava-se no trato acolhedor dispensado às pessoas vítimas da marginalização, na solidariedade com os sofredores, na sensibilidade diante das injustiças, no serviço à restauração da vida. Tudo isto tinha como eixo o Reino de Deus, anunciado e implementado por ele.
Quando Jesus dirigiu a seus discípulos a pergunta "quem sou eu?", eles já possuíam elementos para formular uma resposta correta, diferente daquela corrente no meio popular. A resposta de Pedro, em nome do grupo, resumia a opinião de todos os discípulos. E Jesus confirmou a resposta dada.
Entretanto, viu-se na obrigação de oferecer um esclarecimento. O Messias estava destinado a sofrer muito, ser vítima de rejeição, ser morto e, no terceiro dia, ressuscitar. Que os discípulos contassem com isto!
Oração
Senhor Jesus, dá-me inteligência para conhecer, sempre mais, tua identidade manifestada na tua vida de serviço ao Reino de Deus.
Liturgia do Sábado
SANTOS MIGUEL, GABRIEL E RAFAEL
(BRANCO, GLÓRIA PREFÁCIO DOS ANJOS – OFÍCIO DA FESTA)
Antífona da entrada: Bendizei ao Senhor, mensageiros de Deus, heróis poderosos que cumpris suas ordens sempre atentos á sua palavra (Sl 102,20).
Leitura (Daniel 7,9-10.13-14)
Leitura da profecia de Daniel.
7 9 Continuei a olhar, até o momento em que foram colocados os tronos e um ancião chegou e se sentou. Brancas como a neve eram suas vestes, e tal como a pura lã era sua cabeleira; seu trono era feito de chamas, com rodas de fogo ardente.
10 Saído de diante dele, corria um rio de fogo. Milhares e milhares o serviam, dezenas de milhares o assistiam! O tribunal deu audiência e os livros foram abertos.
13 Olhando sempre a visão noturna, vi um ser, semelhante ao filho do homem, vir sobre as nuvens do céu: dirigiu-se para o lado do ancião, diante de quem foi conduzido.
14 A ele foram dados império, glória e realeza, e todos os povos, todas as nações e os povos de todas as línguas serviram-no. Seu domínio será eterno; nunca cessará e o seu reino jamais será destruído.
Salmo responsorial 137/138
Perante os vossos anjos, vou cantar-vos, ó Senhor!
Ó Senhor, de coração eu vos dou graças,
porque ouvistes as palavras dos meus lábios!
Perante os vossos anjos vou cantar-vos
e ante o vosso templo vou prostrar-me.
Eu agradeço vosso amor, vossa verdade,
porque fizestes muito mais que prometestes;
naquele dia em que gritei, vós me escutastes
e aumentastes o vigor da minha alma.
Os reis de toda a terra hão de louvar-vos
quando ouvirem, ó Senhor, vossa promessa.
Hão de cantar vossos caminhos e dirão:
"Como a glória do Senhor é grandiosa!"
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Bendizei ao Senhor Deus, os seus poderes, seus ministros que fazeis sua vontade! (Sl 102,21)

Evangelho (João 1,47-51)
Naquele tempo, 1 47 Jesus vê Natanael, que lhe vem ao encontro, e diz: "Eis um verdadeiro israelita, no qual não há falsidade".
48 Natanael pergunta-lhe: "Donde me conheces?" Respondeu Jesus: "Antes que Filipe te chamasse, eu te vi quando estavas debaixo da figueira".
49 Falou-lhe Natanael: "Mestre, tu és o Filho de Deus, tu és o rei de Israel".
50 Jesus replicou-lhe: "Porque eu te disse que te vi debaixo da figueira, crês! Verás coisas maiores do que esta".
51 E ajuntou: "Em verdade, em verdade vos digo: vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem".
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. A Superação de barreiras
Essa experiência profunda com Jesus Cristo, o Filho de Deus, não acontece em um passe de mágica, Jesus não é como uma Jiboia, cobra que costuma hipnotizar o roedor, atraindo-o ao seu alcance para abocanhá-lo. Ao contrário, ele nos propõe, nos chama, mas sempre respeita as nossas decisões, afinal quer nos fazer livres e não escravos...
Na nossa Vida somos marcados por muitos preconceitos, de cor, de etnias, de raça, e até de religião, não podemos permitir que esses preconceitos nos impeçam de conhecer Jesus e de fazer com ele essa experiência tão necessária para descobrir quem somos, e encontrarmos a nossa realização como pessoa humana, Filhos e Filhas do Pai Eterno.
Natanael era um bom cristão, porém muito fechado em seu grupo, sua comunidade, sua igreja, costumava meditar a Palavra de Deus em baixo de uma Figueira, então isso significa que ele buscava a Deus de coração sincero e quando isso acontece, Jesus nos encontra primeiro, a iniciativa é sempre dele.
Filipe anunciou Jesus a Natanael, mas quando este soube da sua origem, Nazaré, colocou objeção para fazer a experiência. A Vila de Nazaré tinha de tudo e sua fama, nos meios religiosos, não era lá muito boa, era quase que impossível que de Nazaré viesse um Profeta poderoso.
Mas Natanael não se deixou prender a esse preconceito, aceitou o convite de Filipe "Vem e vê" e na comunidade Natanael conheceu Jesus e ali deu o seu testemunho, tornando pública a sua Fé "Tu és o Filho de Deus, Tu és o Rei de Israel...".
O texto mais uma vez evidencia a importância da Comunidade, como lugar teológico para se fazer a experiência de Deus manifestado em Jesus. Para tanto é necessário superar dificuldades, desafios e preconceitos, para se viver a comunhão em Cristo e com os irmãos e irmãs.
Quem não participa de uma comunidade cristã, porque não consegue superar os desafios e preconceitos para se viver a comunhão, nunca verá o Céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem. Só vê o Céu aberto quem aceita viver a comunhão com a Igreja Santa e Pecadora, vivendo o amor fraterno junto aos irmãos e irmãs.
O egoísmo fecha-NOS as portas do céu, e anula qualquer possibilidade de experimentar Deus em nossa vida.
2. O homem sem falsidade
Este diálogo entre Jesus e Natanael se dá na ocasião em que Jesus convida seus primeiros discípulos, junto a João Batista.
Natanael é um israelita fiel à tradição da Lei. A fala de Jesus, "quando estavas debaixo da figueira, eu te vi", parece remeter ao profeta Zacarias: "Naqueles dias convidar-vos-ei uns aos outros debaixo da figueira..." (Zc 3,10). Natanael vê Jesus na perspectiva do poder. "Filho de Deus" era um título que faraós, imperadores e reis costumavam atribuir a si mesmos.
"Rei de Israel" é uma alusão a Davi, origem da expectativa messiânica. Jesus descarta estes títulos e proclama-se o Filho do Homem, que exprime simples condição humana. Este Filho do Homem não vem sobre as nuvens, como na visão de Daniel (Dn 7,13), mas encontra-se na terra, e sobre ele sobem e descem os anjos de Deus, como no sonho de Jacó, no qual a terra lhe é dada como herança (Gn 28,10-17).
Jesus, Filho do Deus de amor, é a presença e comunicação de Deus aos homens e mulheres, na terra e em todos os tempos.
Oração
Pai, leva-me a conhecer, cada vez mais profundamente, a identidade de teu Filho Jesus, e a fazer-me discípulo dele, de modo a compartilhar sua missão.
3. SUPERANDO OS PRECONCEITOS
Os primeiros discípulos foram obrigados a superar a barreira dos preconceitos para poder acolher Jesus como Messias e se tornar seus seguidores. Natanael não podia aceitar que de Nazaré, cidade mal-afamada, pudesse sair algo de bom, muito menos um Messias. A pecha de nazaretano desdobrava-se num rosário de outras evocações tomadas como negativas. Ele era pobre, de família sem prestígio, um indivíduo sem expressão moral ou cultural. Enfim, um desclassificado.
Pela insistência de Filipe, Natanael se predispôs a ir ver Jesus. Seu preconceito contrastou com a idéia altamente positiva que Jesus tinha a respeito dele. Jesus considerava-o um israelita íntegro, sem dolo nem fingimento. Em outras palavras, um indivíduo em cuja palavra se podia inteiramente confiar. O próprio Jesus confiou nele e lhe fez uma solene revelação.
A atitude de Jesus deixou Natanael desarmado, levando-o a abrir mão de seus preconceitos. Numa atitude própria de discípulo, Natanael reconheceu Jesus como um Rabi, ou seja, mestre, digno de veneração e respeito. Reconheceu-o, também, como Filho de Deus, cuja origem superava as possibilidades humanas, fazendo dele mais do que um simples filho de José da Galiléia. Reconheceu-o, ainda, como Rei de Israel, o Messias que reavivaria a esperança no coração do povo. Logo, de Nazaré também podia sair coisa boa.
Oração
Senhor Jesus, eu me ponho diante de ti, sem preconceitos, desejando conhecer-te como o Messias de Deus.
Liturgia do Domingo 30.09.2012
26º Domingo do Tempo Comum — ANO B (VERDE, GLÓRIA, CREIO – II SEMANA DO SALTÉRIO)
TEMPO DE AMAR E LER A BÍBLIA - SETEMBRO: MÊS DA BÍBLIA
__ "Quem não é contra nós é a nosso favor" __
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Chegamos ao último domingo do mês de setembro. Neste dia, recordamos, de maneira toda especial, a Bíblia. Nenhum outro livro conseguiu ser traduzido para tantas línguas e chegar a tantos povos como a Bíblia, na qual encontramos a Palavra de Deus. Mesmo escrita há séculos, consegue ser sempre atual e importante para qualquer momento de nossa vida. A liturgia de hoje nos convida a celebrar o Mistério da nossa salvação, acolhendo com alegria os sinais do Espírito Santo de Deus fora da nossa comunidade religiosa. Iniciemos nossa celebração intercedendo a graça da tolerância, para que possamos conviver pacificamente na sociedade, reconhecendo a ação do Espírito divino em nosso meio.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: No Dia Nacional da Bíblia, nossa celebração dominical recorda que a Palavra de Deus está acima das nossas diferenças e se torna o critério da nossa comunhão. Rezemos, pois, para que todos sigam a Palavra de Deus, revelada nas Escrituras e vivida no testemunho cotidiano do amor e da justiça. Recordemos que a Igreja celebrará a partir de amanhã, A Semana Nacional da Família. Também unamos nossos corações a toda a Igreja, que celebrará de 07 a 28 de outubro o Sínodo dos Bispos, em busca de novos caminhos para transmitir o Evangelho de Cristo em nosso tempo.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Hoje, em todo o Brasil, comemoramos o dia da Bíblia. Ela é o livro sagrado por excelência, porque contém a Palavra de Deus. É nela que estão as mais belas orações, inspiradas por Deus. É dela que tiramos as lições para nossa vida e para transmiti-las aos nossos filhos. Ela é a fonte de nossa fé. É nela que encontramos os fundamentos de nossa Igreja. Recebemos os sacramentos porque a Bíblia nos fala deles. As leituras de hoje nos ensinam que muitos são os carismas que Deus distribuiu entre os homens e que devem ser postos a serviço, para tornar Deus conhecido de todos. Rezemos nesta Eucaristia para que o Senhor faça descer sobre nós a força do Espírito Santo, a fim de que possamos servir a Deus, aos nosso irmãos e irmãs e à Santa Igreja, segundo a vontade do Pai.
Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos alegres cânticos ao Senhor!
XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM
Antífona da entrada: Senhor, tudo o que fizestes conosco com razão o fizestes, pois pecamos contra vós e não obedecemos aos vossos mandamentos. Mas honrai o vosso nome, tratando-nos segundo vossa misericórdia (Dn 3,31.29s.43.42).
Comentário das Leituras de hoje: Neste dia da Bíblia, vamos ouvir atentamente o que ela tem a nos dizer. A Palavra de Deus é uma luz que ilumina nossas atitudes em busca de uma convivência pacífica através da tolerância, garantindo nossa identidade de cristãos e de católicos. Acolhamos, com alegria, a carta que o Pai celeste deixou para cada um de nós.
Primeira Leitura (Números 11,25-29)
Leitura do livro dos Números.
11 25 O Senhor desceu na nuvem e falou a Moisés; tomou uma parte do espírito que o animava e a pôs sobre os setenta anciãos. Apenas repousara o espírito sobre eles, começaram a profetizar; mas não continuaram.
26 Dois homens tinham ficado no acampamento: um chamava-se Eldad e o outro, Medad, e o espírito repousou também sobre eles, pois tinham sido alistados, mas não tinham ido à tenda; e profetizaram no acampamento.
27 Um jovem correu a dar notícias a Moisés: "Eldad e Medad, disse ele, profetizam no acampamento."
28 Então Josué, filho de Nun, servo de Moisés desde a sua juventude, tomou a palavra: "Moisés, disse ele, meu senhor, impede-os."
29 Moisés, porém, respondeu: "Por que és tão zeloso por mim? Prouvera a Deus que todo o povo do Senhor profetizasse, e que o Senhor lhe desse o seu espírito!" 
Salmo responsorial 18/19
A lei do Senhor Deus é perfeita, alegria do coração!
A lei do Senhor Deus é perfeita,
conforto par a alma!
O testemunho do Senhor é fiel,
sabedoria dos humildes.
É puro o temor do Senhor,
imutável para sempre.
Os julgamentos do Senhor são corretos
e justos igualmente.
É vosso servo, instruído por elas,
se empenha em guardá-las.
Mas quem pode perceber suas faltas?
Perdoai as que não vejo!
E preservai o vosso servo do orgulho:
não domine sobre mim!
E assim puro eu serei preservado
dos delitos mais perversos.
Segunda Leitura (Tiago 5,1-6)
Leitura da carta de são Tiago.
5 1 Vós, ricos, chorai e gemei por causa das desgraças que sobre vós virão.
2 Vossas riquezas apodreceram e vossas roupas foram comidas pela traça.
3 Vosso ouro e vossa prata enferrujaram-se e a sua ferrugem dará testemunho contra vós e devorará vossas carnes como fogo. Entesourastes nos últimos dias!
4 Eis que o salário, que defraudastes aos trabalhadores que ceifavam os vossos campos, clama, e seus gritos de ceifadores chegaram aos ouvidos do Senhor dos exércitos.
5 Tendes vivido em delícias e em dissoluções sobre a terra, e saciastes os vossos corações para o dia da matança!
6 Condenastes e matastes o justo, e ele não vos resistiu. 
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Vossa palavra é verdade, orienta e dá vigor; na verdade santifica vosso povo, ó Senhor! (Jo 17,17).

EVANGELHO (Marcos 9,38-43.45.47-48)
Naquele tempo, 9 38 João disse-lhe: "Mestre, vimos alguém, que não nos segue, expulsar demônios em teu nome, e lho proibimos".
39 Jesus, porém, disse-lhe: "Não lho proibais, porque não há ninguém que faça um prodígio em meu nome e em seguida possa falar mal de mim.
40 Pois quem não é contra nós, é a nosso favor.
41 E quem vos der de beber um copo de água porque sois de Cristo, digo-vos em verdade: não perderá a sua recompensa.
42 Mas todo o que fizer cair no pecado a um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe fora que uma pedra de moinho lhe fosse posta ao pescoço e o lançassem ao mar!
43 Se a tua mão for para ti ocasião de queda, corta-a; melhor te é entrares na vida aleijado do que, tendo duas mãos, ires para a geena, para o fogo inextinguível
45 Se o teu pé for para ti ocasião de queda, corta-o fora; melhor te é entrares coxo na vida eterna do que, tendo dois pés, seres lançado à geena do fogo inextinguível
47 Se o teu olho for para ti ocasião de queda, arranca-o; melhor te é entrares com um olho de menos no Reino de Deus do que, tendo dois olhos, seres lançado à geena do fogo,
48 'onde o seu verme não morre e o fogo não se apaga'". 
HOMILIA - CREIO - PRECES
(Ver abaixo ao final desta liturgia 3 sugestões de Homilia para este domingo)
FORMAÇÃO LITÚRGICA
Anamnese
Após a aclamação do povo, segue-se a anamnese, termo proveniente da língua grega, que significa "memorial", "comemoração": Celebrando, pois, a memória da morte e ressurreição do vosso Filho [...]. Aqui, porém, não se trata apenas de uma lembrança subjetiva, que vem à mente e, em seguida, desaparece, como a simples recordação da pessoa que, por acaso, encontramos ontem, mas de uma atualização daquilo mesmo que se recorda. Assim atualizamos ou tornamos atual na anamnese da Oração Eucarística o mistério pascal de Jesus Cristo, em cada um dos seus ricos e variados aspectos. É o próprio Espírito do Senhor quem desperta e torna atual a memória da Igreja, fazendo presente nela, hoje como ontem, o mistério de Cristo e suscitando entre nós a ação de graças e o louvor pela maravilhosa salvação continuamente oferecida e atualizada, por Deus, em Cristo Jesus.
TEXTOS BÍBLICOS PARA A SEMANA:
2ª Br – Jó 1,6-22; Sl 16 (17); Lc 9,46-50
3ª Br – Ex 23,20-23; Sl 90 (91); Mt 18, 1-5.10
4ª Vm – Jó 9,1-12.14-16; Sl 87 (88); Lc 9,57-62
5ª Br – Jó 19,21-27; Sl 26 (27); Lc 10,1-12
6ª Vd – Jó 38,1.12-21; 40,3-5; Sl 138 (139); Lc 10,13-16
Sb Vd – Jó 42,1-3.56.12-17; Sl 118 (119); Lc 10,17-24
27º DTC. Gn 2,18-24; Sl 127 (128),1-2.3.4-5.6 (R/. cf. 5); Hb 2,9-11; Mc 10,2-16 (Nova lei do matrimônio)
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. NÃO O PROIBAIS!
Sempre tive um espírito ecumênico, desde a minha infância nos anos 60, quando os ânimos eram muito acirrados entre nós católicos e os cristãos de outras Igrejas. Meu saudoso Pai, de quem eu herdei o legado da fé e das virtudes do evangelho, era de linha tradicional e na casa de esquina em que morávamos na Vila Albertina, quando os irmãos evangélicos nas tardes de domingo vinham fazer suas reuniões com pregações e hinos, ele nos levava para os fundos do quintal para que não corrêssemos o risco de nos desviar da fé católica.
Certa ocasião, fui em um culto festivo da Igreja Presbiteriana e descobri que lá também falavam de Jesus e do seu santo evangelho, e a partir daí, na minha cabeça comecei a questionar: por que nós os chamávamos de “irmãos separados”? De 1995 a 2003, coordenei a Dimensão Ecumênica Diocesana a pedido do Bispo D. José e incentivado pelo Padre João Alfredo. Participei do grupo do falecido D. Amauri – que coordenou esta dimensão no Regional Sul 1 da CNBB. Com ele muito aprendi e em nossos encontros anuais em Itaici, que reunia trezentas pessoas de treze Denominações religiosas diferentes, vivíamos um verdadeiro céu de comunhão e alegria, amadurecendo assim o meu ideal ecumênico.
Os cristãos mais tradicionalistas, tanto católicos como evangélicos muitas vezes não vêem com bons olhos o ecumenismo. Os mais fanáticos e radicais inventam mil e um argumentos para não se “misturarem” com quem não aceita e não professa as verdades da sua igreja, preferindo ver na pessoa do outro um inimigo da fé. Quanta falta de caridade e quanta ignorância!
Fechados em suas velharias religiosas não conseguem perceber que a graça e a Salvação que Jesus nos trouxe, está acima de qualquer doutrina ou instituição humana. Anunciam um Jesus, que com sua morte e ressurreição fez do Judeu e do pagão um só homem, entretanto vivem divididos por causa da intolerância e da crença em um céu particular e exclusivo, que receberão das mãos do próprio Deus como “prêmio” pela sua virtude e fidelidade. Esbarrei e convivi com pessoas assim na minha igreja e nas demais que andei visitando, aliás, há duas coisas que fazem esses cristãos torcerem o nariz: falar sobre ecumenismo e política! Esse fanatismo religioso já vem do grupo dos discípulos, que no evangelho desse domingo demonstram indignação ao verem um homem que pregava e realizava curas em nome de Jesus e o proíbem severamente de continuar e depois, orgulhosos pelo “feito”, vão informar a Jesus que lhes censura “Quem não está contra nós, está a nosso favor!”.
Do mesmo modo, na primeira leitura, Josué demonstra-se indignado ao tomar conhecimento de que dois homens, Eldad e Medad, cujos nomes constavam na lista, mas que não foram para a reunião da tenda, estavam no acampamento profetizando porque tinham recebido o espírito que Deus havia derramado sobre os anciãos. Fez a denúncia a Moisés, que em resposta manifesta o seu desejo de que todo o povo de Israel profetizasse movido pelo Espírito de Deus, que nunca foi e jamais será monopólio de ninguém.
Qualquer gesto de aceitação da Boa Nova, ainda que seja apenas um copo de água fria, não ficará sem recompensa – afirma Jesus, mas dos seus seguidores ele exige uma atitude radical a favor do bem, da vida e da comunhão entre as pessoas. As sementes do Reino de Deus foram espalhadas por Cristo em todas as nações da terra e, portanto, em todas as culturas e línguas temos a prática do bem. Vivemos em um mundo onde as pessoas se fecham e constroem barreiras ou abismos em seu redor, para que ninguém se aproxime.
É nesse sentido que podemos escandalizar e levar ao pecado um desses pequenos, se ao invés de construir pontes, nós cavamos abismos e levantamos muros da indiferença, da rejeição e do desprezo, até mesmo em nossas comunidades. Mãos, pés e olhos são essenciais na comunicação com os irmãos, os pés podem aproximar-se ou tomar distância, as mãos podem se estender em um gesto de abertura e acolhimento ou fazer um gesto agressivo, os olhos podem olhar para o outro com um espírito de comunhão ou então de desprezo e frieza. No pecado da divisão entre os cristãos, todos têm parcela de culpa.
A tentação de olhar para a história e buscar um culpado é sempre muito forte, mas o passado não nos importa, e sim o que podemos fazer hoje para eliminar muros e levantar pequenas pontes que unem, pois de cavadores de abismos e construtores de muros, o mundo já anda infectado. Buscamos o mesmo Deus, que se manifestou em Jesus e queremos o mesmo céu, que começa a ser construído aqui, não com divisões, mas na comunhão! (26ª. Domingo do TC Marcos 9, 38-43.45.47-48)
2. Acolher em nome de Jesus
Pela variedade de temas neste texto, pode-se supor que se trata de uma compilação do evangelista Marcos, talvez a partir de exortações catequéticas veiculadas pelas tradições das comunidades primitivas.
Conforme o evangelista, tendo estado nos povoados de Cesareia de Filipe, ao norte da Galileia, Jesus com seus discípulos, retornando ao sul com destino a Jerusalém, passam por Cafarnaum. Falando em nome dos demais, João, um dos doze apóstolos, diz a Jesus que, vendo alguém que expulsava demônios em nome dele, o haviam impedido porque tal pessoa não pertencia ao grupo. Na primeira leitura de hoje, temos uma narrativa semelhante que termina com a proclamação de Moisés: "Quem dera que todo o povo do Senhor fosse profeta e que o Senhor lhe concedesse o seu espírito!".
A expulsão de demônios significava a libertação de pessoas oprimidas e atormentadas pelo sistema sociorreligioso em que viviam. Os próprios discípulos haviam falhado nesta ação libertadora (Mc 9,18) e, agora, impediam outros de agirem assim. Com isto, negam o projeto de Jesus. Pela narrativa percebe-se que havia pessoas que tinham fé em Jesus, possivelmente gentios da Galileia, e agiam em seu nome, embora não pertencessem aos doze que circundavam Jesus.
Os Doze, aqui representados por João, ainda estão apegados à esperança messiânica davídica segregacionista, característica da tradição do Primeiro Testamento, e rejeitam aqueles que estão fora do grupo. Jesus os repreende, pois a missão não está no proibir, mas, sim, no valorizar todos os gestos e todas as práticas libertadoras e promotoras da vida, mesmo que sejam praticadas por pessoas que estejam fora dos grupos missionários confessionais. Há quem julgue que o missionário é aquele que tem a salvação e vai levá-la aos pecadores; é perito na doutrina e vai ensinar os que a ignoram; recebe um poder com o qual vai dar eficiência à missão. Pelo contrário, cabe à missão, a exemplo de Jesus, reconhecer, valorizar e solidarizar-se com as manifestações de vida, de busca da liberdade e da justiça, onde quer que floresçam. Em qualquer povo, em qualquer cultura, em qualquer tempo.
A seguir, no texto de Marcos, com caráter catequético, temos uma fala de Jesus estimulando a acolhida a todos aqueles que vêm em seu nome. As sentenças sobre a queda dos pequenos são orientações para prevenir escândalos dentro da própria comunidade de discípulos. As alusões às quedas pela mão ou pelo olho são simbólicas, com variado sentido. Podem indicar más ações e aspirações de poder e prestígio. Os anúncios finais de condenação não condizem com a índole misericordiosa e compassiva de Jesus, indicando tratar-se de adaptações tardias das comunidades de origem do judaísmo, pois refletem o deus do Primeiro Testamento que é o "Terror de Isaac" (Gn 31,42), que castiga e condena. A queda dos pequenos muitas vezes é provocada pelos ricos, que vivem luxuosamente, entregues à boa vida, condenando o justo e o assassinando (segunda leitura).
Oração
Senhor Jesus, faze-me alegrar com o Reino que dá seus frutos, na história humana, das formas mais imprevistas, para além do controle humano.
3. EM NOME DE JESUS
Um fenômeno de exorcismo causou preocupação no grupo de discípulos de Jesus. A pessoa que expulsava demônios, em nome de Jesus, não pertencia ao grupo dos doze. A reação espontânea foi a de proibi-la, como se estivesse agindo de maneira abusiva.
A atitude intolerante dos discípulos escondia uma forte dose de sectarismo. Pareciam mais preocupados em garantir sua fama e o sucesso do grupo, do que com a expansão do Reino, que prescindia deles. O exorcismo, feito por um desconhecido, fora considerado como uma forma de concorrência. Os discípulos sentiam que estavam perdendo o controle da missão que lhes fora confiada por Jesus. Talvez se julgassem detentores exclusivos desta missão, não admitindo a participação de outros.
Jesus assumiu uma atitude de extrema tolerância em relação ao exorcista anônimo e não aprovou a proibição que lhe fora imposta. Se o indivíduo, de fato, foi capaz de realizar um milagre, invocando o nome de Jesus, é porque, de alguma forma, sabia-se em comunhão com ele. Seria impensável que, logo em seguida, se pusesse a falar mal do Mestre e desmerecer sua obra. Portanto, podia continuar livremente a fazer o bem em nome dele.
A orientação de Jesus evitou que a comunidade dos discípulos se fechasse em si mesma, transformando-se numa seita intolerante. Foi um orientação ecumênica.
Oração
Senhor Jesus, faze-me alegrar com o Reino que dá seus frutos, na história humana, das formas mais imprevistas, para além do controle humano.