Homilética




 



HOMILÉTICA

Introdução
A pregação é um milagre duplo. O primeiro milagre é Deus usar um homem imperfeito, pecador e cheio de defeitos para transmitir Sua perfeita e infalível Palavra. Trata-se de um Ser perfeito usando um ser imperfeito como seu porta-voz. Só um milagre pode tornar isso possível. O segundo milagre é Deus fazer com que os ouvintes aceitem o porta-voz imperfeito, escutem a mensagem por intermédio do pecador e, finalmente, sejam transformados por essa mensagem. Esse é o grande milagre da pregação.
            As técnicas são indispensáveis para uma boa pregação. Embora todas as técnicas ajudem o pregador, porém, não fazem dele um pregador. Par ser um bom pregador é preciso ter a técnica e algo mais. Esse algo mais é o milagre do Espírito Santo. O pregador deve rezar, meditar e se colocar inteiramente nas mãos de Deus, para então, depois disto, pregar.
            A leitura é uma parte importante do sermão. Ela deve ser bem feita, observando as pontuações estabelecidas, com suas pausas e mudança de personagem. O pregador precisa manter o contato com o público através do olhar, se fazendo próximo dos ouvintes.

 1. Conceito geral de homilética;
                O termo Homilética é derivado do Grego “HOMILOS” o que significa, multidão assembléia do povo, derivando assim outro termo, “HOMILIA” ou pequeno discurso do verbo “OMILEU” conversar.
               O termo Grego “HOMILIA” significa um discurso com a finalidade de Convencer e agradar. Portanto, Homilética significa “A arte de pregar”.
               A arte de falar em público nasceu na Grécia antiga com o nome deRetórica. O cristianismo passou a usar esta arte como meio da pregação, que no século 17 passou a ser chamada de Homilética. 
Vejamos algumas definições que envolve essa matéria:
Discurso - Conjunto de frases ordenada faladas em público.
Homilética - É a ciência ou a arte de elaborar e expor o sermão.
Oratória - Arte de falar ao público.
Pregação - Ato de pregar, sermão, ato de anunciar uma notícia.
Retórica - Conjunto de regras relativas a eloquência; arte de falar bem.
Sermão - Discurso cristão falado no púlpito.
HOMILETIKE – (Grego) ensino em tom familiar
HOMILIA – (do verbo homileo ) Pregação cristã, nos lares em forma de conversa.
PREGAÇÃO Ato de pregar a palavra de Deus.
Pregação é o ato de pregar a palavra de Deus. Pregador (aquele que prega), vem do latim, “prae” e
“dicare” anunciar, publicar. Apalavra grega correspondente a pregador é “Keryx”, arauto, isto é, aquele
que tem uma mensagem (Kerygma) do reino de Deus, uma boa notícia, uma boa-nova – evangelho,
“evangelion”.

DEUS, A PALAVRA E O MINISTRO
Deus/Pregador/ Ouvinte/comunidade
O pregador dirigi-se a Deus e transmite ao ouvinte a mensagem levando-o a Deus.
Baseando-se em três passagens da vida de Pedro o pregador deve ser:
1 – Aquele que esteve com Jesus - Atos 4:13
2 – Aquele que fala como Jesus – Mateus 26:73
3 – Aquele que fala de Jesus – Atos 40:10
               A proclamação do evangelho é trazer as Boas Novas da Salvação. Apresentar ao público Jesus Cristo, seus ensinamentos e seu propósito, para isso, é preciso que o mensageiro tenha uma identificação completa com Cristo. Conhecer a Cristo de forma especial é além de ser convertido Ter certeza de uma chamada (missão) específica para o ministério da palavra o que só é possível a aquele que “esteve com Jesus”.

2. Pespectiva histórica da homilética
                Há três dis­ci­pli­nas teo­ló­gi­cas que estão direta e expli­ci­ta­mente rela­ci­o­na­das ao culto público: a Litur­gia, a Hino­lo­gia, e a Homi­lé­tica. A pre­sente abor­da­gem trata, espe­ci­fi­ca­mente, desta última: a Homi­lé­tica, como um capí­tulo fun­da­men­tal da Teo­lo­gia Pas­to­ral (em estreita depen­dên­cia à Teo­lo­gia Bíblica e à Sistemático-Histórica).
                No texto de Lucas 24.15cujo con­texto é o do encon­tro de Jesus res­sus­ci­tado com dois de seus dis­cí­pu­los no cami­nho de Jeru­sa­lém a Emaús —, o verbo grego homi­leo é empre­gado para des­cre­ver o diá­logo em tom fami­liar e afe­tivo dos dois dis­cí­pu­los que tro­ca­vam idéia entre si a res­peito dos últi­mos acon­te­ci­men­tos rela­ti­vos à con­de­na­ção e à morte de Jesus. Homi­leo — da mesma raiz das pala­vras Homi­lia e Homi­lé­ticasig­ni­fica, em prin­cí­pio, “estar em com­pa­nhia de”, e, por impli­ca­ção, con­ver­sar, comun­gar. Em por­tu­guês, o verbo con­ver­sar é resul­tado da com­po­si­ção com + ver­sar, o que pres­su­põe a inte­ra­ção medi­ada pela pala­vra entre duas ou mais pes­soas. 
                O mesmo ver­sí­culo diz ainda que os dis­cí­pu­los “dis­cu­tiam”, que em grego (suze­teo) sig­ni­fica “inves­ti­gar junto com”, isto é, con­tro­ver­ter, dis­pu­tar, inqui­rir, ques­ti­o­nar (com), arra­zoar (junto). Os acon­te­ci­men­tos rela­ci­o­na­dos à fé e à vida e morte de Jesus eram objeto não somente de diá­logo infor­ma­tivo, mas de exer­cí­cio espe­cu­la­tivo. Os acon­te­ci­men­tos não devem ser obje­tos de mera infor­ma­ção e assi­mi­la­ção, mas devem ser pro­ble­ma­ti­za­dos com vis­tas à sua superação.
               Outro verbo impor­tante nesse verso é o que des­creve a ati­tude de Jesus: enquanto os dis­cí­pu­los faziam suas homi­lias e levan­ta­vam seus ques­ti­o­na­men­tos crí­ti­cos, “o pró­prio Jesus se apro­xi­mou”. O verbo eggizo empre­gado aqui enfa­tiza o ato de “che­gar perto”. estar “ao alcance da mão”.Por fim, o mesmo verso afirma que Jesus “ia com eles”. O verbo sum­po­reu­o­mai, que pode ser tra­du­zido por “cami­nhar junto”, sig­ni­fica tam­bém “assu­mir uma estra­té­gia ou curso de ação com vis­tas a resol­ver uma situ­a­ção difí­cil”. A nar­ra­tiva parece suge­rir que, quando a Igreja dia­loga e reflete a res­peito do Evan­ge­lho, o pró­prio Cristo se apro­xima para fazer parte desse encon­tro dia­ló­gico: “Por­que, onde esti­ve­rem dois ou três reu­ni­dos em meu nome, ali estou no meio deles” (Mt 18.20). É isso que pre­ten­de­mos pro­mo­ver neste texto­: um diá­logo afe­tivo a res­peito da comu­ni­ca­ção do Evan­ge­lho (Homi­lé­tica); a pro­ble­ma­ti­za­ção dia­ló­gica a res­peito das difi­cul­da­des no pro­cesso inter­pre­ta­tivo (exe­gé­tico e her­me­nêu­tico); o que pres­su­põe uma apro­xi­ma­ção da nossa vida com o seu autor, o Verbo encar­nado, num cami­nhar comum em busca da mesma expe­ri­ên­cia de res­sur­rei­ção (Teo­lo­gia da Proclamação).

2.1 Pre­ga­ção, Homi­lia, Ser­mão, Pré­dica, Parênese

                Qual a dife­rença entre “pre­ga­ção” e “sermão”?
                 Deve­mos ter claro que a “pre­ga­ção” (do lat. pre­di­ca­tio e do gr. kerygma), em sen­tido lato é muito mais ampla que aquela peça ora­tó­ria pro­nun­ci­ada no con­texto cele­bra­tivo do culto. A “pre­ga­ção” é tudo o que a igreja vive na prá­tica como tes­te­mu­nha do Evan­ge­lho. A pro­cla­ma­ção do Evan­ge­lho é a grande tarefa mis­si­o­ná­ria da Igreja. Por­tanto, o “ser­mão” é ape­nas uma das dife­ren­tes for­mas pelas quais a Igreja prega o Evan­ge­lho, ao lado do tes­te­mu­nho pes­soal, da soli­da­ri­e­dade comu­ni­tá­ria, dos atos de pie­dade e das obras de mise­ri­cór­dia. A pre­ga­ção acon­tece por meio de ges­tos e pala­vras, de lite­ra­tura e cân­ti­cos, da arte e dos sím­bo­los, etc.
                 Mais espe­ci­fi­ca­mente falando, a homi­lé­tica é enten­dida como a dis­ci­plina que se ocupa da ciên­cia e da arte da pre­ga­ção de ser­mões reli­gi­o­sosciên­cia, por­que estuda cri­te­ri­o­sa­mente os pro­ces­sos do dis­curso reli­gi­oso e arte por­que aplica-se ao estudo das suas téc­ni­cas. A pala­vra tem ori­gem no termo grego homi­le­ti­kos que, por sua vez deriva de homi­los que sig­ni­fica “mul­ti­dão”, “assem­bléia do povo”.Pelo que se sabe, os pri­mei­ros cris­tãos empre­ga­vam o termo para desig­nar a “assem­bléia do culto”. O verbo grego, homi­leo, que se tra­duz por “con­ver­sar”, pas­sou a ser empre­gado para indi­car os dis­cur­sos em tom fami­liar que eram fei­tos nes­sas reu­niões ou assem­bléias. Do verbo homi­leo deriva-se o subs­tan­tivo homi­lia, que pas­sou a desig­nar as expo­si­ções ins­tru­ti­vas (exor­ta­ti­vas) que se fazia das escri­tu­ras no con­texto litúr­gico das pri­mei­ras comu­ni­da­des cris­tãs. A homi­lia se cons­ti­tui­ria, assim, em uma das for­mas da pre­ga­ção cristã.
                Embora o pro­duto homi­lé­tico receba, com freqüên­cia, dife­ren­tes desig­na­ções, tais como pre­ga­ção,pré­dica, parê­nese, homi­lia e ser­mão, em sen­tido res­trito, tais expres­sões referem-se àquela peça ora­tó­ria, dis­cur­siva que se dá no con­texto cele­bra­tivo da comu­ni­dade de fé. O cará­ter espe­cí­fico da homi­lé­tica se dá em vir­tude de sua vin­cu­la­ção litúr­gica. É esse o dife­ren­cial que dis­tin­gue o “ser­mão” de outros dis­cur­sos: o con­texto litúrgico.
                Pode-se esta­be­le­cer o seguinte roteiro his­tó­rico da prá­xis homi­lé­tica: os ante­ce­den­tes da homi­lé­tica cristã no período do Pri­meiro Tes­ta­mento (Bíblia Hebraica); a homi­lé­tica no período do cris­ti­a­nismo pri­mi­tivo; durante os qua­tro pri­mei­ros sécu­los da era cristã; durante a Idade Média; no período da Reforma Pro­tes­tante; a par­tir da Reforma Pro­tes­tante; durante o período dos movi­men­tos evan­ge­lís­ti­cos e mis­si­o­ná­rios; e a pre­ga­ção recente e contemporânea.

2.2 A homi­lé­tica antes da homilética

                 A homi­lé­tica cristã é his­to­ri­ca­mente her­deira da trí­plice hie­rar­quia judaica: reisacerdoteprofeta.
                Pode-se dizer dos Sacer­do­tes que pra­ti­ca­vam uma homi­lé­tica da cele­bra­ção do coti­di­ano. O ser­mão sacer­do­tal atua, em geral, como reca­pi­tu­la­ção da memó­ria fun­dante de Israel e con­vo­ca­ção à prá­tica dos pre­cei­tos dados por Deus e regis­tra­dos nos escri­tos sagra­dosTorá (Lei), dos Nebiim (Pro­fe­tas) e dos Ketu­bim (Escritos).
                Quanto aos Reis-pregadores, tratava-se de uma homi­lé­tica da sabe­do­ria fami­liar. Na Bíblia Hebraica, constata-se a res­pon­sa­bi­li­dade homi­lé­tica de che­fes de famí­lia, de clãs e de reis. É inte­res­sante notar que o mape­a­mento da sabe­do­ria semita, prin­ci­pal­mente de Israel, mos­tra o tra­ba­lho dos sábios que cole­tam as memó­rias (e demais pro­du­ções sapi­en­ci­ais, tais como ditos, sen­ten­ças e pro­vér­bios) das bases popu­la­res, submete-as à inter­pre­ta­ção das esco­las sapi­en­ci­ais, orga­ni­zando por fim cole­tâ­neas e anto­lo­gias. A obra se torna o espe­lho da cons­ci­ên­cia do povo. O papel de pre­ga­dor não se res­trin­gia aos reis. Tam­bém era res­pon­sa­bi­li­dade dos “anciãos de Israel”, isto é, dos che­fes de famí­lia, expli­car para os seus fami­li­a­res e agre­ga­dos o sen­tido das fes­tas e das cerimô­nias reli­gi­o­sas que, como povo, cele­bra­vam anu­al­mente. Por essa prá­tica homi­lé­tica as tra­di­ções e a cul­tura reli­gi­osa eram trans­mi­ti­das de gera­ção a geração.
                Quanto aos Pro­fe­tas, sua homi­lé­tica é a da con­tes­ta­ção e da espe­rança. A homi­lé­tica pro­fé­tica judaica se mani­fes­tava de duas manei­ras: no anún­cio das pro­mes­sas divi­nas e nas denún­cias de even­tu­ais des­vir­tu­a­men­tos em rela­ção à von­tade divina. Deve-se acres­cen­tar, a res­peito dos pro­fe­tas, que sua pre­ga­ção não se res­trin­gia ao dis­curso oral. Muito de sua pre­ga­ção se efe­ti­vava por meio de atos sim­bó­li­cos, do ges­tual, do ves­tuá­rio (ou ausên­cia dele) e do seu pró­prio estilo de vida. Os pro­fe­tas se comu­ni­ca­vam ver­bal­mente (alguns che­ga­vam a gri­tar, cf. Is 40.6), alguns pou­cos escre­viam suas men­sa­gens, mas, “falado ou escrito, o seu dis­curso, feito de pala­vras e de fra­ses, se des­do­brava em outra lin­gua­gem, a dos sinais, dos ges­tos”. Por­tanto “a pala­vra dos pro­fe­tas era tam­bém ‘ges­tual’; as suas pro­cla­ma­ções ora­tó­rias eram pon­ti­lha­das de atos sig­ni­fi­ca­ti­vos”: ras­gando man­tos (1Rs 11.3032), bran­dindo chi­fres de ferro (1Rs 20.3543), casando com pros­ti­tu­tas (Oséias), dando nomes-mensagens aos filhos (Is 7.3; 8.3; 7.14; 8.3s), andando nus e des­cal­ços (Is 20), lavando cin­tos no Eufra­tes (Jr 13.111), que­brando jar­ros (Is 19), car­re­gando can­gas no pes­coço (Jr 27), trancando-se em casa, mudos e ata­dos (Ez 3.2464), cor­tando fios da barba e do cabelo (Ez 5.13), comendo ali­mento de misé­ria (Ez 12.1720), para citar­mos uns pou­cos exemplos.
                 Da pro­fe­cia bíblica, a prá­xis homi­lé­tica her­dou a soli­da­ri­e­dade para com o povo opri­mido e o enga­ja­mento no ser­viço de uma Pala­vra que trans­cende o ora­dor o dis­curso ver­bal, che­gando mesmo a expressar-se espe­ta­cu­lar­mente por meio de atos sim­bó­li­cos sig­ni­fi­ca­ti­vos, com vis­tas à trans­for­ma­ção da realidade.

2.3 A homi­lé­tica cristã

                A aná­lise da prá­xis homi­lé­tica de Jesus, dos após­to­los e dos pri­mei­ros líde­res cris­tãos, aju­dará na com­pre­en­são do con­ceito de pre­ga­ção cristã. Jesus: uma homi­lé­tica da (con)vivên­cia: Con­forme relato das comu­ni­da­des dos evan­ge­lis­tas Lucas, e Mar­cos, prin­ci­pal­mente, o pró­prio Jesus teria afir­mado que sua mis­são con­sis­tia numa tarefa homi­lé­tica (ver Lc 4.1819 e Mc 1.3839). Em sín­tese, Jesus era um pre­ga­dor itinerante.
                Pelos regis­tros evan­gé­li­cos, nota-se que Jesus pre­gava com sim­pli­ci­dade sobre uma grande vari­e­dade de temas e que con­quis­tava a sim­pa­tia dos seus inter­lo­cu­to­res. Nas pági­nas dos evan­ge­lhos, Jesus é sem­pre encon­trado pre­gando: quer sejam pre­ga­ções for­mais nas sina­go­gas; pre­ga­ções oca­si­o­nais nas praias, pelos cami­nhos, sobre as mon­ta­nhas e vales; ou pre­ga­ções indi­vi­du­a­li­za­das diri­gi­das a pes­soas com quem se encon­trava nas casas, nas pra­ças, alhu­res e algu­res.
               Note-se o uso que Jesus fazia da lin­gua­gem ima­gé­tica, do raci­o­cí­nio ana­ló­gico, das figu­ras de lin­gua­gem, par­ti­cu­lar­mente as metá­fo­ras, da ceno­gra­fia, das pos­si­bi­li­da­des acús­ti­cas, da lin­gua­gem cor­po­ral, etc. A maneira como seus dis­cur­sos sur­pre­en­dem, des­per­tam o inte­resse, apre­sen­tam o con­tra­ponto ide­o­ló­gico e ren­dem o audi­tó­rio são dig­nos de nota.A inter­pre­ta­ção mais notá­vel que os evan­ge­lhos fazem do estilo homi­lé­tico de  Jesus é o regis­tro do Ser­mão da Mon­ta­nha (Mt 5). A homi­lé­tica de Jesus não seria tão notá­vel, entre­tanto, se esti­vesse res­trita somente ao nível do dis­curso. A força per­su­a­siva da sua pre­ga­ção é refor­çada por seu modo de vida. A novi­dade da homi­lé­tica de Jesus está, por­tanto, na sua prá­xis, isto é, na maneira como ele com­bina pala­vra e ação: é, por­tanto, uma homi­lé­tica da vivên­cia e da convivência.
                Pedro e Paulo: uma homi­lé­tica da emo­ção e da per­sis­tên­cia: o ser­mão de Pedro, no dia de Pen­te­cos­tes (At 2.1436), se carac­te­riza pela ausên­cia do ele­mento sub­je­tivo; pelo mérito con­fe­rido à obra do Espí­rito Santo; pelo apelo à his­tó­ria e à pro­fe­cia, como base da fé; pela cita­ção abun­dante das Escri­tu­ras; pela pro­cla­ma­ção direta do evan­ge­lho (cul­pa­bi­li­dade humana e sal­va­ção medi­ante a morte e res­sur­rei­ção, ascen­são e glo­ri­fi­ca­ção de Jesus). Pedro evoca os escri­tos pro­fé­ti­cos para fun­da­men­tar sua pré­dica. A seguir, inter­preta a pala­vra pro­fé­tica a par­tir da vida e dos ensi­na­men­tos de Jesus. Mais do que re-interpretar o texto sagrado, o pró­prio Jesus é apre­sen­tado como o Mes­sias a res­peito de quem os tex­tos sagra­dos se referem.
               Os “ser­mões” de Paulo, bre­ve­mente rela­ta­dos nas pági­nas do Novo Tes­ta­mento são sufi­ci­en­tes para dei­xar trans­pa­re­cer o seu gênio homi­lé­tico. Não obs­tante Paulo se con­si­dera um mau pre­ga­dor (iro­nia?) quando com­pa­rado a um certo Apolo, famoso por sua eloqüên­cia (cf. 1Co 2 e 3). As carac­te­rís­ti­cas da pre­ga­ção de Paulo podem ser per­ce­bi­das a par­tir do ser­mão pro­fe­rido no Areó­pago, na cidade de Ate­nas, con­forme rela­tado por Lucas (At 17.1631). Note-se, nos ver­sí­cu­los 22 e 23, a sin­to­nia do pre­ga­dor com a audi­ên­cia e sua capa­ci­dade para apre­sen­tar novas idéias a dife­ren­tes audi­tó­rios. Tam­bém a cri­a­ti­vi­dade para tra­tar o assunto de tal maneira que des­perte a curi­o­si­dade dos ouvin­tes. Paulo demons­tra fami­li­a­ri­dade com as Escri­tu­ras e com a lite­ra­tura em geral, che­gando a citar poe­tas gre­gos. Nota-se, ainda, o cui­da­doso pre­paro da pre­ga­ção com abun­dan­tes recur­sos lógi­cos e psicológicos.
               A pre­ga­ção apos­tó­lica demons­trou ser emo­ci­o­nal­mente con­tun­dente a ponto de enfren­tar opo­si­ções de uma reli­gião esta­be­le­cida, por um lado, e, por outro, cora­josa e per­sis­tente o bas­tante para dis­se­mi­nar e pro­pa­gar suas con­vic­ções por grande parte do mundo conhe­cido nos pri­mór­dios da era cristã.
A pre­ga­ção nos pri­mei­ros sécu­los: uma homi­lé­tica fami­liar e eloqüente: Ao longo de três sécu­los, a pre­ga­ção teria apre­sen­tado dis­tinto pro­gresso. O cará­ter menos téc­nico de pre­ga­ções como as de Pedro, deu lugar a uma forma mais sis­te­ma­ti­zada de dis­curso; o ensino, que era prin­ci­pal­mente expo­si­tivo, tornou-se lógico e cla­ra­mente demar­cado; a homi­lia, que tinha cará­ter infor­mal, foi subs­ti­tuída pelo ser­mão, muito mais for­mal; os argu­men­tos até então sim­ples e sufi­ci­en­tes, base­a­dos uni­ca­mente nas Escri­tu­ras, agora care­cem da com­ple­men­ta­ção da opi­nião humana por causa do aumento da eru­di­ção do público; a essa influên­cia inte­lec­tual acrescente-se o efeito da cul­tura retó­rica. Nesse período, a pré­dica se carac­te­ri­zou defi­ni­ti­va­mente como parte inte­grante da expres­são litúr­gica das comu­ni­da­des cristãs.
                Cul­tura geral, conhe­ci­mento dos tex­tos bíbli­cos e de auto­res clás­si­cos, conhe­ci­mento dos prin­cí­pios da gra­má­tica e da retó­rica, bem como da exe­gese bíblica (com os limi­tes da época, natu­ral­mente, pois a noção de exe­gese era dife­rente do que a moder­ni­dade con­sa­grou por meio do método histórico-crítico), tra­du­zi­das num dis­curso aces­sí­vel e apai­xo­nado, pro­fe­rido no con­texto cele­bra­tivo da comu­ni­dade cristã, fize­ram de pre­ga­do­res como Jerô­nimo, Ambró­sio e Agos­ti­nho, refe­rên­cia homi­lé­tica para as futu­ras gera­ções de pre­ga­do­res cristãos.

2.4 A homi­lé­tica medieval

                A pre­ga­ção na Idade Média: uma homi­lé­tica men­di­cante: O período de nove sécu­los que for­mam a Idade Média, que vai desde a queda do Impé­rio Romano (séc. V), até o nas­ci­mento do mundo moderno (séc. XV), é mar­cado pela pro­pa­ga­ção do cris­ti­a­nismo por toda a Europa. Nele se dá a tran­si­ção do fim da Patrís­tica e o começo da Esco­lás­tica.
                A Idade Média foi mar­cada por um tipo de raci­o­na­li­dade muito pecu­liar, por um lado, e por uma mís­tica inu­si­tada, por outro.A homi­liacomo dis­curso fami­liar, sim­ples e íntimofoi subs­ti­tuído pelo dis­curso tópico (temá­tico), bem ao gosto dos melho­res pre­ga­do­res gre­gos, e nos mol­des da filo­so­fia esco­lás­tica. Espa­ci­al­mente falando, na arqui­te­tura ecle­siás­tica ofi­cial, procede-se a ele­va­ção sun­tu­osa e cha­ma­tiva do púl­pito “por sobre a cabeça da assis­tên­cia”, o que demons­tra, pelo menos no âmbito ecle­siás­tico ofi­cial “o tom alta­mente retó­rico da pre­ga­ção durante a Idade Média”.
                Em con­tra­par­tida à Esco­lás­tica, dissemina-se uma mís­tica que con­ta­gia o povo e alarma a hie­rar­quia, que ficou conhe­cida como movi­mento das ordens men­di­can­tes. Den­tre seus mai­o­res expo­en­tes está Fran­cisco de Assis (11821226). Fran­cisco de Assis pre­fe­ria pre­gar a céu aberto para as mul­ti­dões que se ajun­ta­vam ao seu redor, em lugar de fazê-lo nas igre­jas, mesmo aque­las que se ofe­re­ciam para acolhê-lo. Sua pre­ga­ção se dis­tan­ci­ava do inte­lec­tu­a­lismo e do dog­ma­tismo rígi­dos do seu tempo e pro­cu­rava apre­sen­tar Cristo “de todo o seu cora­ção”, con­vi­dando seus ouvin­tes para segui­rem a Cristo como ele mesmo o fazia. Essa pos­tura não o pro­te­gia das supers­ti­ções que gras­sa­vam nas cama­das popu­la­res, a des­peito da orto­do­xia do alto clero. Tais eram os pre­ga­do­res mís­ti­cos: faziam votos de pobreza e de cas­ti­dade, entu­siás­ti­cos e dedicavam-se à pre­ga­ção em lin­gua­gem ver­ná­cula (enquanto o alto clero pre­fe­ria o latim), e freqüen­te­mente bus­ca­vam ins­pi­ra­ção na natu­reza e ape­la­vam para o exem­plo de Jesus, enfa­ti­zando sua humil­dade e pobreza. “Se os Esco­lás­ti­cos eram luz sem cora­ção, os Mís­ti­cos eram cora­ção sem luz”.

2.5 A homi­lé­tica reformada

               A pre­ga­ção na Reforma: uma homi­lé­tica pro­fes­so­ral: Para Whi­lhelm Pauck, “nada é mais carac­te­rís­tico do Pro­tes­tan­tismo do que a impor­tân­cia que ele dá à pre­ga­ção”. Muito embora a pré­dica sem­pre tenha sido impor­tante na his­tó­ria do cris­ti­a­nismo, ela nunca teve papel tão cen­tral como no período da Reforma Pro­tes­tante do século XVI.
                Para os refor­ma­do­res, par­ti­cu­lar­mente Mar­ti­nho Lutero (14831546) e João Cal­vino (15091564), a Igreja se encon­tra onde a Pala­vra de Deus é cor­re­ta­mente pre­gada e ouvida e os sacra­men­tos são cor­re­ta­mente admi­nis­tra­dos e rece­bi­dos.
                Assim, surge uma nova con­cep­ção do termo “minis­tro”, este é, agora, o minis­ter verbi divini (servo da Pala­vra de Deus). Os refor­ma­do­res se refe­riam cos­tu­mei­ra­mente ao “minis­tro” orde­nado como “pas­tor”, mas mais freqüen­te­mente como “pre­ga­dor” (Pre­di­ger ou Pra­e­di­kant). O povo em geral, se refe­ria aos minis­tros como “pre­ga­do­res”.
                No tempo de Lutero, era prá­tica comum pregar-se um livro da Bíblia todo, domingo após domingo. Segun­das e terças-feiras pregava-se sobre uma parte do cate­cismo, do decá­logo, do credo, da ora­ção do senhor ou sobre os sacra­men­tos. O ser­mão de quarta-feira centrava-se no evan­ge­lho de Mateus e nas quin­tas e sex­tas, expunham-se as epís­to­las. O evan­ge­lho de João ofe­re­cia a base para o ser­mão dos ofí­cios rea­li­za­dos aos sába­dos. Os refor­ma­do­res se viram às vol­tas com a igno­rân­cia do povo em geral e do clero em par­ti­ru­lar. Para enfren­tar esse desa­fio, foram toma­das pro­vi­dên­cias para que o púl­pito se con­ver­tesse em um meio de ins­tru­ção. A ênfase da homi­lé­tica refor­mada não era, por­tanto, con­ver­ci­o­nista, nem pre­ten­dia pro­vo­car emo­ções ou sen­ti­men­tos, mas ins­pi­rava dis­cur­sos cada vez mais catequé­ti­cos e dou­tri­ná­rios. O tom da tarefa do minis­tro clé­rigo torna-se pre­do­mi­nan­te­mente didá­tico, mesmo a admi­nis­tra­ção dos sacra­men­tos é acom­pa­nhada por algum tipo de instrução.
                Se a arqui­te­tura mar­cou a iden­ti­dade homi­lé­tica medi­e­val, com seus sun­tu­o­sos e ele­va­dos púl­pi­tos, a homi­lé­tica refor­mada ficou carac­te­ri­zada pelo figu­rino, com a subs­ti­tui­ção da indu­men­tá­ria sacer­do­tal pelos tra­jes aca­dê­mi­cos. Os para­men­tos sacer­do­tais, típi­cos da igreja romana, deram lugar à toga do aca­dê­mico secu­lar (cha­mada de schaube).
                Uma pos­sí­vel sín­tese da dou­trina da pré­dica refor­mada pode assim ser expressa, no enten­di­mento de Michael Rose: (1) a pri­ma­zia da pala­vra oral em rela­ção aos outros meios de graça; (2) a Pala­vra de Deus deve con­so­lar e liber­tar a cons­ci­ên­cia moral do ser humano por meio da pré­dica evan­gé­lica; (3) somente a Cristo se deve pre­gar (solus Chris­tus pra­e­di­can­dus); (4) a pre­ga­ção da Pala­vra se des­tina ao indi­ví­duo; (5) inte­gra­ção ou nexo entre pre­ga­ção, culto e espaço público; e (6) troca do meio de pre­ga­ção mais acen­tu­a­da­mente visual para uma comu­ni­ca­ção mais acen­tu­a­da­mente audi­tiva, lingüís­tica.

2.6 A hom­lé­tica no Pós-Reforma

               A pre­ga­ção no pós Reforma: uma homi­lé­tica apo­lo­gé­tica e ilu­mi­nada: Após a rup­tura ecle­siás­tica resul­tante da exco­mu­nhão de Mar­ti­nho Lutero do qua­dro sacer­do­tal da igreja romana, a igreja cristã oci­den­tal enfren­tou os sécu­los sub­seqüen­tes divi­dida e dividindo-se.
                A homi­lé­tica nos sécu­los do pós-Reforma (XVII e XVIII) é mar­cada pelo Movi­mento Tri­den­tino (Contra-Reforma), o Pie­tismo e o Ilu­mi­nismo. Esse tam­bém foi um período que rece­beu muita influên­cia das refle­xões mís­ti­cas de Santa Teresa D’Ávila (15151582) e de São João da Cruz (15421591).
                A reto­mada da orto­do­xia romana, pelo movi­mento da Contra-Reforma, pro­mo­veu, em con­tra­par­tida, a rea­fir­ma­ção da orto­do­xia refor­mada. Nesse período a pré­dica ocupava-se da rea­fir­ma­ção e da ins­tru­ção da reta dou­trina, em con­tra­po­si­ção a “outros con­teú­dos dou­tri­nais, prin­ci­pal­mente os cató­li­cos”, o que sig­ni­fica dizer que “a edi­fi­ca­ção ou a nutri­ção da fé não tinham um papel tão deci­sivo”. Trata-se, por­tanto de uma pre­ga­ção apo­lo­gé­tica mar­cada por dis­pu­tas teo­ló­gi­cas e con­tro­vér­sias dou­tri­ná­rias, tanto por parte da igreja romana como das pro­tes­tan­tesuma enfá­tica guerra de ortodoxias.
                Outro movi­mento que influ­en­ciou a prá­xis homi­lé­tica a par­tir do século XVIII foi o avi­va­mento reli­gi­oso inglês. Na pri­meira metade do século XVIII, teve iní­cio um movi­mento lide­rado George Whi­te­fi­eld (17141770) e por John Wes­ley (17031791) e que pre­ten­dia “refor­mar a nação e, em par­ti­cu­lar, a igreja; para espa­lhar a san­ti­dade bíblica sobre toda a terra”.
                Des­pres­ti­gi­ada pela igreja ofi­cial, a prá­tica homi­lé­tica desse movi­mento se nota­bi­li­zou pela rea­lo­ca­ção dos púl­pi­tos para as pra­ças e outros luga­res públi­cos fora das fron­tei­ras ecle­siás­ti­cas. Tam­bém o audi­tó­rio seleto dos tem­plos foi subs­ti­tuído pela massa excluída pela igreja ofi­cial. A pre­ga­ção pas­sou a ser diri­gida aos pobres, aos tra­ba­lha­do­res das minas, aos escra­vos, aos pri­si­o­nei­ros, aos desem­pre­ga­dos, e à mul­ti­dão que vagava pelas ruas em busca de espe­rança e do pão coti­di­ano.

2.7 A homi­lé­tica moderna

                A pre­ga­ção no tempo das mis­sões: uma homi­lé­tica con­ver­si­o­nista e estran­geira: Os sécu­los XIX e XX fica­ram mar­ca­dos, pelo menos nas igre­jas pro­tes­tan­tes, pela obra mis­si­o­ná­ria estran­geira mun­dial. Tanto o movi­mento mis­si­o­ná­rio como o filan­tró­pico do prin­cí­pio do século XIX foram resul­tado do avi­va­mento evan­gé­lico defla­grado pela gera­ção de John Wes­ley. Não obs­tante os pre­juí­zos e pre­con­cei­tos cul­tu­rais, polí­ti­cos e econô­mi­cos, decor­ren­tes das mis­sões estran­gei­ras, ouve inte­res­san­tes atu­a­ções de mis­si­o­ná­rios que, de alguma forma, se con­ver­te­ram aos que pre­ten­dia con­ver­ter, e pas­sa­ram a lutar ao seu lado para preservar-lhes a dig­ni­dade, como for a o caso de David Livings­tone (18131873).
                De todas as for­mas, o evan­ge­lho che­gava às regiões mais dis­tan­tes do globo, pre­gado por mis­si­o­ná­rios que, além da Bíblia, tra­ziam con­sigo toda uma baga­gem cul­tu­ral e ide­o­ló­gica que se con­fun­dia com o pró­prio Evan­ge­lho. O resul­tado foi uma ação mis­si­o­ná­ria impe­ri­a­lista, cuja ênfase con­ver­si­o­nista impu­nha a ide­o­lo­gia dos pre­ga­do­res. Mui­tos faziam isso con­vic­tos de que sua cul­tura de ori­gem havia sido levan­tada por Deus para domi­nar o mundo, outros, por sua vez, sequer tinham cons­ci­ên­cia de que o evan­ge­lho que pre­ga­vam tinha muito mais do que sota­que estrangeiro.
                A pre­ga­ção no tempo das revo­lu­ções: uma homi­lé­tica das liber­ta­ções, dos caris­mas e das mídias: As trans­for­ma­ções ini­ci­a­das no século XVIII se inten­si­fi­ca­ram de tal forma nos sécu­los XIX e XX que Hobs­bawn pas­sou a desig­nar esse período como a “era das revo­lu­ções”: polí­ti­cas, econô­mi­cas, cul­tu­rais, tec­no­ló­gi­cas, entre outras. Den­tre esses acon­te­ci­men­tos, como obser­vou Manuel Cas­tells, destacam-se, no final do século XX, o pro­cesso de glo­ba­li­za­ção, que pro­move a inter­de­pen­dên­cia econô­mica glo­bal; o colapso do esta­tismo sovié­tico, que alte­rou sig­ni­fi­ca­ti­va­mente a geo­po­lí­tica glo­bal; mas, prin­ci­pal­mente, a “revo­lu­ção tec­no­ló­gica con­cen­trada nas tec­no­lo­gias da infor­ma­ção”, que está “remo­de­lando a base mate­rial da soci­e­dade”.
                A prá­tica homi­lé­tica expe­ri­men­tada nesse período não ficou indi­fe­rente e engajou-se igual­mente colo­cando seu pro­duto, isto é, suas pré­di­cas, a ser­viço das revo­lu­ções ou das contra-revoluções. Desse período, mere­cem ser des­ta­ca­das, além da tra­di­ci­o­nal, as pro­pos­tas homi­lé­ti­cas dos seto­res pro­gres­sis­tas da igreja, além da dos movi­men­tos carismático-pentecostais e, mais recen­te­mente, dos neo­pen­te­cos­tais com suas incur­sões pela mídia. Pode­mos, assim, dis­tin­guir dida­ti­ca­mente uma homi­lé­tica das liber­ta­ções, uma homi­lé­tica dos caris­mas e uma homi­lé­tica das mídias.

2.8 Homi­lé­tica contemporânea

                Após esta breve revi­são his­tó­rica, conclui-se que não pode­ria haver uma defi­ni­ção única para a homi­lé­tica, por­que não há de fato uma só homi­lé­tica. O que se tem são homi­lé­ti­cas. Em cada época, o dis­curso reli­gi­oso pro­cu­rou cum­prir seu papel da maneira que jul­gava ser a mais ade­quada, influ­en­ci­ando e sendo influ­en­ci­ado por seu tempo. Natu­ral­mente, as gera­ções homi­lé­ti­cas suces­so­ras ora se sen­tiam her­dei­ras das ante­ri­o­res, ora as rejei­ta­vam como filhas rebel­des. Mas de uma forma ou de outra, não pude­ram se livrar com­ple­ta­mente de suas influên­cias e de suas raízes.
                A prá­xis homi­lé­tica é essen­ci­al­mente depen­dente de seu con­texto histórico-temporal. Por isso, o pre­ga­dor, ou o teó­logo, “deve per­cor­rer um duplo cami­nho: o do pen­sa­mento ascen­dente e o do pen­sa­mento descendente”este ser­viço, o pre­ga­dor o faz medi­ante o que ele cha­mou de Ankün­dig­nung, ou “anún­cio de um acon­te­ci­mento por vir” e Ver­kun­dung, ou “anún­cio do que está acon­te­cendo”.
                Karl Barth teria sido o pri­meiro a se refe­rir às três for­mas da Pala­vra de Deus: pre­gada (ou pro­cla­mada),escrita e reve­lada. Na ana­lo­gia tri­ni­tá­ria de Barth, cada forma da Pala­vra se rela­ci­ona com uma das pes­soas da Trin­dade: Deus o Pai Cri­a­dor com a Pala­vra reve­lada, Deus o Filho Recon­ci­li­a­dor com a Pala­vra escrita e o Espí­rito Santo Reden­tor com a Pala­vra pro­cla­madaessas três, no entanto, são uma única e só Pala­vra de Deus. Por­tanto, Karl Barth eleva a pré­dica à cate­go­ria de Pala­vra de Deus, no mesmo nível da Pala­vra escrita e da Pala­vra revelada.
                Um novo ele­mento é acres­cen­tado por Die­trich Rits­chl, para quem o que há de espe­cial com a pré­dica é que esta “ofe­rece o que o mundo não pode ofe­re­cer”, na medida em que “cada ser­mão deve expres­sar a von­tade gra­ci­osa de Deus em Cristo Jesus para estar em soli­da­ri­e­dade com os peca­do­res” . A novi­dade do pen­sa­mento de Rits­chl está na com­pre­en­são de que “nós [os pre­ga­do­res] não con­ver­te­mos os outros, mas temos que nos con­ver­ter aos outros”. Nesse sen­tido, a homi­lé­tica, em lugar de se ocu­par da ora­tó­ria, deve­ria se ocu­par de um tipo de escu­ta­tó­ria, para que a pré­dica possa ser trans­for­mada pela cum­pli­ci­dade com a expe­ri­ên­cia (o “pecado”) da comu­ni­dade para a qual é pregada.
                Pode-se, con­tudo, enten­der a pré­dica como “meio pelo qual a reve­la­ção atua” e o homi­leta, como sendo o medi­a­dor dessa atu­a­ção. Se, de fato, “a pre­ga­ção é o meio que Deus esta­be­le­ceu para comu­ni­car aos homens seu plano sal­ví­fico”, e, como afir­mara Dome­nico Grasso, a Pala­vra de Deus acon­tece na rela­ção revelaçãohomiletacongregação.
                Note-se que, de uma forma ou de outra, no acon­te­ci­mento homi­lé­tico, está sem­pre pre­sente a rela­ção entre o pre­ga­dor, a reve­la­ção e a vida das pes­soas no seu con­texto cul­tu­ral e coti­di­ano. Para a con­cei­tu­a­ção da homi­lé­tica, por­tanto, é pre­ciso considerá-la em rela­ção ao seu tempo e lugar.

3. A importância da homilética
                 Vivemos dias onde o papel da Igreja na sociedade, quando questionado, provoca ponderações em diversas direções. Para mim, entretanto, a Igreja está no mundo para fazer diferença nos lugares onde sua influência chega - ela deve cuidar dos interesses de Deus na terra: adorando-o, pregando o Evangelho, ensinando sua Palavra e atentando para os "órfãos e viúvas". O cumprimento de todo este papel exige da Igreja inconformismo (no sentido de Romanos 12:2) "não vos conformeis a este mundo"). Ela não pode acomodar-se, aquietar-se, nem omitir-se; sua guerra é contra o pecado, a injustiça e contra as "hostes espirituais da iniqüidade" (Efésios 6:12) e, para tanto, necessita de santidade, oração e dependência do Espírito.
                A sociedade continua tão sedenta de Deus quanto em qualquer outra época da história. Cada vez maior é o número de pessoas desesperadas. Fala-se em 400 mil suicídios por ano no mundo! As pessoas procuram sustentação espiritual, daí tantas religiões que surgem e conquistam adeptos, o que confirma quão grande é a carência do mundo. Se o mundo continua o mesmo em matéria de sede de Deus, a Igreja, por sua vez, sobretudo os evangélicos chamados históricos, necessitam de reflexão sobre seu papel. Penso que a crise de integridade que afeta o evangelicalismo do primeiro mundo já alcança nosso país e tende a agravar-se.
              A Igreja precisa, hoje, de um avivamento real. Avivamento é viver o Cristianismo com integridade. O problema da Igreja em grande parte reside na pobreza de vida cristã que se vive: são multidões de crentes nominativos, meros freqüentadores semanais de cultos que, quando muito, contribuem financeiramente com suas Igrejas. Há um descompromisso com a Palavra, com a ética e a moral cristãs. A Igreja é um corpo que encarna Cristo e como tal não poderia passar despercebida. Em suma, falta a consciência de discipulado cristão nos membros de nossas Igrejas.
               Concordo com Juan Carlos Ortiz, que no seu livro "O Discípulo" fala da Igreja como sendo um orfanato cheio de bebês e que nós, os pastores, passamos grande parte de nosso tempo correndo atrás de "bebês" para dar-lhes "leite". A Igreja somente pode cumprir seu papel em meio à sociedade se prezar pela qualidade de vida cristã. Tenho certeza de que crentes verdadeiramente avivamos são capazes de revolucionar uma sociedade, uma nação, um país inteiro.
                 Para que a Igreja possa alcançar sua estatura ideal, nos termos de Efésios 4:12 e 13, o ministério da pregação é fundamental. Verdadeiramente a pregação é prioridade na Igreja Cristã. Concordo com Lloyd-Jones, que no livro "Pregação e Pregadores" relaciona o declínio da Igreja ao empobrecimento e desprestígio do púlpito. O grande número de crentes nominativos em nossas Igrejas é conseqüência dos púlpitos insossos, sem unção, vida, nem criatividade. Para que a Igreja cumpra seu papel no mundo é imprescindível que os pregadores desempenhem seu ministério eficientemente e façam com que a pregação da Palavra volte a ser o momento mais importante do culto, depois do ritual eucarístico.
                 Para que a pregação readquira seu grau de importância é imperativo que os pregadores tenham um preparo adequado, tanto espiritual como intelectualmente. O pregador deve ser vocacionado por Deus para a mais importante tarefa do mundo e, consciente de sua excelente missão, dispor-se nas mãos de Deus buscando a direção do Espírito em todas as áreas de sua vida. A vida do pregador precisa referendar seus sermões. Ele deve viver o que prega, ser exemplo de vida, de santidade, amor, oração, honestidade, chefe de família. O preparo intelectual é igualmente importante. É mistér que o ministro seja homem dado aos estudos, primeiramente das Escrituras, mas não somente conhecimento bíblico é fundamental ao bom pregador. Ele precisa ter boa formação teológica, conhecimento histórico, filosófico, psicológico, antropológico, dentre outras áreas, e isto exigirá do pregador constante apego aos estudos e pesquisas.
              Destaco o preparo homilético do pregador. É fundamental que este se aperfeiçoe homileticamente, que estude, que se aprofunde na homilética a fim de conhecer técnicas, métodos e formas sermônicas que enriquecerão seu trabalho.
                Sendo a HOMILÉTICA a “Arte de Pregar”, deve ser considerada a mais nobre tarefa existente na terra. O próprio Jesus Cristo em Lucas 16 : 16 disse: Ide pregai o evangelho…
                Quando a Homilética é observada e aplicada, proporciona-se ao ouvinte uma melhor compreensão do texto.
"Conjuro-te, pois, diante de Deus e de Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu reino; prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, admoesta, repreende, exorta, com toda a longanimidade e ensino. Porque virá tempo em que não suportarão a sã doutrina; mas tendo coceira nos ouvidos, cercar-se-ão de mestres, segundo as suas próprias cobiças; e se recusarão a dar ouvidos à verdade, voltando às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre bem o teu ministério" (2 Timóteo 4.1-5).
                A observação da Homilética traz orientação ao orador.

3.1 A eloquência
ELOQUÊNCIA é um termo derivado Latim Eloquentia que significa: Elegância no falar, Falar bem,ou seja, garantir o sucesso de sua comunicação, capacidade de convencer. É a soma das qualidades do pregador.
Não é gritaria, pularia ou pancadaria no púlpito. A elocução é o meio mais comum para a comunicação; portanto deve observar o seguinte:
1. Voz – A voz, é o principal aspecto de um discurso.
Audível Todos possam ouvir.
Entendível Todos possam entender. Pronunciar claramente as palavras. Leitura incorreta, não observa as pontuações e acentuações.
2. Vocabulário – Quantidade de palavras que conhecemos.
Fácil de falar – comum a todos, de fácil compreensão – saber o significado
Evitar as gírias, Linguagem incorreta, Ilustrações impróprias.
3.2 Aalgumas regras de eloquência
- Procurar ler o mais que puder sobre o assunto a ser exposto.
- Conhecimento do publico ouvinte.
- Procurar saber o tipo de reunião e o nível dos ouvintes.
- Seriedade pois o orador não é um animador de platéia.
- Ser objetivo, claro para não causar nos ouvintes o desinteresse.
- Utilizar uma linguagem bíblica.
- Evitar usar o pronome EU e sim o pronome NÓS.

3.3 A ppostura do orador
                É muito importante que o orador saiba como comportar-se em um púlpito ou tribuna. A sua postura pode ajudar ou atrapalhar sua exposição.
A fisionomia é muito importe pois transmite os nossos sentimentos, Vejamos :
- Ficar em posição de nobre atitude.
- Olhar para os ouvintes.
- Não demonstrar rigidez e nervosismo.
- Evitar exageros nos gestos.
- Não demonstrar indisposição.
- Evitar as leituras prolongadas.
- Sempre preocupado com a indumentária. ( Cores, Gravata, Meias )
- Cabelos penteados melhora muito a aparência.
- O assentar também é muito importante.
Lembre-se que existem muitos ouvintes, e estão atentos, esperando receber alguma coisa boa da parte de Deus através de você.
               Concordo com aquilo que ouvi, que o bom sermão é aquele que "conforta os abatidos e incomoda os acomodados", pois creio que o sermão deve constituir-se num instrumento de Deus para falar ao seu povo. Assim, quero destacar alguns aspectos que creio serem importantes na preparação dos sermões:
a) Dependência do Espírito. O pregador deve encher-se dele continuamente (Efésios 5:18), pois o Espírito foi quem o escolheu e é quem o capacitará para a sua tarefa.
b) Oração. É fundamental a todo cristão, principalmente ao pregador que, através da oração, poderá trilhar o caminho do ministério da pregação com eficiência.
c) Estudo da Bíblia. Meditação e estudo são imprescindíveis. O pregador precisa alimentar-se da Palavra, ouvir os conselhos de Deus para sua vida antes de transmiti-los aos seus ouvintes.
d) Visão. O pastor precisa ter visão de onde pretende chegar com seu rebanho. Como Igreja, temos uma Missão tremendamente abrangente e a visão do pastor orientará o rebanho na parcela que lhe caberá dentro dessa Missão. A partir da visão, de onde se quer chegar, e da consciência de onde se está no momento, o pregador estabelecerá um programa de pregação que vise alimentar e conclamar seu rebanho na direção certa. Este programa deve ser previamente elaborado e dosado de criatividade e variedade, haja visto que a monotonia prejudicará a comunicação.
e) Técnicas de comunicação e homilética. O pregador precisa especializar-se a fim de eficientemente comunicar-se com seu povo. Para isso, pode buscar reciclar-se através de leituras ou aperfeiçoar-se com cursos de pós-graduação. Este aperfeiçoamento é importante para que consiga transmitir idéias contidas nos sermões com clareza de modo a serem absorvidas pelos ouvintes. Este cuidado levará o pregador a ter sempre um objetivo específico em cada sermão e a saber como alcança-lo mediante a pregação.
f) Conhecimento da natureza humana. O pregador que busca a eficiência em seu trabalho precisa conhecer seu povo e reconhecer suas carências. Se o sermão não for relevante, também não será interessante ao povo. A Bíblia não pode ser usada a pretexto, pois a pregação eficiente é bíblica e contemporânea. Concordo com L. M. Perry e Charles Sell que no livro "Pregando Sobre os Problemas da Vida" afirmam que de nada vale falar de detalhes da vida do século I e nada dizer sobre a vida do século XX.
g) Boa administração do tempo. Em geral os pregadores se envolvem com diversas atividades, mas o bom pregador é alguém que reconhece a preciosidade da obra que tem a desempenhar e investe a parcela necessária de tempo neste trabalho. Vale ressaltar que a preguiça é uma terrível inimiga da eficiência do pregador.
h) O celeiro de idéias. É uma prática igualmente importante. Uma simples agenda pode registrar idéias para sermões e ilustrações que o pregador leu, ouviu ou mesmo viveu e que futuramente poderão lhe servir para enriquecer seu trabalho.
i) Criatividade e variedade. O pastor nunca deve ser tido como repetitivo e previsível em seu trabalho como pregador. Deve surpreender sua congregação ao usar de inteligência e criatividade, podendo alcançar isto variando as formas homiléticas de apresentar seus sermões. Sermões narrativos, segmentados, monólogos, biográficos, dentre outros, poderão compor o calendário de pregação.
j) Avaliação. Destaco a necessidade do pregador avaliar-se e, para tanto, acredito que uma pessoa de confiança do pastor pode auxiliá-lo (quase sempre a esposa é uma pessoa indicada). Sugiro também que todo pregador vez por outra grave seus sermões e depois os ouça a fim de avaliar-se.
Os rumos que a Igreja deverá seguir daqui para a frente dependerão dos seus púlpitos. Se os pregadores forem aptos a discernir a vontade de Deus e dedicados a transmiti-la aos seus ouvintes, viveremos tempos de colheita abundante.
4. As característica de um pregador
                É muito importante que o pregador conquiste o público com a sua mensagem, e as pessoas vibrem com a sua experiência e autoridade. Qual o motivo do fracasso de certos pregadores em nossas igrejas? Por que pregam mensagens tão cansativas e desinteressantes? Isto é algo simples de responder: Pregam ao pé da letra que não devemos nos preocupar com o quê havemos de pregar, pois o Espírito Santo será com a nossa boca, e ao chegarem ao púlpito entregam “qualquer coisa”. O pregador tem que ter em mente que o público que se prontifica em ir a igreja ouvir a mensagem de Deus, não merece ouvir coisa cansativa e desinteressante. O pregador é o veículo chave do anúncio da Palavra de Deus, portanto, para ser eficiente no ministério da Palavra, precisa estar envolvido com os seguintes fatores:

a) Consagrado à Oração

                 O pregador precisa ter uma vida de oração para que possa transmitir o recado divino inspiradamente. O sucesso da pregação depende da intensidade da inspiração e das palavras do pregador. O fracasso de uma mensagem pode, entre muitos motivos, ser atribuído a falta de uma vida de oração por parte do pregador. Se tiver uma vida vazia de oração, sua mensagem também será vazia de vida. O requisito ORAÇÃO é o primeiro dos fatores importantes que o pregador vai precisar para o êxito da sua mensagem.

b) Consagrado à Igreja

                Jamais se deve dar oportunidade para usar da palavra àqueles Irmãos que quase nunca vão a Igreja. Se tais irmãos se acham no direito de não ir sempre à igreja, a igreja também tem o direito de não permiti-los ter o privilégio de pregar no templo de Deus. O altar é santo e é necessário que todos os que vão usar da Palavra estejam conscientes disto e tenham grande amor pela Igreja de Deus. Para a segurança emocional do pregador é necessário que ele esteja bem familiarizado com o tipo de ambiente que irá ouvi-lo.
Um pregador consagrado às atividades da igreja tem melhor condição emocional e psicológica para estar diante do público sem transparecer medo, nervosismo, insegurança, etc. Todo pregador consciente de sua função não ignora este importante fator.

c) Consagrado à Palavra
           
               O pregador da Palavra de Deus tem por finalidade anunciar as verdades divinas, e somente o poderá fazê-lo se tiver conhecimento destas verdades. Quanto maior o conhecimento bíblico, mais autoridade terá ao falar das coisas dos céus. O conhecimento profundo da Palavra de Deus é uma segurança indispensável para se construir um excelente sermão. O pregador tem que ter em mente que o público precisa ficar encantado com o conteúdo da mensagem da Bíblia, e para isto, nada melhor do que exposições profundas das Escrituras. Temos que anunciar a Cristo como único salvador do mundo, temos por obrigação de conhecer sua vida, o que fez, o que ainda faz, o que ele quer, quais são suas promessas, e a sua relação com a vida e a morte. A Bíblia tem multas promessas para o homem, e, conhecer tais fatos é dever obrigatório de todo àquele que se dedica a falar do plano de Deus para a salvação do pecador.

4.1 Quanto ao conhecimento intelectual do pregador

                 “Quem lê mais tem sempre algo a falar a quem lê menos”, diz um ditado popular. Na igreja encontramos pessoas de diversos níveis de cultura. Algumas com uma grande capacidade intelectual, outras com um conhecimento médio e outras com um nível intelectual pequeno. Portanto, eis a razão pela qual todo pregador tem que estar à altura do nível intelectual daqueles que irão ouvi-lo. Todo pregador precisa que seu público lhe dê crédito como orador, e, quando o pregador demonstra ter uma excelente cultura, ele obtém o respeito de seus ouvintes, e suas mensagens sempre serão interessantes. Nunca é demais possuir conhecimento geral daquilo que vai pela ciência, história, filosofia, etc. Um sermão para ser rico em conteúdo depende da intelectualidade do pregador. Um pregador culto terá mais autoridade ao falar em público. Isto não deve ser privilégio somente de alguns pastores, mas, de qualquer pregador interessado em melhorar a qualidade de suas mensagens. Quanto maior o conhecimento do pregador, maior será a bagagem para o Espírito Santo usar. A segurança intelectual do pregador é evidenciada das seguintes fontes de conhecimento:

a) Conhecimento Bíblico

                O estudo bíblico difere da mensagem quanto a sua forma de preparo e entrega. Seu conteúdo é bem mais extenso do que o de uma pregação. Na mensagem, o pregador tem um tempo muito limitado para expor suas  ideias, já num estudo o tempo é determinado pela necessidade que o grupo tem de aprender. O estudo bíblico e suas características
1  - Os participantes podem fazer perguntas quando alguma coisa não fica bem
explicada;
2 - Terá sua duração de acordo com o seu propósito. Exemplo: O estudo
de um livro da Bíblia pode levar até meses;
3 - No estudo bíblico se pode dar uma
pausa para perguntas, comentários (aproveitáveis), lanche, afinal, é um estudo;
4 - É possível ditar os trechos importantes do seu estudo para serem anotados.
Alvo geral e específico do esboço
                Para a realização de um bom trabalho se faz necessário o uso de técnicas. O pregador precisa conhecer bem estas técnicas que envolvem o preparo e a entrega da mensagem, pois esse é o seu trabalho. Se o estudante quiser ser um bom pregador terá que dominá-las. O perfeito domínio dos elementos homiléticos dará ao expositor da Palavra de Deus uma segurança maior na apresentação da mensagem. Conhecer a palavra de Deus é dever do pregador. Ele não fará nenhum favor quando se esforçar na busca de aperfeiçoar este conhecimento. Sua meta deve ser pregar ou ensinar de tal maneira que não tenha do que se envergonhar. Na homilética o esboço se torna indispensável. Não é necessário escrever toda a mensagem, uma vez que o pregador vai pregá-la e não lê-la diante dos seus ouvintes. O esboço é uma espécie de bússola, ele não é uma mensagem, mas por ele o pregador se orientará para não se perder na hora da pregação. Ele é um esqueleto apenas, uma espécie de planta que traça as linhas de uma perfeita construção.
           
b) Conhecimento Histórico

                  É importante que o pregador saiba em que data foram escritos os livros bíblicos, e para quem eram destinados, situando-se também nos panoramas históricos, social, econômico e religioso da época dos seus autores. É muito importante que o pregador conheça o desenvolvimento da história através dos séculos e a sua relação com o cristianismo. Mil e uma ilustrações podem ser adquiridas com os fatos relacionados com a igreja e com os grandes cristãos da antigüidade. A história está cheia de curiosidades que poderão ser contadas pelo pregador. Com tais fatos, a mensagem cristã torna-se mais rica em conteúdo, despertando o interesse e a admiração do público. Um fato incontestável é que um público admirado com a pregação tende a ceder mais facilmente aos apelos do pregador.

c) Conhecimento Cientifico

                 Conhecer algo da ciência, comparando sempre com as verdades bíblicas, é algo muito bom, pois muitas das vezes, as descobertas científicas vêm sustentar aquilo que a Bíblia vem afirmando há milênios. Expor algo da ciência também torna uma mensagem bem interessante e atrai muito, a atenção do público. Muitas pessoas têm chegado a conversão através das verdades da Bíblia confrontadas com a ciência. Um bom pregador não ignora este fato.

d) Conhecimento Filosófico

                 O público vibra e considera interessante quando o pregador sustenta uma verdade bíblica com uma citação de algum importante Filósofo. Conhecer o pensamento dos muitos pensadores acerca da vida e da morte; do bem e do mal, é algo fascinante. Muitas das vezes os absurdos e as verdades da Filosofia ajudam a ilustrar de forma maravilhosa um sermão.

e) Experiências Pessoais

                 A vida cristã é cheia de experiências maravilhosas com Deus. Tais experiências ocorrem tanto conosco, como também com algum outro irmão verdadeiramente servo de Deus. Assim, o testemunho destes fatos faz com que sempre se tenha algo de edificante para uma boa mensagem. O sentimento do público é ativado quando o pregador expõe suas vivências pessoais ou de outrem. É multo importante tocar o instinto emocional dos ouvintes. Quando isto ocorre, a mensagem será sempre lembrada. O pregador deve usar desta arma poderosa para as mensagens principalmente evangelísticas. Entretanto, se a mensagem é doutrinária, e o pregador tem algo de sua vida para ilustrar com relação à fé cristã, deverá fazê-lo com toda a autoridade. Este recurso produz um maior número de conversões ou de conserto de vida cristã ao final da mensagem.
IICoríntios 5:20: “De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamo-vos pois da parte de Cristo que vos reconcilieis com Deus”

5. - Ética no Púlpido

     “A primeira impressão é a que fica”;
     “Em meio ao desenvolvimento da reunião, atravessa todo o corredor principal, aquele que será o preletor do encontro. Toda atenção está voltada para ele, que observado é dos pés a cabeça.”
               Seu comportamento, imagem e exemplo são atributos influentes na transmissão da mensagem como um todo. Devemos considerar que, quando existe uma indisposição do ouvinte para com o mensageiro, maior será sua resistência ao conteúdo da mensagem.
Não existe uma forma correta de se apresentar. Esteja de acordo com local e ocasião. Para os homens o uso do “terno e gravata” é adequado a quase todos os locais e ocasiões.
                Como são os membros da igreja que visita? Quais são as características da denominação? Qual é o horário de início e término do culto? Em que bairro se localiza?
                É muito importante que o orador saiba como comportar-se em um púlpito ou tribuna. A sua postura pode ajudar ou atrapalhar sua exposição.
                A fisionomia é muito importe pois transmite os nossos sentimentos, Vejamos :
- Ficar em posição de nobre atitude.
- Olhar para os ouvintes.
- Não demonstrar rigidez e nervosismo.
- Evitar exageros nos gestos.
- Não demonstrar indisposição.
- Evitar as leituras prolongadas.
- Cabelos penteados melhora muito a aparência.
- O assentar também é muito importante.
Observemos com atenção estes aspectos errados que devem ser considerados pelo pregador:
ë         Fazer uma Segunda e auto-apresentação;
ë         Manter a mão no bolso ou na cintura o tempo todo;
ë         Molhar o dedo na língua para virar as páginas da bíblia;
ë         Limpar as narinas, cocar-se, exibir lenços sujos, arrumar o cabelo ou a roupa;
ë         Usar roupas extravagantes;
ë         Apertar a mão de todos. (basta um leve aceno)
ë         Fazer gestos impróprios;
ë         Usar esboços de outros pregadores, principalmente sem fonte;
ë         Contar gracejos, anedotas ou usar vocabulário vulgar.
ë         Não fazer a leitura do texto ( Leitura deve ser de pé)
ë         Evitar desculpas, você começa derrotado ( não confundir com humildade);
ë         Chegar atrasado;

5.1 O pregador não precisa aparecer.
      Quando convidado para pregar em outras igrejas, o pregador deve considerar as normas doutrinárias, litúrgicas e teológicas da igreja em questão.
1 – Evite abordar questões teológicas muito complexas;
2 – Não peça que a congregação faça algo que não esteja de acordo com os preceitos;
3 – Procure estar dentro dos padrões da denominação;
4 – Procure dar conotações evangelísticas a mensagem;
5 – Respeite o horário ( mesmo que seja pouco tempo );
6 – Converse sempre com o Pastor antes do início do culto.

6. As responsabilidades do Pregador
                Afirma-se que a verdade e a personalidade são coisas fundamentais na vida do Pregador. Uma verdade aumentada é uma mentira, por isso muito cuidado porque uma mentira no púlpito é pior do que em qualquer outro lugar. Em se tratando de personalidade, de postura, Paulo faz recomendações especiais I Tm 4.12 e também Tt 2.7,8.

1º) Entrega total: O apóstolo Paulo nos deixou um grande exemplo neste sentido. Ele disse que não tinha a sua vida por preciosa, contanto que cumprisse com alegria a sua carreira At 20.24. Quem se entrega a esta santa tarefa tem que fazer uma renuncia total, a fim de que possa agradar em tudo aquele que o chamou, mesmo que lhe custe sofrimentos, pobreza ou lhe traga outras conseqüências. Como soldado ele sofre as aflições, e com alegria cumpre o seu ministério II Tm 2.3,4.
2º) Cuidados na Explanação
                A pregação precisa ser não só convincente e persuasiva, mas também eminentemente instrutiva. Muitas vezes incentivamos os ouvintes com argumentos e apelos, quando a maior necessidade deles é a explanação prática e simples, refletir o que devem fazer e como agir. E, se muitas pessoas ouvintes presentes nos podem ouvir repetidamente explicar certos assuntos importantes, devemos lembrar que estão no auditório, outras mais, crianças ainda em desenvolvimento, pessoas estranhas ao Evangelho, neo- convertidos, para quem tais explicações são coisa nova e altamente necessária.
               O grande cuidado do pregador deve ser não tentar explicar aquilo de que não tem a certeza absoluta. Às vezes, a gente encontra grande dificuldade em explicar um fato ou princípio suposto, porque na realidade ele não é verdadeiro. Não se põe a explicar aquilo que você não entende. Na pregação, como nos demais setores, isso se dá a miúdo, tornando-se coisa ridícula já não fosse lamentável. Torna-se importante, no caso, explicar o que as Escrituras realmente ensinam buscando remover as incompreensões. É extremamente perigoso entrar pelo caminho da discussão, infrutífera levando os ouvintes a fortalecerem as suas dúvidas. O nosso dever principal é dizer ao povo o que deve crer e porque se deve crer. II Tm 2.23,24.
3º) Comportamento no púlpito
                Quando o pregador ocupa o púlpito da Igreja, não deve esquecer de que este lugar é sagrado. É dali que se ministra a Palavra de Deus.
                A primeira coisa que o pregador deve ter no púlpito é o cuidado de postar-se com reverência, a fim de dar o exemplo aos que ouvem e o observam.

7. Substância do Sermão

                No campo da homilética, são vários os métodos ensinados. Devemos ter cuidado no método a adotar para não cairmos no formalismo, entregando aos ouvintes ansiosos e famintos, apenas um amontoado  de palavras, às vezes bem arrumadas mas sem unção; Sem a substancia que nutra a alma dos pecadores. Muitas vezes a preocupação de se apresentar como manda o “cardápio” da homilética, apresentado por teólogos modernos, pode desvirtuar o pregador do seu verdadeiro objetivo que é levar o rebanho a pastagens para se alimentar e receber vida. Quando olhamos para Mt 14.16, aí Jesus não disse aos seus discípulos: faça um arranjo, convencei meu povo com palavras bonitas, justifique a falta de alimentos. Não, Jesus disse para eles “Daí-lhes vos de comer”. E a necessidade das multidões dos nossos dias não é diferente. As almas estão famintas, e o lugar é deserto, e a hora é já avançada, mas o pregador tem a visão de Deus, vê o terrível problema que tanto aflige o mundo sem Deus, e os leva aos pés de Cristo. Então o pregador ao entregar a mensagem ele deve estar consciente de que seu sermão satisfará a alma faminta.


8. Estruturas de um sermão
                 Qualquer explicação requer organização, ordenação, lógica e clareza. Sendo o sermão uma explicação da palavra e vontade de Deus esse deve ser didático. A prática de pregações através dos tempos levou o estudiosos do assunto a relacionarem alguns elementos básicos que devem estar presentes nos sermões, dando a eles uma estrutura que facilita o desenvolvimento da mensagem. Esses elementos, Alvo,  texto, tema, introdução, corpo, conclusão e apelo compõem o que chamamos de estrutura do sermão são imprescindíveis pois norteiam a linha de pensamento do pregador direcionando o ouvinte para o conteúdo da mensagem.
     "A estrutura propriamente dita é a organização do sermão com suas divisões técnicas, que servem para orientar o pregador na apresentação da mensagem."10

Um sermão precisa ter UNIDADE, ORDEM, SIMETRIA E PROGRESSÃO

1.      ALVO OU OBJETIVO – Nesta etapa do sermão, o objetivo ou assunto , o pregador deverá estar inspirado por Deus. É exatamente aqui que ele recebe a mensagem que tem a pregar e  a partir deste ponto estruturá-la para levar a igreja.     Se você não tem nada para falar, não fale nada.  Se o Espírito Santo lhe der algo a falar, fale, mas fale direito.

2.      TEXTO BÍBLICO –   O assunto do sermão deverá ser baseado em um texto bíblico.

3.      TEMA –   Para que o ouvinte possa Ter uma idéia do que você tem a falar é imprescindível o emprego de um tema. O ouvinte realmente estará adentrando no seu sermão.

4.      INTRODUÇÃO –   Começar bem é provocar interesse e despertar atenção. Aproximar o ouvinte do sermão e dar a ele uma noção ou explicação do que vai ser falado.

5.      CORPO -    Essa é a principal parte. Onde deverá está o conteúdo de toda mensagem, ordenado de forma lógica e precisa.Neste ponto também deverão ser abordadas algumas aplicações utilizadas durante o sermão como,  ILUSTRAÇÕES, FIGURAS DE LINGUAGEM, MATERIAL DE PREPARAÇÃO.

6.      CONCLUSÃO –   “Uma conclusão desanimada, deixará os ouvintes desanimados”. Baseados no objetivo específico do sermão a conclusão é uma síntese do mesmo e deve ser uma aplicação final à vida do ouvinte.

7.      APELO –    Um esforço feito para alcançar a consciência, o coração e a vontade do ouvinte. São os frutos do sermão.


8.1 Objetivo, alvo e assunto

Todo sermão deve Ter inspiração divina. Um sermão sem unção, ainda que tenha uma excelente estrutura, não apresentará poder para conversão, consolação e edificação.
Devemos lembrar que ao transmitir um sermão estamos não estamos transmitindo conhecimento humano mas a Palavra de Deus e esta é a única que penetra até a divisão da Alma e Espírito, portanto é fundamental a unção.
O objetivo da homilética, de uma forma geral, é a conversão, a comunhão, a motivação e a  santificação para vida cristã.
            O assunto de uma mensagem é algo particular entre o pregador e Deus.
Para ter assunto é preciso viver em comunhão e oração para que o Espírito Santo possa falar em seu coração.
            A grande questão é: como Deus fala conosco? A forma de Deus falar é individual e peculiar.
            Algumas pessoas acreditam que Deus fala somente de forma sobrenatural. Entretanto, Deus pode falar com você de todas as formas possíveis, fique atento, inclusive aquelas que você menos imagina. No ônibus, em casa, no trabalho, no banho, lendo a bíblia, olhando a paisagem, ouvindo uma mensagem, conversando, pensando, através de pessoas ou coisas, em sonho, em revelação, no meio de uma crise, ouvindo  testemunhos, através de crianças, ouvindo uma música, em seu lazer, em um acidente, uma lição de vida, viajando, etc.
           
8.2 A importância do conhecimento
     "Tanto a preparação quanto a exposição são enriquecidas com o grau de conhecimento do pregador. Os conhecimentos não são a principal razão de um sermão, mas são o esqueleto que lhe dá forma... O pregador não precisa deixar de ser espiritual pelo fato de enriquecer seus sermões com conhecimentos gerais. Se o sermão estiver cheio da graça de Deus, então os conhecimentos nele inseridos resultarão em benções. A homilética apresenta as regras técnicas, e ensina como o pregador pode tirar proveito dos conhecimentos, ordenando os pensamentos e dosando-os com a graça divina.
     Todo pregador deve adotar um sistema de estudo, para seu maior aproveitamento no ministério da Palavra..."1
     "O que se vai dizer é resultado do que sabemos, sentimos, pensamos, cremos e desejamos transmitir...
     Cultura é aquilo que a gente sabe, resultado de nossa vivência, da sedimentação do que somos, sabemos, das influências que sofremos e de tudo que realmente nos estruturou. Ser um homem culto em nossos dias, isto é, capaz de pensamento original e ter digerido as informações do mundo em que vivemos, é uma equação diferente da que se apresentava no passado. Pouco a pouco a "explicação" do mundo foi, cada vez mais, passando para a área científica..."2 Por isso o importante é manter os "pés no chão".
     Para falar de um tema qualquer é preciso dominar o assunto, a ponto de torná-lo de uma simplicidade quase alarmante e dar a impressão ao auditório de que o estamos desvendando juntos, realizando uma agradável excursão intelectual ou humana, participando os dois, nós e o ouvinte, do que vai surgir. O que vale mais é a gente ser a gente mesmo."3
      Assim, a primeira e grande obrigação do pregador é a LEITURA, constante, sistemática dos assuntos que ele aborda em suas prédicas e de cultura geral.

8.3 Que fazer quando for convidado para pregar em :
           
a)  Congresso e confraternizações
            Neste caso os assuntos são apresentados pelos organizadores do evento. Para o pregador, o desafio está em desenvolvê-lo. Tenha intimidade com Deus para transmitir exatamente o que Ele quer falar.
                 Quase toda pesquisa serve como base para sermões. Todavia, é verdade incontestável que, quanto mais instrução tem uma pessoa, tanto mais condições terá para preparar e apresentar sermões.
      Embora exista um tema, normalmente este é geral, podendo o pregador ser mais específico.
Exemplo: TEMA DO CONGRESSO: “A videira verdadeira” João 15: 1 a 8
* Você pode falar sobre: “Como o cristão pode Ter uma vida frutífera”  , “Por que o cristão deve Ter uma vida frutífera?”  ou até mesmo , “Os frutos da videira na vida do cristão”,  utilizando outros textos e inserindo um subtema. 
b) Datas comemorativas/cultos especiais
                 Situações onde o assunto é uma explicação do momento. São cultos realizados em virtude de acontecimentos específicos na igreja local.
     Dentre os cultos especiais podemos destacar:
·        Casamento
·        Natal
·        Aniversariantes
·        Dízimos
·        Batismo
·        Consagração
·        Aniversário da Igreja
·        Posse
·        Cultos dos departamentos ( Juventude, irmãs, crianças, etc.)
·        Nascimento e apresentação de bebês
·        Funeral
·        Doutrinário
·        Evangelístico
                 “Para pregar, o pregador leigo deve combinar ou casar o assunto do sermão com um texto da palavra de Deus”.
      Ler os sermões limita o contato dos olhos do pregador com o auditório. Como afirmava Phillips Brooks, “a pregação é a verdade através da personalidade”. Ora, os olhos transmitem a personalidade. Assim, qualquer coisa que interfira com o contato dos olhos do pregador, impede que a personalidade seja bem sucedida, e interfere com a pregação.
     A maioria dos homiléticos concorda em que a maneira ideal de pregar um sermão é fazer primeiro um manuscrito, e depois preparar um esboço - quer o pregador use esse esboço no púlpito ou o decore.
     Muitos pregadores levam um manuscrito ao púlpito, mas lêem apenas partes dele, pregando o restante dele de improviso. Por exemplo, as ilustrações e o apelo não se prestam bem para a elocução ma-nuscrita e provavelmente devam ser pregados de improviso...
     Nenhum método isolado serve para todos. E, obviamente, tanto a pregação manuscrita como a improvisada possui vantagens e desvantagens significativas... Descubra o que fica melhor para você...".
8.4 Assunto x tema
                 Assunto é o objetivo que você deseja alcançar por inspiração de Deus e o tema é como você vai dizer para o público qual é o seu objetivo.

8.4.1 Texto bíblico

     O texto bíblico é a passagem bíblica que serve de base para o sermão.
                 Esse texto deverá fornecer a idéia ou verdade central do sermão. Nunca se deve tomar um texto somente por pretexto, e logo se esquecer dele.
Segundo Jerry Stanley Key, existem algumas vantagens no uso de um texto bíblico:
1 - O texto dá ao sermão a autoridade da palavra de Deus.
2 - O texto constitui a base e alma do sermão;
3 - Através da pregação por texto o pregador ensina a palavra de Deus;
4 - O uso do texto ajuda os ouvintes a reter a idéia principal do sermão;
5 - O texto limita e unifica o sermão;
6 - Permite uma maior variedade nas mensagens;
7 - O texto é um meio para a atuação do Espírito Santo.
      É imprescindível a escolha de um texto que se relacione com o tema do sermão porém adequado. Vejamos o tipo de textos que devemos evitar:
Textos longo Cansam os ouvintes. ( Salmo 119 )
Textos obscuro Causam polêmicas no auditório. ( I Cor. 11:10 )
Textos difíceis Os ouvintes não entendem. ( Ef. 1:3 Predestinação )
Textos duvidosos " E Deus não ouve pecadores" ( João 9/;31 )
8.4.2 Exegese
                 Exegese é o trabalho de exposição de um texto bíblico. Visto que a Bíblia é um documento histórico e a igreja , a exegese é importante tanto para compreender a mensagem bíblica como para determinar seu significado na atualidade. Questões de data, significados lingüísticos, autoria, antecedentes e circunstâncias são essenciais à tarefa de preparar sermões bíblicos. Quanto mais conhecermos as condições político-religiosas e socio-econômicas sob as quais foi escrito certo documento, tanto melhor poderemos compreender a mensagem do autor e aplicá-la de acordo com isso.

8.4.3Dez passos para uma boa exegese
1 - Leia o texto em voz alta, comparando com versões diferentes para maior compreensão.
2 - Reproduza o texto com suas próprias palavras. (Fale sozinho)
3 - Observe o texto imediato e remoto.
4 - Verifique a linguagem do texto ( história, milagre, ensino, parábola, profecia,  etc.)
5 - Pesquise o significado exato das principais palavras;
6 - Faça anotações;
7 - Pesquise o contexto ( época, país, costumes, tradição, etc.)
8 - Pergunte sempre onde? Quem? O que? Por que?
9 - Organize o texto em seções principal e secundárias;
10 - Resuma com a seguinte frase: “O assunto mais importante deste texto é...”

8.4.4 Tema

                 O tema do sermão contém a idéia principal e o objetivo da mensagem. Deve ser estimulante e despertar o interesse, a curiosidade e a atenção do ouvinte. Deve ser claro, simples e preciso bem como, oportuno e obedecer o texto.
      Para se desenvolver um bom tema o pregador precisa Ter criatividade, hábito de leitura, visão global do sermão e ser sintético.
Deve-se atentar para o fato de que assunto e tema não são a mesma coisa. O Assunto é algo mais genérico, enquanto que o tema é mais específico. Um assunto, por exemplo, poderia ser a "Esperança" , e vários temas poderiam ser derivados deste assunto: "A Esperança do Crente", "A Esperança do Mundo", etc... 
                 O tema deve preferencialmente estar na afirmativa. A frase "Devemos honrar a Cristo obedecendo aos seus mandamentos" é melhor do que "Não devemos desonrar a Cristo desobedecendo aos seus mandamentos". 
     A proposição difere da idéia exegética. A idéia exegética é a afirmativa de uma única sentença; é a verdade principal da passagem, enquanto que a proposição é a verdade espiritual ou princípio eterno, transmitido por toda a passagem. 
     O tema deve ser formulado, preferencialmente no tempo presente; não deve incluir referências geográficas ou históricas; não deve fazer uso de nomes próprios, exceto os nomes divinos. Uma tese com alguma dessas características ficaria muito embaraçosa. Veja:  "Assim como o Senhor chamou a Abrão de Ur dos Caldeus para ir para uma terra que desconhecida, da mesma forma Ele chama alguns de nós para irmos pregar aos estrangeiros". 

8.4.5 Tipos de temas:

Interrogativo: Uma pergunta, que deve ser respondida no sermão.
Ex.: Onde estás?  Que farei de Jesus?  Tenho uma arma o que fazer com ela?
Lógico: Explicativo.
Ex.: O que o homem semear, ceifará;  Quem encontra Jesus volta por outro caminho.
Imperativos: Mandamento, uma ordem; Caracteriza-se pelo verbo no modo imperativo.
Ex.: Enchei-vos do espírito;  Não seja incrédulo;  Não adores a um Deus morto.
Enfáticos; Realçar um aspecto específico;
Ex.: Só Jesus salva;  Dois tipos de cristãos; 
Geral: Abrangente, aborda um assunto de forma geral sem especificá-lo.
Ex.: Amor; fé, esperança

8.5 - Ilustrações
                 São recursos usados para o enriquecimento, e o esclarecimento de uma mensagem, quando devidamente aplicada.
                 O senhor Jesus sempre tinha uma boa história para iluminar as verdades que ensinava ao povo.
                 O significado do termo ilustrar é tornar claro, iluminar, esclarecer mediante um exemplo, ajudando o ouvinte a compreender a mensagem proclamada. O bom uso da ilustração desperta o interesse, enriquece, convence, comove, desafia e estimula o ouvinte, valoriza e vivifica a mensagem, além de relaxar o pregador.
                A ilustração não substitui o texto bíblico apenas tem uma função psicológica e didática, para tornar mais claro aquilo que o texto revela.
               As ilustrações devem ser simples, está correlacionada com a mensagem, devem fornecer fatos de interesses humanos e devem Ter um ponto alto ou clímax.
   A ilustração é para o sermão o que são as janelas para uma casa.
Quais os motivos que nos devem levar a usar ilustrações?
1º) Por causa do interesse humano.
2º) Clareza
3º) Beleza
4º) Complementação.
     A ilustração nunca deve ser a parte principal do sermão. É tão-somente uma janela. Esta nunca é mais importante do que a casa.

Obs.: OS EXEMPLOS BÍBLICOS SÃO AS MELHORES ILUSTRAÇÕES.

8.5.1 As ilustrações podem ser:

HISTÓRICA E CONTEXTUAL:  Quando se aplica um conhecimento histórico ou explicação do contexto em que o texto está inserido. Exemplos:
a)      Fundo da agulha – Porta estreita na cidade de Jerusalém onde, os mercadores tinham dificuldades de passar com os camelos.   Mateus 19:24.

b) CONHECIMENTO INTELECTUAL:  Envolve o conhecimento científico, psicológico, técnico e cultural. Exemplos:
v      Técnico científico – A antena da TV recebe todas as frequências ao mesmo tempo entretanto, quando escolhemos um canal, através da sintonia, estamos selecionando uma determinada frequência.

c) METAFÓRICA OU ALEGÓRICA: Quando são empregadas figuras metafóricas como histórias e estórias. Exemplos
·        Ao se aproximar da cidade do Rio de Janeiro um indivíduo reparou que o cristo redentor não era tão grande como pensava, parecia até mesmo ser menor do que seu dedo. No centro da cidade observou que estátua teria aumentado e já estava praticamente do seu tamanho, resolveu então ir até o monumento. No pé do corcovado ficou admirado com as proporções maiores do símbolo da cidade. Chegando então aos pés do cristo redentor ele pode perceber , como lhe disseram, que  aquele era bem maior do que ele.
d) EXPERIÊNCIA PESSOAL: Testemunhos. Exemplos
·        Neste tipo de ilustração o pregador relata fatos verídicos que demonstram a atuação de Deus, através de milagres, em sua vida ou de outras pessoas. Todos as respostas que Deus atendeu realizando curas, transformações, salvação, livramentos, libertação, etc.
Use no máximo duas ilustrações por sermão. Toda ilustração deve Ter uma aplicação e devem ser comentadas com simplicidade e naturalidade.
8.5.2 Exemplos de ilustrações
A LEI DA GRAVIDADE
                 Quando entro em um avião, estou livre da lei da gravidade. A lei mais alta que opera para levantar o aparelho acima das nuvens me segura no colo e anula a outra lei (da gravidade). A lei da gravidade não se destruiu mais foi tornada sem efeito.
BULGOGUE:   FORÇA E DETERMINAÇÃO PARA ALCANÇAR O OBJETIVO
                 Nas ruas, há quem mude de calçada para evitar cruzar com um deles. Os músculos da boca são bastantes desenvolvidos, quando o Buldogue Americano participa de caçadas e pega uma presa, às vezes é necessário usar uma alavanca, feita com um pedaço de pau, para força-lo a abrir a boca. Utilizado para guarda de propriedades, a caça de porcos selvagens e as lutas com animais. "Combatiam touros e ursos, numa espécie de farra-do-boi ou farra-do-urso, para divertir platéias". O Buldogue não se intimida, parte para o ataque até a morte.
                 Uma história conhecida é atribuída ao reverendo Bob Schuller e relata uqe um dia estava visiatndo os membros de sua igreja quando viu um grande cachorro buldogue correndo na direção da calçada por onde ele estava andando. Todos os cachorros menores latiram e rosnaram para o buldogue por ele está invadindo território alheio. Mas o buldogue nunca desviou do caminho que tinha determinado e continuou como se nada o estivesse atrapalhando. Quando Schuller se aproximou do buldogue, ele se decidiu que não ia se desviar do seu caminho por causa de um cachorro. No entanto, quando uma colisão se tornou aparente, foi o pregador que acabou desviando. O velho buldogue nem mesmo parou para olhar o homem, continuando seu caminho como se não houvesse ninguém ao seu redor. Mas tarde, naquela noite, Schuller orou pedindo ao senhor que lhe desse o que aquele buldogue tinha, determinação.
ABELHAS: Mente cauterizada pelo veneno do pecado.
                 As abelhas operárias possuem glândulas odoríferas, glândulas de veneno, ferrão, etc. Quando uma pessoa é picada várias vezes pela abelha seu organismo se torna imune ao veneno que passa a não surtir mais efeito.
                 Parece que quando estamos constantemente se deixando picar por alguns venenos do nosso cotidiano, nos tornamos imunes ao seu efeito achando-o normal.
MUDA DOS ARTRÓPODES:  CRESCENDO DE DENTRO PARA FORA 
          Para crescer o artrópode (insetos, aranhas, crustáceos etc) precisa se desfazer de  seu esqueleto exterior, que só permite o crescimento dentro dos limites estreitos. Quando o animal abandona o esqueleto antigo cresce enquanto o nove estiver mole.
Sabia que  precisamos abandonar a capa  para crescer mais?
BANDOS: União para vencer.
            Nos bandos hibernais de alguns pássaros ou de patos, a presença de muitos olhos e ouvidos contribui para melhor proteção durante a alimentação e o sono.
            Os lobos podem matar presas de grandes tamanhos quando reunidos em bandos, ao passo que são incapazes de fazê-lo quando isolados.
O PICA-PAU: CONVIVER É RESPEITAR A INDIVIDUALIDADE
            Para o homem, muitas vezes, coabitar é um desafio.
            Para três espécies de Pica-Paus do gênero Dendrocopus coabitar é “respeitar” a individualidade. Essa espécies de pica-paus convivem em uma mesma árvore e cada uma delas explora uma parte diferente da árvore: uma procura o alimento nos troncos; outra procura o alimento nos ramos grossos e a outro retira seu alimento dos raminhos finos, de forma que todas podem obter alimento de uma mesma árvore sem competir.
            Se você quer ser livre dê e aceite a liberdade dos outros.

O TOURO E A FORÇA: Você não sabe a força que tem

                Um homem foi a uma tourada. No final da apresentação resolveu olhar os touros mais de perto, dirigiu-se então para o local onde eles estavam presos. Ao se aproximar de um touro percebeu que ele estava preso por uma corda muito fina e, que facilmente poderia ser rompida pelo touro. Naquele momento, pensou o homem, se o touro arrebentar esta corda com certeza ele irá me atacar, desesperado ele procurou se retirar do lugar. Quando saía rapidamente encontrou um senhor que cuidava dos touros.
-         O que houve meu jovem? – Perguntou o senhor.
-         Este touro está preso por uma fina corda e se fugir irá nos matar – Repondeu angustiado.
-         Calma meu jovem – disse o velho com um sorriso no rosto – O touro não arrebenta a corda porque ele não sabe a força que tem.

RITUAL DE PASSAGEM: Sozinho, mas acompanhado.

            Lembre-se que Deus está com você em todo momento, mesmo que não o veja.
            Há uma história sobre um jovem índio que teve que passar por um ritual antes que pudesse entrar na idade adulta. Ele precisava provar à comunidade que era bravo e podia sobreviver aos perigos do mundo. Para isso, ele teve que ir a floresta e passar uma noite sozinho. Não pôde levar nada consigo a não ser uma faca para proteção. Durante toda a noite ele ouviu ruídos estranhos e esperou pelo pior. Mais tarde, o jovem garoto descobriu que seu pai estava bem perto dele a noite inteira, tomando conta dele.
O SÁBIO:  É PRECISO EXPERIMENTAR
                 Um sábio desafiava a qualquer uma pessoa a discutir com ele sobre o cristianismo.
                 Certo dia, enquanto falava a uma pequena platéia um homem humilde e mal vestido se dispôs a argumentar com o sábio. Neste momento o sábio lhe franqueou a palavra dizendo: Responda meus argumentos! O humilde homem apanhou uma laranja, descascou com calma, chupou a laranja e voltando-se para o orador disse: Estou pronto para falar. O sábio, com um sorriso irônico foi dizendo: Até que enfim! Vamos lá! Fale, fale... que tem a dizer em resposta aos meus argumentos contra o cristianismo?
                  Então, perguntou-lhe o homem! A laranja que chupei estava doce ou azeda? O silêncio foi total, quebrado em seguida por imensa gargalhada. Todos riam! Mas quem mais ria era o sábio que disse: Foi o senhor que chupou a laranja... O senhor é que deve saber se elea estava doce ou azeda!...  Um momento vamos com calma... Se que chupou a laranja fui eu, e só eu sei se ela estava doce ou azeda, isso fala a meu favor e em favor de minha fé cristã. Antes de me tronar cristão minha vida era de uma forma. Um dia conheci o evangelho e me transformei. Um verdadeiro milagre! De modo que como o senhor vê, eu provei da laranja da salvação e sei que ela é doce, muito doce. Na verdade é o senhor que está fazendo o papel de maluco, falando de  assunto que o senhor não conhece. Se o senhor nunca experimentou a fé cristão como pode saber o gosto que ela tem?  O sábio fora silenciado.

O JOVEM AGRICULTOR:  COISAS CERTAS NA HORA ERRADA.

                  Era uma vez um jovem agricultor que tinha uma namorada muito bonita. Ele tinha tudo para ser feliz, no entanto, era triste. Isto chamou a atenção de um velho amigo da família que, procurando ajudar, perguntou como ele procedia no seu dia a dia.
                 “De manhã bem cedo”, respondeu o rapaz, “passo passo para ver minha namorada e depois vou ao campo fiscalizar as atividades dos meus trabalhadores. Mas, ultimamente, a namorada não me parece tão bonita como era e a plantação anda meio sem viço e sem verdor”. “Então faz assim”, aconselhou o amigo experiente, “quando você levantar, primeiro visite seus campos, e só então, na volta, passe para ver sua namorada”.
                 Algum tempo mais tarde os dois amigos voltaram a se encontrar. Agora o rapaz estava alegre e satisfeito, e o amigo notando, explicou: “Você não cometia nenhum engano, mas havia um problema. Fazia a coisa certa na hora errada! Porque cedo, a namorada ainda estava sonolenta, os olhos ainda estavam meio fechados e sem brilho, não havia se penteado como devia, nem tinha tifo tempo de colocar um perfume. Da mesma forma, com o sol alto as plantações ficam mesmo caídas, pois já perderam o frescor do orvalho da madrugada que lhes fazem bonitas e viçosas”.
ALCOÓLATRA: QUANDO VOCÊ INTERPRETA DA MANEIRA ERRADA
     Um médico fazia uma palestras a um grupo de alcoólatras. Ao iniciar a apresentação disse: “Hoje vou realizar uma experiência para mostrar a vocês o efeito do álcool”. Levantou um copo e afirmou: “Aqui dentro há álcool”. Com uma pinça, pegou um verme, mostrou-o para a platéia e o soltou dentro do copo. Imediatamente o verme se desfez, causando impacto nos presentes. Em seguida, ele levantou outro copo e disse: “Aqui dentro há água”. Novamente pegou outro verme e o soltou dentro do copo. O verme se mexeu, mostrando sua energia. Nesse momento, no meio da platéia, um indivíduo embriagado levantou a mão e, com voz pastosa, disse: “Entendi bem o que o doutor quis dizer, e concordo inteiramente. Sua mensagem é sensacional”. Feliz, o médico pediu: “Por favor, diga em voz alta, para que todos escutem, qual é a minha mensagem”. Solícito, o indivíduo declarou: “Doutor, o senhor acabou de mostrar com essa experiência que quem bebe não tem verme no organismo. O álcool mata o verme”!
                 O homem sempre procura uma justificativa para o seu erro, por isso interpreta de forma errada.
CASAL: Diálogo
Um casal de velhinhos apaixonados, casados há cinquenta anos, foi comprar dois jazigos no cemitério, um ao lado do outro. Depois de fechar o negócio, o velhinho disse:
-         Querida, quando eu morrer, quero ser enterrado do lado esquerdo.
Surpresa, ela respondeu:
-         Está bem. Se você morrer antes, vou pedir para que o enterrem do lado esquerdo. Mas estou curiosa para saber porque você quer ser enterrado do lado esquerdo se a vida toda dormiu do lado direito da cama. Por acaso teria preferido dormir do outro lado?
Ele olhou com ternura e afirmou:
-         É verdade, eu sempre quis dormir do lado esquerdo da cama.
-         Espantada ela perguntou:
-         E por que nunca disse? Teria sido tão simples trocar de lado...
CEMITÉRIO
          O lugar mais rico deste planeta não são os campos de petróleo do Kuwait, do Iraque ou da Arábia Saudita. Nem tão pouco, as minas de ouro e diamantes da África do Sul, as minas de Urânio da União Soviética e as minas de prata da África. Embora isso seja surpreendente, os depósitos mais ricos de nosso planeta podem ser encontrados a alguns quarteirões da sua casa. Eles estão no cemitério local. Enterrados embaixo do solo. Dentro das paredes daqueles túmulos sagrados estão sonhos que nunca se realizaram, canções que nunca foram escritas, pinturas que nunca encheram uma tela, idéias que nunca foram compartilhadas, visões que nunca se tornaram realidade, invenções que nunca foram criadas, planos que nunca passaram da “prancheta”  mental e propósitos que nunca foram realizados. Nossos cemitérios estão cheios de um potencial que permaneceu inerte.
O DOENTE: Batendo na porta errada
                 Você já passou pela experiência de procurar a solução para o seu problema no lugar errado?
                 Um homem foi ao médico. O doutor disse a ele: “Eu tenho certeza de que tenho a resposta para o seu problema”. O homem respondeu: “Eu espero que sim, doutor. Eu deveria Ter vindo me consultar com o senhor a muito tempo”.  O médico perguntou: Äonde você foi primeiro?’ “Eu fui ao Farmacêutico”, replicou o homem. O médico comentou sarcasticamente: “Que tipo de conselho ele te deu?” O homem disse: Ele mandou que eu viesse me consultar com o senhor.
O MISSIONÁRIO
                  Stanley Jones da Índia, relata que uma noite, bem tarde, foi procurado por dois homens, mal vestidos, sujos e que pediam por comida e abrigo. Aqueles homens interrogaram-no a cerca do Cristianismo.
                 O missionário teve uma surpresa no outro dia quando os dois homens retornaram com trajes de príncipes. O que vocês estão fazendo com esta roupa? Vocês não são os mendigos de ontem? Eles disseram que gostariam de Ter certeza de que tudo o que dizem de do Cristianismo era verdade.

8.6 Introdução do sermão

Começar é difícil. Muitos escritores escrevem a introdução quando terminam o livro.
Alguém disse: “O pregador começou por fazer um alicerce para um arranha-céu, mas acabou construindo apenas um galinheiro”.
A introdução é tão importante quanto a decolagem de um avião que, deve ser bem perfeita para um vôo estabilizado. Ela, por certo,  deve envolver o ouvinte, despertar o interesse e curiosidade e, também,  ser um meio de conduzir os ouvintes ao assunto que está sendo tratado no sermão. Uma boa introdução dá ao pregador segurança, tranquilidade, firmeza e liberdade na pregação.
     Uma boa introdução deve ser:

1. Breve (em torno de 5 minutos)
2. Apropriada, de acordo com o tema do sermão.
3. Interessante.
4. Simples. Sem arrogância, sem prometer muito.
5. Cuidadosamente preparada.

8.6.1 - Tipos de introdução:

Uma introdução bem estruturada, deve apresentar algumas características como, clareza e simplicidade, deve ser um elo de ligação com o corpo do sermão e uma ordenação de pensamentos de forma lógica e sistematizada e, não deve prometer mais do que se pode dar.  É preciso estar atento para o tempo de duração da introdução que, deve ser breve e proporcional ao sermão. Evitar desculpas que possam trazer uma má impressão. Você pode usar um destes tipos para iniciar um sermão:

1 – ILUSTRATIVA – Uso de uma ilustração na introdução. Imagine que o assunto que será abordado seja complexo e abstrato. Então, comece com  uma ilustração que explique e esclareça o que pretende dizer.
2 – DEFINIÇÃO – Explicação detalha de um determinado conceito.  Explique para o ouvinte o que tem a dizer. Dê a ele conceitos significados de símbolos, termos e assuntos que ele provavelmente não conheça.    Em um sermão onde o assunto é a PAZ, o pregador explicou, na introdução, o que é a paz, seus significados  no velho e novo testamento, evolução lingüística do termo paz e a aplicação termo hoje.
3 – INTERROGAÇÃO – Uma pergunta (deverá ser respondida no corpo do sermão).
            Para sermões onde o tema é uma pergunta é interessante que esta seja bem explorada na introdução. Observe que, se estamos falando sobre morte ou salvação cabe aqui uma pergunta como “Para onde iremos nós?”, que deve levar o ouvinte a uma reflexão profunda, e para reforçar pode-se usar o texto de Lucas 12:20  “Mas Deus lhe disse: Insensato, esta noite te [pedirão] a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?”
            As perguntas da introdução devem ser respondidas no corpo do sermão.
4 – ALUSÃO HISTÓRICA – Explicar o contexto histórico.
            Explique o contexto do texto em que será aplicada a mensagem ( época, país, costumes, tradição, etc.).            Observe o texto de João 4: 1 a 19. Caso sua mensagem esteja baseada neste texto, introduza com uma  explicação detalhada das relações entre os Judeus e os Samaritanos, as relações entre os homens e as mulheres, a lei acerca do casamento, a origem do poço de Jacó, etc. 

8.6.2. Corpo do sermão

            Esta deve ser  a principal parte do sermão.
Aqui o pregador irá expor idéias e pensamentos que deseja passar para os ouvintes.
As divisões devem ser desenvolvidas de acordo com a realidade de hoje.
            As divisões devem Ter significados para os ouvintes e, não devem se desviar da mensagem principal que é a coluna do sermão, o objetivo será finalizado e apresentado na conclusão.
            O ouvinte precisa acompanhar o seu desenvolvimento . “Cada divisão, subdivisão, e até ilustrações e explicação, tem que apontar na direção do alvo e em ordem de interesse”. Cada ponto deve discutir um aspecto diferente para que não haja repetição.
            As frases devem ser breves e claras. As divisões servem para indicar a linha de pensamento a serem seguidas ao apresentar o sermão. Entretanto, deve-se fazer uma discussão que é a revelação das idéias contidas nas divisões.

Resumindo...

1. Devem ter unidade de pensamento. 
2. Elas ajudam o pregador a lembrar-se dos pontos principais do sermão. 
3. Elas ajudam os ouvintes a recordarem-se dos aspectos principais do sermão. 
4. Elas devem ser distintas umas das outras. 
5. Elas devem originar-se da proposição e desenvolvê-la progressivamente até o clímax do sermão. 
6. Elas devem ser uniformes e simétricas. 
7. Cada divisão deve Ter apenas uma idéia ou ensino. 
    8. O número das divisões deve, sempre que puder, ser o menor possível.
9. Deve girar em torno de uma única idéia principal da passagem, e as divisões principais devem desenvolver essa idéia. 
10. As divisões podem consistir em verdades sugeridas pelo texto. 
11. As divisões devem, preferencialmente e quando possível, vir em seqüência lógica e cronológica. 
12. As próprias palavras do texto podem formar as divisões principais do sermão, desde que elas se refiram à idéia principal. 

Exemplos de divisões:
Ex.: 1
Tema: O Cristo que não muda
Texto: Hebreus 13:8 Jesus é o mesmo ontem, hoje e eternamente.
Divisão I - O que não muda em Cristo ?
Divisão II - Por que não há mudança em Cristo ?

Ex.2
Tema: Relacionando a fé com a necessidade humana Mateus 14:14.21
Divisão I.O DESAFIO DA FÉ
Divisão II.A OBRA DA FÉ
Divisão III.A RECOMPENSA DA FÉ

     Deve-se fazer a transição entre as divisões do sermão:  Na proposição "A Vida Cristã é uma Vida Vitoriosa" podemos incluir a seguinte interrogativa:
 "Quais são os motivos que nos levam a considerar que a Vida Cristã é uma Vida Vitoriosa?"
“ Como  se faz da Vida Cristã uma Vida Vitoriosa?”   Este tema poderia nos levar a uma resposta baseada em Romanos: "Por que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus" ou "Por que em todas essas coisas somos mais do que vencedores". 
                 A transição para a interrogativa acima, por exemplo, poderia ser: "Vejamos cinco motivos  pelos quais podemos afirmar que a Vida Cristã é uma Vida Vitoriosa".  A palavra motivo é a palavra-chave da transição.
Nas divisões pode-se apresentar a palavra motivo como:
Divisão I – O primeiro MOTIVO é...
Divisão II – O segundo MOTIVO é...
Divisão III – O terceiro MOTIVO é...
Divisão IV – O quarto MOTIVO é...
Divisão v – O quinto MOTIVO é... 

8.6.3 Conclusão 

                 É o clímax da aplicação do sermão
                “Para terminar!” ,    “Concluindo”,      “Só para encerrar”,  “Já estamos terminando”.
                 Você já ouviu estas frases? Muitas pessoas não sabem terminar uma conversa, ficam dando voltas ou se envolvem em outros assuntos, sem ao menos perceber que o tempo está passando e o ouvinte já está angustiado com a demora.
     Assim, muitos pregadores não sabem ou não conseguem concluir um sermão. Isso acontece por que estes não preparam um esboço e suas idéias estão desordenadas, logo, não conseguem encontrar uma linha condutora da conclusão do sermão.

COMO DEVE SER A CONCLUSÃO ?

1 – Apontar o objetivo específico da mensagem;
2 – Clara e específica;
3 – Resumo do sermão (o sermão em poucas palavras)
4 – Aplicação direta a vida dos ouvintes;
5 – Pequena;
6 – Faça um desfecho inesperado.

                  Logo, uma boa conclusão deve proporcionar aos ouvintes satisfação, no sentido de haver esclarecido completamente  o objetivo da mensagem. É preciso Ter um ponto final para que o pregador não fique perdido.

OBS.: NÃO DEVE PREGAR UM SEGUNDO SERMÃO

8.6.4 Apelo


               Um esforço feito para alcançar o coração, a consciência e a vontade do ouvinte. Ao fazer o apelo, os pronomes se tornam muito importantes. Usem os pronomes "vós" e "nós". Incluam-se nele.
                 Apelo não é apelação.
Dois tipos de apelos:
·        CONVERSÃO/RECONCILIAÇÀO – Aos ímpios e aos desviados.
·        RESTAURAÇÃO – A igreja

COMO DEVE SER O APELO ?

1 – Convite
2 – Impactante e direto
3 – Não forçado ou prolongado
4 – Logo após a mensagem.

            No apelo você deve dizer ao ouvinte o que ele deve fazer para CONFIRMAR a sua aceitação. Seja claro e mostre como ele deve agir.
·        Levantar as mãos;
·        Ir a frente;
·        Ficar em pé;
·        Procurar uma igreja próxima;
·        Conversar com o pastor em momento oportuno.
9. Tipos de sermões
                        Tradicionalmente encontramos, praticamente em todos as obras homiléticas, três tipos básicos de sermões:
SERMÃO TEMÁTICO: Cujos argumentos (divisões) resultam do tema independente do texto;
SERMÃO TEXTUAL: Cujos argumentos (divisões) são tiradas diretamente do texto bíblico;
SERMÃO EXPOSITIVO: Cujos argumentos giram em torno da exposição exegética completa do texto.
9.1 Sermão textual
                 É aquele em que toda a argumentação está amarrada no texto principal que, será dividido em tópicos. No sermão textual as idéias são retiradas de um texto escolhido pelo pregador.
     O mais comum é o pregador usar a divisão natural do texto, onde a distinção das idéias está no texto e apenas deve ser posta em destaque. Este tipo de divisão permite ao pregador usar as próprias palavras do texto. Exemplo, I Cor. 13:13 apresenta três divisões naturais, cujo tema tirado do texto, fica a critério do pregador.Também pode-se dividir por inferência, as orações textuais são reduzidas a expressões sintéticas que encerra o conteúdo. E ainda, otra divisão que pode ser usada é a textual analítica. Este tipo de divisão baseia-se em perguntas: quem? que? quando? por que? como? e, onde? O tema do sermão textual analítico é tirado da idéia geral do texto.

Exemplo: Lucas 19: 1-10:
a)      foi uma visita inesperada;
b)      foi uma visita transformadora;
c)      foi uma visita salvadora.

COMO TIRAR PONTOS DO TEXTO

1 – Leia todo o texto. 
2 – Procure a idéia principal do texto. (Observe o subtema, o contexto, e a situação)
3 – Procure os principais verbos e seus complementos. Lembre-se verbo é ação.
4 – Procure os sentidos expressos nas representações simbólicas, metáforas  e figuras.
4 – Com base nos verbos e significados retirados crie frases (divisões) que os complemente e que, passem uma idéia ou estejam ligadas com a mensagem a ser pregada.
5 – Organize as frases dentro da idéia principal.– Leia todo o texto. Ex.: 

Observe o exemplo:     Texto: Salmo 40:1-4
                                      Tema: Nem antes, nem depois, no tempo de Deus.
Introdução: Esperança significa expectação em receber um bem. O mundo é imediatista.
Corpo: O que acontece quando você espera no senhor?
Divisão I – Ele te retira da condição atual.  ( Qual é o seu lago terrível? )
Divisão II – Ele te coloca em segurança, na rocha. ( Te dá visão para solucionar o problema )
Divisão III – Ele requer a sua adoração, um novo cântico. ( Adorar em Espírito e verdade )
Divisão IV – Ele te faz testemunha, muitos o verão. ( serme-eis testemunha )

                  Reparando que cada tópico (divisão)  apresenta um termo ou uma passagem do texto. De tal forma que o texto pode ser bem explorado pelo preletor. Deve-se evitar divagações e generalizações vazias e inexpressivas.
                 O sermão textual exige do pregador conhecimento do texto, contexto e cultura bíblica.
9.2 Sermão temático
                  É aquele em que toda a argumentação está amarrada em um tema, divide-se o tema e não o texto, o que permite a utilização de vários textos bíblicos.
                 A divisão deriva-se do tema ou assunto apresentado e é independente do texto bíblico escolhido. No sentido técnico, o sermão tópico é aquele que deve sua estrutura e sobretudo divisões ao desenvolvimento da verdade que está em volta do tema.

Observe o exemplo:     Tema: “A PAZ QUE SÓ JESUS PODE DAR...”
1 – ...ilumina nosso caminho Lucas 1:79
2 – ...liberta a nossa mente de pensamento perturbador João 14:27
3 – ...retira sentimento de medo João 20:19 e 20
4 – ...salva João 3:16

                  Reparando que cada tópico (divisão)  apresenta uma característica da “Paz” proposta pelo tema, mas, para cada ponto há um texto diferente, ou seja, a base do sermão é a “Paz de Jesus” que é abordada em diversos textos bíblicos.
                  É  necessário aplicar um texto bíblico em cada divisão do tema para não atrair muito a atenção para o pregador em detrimento da palavra de Deus. Deve-se evitar divagações e generalizações vazias e inexpressivas.
                 O sermão temático exige do pregador mais cultura geral e teológica, criatividade, estilo apurado, contudo, o sermão temático conserva melhor a unidade.

COMO RETIRAR IDÉIAS E ARGUMENTOS (DIVISÕES) DO TEMA

·        Escolher o tema – (Criar frases, retirar de textos bíblicos ou de outras fontes);
·        Analisar o tema – (repetir e refletir várias vezes);
·        Pergunte-se, o que deve falar sobre o tema;
·        Extrair a principal palavra ou frase do tema – (Ela pode se repetir nos argumentos);
·        Separe no mínimo 3 argumentos ligados ao tema;
·        Pesquisar passagens bíblicas que se refiram aos argumentos.;
·        As divisões são explicação ou respostas do tema.

9.3 Sermão expositivo

                  É aquele que explora os argumentos principais da exegese, hermenêutica e faz uma exposição completa de um trecho mais ou menos extenso. O sermão expositivo é uma aula, uma análise pormenorizada e lógica do texto sagrado. Este tipo do sermão requer do pregador cultura teológica e poder espiritual.
     O sermão expositivo está diretamente ligado ao sermão textual, com a diferença de que o seu desenvolvimento é feito sob as regras da exegese bíblica, e não abrange um só versículo, mas uma passagem, um capítulo, vários capítulos, ou mesmo um livro inteiro
                 O sermão expositivo é o método mais difícil, apreciado pelos que se dedicam à leitura e ao estudo diário e contínuo da bíblia, deve ser feito uma análise de línguas, interpretação, pesquisa arqueológica, e histórica, bem como, comparação de textos.
CARACTERÍSTICAS DO SERMÃO EXPOSITIVO
·        Planejamento
·        Poder abordar um grande texto ou uma passagem curta;
·        Interpretação mais fiel;
·        Análise profunda do texto;
·        Unidade, idéias subsidiárias devem ser agrupadas com base em uma idéia principal;
·        Não é suficiente apresentar só tópicos ou divisões;
·        Tempo de estudo dos pontos difíceis;
·        Pode ser abordado em série.
                 É muito comum o uso do sermão expositivo em pregações seriadas como conferências e estudo bíblico.
Exemplo:
O encontro com a vida
Lucas 7:11-17
Divisão I - A multidão que seguia a Jesus
A ) Pessoas desejosas
B ) Pessoas com esperanças
C ) Pessoas alegres
Divisão II - A multidão que seguia a viúva
A ) Pessoas entristecidas
B ) Pessoas sem esperanças
C ) Pessoas inconformadas
Divisão III - O encontro da vida com a morte
A ) A vida é uma autoridade
B ) A morte se curva ante a vida
Divisão IV - O resultado do encontro
A ) A ressurreição do jovem
B ) A alegria da multidão entristecida
C ) A edificação da multidão que seguia Jesus
D ) A conversão de muitos

10. CONSELHOS PARA PREPARAR E PREGAR SERMÕES

* Escrever e ler o sermão
* Preparar um esboço e pregar
* Estudos bíblicos para escolher uma idéia central e depois, através da Bíblia, fazer um estudo das passagens que se relacionam com a idéia central. Para se conseguir isso, geralmente se necessita de uma concordância.
* Escolher e determinar os pensamentos que vão ser usado como divisões do tema.
* Depois escolher, dentre os muitos textos relacionados com o assunto, quais vão ser usados no desenvolvimento da exposição.
* Geralmente se usa um ou dois textos, dos mais importantes e claros, no desenvolvimento de cada divisão.
* Para desenvolver de maneira contínua a mensagem, e não Ter que parar para procurar as passagens na Bíblia, convém copiá-las em um pequeno esboço.
“Ouvindo alguém a palavra do Reino e não a entendendo, vem o maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração; este é o que foi semeado ao pé do caminho. ... Mas o que foi semeado em boa terra é o que ouve
e compreende a palavra; e dá fruto, e um produz cem, outro, sessenta, e
outro, trinta” (Mt. 13:19,23). 
“E, chamando a si a multidão, disse-lhes: Ouvi e entendei..” (Mt. 15:10).
“E, respondendo ele, disse: Amarás o Senhor teu Deus de todo o
teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o
teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo” (Lc. 10:27). 


Manual de Homilética

A pastoral da Palavra

Introdução
A pastoral da palavra corresponde à Igreja pela sua própria constituição. Desde o Concílio Vaticano II a eclesiologia tem aprofundado a dimensão sacramental do mistério da Igreja. O sacramento traz consigo a conjunção do gesto com a palavra, do mesmo modo que na história da salvação e em Cristo, seu acontecimento central, as palavras sempre estiveram iluminando o sentido dos acontecimentos. A Const. Dei Verbum insistiu nesta conjunção do fato e da palavra na progressiva auto-revelação de Deus. A ação pastoral da Igreja, que continua na história sendo mediação da doação de Deus, tem a palavra como um dos elementos que a constituem. Os gestos e as ações podem ser ambíguos, sujeitos de diversas interpretações; a palavra oferece o sentido exato da ação, interpreta-a, dá a sua autêntica intencionalidade.
Porém, falar de palavra na Igreja não é possível à margem da Palavra com maiúscula que sustenta e faz viver à própria Igreja. Antes que missão, a palavra na Igreja é dom. Sua voz não quer ser senão o eco de outra palavra que foi pronunciada nela e que ressoou no fundo do seu ser.
Para falar da palavra na Igreja é necessário fazer uma primeira referência à revelação de Deus que foi acolhida na fé da Igreja e a cujo serviço ela mesma vive. Por isso entre a Palavra e o ser da Igreja há relações múltiplas e variadas. Mais ainda, devemos falar da Igreja como o lugar onde hoje essa Palavra continua ainda ressoando para o mundo e continua chamando e convidando o homem para participar do mistério divino. De fato, a fé é resposta ao Deus que se nos revelou e a Igreja foi convocada e cresce pelo anúncio do Evangelho.
Num segundo momento temos que falar da Palavra situada na ação pastoral da Igreja. A principal manifestação da Palavra na ação pastoral da Igreja é, sem dúvida, aquela que acompanha o testemunho crente, explica-o e interpreta-o, e faz dele chamada evangelizadora para os homens e o mundo. Para essa Palavra deve ir dirigida toda esta pastoral. O restante das ações pastorais têm como objeto o fato de que a Igreja continue sendo medianeira da salvação para o mundo, continue sendo o lugar onde a Palavra se pronuncia, significa, dá sentido ao mundo e produz nele os seus frutos.
Para garantir essa Palavra que se identifica com sua missão, a Igreja também tem seus meios e suas estruturas. Agora vamos deter-nos em dois que podem ser origem de muitos outros: a formação permanente como palavra meditada e a pregação homilética.

1 – Revelação e Palavra

Aqui repetiremos algumas noções básicas da teologia fundamental e da eclesiologia para fundamentar nessa mútua relação os imperativos que devem acompanhar toda pastoral da palavra.
a. As distintas presenças de Deus na Igreja
A palavra de Deus na vida da Igreja se situa no seio de outras muitas presenças. Falamos de Deus presente na criação e descoberto na contemplação de suas maravilhas, falamos de Deus presente nos acontecimentos e descobrimos sua ação perscrutando os sinais dos tempos, falamos de Deus presente no homem que é sua imagem e o manifestamos respeitando-o  e no comportamente fraterno; no interior mesmo da Igreja falamos da presença de Deus na comunidade reunida em seu nome, de sua vontade manifestada no serviço da hierarquia, de sua ação santificadora na celeração sacramental e, de modo especial, falamos da presença real de Cristo nas espécies eucarísticas.
Nenhuma dessas presenças é alheia à presença em sua própria palavra, dada ao longo da história; e mais ainda, foi esta mesma Palavra que nos levou a descobrir Deus em outras realidades.
b. A revelação como fato dinâmico de autocomunicação de Deus
A história da revelação é a história da autocomunicação de Deus ao homem e seu resultado é a vida.
Ao longo dos tempos, Deus saiu ao encontro do homem para oferecer-lhe sua comunhão. Sua Palavra representou a oferta de uma comunhão na qual o homem pode encontrar sua verdade última, o caminho de sua realização humana e da salvação integral à qual ele aspira.
Conseqüentemente, Deus ao revelar-se, doa-se. O que Ele comunica não é a sua compreensibilidade, mas sua vida e sua comunhão como oferta ao homem. E o homem, mais que compreender ao receber sua Palavra, encontrou novas possibilidades de vida, encontrou a própria vida. A revelação de Deus não é alheia à revelação do próprio mistério do homem. Na revelação, conhecemos também o ideal de homem que desde sempre Deus tinha projetado.
A partir da Palavra de Deus pronunciada na criação que faz surgir a vida até a Palavra definitiva dada na manhã da Páscoa que faz surgir a vida nova, toda a história da Revelação está unida a uma vida que é diferente se se aceita ou se se rejeita. Deus vai se revelando como possibilidade para o homem de uma forma diferente de viver que leva à plenitude do mesmo ser humano. Quem recebe sua palavra se encontra com a realidade de ser filho de Deus.
c. Cristo, plenitude da Palavra e inesgotabilidade de sua Palavra
Por isso, o acontecimento de Cristo, por ser a manifestação última do Filho e da Palavra, é a plenitude da revelação. O Deus que se havia revelado de diversas formas e maneiras ao longo dos séculos, no Filho se manifestou definitivamente.
A Palavra de Cristo, revelando o rosto de Deus, foi assegurando as possibilidades de um mundo novo no qual Deus, reconhecido como Pai, torna possível a fraternidade entre os homens. A comunhão de Deus oferecida em sua Palavra faz surgir a comunhão entre os homens como realidade e como vocação dos que o receberam.
Em Cristo Deus nos disse tudo o que tinha para dizer, deu-se a nós definitivamente. Ele é a plenitude da Revelação e toda palavra nova não será senão aprofundamento na Palavra dada. A pretensão de Cristo em sua história foi a de dizer ultimamente quem era Deus e manifestar assim a vida à qual somos chamados e a qual estamos destinados. Essa vida é, primeiramente, o dom de um Pai que nos ama. Cristo mesmo fez de sua vida a manifestação desse amor que acolhe e perdoa, que congrega e une, que devolve ao homem a dignidade perdida, que denuncia as situações de mentira e de injustiça no mundo, que anuncia um futura de esperança possível, que é capaz até de dar pelo homem a própria vida.
d. A Palavra eternizada pelo mistério pascal
Se em Deus palavra e vida se mesclaram na história de sua revelação, a vida do Ressuscitado é a última Palavra pronunciada por Ele.
Com ela, começou o tempo definitivo. A Páscoa se converte no acontecimento da autentificação do Filho, da aparição da Igreja e do futuro do mundo.
- A pretensão do Jesus histórico foi selada com o selo da autenticidade na manhã da Páscoa. Dando-lhe a vida, o Pai ratificou a sua Palavra como Palavra de vida. O que dizia era verdade. Porém a vida do Ressuscitado tem como componente novo o que está sentado à direita do Pai. A Palavra entrou na esfera de Deus e se eternalizou no tempo. O mistério pascal converteu a palavra do tempo em Palavra eterna, a palavra concreta em palavra universal, a palavra do amigo em palavra do Senhor, a palavra do homem em palavra de Deus. Agora, o que disse Jesus, converteu-se na palavra que Deus queria dizer a todos sempre e para sempre.
- O mistério pascal é também inseparável do mistério de Pentecostes e do mistério da Igreja.  Mais ainda, eles são também componentes da Páscoa. Graças à ação do Espírito, princípio de missão e testemunho apostólico, a palavra do Ressuscitado aparece unida à missão de uma Igreja que a conserva íntegra, a pronuncia no tempo, vive de sua escuta e meditação e a transmite de geração em geração até que o seu Senhor volte. A Igreja surge, assim, como servidora da Palavra e sua tarefa central é o anúncio do Evangelho com a integridade de seu testemunho, cumprindo o mandato de Cristo.
- A Palavra que a Igreja serve em sua ação pastoral tem como destinatário o mundo. Ela é capaz de fazer novas todas as coisas. Com o acontecimento pascal o mundo se abriu para um futuro de ressurreição para o qual vive a Igreja e que será dom escatológico do Pai. A palavra que a Igreja anuncia não é alheia à construção deste mundo, mas a implica e a compromete. A palavra da Igreja é anúncio e denúncia, palavra profética que é pronunciada para que o Reino de Deus seja semeado e fermente a complexidade das realidades mundanas. A pastoral da Palavra está inseparavelmente unida à pastoral do compromisso e do testemunho eclesial em meio às realidades temporais.
e. Palavra iluminadora da situação atual
O que nos foi dito em Cristo é luz que ilumina a todo homem que vem a este mundo (cf. Jo 1,9). A Igreja vive para que sua palavra seja luz que chega a todas as situações e realidades humanas e as salve.
Sua função servidora da Palavra no aqui e agora da história é possível graças à presença do Espírito que revela e leva ao conhecimento total de Cristo (cf. Jo 15,12-15), que faz d’Ele resposta à problemática e à situação de todos os homens.
A história da Revelação foi uma revelação progressiva de Deus até chegar a Cristo. Hoje a história da Igreja é aprofundamento progressivo naquilo que em Cristo já nos foi dado para torná-lo vida e razão para viver de todos os homens. A plenitude da Revelação nos supera e nos transcende; a tarefa da Igreja é penetrar paulatinamente nela para ir descobrindo sua riqueza e para fazer viver a partir dela todos os que recebem seu Evangelho.
f. Os diversos carismas e a palavra
Cada ministério e cada carisma na Igreja serve à Palavra a partir de sua especificidade.
A uns corresponde o cuidado da Palavra, sua transmissão íntegra, sua proclamação autorizada, sua atualização celebrativa; a outros o seu modo de pronunciá-la é torná-la vida e testemunho no meio das mais variadas circunstâncias humanas, mostrá-la como razão da própria esperança, como fonte do mais diverso compromisso. Para todos a Palavra é fonte; em todos a Palavra ressoa; na complementaridade e na comunhão das diversas tarefas Deus continua falando e dizendo a palavra em Cristo para todos os homens e para toda a história.

2 – A Palavra de Deus na Igreja e para a Igreja

O estudo da função do anúncio tem seu ponto de partida numa reflexão teológica sobre o significado da Palavra de Deus na Igreja e para a Igreja, passando por uma análise do conteúdo e das diversas formas do anúncio até chegar, finalmente, às questões práticas sobre o desenvolvimento da pregação.
a. A teologia do anúncio
«Uma comunidade religiosa que deixasse de pregar, não poderia ser a verdadeira Igreja de Cristo».
Esta afirmação bastante categórica chama a atenção sobre a importância da Palavra de Deus na Igreja. O constitutivo essencial do ministério profético é a Palavra de Deus, realidade primeira da economia da salvação. Com sua palavra Deus não só fala, mas age, não só revela, mas se torna presente.
No que se refere ao papel que a pregação tem de levar ao encontro da fé, já conhecemos as palavras de S. Paulo de que «a fé vem de ouvir a pregação» (Rm 10). Esta afirmação guarda todo seu valor, na medida que o caminho psicológico para se alcançar a fé passa normalmente pela fé. No entanto, a pregação da Igreja por si só não é o fundamento absoluto da certeza obtida pela fé.
O papel da pregação eclesiástica: ser um serviço em favor da palavra (cf. At 6,4); a pregação é só um intermediário dessa mesma palavra, que empresta sons à Palavra de Deus e convita a pessoa humana a assumir uma posição. A parte que lhe toca é a de estabelecer o encontro do homem com Deus, preparando o caminho para a fé como instrumento que dispõe a ela; não lhe corresponde criar a fé nem torná-la operativa. A causa da atuação da fé é, e continua sendo, em primeiro lugar Deus e, em segundo lugar, o homem que, usando a própria liberdade, acolhe o convite divino. Portanto, a pregação não é, nem mais nem menos, que um serviço intermediário, a favor daquilo que, em última instância, se realiza entre Deus e a alma do homem.
A Palavra de Deus não é só uma ação, mas também uma revelação dirigida aos homens para despertar neles um ato pessoal de obediência e para manifestar certos conteúdos vitais de verdade. Dinamicamente a Palavra de Deus incomoda, interpela, descobre, noeticamente ilumina, desenvolve e, por isso, podemos falar de diversos tempos dialéticos da Palavra de Deus e do ministério profético.
b. Formas de anúncio
1. O anúncio missionário (o kerigma)
A primeira forma do anúncio é a «pregação missionária», o kerigma, que tem como finalidade anunciar a fé e solicitar a conversão. No seu significado pleno, o Kerigma é o anúncio atual e historicamente determinado da Palavra de Deus na Igreja, por parte de quem, a partir de Deus, tem o poder de dar testemunho. Temos uma confirmação recente desta verdade na EncíclicaRedemptoris missio de João Paulo II:
« A tarefa fundamental da Igreja de todos os tempos e, particularmente, do nosso é a de dirigir o olhar do homem e orientar a consciência e experiência da humanidade inteira para o mistério de Cristo» (RM 4)
Característica do Kerigma é sua forma concreta e histórica de «acontecimento» e «momento» presente: o anúncio se torna salvação para quem o acolhe. Por meio do kerigma se proclama eficazmente a presença da salvação na comunidade, com outras palavras, o kerigma torna Cristo presente na comunidade e constrói assim a comunidade enquanto tal.
Da natureza do kerigma derivam algumas exigências essenciais: a exigência de expressar o núcleo e o fundamento da salvação; a exigência de um anúncio que não utiliza palavras eruditas nem ideologias. Nesse sentido convém observar o que fala a RM 44 (cf.).
A evangelização é o ministério que apresenta a Palavra de Deus como uma palavra poderosa e que salva, que suscita a fé e a adesão pessoal de forma nuclear e totalizante. A evangelização anuncia o Evangelho de Jesus Cristo como kerigma, ou seja, como boa notícia com a finalidade de fundamentar a comunidade cristã mediante a conversão que conduz ao Batismo. Está dirigida aos batizados não praticantes que deixaram de crer, aos praticantes adultos não iniciados e às crianças e aos adolescentes batizados, que devem ratificar a sua fé adulta.
Entendido deste modo fica claro que o kerigma não se dirige somente aos pagãos. A fé não é uma realidade que o homem conquista uma vez por todas e logo a guarda como propriedade, mas um processo existencial, isto significa que é preciso aprofundar sempre de forma renovada: a fé está sempre in fieri. É preciso acrescentar que este anúncio missionário não é só tarefa da hierarquia, mas toda a comunidade dos fiéis tem a obrigação de tomar parte nesta função básica da Igreja.
A mensagem fundamental do cristianismo deve ser anunciada de modo que o conteúdo seja breve. No cristianismo primitivo existiam estas formulações breves e hoje também nos esforçamos por formular novos símbolos de fé breves e compreensíveis para o homem atual.
A finalidade que caracteriza a evangelização, tanto como função específica quanto como dimensão que deveria estar presente em qualquer uma das funções desempenhadas pela Igreja, permanece sempre a de «fundamentar ou re-fundamentar a fé». Fundamenta-se a fé quando ela alcança uma pessoa que escuta pela primeira vez o anúncio de Cristo Salvador; re-fundamenta a fé quando provoca uma vida cristã mais intensa numa pessoa que perdeu a fé, ou que nunca chegou a uma fé consistente, responsável, viva.
Um tema que se discutiu muito nos últimos tempos é o da metodologia e da linguagem da evangelização. A solução deste problema é intrinsecamente teológica e espiritual mais que questão de táticas. Porém é preciso lembrar que o problema da linguagem é um dos mais graves. Dele se fala desde muito tempo, porém ainda não foi resolvido. A dificuldade da linguagem da evangelização nasce por um lado, de uma nova mentalidade cultural e, por outro, o famoso problema da inculturação.
O problema essencial que a evenagelização está chamada a resolver diz respeito à alternativa entre a auto-salvação, ligada à imanência, e a heterosalvação, expressão da transcendência. O homem moderno parece resistir à simples idéia de uma salvação que proceda «de fora e do alto».
O sujeito da evangelização é a Igreja inteira: «A missão compete a todos os cristãos» (RM 2), isso quer dizer que todo cristão-bispo, sacerdote, leigo, religioso-tem a obrigação de evangelizar. Esta obrigação não está ligada a um mandato jurídico, mas brota diretamente da fé e dos sacramentos da iniciação cristã.
O ouvinte da mensagem cristã é o homem que se pergunta sobre realidades que a mensagem cristã tem as únicas respostas que podem satisfazer o coração inquieto do homem. A mensagem que é anunciada é a graça de Deus que nos precedeu e que desse modo nos tornou capazes de sermos ouvintes da sua Palavra. O conteúdo da pregação missionária é sempre o acontecimento da redenção e não uma metafísica ou um sistema cognoscitivo qualquer.
2. A pregação comunitária
Quando a pregação missionária alcança seu objetivo, ou seja, a conversão do indivíduo mediante sua inserção na Igreja, entra em jogo a pregação dentro da comunidade (didaché). Se a pregação missionária orienta a pessoa para Deus e para a Igreja, a pregação comunitária a une com Deus e com a Igreja.
Durante a pregação a «Palavra de Deus interior» precede logicamente a qualquer ação humana. Rahner a chama de «Palavra de Deus transcendente». Esta graça ajuda a aceitação livre e pessoal da Palavra e da própria fé na Igreja. Por isso, o primeiro que deve refletir em toda pregação é a fé da Igreja e do pregador. No NT, especialmente em Paulo, a Palavra como portadora da salvação ocupa o primeiro lugar (cf. At 6,4; 1Cor 1,17). A Igreja é, em princípio, Igreja da Palavra.
Por outro lado, a Palavra de Deus chega aos homens através de palavras humanas e pode ser chamada «palavra de Deus categorial» .
O anúncio, ou seja, a pregação, tem sua lógica interna. Um primeiro critério pastoral poderia ser que a pregação cristã não é algo meramente objetivo, não é uma coisa puramente estática e histórica mas algo antes de tudo existencial, pessoal e atual. Esta dramaticidade da Palavra é o conteúdo da pregação: ela não pode limitar-se, portanto, ao ensinamento doutrinal, aos mandamentos, às proibições, mas deve ser em si mesma um acontecimento gozoso e feliz. Inclusive na forma a pregação deve ser um acontecimento dinâmico. A pregação fala da realidade, por isso deve partir dos fatos, de eventos, adotar parábolas e exemplos, utilizar frases breves com tonalidade cálida e pessoal. O conteúdo e o portador de toda palavra é uma Pessoa, Jesus Cristo ressuscitado, razão pela qual toda pregação é um acontecimento pascal. Cristo não é uma pessoa do passado, mas o ressuscitado que vive, e isto é algo que afeta todo tempo, isto é, supõe uma palavra válida para todas as circunstâncias.
A pregação comunitária tradicionalmente ganha corpo em várias expressões que desde a antiguidade formam o estilo da pregação cristã:
a. Catequese ou «Didaché»
Tipo de pregação originariamente destinada aos adultos que se preparavam para receber o Batismo. Tratava-se, podemos dizer, de um aprofundamento do Kerygma, com o objetivo de dar embasamento à fé do catecúmeno, despertada a partir do primeiro anúncio.
b. Didascália
Consiste num aprofundamento nas verdades de fé, buscando fundamentar e explicitar ainda mais a fé, buscando aprofundar e explicitar ainda mais a fé brotada a partir do kerygma e aprofundada pela catequese.
c. Parenese
Nome dado à pregação cujo conteúdo está voltado para as exigências morais da vida cristã.
d. Homilia
Tipo de pregação com características próprias. É aquela oratória (arte de falar persuasivamente) sagrada que surgiu ainda na Igreja primitiva, a partir das celebrações litúrgicas. No sentido original supõe o kerygma e a catequese, já no sentido habitual é a explanação que se faz, durante a missa ou outra celebração litúrgica, a partir do texto escriturístico (cf. SC 35) que tenha relação com o mistério que se celebra e venha ao encontro das necessidades dos fiéis que a ouvem.
Falando do sentido litúrgico da homilia a Sacrosanctum Concilium determina que « as rubricas indiquem o momento mais apto para a pregação, que é parte da ação litúrgica» (cf. n. 35).
Do ponto de vista técnico na homilia se distinguem duas funções litúrgicas importantes:
1° – ser aplicação da mensagem ao aqui e agora da vida humana, pois a mensagem da Escrituraa tem uma atualidade;
2° – ser ponte entre a Liturgia da Palavra e a Liturgia Eucarística. Ela não é um ato isolado, mas está inserida na celebração (cf. SC 35, 2).

3 – A Pregação desde o Início da Igreja até o Concílio Vaticano II

1° Período: Apostólico
Nesse período a pregação apostólica e a vida da Igreja estão impregnadas pelo kerygma: cf. At2, 14-32; 3, 12-26; 4, 8-12; 7, 1-53; 10, 34-43; 13, 16-41; 17, 24-31.
Em grandes linhas o kerygma se processa da seguinte forma:
a) O mistério Pascal que acaba de se realizar, foi anunciado pelos profetas. Portanto, os tempos messiânicos foram inaugurados.
b) Através de sua Ressurreição, Cristo é exaltado à direita de Deus como Senhor.
c) Cristo envia o Espírito Santo para continuar a sua obra através da Igreja.
d) Cristo virá um dia como Juiz.
e) Diante disso os ouvintes são convidados à conversão.
O Mistério Pascal, centro da História da Salvação e da pregação querigmática, é apresentado como um fato que opera no hoje da Igreja, e o ponto alto da celebração desse mistério é a Eucaristia, vivida na caridade conforme nos falam At 2, 42-47; 4, 32-37.
Portanto a vida cristã se fundamentava na fé, no culto e na caridade. A Palavra era anunciada, celebrada na Eucaristia e vivida no dia a dia.
2° Período: Patrístico
A teologia patrística gira em torno do Mistério Pascal. Ela vai desenvolver o kerygma apostólico, numa linha fundamentalmente bíblica. Com o aparecimento das controvérsias cristológicas entram aos poucos na pregação da Igreja as definições: pessoa, substância, natureza, etc. Surge gradativamente um aspecto intelectualizante na pregação, o que diminui um pouco o aspecto de pregação Boa-Nova em alguns teólogos pregadores.
Percebe-se na leitura dos grandes Padres (S. João Crisóstomo, S. Ambrósio, S. Agostinho…) a existência de um centro irradiador e também unificador: o Mistério de Cristo que culmina na Paixão, Morte e Ressureição.
Um exemplo interessante nesse sentido é o «De catechizandis rudibus» (S. Agostinho, ano 400): fundamenta toda a catequese na História da Salvação, ordenando-a para um grande centro, o Mistério Pascal.
Podemos perceber nos escritos dos Padres que, partindo do kerygma apostólico, eles criaram aos poucos uma teologia eminentemente bíblica, que pervade toda a vida cristã. Ao mesmo tempo têm uma visão bastante clara sobre o sentido da Palavra de Deus no plano divino e acabam criando uma teologia da Palavra de Deus, especialmente Santo Agostinho acentua com clareza que Cristo-Pessoa é o Sujeito Principal e Objeto da Pregação.
3°Período: Do início da Escolástica até o Concílio de Trento
Nesse período aparecem grandes luzeiros da História da Igreja na pregação: S. Anselmo, S. Alberto Magno, S. Tomás, S. Boaventura, que foram homens que marcaram enormemente sua época. Os escolásticos bebem ainda da fonte bíblica e da patrística. Eram pregadores eminentemente bíblicos.
Esse período é marcado pelo interesse pela filosofia que pouco a pouco vai penetrando na teologia acentuando, desse modo, o seu aspecto de intelectualização-racionalização, ocorrendo assim um início de afastamento do centro polarizador: mistério pascal. (teologia-ciência)
A Teologia da Palavra de Deus torna-se mais tímida entre os teólogos do período áureo da escolástica, embora seja bastante acentuada em Tomás e em Boaventura.
A teologia aos poucos começa a desencarnar-se da vida, entra em cheio a racionalização da teologia e o elán bíblico, tão marcante na patrística, diminui consideravelmente. Vai-se apagando mais e mais a teologia da Palavra de Deus.
4° Período: Do Concílio de Trento ao Concílio Vaticano II
O Concílio de Trento, marcaado pela controvérsia protestante, vai favorecer a acentuação da radicalização. De um lado os Evangélicos propugnavam uma Igreja da Palavra, a Igreja colocará em primeiro lugar o tema dos sacramentos e, em segundo lugar, o da Palavra de Deus.
Haverá pouca preocupação com o problema teológico da Palavra de Deus e, pouco a pouco, a Teologia da Pregação vai desaparecendo. A pregação será identificada simplesmente com aarte (retórica). E, no campo da pastoral, sobram da pregação apenas algumas normas práticas. E é essa a visão que vai prevalecendo nesse campo: tudo vai ser visto desde o ponto de vista do direito, de normas e leis, a teologia da Palavra de Deus se esvazia dando lugar aojurisdicismo. A teologia se coloca mais no campo da auto-defesa, da auto-apologética. Faltava, portanto, aquela visão bíblico-patrística da Teologia que é antes de tudo Palavra de Deus, Palavra de Salvação.
Como conseqüências práticas dessa postura podemos destacar:
- Catequese: perde-se de vista a genuína História da Salvação cujo centro polarizador é o Mistério Pascal e se transforma predominantemente num ensino racional. Hoje, no entanto, ocorre o risco contrário que é o de não se acentuar suficientemente esse aspecto da catequese.
- Liturgia: perdendo o verdadeiro conteúdo teológico transforma-se num frio rubricismo.
- Moral: é vista quase exclusivamente sob o ângulo de preceitos que irrompem na mais complicada casuística. A moral parece reduzir-se a teoremas de geometria. Isso ocorre por perca da visão bíblica da moral: a boa nova que se acolhe, compromete e converte. Hoje o perigo é o de uma moral subjetivista demais, uma moral quase sem pecado.
No ano de 1936 um escritor alemão, Jungmann, dá um passo importante rumo à renovação da teologia da pregação com a publicação de uma obra cujas idéias principais buscavam colocar as bases para uma volta ao essencial da teologia da pregação.
Constatou que na pastoral (catequética, litúrgica, moral) faltava um centro polarizador: muitas normas, preceitos, mas faltava uma visão unitária do cristianismo. Essa falta tem sua raiz última na própria teologia que além de estar desvinculada da Pastoral se ressentia da falta de um centro polarizador. Esse centro canalizador é Cristo, Boa Nova de salvação; Cristo, Palavra da vida; Cristo, Mistério Pascal. Em seus estudos patrísticos sobre a liturgia, Jungmann verificou que precisamente na Patrística a vida cristã brotava da própria teologia. E a liturgia celebrava a vida cristã como um encontro com o Mistério Pascal, centro irradiador de toda a pregação.
A partir daí podemos concluir:
1. A teologia não pode se desvincular da vida da Igreja, não pode ser apenas ciência, mas é também primordialmente Boa Nova, Mensagem de Salvação, Vida.
2. A teologia deve ser revista tendo como centro irradiador e de convergência o Mistério de Cristo, particularmente sua Morte e Ressurreição numa visão não meramente racional mas numa visão em que Cristo aparece como Boa Nova de Salvação.
A obra de Jungmann teve grande influência na renovação da teologia, da catequética e da liturgia. E é sob essa influência que nasce em 1939 a Escola Querigmática de Innsbruck (Áustria), fruto de uma tentativa de dar à teologia uma nova perspectiva (tirá-la da visão intelectualista e apologética): a teologia é antes de tudo revelação salvífica, Boa Nova da salvação. Desejo de reestruturar a teologia buscando redescobri-la revelação, como palavra salvífica, como Boa Nova. Assim, depois de anos de debates, a partir de 1950 inicia-se um processo lento, mas decidido de busca de uma teologia viva, menos abstrata, mais voltada para a salvação.
Paralelamente a esse movimento querigmático surgiu o movimento que estuda a Palavra de Deus. Não basta apresentar a Palavra como mensagem, Boa Nova, como fez a teologia querigmática. É preciso descobrir o sentido da Palavra de Deus. «Para renovar a missa devemos renovar a ante-missa, ou seja, para renovar a liturgia eucarística, devemos renovar a liturgia da Palavra» (slogan lançado pelo movimento bíblico).
É é dentro desse contexto que vemos irromper nos anos 60 o Concílio Vaticano II.
5° Período : O Concílio Vaticano II e a Palavra de Deus
Ao entrar em contato com o Concílio Vaticano II já se percebe de que fonte ele quis beber: a Palavra de Deus e a Patrística. Nesse sentido traz uma grande variedade de textos bíblicos e patrísticos. Nenhum concílio na história da Igreja deu tanta importância à Palavra de Deus como o Vaticano II, basta começar pelo fato de uma Constituição dogmática sobre a Revelação: Dei Verbum. E todos os seus documentos estão impregnados desse espírito bíblico. Assim, na Constituição sobre a Liturgia Cristo aparece como sujeito principal da pregação: «Presente está Cristo pela sua Palavra, pois é Ele mesmo que fala quando se lêem as Sagradas Escrituras na Igreja» (SC 7).
Falará também na mesma Constituição mais explicitamente: «pois na Liturgia Deus fala a seu povo. Cristo anuncia o Evangelho» (SC 33). No Decreto Presbiterorum Ordinis 4: «a pregação da Palavra se faz necessária para o próprio ministério dos sacramentos, uma vez que são sacramentos da fé, e esta nasce e se alimenta da fé».
Conclusão
1. Quando um centro polarizador coordena toda a teologia, no caso o Mistério Pascal, toda a vida da Igreja é impregnada por este centro. E o cristianismo, em todos os setores de sua vida, vive, iluminado por esta visão unitária, que lhe empresta luz e força. Quando se perde esse centro se abre caminho para abusos e desvios.
2. O problema fundamental da pregação não é seu aspecto prático e sim seu sentido teológico.
3. Quando a teologia é estudada em primeiro lugar como Revelação da Palavra de Deus, que culmina no Mistério Pascal, sempre operante na vida da Igreja e na História, desaparece a dicotomia entre a Palavra e Sacramento.
«Pode já considerar-se ultrapassado aquele tempo em que as pessoas se julgavam no direito de opor uma Igreja da Palavra (protestante) e uma Igreja do Sacramento (católica), ou então de atribuir a eficácia da graça, segundo a Escritura, à Palavra, e segundo a Igreja, ao Sacramento. O movimento litúrgico dos diferentes países, apoiado no movimento bíblico e muitas vezes acompanhado por uma procura de renovação da pregação e da catequese, tinha aproximado eficazmente, ao mesmo tempo que unira, a celebração dos sacramentos e a pregação da Palavra» (Y. Congar).

4 – A Pregação: Ação Litúrgico-Celebrativa

1. No íntimo da liturgia
Com relação à homilia existe hoje uma consciência bem clara: ela é a pregação que ocorre dentro da liturgia e, de modo especialíssimo, na Santa Missa.
A noção conciliar de homilética é reveladora dessa sua importante dimensão:
«Recomenda-se encarecidamente, como parte da própria liturgia, a homilia, em que, durante o ciclo do ano litúrgico, se expõe, com base nos textos sagrados, os mistérios da fé e as normas da vida cristã. E mais: nas missas que se celebram aos domingos e festas de preceito, com assistência do povo, nunca se omita a homilia, a não ser por causa grave» (SC 52).
Temos um exemplo desta doutrina conciliar num dos textos mais antigos da Igreja apostólica, ao descrever a liturgia primitiva, a Apologia I de s. Justino, ao redor do ano 153, onde lemos:
«E no dia chamado do sol, tem-se uma reunião num mesmo local para todos os que moram nas cidades ou nos campos. E lêem-se as memórias dos apóstolos ou as escrituras dos profetas, conforme o tempo o permita. Em seguida, quando o leitor já terminou, quem preside faz um convite e uma exortação no sentido de se imitarem estas coisas excelsas. Depois, todos nós nos levantamos de uma só vez e recitamos orações. E [...], ao acabarmos de orar, apresentamos pão, vinho e água, e quem preside eleva [...] ações de graças [...] E o povo aclama dizendo: ‘Amém’»
O termo usado por Justino para aludir à homilia (exortação ou proklésis) é variante do termo para descrever a pregação de Paulo em Antioquia da Psídia (At 13,15ss) e de Pedro depois de Pentecostes (At 2,41: paráklesis). Nesta última passagem ele vem unido, como sinônimo, ao verbo dar testemunho, que conhecemos como termo habitual para a pregação ou para o ministério querigmático.
2. Pregão gozoso na pregação e na anáfora
Fica claro diante dos textos anteriores que a homilia faz parte da liturgia. Agora nos interessa perguntar-nos sobre o como. Uma resposta interessante nos vem da SC 52 ao afirmar que a pregação deve estar relacionada tanto com o ano litúrgico quanto com a missa; mais concretamente com seus textos sagrados.
No entanto este estar dentro ou formar parte não deve ser entendido de modo extrínseco, exterior, como mera circunstância externa, mas como algo interno e intrínseco. A homilia não pode ser um corpo estranho dentro do conjunto litúrgico mas um elemento sintonizadointimamente com o conjunto litúrgico.
Para isso vamos agora analisar os passos que o pregador homilético deve dar a fim de realizar essa tarefa.
Primeiramente mostrará as relações concretas que existem entre a Palavra de Deus proclamada e o comentário do pregador sobre esta palavra, de um lado, e a liturgia, de outro. Estas relações são três: o anúncio gozoso ou pregão/proclamação, o memorial e o hoje.
Não só a pregação cristã é evangelização, ou seja, anúncio e proclamação da boa nova. A liturgia também o é, e concretamente, a liturgia eucarística. Assim é a compreensão de S. Paulo quando afirma: «Cada vez que comeis deste pão e bebeis deste cálice anunciais a morte do Senhor até que Ele volte» (1Cor 11,26). O verbo utilizado kataggelein, sinônimo de ‘evangelizar’: “proclamar a boa nova”. Portanto, S. Paulo afirma que a eucaristia é proclamação gozosa, da mesma forma que o é a pregação cristã. O que se anuncia na eucaristia é o mistério pascal, a morte e ressurreição do Senhor, conteúdo básico do querigma. Por conseguinte fica clara a coincidência entre liturgia (eucarística) e pregação.
Como a eucaristia realiza esta proclamação? Através de seus gestos, símbolos e textos oracionais.
Fazendo esta síntese entre palavra e liturgia, sob o aspecto da proclamação evangélica, a homilia chegará a ser pregão e anúncio gozoso. É o que diz a SC:
«Por ser o sermão parte da ação litúrgica, indicar-se-á também nas rubricas o lugar mais apto[...]. As fontes principais serão a Sagrada Escritura e a liturgia, já que esta pregação ‘r proclamação das maravilhas operadas por Deus na história da salvação ou mistério de Cristo, que está sempre presente e atuante em nós, particularmente na celebração da liturgia» (35,2)
3 – O memorial
Um segundo ponto de convergência entre a Palavra de Deus e a liturgia que a homilia deve mostrar é o caráter de memorial. Não só a pregação é memorial, como relato narrativo, a liturgia como anamnese também o é.
No texto de 1Cor 11,25, ao concluir o rito eucarístico, na Última Ceia Jesus diz: “Cada vez que bebeis (deste cálice), fazei-o em memória de mim”. Antes, a propósito de comer o pão, seu corpo, dissera o mesmo: “Fazei isto em memória de mim” (11,24).
Assim, a eucaristia, em seu núcleo ritual de comida e de bebida sacramentais, é memorial,anamnese de Cristo que se entrega. Isso também constatamos na oração central, a anáfora. Ela é uma grande oração doxológica, que apóia seu louvor a Deus e a sua ação de graças ao Pai em um motivo fundamental: as grandes ações de Deus realizadas ao longo da história salvífica. Para isto, faz memória sempre desta história salvífica, quer em seu conjunto, quer em suas etapas fundamentais, quer em alguma outra de suas etapas. Assim se transforma em relato, narração. A anáfora é a hagadah cristã.
A hagadah tem sua origem na liturgia judaica e se refere ao relato central que na celebração da páscoa se lia, lembrando o que ocorrera naquela noite e em todas as noites salvíficas da história de Israel. Nós cristãos temos também a nossa hagadah em que, mediante uma narração, fazemos memória do ocorrido em nossa história como povo de Deus e, sobretudo, na noite da última ceia, núcleo da história santa centralizada em Cristo e no seu mistério pascal.
Na liturgia encontramos exemplos muito claros disto: IV anáfora do Missal romano, os prefácios dos domingos da quaresma, o prefácio do domingo de Ramos que alude diretamente ao relato da Paixão e o pregão da vigília pascal que sob forma de prefácio, hino e proclamação, contém uma síntese admirável da história sagrada.
Assim, vemos que o relato feito na liturgia da Palavra reaparece na liturgia sacramental eucarística. Ora a homilia deve relacionar esta semelhança, mostrar este caráter comum de relato, memória ou anamnese e expô-los mediante os elementos que lhe oferecem tanto as leituras quanto os prefácios.
4. O hoje litúrgico
O terceiro elemento que nos mostra com evidência a relação entre a Palavra de Deus e a liturgia é o hoje.
A liturgia gravita em torno do hoje, do presente, da atualidade. Quando chegam os tempos litúrgicos, seus textos não se cansam de repetir esta hodiernidade. Por exemplo na missa vespertina da vigília do Natal, canta o intróito ou antífona do canto de entrada:
Hoje sabereis que o Senhor virá e nos salvará, e amanhã contemplareis a glória de Deus”(Ex16,6-7). Um outro exemplo que ilustra esse assunto é o da vigília pascal: nela o pregão pascal se encarrega de expressar o hoje, ou melhor, o “esta noite” como centro da celebração e seu memorial.
Assim, perguntamo-nos: em que sentido a liturgia tem seu centro de gravitação no hoje? Para entender isso é preciso saber que o memorial litúrgico não é mera recordação, mas atualização. Torna presente o recordado. Tem força e eficácia presencializadoras, dado que o distingue do recordar meramente subjetivo, que só se desenvolve na mente do sujeito. Aqui, ocorre algo que tem a ver com o hoje da vida do crente e da Igreja.
O fato salvífico se aproxima do presente, não com suas circunstâncias históricas, mas em seu núcleo supra-histórico, graças à ação do Espírito. O Espírito é invocado na epiclese para que com sua presença dinâmica torne real e atual a ação de Cristo mediante o sacramento. Esta ação começa já com a Palavra de Deus proclamada, que é eficaz (SC 7), mas culmina na liturgia sacramental por meio de sinais, de sua assembléia e da força de concretização que tem a ação sacramental. Daí poder-se predicar o hoje da palavra e do sacramento. E, assim, a homilia pode e deve mostrar esta estreita relação de convergência e semelhança. A SC expõe essa doutrina mediante categoria que repete amiúde ao falar da ação litúrgica: o verbo exercere significa que a liturgia atualiza o que celebra.
Como concretização e confirmação de tudo o que foi dito, há uma dado importante da eucaristia que às vezes passa desapercebido, mas que pode ajudar bastante quem prepara a homilia: é a communio ou antífona da comunhão, que possui traço especial em quase todas as missas dos tempos do advento, natal, quaresma, páscoa e pentecostes.
Nesta antífona do rito da comunhão se toma um fragmento da leitura do evangelho ou de alguma das outras leituras proclamadas e é cantado acompanhando o ato da comunhão. O sentido é claro: no rito da comunhão se está realizando a palavra proclamada. Assim, esta se presencializa, se converte em atual, hodierna, isto é, pertencente ao hoje litúrgico. Por meio da celebração e na celebração, cumpre-se o que anunciamos.

5 – A Pregação: Ação Comunicativa e Comunitária

1. A Pregação e a ação do Espírito Santo
A homilia é ação comunicativa e, por isso, é radicalmente comunitária.  E ato decisivo de comunicação e, por­tanto, de comunhão.  De um lado, faz que quem preside e fala se comunique com os membros da assembléia; de ou­tro, também influi para que os fiéis se comuniquem entre si.
De um lado, suscita e cria comunidade; mas, de outro, a comunidade influi, pode e deve influir na homilia e no fazer a homilia: há, pois, circularidade no evento da prega­ção homilética.
Além disso, este processo de comunicação possui du­pla vertente: é acontecimento pneumático, influenciado pelo Espírito; e, concomitantemente, é ação psicológica, condicio­nada pelas leis psicológicas próprias da pessoa e do grupo.  Uma coisa não exclui a outra, são diversas mediações de um único ato. Passamos agora a tratar dessas duas vertentes: aspec­to pneumático, e, em seguida, do psicológico na pregação.
Toda ação predicacional é envolvida pela ação do Es­pírito: Ele é a principal força que a suscita e a inspira.  Em primeiro lugar, Jesus, conforme nos conta Marcos (1,9), é justamente depois de receber, por meio do ministério de João, o batismo do Espírito, que começa a pregar.  O mesmo Espírito o leva ao deserto.  Mas, imediatamente a seguir, di­rige-se para a Galiléia, a fim de que comece a anunciar a proximidade do Reino (Mc 1,12-14).  Lucas diz isto explici­tamente: não só a ida para o deserto, após o batismo, mas ainda a viagem posterior para a Galiléia e seu ir começando a ensinar pelas sinagogas, são resultado da ação do Espírito (Lc 4,14-15).  Por sua vez, João afirma muito claramente esta dimensão pneumática da pregação de Jesus quando escreve: «Aquele que Deus enviou (o Filho) diz as palavras de Deus, pois Deus lhe conferiu seu Espírito sem medida» (Jo 3, 34).
Os discípulos de Jesus recebem dele este dom do Espí­rito para prosseguir a pregação agora explicitamente cristã (cristológica) e pascal.  Na cena introdutória dos Atos, o Res­suscitado anuncia aos discípulos o que vai ser como que o programa dos tempos vindouros:
«Recebereis a força do Espírito Santo, que descerá so­bre vós, para que sejais minhas testemunhas em Jeru­salém, em toda a Judéia, na Samaria e até os confins da terra» (At 1,8).
Portanto, é bem claro que a tarefa predicacional na Igreja vai ser resultado de ação do Espírito.  Efetivamente, os pró­prios Atos o confirmam: antes de Pentecostes, os discípulos, os apóstolos, estão mudos; mas, a partir da efusão do Espírito, começam a pregar (At 2,4).
Novamente João confirma esta união entre Espírito e testemunho quando escreve: «O Espírito da verdade, que procede do Pai, dará testemunho de mim» (Jo 15,26).
O fato da comunicação na pregação eclesial é fato carismático promovido pela ação do Espírito Santo na Igreja que suscita diversos carismas ao redor do testemunho da Palavra tanto na hierarquia quanto em todo o povo fiel, constituído como povo profético. No entanto não podemos esquecer que a função dos Bispos, presbíteros e diáconos na Igreja, ao pregarem a Palavra, é insubstituível. Eles têm responsabilidade própria na homilia e não podem ceder a outros membros da comunidade não ordenados essa sua responsabilidade. Por isso o Código de Direito Canônico estabelece que a homilia pertença a eles.
2. Dimensões psicológicas na pregação
Além da sua dimensão carismática é preciso recordar que a pregação é fundamentalmentecomunicação de pessoas: Deus-pessoa com o ouvinte pessoa.
Precisamente nestes últimos anos, os homiletas, prin­cipalmente de língua alemã, têm feito análises interessan­tes e aplicações de certos estudos da psicologia ao campo da pregação, sobretudo da homilética.
a. O pregador
Uma primeira observação a ter em conta é a seguinte: a homilia não só dá testemunho do evangelho, mas tam­bém do pregador.  O testemunho do evangelho é testemu­nho de fé; e esta passa pela pessoa da testemunha exata­mente porque todo testemunho é algo pessoal.  Toda pre­gação é encontro pessoal entre o pregador e os fiéis que o escutam.  Então o pregador deve questionar-se sobre sua capacidade para este tipo de encontro, isto é, sobre sua capacidade de se relacionar com as pessoas, de acordo com a diversidade de circunstâncias em que se acha situado, o que supoe capacidade de escuta paciente, receptividade e participação em verdadeiro intercâmbio de experiências.  Explicitamente, isto se faz fora, antes da homilia, porém, implicitamente, deve ser feito e continuado durante a homilia.
A homilia pressupõe estabelecer relação pessoal, criar situações em que o outro seja tomado a sério como um tu, como o parceiro do diálogo.
O perigo que ameaça esta comunicação é o de que o ministro esconda sua personalidade sob a máscara de seu papel de pregador, de teólogo ou de especialista.  Então o testemunho deixa de ser pessoal ou desaparecem o tom e o pano de fundo testemunhais, tão importantes.  Quem pre­ga, durante a homilia, não deve silenciar sua experiência pessoal de fé, porque necessita partir de experiências vitais, tanto próprias quanto alheias, até chegar a configurar algu­mas imagens, expressões e linguagem também vitais.  Do contrário, deter-se-á em fazer paráfrase da Escritura ou em moralismo.  E isso não para o pregador cair em subjetivismos, nem psicologismos; porém, para encarnar a Palavra na realidade pessoal tanto de quem ouve quanto de quem fala.
Se se pedem à comunidade a experiência concreta e o compromisso em torno da Palavra, o mesmo deve pedir o pregador a si mesmo.  Deste modo, a homilia tem muito de colocação em comum, por mais monologal que seja.  A fé do ministro da palavra é inseparável da fé da comunidade.
É legítimo, pois, que apareça o eu do ministro da pala­vra; não só como quem confessa a fé na objetividade do credo, mas também na densidade da vida quotidiana.  O melhor antídoto contra o perigo de buscar a si mesmo na pregação consiste em ter atitude eclesial e comunitária.  Concretamente isto quer dizer: sentir-se em união com a comu­nidade de fiéis e, como conseqüência, esforçar-se para uma busca e escuta no âmbito da comunidade, que é a «comu­nhão no Espírito» (2Cor 13,13).
Quanto à experiência pessoal de quem preside certamente, a pregação do evangelho é incompatível com o pregar-se a si mesmo.  Não se pode reduzir o conteúdo da pregação à comunicação de experiências subjetivas.
No entanto, esta crítica não diz respeito a quem convida a participar da praxe vital da fé cristã e, por causa disto, em certos contextos, não silencia sua própria experiência pessoal.  Alguns fogem e se defendem deste risco e compro­misso que supõem a comunicação, o tom e o testemunho pessoais refugiando-se em uma objetividade que pode ser válida para uma aula ou atividade acadêmica, porém não para o serviço da Palavra diante da comunidade.  Suposta­mente, toda personalidade possui suas limitações, princi­palmente neste campo tão difícil, mas aceitar esta realidade com humildade já é um modo de superá-la.  E acima de tudo: a humildade é o melhor testemunho evangélico.
b. A psicossociologia do auditório
Além disso, convém levar em consideração alguns outros elementos fundamentais na pregação a partir de sua dimensão psicológica, pois ela é um fato humano submetido às leis e condicionamentos psicológicos: o auditório diversificado, o local da pregação e os fatores que influem para uma eficiente proclamação da Palavra de Deus ou que prejudiquem à mesma.
a) O que se entende por psicossociologia do auditório
Por psicossociologia do auditório entendemos tudo aquilo que revele as aspirações do auditório, sua cultura, seu modo de pensar, suas preocupações, sua religiosidade, as circunstâncias em que a Palavra de Deus é anunciada, o local, o fator tempo, etc.
O auditório
Comecemos o nosso tema dando uma rápida olhada ao auditório que temos diante de nós e alguns elementos que nele se encontram:
1 – Grande sede da Palavra de Deus
As pesquisas mostram cada vez mais que boa parte dos que participam em nossas celebrações vão buscando ouvir uma mensagem de vida, de esperança e de salvação.
Cf. Am 8,11
2 – Hipercríticos
Além dos que pertencem ao primeiro grupo é preciso contar com a presença dos hipercríticos, que tudo criticam. Um conselho interessante de um sacerdote vienense: «A estes hipercríticos levianos dever-se-ia dar como penitência a preparação de um sermão dominical» (Joseph Ernest Mayer).
3 – Indiferentes
Um terceiro grupo corresponde aos indiferentes, os que freqüentam por mero formalismo. Falar-lhe não é fácil.
4 – Um outro elemento psicossociológico a mencionar trata-se da maneira de captar a pregação da parte dos ouvintes, especialmente o povo simples, maioria de nossos auditórios. Normalmente não aceitam as homilias com longo raciocínio, de sabor intelectual. Preferem a linguagem concreta, simples, existencial, transparente do evangelho.
5 – A heterogeneidade do auditório
Trata-se de um dos aspectos que mais dificulta a boa apresentação da Palavra de Deus. Salvo algumas celebrações para grupos homogêneos (casais, jovens, crianças…), normalmente o auditório é bastante heterogêneo: pessoas idosas, crianças barulhentas, diversidade de cultura e formação religiosa, ouvintes fechados, sedentos buscando crescimento na fé, indiferentes, os atrasados que sempre atrapalham.
Encontramos o ouvinte que vive numa sociedade pluralista que tem contato com outras culturas, religiões, filosofias diversas, etc. Encontramos o ouvinte atento e exigente que seleciona o que ouve e, nas cidades, onde for possível, escolhe o pregador que mais o satisfaz. Compara o que ouviu com outras idéias (em reflexão pessoal ou com amigos num processo de filtração daquilo que se ouve).
Também temos o ouvinte cômico: o bêbado, o louco, entram gritando, gesticulando. Também está a figura do ouvinte ladrão, aquele que espera que as pessoas se destraiam para roubá-las.
Nosso auditório é verdadeiramente heterogêneo. Assim afirma um ex-deputado:
«Estou habituado a enfrentar os mais variados auditórios em minhas campanhas políticas e em outras circunstâncias. Tive também a feliz oportunidade de falar inúmeras vezes como leigo cristão em várias igrejas. Pois bem, de todos os auditórios, o mais difícil é, salvo exceções, o das igrejas, por ser o mais heterogêneo» (Guido Moesch – RS).

Acústica-dicção
Há igrejas com ótima, razoável ou péssima acústica; como também há pregadores com ótima, razoável ou péssima dicção.
Para a eficácia na pregação é preciso considerar a importância da boa acústica e da boa dicção. Esses elementos são indispensáveis. Não se pode esquecer essa verdade central: a pregação deve chegar primeiramente aos ouvidos, antes de penetrar os corações dos ouvintes.
Local
Os locais onde a Palavra de Deus é proclamada são diversos e variados. Assim, temos igrejas de vários tamanhos: pequenas, médias, redondas, em forma de cruz, cheia de colunas, igrejas que se assemelham a um campo de futebol, vários salões, etc.
Igrejas sujas, quentes, mal arejadas, sem bom gosto arquitetônico, frias e nada acolhedoras. Igrejas cujos repetidos ecos tornam quase impossível o anúncio da Palavra de Deus, Igrejas espaçosas onde o pregador se sente como que perdido com muita dificuldade de se comunicar e dialogar com os ouvintes. Não se podem esquecer também as celebrações e evangelização ao ar livre, em grandes e pequenas romarias, concentrações e outros acontecimentos.
Isso mostra que a pregação se por um lado sofre de limitações, por outro encontra fácil e frutuosa acolhida. Não esqueçamos que um lugar de espaço médio, arejado, com boa acústica, acolhedor, com boa iluminação, facilita muito a comunicação com o auditório e, conseqüentemente, permite que haja mais eficiência na evangelização.
Outras circunstâncias
O pregador deve levar em conta e enfrentar também outras circunstâncias: assim, existem os momentos de luto e de festa; momentos de alegre e ansiosa expectativa bem como de indisposição tanto para os ouvintes quanto para o pregador; momentos marcados pela pressa, cansaço, agitação; momentos que favorecem o silêncio e a interiorização da Palavra de Deus e momentos prejudicados pelo incessante barulho.
O que dizer quando se sabe que alguém está deprimido? Como falar quando uma tempestade parece desabar a Igreja? O que dizer ao ouvinte que acaba de fracassar nos negócios, ou a quem aconteceu alguma tragédia?
Apesar de toda a problemática do auditório, do local e de outras circunstâncias, não podemos esquecer que também temos um auditório mais ou menos fiel! É um lado importante e que deve ser valorizado
b) Como conhecer a psicossociologia do auditório
Há diversos meios para conhecer a psicossociologia do auditório:
a) Reuniões com dinâmica de grupo com jovens, casais, movimentos; são uma escola sempre renovada para o pregador se inteirar da maneira de ver, sentir, refletir, reagir dos ouvintes.
b) Visitas informais à famílias, onde reina um clima franco e espontâneo, clima que favorece troca de idéias sobre qualquer assunto; encontros com debates sobre temas atuais, etc.
c) Aproveitar estudos, pesquisas, levantamentos sobre a opinião que se tem sobre a pregação realizada na Igreja.
c) O que o auditório mais censura nas pregações
Vamos simplesmente ater-nos nas grandes linhas que nos parecem as mais questionadas pelo auditório:
a) Pregação abstrata-aérea-vaga: pregações muito generalizadas, aéreas, afastadas da realidade do dia-a-dia. Pregações filosofizantes que seriam melhores para um ambiente selecionado (aulas, congressos) que para os auditórios de nossas igrejas. Pregações vagas: que não descem ao concreto, pregações que não atingem o alvo, não comprometem. É bom lembrar que «toda pregação que não se transforma num chamado à conversão, corre o perigo de deixar de ser Evangelho para tornar-se conferência» (J. Audusseau e X. Leon Dufour).
b) Pregação confusa
Antigamente, a maioria das pregações primavam pela busca de uma estrutura lógica, por vezes até demasiado rígidas. Hoje, porém, certas pregações são totalmente confusas que o ouvinte não sabe o que o pregador está querendo dizer. Pregações sem pé nem cabeça! Muitas vezes isso acontece como fruto, em muitos seminários, da falta de preparação para este ministério, falta de exercícios de preparação de temas, desleixo na preparação da homilia, etc.
c) Pregação materializante
São aquelas em que o pregador se ocupa, de preferência, em abordar o assunto dinheiro. A toda hora fala de campanhas de ordem financeira, administrativa, construções, etc. Prestam-se mais para administradores do que arautos da Palavra de Deus.
Aqui convém recordar a importância da corresponsabilidade dos leigos, lembrando que os Apóstolos preferiram dedicar-se à oração e à pregação da Palavra e os diáconos cuidariam da administração.
d) Pregação vazia
Pregações cansativas pelo fato de não ter conteúdo. O vazio na pregação é razão de tantas queixas. O pregador que habitualmente não estuda, não medita, o que se pode esperar dele? Este é indiscutivelmente um dos grandes escândalos de um número, não pequeno, de pregadores!!!
e) Pregação monótona
Pela maneira de apresentar sermões com os mesmos gestos, com a mesma entonação de voz. Monotonia pela falta de colorido em imagens, fatos, figuras que possam prender a atenção do ouvinte. Monótona porque repete as mesmas idéias de sempre…quanto sono!
f) Falta de boa acústica – de boa dicção
Aqui convém recordar o de sempre: a base doutrinal dessa exigência é que a Palavra primeiramente deve atingir os ouvidos. Um grande número de pregadores não se faz ouvir suficientemente. Reparar a acústica de tantas igrejas e também a dicção. É preciso encontrar soluções para o assunto.
g) Pregação contratestemunho
O pregador deve ser o primeiro a testemunhar o Evangelho. É sua obrigação fundamental. Repercute mal ouvir falar em união da comunidade, entre esposos, pais e filhos, quando na casa do pároco reina a discórdia entre os que ali vivem, quando a funcionária da casa paroquial recebe mal o povo, quando o vigário fala mal abertamente contra os seus colegas.
h) Pregação agressivo-dominadora
Certos pregadores usam um tom de voz muito agressivo e dominador. Tratam os ouvintes como crianças que devem ser subjugadas à força. Parece que tais pregadores projetam consciente ou inconscientemente seus problemas e descarregam sobre o auditório.
É bom lembrar que o púlpito-dizem dele “arma do pregador”-não foi feito para que o arauto da Palavra de Deus exponha suas perguntas e dúvidas, nem extravase suas angústias e seus problemas, mas para dar aos ouvintes as respostas de Deus.
i) Pregação socializante, psicologizante, ambígua
Tornou-se, poder-se-ia dizer, uma verdadeira obsessão, acentuar em certas pregações a idéia do social, do psicológico, como se Deus não existisse, como se o cristianismo não fosse, em primeiro lugar, obra do amor de Deus e, portanto, antes de tudo, dom de Deus, graça.
Não há dúvida de que a evangelização tenha de se valer desses instrumentos da sociologia e da psicologia, que o cristão deva engajar-se e comprometer-se com a ordem temporal, que a psicologia esclareça-nos sobre a conduta do homem sob diversos aspectos; no entanto, não é possível transformar o Evangelho em sociologia ou psicologia. Como também não é possível apresentar um Evangelho que não engaje. É preciso começar a empreender o caminho da evangelização que leve à simbiose entre o vertical e o horizontal, o natural e o sobrenatural, o terreno e o celeste, lembrando-nos que ao lado de todos os progressos, ao lado de todos os auxílios da ciência, o Evangelho é acima de tudo palavra e ação de Deus: «Se o Senhor não constrói a casa, em vão trabalham os construtores» (Sl 126, 1).
j) Pregação demasiado longa
É sabido por todos que a homilia deve ser breve, não passando de 10 a 15 minutos. Tudo o que é anunciado leva a cor do tempo, é limitado pelo tempo e deve ser situado no devido tempo. É bem diferente falar numa missa com auditório mais ou menos fixo, homogêneo, sedento da Palavra de Deus, que numa missa rezada ao meio-dia com auditório apressado e inquieto.
É bem diferente falar durante uma celebração em que o calor massacra os ouvintes, e numa celebração festiva em dia de primavera. Portanto não é fácil dar uma resposta uniforme ao problema do tempo da pregação. Cabe ao pregador, valendo-se da opinião dos ouvintes e de suas reações no momento, saber quanto tempo pode falar nesta ou naquela circunstância. Seja como for, o mais importante é compor e apresentar bem o sermão!
Além disso há abusos em algumas igrejas: prolongar os avisos. Abusa-se da paciência dos ouvintes. É preciso ter bom senso e bem apresentados.
d) O que o auditório mais espera e mais necessita da pregação
Pelo que vimos anteriormente já podemos perceber algo da resposta a essa pergunta.
a) Anunciar a mensagem no momento oportuno
Já vimos que o ouvinte espera uma mensagem de vida. Cabe ao pregador, para evitar uma pregação vazia ou confusa, escolher uma mensagem determinada e concreta, retirada dos textos litúrgicos e do mistério que está sendo celebrado.
Descoberta a mensagem é preciso que o pregador não se perca em considerações acessórias e eruditas que facilmente desviam a atenção dos ouvintes. Renunciar a vários assuntos para desenvolver de maneira normal um só, buscando aprofundar este assunto e conduzi-lo até possibilitar a opção dos ouvintes, é preciso ser asceta na pregação.
E para completar é preciso frisar que a mensagem deve ser anunciada no momento oportuno. Ter discernimento da circunstância para proclamar a Palavra de Deus. Em suma, “dizer a mensagem certa no momento certo”. Isso supõe que o pregador seja, antes de tudo, acima de tudo e, em toda a parte, um homem de profundo bom senso.
b) Que a pregação seja impregnada de esperança cristã
A pregação é proclamação do mistério da salvação, cujo centro é o Mistério Pascal. Anunciar este mistério é colocar o homem sempre diante da sua opção por Cristo e consequente exigência de contínua conversão. Este processo de conversão, iluminado pelo Mistério Pascal, consiste fundamentalmente numa caminhada de esperança. Caminhada que espera encontrar e receber na evangelização: ânimo, apoio, luz, correção fraterna. A pregação deve ser esse instrumento gerador e animador da esperança.
Portanto, o ouvinte espera uma palavra edificante e existencial que ilumine os problemas do dia a dia e o encoraje a assumir as responsabilidades quotidianas com renovada esperança e realismo otimista.
c) Que a pregação seja profética
O pregador de uma maneira excelente exerce o munus profético que desde o Batismo participa em Cristo.
O profeta no AT é aquele que prediz o futuro, profere coisas ocultas e fala em nome de Deus. A sua missão fundamental é falar em nome de Deus. Assim, o profeta é a boca de Deus (cf. Ez 2, 8; 3, 3). Ele é o porta-voz de Deus, chamado para cumprir uma determinada missão (cf. Is 6, 1-9; Jr1,4s; Ez 1, 1s). Em particular o profeta tem a missão de anunciar as maravilhas de Deus (cf. Os11,1; Is 49,15), denunciar o mal, o pecado, principalmente a idolatria e as injustiças sociais (cf. Is 1, 11-17; Os 5, 1-7; 6, 6-7), enviado também para fazer um forte apelo à conversão (Jl 1,13-14; Is58, 6-7).
O pregador não pode esquecer que, de um certo modo, ele é herdeiro da missão dos profetas.
d) Que a pregação ilumine, purifique e aprofunde, gradativamente, a religiosidade popular e não destrua os sentimentos e alma religiosa do nosso povo
A pregação deverá partir também da realidade religiosa do povo.
Cf. DAp 300
e) Que a pregação seja acima de tudo Palavra de Deus que brota de um coração cheio de Deus
Nunca será demais insistir neste fato já conhecido. O auditório tem que faro especial para perceber se o pregador é ou não um homem de Deus. Em palavras de um grande pregador: «O sacerdote deve dar aquilo que transborda do cálice e não daquilo que está dentro. Assim, ele estará sempre “cheio”de Deus.»
Santo Tomás, ao referir-se ao apostolado insiste em que no apostolado entrega-se o que se contempla.
S. Paulo nos deixou uma página magnífica sobre o pregador: cf. 1Cor 2,1-5.
Santo Agostinho: «Sit orator antequam dictor», «Que o pregador seja um orante mais que um falante».
Longe, portanto, da pregação e do pregador os ares de sábio inflado, de improvisador que se gaba de sua capacidade. Deve, antes de tudo, transmitir simplicidade, convicção, confiança, alegria.
Como conclusão deste capítulo sobre a psicossociologia do auditório poderíamos sintetizar em três palavras-chaves aquilo que os ouvintes mais esperam e mais necessitam da pregação: que os evangelizadores
1. Sejam luzeiros que brilham num mundo cercado de toda espécie de trevas;
2. Comuniquem amor, certeza, confiança e esperança aos ouvintes que não raramente estão angustiados, saturados, confusos, desesperados;
3. Formem os ouvintes para a vida cristã adulta e comunitária.

6 – A Homilia


1. Que é uma homilia
A homília é um tipo especial de pregação com carac­terísticas próprias.  Há muitos tipos de pregação.  Assina­lemos alguns deles: O panegírico, que tende a ressaltar as virtudes de um santo e inculcar nos fiéis a sua imitação.
A homilia é aquele tipo de oratória sagrada que convém mais à celebração litúrgica da euca­ristia e dos sacramentos.  Ou melhor, as celebrações litúr­gicas foram criando, a partir da mais remota antiguidade, um gênero especial dentro da oratória – a homilia -, espécie de comentário dos textos da celebração aplicado aos fiéis, como participantes da celebração e como cris­tãos que devem viver o que celebram.
Etimologicamente falando, homilia vem da palavra grega “homilia” (reunião, conversa familiar) e esta por sua vez do verbo “homilein” (reunir-se, conversar).  As­sim, pois, o termo grego homilia significa trato ou conversa familiar.
Retoricamente com a palavra homilia se designa aquele gênero de oratória mais simples e familiar em oposição ao ‘discurso”.  Fócio nos diz que uma homilia se distingue de um sermão pelo fato de que a primeira se expunha familiarmente pelos pastores e era uma espécie de conversa entre eles e a assistência; o sermão, ao con­trário, era feito a partir do púlpito em forma mais solene.  O sermão era composto segundo as regras da retórica e da arte oratória, ao passo que a homilia é a interpretação familiar da Sagrada Escritura, feita com um fim prático e moral.  A homilia, mais do que mover e excitar os ânimos, destina-se a instruir e edificar os fiéis a propó­sito dos mistérios da fé.
Liturgicamente, a homilia é uma parte integrante da liturgia da Palavra (cf.  SC n. 52).  Note-se que até antes da reforma litúrgica conciliar dizia-se que, depois do Evangelho, a liturgia era interrompida para que os fiéis ouvissem a homilia. O fato de que atualmente a homilia seja parte integrante da liturgia nos obriga a precisar muito mais seu sentido e função.
Tecnicamente, na homilia distinguem-se duas funções litúrgicas importantes:
a) a de ser aplicação da mensagem ao hoje e aqui de nossas vidas;
b) a de ser ponte entre a liturgia da palavra e a liturgia eucarística ou sacramental.
Quanto à primeira função (a) antecipamos que a mensagem da Escritura tem uma atualidade (e não simplesmente uma aplicação moral) que foi sublinhada pela Constituição Sacrosanctum Concilium (cf. n. 33 e 7).
Quanto à segunda função (b) pode-se dizer que a homilia é o elo entre a “liturgia verbi” e a “liturgia sacra­menti”. É o que liturgicamente se denomina “passagem para o rito”.  A homilia (que nunca é um sermão isolado, mas que está dentro de uma celebração) deve concatenar a palavra ouvida com a celebração e mostrar sua atuali­dade precisamente na ação sacramental, como logo comen­taremos mais extensamente.  Isso segundo a melhor tra­dição patrística e segundo a Constituição Sacrosanctum Concilium (n. 35,2).
Ambas as funções coincidem, pois, no fato de conec­tar a Palavra de Deus com o hoje e o aqui de nossa cele­bração ou de nossa vida.
A homilia se distingue, pois, claramente de outros gêneros de oratória sagrada, como o panegírico, o comentário bíblico-exegético, o clássico sermão piedoso, a oração fúnebre.  E com mais razão se distingue de uma classe de catequese ou de teologia (embora a homilia possa e até deva aplicar certos princípios empregados na catequese).
2. Origens e história da homilia
A homilia mergulha suas raízes no povo bíblico de Israel.  Sabemos que muito antes de Jesus e no tempo de Jesus, terminada a leitura do texto bíblico na sina­goga, fazia-se a homilia que se encerrava com o qaddis, oração aramaica da qual Jesus tomou, ao que parece, as duas primeiras petições do Pai,-nosso.  “Moisés – diz Tiago em Atos 15,21 – tem em cada cidade os seus pregadores, que o lêem nas sinagogas todos os sábados”.  A mesma coisa é confirmada pelo historiador judeu Flá­vio Josefo.
O próprio Evangelho nos oferece um exemplo elo­qüente por parte de Jesus deste comentário homilético das Escrituras, na passagem da sinagoga de Nazaré (Lc 4,16-30).  Na verdade, trata-se da primeira homilia cristã que se conserva num resumo escrito e na qual o próprio Jesus é o pregador e protagonista.  É um claro comentário ao texto de Isaías e uma claraaplicação do texto ao mo­mento presente, assim como à situação concreta dos que estão reunidos na sinagoga, incluindo o próprio Jesus (cf. v. 23s).  Mais ainda: o texto de Lucas deixa entre­ver que Jesus tinha o costume de ir à sinagoga no sábado e fazer a leitura (v. 16) e também de ensinar nas sina­gogas com louvor dos assistentes (v. 15).
Sabemos também por João 6,59 que Jesus pronun­ciou o discurso do pão de vida na sinagoga de Cafar­naum, provavelmente na festa de Páscoa (cf. Jo 6,4),festa que naquele ano Jesus passou na Galiléia já que não podia ir à Judéia (cf. 7,1).  Também em tal passa­gem há um longo comentário de diversos textos do Antigo Testamento sobre a páscoa e sua aplicação ao momento presente dos ouvintes (a presença de Jesus entre eles e a fé em sua palavra) e a situação conjuntural (a celebração da páscoa judaica que antecipa a páscoa cristã).
Temos outro exemplo eloqüente de outra homilia de Jesus, desta vez com os dois discípulos, na caminhada de Emaús (Lc 24,13-35).  Trata-se de uma homilia no sentido mais genuíno da palavra: “conversa familiar”.  Jesus, ao longo da rota que leva de Jerusalém a Emaús, vai interpretando o momento presente à luz dos textos escriturísticos.  Trata-se de uma verdadeira “liturgia verbi” que prepara os corações dos discípulos para a “liturgia sacramenti”, para o calor da celebração, para a profun­didade do encontro eucarístico com Jesus na casinha de Emaús.  Na verdade, as palavras de Jesus atualizam os textos bíblicos (cf. v. 27) e preparam os corações para a celebração eucarística (cf. v. 29 e 32).
A recitação, ou melhor, a proclamação da Bíblia e sua interpretação nas sinagogas, não pôde deixar de ter profundos vestígios entre os judeus-cristãos presentes às reuniões sinagogais. É preciso levar em consideração que os primeiros cristãos, antes de sua conversão e mesmo depois dela, estiveram em contato com o templo, e aos sábados com a sinagoga.
Recordemos também que alguns textos neotestamen­tários parecem ser textos homiléticos (p. ex. alguns frag­mentos da primeira carta de São Pedro).  Sabemos tam­bém que os apóstolos praticaram o comentário homilé­tico (p. ex. a famosa “conversa” de Paulo em Trôade dentro de uma reunião de caráter claramente litúrgico (At 20,7-12).
Entre os escritos cristãos pós-bíblicos, o primeiro testemunho que faz referência clara à homilia como parte da liturgia da Eucaristia encontra-se em Justino.  Assim diz em sua primeira Apologia (escrita pelo ano de 153) ao explicar a Missa:
«… E no dia chamado do sol, faz-se uma reunião num mesmo lugar de todos os que habitam nas cidades ou nos campos, e lêem-se os comentários dos apóstolos ou as escrituras dos profetas, na medida em que o tempo o permite.  Depois, quando o leitor acabou, quem preside exorta e incita pela palavra à imitação dessas coisas excelsas.  Depois nos levantamos todos ao mesmo tempo e recitamos orações” (n. 67)
Trata-se de uma homilia dominical (Justino fala do ‘dia chamado do sol’ e não do ‘dia do Senhor’ para ser compreendido pelos leitores gentios, a quem dirigia sua Apologia).  A homilia dessa reunião dominical situa­-se depois das leituras e antes da oração universal que precede a apresentação das oferendas para a Eucaristia.  Trata-se, pois, de uma homilia eucarística tal como se pratica em nossas igrejas hoje em dia.
São famosas as homilias dos Santos Padres (séc. II-VIII) que em grande parte nos foram transmitidas por escrito.  São o comentário vivo da Bíblia por parte da Igreja dos primeiros séculos.  São também um testemu­nho de que a liturgia nos conserva a melhor vivência da fé bíblica e a melhor “summa theologica” de todos os tempos.
Nos séculos posteriores, quando no Ocidente a ação litúrgica se torna arcana e clerical e deixa de ser uma ação inteligível para o povo, a homilia de feição patrís­tica ou escriturística desaparece, ao menos de modo geral, e já não figura nos livros litúrgicos. Entramos assim numa era de ausência de comentários homiléticos que serão de alguma forma subs­tituídos (mas não convenientemente supridos) pela pre­gação extralitúrgica .
As Rubricas gerais do Missal de São Pio V (1570) não falam da homilia: da proclamação do Evangelho passa-se ao Credo.  Contudo, o Rito que se deve observar na celebração da Missasupõe a possibilidade de que haja uma pregação depois do Evangelho (cf.  VI, 6).
Recordemos também que na administração da maio­ria dos sacramentos, dos séculos que nos precedem, não está prescrita nem prevista a leitura da Palavra de Deus nem, conseqüentemente, seu comentário homilético.  Po­demos ver um resto da homilia na catequese do Pontifi­cal Romano que o bispo dirige aos ordenandos.  Quando os sacramentos, sobretudo o matrimônio, são celebrados dentro da Missa, coisa freqüente nas últimas décadas que nos precedem, costumam comportar um comentário homilético.
Em alguns países, até não muito antes do Concílio Vaticano II, dar-se-á a estranha superposição de uma pregação ao longo da missa dominical, que se celebra em voz baixa e em latim.  Embora chocante para nós, não o era tanto no ambiente da época, se levarmos em conta que na missa se praticava todo gênero de devoções.  Na melhor das hipóteses, esta pregação desenvolvia o tema do evangelho.  Aqui está o que a este propósito prescre­veram as Rubricas de 1960, promulgadas por João XXIII:
“Depois do evangelho, sobretudo aos domingos e dias de festa de preceito, dirigir-se-á ao povo, segundo as circunstâncias, uma breve homilia.  Mas esta homilia, no caso de ser feita por um sacerdote que não o celebrante, não deve sobrepor-se à celebração da missa, impedindo a participação dos fiéis; também então a celebração deve ser interrompida e não deve voltar a continuar enquanto a homilia não tiver terminado”.
O Concílio Vaticano II encontra o terreno preparado para uma reabilitação da homilia, graças à renovação litúrgica das últimas décadas e, concretamente, graças ao documento que acabo de citar.  Insiste no fato de que a homilia deve partir do texto sagrado proclamado e esta­belece que a homilia é parte da própria liturgia.  Depois de assinalar a importância da Palavra de Deus (cf.  SC n.  24 e 51), diz no n. 52 da Sacrosanctum Concilium:
«Recomenda-se vivamente, como parte da própria Li­turgia, a homilia sobre o texto sagrado, em que, no de­curso do ano litúrgico, se expõem os mistérios da fé e as normas da vida cristã; não deve ser omitida sem grave causa nas missas dominicais e nas festas de pre­ceito, concorridas,pelo povo».
3. Elementos de que se compõe a homilia
Aqui não nos referimos às partes de que consta uma homilia enquanto peça de oratória, mas aos con­teúdos teológicos ou temáticos que deve incluir.  Por isso não falo de partes, mas de elementos.
Dado que a homilia é uma atualização da Palavra de Deus no hoje e no aqui da vida e dacelebração, podemos deduzir que uma homilia bem pre­parada deve conter três elementos que nunca faltarão:
a)    Elemento exegético ou interpretação da mensagem da Sagrada Escritura proclamada na liturgia da palavra.
b)    Elemento vital ou aplicação da mensagem à vida da comunidade e de cada um dos que a integram.
c)    Elemento litúrgico ou aplicação da mensagem à cele­bração litúrgica e à assembléia que celebra.
Passemos ao desenvolvimento pormenorizado de cada um desses elementos.
a) ELEMENTO EXEGÉTICO
O gênero homilético não tem por finalidade principal que os fiéis cheguem a um conhecimento profundo e quase científico dos textos da celebração, mas que celebrem a Palavra de Deus e vivam à luz dessa Palavra.
Mesmo assim, os conhecimentos exegéticos são muito necessários, especialmente em quem prega a homilia e, em sentido mais amplo de conhecimento da mensagem, também para todos os que a escutam.
Em teologia entende-se por exegese a arte (e ciência!) de encontrar e propor o sentido verdadeiro de um texto escriturístico. Fazer brilhar, através das palavras humanas, a plenitude da luz e do pensamento divino ou plano histórico de salvação.
Na preparação da homilia o emprego da exegese é absolutamente indispensável. Quando o sacerdote a des­conhece, quando se detém na pura história relatada ou no puro texto escrito (caso dos primeiros capítulos do Gênesis), não pode desenvolver a mensagem que o texto inspirado encerra para todos os tempos e, portanto, para a nossa circunstância.
Por isso mesmo, na preparação de uma homilia, a primeira coisa que alguém deve fazer é perguntar-se, depois de ter lido o texto: que quer dizer Deus através deste texto? Não é sempre fácil res­ponder a esta pergunta…Para isso é necessário levar em consideração uma série de normas e prestar atenção a elas:
1)  É mister entender bem o texto, as palavras e conceitos nele incluídos.  E para isso é necessário estudá­-lo demoradamente numa boa tradução, se não for pos­sível no original; nunca numa paráfrase popular, ainda que depois esta seja usada na leitura.  A fidelidade da tradução é indispensável.  Neste momento da preparação a ajuda de vocabulários e dicionários bíblicos é impor­tante.  Demos um exemplo para ilustrar o que estamos dizendo.  A passagem da pecadora perdoada (Lc 7,36-50) não se entende, ou se entende de maneira muito dife­rente, se o v. 47 for traduzido assim: «…são-lhe per­doados seus muitos pecados, porque amou muito».  O sentido exigido pelo contexto é, ao contrário: «…se mostra muito amor, é porque lhe foram perdoados muitos pecados».  No primeiro caso, a causa do perdão é o grande amor da mulher.  No segundo caso, a causa do perdão éo amor gratuito de Deus (cf. v. 42).  O amor da mulher é um amor de agradecimento.  Uma boa tradução deste texto não esquece que o hebraico, o aramaico e o siríaco não têm nenhum vocábulo para dizer «dar graças» e «agradecimento» e que o fazem indiretamente através de outros vocábulos. É o contexto que deve decidir isso.  E a tradução não pode esquecê-lo.
2)  Estudar o contexto da perícope: texto circun­dante, circunstâncias de um fato, milagre, parábola; estu­dar o estilo de um livro, os destinatários e os textos paralelos, especialmente nos evangelhos sinóticos.  Este estudo é mais necessário quando o texto oferece certas dificuldades ou ambigüidades.  Temos um exemplo gra­matical na já mencionada e comentada passagem da pecadora perdoada.  Outro exemplo referente à impor­tância das circunstâncias de uma parábola podemos encontrá-lo no filho pródigo (Lc 15,11-32).  A intenção de Jesus, se nos ativermos somente à parábola, poderá ser até certo ponto múltipla.  Mas se nos fixarmos no contexto em que foi pronunciada (cf. Lc 15,1-2) não há a menor dúvida: a intenção principal é manifestar que Deus sente uma grande alegria ao reencontrar o pecador e que Jesus é a encarnação dessa alegria.  Outro exem­plo, desta vez referente a um livro: A carta aos hebreus se esclarece quando se conhecem os destinatários (con­vertidos do judaísmo, sacerdotes hebreus, exilados, perse­guidos, tentados a voltar atrás, que sentem saudade do culto levítico).  Toda uma série de temas da carta escla­recem-se então (apostasia, peregrinação, Pátria celeste, Cristo guia, superior a Moisés, Cristo sacerdote etc.).
3)  É preciso distinguir entre texto literário e men­sagem que contém.  Fazer exegese não é somente nem principalmente traduzir o que está escrito.  Isto pode deri­var perigosamente para uma interpretação fundamenta­lista da Escritura.  Quando o gênero literário não é cor­rente ou atual (alegoria, mito, parábola), o trabalho éduplo.  Um exemplo já clássico: Para captar a mensagem revelada contida no relato da criação e queda do homem (Gn 2,4b-3,24), é absolutamente necessário distinguir entre relato mítico e o que Deus quis revelar-nos através dele. É preciso conhecer bem o texto literário e os rela­tos míticos da época; mas, ao mesmo tempo, é preciso saber ler devidamente para não tomar como revelação de Deus o que é apresentação externa e roupagem cultu­ral veiculante.
4)  É preciso levar em consideração que Deus, por meio do autor inspirado, quis dizer algo então e quer dizer algo agora através da palavra (falada ou escrita) ou através do fato narrado.  Embora a circunstância talvez já tenha passado e fique muito longe de nós, a mensagem ou o acontecimento continuam sendo atuais e exemplares; hoje o Senhor os dirige a mim e a todos os homens.  Do contrário, a Bíblia seria uma bela história passada e nada mais.  Todos os relatos históricos de Jesus disseram algo em seu tempo e, embora tenham passado, podem dizer e dizem algo para nós, em pleno século XX.  O nas­cimento de Jesus, por exemplo, tem uma grande resso­nância cada ano no Natal. É equívoco, para não dizer falso, dizer que Jesus nasce de novo.  Jesus não nasce de novo.  O fato histórico não se repete.  Mas este nasci­mento foi um acontecimento histórico.  Disse algo então aos pastores (cf.  Lc 2,10-12.14). E diz algo hoje: ressoa de novo uma mensagem de alegria para o povo; hoje o nascimento do Messias nos ajuda a superar todos os falsos messianismos de nosso tempo.
5)  É importante, uma vez descoberta a mensagem para além do que está escrito ou para além do puro f ato, ver como se relaciona com a Mensagem geral da Bíblia e com o Acontecimento da Salvação operada poi Deus em Cristo.  Não para reduzir a generalidades o texto e o sermão, mas para comprovar que a mensagem falada é válida.  Uma mensagem não pode estar em desa­cordo com o Acontecimento salvífico.  Mensagem e acon­tecimentõ devem sintonizar e concordar com alguma das fibras gerais da História salvífica e ser sensíveis a ela.  Demos um exemplo: Se lendo a carta de Tiago chego à conclusão de que o que justifica são as obras, tenho que começar a duvidar se realmente cheguei a entender a~mensagem da carta, porque é evidente que a Bíblia nao coloca a causa da justificação nas obras.  E, pelo con­trário, se lendo Paulo chego à conclusão de que a única coisa importante na vida é a fé (sem que o cum­primento da lei influa em minha vida cristã), posso começar a suspeitar que estou entendendo erroneamente a men­sagem.  Aqui também há desacordo com a Mensagem ge­rai da Bíblia.
6)  Em caso de dificuldade e mesmo sempre, é pre­ciso ver o que me diz o texto na fé, na oração e na meditação da Palavra.  Apesar da distância, estou numa onda de fé semelhante e próxima daquela do autor.
7)  É preciso também pensar no ouvinte ordinário da Palavra (a quem devo dirigir a homilia) e prever o que pode obviamente dizer-lhe o texto ou, por oposição, o que poderia dizer-lhe o texto e não lho dirá porque desconhece algo ou interpreta mal algo (importante, este algo que talvez eu possa esclarecer-lhe; esta chave que eu posso dar-lhe e que, depois, verei se é oportuno dar­-lhe ou simplesmente mencionar).  Ternos o caso das bodas de Caná.  Esclarecer o significado da contraposição água­-vinho é fundamental para começar a entender algo do milagre e o que João quer dizer-nos.  O ouvinte ordinário desconhece a ampla simbologia da água na Bíblia; mas bastará uma simples insinuação para que em cada caso possa ‘captar o significado.
8)  Para relativizar meus pontos de vista, para os enriquecer e sistematizá-los convém recorrer sempre a um comentário exegético (na prática a um bom livro de preparação homilética) depois de eu ter colocado minha parte, não antes.  Em exegese e em homilética a origina lidade e a criatividade são importantes e se adquirem àforça de exercício e de estudo pessoal.
9)  É preciso também distinguir em certos textos entre a mensagem principal e outras mensagens submensagens ou alusões vitais inseridas na riqueza do texto, e que podem dar ocasião a diversas variantes homiléticas, mas que, ao menos em princípio, não vão constituir o centro da homilia, pois não são o centro da mensagem.  Por exemplo, no caso do filho pródigo, a falsa liberdade, a vida do pecador, os passos da conversão, o farisaísmo do irmão maior etc.
10)Por fim, é preciso levar em consideração que, em última análise, o que interessa não é a letra, mas o espírito; não a erudição e o aparato exegético, mas o conteúdo da exegese; não a solução de tal ponto obscuro do texto (por mais conveniente que seja esclarecê-lo), mas a interpretação da mensagem principal.
Inutilmente o pregador tratará de fazer uma homilia correta, enquanto não souber o que o texto quer dizer ou (mesmo correndo o perigo de sermos pesados) o que nos quer dizer o Espírito Santo através do texto.  Desde que o pregador o conheça ou, ao menos, desde que a mensagem lhe seja mais clara, o pregador pode ver a maneira de aplicá-la à vida dos ouvintes (B) e à cele­bração (C).
b) ELEMENTO VITAL
É outro elemento que se deve considerar.  Outro, não o segundo necessariamente, pois a ordem dos ele­mentos (vida, liturgia) é secundária uma vez conhecido o elemento fundamental da exegese.
O Decreto sobre o ministério dos presbíteros do Concílio Vaticano II assim se exprime a propósito da pregação no n. 4:
«…A pregação sacerdotal – não raro dificílima, nas circunstâncias hodiernas do mundo, se se deseja mover eficazmente as mentes dos ouvintes – não deve expor apenas de modo geral e abstrato a palavra de Deus, mas sim aplicando às circunstâncias concretas da vida a verdade perene do Evangelho».
Nem mais nem menos.
A Bíblia é luz da vida, mas não na forma em que o entendem alguns pregadores: não é uma mensagem abstrata e nas nuvens para um público que, por obra de encantamento, é desligado por alguns minutos de sua vida ordinária para viver sua “vida espiritual”; a Sagrada Escritura também não é um manual de receitas morais nem políticas; mais do que normas concretas e originais, o que a Bíblia apresenta é uma atitude frente à vida.  A ética cristã se distingue não tanto por suas normas originais (são menos do que imaginamos, se nos aprofundarmos na história das religiões), quanto por sua motivação.  A ética cristã é uma ética de resposta, de agradecimento, de ação de graças e de liberdade; é a ética dos filhos de Deus, libertados do pecado e da lei e, por isso mes­mo, escravos do Espírito…
Tudo isso deve levar o pregador a pensar antes de fazer aplicações práticas.  Deve sobretudo levá-lo a refle­tir para ver que estilo emprega em suas aplicações mo­rais (estilo moralizante, estilo fundamentalista, estilo ca­suísta, estilo politizado ou antes estilo profético, estilo iluminador, estilo interrogante e de busca).
A Palavra, corno espada de dois gumes, continua hoje interpelando, iluminando, julgando, apresentando ati­tudes evangélicas profundas (como o Sermão da Mon­tanha), dizendo-nos o que é ser, hoje e aqui, cristão. Pouco avançamos apresentando soluções para tudo, recei­tas para tudo, visto que o quid da questão ou do proble­ma não é a solução ou a receita, mas a luz e a força necessárias para pôr hoje em prática o evangelho.  Pouco avançamos (e queira Deus que não retrocedamos), se não conseguimos apresentar o evangelho como moral de filhos e não como pura lei, se não conseguimos entu­siasmar o público com a figura do Pai manifestada em Cristo e por Cristo.
A Palavra deve ressoar nas palavras do homiliasta com gozo e como juízo.  Deve ser dirigida não somente à vida individual, mas também à vida social; não somen­te à vida social, mas também à pessoal.  Deve ser crítica não só frente aos males da sociedade, mas também frente aos males da Igreja, se não quiser pregar uma conversão farisaica.  Deve ter uma dimensão política como a própria liturgia, mas sem fazer política e evitando converter o púlpito numa palestra de demagogia.  Em última análise, deve relativizar todo fato humano, qualquer que ele seja, frente ao projeto de Deus que não é utopia ilusória, mas promessa e esperança que a liturgia já nos permite celebrar e festejar.
A amargura, o pessimismo, o grito histórico, o ataque desapiedado não só são frutos do desconhecimento da moral evangélica, mas chegam até a mergulhar a assem­bléia, que celebra a libertação definitiva em Cristo, num pessimismo alheio à liturgia que sempre (mesmo nas pio­res circunstâncias políticas e sociais) celebra a libertação que vem de Deus.
Mas, como se relaciona a exegese com a vida?  Aqui estão algumas indicações que podem ajudar:
1) Quem prega deve procurar conhecer da melhor maneira o auditório (assembléia, comunidade), seu estilo de vida, suas dificuldades na fé, sua vivência cristã, seu mundo político e social, suas esperanças ou ideais e seu nível cultural.  O pregador que sem dificuldade prega diante de qualquer público, por mais estranho e hetero­gêneo que seja, é um pregador que dificilmente chega ao coração da assembléia e ao fundo dos problemas.  Quando por necessidade alguém deve pregar a fiéis que não conhece, irremediavelmente deve fazê-lo no terreno do geral, e mesmo que possa causar impacto pela novidade, pela proximidade com que fala e pelo apreço com que se dirige à assembléia, deve ser também muito circuns­pecto naquilo que diz ou afirma.
2) O homiliasta deve ter como critério central, e poderíamos dizer único, a Palavra revelada, sem conver­tê-la numa teoria e sem levá-lo a exprimir as idéias do pregador nem os gostos do povo, ainda que isso possa provocar a popularidade do pregador.  Assim, uma situação ou solução política concreta nunca deve ser dedu­zida de uma passagem bíblica. É um abuso e um desprezo pelas legítimas divergências dentro da assembléia.  Por exemplo: por mais que o livro dos Atos apresente nos capítulos 2 e 4 uma estrutura eclesial fortemente comunitária e socializada, um pregador não pode aproveitar-se da passagem para inculcar o socialismo político, sobre­tudo em suas formas concretas que, evidentemente, dis­tam muito do modelo eclesial e quase estilizado que o autor dos Atos, Lucas, quer apresentar.  Pode-se, em vez disso, recomendar um espírito mais comunitário e socia­lizado e menos individualista nos ouvintes.  Mas se o pregador não pode deduzir do texto bíblico uma aplicação política muito concreta, pode sem dúvida deduzir do texto bíblico, em muitas ocasiões, uma crítica con­creta a um projeto ou situação política menos cristã ou antievangélica.  A Bíblia não oferece modelos políticos, mas critica todo modelo político.
3)  É preciso evitar o excessivo afã moralizante (ata­que aos costumes …) que nunca produziu grandes mu­danças, sobretudo se desce a detalhes. Às vezes convirá insistir mais nas conseqüências que derivam da Escritura para a fé do que nas conseqüências que derivam para a moral.  Assim, por exemplo, tomar o martírio de João Batista (Mc 6,17-29) para fazer uma crítica dos bailes de nossos dias, não pode produzir grandes efeitos (além do mais, o pregador é um mau experimentador e conhecedor dos bailes atuais e passados, de modo geral…). Faria melhor se apresentasse a figura profética de João frente à venalidade e espírito antievangélico dos mundanos.
4)  É preciso iluminar situações gerais, urgentes ou graves à luz do evangelho; também atitudes concretas, mas suficientemente gerais da assembléia; sem descer ao caso demasiadamente concreto, sem indicar com o dedo as pessoas, mas também sem diluir a pregação profética em generalidades, componendas e compromissos.  O pre­gador não pode, por exemplo, esquecer que está falando a um público com uma circunstância política concreta.
5)  Extrair deduções para a vida de detalhes insig­nificantes do texto escriturístico é um erro.  Não se devem confundir os detalhes de certas parábolas, o ambiente social de certos textos etc., com os aspectos fundamentais da passagem.  Os detalhes, embora estejam dentro do contexto inspirado, não têm por que ser parte da men­sagem.  Construir sobre minúcias é construir sobre areia. Um pregador tirava da parábola do filho pródigo o fato de que o filho pródigo não tinha mãe; se tivesse mãe… e daí passava à importância das mães e da Virgem Maria. É simplesmente abusar do texto e sair pura e simplesmente do comentário homilético e escriturístico.  Se um prega­dor quer falar das mães ou da Virgem Maria, que o faça no momento devido, mas que escolha os textos ade­quados para tais casos.  O que acontece é que quere­mos que o texto escriturístico que devemos comentar (poucas vezes se escolhe) diga o que nós queremos dizer ao povo e não o que Deus nos quer dizer.
6)  É completamente legítimo aproveitar o parale­lismo entre as situações vitais que encontramos na Bíblia e as que a sociedade moderna e a Igreja atual nos ofe­recem, por exemplo, farisaísmo, culto vazio, atitude diante da pobreza e riqueza, perigo do poder, descompasso entre culto e vida, legalismo etc.  A legitimidade vem do fato de que o homem é sempre o mesmo e porque o juízo de Deus é para todos os tempos e não somente para determinada época.  Um exemplo: é um erro de muitos pregadores falar do farisaísmo, detendo-se na atitude de alguns senhores de uns dois mil anos atrás.  Sim, aconteceu naquele tempo; mas continua acontecendo hoje (e de que maneira!) na sociedade e na Igreja.  Textos como a crítica de Jesus aos escribas e fariseus (as sete maldi­çoes de Mt 23,13-32) deveriam ser comentados com apli­cações próprias do dia de hoje e com uma autocrítica sincera, respeitosa e sadia.  Porque estes textos, se foram escritos, para nós o foram.
c) ELEMENTO LITÚRGICO
A este terceiro elemento (a ordem de apresentação é secundária) damos o nome de «litúrgico», mas podería­mos também chamá-lo «elemento celebrativo».  Com efeito, a homilia está num contexto de celebração ou, melhor, em função e dentro de uma celebração litúr­gica.  Não se faz uma homilia a propósito de uma cele­bração ou aproveitando o fato de termos os fiéis reunidos para a liturgia (embora seja a única oportunidade em que os temos!), mas com vistas à celebração e para dar maior sentido à celebração litúrgica.
Assim, pois, a homilia não está acima da liturgia, mas ao serviço da liturgia.  A homilia é uma“ancilla” da celebração.  Aqui poderíamos deter-nos a refletir sobre um ponto sintomático: o pregador (já que não o bom homiliasta) considera consciente ou subconscientemente que sua parte (a que lhe permite maior criatividade pes­soal na liturgia) é a mais importante dentro da liturgia, e assim não se importa nem se preocupa muito com prolongamentos excessivos, despachando o resto (espe­cialmente a liturgia eucarística) a toda velocidade e de forma mecânica ou mais ou menos prosaica.
Outro ponto: a única arte da liturgia que o sacer­dote costuma preparar (se é que prepara alguma coisa) é a homilia; e por isso mesmo ao resto da celebração não dá, conseqüentemente, nenhum realce, nenhuma varie­dade, criatividade nem beleza (como poderia ser a do santo apropriado, preparado, bem executado).  Ele sabe que os fiéis têm dificuldades em penetrar na liturgia da Palavra e em viver com intensidade a ação sacramental; e soluciona o problema esquivando-o: relegando o mais importante da liturgia para um segundo plano.  Com isso só consegue aumentar a dificuldade e fazer com que a mesma homilia seja cada vez mais inútil como homilia e que passe a ser um colóquio subjetivado, racionalizado ou, quando muito, um bom tipo de catequese alitúrgica.
Da mesma forma, os fiéis perdem a riqueza da cele­bração, afastam-se cada vez mais dos mistérios litúrgicos e freqüentemente também do sermão.  Assim, se a atual liturgia peca talvez por excesso de cerebralismo, de falta de sentimento, de simbolismo e de ação, o pregador acaba levando isso tudo às suas últimas conseqüências.
Não, a homilia tem uma função mistagógica, isto é, deve conduzir aos mistérios da fé (sacramentos, sacrifício eucarístico), a partir da Palavra dada e acolhida até a ação sacramental, sinal e cumprimento de tal Palavra hoje e aqui nesta assembléia concreta.
A esta função mistagógica se deu o nome de passagem ao rito, isto é, passagem da palavra ao rito, passagem do profetizado ao cumprido no sacramento ou, segundo os casos, passagem do acon­tecido ao celebrado sacramentalmente.  Palavra e rito não são duas coisas totalmente diferentes nem contrapostas, como alguns superficialmente quiseram ainda hoje fazer­-nos crer.  São os momentos de um mesmo acontecimento salvífico.  O que a Palavra anuncia, o rito o realiza (além disso, numa análise profunda chegaríamos à conclusão de que também o rito é palavra e anúncio, e a pala­vra é ação).
Mas, como fazer com que a homilia seja GONZO, DOBRADIÇA, ENTRONCAMENTO?  Como conseguir que realize dentro da estrutura litúrgica sua função CON­JUNTIVA?  Aqui estão algumas indicações:
1) Quem prepara ou pronuncia a homilia deve levar em consideração que sua homilia não pode limitar-se a explicar o texto ou os textos proclamados anteriormente nem sequer a fazer uma conjunção com a vida, e isso porque a palavra se aplica à celebração sacramental e isso comocumprimento. Mais ainda, deve ter presente que a própria liturgia da Palavra já é celebração da Aliança, mensagem atual e gozosa de Deus a seu povo e resposta deste povo a Deus pela fé, pela aclamação e pelo canto (cf.  Ne 8,1-12).  Demos um exemplo simples.  Estamos lendo no evangelho a parábola do banquete nup­cial e dos convidados ao banquete (Mt 22,1-14). É aber­rante comentar esta parábola esquecendo de relacioná-la com a celebração.  Se exegeticamente falando o banquete é figura da felicidade messiânica e os que são chamados dos caminhos são os pecadores e os pagãos (nós!), a reunião eucarística é, ao mesmo tempo, cumprimento e antecipação desta felicidade e deste chamado.  Como não vão soar com acento eucarístico frases como “vejam, meu banquete está preparado”, ou “amigo, como entras­te aqui sem traje nupcial?” Em outras palavras, Deus não só anuncia coisas, mas também as realiza e essa realização já é realidade e promessa ou penhor no sacramento.
2) Quem prepara a homilia deve ter presente que o texto é por si mesmo algumas vezes (mais do que à primeira vista parece) litúrgico-sacramental-alegorizante.  Por exemplo, muitos dos textos do evangelho de São João têm uma estrutura típica de profecia, acontecimento e sacramento.  Em outras palavras, alguns acontecimentos, discursos e milagres foram escritos a partir de uma refle­xão sacramental (sem por isso deixar de serem históricos).  Um exemplo: O relato do discurso dos pães (Jo 6,22-71) pode ser lido a partir de três perspectivas: como anúncio da eucaristia, como acontecimento histórico da presença de Jesus pão de vida (recorde-se o relato da multipli­cação dos pães) e como reflexão sacramental feita por João e a partir da Igreja (tomando as palavras de Jesus). O mesmo se diga da cura do cego de nascimento, onde se encontra uma reflexão eclesial sobre o batismo.
3) Os textos bíblicos podem ressoar de diferente maneira segundo a celebração litúrgica, festa ou tempo do ano litúrgico.  O texto contém em muitos casos dife­rentes virtualidades já que, além de sua riqueza, não é somente texto escrito, mas também Palavra viva, acon­tecimento sempre novo.  Assim, o texto como o das Bodas de Caná permite diferentes aplicações litúrgicas, segundo seja lido num domingo ordinário, na Páscoa, num casa­mento ou numa festividade da Virgem Maria.  O mesmo se diga da parábola do filho pródigo, dependendo de ser lida e comentada numa celebração eucarística ou numa celebração da penitência.  Em cada caso o acento variará e as aplicações litúrgicas (e vitais) terão um colorido e matiz diferentes.
4) Convém estarmos atentos para a possível rela­ção entre o texto lido e as atitudes, os gestos e as pala­vras da mesma celebração litúrgica (p. ex. esperança e aclamação “Vem, Senhor Jesus”; atitude de louvor e prefácio eucarístico; reconciliação e abraço de paz; gene­rosidade e oferenda eucarística etc.). Esta conexão pode ser aplicada especialmente quando há dificuldade de encon­trar uma relação mais apropriada; tem a qualidade de dar novidade e sentido a elementos litúrgicos pouco explicados, assim como de libertar a assembléia litúrgica de um certo automatismo ou rotina impossíveis de eli­minar completamente.  Quando a homilia emprega este recurso, uma admoestação em seu lugar adequado poderá recordar que tal gesto ou oração litúrgica estão relacio­nados com a Palavra de Deus.
Tomemos o caso em que no Advento se leia um texto referente à escatologia e, por qualquer motivo, aquele que prepara a homilia sinta dificuldade em encon­trar a aplicação à liturgia.  Ainda é possível que na lei­tura descubra uma palavra ou frase de esperança (p. ex., “vigiai, pois o Senhor vem”).  Um olhar atento para o ordinário da missa lhe recordará que cada dia dizemos na aclamação eucarística: “Vem, Senhor Jesus”; que na comunhão Jesus vem; um olhar atento lhe recordará que o presidente sempre saúda com um desejo: “O Senhor esteja convosco”.  Nesta homilia pode-se sublinhar se espe­ramos o Senhor; se ao recebê-lo suspiramos com o desejo de contemplá-lo na glória; se nos preocupamos em estar com o Senhor ou se cremos que o possuímos, que o controlamos, que o podemos dominar… Em tal missa será necessário sublinhar o texto ou ação que tivermos esco­lhido e comentado na homilia.
5) É relativamente fácil ou ao menos não tão difícil encontrar conexões entre a Escritura proclamada e a celebração litúrgica nas homilias de sacramentos: os tex­tos escolhidos em tais casos costumam ter uma relação mais ou menos explícita e direta com o sacramento.  Mais difícil é, de modo geral, encontrar estas conexões no caso da eucaristia: os textos bíblicos do lecionário da mesma não podem, cada vez, estar relacionados explícita e dire­tamente com a eucaristia em seu sentido restrito (nem têm por que estar).  Mas estão relacionados com a his­tória da salvação da qual a eucaristia é o núcleo central e o centro sacramental.
Para isso (para encontrar essa relação), é necessário ampliar e refrescar nossa compreensão bíblico-dogmática da eucaristia, a fim de encontrar a conexão.  A eucaristia não tem uma só dimensão. Refere-se, por exemplo, ao êxodo pascal, à terra prometida, à libertação, à aliança, à pátria, à autodoação de Cristo, ao sacrifício pelo pecado, ao perdão dos pecados, à transformação do cosmos, à ação do Espírito Santo que une, transforma e santifica. Eucaristia é louvor perfeito, ação de graças pelas “mirabilia Dei”, memorial de Cristo e de sua páscoa, alimento sacramental, banquete dos pecadores remidos, presença do Ressuscitado na comunidade eclesial, unidade do Corpo de Cristo, viático, penhor e antecipação do Banquete do Reino, confissão de fé no Senhor, anúncio e denúncia diante do mundo etc.
São os textos que não têm relação com a eucaristiaou somos nós que não descobrimos a relação?
6) Quando, apesar de tudo o que ficou dito, nos parecer desnecessária esta relação dos textos escriturís­ticos com a celebração eucarística, façamos a seguinte reflexão: Que diríamos de um pregador que, depois das leituras próprias de uma celebração sacramental (p. ex., batismo, confirmação, matrimônio) omitisse na homilia toda referência ao sacramento que vai ser celebrado?  Sem dúvida não veríamos isso com bons olhos e considera­ríamos que há um menosprezo pela ação sacramental.  O mesmo acontece na eucaristia, embora sejamos incapazes de perceber a omissão pela rotina.
4. Como se prepara a homilia
Uma boa homilia e, a fortiori, a pregação homilética de cada domingo não se improvisa.  Poder-se-ia logica­mente falar de uma preparação gradual: geral, remota e próxima.
A preparação geral não pode ser outra senão o estudo e o aprofundamento da Sagrada Escritura, da Sagrada Liturgia, dos Santos Padres, da teologia, dos documentos da Igreja, dos problemas sociais etc.  O fato de não estar em dia é um obstáculo sério na hora de pregar.  Há quem pregue com uma bagagem cultural e teológica que cheira a ranço e os fiéis, mesmo os de cultura simples, são os primeiros a se darem conta.
A preparação remota deveria ser feita alguns dias antes.  O bom homiliasta não espera a última hora para preparar sua homilia.  Ele a vai ruminando.  Fá-la ger­minar ao contato com o travesseiro.  Esta preparação di­fusa, ao longo da semana, engloba vários pontos: a lei­tura do texto ou dos textos escriturísticos, a meditação dos mesmos durante a oração, o esboço geral dos ele­mentos exegéticos, litúrgicos e vitais, a consulta tendente a eliminar certas dúvidas e dificuldades em dicionários bíblicos, como de passagem e entre uma ocupação e outra.  Esta preparação é mais importante do que parece e tem a vantagem de quase não tomar tempo.  Pode-se fazer isso nos momentos livres.
A preparação próxima (tempo dedicado a preparar a homilia) inclui vários pontos que, embora variem de pessoa para pessoa, poderiam resumir-se assim:
1) Concretizar bem os pontos ou idéias mais importantes que foram surgindo na exegese, liturgia e vida, independentemente do que se aproveitará de tudo isso no final e independentemente da maneira como se expo­rá. Preocupar-se primordialmente com a maneira como se proporá uma homilia, da forma, etc.; sem ter idéias claras é um grave erro, muito típico de principiantes.  Aquele que tem algo a dizer, o diz.  Quem nada tem a comunicar, aborrece por mais que use belas palavras. Isso não quer dizer que não se deva preparar a forma, como logo veremos.
2) Escolher uma das três leituras como núcleo refe­rencial da pregação.  Não querer comentar as três (em­bora se possa e convenha fazer alusão às três).  Geral­mente se deverá comentar o Evangelho ou – por que não? – a leitura do Apóstolo.  Conviria ter um plano para vários domingos, sobretudo se se comenta a segunda leitura, a do Apóstolo.  Isso é muito frutuoso, mas supõe uma assembléia relativamente estável e, é claro, um mes­mo pregador.  Quem escolhe sempre o mais fácil (com a desculpa da falta de tempo ou da simplicidade de seus ouvintes) é aquele que nunca diz nada de novo e abor­rece seus ouvintes.  O povo é mais capaz do que pensa­mos, desde que lhe preparemos bem o manjar, sem pro­vocar indigestões.
3) Das várias mensagens, idéias ou temas encontrados na exegese convém escolher UMA E SOMENTE UMA. Não se deve sair deste ponto escolhido, mas sim desenvolvê-lo.  O público não suporta mais do que um ponto e, além disso, querer dar vários pontos complica a homilia e prolonga-se indevidamente.
4) Uma vez escolhido e desenvolvido um ponto exegético, busca-se uma aplicação à vida e umaapli­cação à liturgia.  O pregador deve poder sintetizar isso em três frases. (Por exemplo, nas bodas de Caná comen­tadas para o sacramento do matrimônio, os três pontos poderiam ser os seguintes: Cristo esteve presente numa festa; agora está presente também aqui; e estará pre­sente ao longo de nossa vida.  Com isso temos o esque­leto da homilia; será necessário revesti-lo de carne; mas o esqueleto é o que dá consistência.
Conheço pregadores que em lugar de ter um esque­ma claro daquilo que vão dizer, começam a divagar de tal modo que, mais do que uma exposição, sua homilia se assemelha a um exercício de associação de idéias (de  Jesus se passa a Maria, de Maria ao mês do rosário, mês de outubro ao mês de novembro em que se inicia um plano de pastoral, do plano de pastoral se passa a uma crítica dos sacerdotes que não o porão em prática; continua-se falando da obediência e da obediência passa­-se aos teólogos desobedientes; este último ponto dá pé a que se fale da limitação da inteligência humana frente à imensidade do universo e grandeza das estrelas…). É algo deplorável que condena uma homilia e uma cele­bração ao tédio e à rejeição dos ouvintes.
5) Em princípio é melhor que não apareça o esque­ma tripartido da exegese, liturgia e vida; em todo caso, o público não deve notá-lo. Já vimos que se trata de elementos e não de partes da homilia.  Seguir sempre este esquema eliminaria a originalidade e converteria a homilia numa peça oratória excessivamente racional e fria.  A homilia, não o esqueçamos, é mistagógica e é simples quanto à sua construção e exposição.
6) Quanto à forma de apresentação, o mais impor­tante é encontrar um ponto sugestivo, estruturante e aglutinador que centralize a exposição. É possível encontrá-lo em:
- uma palavra chave (a “totalidade” na oferenda a Deus, no evangelho da esmola da viúva: não o muito nem o pouco, mas o todo, frente à parte, frente ao que sobra etc.);
- uma frase (“não têm vinho”; “somente entre os seus é desprezado um profeta”; “queremos ver Jesus” etc.);
- um exemplo atual (insensibilidade de muitos motoristas e transeuntes diante de uma pessoa atropelada, no caso do Bom Samaritano);
- uma pergunta feita aos ouvintes (“que pretendia Za­queu ao subir na árvore?”, especialmente no caso de um grupo infantil);
- uma atitude de vida (fé, desconfiança, agradecimento, conversão);
- uma interrogação (somos cristãos de nome? que é ser cristão hoje? será que somos inimigos da cruz de Cristo?  Note-se que esta interrogação não tem por que ser respondida e que pode ser repetida em forma de leitmotiv ao longo da homilia);
- uma preocupação do pastor (real, mas sem cair em subjetivismo: “Muitas vezes me perguntei e poderíamos perguntar-nos…”)
Estes são alguns exemplos.  Ao longo da homilia é preciso      ser coerente com este ponto central, sem sair dele.
7) Alguns gostam de ter um resumo escrito com esquema geral daquilo que vão dizer. É uma ajuda para a memória.  Deve ser simples e legível à primeira vista.  Levar um sermão escrito em longos parágrafos se não se vai ler a homilia-coisa desaconselhável na maioria dos ambientes-não costuma ser prático nem eficaz no terreno real.  A experiência indica que somente o escrito em forma esquemática e pela própria pessoa tem real utilidade no momento da pregação.
5. Como se expõe uma homilia
Ainda que a maneira de pregar uma homilia só se aprenda na prática oratória, algumas indicações podem ajudar:
1) Por tratar-se de uma conversa familiar, espiri­tual, comentadora e exortativa, deve primar pela simpli­cidade, sinceridade, clareza, comunicação e certa unção.  Em nossos dias, dificilmente se aceita o pregador que diz coisas esotéricas à massa ou numa linguagem rebus­cada ou num tom grandiloqüente.  O pregador deve buscar e encontrar um estilo mais pastoral e funcionaldentro de um modo de ser e de expressar-se.  Por isso mesmo também deve colocar-se perto das pessoas e procurar que o emprego do microfone (ou, em sua ausência, a eleva­ção da voz) não rompa o estilo simples e coloquial.
2) É preciso tratar de pregar não a um público, mas a si mesmo dentro de um público, ou melhor, den­tro de uma assembléia da qual alguém faz parte. É mis­ter falar com as pessoas e não diantedas pessoas.  Não basta a “simpatia”, mas é necessária também a “empatia”.  O tom que se adota é de grande importância; deve ser moderado, íntimo.  Ninguém diz a si mesmo coisas aos gritos ou autoritariamente.  Quando, por um motivo ou por outro, é preciso gritar, é difícil dar a impressão de empatia.  O microfone bem usado é de grande impor­tância.  Deve-se evitar o tom clerical, doutoral e conseguir um tom de discípulo (discípulo da Palavra), de ami­go, de irmão(ainda que alguém ocupe uma posição ecle­siástica importante ou talvez por isso mesmo).
3) Falar com o público não significa necessaria­mente introduzir um diálogo ou intervenções que em certos ambientes, especialmente grandes ou de gente não acostumada a isso, podem até parecer forçados.  Certa­mente, deve haver comunicação, mas não necessariamente por palavras de ambos os lados (embora não se exclua de todo esta reciprocidade, como logo diremos).  Conse­gue-se a comunicação quando não se dá a impressão de falar “ex cathedra”, mas coloquialmente com irmãos e amigos.  Em termos de comunicação poder-se-ia exprimir assim: “É preciso falar em público, a partir do público e fazendo parte do público e de seu mundo”.
4) Não se deve renunciar, apesar do que foi dito anteriormente, a ser original, novo, atraente, impactante, questionador e interrogador.  Estas qualidades oratórias podem fazer com que nossas maçantes homilias desper­tem mais interesse para o povo.  E por isso mesmo o pre­gador deve cultivá-las, sem fazer delas o centro, pois o central é o que se comunica.  Não é fácil a originalidade e a novidade.  Parecemos cansados ao pregar e pregamos uma mensagem velha, por mais que preguemos a Boa ­Notícia e a Novidade radical que é Cristo.  Saber encontrar a novidade do fundo nos ajudará a encontrar a originalidade na forma.
5) É preciso fazer-se ouvir e entender (é necessário dizê-lo? Parece que sim). Uma elevada porcentagem de pregadores não se deixam entender.  Suas palavras se per­dem no ruído de uma sonorização deficiente, pelo mau uso do microfone, pela má vocalização, pela afluência de crianças em tenra idade ou pelo ruído da rua (não há motivo para que as portas fiquem abertas a não ser antes e depois da celebração litúrgica). É preciso ter presente tudo isso na hora de pregar, do contrário podemos estar pregando em vão.  Por outro lado, o lugar da pregação sera aquele onde o pregador for visto melhor. Mas é preciso procurar que a sede da palavra, o púlpito, tenha estas características.
6) A homilia não deve ser longa.  Não deve cansar o auditório e, por isso mesmo, nunca deveria passar de dez minutos aproximadamente, embora sendo mais curta, desde que substanciosa, os fiéis até agradecerão. É claro que nisto a norma não pode ser taxativa: há pregadores que cansam o auditório já no primeiro minuto, ao passo que outros conseguem manter a assem­bléia atenta por uns bons 15 minutos.  Mas mesmo assim é preciso lembrar que a homilia é parte de um todo e que é melhor deixar tempo abundante para a liturgia da pala­vra e a liturgia eucarística (ambas exigem tempo para os cânticos, as monições, a oração e os silêncios).  Na prática vemos que a introdução do princípio da missa (onde se acumulam muitos cânticos) e a homilia ocupam uma parte excessiva do tempo com prejuízo das partes principais da celebração.
7) Uma forma de comprovar a atenção dos fiéis é dar-se conta se durante as pausas da pregação há silêncio na Igreja.  Para isso é preciso olhar para todo o audi­tório e não pregar somente para os que estão na primeira fila, aos que estão de um lado ou simplesmente sem olhar.  Se não há silêncio provavelmente é porque o sermão não interessa… é preciso corrigir rapidamente o rumo e , não persistir na forma começada.  Se o sermão tiver sido inte­ressante para a assembléia, esta será capaz de guardar alguns minutos de silêncio reflexivo depois da homilia.  Em nossa liturgia da palavra e em nossa liturgia euca­rística faltam momentos de silêncio, não porque não estejam indicados nas rubricas, mas porque na prática não são observados.
8) O pregador deve produzir o sermão à medida que vai falando: modifica-o, constrói-o, reflete com o auditório, comporta-se como se fosse um deles, pergunta como pastor, compreende, admoesta, coloca-se na posição do estranho (o homem da rua, o não-crente), ques­tiona-se como um simples cristão.  Evita falar “tamquam auctoritatem habens” por mais que a tenha… Tudo isso exige uma atitude especial, indizível, que só a presença do auditório e a compenetração com ele pode criar.
9) O princípio e sobretudo o fim da homilia devem ser bem preparados. É preciso evitar os inícios demasia­damente batidos (frases estereotipadas, benzer-se cada vez: por que fazer o sinal da cruz se já foi feito no início da missa?  Não dá a impressão de que se vai começar um sermão clássico de missões, destes que não tinham outro jeito de deslanchar por ser o princípio da reunião?) Quanto ao final, uma aterrissagem segura, sem ir divagando ou, para continuar a metáfora, sem andar planando durante vários minutos em busca da pista (coisa bastante desagradável para todos), é de grande impacto. Às vezes uma interrogação sem resposta, urna pergunta que convide à reflexão é melhor do que algu­mas frases demasiadamente arredondadas.
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DV 2.
DV 5.
Para toda essa parte cf. Ramos, J. A., Teología pastoral, BAC, Madrid  1995.
Jo 1,12.
Hb 1,1
Cf. Durrwell, F.X., La presencia de Jesucristo en la predicación, em Rahner, K – Häring, B., Palabra en el mundo (Salamanca  1972), 31-46.
Z. Alszeghy-M.Flick, Il problema teologico della predicazione, «Gregorianum», 1959, p. 742.
K. Rahner, La salvezza nella Chiesa, Roma-Brescia  1986, p.116.
D. Ruiz Bueno, Padres apologistas griegos, BAC, Madrid  1954
SC 2, 6 e 7.
Cf. R. Bohren, Predigtlehre, Munique, 1980,p. 82; A. Schwarz, Praxis und Predigtlehre, Viena, 1986, p. 50.
Cf. J. Rothermundt, Der Heiliege Geist  und die Rhetorik, Güterslh, 1985, p. 45. L. Maldonado, La comunidad cristiana, p.15-40.
Cf. CIC, cânon. 767.
K. H. Biertiz-Ch.  Bunners, Handbuch der Predigt, Berlim  1990, p. 100-135.
Para esta parte: MOESCH,O., O anúncio da Palavra de Deus. Reflexões sobre a teologia pastoral da pregação. Petrópolis: Vozes, 1980.
Cf. Evangelium nuntiandi, n. 41.
Idem, n. 79.
Cf. EN, 43.
Para toda esta parte estaremos utilizando as reflexões do Departamento de Liturgia do CELAM,Homilia, São Paulo: Paulinas, 1983, p. 13-55.
Sobre o lugar onde se deve proferir a homilia assim diz a Instr. Geral do Missal Romano no n.136: «O sacerdote, de pé junto à cadeira ou no próprio ambão, ou ainda, se for oportuno, em outro lugar adequado, profere a homilia; ao terminar, pode-se observar um tempo de silêncio».

11. Conclusão
                Por tratar-se de uma conversa familiar, espiri­tual, comentadora e exortativa, deve primar pela simpli­cidade, sinceridade, clareza, comunicação e certa unção.  Em nossos dias, dificilmente se aceita o pregador que diz coisas esotéricas à massa ou numa linguagem rebus­cada ou num tom grandiloqüente.                               O pregador deve buscar e encontrar um estilo mais pastoral e funcionaldentro de um modo de ser e de expressar-se.  Por isso mesmo também deve colocar-se perto das pessoas e procurar que o emprego do microfone (ou, em sua ausência, a eleva­ção da voz) não rompa o estilo simples e coloquial.
                É preciso tratar de pregar não a um público, mas a si mesmo dentro de um público, ou melhor, den­tro de uma assembléia da qual alguém faz parte. É mis­ter falar com as pessoas e não diantedas pessoas.  Não basta a “simpatia”, mas é necessária também a “empatia”.  O tom que se adota é de grande importância; deve ser moderado, íntimo.  Ninguém diz a si mesmo coisas aos gritos ou autoritariamente.  Quando, por um motivo ou por outro, é preciso gritar, é difícil dar a impressão de empatia.  O microfone bem usado é de grande impor­tância.  Deve-se evitar o tom clerical, doutoral e conseguir um tom de discípulo (discípulo da Palavra), de ami­go, de irmão(ainda que alguém ocupe uma posição ecle­siástica importante ou talvez por isso mesmo).
                Falar com o público não significa necessaria­mente introduzir um diálogo ou intervenções que em certos ambientes, especialmente grandes ou de gente não acostumada a isso, podem até parecer forçados.  Certa­mente, deve haver comunicação, mas não necessariamente por palavras de ambos os lados (embora não se exclua de todo esta reciprocidade, como logo diremos).  Conse­gue-se a comunicação quando não se dá a impressão de falar “ex cathedra”, mas coloquialmente com irmãos e amigos.  Em termos de comunicação poder-se-ia exprimir assim: “É preciso falar em público, a partir do público e fazendo parte do público e de seu mundo”.
                Não se deve renunciar, apesar do que foi dito anteriormente, a ser original, novo, atraente, impactante, questionador e interrogador.  Estas qualidades oratórias podem fazer com que nossas maçantes homilias desper­tem mais interesse para o povo.  E por isso mesmo o pre­gador deve cultivá-las, sem fazer delas o centro, pois o central é o que se comunica.  Não é fácil a originalidade e a novidade.  Parecemos cansados ao pregar e pregamos uma mensagem velha, por mais que preguemos a Boa ­Notícia e a Novidade radical que é Cristo.  Saber encontrar a novidade do fundo nos ajudará a encontrar a originalidade na forma.
                É preciso fazer-se ouvir e entender (é necessário dizê-lo? Parece que sim). Uma elevada porcentagem de pregadores não se deixam entender.  Suas palavras se per­dem no ruído de uma sonorização deficiente, pelo mau uso do microfone, pela má vocalização, pela afluência de crianças em tenra idade ou pelo ruído da rua (não há motivo para que as portas fiquem abertas a não ser antes e depois da celebração litúrgica). É preciso ter presente tudo isso na hora de pregar, do contrário podemos estar pregando em vão.  Por outro lado, o lugar da pregação sera aquele onde o pregador for visto melhor. Mas é preciso procurar que a sede da palavra, o púlpito, tenha estas características.
                A homilia não deve ser longa.  Não deve cansar o auditório e, por isso mesmo, nunca deveria passar de dez minutos aproximadamente, embora sendo mais curta, desde que substanciosa, os fiéis até agradecerão. É claro que nisto a norma não pode ser taxativa: há pregadores que cansam o auditório já no primeiro minuto, ao passo que outros conseguem manter a assem­bléia atenta por uns bons 15 minutos.  Mas mesmo assim é preciso lembrar que a homilia é parte de um todo e que é melhor deixar tempo abundante para a liturgia da pala­vra e a liturgia eucarística (ambas exigem tempo para os cânticos, as monições, a oração e os silêncios).  Na prática vemos que a introdução do princípio da missa (onde se acumulam muitos cânticos) e a homilia ocupam uma parte excessiva do tempo com prejuízo das partes principais da celebração.
               Uma forma de comprovar a atenção dos fiéis é dar-se conta se durante as pausas da pregação há silêncio na Igreja.  Para isso é preciso olhar para todo o audi­tório e não pregar somente para os que estão na primeira fila, aos que estão de um lado ou simplesmente sem olhar.  Se não há silêncio provavelmente é porque o sermão não interessa… é preciso corrigir rapidamente o rumo e , não persistir na forma começada.  Se o sermão tiver sido inte­ressante para a assembléia, esta será capaz de guardar alguns minutos de silêncio reflexivo depois da homilia.  Em nossa liturgia da palavra e em nossa liturgia euca­rística faltam momentos de silêncio, não porque não estejam indicados nas rubricas, mas porque na prática não são observados.
                O pregador deve produzir o sermão à medida que vai falando: modifica-o, constrói-o, reflete com o auditório, comporta-se como se fosse um deles, pergunta como pastor, compreende, admoesta, coloca-se na posição do estranho (o homem da rua, o não-crente), ques­tiona-se como um simples cristão.  Evita falar “tamquam auctoritatem habens” por mais que a tenha… Tudo isso exige uma atitude especial, indizível, que só a presença do auditório e a compenetração com ele pode criar.
               O princípio e sobretudo o fim da homilia devem ser bem preparados. É preciso evitar os inícios demasia­damente batidos (frases estereotipadas, benzer-se cada vez: por que fazer o sinal da cruz se já foi feito no início da missa?  Não dá a impressão de que se vai começar um sermão clássico de missões, destes que não tinham outro jeito de deslanchar por ser o princípio da reunião?) Quanto ao final, uma aterrissagem segura, sem ir divagando ou, para continuar a metáfora, sem andar planando durante vários minutos em busca da pista (coisa bastante desagradável para todos), é de grande impacto. Às vezes uma interrogação sem resposta, urna pergunta que convide à reflexão é melhor do que algu­mas frases demasiadamente arredondadas.
               Para con­cluir, pode-se dizer, então, que a homi­lé­tica é o exer­cí­cio que cada homi­leta faz na ten­ta­tiva de comu­ni­car e atu­a­li­zar a Pala­vra de Deus para o seu tempo e a sua gente, convertendo-se à Pala­vra, ao seu tempo e à sua gente, per­ma­nen­te­mente.


12. - biografia
1      Jerry Stanley Key
2      FATA
3     Vd. KIRST, Nel­son. Rudi­men­tos de homi­lé­tica. 3 ed. São Leo­poldo: Iepg; Sino­dal, 1996.  p. 1718.
    BURT, G. Manual de homi­lé­tica. Trad. De Luiz de Lacerda. 3 ed. São Paulo: Imprensa Meto­dista, 1954. p. 7.
5     Cf. des­cri­ção da cele­bra­ção euca­rís­tica feita por Jus­tino Már­tir, na pri­meira metade do séc. II, in GOMES, C. Folch. Anto­lo­gia dos San­tos Padres: pági­nas sele­tas dos anti­gos escri­to­res ecle­siás­ti­cos.São Paulo: Edi­ções Pau­li­nas, 1979, p. 6567.
6     Id., ibid, p. 1718.
7     A expres­são “Pri­meiro Tes­ta­mento” ou “Bíblia Hebraica” subs­ti­tuirá, sem­pre que pos­sí­vel, a expres­são “Antigo Tes­ta­mento”, bem como a expres­são “vete­ro­tes­ta­men­tá­rio”, por se enten­der que estas últi­mas car­re­gam uma cono­ta­ção pejo­ra­tiva em rela­ção aos escri­tos do cânon judaico. O autor encon­trou a mesma pos­tura em HOLBERT, John C. Pre­a­ching Old Tes­ta­ment: pro­cla­ma­tion & nar­ra­tive in the Hebrew Bible. Nash­ville: Abing­don Press, 1991. 128 p. Cf. nota 1 da intro­du­ção. Esta nomen­cla­tura vem sendo obser­vada amiúde pelos mais des­ta­ca­dos biblis­tas contemporâneos.
8     MONLUBOU, Louis. Os pro­fe­tas do Antigo Tes­ta­mento. São Paulo: Edi­ções Pau­li­nas, 1986. p. 36. (Cader­nos bíbli­cos 39). Ver tam­bém AMSLER, S. et.al. Os pro­fe­tas e os livros pro­fé­ti­cos. Trad. Benôni Lemos. São Paulo: Pau­li­nas, 1992, 463 p. Bibli­o­teca de ciên­cias bíblicas.
9     Cf. KERR, John. His­tory of pre­a­ching. 2 ed. Lon­don: Hod­der And Stough­ton. 1938. p. 3438 (407 p).
10     Sobre o tema dos “logia” de Jesus, há um texto que pode aju­dar ofe­re­cendo outras lei­tu­ras, a saber, CERFAUX, Lucien. Jesus nas ori­gens da tra­di­ção. São Paulo: Ed. Pau­li­nas, 1972. p. 55 ss.
11     Cf. PATTISON, T. Harwood. The his­tory of cris­tian pre­a­ching. Phi­la­delphia: Ame­ri­can Bap­tist Publi­ca­tion Soci­ety, 1903. p. 3537 (411 p.).
12    Cf. Id. Ibid., p. 48.
13    Cf. JUNGMANN, J. A. Heren­cia litúr­gica y actu­a­li­dade pas­to­ral apud BOROBIO, 1990, p. 8485.
14    BOROBIO, Dio­ni­sio (org.). A cele­bra­ção na Igreja. São Paulo: Edi­ções Loyola, 1990. p. 101. (474 p.) (V. 1, Litur­gia e sacra­men­to­lo­gia fundamental).
15    Cf. GARVIE, Alfred Ernest. The chris­tian pre­a­cher. New York: Char­les Scribner’s Sons, 1921. Inter­na­ti­o­nal The­o­lo­gi­cal Library. p. 107 (490 p.).
16    Cf. Id., ibid.,  p. 107108.
17    KERR, 1938, p. 126 (tra­du­ção nossa).
18    Vd. In NIEBHUR, Richard; WILLIAMS, Daniel D. (eds.) The minis­try in his­to­ri­cal pers­pec­ti­ves. New York: Har­per & Brothers Publishers, 1956. p. 110. [trad. nossa].
19    Cf. id., ibid., 1956, p. 110.
20    Cf. id., ibid., p. 110116.
21    Cf. id., ibid., 1956, p. 133.
22    Para uma dis­cus­são mais apro­fun­dada dos usos e desu­sos das ves­tes litúr­gi­cas, ver TESCHE, Sil­vio. Ves­tes litúr­gi­cas: ele­men­tos de pro­di­ga­li­dade ou domi­na­ção? São Leo­poldo: Sino­dal, Iepg, 1995. p. 63 e 110. 
23    Vd. tb. TILLICH, Paul apud TESCHE, Sil­vio. Ves­tes litúr­gi­cas: ele­men­tos de pro­di­ga­li­dade ou domi­na­ção? São Leo­poldo: Sino­dal, Iepg, 1995. p. 112.
24    Cf. ROSE, Michael in SCHNEIDER-HARPPRECHT, Cris­toph. Teo­lo­gia prá­tica no con­texto da Amé­rica Latina. São Leo­poldo: Sino­dal, ASTE, 1998. p. 149150 (p. 146157).
25    Ver JOÃO DA CRUZ, São. Poe­sias com­ple­tas. Tra­du­ção de Maria Salete Bento Cica­roni; pre­fá­cio de Felipe B. Pedraza Jime­nez. São Paulo: Ner­man : Emba­jada de Espana / Con­se­je­ria de Edu­ca­ción, 1991. 123 p., il. Cole­cao orel­lana, 3. Ver tam­bém AVILA, Teresa. Inte­rior cas­tle. New York: Image Books, 1944.
26    Cf. ROSE, 1998, p. 151.
27    HEITZENRATER, Richard P. Wes­ley e o povo cha­mado meto­dista. São Ber­nardo do Campo: Edi­teo; Rio de Janeiro: Pas­tral Ben­nett, 1996. p. 214. Ver tam­bém RAMOS, Luiz Car­los. A prá­tica homi­lé­tica de John Wes­ley. Cami­nhando. Ano IX, n. 13, 1 semes­tre 2004. São Ber­nardo do Campo: Edi­teo. p. 133152.
28    Sobre Isso, ver RAMOS, Luiz Car­los. A prá­tica homi­lé­tica de John Wes­ley. Cami­nhando, v. 9, n. 13, pri­meiro semes­tre 2004. São Ber­nardo do Campo: Edi­teo, 2004. p. 133152.
29    Cf. Id., ibid., p. 240.
30    Tornou-se muito popu­lar entre os esta­du­ni­den­ses a dou­trina pela qual o povo dos Esta­dos Uni­dos foi eleito por Deus para coman­dar o mundo. Tal dou­trina jus­ti­fi­ca­ria o pro­jeto expan­si­o­nista norte-americano. A dou­trina ficou conhe­cida pela expres­são Des­tino Mani­festo, cunhada pelo jor­na­lista novai­or­quino John O’Sullivan, na publi­ca­ção inti­tu­lada Demo­cra­tic Review, por volta de 1840.
31    A expres­são “era das revo­lu­ções” foi cunhada por HOBSBAWN, Eric J. A era das revo­lu­ções:Europa 17891848 (The Age of Revo­lu­tion: Europe 17891848). 16 e. Trad. Maria Tereza Lopes Tei­xeira e Mar­cos Pen­chel. São Paulo: Paz e Terra, 2002. 528 p.
32    CASTELLS, Manuel. A soci­e­dade em rede. Trad. Roneide Venân­cio Majer. São Paulo: Paz e Terra, 1999. p. 21.
33    Cf. BARTH, Karl. A pro­cla­ma­ção do Evan­ge­lho: homi­lé­tica. Trad. Daniel Sotelo e Daniel Costa. 2 ed. São Paulo: Novo Século, 2003. p. 1516.      
34    Cf. RITSCHL, Die­trich. A the­o­logy of pro­cla­ma­tion. Rch­mond: John Knox Press, 1960. p. 29.
35    Id., ibid., p. 1323.
36    Id., ibid., p. 1323.
37    GRASSO, Dome­nico. Teo­lo­gia de la pre­di­ca­ción. Sala­manca: Edi­ci­o­nes Sígueme, 1968. p. 9798.
39    Plenitude;  Almeida;  Apologética; Pentecostal
40    Apostilas Estudo da Homilética: ITQ e Faculdade teológica FACETHEOS   
41     Livro: O pregador eficaz - Elineai Cabral |
42    Concordância Bíblica - Editora Vida |
43    Dicionário Bíblico -Nova didática |
44    Aulas práticas ministradas pelo Prof. e Dr. Reginaldo Faria (ITQ -
ano 2000).
45   Ev. José Ferraz







        

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