Trindade



SANTÍSSIMA TRINDADE

DEUS UNO E TRINO

CONHECER A DEUS

O nosso estudo sobre Deus começa com uma questão preliminar: podemos conhecer a Deus, o Inefável?

            A Sagrada Escritura não se detém em provar a existência de Deus, pois esta existência é óbvia aos autores sagrados, já que Deus se torna evidente pelo testemunho da natureza que Ele criou.

O Antigo Testamento

            O livro da Sabedoria, escrito no século I a.C. no Egito, apresenta bela passagem sobre o reconhecer a Deus por meio de suas obras: Sb 13,1-9 “São insensatos por natureza todos os que desconheceram a Deus, e, através dos bens visíveis, não souberam conhecer Aquele que é, nem reconhecer o Artista, considerando suas obras. Tomaram o fogo, ou o vento, ou o ar agitável, ou a esfera estrelada, ou a água impetuosa, ou os astros dos céus, por deuses, regentes do mundo. Se tomaram essas coisas por deuses, encantados pela sua beleza, saibam, então, quanto seu Senhor prevalece sobre elas, porque é o criador da beleza que fez estas coisas. Se o que os impressionou é a sua força e o seu poder, que eles compreendam, por meio delas, que seu criador é mais forte; pois é a partir da grandeza e da beleza das criaturas que, por analogia, se conhece o seu autor. Contudo, estes só incorrem numa ligeira censura, porque, talvez, eles caíram no erro procurando Deus e querendo encontrá-lo: vivendo entre suas obras, eles as observam com cuidado, e porque eles as consideram belas, deixam-se seduzir pelo seu aspecto. Ainda uma vez, entretanto, eles não são desculpáveis, porque, se eles possuíram luz suficiente para poder perscrutar a ordem do mundo, como não encontraram eles mais facilmente aquele que é seu Senhor?”
            Como se vê, o autor sagrado afirma a capacidade, da razão humana, de apreender a Deus mediante a consideração da beleza do universo; a razão, por analogia, pode chegar à contemplação do Criador. Ou seja, de baixo para cima podemos chegar dos efeitos para a Causa Suprema ou do visível para o invisível.
        
O Novo Testamento

            Em Rm 1,18-23 há nítida ressonância do livro da Sabedoria: “A ira de Deus se manifesta do alto do céu contra toda a impiedade e perversidade dos homens, que pela injustiça aprisionam a verdade. Porquanto o que se pode conhecer de Deus eles o lêem em si mesmos, pois Deus lho revelou com evidência. Desde a criação do mundo, as perfeições invisíveis de Deus, o seu sempiterno poder e divindade, se tornam visíveis à inteligência, por suas obras; de modo que não se podem escusar. Porque, conhecendo a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças. Pelo contrário, extraviaram-se em seus vãos pensamentos, e se lhes obscureceu o coração insensato. Pretendendo-se sábios, tornaram-se estultos. Mudaram a majestade de Deus incorruptível em representações e figuras de homem corruptível, de aves, quadrúpedes e répteis”.
            Ao ler Sb e Rm, pode-se concluir, que todo homem traz em si o anseio de Deus, pois todos têm a aspiração inata à vida, à felicidade, ao amor, ao bem..., que, em última análise, se encontram plenamente em Deus. Todavia nem todos sabem identificar a Fonte e o Doador de tais valores, de modo que confeccionam para si falsos deuses.

            No Areópago de Atenas, o Apóstolo assim se pronunciou:

            “O Deus, que fez o mundo e tudo o que nele há, é o Senhor do céu e da terra, e não habita em templos feitos por mãos humanas. Nem é servido por mãos de homens, como se necessitasse de alguma coisa, porque é ele quem dá a todos a vida, a respiração e todas as coisas. Ele fez nascer de um só homem todo o gênero humano, para que habitasse sobre toda a face da terra. Fixou aos povos os tempos e os limites da sua habitação. Tudo isso para que procurem a Deus e se esforcem por encontrá-lo como que às apalpadelas, pois na verdade ele não está longe de cada um de nós. Porque é nele que temos a vida, o movimento e o ser, como até alguns dos vossos poetas disseram: Nós somos também de sua raça” (At 17,24-28).
            Embora sejam idólatras, São Paulo reconhece que os pagãos podem chegar a Deus, pois Ele se lhes manifesta pela boa ordem do mundo. O Apóstolo chega a reconhecer que muitos pagãos disseram algo de verdadeiro a respeito de Deus.

            Em Rm 2,14-15 São Paulo afirma que os gentios ouvem em seu íntimo a voz de Deus Legislador: “Os pagãos, que não têm a lei, fazendo naturalmente as coisas que são da lei, embora não tenham a lei, a si mesmos servem de lei; eles mostram que o objeto da lei está gravado nos seus corações, dando-lhes testemunho a sua consciência, bem como os seus raciocínios, com os quais se acusam ou se escusam mutuamente”.

            Os pagãos têm a lei natural inscrita em seus corações; a sua consciência lhes dá testemunho do bem e do mal, o que equivale à voz de Deus; Ele criou o homem e lhe incutiu a lei natural, que aos judeus fala também através da lei de Moisés. Essa lei natural é a de Deus, que chama a criatura para voltar ao seu princípio ou ao seu Alfa e Ômega.

            Assim, a Sagrada Escritura afirma que o homem pode reconhecer a Deus por meio do testemunho do mundo visível como também pela voz da consciência. Este conhecimento permite encontrar Deus como a Fonte dos valores disseminados em torno do homem e no homem. A Revelação feita ao povo de Deus leva adiante esse princípio de teologia natural.

O Magistério da Igreja

            O Concílio do Vaticano I (1870), realizado numa época em que a Filosofia criticava duramente o acume da razão humana. De um lado os positivistas propugnavam a incapacidade, da razão, de atingir a Deus. De outro lado, os tradicionalistas julgavam que a razão só reconheceria Deus mediante uma revelação divina. O Concílio quis rejeitar esta duas posições afirmando:

            “A Santa Igreja professa e ensina que Deus, Princípio e fim de todas as coisas, pode ser conhecido com certeza pela luz natural da razão  a partir das coisas criadas: ‘Desde a criação do mundo, as suas perfeições invisíveis se tornam manifestas à inteligência mediante as suas obras’ (Ds 3004)”.
            Donde se deduz que a razão humana, contemplando o mundo visível, depreende a existência e algo das perfeições do Criador. O texto foi retomado pelo Concílio do Vaticano II (Dei Verbum 6).
            Frente ao modernismo, o Papa Pio X renovou a declaração do Concílio:
            “Deus pode ser conhecido com certeza e, por isto, também demonstrado sob a luz natural da razão a partir do que foi criado (Rm 1,20), isto é, a partir das obras visíveis da criação como a causa é conhecida e partir dos seus efeitos” 
            Assim, Deus se manifesta a todo homem, pela voz da consciência, o dever de procurá-lo; Deus não se furta a quem sinceramente Lhe vai em demanda. Todavia o ser humano pode sufocar a voz de Deus e fechar-se à descoberta do caminho da Vida.
            A encíclica Fé e Razão, do Papa João Paulo II de 1998, reafirma a capacidade, da razão humana, de conhecer a Deus e aprofundar as verdades da fé.
            O ateísmo ou a negação de Deus não raro degenera em idolatria, pois a sede de Absoluto e Infinito é incoercível no coração do homem, de modo que este pode chegar a transferir do verdadeiro Deus para falsos deuses a sua homenagem e o seu serviço; claro exemplo disto é a idolatria do homem pelo homem.
            As provas da existência de Deus concluem não somente que Deus existe, mas indicam também aspectos na natureza ou do ser de Deus. Assim as provas ditas “ontológicas” afirmam que Deus é Aquele que subsiste por si, sem depender de outrem, e existe necessariamente (é a razão necessária de tudo o que existe).
            O problema, porém, consiste na limitação das faculdades de conhecimento do homem; são limitadas, porque sempre dependentes dos sentidos e dos objetos materiais; tudo o que conhecemos, é sempre finito, de modo que conhecer Deus, que é infinitamente perfeito e imaterial, se torna especialmente difícil.

OS NOMES DE DEUS

            No Antigo Testamento Deus se revela através de palavras e fatos: as palavras anunciam e interpretam os fatos; os fatos ilustram e confirmam as palavras. Sendo assim, toda a história do povo de Israel é uma revelação de Deus. É preciso saber ler a história e nela descobrir Deus presente e atuante.
            Deus se revela no Antigo Testamento também por nomes que refletem atributos ou funções de Deus.

            El designa, de modo geral, a divindade entre os povos semitas, com exceção dos etíopes; em árabe tal nome toma a forma de il ou ilah (donde Allah).

            São três as principais sentenças da etimologia de tal vocábulo:

            El = ser forte, vigoroso;

            El = estar à frente, ter a primazia;

            El = em direção de...

            El aparece nos nomes teofóricos: Ismael (que Deus ouça); Yizre-el (que Deus semeie); Eli-ab (meu Deus é Pai); Eli-sua (Eliseu, meu Deus me ajudou); Eli-meleque (meu Deus é Rei).

            O nome é frequentemente acompanhado de um aposto: El-olam (Gn 21,33) é o Deus antigo ou eterno; El-roi (Gn 16,13) é o Deus que me vê; El-Bethel (Gn 31,13) é o Deus que se manifestou em Bethel (= casa de Deus).

            Às vezes a palavra El tem a força de um adjetivo, que evoca grandeza, pujança: montanha de El (Sl 35,7); cedro de El (Sl 79,11); exército de Elohim (1Cr 12,23).

            El-Elyon é o Deus Altíssimo (Gn 14, 18-20).

            Eloah é forma derivada de El; aparece várias vezes no Antigo Testamento.

Elohim é a forma mais freqüente no Antigo Testamento, onde aparece cerca de 2000.

Yhwh (Javé) – Tetragrama (quatro sinais)

            Yahweh é o nome próprio do Deus de Israel.
           
            Ex 3,14-15 “Deus respondeu a Moisés: “EU SOU AQUELE QUE SOU”. E ajuntou: “Eis como responderás aos israelitas: (Aquele que se chama) EU SOU envia-me junto de vós.” Deus disse ainda a Moisés: “Assim falarás aos israelitas: É JAVÉ, o Deus de vossos pais, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó, quem me envia junto de vós. Este é o meu nome para sempre, e é assim que me chamarão de geração em geração”.
            A tradução dos LXX considerou Yahweh, indicando assim que Deus é o Ser Absoluto ou o Ser por excelência. Deus é por si mesmo, à diferença das criaturas, que não existem por si mesmas.
            A interpretação mais correta do nome revelado é a que leva em conta o seu caráter dinâmico e concreto. Deus quer revelar-se como Aquele que está com seu povo e o acompanha na saída do Egito, assegurando êxito à tarefa de Moisés. Donde a tradução: “Eu sou Aquele que é contigo”. O próprio Senhor disse a Moisés: “Eu estarei contigo”.
            É de notar que, após o exílio na Babilônia (587 – 538 a.C.), se tornou proibido aos judeus proferir o nome Yahweh; tal era “o nome que se escreve, mas não se lia”. O nome santo só era proferido pelo Sumo Sacerdote quando entrava no Santo dos Santos no dia da Expiação anual; ou pelos demais sacerdotes que abençoassem o povo segundo Nm 6,23-27; mesmo nestes casos o nome sagrado era pronunciado em voz muito baixa. Em conseqüência o tetragrama Yhwh era lido como Adonay (= meu Senhor).
            A pronúncia “Yohoua” apareceu pela primeira vez em 1278 nos escritos de Raimundo Martini (monge espanhol). Os protestantes no século XVI adotaram a pronúncia “Jeová”.
       
            Certa vez no deserto Moisés pediu ao Senhor que o acompanhasse na árdua travessia e lhe mostrasse a sua glória. Ao que o Senhor respondeu:
           
            “Vou fazer passar diante de ti todo o meu esplendor, e pronunciarei diante de ti o nome de Javé. Dou a minha graça a quem quero, e uso de misericórdia com quem me apraz” (Ex 33,19).

            Este texto associa entre si a revelação do Nome Santo e a da bondade de Deus.

            Quando o Senhor cumpriu o que prometera, Exclamou Moisés:

            “Javé, Javé, Deus compassivo e misericordioso, lento para a cólera, rico em bondade e em fidelidade” (Ex 34,6).
            Estes textos significam que Deus é amor. O acúmulo de sinônimos tem o valor de superlativo e sugere uma bondade sem igual, que ultrapassa toda formulação comum. Assim o nome de Javé assume um segundo significado: não somente Ele é o Absoluto, que acompanha seu povo, mas também é Amor. Aquele que é, também é Aquele que ama.
            “Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus, e todo o que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor” (1Jo 4,7-8).
            O amor de Deus difere do amor das criaturas, pois Deus ama o homem não porque o homem seja bom (como acontece entre nós), mas, ao contrário, o homem é bom porque Deus o ama, e ama gratuitamente.
Os Antropomorfismos

            Frequentemente o Antigo Testamento apresenta Deus como um homem: atribui-lhe olhos (Am 9,4), mãos (Am 9,2), dedos (Dt 9,10), braços (Jr 27,5), pés (Na 1,3) face e dorso (Ex 33,23), boca (Jr 9,12), lábios e língua (Is 30,27).
            Deus grita (Lv 1,1), ruge (Am 1,2), ri (Sl 2,4), assovia (Is 7,18), dorme (Sl 43,24), desperta como um embriagado que sai do sono (Sl 77,65, passeia no jardim do Éden (Gn 3,8), é oleiro (Gn 2,7), desce para ver a torre de Babel (Gn 11,5), é guerreiro valente (Ex 15,3), devora como um leão (Os 5,14), vinga-se (Is 1,24) arrepende-se (Gn 6,6).

            Outros textos, porém, dizem o contrário:

            Os 11,9 “porque sou Deus e não um homem”

            1Sm 15,29 “Aquele que é a verdade de Israel não mente, nem se arrepende, pois não é um homem para se arrepender”.

            Nm 23,19 “Deus não é homem para mentir, nem alguém para se arrepender”.

            Sl 120,4 “Não, não há de dormir, nem adormecer o guarda de Israel”.

            Is 40, 28 “O Senhor é um Deus eterno. Ele cria os confins da terra, sem jamais fatigar-se nem aborrecer-se; ninguém pode sondar sua sabedoria”.

            O recurso a antropomorfismos nas Escrituras Sagradas explica-se por três motivos:

            1) O espírito humano é incapaz de conceber Deus tal como Ele é, de modo que a linguagem humana é naturalmente propensa a utilizar expressões antropomórficas.

            2) o Deus do Antigo Testamento se torna muito concreto para Israel. É conhecido não tanto mediante reflexões filosóficas, mas pelas suas manifestações na história; as páginas bíblicas apresentam o Deus vivo, atuante, o que leva naturalmente a concebê-lo como um Homem Grande, Poderoso, Dialogante.

            No Antigo Testamento Deus é um Deus que escolhe e ama seu povo; Ele o tira da servidão do Egito para estabelecê-lo em Canaã; conclui aliança com o povo libertado, tudo por livre iniciativa e gratuita benevolência. É o Deus bem diferente da personificação das forças da natureza e dos “deuses mortos” (Br 6,26.70) ou “deuses impotentes”. São estes predicados de Deus que fazem que o salmista deseje gozar da presença de Deus em seu templo.

3) Os israelitas diziam “braço, mão, olho, etc” para significar poder; falavam do sopro das narinas para designar impaciência ou cólera; falavam do rosto que se vira ou se volta para significar aversão ou benevolência. Em conseqüência, entende-se que tenham falado de Deus em linguagem semelhante.

Porém os israelitas nunca rebaixaram Deus ao plano dos deuses da mitologia, porque tinham consciência de que Deus é Santo e impecável.

Ainda se deve observar que os antropomorfismos do Antigo Testamento preparavam o mistério da Encarnação da plenitude dos tempos.

O DEUS DA ALIANÇA

Deus fez aliança com seu povo desde que o constituiu tal; assim com Abraão; fez com Moisés, ao tirar o povo do Egito. 
Essa aliança tem característica singular: é irrevogável e inviolável da parte de Deus. O Senhor tem a plena iniciativa. Não é propriamente uma aliança de igual a igual; é gratuita. 
O povo contrai obrigações, mas o não cumprimento dessas obrigações não anula a aliança. A fidelidade de Deus não depende da fidelidade do homem. 
A aliança é iniciativa de Deus. Diz o texto sagrado que Javé concluiu aliança com o homem (Gn 9,9). Nunca, porém, se diz que  Deus e o homem concluíram uma aliança, nem que o homem concluiu aliança com Deus. 
Os israelitas foram tomando consciência da gratuidade da aliança e da soberana iniciativa de Deus; tomaram consciência que Deus fez um testamento em favor de seu povo e se tornou pleno e eficaz pela morte de Cristo; na verdade, testamento é a modalidade de disposição que adquire plena vigência pela morte do testador. Daí o novo hoje usual: Antigo Testamento (= Antiga Aliança) e Novo Testamento (= Nova Aliança).
 Com o tempo, a aliança tomaria as características de aliança nupcial, em que o amor seria a lei predominante. 
Costuma-se identificar a Antiga Aliança com a do Sinai, onde o Senhor concluiu solene pacto com seu povo mediante Moisés. A Nova Aliança, tendo como Mediador Jesus Cristo corresponderia a essa do Sinai. 
Há, porém, notável diferença entre uma e outra: a Aliança do Sinai é nacional, particular, ao passo que a Aliança em Cristo é universal, aberta a todos os homens. Por isto, mais acertado é dizer que a Antiga Aliança (que a nova restaura) é a do paraíso, travada logo após a criação do homem: Deus então se dirige a Adão (= o Homem) e lhe propôs um modelo de vida, que assegurava ao homem a comunhão com o Criador; essa foi uma aliança universal, violada pelo pecado dos primeiros pais, mas restaurada por Jesus Cristo, o segundo Adão ou o pai do novo gênero humano. 
Entre a primeira aliança, paradisíaca, violada pelo pecado das origens, e a segunda aliança, que a restaurou, sendo ambas universais, há alianças parciais, concluídas com indivíduos ou com o povo de Israel: Noé, Judá, o povo de Israel, Davi...
  
BONDADE E MISERICÓRDIA

O bem é o ser capaz de provocar o desejo e o amor, ou é o ser na medida em que é desejável.

Em relação a nós Deus quis revelar-se com o Bom Deus ou o Bem ou ainda como o amor.

A Aliança de Deus com Israel contribui para manifestar alguns atributos de Deus, entre os quais sobressaem hesed e emet, amor (misericórdia) e verdade (fidelidade). Tal binômio é muito freqüente no Antigo Testamento; significa que Deus ama seu povo e é fiel a esse povo; Ele não esquece nem abandona o povo ao qual Ele prometeu grandes coisas:

Sl 24,10 “Todos os caminhos do Senhor são graça e fidelidade, para aqueles que guardam sua aliança e seus preceitos”.
 
Sl 25,3 “Tenho sempre diante dos olhos vossa bondade, e caminho na vossa verdade”.

Sl 39,11 “Não ocultei a vossa bondade nem a vossa fidelidade à grande assembléia”.
  
O Hesed de Deus

Hesed é vocábulo freqüente no Antigo Testamento. Seu significado é muito profundo; designa os deveres que incumbem aos que são unidos pelos laços de sangue (Gn 47,29); do parentesco (Gn 20, 13); da amizade (1Sm 20,8); da aliança (Gn 21,23). 
Por conseguinte hesed implica assistência, solidariedade, amor. Pode existir não somente entre pares, mas também entre superior e inferior; neste caso, toma o sentido de favor, graça: 
Est 2,17 “O rei preferiu Ester a  todas as outras mulheres; e ganhou ela as graças e o favor real mais que todas as demais jovens”. 
Esd 9,9 “mas nosso Deus não nos abandonou em nosso cativeiro. Ele concedeu-nos a benevolência dos reis da Pérsia”. 
Aplicando-se o conceito a Deus, deve-se dizer que o hesed divino é fundado sobre a Aliança, que é iniciativa totalmente gratuita da parte de Deus. Deus se dignou concluir aliança com Israel tão somente porque ama Israel. O hesed de Deus significa absoluto predomínio da bondade a título gratuito. 
Israel sabe que pode contar com a bondade de Deus, mas não a pode exigir como um débito. Sabe também que está obrigado a cumprir as condições da Aliança ou os preceitos do Senhor Deus. Mas, quando o povo transgride a lei do Senhor, nem por isto Iahweh lhe retira o seu hesed, porque é um Deus misericordioso e compassivo, rico em bondade e fidelidade (emed); Ele guarda a sua fidelidade por mil gerações, perdoando o pecado e a iniqüidade (Ex 34, 6-7). Hesed torna-se então sinônimo de rahamim, que é a bondade para com o pecador.

Rahamim significa, para os israelitas, as entranhas, tidas como sede dos sentimentos. A respeito de José no Egito está dito que “suas entranhas se comoveram” por ver seu irmão (Gn 43,30). Quando Salomão quis mandar partir ao meio a criança disputada, “as entranhas da verdadeira mãe se comoveram por causa do filho” (1Rs 2,26). Tal expressão passou a designar a compaixão e a piedade.

O rahamim de Deus é principalmente a compaixão que Ele tem para com os fracos e infelizes e, em particular, para com seu povo oprimido.

2Rs 13,23 “Mas o Senhor compadeceu-se deles e usou de misericórdia para com eles; e deu-lhes de novo a sua graça, por causa de sua aliança com Abraão, Isaac e Jacó”.

Os Profetas puseram em foco o amor de Deus a Israel, dando-lhe duas características: a) a de amor conjugal, b) a de amor paterno.

Amor Conjugal

A Aliança é apresentada como contrato matrimonial realizado no tempo da juventude da esposa:

Os 2, 16-17 “Por isso a atrairei, conduzi-la-ei ao deserto e falar-lhe-ei ao coração. Dar-lhe-ei as suas vinhas e o vale de Acor, como porta de esperança. Aí ela se tornará como no tempo de sua juventude, como nos dias em que subiu da terra do Egito”. 
O Profeta, em nome de Deus, verifica que a fidelidade nupcial foi violada por Israel (Os 2,7). Eis porque o Senhor está prestes a repudiar sua esposa (Os 2,8), mas a fim de a levar à conversão (os 5,15) e lhe restituir o lugar e a felicidade de esposa. 
Este amor incompreensível, porque inquebrantável, é explicado pela santidade de Deis (Os 11,8), ou seja, por aquilo que diferencia Deus de todos os homens. 
“Sou Deus e não um homem, um Santo no meio de vós” (Os 11,9). 
Jeremias retomou a imagem das núpcias do Senhor com a Filha de Sion para designar a aliança. Censura as infidelidades de Israel como se fossem adultério e prostituição. O esposo ultrajado só pode repudiar a esposa infiel. Mas sofre por ver sua vinha muito cara sendo calcada aos pés por estranhos, pois Israel, apesar de tudo, é a bem amada, que Deus ama com amor eterno. 
Ezequiel descreve a história de Israel coma a de uma criança abandonada que Deus recolhe, alimentou e educou até a idade núbil, quando Ele a tomou por esposa, contraindo aliança com ela. Mas ela abusou do amor de Deus e se prostituiu com todo s os transeuntes ou adotando o culto dos deuses vizinhos. Em conseqüência, o Senhor permitiu que ela fosse entregue aos inimigos. Todavia Deus há de libertar Israel para a glória do seu nome, e concluirá com esse povo uma nova aliança pela qual serão renovados os corações. 
 No livro do Profeta Isaías a mesma imagem volta frequentemente: o povo foi levado para o exílio, porque o Senhor repudiou sua esposa infiel; Sion tornou-se uma mulher abandonada, privada de filhos e levada para o cativeiro. Mas o Senhor a chamou de volta; uma mulher esposada na juventude poderia ser definitivamente repudiada? 
 Is 54, 5-7 “pois teu esposo é o teu Criador: chama-se o Senhor dos exércitos; teu Redentor é o Santo de Israel: chama-se o Deus de toda a terra. Como uma mulher abandonada e aflita, eu te chamo. Pode-se repudiar uma mulher desposada na juventude? - diz o Senhor teu Deus. Por um momento eu te havia abandonado, mas com profunda afeição eu te recebo de novo”. 
O amor de Deus por seu povo é ilustrado também pela imagem do amor paterno.
  
Amor Paterno

Deus aparece como Pai do povo de Israel mesmo nos livros mais antigos da Sagrada Escritura.

Ex 4,22 “Tu lhe dirás: assim fala o Senhor: Israel é meu filho primogênito”.

Dt 32,6” Não é ele teu Pai, teu Criador, que te fez e te estabeleceu?”

Os Profetas insistem sobre a paternidade divina e o amor que ela implica:

Os 11,1-4 “Israel era ainda criança, e já eu o amava, e do Egito chamei meu filho. Mas, quanto mais os chamei, mais se afastaram; ofereceram sacrifícios aos Baal e queimaram ofertas aos ídolos. Eu, entretanto, ensinava Efraim a andar, tomava-o nos meus braços, mas não compreenderam que eu cuidava deles. Segurava-os com laços humanos, com laços de amor; fui para eles como o que tira da boca uma rédea, e lhes dei alimento”. 
            Oséias apresenta Deus como o mais terno dos pais: quando Israel era criança, Deus lhe dedicou seu amor, ensinou-se a caminhar, tomou-o em seus braços e lhe proporcionou topo tipo de cuidados.

            Jr 31,9 “Conduzi-la-ei em meio às suas preces; levá-la-ei à beira de águas correntes, por caminhos em que não tropeçarão, porque sou para com Israel qual um pai, e Efraim é o meu primogênito”.

            No livro de Jeremias o povo e o primogênito (= bem amado) de Deus.

            Is 49,15 “Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não ter ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, eu não te esqueceria nunca”.

            Em Isaías, Deus aparece mesmo como terna mãe, que nunca abandona seu filho.

            À luz da Sagrada Escritura verifica-se as belas manifestações de Deus pelo seu povo.

            Há também manifestações de amor dos homens a Deus principalmente na oração; Deus aparece aí como o referencial muito amado dos orantes:

Sl 17,2 “Eu vos amo, Senhor, minha força”!

            Sl 114, 1-2 “Amo o Senhor, porque ele ouviu a voz de minha súplica, porque inclinou para mim os seus ouvidos no dia em que o invoquei”.

            Sl 117, 77 “Venham sobre mim as vossas misericórdias, para que eu viva, porque a vossa lei são as minhas delícias”.

            Sl 41, 2-3 ”Como a corça anseia pelas águas vivas, assim minha alma suspira por vós, ó meu Deus. Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei contemplar a face de Deus?”

            A Face do Deus que ama e é amado, se tornaria mais lúcida ainda na plenitude dos tempos, quando no rosto de Cristo Jesus brilhou o amor do Pai. “Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16).  

A VERDADE-FIDELIDADE DE DEUS
           
O Emet de Deus

Emet ou Emunah derivam-se da raiz mn, que significa ser firme, estável, seguro. Donde o verbo aman, ser sólido, digno de confiança. 
 Assim derivado, o vocábulo emet tem duplo sentido:

1) Emet = verdade, autenticidade genuinidade. É esse o sentido, para nós, óbvio da palavra verdade.

Jr 2,21 “E eu que te havia plantado de vides legítimas (autênticas, verdadeiras), todas de boa cepa; como te transformaste em sarmentos bastardos (não autênticas) de uma videira estranha?”.

2Cr 15,3 “Durante muito tempo viveu Israel sem o verdadeiro Deus, sem sacerdotes para ensiná-lo, sem a Lei”. 
Jr 10,10 “O Senhor, ao contrário, é verdadeiramente Deus, Deus vivo, eterno rei”. 
2) A palavra emet, além do sentido ontológico que acaba de ser exposto (Iahweh é verdadeiramente Deus), tem também sentido moral, significando fidelidade, constância ou veracidade. 
Sl 90,4 “Ele te cobrirá com suas plumas, sob suas asas encontrarás refúgio. Sua fidelidade te será um escudo de proteção”. 
Deus é rico em hesed e emet. Isto quer dizer que Ele possui em alto grau a bondade, o amor, que promete suas bênçãos, e cumpre o que Ele prometeu, mostrando-se fiel à sua palavra.
 Ex 34,6 ““Javé, Javé, Deus compassivo e misericordioso, lento para a cólera, rico em bondade e em fidelidade”. 
Os símbolos dessa fidelidade são a Rocha e o Escudo: a Rocha, por sua firmeza inabalável, sempre igual a si mesma; o Escudo, na medida em que é garantia de proteção. 
2Sm 23,3 “Deus de Israel falou, o rochedo de Israel me disse: O que governa com justiça, o soberano temente a Deus”. 
Sl 94,1 “Vinde, manifestemos nossa alegria ao Senhor, aclamemos o Rochedo de nossa salvação”. 
O Senhor não mente nem se desdiz; Ele não se pode retratar nem contradizer: 
Nm 23,19 “Deus não é homem para mentir, nem alguém para se arrepender. Alguma vez prometeu sem cumprir? Por acaso falou e não executou?”

1Sm 15,29 “Aquele que é a verdade de Israel não mente, nem se arrepende, pois não é um homem para se arrepender”. 
No Novo Testamento, Jesus Cristo aparece como a perfeita manifestação da fidelidade de Deus às suas promessas. Ele é o Sim de Deus dito à humanidade, Sim ao qual respondemos Amém. 
2Cor 1, 18-20 “Deus é testemunha de que quando vos dirijo a palavra, não existe um sim e depois um não. O Filho de Deus, Jesus Cristo, que nós, Silvano, Timóteo e eu, vos temos anunciado, não foi sim e depois não, mas sempre foi sim. Porque todas as promessas de Deus são sim em Jesus. Por isso, é por ele que nós dizemos Amém à glória de Deus”. 
Com efeito, em Cristo e em sua obra redentora cumpriram-se as promessas feitas aos Patriarcas e a Davi. 
At 13, 32-33 “Nós vos anunciamos: a promessa feita a nossos pais, Deus a tem cumprido diante de nós, seus filhos, suscitando Jesus, como também está escrito no Salmo segundo: Tu és meu Filho, eu hoje te gerei”. 
A epístola aos Hebreus, em seu capítulo 11, apresenta a história dos heróis da fé, que é também a história das promessas divinas: a Terra foi prometida; Isaac foi depositário das promessas; graças a fé, os justos de Israel obtiveram “um bom testemunho, mas não conseguiram a realização das promessas, por Deus previa para nós algo de melhor, para que sem nós não chegassem à plena realização” (Hb 11,39). 

O Espírito Santo é, por excelência, a Promessa do Pai, a qual encerra em si as demais promessas:

At 1,4-5 “E comendo com eles, ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém, mas que esperassem o cumprimento da promessa de seu Pai, que ouvistes, disse ele, da minha boca; porque João batizou na água, mas vós sereis batizados no Espírito Santo daqui há poucos dias“. 
At 2,38-39 “Pedro lhes respondeu: Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois a promessa é para vós, para vossos filhos e para todos os que ouvirem de longe o apelo do Senhor, nosso Deus”. 
Os pagãos se tornam assim participantes da Promessa:

Ef 3,6 “que os gentios são co-herdeiros conosco (que somos judeus), são membros do mesmo corpo e participantes da promessa em Jesus Cristo pelo Evangelho”.

O Apocalipse conclui essas considerações, apresentando o Cristo com o Amém, o Fiel e Verdadeiro ou a Verdade e a Fidelidade de Deus personificadas:

Ap 3, 14 “Eis o que diz o Amém, a Testemunha fiel e verdadeira, o Princípio da criação de Deus”.

O Novo Testamento insiste não apenas sobre e fidelidade de Deus ao seu povo em gral, mas refere também a Fidelidade a cada indivíduo pessoalmente:

1Jo 1,9 “Se reconhecemos os nossos pecados, (Deus aí está) fiel e justo para nos perdoar os pecados e para nos purificar de toda iniqüidade”.

1Cor 10, 13 “Não vos sobreveio tentação alguma que ultrapassasse as forças humanas. Deus é fiel: não permitirá que sejais tentados além das vossas forças, mas com a tentação ele vos dará os meios de suportá-la e sairdes dela”.

A fidelidade de Deus não depende da fidelidade do homem; ela a transcende. O Sim de Deus é irreversível; Ele não pode dizer não após haver dito sim precisamente porque Ele é Deus (imutável) e não homem (mutável).

A fidelidade de Deus suscita no homem fé e esperança: fé, que não é mera adesão intelectual, mas entrega total e incondicional. Esperança, que não é uma atitude otimista, subjetiva, diante de um futuro incerto, mas é a firme expectativa dos bens futuros prometidos com firmeza e solidez pela Palavra de Deus; é de certo modo a antecipada tomada de posse dos bens futuros. 
A fidelidade é um atributo de Deus que supõe a criação. Se Deus é fiel às promessas feitas às criaturas, Ele é fiel a Si mesmo ou à sua Palavra. Deus não pode dever coisa alguma – nem mesmo fidelidade – à criatura, pois isto tornaria Deus dependente. 
A fidelidade de Deus às suas promessas ou ao seu plano de salvação explica por que o Criador não aniquilou o homem infiel no paraíso nem os anjos decaídos. A sobrevivência do gênero humano após o pecado de Adão manifesta a fidelidade divina. Essa fidelidade se reveste de misericórdia e paciência; só há esperança para o mundo porque Deus é Deus, e não procede como o homem. 
A Igreja, sacramento primordial de salvação é também “o Sacramento da Fidelidade Divina”. Essa fidelidade toma características especiais na fidelidade mútuo dos esposos, que realizam a igreja doméstica, ele como imagem do Cristo e ela como imagem da Igreja. Também se concretiza peculiarmente na fidelidade dos homens e das mulheres que se consagram a Deus pelos votos religiosos. Qualquer membro da Igreja, feito santo (= consagrado a Deus) pelo Santo Batismo, deve ser uma expressão da fidelidade de Deus que lhe é comunidade e que ressoa aos seus ouvidos com as palavras de São João: “Eis a promessa que ele nos fez: a vida eterna” (1 Jo 2,25).   
O DEUS SANTO

Deus é essencialmente Santo ou três vezes Santo (Is 6,3). O que caracteriza a Divindade é a santidade. 
A santidade pode se entendida em duplo sentido: sentido ontológico e sentido moral.


Santidade Ontológica

Em hebraico qodesh quer dizer santidade; qadosh, santo. 
Santo é primeiramente o que pertence a Deus só. É, ao mesmo tempo, atraente (porque próprio de Deus) e repelente (porque grande e pesado para a fragilidade humana). Só Deus é Santo.
 A santidade é atribuída a objetos, lugares, tempos, pessoas e ao próprio Deus. Isto quer dizer que é santidade ontológica, do ser, não incluindo necessariamente a perfeição moral (um objeto, um lugar não estão na ordem moral). A santidade ontológica é tão importante que ninguém pode tocar um objeto consagrado sem autorização. 
Nm 4,20 ”Não entrarão para olhar as coisas santas, nem mesmo um só instante, para que não morram” 
2Sm 6, 4-7 “Oza ia junto da arca de Deus e Aquio marchava diante dela. Davi e toda a casa de Israel dançavam com todo o entusiasmo diante do Senhor, e cantavam acompanhados de harpas e de cítaras, de tamborins, de sistros e de címbalos. Quando chegaram à eira de Nacon, Oza estendeu a mão para a arca do Senhor e susteve-a, porque os bois tinham escorregado. Então a cólera do Senhor se inflamou contra Oza; feriu-o Deus por causa de sua imprudência, e Oza morreu ali mesmo, perto da arca de Deus”. 
A santidade de Deus suscita reverência no povo: “Quem poderá subsistir na presença de Javé, o Deus Santo?” (1Sm 6,20).

Tratava-se de uma lição para o povo rude. 
Por este motivo os próprios levitas, servidores do culto, não tocavam a arca, mas a transportavam sobre varais. 
A santidade ontológica exige, nos seres humanos, santidade moral.
  
Santidade Moral

O povo de Israel é um povo separado de outros povos e posto ao serviço de Javé. Por isto é santo ontologicamente. Essa sanidade ontológica exige santidade moral ou conduta de vida santa: “Sede santos, porque Eu, Jave vosso Deus, sou Santo” (Lv 11,44). 
Está claro que Javé é Santo ou perfeito em seu comportamento; caso contrário não seria Deus. A santidade ou a suma perfeição compete a Deus por definição. 
A santidade moral implica, para o homem, o cumprimento de todos os preceitos de Deus. 
A santidade ou a perfeição moral é a meta proposta ao homem tanto pelo Antigo como pelo Novo Testamento; neste sentido há continuidade entre a antiga e a nova Lei. Apenas se distinguem os meios que devem levar o homem à santidade; sob a antiga Lei eram mais primitivos, ao passo que a nova Lei é mais profundo e exigente.

A. T.                                                               N. T.

Deus é Santo                                               O Pai do céu é perfeito

Por isto os homens hão de ser santos      Por isto os filhos hão de ser perfeitos

Para tanto, não comerão animais                   Para tanto amarão seus inimigos
impuros
  
O convite-preceito é o mesmo no Antigo Testamento e no Novo Testamento. Ocorre, porém, que no Novo Testamento Deus é dito Pai, os homens filhos, e o meio de atingir a meta é mais perfeito, pois, em vez de não comer animais impuros (como o porco), se trata de amar a todos os homens (bons e maus), como fez o próprio Pai Celeste. 
Deus manifesta sua santidade, mostrando seu poder por prodígios ou pela obra da criação. 
Ez 36,23 “Quero manifestar a santidade do meu augusto nome que aviltastes, profanando-o entre as nações pagãs, a fim de que conheçam que eu sou o Senhor - oráculo do Senhor Javé -, quando sob seus olhares eu houver manifestado a minha santidade por meu proceder em relação a vós”. 
O nome manifesta o que Deus é: grande, poderoso e santo. 
O santo nome de Deus é profanado pelas nações, que venceram Israel infiel à Lei do Senhor. Por isto Deus restaurará Israel para a glória do seu nome. 
Vê-se assim que o santo nome de Deus significa a santidade e a grandeza do Senhor Deus.
  
A glória de Deus

A santidade é frequentemente associada à glória de Deus. A palavra hebraica kabod (= glória) significa originariamente peso. Para exaltar a glória de Deus, os israelitas diziam que ela é pesada e densa; é ela que impõe respeito e temor. É o que se dá no caso de Isaías, que viu a glória: 
Is 6, 3-5 “Suas vozes se revezavam e diziam: Santo, santo, santo é o Senhor Deus do universo! A terra inteira proclama a sua glória! A este brado as portas estremeceram em seus gonzos (dobradiças) e a casa, encheu-se de fumo. Ai de mim, gritava eu. Estou perdido porque sou um homem de lábios impuros, e habito com um povo (também) de lábios impuros e, entretanto, meus olhos viram o rei, o Senhor dos exércitos!”
            A glória (kabod) de Deus é identificada com a face de Deus, de tal modo que o homem não pode contemplar Deus face-a-face sem se sentir esmagado.

            Com Elias deu-se algo semelhante: cobriu sua face para não ver o Senhor: “O Senhor desse-lhe: Sai e conserva-te em cima do monte na presença do Senhor: ele vai passar. Nesse momento passou diante do Senhor um vento impetuoso e violento, que fendia as montanhas e quebrava os rochedos; mas o Senhor não estava naquele vento. Depois do vento, a terra tremeu; mas o Senhor não estava no tremor de terra. Passado o tremor de terra, acendeu-se um fogo; mas o Senhor não estava no fogo. Depois do fogo ouviu-se o murmúrio de uma brisa ligeira. Tendo Elias ouvido isso, cobriu o rosto com o manto, saiu e pôs-se à entrada da caverna. Uma voz disse-lhe: Que fazes aqui, Elias?” (1Rs 19, 11-13).
            A glória de Javé é o Senhor em sua pujança.
            Ex 40, 34-35 “Então a nuvem cobriu a tenda de reunião e a glória do Senhor encheu o tabernáculo. E era impossível a Moisés entrar na tenda de reunião, porque a nuvem pairava sobre ela, e a glória do Senhor enchia o tabernáculo”.       
           É à luz destas concepções que se entende a atitude de São Pedro ao verificar a  pesca milagrosa que o Senhor Jesus lhe concedera:
 Lc 5, 8-9 “Vendo isso, Simão Pedro caiu aos pés de Jesus e exclamou: Retira-te de mim, Senhor, porque sou um homem pecador.É que tanto ele como seus companheiros estavam assombrados por causa da pesca que haviam feito”. 
Entende-se também a alegria com que o evangelista São João pôde dizer: 
Jo 1, 14 “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade”. 
A santa glória de Deus, se de um lado esmaga o homem, de outro lado é garantia da salvação do homem. 
É, pois, a santidade de Deus que garante ao homem o perdão e a salvação. Que o povo se reconforte porque crê não num grande homem, mas em Deus, que, embora seja transcendental, é muito próximo do coração do homem.
  
O DEUS JUSTO

Outro atributo de Deus muito mencionado no Antigo Testamento é a justiça. 
A palavra hebraica sedaqah, que traduzimos por justiça, “ser conforme a uma regra”. Sedeq , justo, aplica-se a objetos como balanças (justas), pesos (justos): 
Lv 19,36 ”Tereis balanças justas, pesos justos, um efá justo e um hin justo. Eu sou o Senhor, vosso Deus que vos tirei do Egito”. 
Tais objetos são conforme as regras que determinam pesos e medidas. 
Por excelência Deus é dito justo, não porque Ele se deva conformar a uma regra posta fora de Deus, mas porque procede sempre segundo as normas que Ele estabelece ou conforme a Aliança que Ele quis fazer com Israel. Ex 33,19 “Dou a minha graça a quem quero, e uso de misericórdia com quem me apraz”.

Gn 18,25 “Não exerceria o juiz de toda a terra a justiça?”

Vê-se assim que justiça em Deus se aproxima do conceito de fidelidade.

A justiça de Deus ou fidelidade às normas estabelecidas exprime-se no fato de que Deus não tolera as faltas do seu povo, mas as castiga. As tradições de Israel mostram como Deus puniu os primeiros pais expulsando-os do paraíso (Gn 3,23-24), destruiu pelo dilúvio os homens culpados (Gn 6,11-12), salvou Noé, o justo (Gn 6,8). 
A população de Sodoma e Gomorra perece por sua iniqüidade, ao passo que Lot e poupado (Gn 19, 1-29). Todavia antes da perda destas duas cidades, Deus permite que Abraão interceda por elas e promete poupá-las, caso nelas existam dez justos (Gn 18, 16-33). 
Posteriormente o Profeta Natã censurou Davi pelo duplo pecado de adultério e homicídio, sendo que Davi reconheceu suas faltas: 
2Sm 12, 13-14 “Davi disse a Natã: Pequei contra o Senhor. Natã respondeu-lhe: O Senhor perdoa o teu pecado; não morrerás. Todavia, como desprezaste o Senhor com essa ação, morrerá o filho que te nasceu”.  
O castigo no Antigo Testamento mostra a maldade do homem e a bondade e a misericórdia de Deus. 
Encontram-se no Antigo Testamento certos episódios em que Deus parece induzir o homem ao pecado: Ele endurece o coração do Faraó que não se rende aos sinais de Deus (Ex 4,21); endurece o coração do povo para que não atenda à pregação de Isaías (Is 6,10); leva Davi a cometer um recenseamento pecaminoso e pune o povo por causa disto (2Sm 24,1); excita Saul contra Davi (1Sm 26,19); dá a Israel preceitos maus (Ez 20,25). 
Os israelitas (não filósofos, mas práticos), tanto exaltavam a soberania de Deus que lhe atribuíam uma causalidade universal: Deus seria o autor não só das graças, mas também das desgraças que afetam o homem. Não distinguiam entre querer o bem e permitir o mal. Deus não pode cometer o mel, nem indiretamente; isto seria ilógico, já que por definição Deus é o Sumo Bem. 
Consequentemente deve-se dizer que Deus oferece ao homem preceitos e exortações salutares; o fato, porém, de que os homens, mal dispostos, não aceitem a palavra salvífica de Deus, redunda em condenação para a criatura interpelada, mas rebelde. Assim se explicam os casos acima. 
O episódio que levou Davi a fazer o recenseamento pecaminoso, é explicado pela própria Escritura; séculos depois o autor de 1º Crônicas escreve: “Levantou-se Satã contra Israel, e excitou Davi a fazer o recenseamento de Israel”. (1Cr 21,1). 
Assim a mentalidade mais evoluída do povo de Israel explicitou o sentido do antropomorfismo: Deus não pode sucumbir à paixão da ira; o verdadeiro tentador do homem é Satanás.

Tg 1,13 “Ninguém, quando for tentado, diga: É Deus quem me tenta. Deus é inacessível ao mal e não tenta a ninguém”.

O Herém (extermínio dos inimigos)

A palavra herém significa proibir, daí separar e, na linguagem religiosa, subtrair ao uso profano, reservar para Deus. Em grego, o vocábulo equivalente é anátema. 
Herém era o extermínio dos inimigos vencidos por parte do povo vencedor, uma vez terminada a batalha (para não aceitar o Deus dos vencidos). O vencedor poderia dispor das posses e da vida dos vencidos, mesmo de mulheres e crianças; felizes poderiam considerar-se aqueles que, derrotados na guerra, fossem apenas despojados de seus bens e reduzidos à escravidão. 
Lê-se que o Senhor prescreveu o herém contra os cananeus (Dt 7,1-11.16) e contra certas cidades ou tribos (Dt 2, 33-35; Js 6,2.20-21). 
Tais textos hão de ser entendidos à luz dos costumes de guerra da antiguidade (guerra santa). Cada povo outrora julgava que, na guerra, a honra dos seus deuses estava em jogo; uma derrota militar seria escárnio para os deuses da nação vencida, assim como a vitória significava o triunfo da divindade. Por conseguinte, aos deuses do vencedor julgavam que deviam ser religiosamente imolados, por um ato de extermínio total, os homens, as famílias, as cidades, os bens do povo vencido. Os israelitas estavam convictos de fazer a guerra santa aos inimigos do Senhor e de ser os instrumentos do plano de Deus. 
É o que explica que tal prática fosse adotada pelo povo de Israel. Aliás, para os hebreus, o herém se tornava particularmente necessário, pois tal povo era propenso a adotar as crenças e os costumes religiosos dos povos pagãos com os quais viesse a conviver (Nm 25, 1-2). Daí a insistência dos autores sagrados na prática do herém; eles exprimiam suas convicções atribuindo a Deus a ordem de destruir os inimigos. 
Todavia a fé no verdadeiro Deus era uma escola para os israelitas, que souberam por vezes mostrar sentimentos humanitários aptos a surpreender os inimigos. É o que explica os dizeres de 1Rs 20,31; os sírios reconhecem a clemência de que dão provas os reis de Israel; com efeito, diziam os saldados a seu rei Benhadad, vencido por Acab:

            1Rs 20,31 “Seus servos disseram-lhe: Ouve: nós temos ouvido dizer que os reis de Israel são clementes. Ponhamos sacos sobre nossos rins e cordas ao nosso pescoço, e vamos ter com o rei de Israel; talvez ele te poupe a vida”.
            A mentalidade do povo antigo – e Israel entre eles – julgava que a justiça divina se exercia sobre a coletividade ou o povo, sem levar em conta o indivíduo com tal. A sanção divina atingia o povo inteiro ou a família.

            Jr 31,29 “Os pais comeram uvas verdes, e prejudicados ficaram os dentes dos filhos”.

            Ez 18,2 “os pais comeram uvas verdes, mas são os dentes dos filhos que ficam embotados”.

            No entanto, prevaleceu com o decorrer dos tempos, a noção de que o Senhor retribui a cada um o que lhe é devido.
          
            A prosperidade dos maus

            Nos livros mais antigos da Escritura lê-se que o prêmio da fidelidade ao Senhor é vida longa, sadia e rica, ao passo que doença e pobreza são a sanção devida aos maus:

            Pr 12,7 “Transtornados, os ímpios não subsistirão, mas a casa dos justos permanecerá firme”.

            Pr 2,21-22 “porque os homens retos habitarão a terra, e os homens íntegros nela permanecerão, enquanto os maus serão arrancados da terra e os pérfidos dela serão exterminados”.

            Todavia a experiência contradizia a essa concepção, pois frequentemente os maus pareciam prosperar no plano material, ao passo que os justos sofriam desgraças.

            Israel só encontrou resposta quando conheceu a noção de vida póstuma. Não é nesta vida que o homem encontra suas plenas respostas e sua realização, mas é no além que a justiça divina reserva a recompensa definitiva e cabal.

ETERNIDADE E IMUTABILIDADE

            Eternidade

            O Deus de Israel também é, de fato, eterno porque não tem começo nem fim. Isto o distingue dos deuses da Babilônia, do Egito, da Fenícia e da Grécia; cada qual dessas regiões tinha sua história que contava a gerações dos deuses no contexto da respectiva mitologia.
O Deus de Israel também não é um Deus que morre e ressuscita como acontece aos deuses pagãos, que personificavam, por exemplo, a vegetação que morre no inverno e ressuscita na primavera. 
Eternidade não é uma duração quilométrica, de séculos e séculos. Qualquer quantidade sucessiva (séculos e séculos) será sempre finita ou limitada; sempre se lhe pode acrescentar uma unidade. Por conseguinte, a eternidade de define com “a posse inteira, simultânea e perfeita de uma vida interminável”. Isto quer dizer que a eternidade exclui começo ou fim, progressão e regressão; na eternidade não há sucessão. 
“Tu, Senhor, és idêntico a Ti mesmo e teus anos não desvanecem... Teus anos são um dia único, e teu dia é o dia cotidiano (=sucessivo), mas é o hoje, porque teu hoje não dá lugar a um amanhã e também não se segue e meu ontem. Teu hoje é a eternidade” (Santo Agostinho). 
Deus existe desde todo o sempre e jamais morrerá:

Hab 1, 12 “Não sois vós, Senhor, desde o princípio, o meu Deus, o meu Santo, o Imortal?”  

Por isto Deus é chamado frequentemente o Deus vivo, o vivente eterno:

Dt 32, 39-40 “Reconhecei agora: eu só, somente eu sou Deus, e não há outro além de mim. Eu extermino e chamo à vida, eu firo e curo, e não há quem o arranque da minha mão. Levanto para o céu a minha mão e digo: tão certo como eu vivo eternamente”. 
De geração em geração, por todos os tempos sem fim, Ele exerce sua proteção:
 Ex 15, 18 “O Senhor é rei para sempre, sem fim!”
 Sl 102, 17 “É eterna, porém, a misericórdia do Senhor para com os que o temem. E sua justiça se estende aos filhos de seus filhos”. 
Ele criou o céu e a terra e existia antes que o mundo existisse:
Sl 89,2.4 “Antes que se formassem as montanhas, a terra e o universo, desde toda a eternidade vós sois Deus. Porque mil anos, diante de vós, são como o dia de ontem que já passou, como uma só vigília da noite”. 
Is 41,4 “Quem, pois, realizou essas coisas? Aquele que desde a origem chama as gerações à vida: eu, o Senhor, que sou o primeiro - e que estarei ainda com os últimos”. 
Is 44, 6 “Eis o que diz o Senhor, o rei de Israel, seu Redentor, o Senhor dos exércitos: Eu sou o primeiro e o último, não há outro Deus afora eu”.

Is 43, 10-11 “Vós sois minhas testemunhas, diz o Senhor, e meus servos que eu escolhi, a fim de que se reconheça e que me acreditem e que se compreenda que sou eu. Nenhum deus foi formado antes de mim, e não haverá outros depois de mim. Fui eu, sou eu o Senhor, não há outro salvador a não ser eu”. 
É nestes termos que os autores sagrados professas a eternidade de Deus. São muito significativos se levarmos em conta o fato de que os povos vizinhos de Israel tinham ricas mitologias, julgando que os deuses podiam ser gerados e, gerados, geravam o mundo.

Imutabilidade

Como Deus não tem começo nem fim, assim Ele não conhece mudança. Toda mudança é sinal de imperfeição, porque supõe aquisição de uma perfeição não possuída ou perda de perfeição.

A Sagrada Escritura exalta a imutabilidade de Deus, comparando-a com as criaturas.

Sl 101, 26-28 “No começo criastes a terra, e o céu é obra de vossas mãos. Um e outro passarão, enquanto vós ficareis. Tudo se acaba pelo uso como um traje. Como uma veste, vós os substituís e eles hão de sumir. Mas vós permaneceis o mesmo e vossos anos não têm fim”. 
Is 40,8 “A erva seca e a flor fenece, mas a palavra de nosso Deus permanece eternamente”. 
Sb 7, 27 “Embora única, tudo pode; imutável em si mesma, renova todas as coisas”. 
Imutável em seu ser, Deus o é também em sua vontade. Ele não pode retirar o que disse: 
Is 31, 2 “Entretanto, ele também é sábio, e faz vir o mal; não retira sua palavra”. 
Jr 4, 28 “Pois que eu disse, e assim decretei: não voltarei atrás e não me retratarei”. 
Is 51, 6 “Levantai os olhos para o céu, volvei vosso olhar à terra: os céus vão desvanecer-se como fumaça, como um vestido em farrapos ficará a terra, e seus habitantes morrerão como moscas. Mas minha salvação subsistirá sempre, e minha vitória não terá fim”.

O Arrependimento de Deus

Embora estejam convictos de que Deus é imutável, os autores sagrados, em sua mentalidade antropomórfica, imaginam Deus a se arrepender ou a mudar de plano por causa das orações dos homens. 
O mesmo autor, Jeremias, afirma as duas atitudes contrárias: Javé se arrepende e não se arrepende:
 Jr 18, 8.10 “Mas se essa nação, contra a qual me pronunciei, se afastar do mal que cometeu, arrependo-me da punição com que resolvera castigá-la. Se, porém, tal nação proceder mal diante de meus olhos e não escutar minha palavra, recuarei do bem que lhe decidira fazer”.

Jr 4, 28 “Pois que eu disse, e assim decretei: não voltarei atrás e não me retratarei”.

Ex 32, 14 “E o Senhor se arrependeu das ameaças que tinha proferido contra o seu povo”.

Am 7, 3 ”O Senhor arrependeu-se. Isso não acontecerá, disse o Senhor”.

Tais passagens põem em evidência o valor da oração e da intercessão dos justos. A misericórdia de Deus parece deixar-se dobrar pela prece e perdoa aos pecadores. Convictos de que Deus é bom e quer que os homens lhe peçam o bem, os israelitas não pensavam em conciliar esse atributo de Deus com a sua imutabilidade, de modo que ficou nos livros sagrados a aparente contradição. 
Na verdade, a própria oração não muda os desígnios de Deus, mas foi desde todo o sempre incluída por Deus em seus desígnios de beneficiar o homem; Ele quer dar mediante a oração do homem, que deve sempre terminar como a de Jesus: “faça-se, porém, a tua vontade e não a minha” (Mc 14,36). A oração não pode pretender dobrar Deus à vontade do homem, mas é o meio necessário para que o homem colabore com Deus, pedindo-lhe o que lhe parece corresponder à sua salvação. 
Há quem também quem fale de “oração forte” e “oração toda poderosa ou milagrosa”. Tais concepções são humanas e falsas, pois Deus não e um grande senhor, que possa ser dobrado pelas artimanhas dos homens. 

Evo

O evo é a duração que tem começo, mas não tem fim; é a imortalidade que toca aos anjos e à alma humana em virtude de sua espiritualidade. Exclui qualquer mudança essencial ou substancial, mas comporta mudanças acidentais; assim, por exemplo, a alma humana jamais deixará de existir, mas pode existir segundo modalidades diferentes: santa ou pecadora, feliz ou infeliz (acidental).
 Assim a alma humana é imortal por sua substância; conservará sempre a existência que Deus lhe deu.
  
Tempo

O tempo é a duração que teve começo e terá fim. As criaturas corpóreas são todas temporais. Comportam o antes e o depois ou a sucessão; tendem a recair nada donde foram tiradas. 
O tempo, para o cristão, está cheio de eternidade; depois que o Filho de Deus o consagrou vivendo na terra como homem, o tempo se tornou kairós, tempo oportuno, tempo de salvação; é o tempo no qual o cristão semeia para colher no além ou prepara, momento por momento, a sua vida infinita na Casa do Pai. Daí a expressão clássica: “ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo...”. 

ONIPOTÊNCIA, ONIPRESENÇA E ONISCIÊNCIA

Deus tudo pode, tudo acompanha, tudo sabe.
  
Onipotência

O poder de Deus é talvez o atributo que mais terá impressionado os israelitas. É o que atestam os nomes mais antigos que designam o Senhor: 
- O Poderoso de Jacó 
Gn 49,24 “Mas, (do José) seu arco permanece firme, seus braços e mãos desembaraçados pelas mãos do Poderoso de Jacó, pelo nome do Pastor, que é a pedra de Israel”. 
Gn 17,1 “Abrão tinha noventa e nove anos. O Senhor apareceu-lhe e disse-lhe: “Eu sou o Deus Todo-poderoso” 
O poder absoluto de Deus se manifesta na criação do mundo; Deus diz e as criaturas aparecem. 
É o Senhor Deus quem põe as estrelas em marcha e as chama por seu nome: 
Is 40, 26 “Levantai os olhos para o céu e olhai. Quem criou todos esses astros? Aquele que faz marchar o exército completo, e a todos chama pelo nome, o qual é tão rico de força e dotado de poder, que ninguém falta ao seu chamado”. 
A poderosa palavra de Deus não retorna a Ele sem ter produzido o seu efeito: 
Is 55. 11 “assim acontece à palavra que minha boca profere: não volta sem ter produzido seu efeito, sem ter executado minha vontade e cumprido sua missão”.
 Até os pretensos monstros da mitologia oriental – Leviatã, a serpente marinha de sete cabeças, e os dragões do mar – o Senhor os fere com seus golpes e os domina como quer: 
Sl 103, 26 “Nele navegam as naus e o Leviatã que criastes para brincar nas ondas”. 
Is 27,1 “Naquele dia o Senhor ferirá, com sua espada pesada, grande e forte, Leviatã, o dragão fugaz, Leviatã, o dragão tortuoso; e matará o monstro que está no mar”. 
O poder de Deus se evidencia também na defesa do seu povo. Deus é antropomorficamente concebido como o Deus guerreiro, vencedor dos inimigos de Israel: 
Ex 15,1-3 “Cantarei ao Senhor, porque ele manifestou sua glória. Precipitou no mar cavalos e cavaleiros. O Senhor é a minha força e o objeto do meu cântico; foi ele quem me salvou. Ele é o meu Deus – eu o celebrarei; o Deus de meu pai – eu o exaltarei. O Senhor é o herói dos combates, seu nome é Javé”. 
Quando o Senhor vem em socorro do seu povo, a natureza se abala: 
Jz 5,4-5 “Senhor, quando saístes de Seir, quando surgistes dos campos de Edom, a terra tremeu, os céus se entornaram, as nuvens desfizeram-se em água. abalaram-se as montanhas diante do Senhor, nada menos que o Sinai, diante do Senhor, Deus de Israel!”. 
É com essa linguagem humana e poética, mas muito viva e correta, que os autores sagrados professam a onipotência de Deus.
  
Onipresença

A onipresença de Deus é atributo coerente com a onipotência: se Deus tudo pode, Ele está presente e age em toda parte. Todavia a mentalidade dos israelitas dificilmente se emancipava de concepções concretas, de modo que os textos mais antigos da Bíblia conservaram a opinião popular de que Javé tem seus lugares de residência ou seus habitats. Só aos poucos aflorou no povo a consciência da ubiqüidade de Deus. 
Em especial, Deus habita as montanhas sagradas, como o Sinai, o Sion, ou os santuários antigos como Betel, Bersabéia e o Templo de Jerusalém. 
Gn 28,16-17 “Jacó, despertando de seu sono, exclamou: “Em verdade, o Senhor está neste lugar, e eu não o sabia!” E, cheio de pavor, ajuntou: “Quão terrível é este lugar! É nada menos que a casa de Deus; é aqui, a porta do céu”. 
Acreditavam os israelitas que Javé que se senta sobre os querubins (2Sm 6,2), só estava presente onde se achava a sua arca (1Sm 4, 6-7). 
 Porém, outros textos acentuam a multilocação, verificando a ubiqüidade de Deus. 
Deus aparece a Abraão em Ur na Caldéia, em Harrã na Mesopotâmia e o leva para a terra de Canaã (Gn 11,31); Deus protege Abraão no Egito (Gn 12,10-20); no territória de Gerara (Gn 20, 1-18); acompanha o servo de Abraão até Aram Naaraim; Ele coage o Faraó a deixar partir as tribos de Israel cativas no Egito (Ex 6,1-11) e derrota o exército do Faraó no Mar Vermelho (Ex 15, 1-2). É o Senhor Deus quem guia o povo através do deserto e finalmente o introduz na Terra Prometida. 
Desta maneira torna-se claro que Javé não é um Deus local; se era venerado especialmente em alguns lugares ou santuários, isto se explica pelo fato de ter-se Ele revelado aos Patriarcas. 
 Desses santuários (lugares especiais, privilegiados), o mais eminente era, sem dúvida, o Templo de Jerusalém. Quem peregrinava ao Templo ia “ver a face do Senhor”, isto é, ai experimentar a benevolência do Senhor (Sl 16, 15), ou ia pedir socorro ao Senhor (Sl 26, 8). 
Sl 41,3 “Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei contemplar a face de Deus?”. 
Em suma, a transcendência do Altíssimo, que afinal de contas não pode ser enquadrado em algum espaço limitado, é expressa no livro do Profeta Isaías: 
Is 66,1 “Eis o que diz o Senhor: o céu é meu trono, e a terra meu escabelo. Que casa poderíeis construir-me, que lugar poderíeis indicar-me para moradia?”. 
A oração de Salomão professa nitidamente a onipresença de Deus:

1Rs 8, 27 “Mas, será verdade que Deus habite sobre a terra? Se o céu e os céus dos céus não vos podem conter quanto menos esta casa (= este Templo) que edifiquei”!

Jó 11, 9 “Deus é mais vasto que a terra, e mais extenso que o mar”.
  
Onisciência

A onisciência de Deus está ligada à sua onipresença. Mas foi reconhecida com mais facilidade do que a ubiqüidade de Deus. 
Os israelitas tinham consciência de que Deus sabe o que os homens não sabem principalmente os acontecimentos futuros. Por isto consultavam a Deus sobre o que deviam ou não deviam fazer: 
Gn 25, 22 “Como as crianças lutassem no seu ventre, ela disse: “Se assim é, por que me acontece isso? E ela foi consultar o Senhor”. 
Jz 1,1 “Depois da morte de Josué, os israelitas consultaram o Senhor: Quem dentre nós será o primeiro a combater os cananeus?” 
Pr 15,3 “Em todo o lugar estão os olhos do Senhor, observando os maus e os bons”. 
Deus conhece o futuro dos povos e o anuncia aos seus Profetas: 
Am 3,7 “O Senhor Javé nada faz sem revelar seu segredo aos profetas, seus servos”. 
Is 42, 9 “Realizaram-se os primeiros acontecimentos anunciados, eu predigo outros; antes que aconteçam, eu vo-los faço conhecer”.
  
A Sabedoria de Deus

A onisciência de Deus prende-se à Sabedoria de Deus. Esta consiste na compreensão perspicaz e profunda das coisas, das situações, das finalidades a atingir e na arte de escolher os meios que levam aos fins almejados. 
Deus possui a sabedoria por excelência. Este atributo era tão exaltado pelos judeus que chegaram a personificá-la como se fosse uma assistente de Deus na obra da criação e na regência deste mundo. 
Pr 8, 22-31 “O Senhor me criou, como primícia de suas obras, desde o princípio, antes do começo da terra. Desde a eternidade fui formada, antes de suas obras dos tempos antigos. Ainda não havia abismo quando fui concebida, e ainda as fontes das águas não tinham brotado. Antes que assentados fossem os montes, antes dos outeiros, fui dada à luz; antes que fossem feitos a terra e os campos e os primeiros elementos da poeira do mundo. Quando ele preparava os céus, ali estava eu; quando traçou o horizonte na superfície do abismo, quando firmou as nuvens no alto, quando dominou as fontes do abismo, quando impôs regras ao mar, para que suas águas não transpusessem os limites, quando assentou os fundamentos da terra, junto a ele estava eu como artífice, brincando todo o tempo diante dele, brincando sobre o globo de sua terra, achando as minhas delícias junto aos filhos dos homens”. 
Semelhante personificação poética encontra-se em Eclo 24, 1-34, com a diferença de que no Eclo a Sabedoria é identificada com a Lei de Moisés. Os autores das cartas do Novo Testamento viram nessa personificação da Sabedoria a insinuação da segunda Pessoa da SS Trindade; (Hb 1,3; Cl 1, 15; 1Cor 1,30). A aplicação de tais textos a Maria Santíssima, não resulta da exegese dos mesmos, mas faz-se por transposição indireta legítima; Maria é a Sede da Sabedoria e a obra-prima da mesma.

A Sabedoria de Deus é insondável aos homens:

Sl 138 17-18 “Ó Deus, como são insondáveis para mim vossos desígnios! E quão imenso é o número deles! Como contá-los? São mais numerosos que a areia do mar; se pudesse chegar ao fim, seria ainda com vossa ajuda”. 
Is 55, 8-9 “Pois meus pensamentos não são os vossos, e vosso modo de agir não é o meu, diz o Senhor; mas tanto quanto o céu domina a terra, tanto é superior à vossa a minha conduta e meus pensamentos ultrapassam os vossos”. 
Deus comunica sua sabedoria aos homens; trata-se de um dom especial concedido, por exemplo:
 - A José no Egito e a Daniel na Pérsia, para adivinharem os sonhos (Gn 41, 25.48; Dn 1, 17; Dn 5,11);
 - Aos chefes do povo (Dt 34,9);

- Aos reis Davi (2Sm 14,20) e Salomão (1Rs 3,11.28);

- Ao Messias (Is 11, 2-3).

Nos livros sapiências mais recentes os sábios mesmos sabem ter recebido de Deus a sua sabedoria: 
Eclo 1,1 “Toda a sabedoria vem do Senhor Deus, ela sempre esteve com ele. Ela existe antes de todos os séculos”. 
Sb 7,7 “Assim implorei e a inteligência me foi dada, supliquei e o espírito da sabedoria veio a mim”. 
Em suma, a estima da Sabedoria divina foi crescendo em Israel a ponto de ser ela personificada poeticamente, dando assim ocasião a que os Padre da Igreja vissem nesse artifício uma discreta revelação do Logos de Deus.
  
DEUS O SER ABSOLUTO E SUPREMO

O que distingue Deus de qualquer criatura e caracteriza Deus como Deus, é o Ser subsistente ou Ser por si. Para as criaturas, a existência é um predicado contingente (não existíamos e passamos a existir). Deus é o Ser que não podia e não pode deixar de existir. 
Ao dizer que Deus é o Ser Subsistente (existe por si mesmo), a Teologia afirma que é a plenitude do ser; em Deus o ser se realiza plenamente. Nada falta a Deus, Deus é perfeição. Isto significa também que Deus não evolui; é imutável. Deus não raciocinar, Ele conhece tudo. 
Deus o Ser Subsistente é também o Ser Absoluto, tendo em vista que Deus é livre de qualquer dependência ou condicionamento. Ele não precisou de outrem para existir porque Ele existe em si. 
Só Deus não está sujeito a coisa alguma nem no plano material nem no espiritual.
  
A revelação bíblica veio dizer ao homem que o Deus Absoluto e Supremo tem a iniciativa de amá-lo, e amá-lo gratuita e irreversivelmente, prometendo-lhe proteção e salvação tanto na Sarça ardente (Ex 3, 2-15) como pela Cruz de Cristo no Calvário.

A PROVIDÊNCIA DIVINA

O intelecto divino, além de ter conhecimento e sabedoria, exerce sua providência em relação às criaturas. A Providência é o plano segundo o qual Deus leva as criaturas ao devido fim (a Ele mesmo); Deus dispõe os caminhos das criaturas de modo que todas preencham a sua finalidade.


 As páginas bíblicas transmitem a certeza de que todas as criaturas estão sujeitas à vontade daquele que as fez; essa vontade do Criador segue um plano de sabedoria infinita, sem deixar coisa alguma ao acaso, como também sem dar lugar a destino cego. Deus cuida tanto dos indivíduos como das coletividades e até do mundo irracional. 
Basta ler os livros históricos e proféticos do Antigo Testamento para colher a impressão de que Deus acompanha o povo de Israel como também os povos vizinhos; o rei Ciro da Pérsia é chamado por Deus para colaborar no plano de resgate do povo messiânico. 
Esse acompanhamento divino culmina no mistério da Encarnação, que esclarece de maneira singular a Providência Divina; Deus quer que todos os homens sejam salvos. 
Alguns textos mostram o zelo de Deus pelas criaturas irracionais: 
“Eis o que diz o Senhor, que mandou o sol iluminar o dia, ordenou à lua e às estrelas clarearem a noite” (Jr 31,35); 
“O Senhor dispõe as chuvas da primavera e do outono” (Jr 5, 24); 
“O Senhor define a hora do parto das criaturas” (Jó 39,1). 
Não resta dúvida de que, o mundo e os homens são acompanhados pela sábia Providência Divina. 
Nenhum pormenor do universo escapa à ação providencial de Deus; para ela não há acaso; nada se realiza fora do plano concebido para o universo inteiro e para cada um dos seus componentes. 
De modo especial, porém, a Providência Divina se exerce em relação ao ser humano. Ela dirige os homens não só por meio da lei natural (não matar, não roubar, não falsificar a verdade...), mas também de acordo com a finalidade projetada para cada pessoa; cada qual tem uma vocação ou um chamado próprio, que lhe compete levar a termo no conjunto da humanidade e do mundo. 
Deus pode servir-se das criaturas, confiando a algumas o cuidado das outras. Em linguagem humana, diz-se que um governo é tanto mais perfeito quanto mais faz os súditos colaborar para o progresso final; ora Deus é esse governante perfeito, que faz que cada criatura seja aplicada não somente à conservação do seu próprio fim, mas também ajude as outras a conseguirem sua grande meta. Deus o faz não porque precise de auxiliares, mas para que as criaturas tenham, por assim dizer, um acréscimo de perfeição decorrente da colaboração mútua. Deus sabe utilizar até mesmo as falhas ou a resistência das criaturas para melhor realizar o seu plano.

O problema do mal

Para muitas pessoas, o grande obstáculo à fé na Providência Divina é o fato do mal (mal físico e mal moral) no mundo. Não conseguem perceber a sábia conduta da Providência Divina num mundo sujeito a tantos crimes, desastres desgraças, que afetam inocentes e crianças. 
Um Deus que causasse ou quisesse o mal, não seria Deus, pois, Deus é santo e perfeito; portanto o mal não vem de Deus. 
O homem, dotado de livre arbítrio, tem o poder de se desviar ou desviar outros do caminho prescrito por Deus, o homem o faz porque respeita a liberdade criada e, na medida em que Deus a respeita, Deus não pode querer que o homem livre não seja livre, mas também não pode querer a falta; Deus não quer retirar a liberdade do homem nem teleguiar as criaturas; Ele permite à livre opção do homem cometer suas faltas; mas nem por isto o pecado escapa à Providência Divina; Deus que é soberanamente bom e santo assume a tarefa de fazer reverter as faltas das criaturas em bem maior. 
Isto não é perceptível em cada caso de desgraça, mas será um dia visível quando, no final dos tempos, a humanidade puder contemplar sua história num olhar retrospectivo.
  O mal é uma lacuna, não tem causa direta; não é causado com tal. Tem, sim, causa indireta, isto é, aquela causa que é capaz de não realizar seus efeitos até o fim ou de maneira perfeita.
  
A PACIÊNCIA DE DEUS

A palavra paciência significa padecer. Etimologicamente entendido, tal vocábulo significa a capacidade de padecer com serenidade injúrias e contratempos. Todavia tal conceito não se aplica a Deus, pois Este não pode padecer, não pode mudar, não experimentas paixões. 
A Paciência de Deus é:
 - a bondade de Deus tem a capacidade de perdoar;
 - a tolerância dos insultos e das afrontas que as criaturas cometem contra o Criador, sem que Este sinta dor nem precise de consolação. Deus é magnânimo, não destrói o pecador, que Ele poderia aniquilar, se o quisesse; Deus suporta e acompanha a criatura, mesmo quando rebelde.
A Paciência de Deus é a sua vontade de tolerar, em virtude de sua misericórdia, os pecados dos homens, concedendo-lhes o tempo que a sua sabedoria julgue conveniente, para os levarem, mediante a penitência, à visão beatífica, sem os destruir quando pecam. 
O Deus eterno e todo-poderoso não se pode comportar com mesquinhez; por isto Ele é paciente para com o homem. 
Deus concede aos homens tempo de conversão e penitência. Ele está acima do tempo e abarca todos os tempos. 
Jesus manifestou sua paciência (expressão visível da Paciência de Deus), para com uma geração incrédula e discípulos tardos para crer: 
Mc 9,19 “Ó geração incrédula! Até quando estarei convosco? Até quando vos suportarei?” 
Na parábola do joio e do trigo, os servidores do patrão se impacientaram ao verem o joio crescer ao lado do trigo. Todavia o Senhor responde exortando à paciência; ele quer tolerar a era má até o dia da colheita. 
A paciência de Deus é identificada com a não-violência de Jesus; o Todo-Poderoso não constrange as suas criaturas livres, mas, ao mesmo tempo lhes dá a ver as suas obrigações.
  
PREDESTINAÇÃO

A predestinação é um aspecto da Providência Divina. É a Providência que dirige os homens ao seu fim sobrenatural. 
O tema seria isento de dificuldades se todos os homens se salvassem. O fato, porém, é que o Evangelho mesmo fala da perdição de alguns: “Mais numerosos são os chamamos do que os escolhidos” (Mt 20,16). Deus a ninguém impõe a vida eterna: “Aquele que te criou sem ti, não te salva sem ti” (Santo Agostinho). 
Rm 8, 28-30 “Aliás, sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são os eleitos, segundo os seus desígnios. Os que ele distinguiu de antemão, também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que este seja o primogênito entre uma multidão de irmãos. E aos que predestinou, também os chamou; e aos que chamou, também os justificou; e aos que justificou, também os glorificou”. 
Ef 1, 3-5 “Bendito seja Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que do alto do céu nos abençoou com toda a bênção espiritual em Cristo, e nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis, diante de seus olhos. No seu amor nos predestinou para sermos adotados como filhos seus por Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua livre vontade”. 
Em Deus existe um desígnio eterno, gratuito, de salvar os homens que Ele quer salvar. Deus vê desde todo o sempre os homens que Ele quer configurar a seu Filho feito homem; Ele os vê com amor. No tempo oportuno, Deus dá existência real a essas criaturas; chama-as à fé. Confere-lhes a graça do Batismo ou da justificação, que é penhor da glorificação definitiva. 
Deus nos faz filhos adotivos em Cristo, levando-nos à consumação do amor. Essa consumação, porém, nada tem de mágico ou mecânico; ela supõe a colaboração do homem, pois são por Deus beneficiados aqueles que O amam. Entra, pois, em ação a liberdade da criatura, que pode amar e não amar. 
            1Tm 2,4 “Deus nosso salvador deseja que todos os homens se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade.           

1Ts 5,9 “Porquanto não nos destinou Deus para a ira, mas para alcançar a salvação por nosso Senhor Jesus Cristo”. 
2Ts 2, 13-14 “porque desde o princípio vos escolheu Deus para vos dar a salvação, pela santificação do Espírito e pela fé na verdade. E pelo anúncio do nosso Evangelho vos chamou para tomardes parte na glória de nosso Senhor Jesus Cristo”. 
Ninguém se salva senão por efeito de um livre desígnio de Deus, que tem por objetivo configurar-nos a Cristo. Deus quer que todos sejam salvos. A salvação, porém, não é outorgada magicamente, mas supõe a livre colaboração do homem na fé e no amor. 
Assim, é excluída a tese de que alguns homens tenham sido predestinados para a condenação ou criados para a ruína definitiva. 
A predestinação é a iniciativa divina de levar os homens à salvação e oferecer-lhes os meios necessários para consegui-la. 
Deus quer salvar todos os homens (1Tm 2,4). Jesus Cristo morrer pra salvar a todos. Existe uma só predestinação: a dos justos para a glória. Porém, gozamos de livre arbítrio, pois aquilo que o pecado feriu, foi sanado pela graça de Cristo. Os que se perdem, são de antemão conhecidos por Deus, mas não por Ele induzidos à perdição. 
A BELEZA DE DEUS

Deus é beleza, pois Ele é esplêndida harmonia. 
Sl 103, 1-2 “Bendize, ó minha alma, o Senhor! Senhor, meu Deus, vós sois imensamente grande! De majestade e esplendor vos revestis, envolvido de luz como de um manto. Vós estendestes o céu qual pavilhão”.
 Sb 7,10 “Eu a amei mais do que a saúde e a beleza, e gozei dela mais do que da claridade do sol, porque a claridade que dela emana jamais se extingue”. 
A beleza das criaturas proclama a Beleza do Criador, de tal maneira que os humanos podem conhecer a Deus pelo espelho de suas belas obras. 
A admiração da beleza das criaturas é considerado como ponto de partida para se contemplar a beleza de Deus.

“Tarde te amei, Beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei! Tu estavas dentro de mim e eu te buscava fora de mim” (Santo Agostinho).
 O homem se torna feio pelo pecado provocado pela beleza das criaturas indevidamente amadas. Mas pode tornar-se belo mediante a mesma beleza das criaturas amadas como imagens da Beleza divina. As criaturas não são feias; é o pecado que as tornam feias, desde que o homem não queira passar à Fonte de toda beleza. 
Sl 44,3 “Sois belo, o mais belo dos filhos dos homens. Expande-se a graça em vossos lábios, pelo que Deus vos cumulou de bênçãos eternas”.
  Pela Encarnação Jesus Cristo o mais belo, torna-se sem beleza nem esplendor por causa do nosso pecado (Is 53, 2-6). 
A Beleza Divina não é senão a harmonia das múltiplas perfeições de Deus, que são idênticas à simplicidade da essência divina. Nessa Beleza Divina estão as idéias exemplares de todas as realidades criadas. Nestas a beleza é algo de acidental; em Deus a beleza é essencial; ela encerra em si, de maneira eminente, todas as esparsas em tudo o que é belo. Não há criatura alguma que, criado como vestígio da Divindade, não seja bela e não represente uma idéia da Beleza Divina. 
A esplêndida Beleza de Deus Criador se manifesta, de maneira culminante, não no mundo físico, nem mesmo nos anjos, mas em Maria Santíssima, Mãe de Deus feito homem, e, por excelência, na santíssima humanidade de Cristo. 
A SANTÍSSIMA TRINDADE

O Deus que se revelou no Antigo Testamento, é o Deus que no Novo Testamento aparece como Pai e Filho e Espírito Santo. 
O Antigo Testamento, relido à luz do Novo Testamento, sugere, num ou noutro caso, o mistério da Santíssima Trindade.

As formas de plural

Há textos em que Deus fala de si no plural.
 Gn 1,26 “Então Deus disse: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança”.
 Gn 3,22 “E o Senhor Deus disse: “Eis que o homem se tornou como um de nós, conhecedor do bem e do mal”.
 Gn 11,7 “Vamos: desçamos para lhes confundir a linguagem, de sorte que já não se compreendam um ao outro”.
 Is 6,8 “Ouvi então a voz do Senhor que dizia: Quem enviarei eu? E quem irá por nós? Eis-me aqui, disse eu, enviai-me”.
 Estes textos vistos à luz do Novo Testamento foram interpretados em sentido trinitário. 
Sb 7, 22-23 “Há nela (Sabedoria), com efeito, um espírito inteligente, santo, único, múltiplo, sutil, móvel, penetrante, puro, claro, inofensivo, inclinado ao bem, agudo, livre, benéfico, benévolo, estável, seguro, livre de inquietação, que pode tudo, que cuida de tudo, que penetra em todos os espíritos, os inteligentes, os puros, os mais sutis”.
 Os judeus após o exílio tanto estimavam a Sabedoria de Deus que a conceberam como pessoa ao lado de Deus, assistente do Criador nos inícios do mundo.
 Também a Palavra de Deus aparece personificada no Antigo Testamento. Trata-se de figura poética, que, à luz do Novo Testamento, insinua a segunda Pessoa da Santíssima Trindade. 
Is 55, 10-11 “Tal como a chuva e a neve caem do céu e para lá não volvem sem ter regado a terra, sem a ter fecundado, e feito germinar as plantas, sem dar o grão a semear e o pão a comer, assim acontece à palavra que minha boca profere: não volta sem ter produzido seu efeito, sem ter executado minha vontade e cumprido sua missão”.  
O Espírito do Senhor é a forte pela qual Deus intervém na vida dos homens.
 Ne 9,30 “Vossa paciência para com eles durou muitos anos; vós lhes fazíeis admoestações pela inspiração de vosso Espírito, que animava os vossos profetas!.
 Deve-se dizer que o Antigo Testamento não conheceu a Santíssima Trindade. Em seus textos, porém, encontram-se prenúncios do mistério, preparando a manifestação plena da vida de Deus no Novo Testamento.
 A revelação da Santíssima Trindade ocorre no Novo Testamento.
 2Cor 13,13 “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão do Espírito Santo estejam com todos vós!” 
No Novo Testamento, Deus significa o Pai ou a primeira pessoa da Santíssima Trindade. É lhe atribuído o amor, embora o Filho e o Espírito Santo também sejam amor.
 1Cor 12,4-6 “Há diversidade de dons, mas um só Espírito. Os ministérios são diversos, mas um só é o Senhor. Há também diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos”. 
O texto se refere a cada uma das três Pessoas Divinas, e atribui a cada qual uma modalidade de intervenção na história da salvação: Deus, o Pai, é o princípio de realizações, pois é quem desencadeia a história na qualidade de Criador; Deus Filho é o princípio de ministérios ou funções na Igreja, pois ele se fez ministro do Pai para a salvação humana; o Espírito Santo é o autor dos dons ou dos carismas, pois Ele mesmo é o dom, por excelência. 
Tt 3,4-6 “Mas um dia apareceu a bondade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com os homens. E, não por causa de obras de justiça que tivéssemos praticado, mas unicamente em virtude de sua misericórdia, ele nos salvou mediante o batismo da regeneração e renovação, pelo Espírito Santo, que nos foi concedido em profusão, por meio de Cristo, nosso Salvador”.   
Como se vê, o Pai é tido como o Amor que toma a iniciativa de nos salvar; o Filho é o Mediador ou o Pontífice que traz a salvação; esta é aplicada a nós pelo Espírito Santo. 
Mt 28, 18-19 ” Mas Jesus, aproximando-se, lhes disse: Toda autoridade me foi dada no céu e na terra. Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” 
Jo 14,16 “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que fique eternamente convosco” 
Jo 15,26 “Quando vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de mim” 
At 2,32-33 “A este Jesus, Deus o ressuscitou: do que todos nós somos testemunhas. Exaltado pela direita de Deus, havendo recebido do Pai o Espírito Santo prometido, derramou-o como vós vedes e ouvis” 
Estes são alguns dos textos que se pode deduzir do Novo Testamento sobre o mistério da Santíssima Trindade.
PERICORESE

Pericorese significa intimidade da vida divina. 
O Símbolo do Concílio de Florença (1438-1445) reza o seguinte: 
“Em virtude desta unidade, o Pai está todo no Filho e todo no Espírito Santo; o Filho está todo no Pai e todo no Espírito Santo, e o Espírito Santo está todo no Pai e no Filho. Nenhuma dessas Pessoas procede outra na eternidade ou a supera em grandeza ou a ultrapassa em poder”. 
As três Pessoas Divinas coexistem e co-habitam mutuamente entre si.

Pai e Filho

Jo 14,11 “Crede-me: estou no Pai, e o Pai em mim” 
Note-se que em Jesus (Deus feito homem) havia uma só Pessoa (um só Eu, um só sujeito), e essa Pessoa era divina; Jesus, consequentemente, fala da imanência no Pai e do Pai no Filho. 
Jo 10,30 “Eu e o Pai somos um”
            Não uma só Pessoa, mas uma só substância, a tal ponto que a mesma substância está toda no Pai e toda no Filho.
            Jo 17, 21-23 “Para que todos sejam um, assim como tu, Pai, estás em mim e eu em ti, para que também eles estejam em nós e o mundo creia que tu me enviaste. Dei-lhes a glória que me deste, para que sejam um, como nós somos um: eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e o mundo reconheça que me enviaste e os amaste, como amaste a mim”
            Neste texto a união de Cristo com o Pai é protótipo da união dos cristãos entre si e com Cristo (tronco da videira verdadeira e Cabeça do Corpo Místico); uma só seiva, uma só vida garante a união em ambos os casos.

Pai e Filho e Espírito Santo 
1Cor 2, 10-11 “Espírito penetra tudo, mesmo as profundezas de Deus. Pois quem conhece as coisas que há no homem, senão o espírito do homem que nele reside? Assim também as coisas de Deus ninguém as conhece, senão o Espírito de Deus" 
O Espírito Santo é apresentado como aquele que penetra os íntimos desígnios de Deus e conhece a Deus como o espírito do homem conhece a intimidade do homem. Isto significa a imanência do Espírito Santo na essência divina e, por conseguinte, nas outras Pessoas Divinas. Em Deus tudo é comum. 
Há plena igualdade entre as três Pessoas Divinas sob todos os aspectos. Nenhuma é menor do que as outras em dignidade, poder, sabedoria, bondade, majestade, glória... Nenhuma é anterior às outras. 
A fé católica consiste em adorar um só Deus na Trindade e a Trindade na unidade, sem confundir as Pessoas nem dividir. 
Pois uma é a Pessoa do Pai, outra a do Filho e outra a do Espírito Santo. Mas o Pai, o Filho e o Espírito Santo são uma só Divindade, têm a mesma glória e coeterna majestade.
                                                     
                                                       Pai

 

  Filho                     Espírito Santo


            Cada Pessoa está em cada Pessoa e todas em cada uma e cada uma em todas e todas em todas. E todas são um só Deus.   
AS PESSOAS  -  O PAI

Podemos atribuir às Pessoas Divinas nomes próprios e nomes apropriados. Nomes próprios são aqueles que convêm a uma Pessoa apenas, ao passo que apropriados são os nomes que se referem à essência divina e são comuns às três Pessoas, mas, por terem afinidade com algum nome próprio, são atribuídos à respectiva Pessoa.
O Pai é designado por três nomes... nomes que estão associados à primeira processão: Pai, Inascível, Princípio sem Princípio.

Examinemos o nome “Pai”.

Já no Antigo Testamento, quando os judeus não conheciam a SSma. Trindade, Deus (Javé) era chamado Pai, porque era tido como o Doador da Vida e o Amigo dos homens:
   
Is 63,15-16 “Olhai do alto do céu e vede de vossa santa e gloriosa morada: Que foi feito de vosso amor ciumento e de vosso poder, e da emoção de vosso coração? Dai livre expansão à vossa ternura, porque sois nosso pai. Abraão, de fato, nos ignora, e Israel não nos conhece; sois vós, Senhor, o nosso pai, nosso Redentor desde os tempos passados”
Dt 32,6 “E assim que agradeceis ao Senhor, povo frívolo e insensato? Não é ele teu Pai, teu Criador, que te fez e te estabeleceu? 
Ex 4,22 “Tu lhe dirás: assim fala o Senhor: Israel é meu filho primogênito”
No Antigo Testamento o nome “Pai” exprime a relação de Deus com as criaturas ou o que se chama “relação ad extra, relação para fora”. No Novo Testamento, “Pai” tanto pode significar a relação de Deus com o mundo, relação comum às três Pessoas Divinas, pois as três criam e conservam as criaturas, como pode significar uma relação ad intra (para dentro) ou a relação do Pai ao Filho. No primeiro caso “Pai” é um nome da essência divina ou da Divindade (sem distinção de pessoas). No segundo caso, é um nome pessoal, próprio da primeira Pessoa, como se depreende dos seguinte textos:
Mt 11,25-27 “Disse Jesus: Eu te louvo, ó Pai, o Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e doutos, e as revelaste aos pequeninos...Tudo me foi entregue por meu Pai, e ninguém conhece o Filho senão o Pai e ninguém conhece o Pai senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”.
Mt 16,17 “Bem-aventurado és tu, Simão, filho de Jonas, porque não foram a carne e o sangue que te revelaram isso, mas meu Pai que está nos céus”.
Lc 23,46 “Jesus soltou um grande grito: Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito!”
Mt 28,19 “Ide, e fazei que todas as nações se tornem discípulos, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
At 2,33: “Exaltado pela direita de Deus, Ele recebeu do Pai o Espírito Santo prometido e o derramou”.
Rm 15,6: “De um só coração e de uma só voz glorifiquem o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”.
Ap 1,6: “Ele fez de nós uma Realeza e Sacerdotes para Deus seu Pai”. Cf. 1 Cor 1,3; Gl 1,1; Ef 4,6; Cl 2,2; Tg 1,27; 1Pd 1,13; 2 Pd 1,17; Jd 1; Jo 1,2...
Ademais, a Liturgia da Igreja, os símbolos de Fé e os documentos conciliares em geral dão à primeira Pessoa o nome de Pai como sendo o apelativo que melhor a caracteriza.
Em suma, deve-se dizer que em Deus a paternidade constitui a primeira Pessoa como tal, ao passo que, entre os homens, a paternidade é algo que sobrevém à humanidade já formada.
No Novo Testamento, o nome “Pai” é atribuído a Deus como tal ou à essência divina no seu relacionamento com as criaturas. Assim, por exemplo, em: 
Jo 20,17: “Subo a meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus”.
Mt 5,48: “Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito”
           Mt 6,9: “Pai nosso, que estais nos céus”. Cf. Rm 8,29.
Já que toda relação de Deus ad extra ou para fora é comum Às três Pessoas, segue-se que Deus como Deus ou por sua essência é Pai das criaturas. Todavia a piedade cristã acostumou-se a apropriar o nome de “Pai” à primeira Pessoa da SSma. Trindade, visto que essa pessoa é Pai ad intra ou no seio mesmo da SSma. Trindade.

A paternidade divina ad extra ou comum às três Pessoas comporta diversos graus:

  -  Deus é Pai em relação a todas as criaturas, pois cada qual traz um vestígio do Criador;

  - Deus é mais propriamente Pai em relação às criaturas feitas à imagem e semelhança do Criador (Gn 1,26-28);

  -  passando para a ordem sobrenatural, podemos dizer que a paternidade divina se torna mais densa ainda pela inserção do cristão em Cristo mediante o Batismo: “Recebeste o Espírito de filhos adotivos pelo qual clamamos Abba, Pai!” (Rm 8,15; cf. Gl 4,4-7)

  -  a plenitude da graça na pátria definitiva dará o pleno sentido à paternidade divina.

Passemos a outro nome do Pai.

O Ingênito ou Inascível
   
Estes dois títulos significam que o Pai não nasceu (como o Filho) nem procedeu (como o Espírito Santo). É o Princípio sem Princípio 
O conceito de não gerado ou não nascido necessita de ser bem determinado, pois pode ter três sentidos; significa:

-  Incriado ou não nascido. Em tal caso aplica-se as três Pessoas Divinas;

-  Pode significar também não procedente por geração ou não gerado. Então aplica-se também ao Espírito Santo;

- Pode significar não procedente de outrem ou simplesmente não procedente. Somente nesta acepção é designativo próprio do Pai. Este é ingênito no sentido de não procedente.

Esta variedade de sentidos deu ocasião a calorosos debates entre os Padres gregos. Diziam, por exemplo, os arianos: se Deus é ingênito e o Filho é gerado, o Filho não é Deus. Em resposta, deve-se dizer: Deus como Deus ou a essência não é gerada, mas em Deus mesmo há uma procedência por via de geração, que é a do Filho. Este é Deus de Deus, Luz da Luz, gerado...   
Notemos ainda que outro aspecto dessa temática provocou dúvidas e questionamentos na teologia grega antiga: dois vocábulos muito semelhantes entre si:

- gennetós (nascidos) e génetos (criado) geraram sérias discussões nos primeiros séculos; gennetós significava a fé ortodoxa, ao passo que génetos (sem um n) implicava a heresia, pois equivalia a dizer que Deus (Filho) foi criado.
            Daí a formulação do Credo niceno em 325: “gerado, não criado, consubstancial ao Pai”.

O Princípio sem Princípio

O termo “Princípio” pode ser aplicado a Deus em seu relacionamento com as criaturas. O ato de criar é comum a três Pessoas (não implica oposição relativa entre elas), de modo que Deus como Deus é o Criador ou o Princípio de tudo o que existe fora de Deus. O Concilio de Florença, em 1442, o declarou:
“O Pai, o Filho e o Espírito Santo não são três princípios das criaturas, mas um só Princípio” (Ds n.º 1331).
Todavia Princípio pode ter significado na vida íntima do próprio Deus. Aplica-se ao Pai como sendo Aquele do qual procedem (sem ser causados) o Filho e o Espírito Santo. Por este designativo o Pai se distingue do Filho e do Espírito Santo, que dele procedem.
Não há dúvida de que em relação ao Espírito Santo o Filho Também é Principio, pois o Espírito procede do Pai e do Filho. O Concílio geral de Lião (1274) o declarou:
“Desde toda a eternidade, o Espírito Santo procede do Pai e do Filho, que lhe são um só Princípio” (Ds n.º 850).
Contudo deve-se observar que o Filho só é Princípio porque Ele o recebe do Pai. O Concílio de Florença ensina:
“Tudo o que o Filho é ou tem, Ele o recebe do Pai, de modo que Ele é Princípio derivado de Princípio” (Ds 1331).
   
Por conseguinte, em relação ao Espírito Santo o Filho é um só Princípio juntamente com o Pai. O Concílio de Lião II afirma que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho não com se fossem dois Princípios, mas como sendo eles um só Princípio. Estas afirmações dissipam a suspeita de heresia que os cristãos ortodoxos orientais lançam sobre o Filioque dos latinos: estes não colocam o Filho no mesmo plano que o Pai quando se trata das origens. Os latinos subscrevem tranquilamente a sentença de São Gregório de Nissa (+ 394) 
“Ser sem Princípio de origem é próprio unicamente do Pai”
O Pai é, pois, o Princípio. Na antiga literatura cristã, encontra-se mesmo a expressão equivalente: o Pai é a fonte e a origem de toda Divindade. É o Concílio XI de Toledo quem o diz em 675:
“O Pai não tem origem em quem quer que seja. O Filho por Ele é gerado e o Espírito Santo procede dele. Por conseguinte, o Pai é fonte e origem de toda Divindade” (Ds 525). 
É freqüente na literatura patrística a imagem do Pai como Fonte e como Raiz. Eis alguns testemunhos:
         Tertuliano: (+ 220): “Não receio chamar o Filho caule da raiz, córrego da fonte, raio do sol. Pois toda origem é uma modalidade de Pai, e tudo que procede de uma origem é uma espécie de prole. Isto é verídico principalmente quando se trata da Palavra de Deus, que tem o nome próprio de Filho”.
Dionísio Areopagita (séc.V): “A Divindade como Fonte é o Pai. Jesus e o Espírito Santo são, por assim dizer, os rebentos divinos e como que os riachos dessa Divindade divinamente fecunda”.
São Basílio de Cesaréia (+ 379): “O Pai possui o ser perfeito e completo. Portanto, Ele
é a raiz e a fonte do Filho e do Espírito Santo”.  
São João Damasceno (+ 749): “Quando considero as relações recíprocas das Pessoas Divinas, reconheço que o Pai é o Sol essencial, a fonte da bondade, o abismo da substância, do Logos, da Sabedoria, da Divindade: fonte, por geração e por processão, do bem oculto nesta mesma fonte”.
Neste último texto, chama-nos atenção a nova imagem “abismo...” O Pai é abismo porque é riqueza insondável de vida e perfeição. Como ninguém vê o fundo de um grande abismo, assim ninguém conhece a grandeza de vida e santidade do Pai. Essa perfeição insondável se manifesta no Logos, na Palavra, que dela procede. Por isso o Filho é dito “a imagem do Pai” (CL 1,15). Pode mesmo motivo (profundidade insondável) o Pai também é dito o silêncio, do qual procede a Palavra.
Santo Inácio de Antioquia (+ 107): “ Há um só Deus a manifestar-se por Jesus Cristo, Seu Filho, Sua Palavra saída do silêncio, que em tudo agradou Àquele que o enviou”.
Assim Abismo e Silêncio são dois nomes metafóricos que exprimem o que a de próprio na primeira Pessoa as SSma. Trindade.
Não é supérfluo notar que o termo “Princípio” em Deus não significa prioridade no tempo, nem maior dignidade ou perfeição. Quando Jesus diz: “O Pai é maior do que eu” (Jo 14,28), fala como homem; verdade é que alguns antigos teólogos julgam que Jesus se refere à filiação eterna da segunda Pessoa, excluindo, porém, qualquer inferioridade do Filho em relação ao Pai.
Os gregos empregam a palavra aitía, além de arché (princípio), para designar a função de Princípio ou Fonte própria do Pai. Tal palavra em latim é traduzida por causa, conceito que não tem propósito em Deus. Os gregos, porém, dão a aitía o significado mais amplo de “ponto de partido, ponto de origem ou emanação”. Como quer que seja, tal vocábulo grego suscitou dificuldades no diálogo entre latinos e gregos dada a ambigüidade do seu significado.

O predicado “Princípio (principiado)” pode ser atribuído ao Filho na medida em que:

- o Filho é, juntamente com o Pai, princípio do Espírito Santo, Princípio principiado, ao passo que o Pai é Princípio não principiado;
   
- o Filho é, com o Pai e o Espírito Santo, Criador ou Princípio do mundo, no sentido (agora) de causa do mundo;

- o Filho é a Causa Exemplar ou Modelo em vista do qual o Pai cria todas as coisas;

- o Filho é o Princípio da re-criação do mundo após o pecado, fazendo-se homem e ressuscitando após a morte.
   
O Espírito Santo é Princípio (principiado) a dois títulos:

-  é Criador com o Pai e o Filho;

-  é Princípio de santificação das criaturas .

DEUS PAI

O nome “Deus” é comum às três Pessoas, mas é apropriado ao Pai pelos próprios escritores do Novo testamento. Com efeito, observa-se que nos escritos paulino  o apelativo Deus designa o Pai , ao passo que o Filho é chamado “Senhor”. Assim, por exemplo:
   
1 Cor 1,3: “Graça e paz a vós da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo!”
   
2 Cor 1,3: “Bendito seja o Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo!”
   
Ef 1,3: “Bendito seja o Deus e Pai do nosso Senhor Jesus Cristo...!”
   
Ef 1,17: “O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da Glória”.
   
Na linguagem comum de nossos dias, quando se fala de Deus, tem-se em vista a Divindade como tal e não a primeira Pessoa da SS. Trindade. A concepção de que Deus é Pai que nos salva pelo Filho e nos santifica pelo Espírito Santo, ainda é relativamente rara. Todavia a piedade cristã vai ao Pai pelo Filho no Espírito Santo.

AS PESSOAS  -  O FILHO

O vocábulo Filho é aplicado pela própria Escritura à Segunda Pessoa. Basta lembrar:
            Mt 28,19: “...batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”.
   
Trata-se de nome correlativo ao do Pai. Indica a processão por via de geração ou, segundo a teoria agostianiano-tomista, por via do intelecto. É certo que tal apelativo não implica prioridade para o Pai nem inferioridade para o Filho. Por isto já os antigos escritores da Igreja enfatizavam a índole transcendental e misteriosa da processão do Filho.
São Gregório de Nazianzo (+ 390), por exemplo, escrevia a Eunômio e à sua escola, que pretendiam penetrar nos arcanos da Divindade:
“Como foi Ele gerado?, perguntas. – Por certo, nada de muito grande haveria nessa geração, se o pudesses saber, tu que nada sabes da tua própria geração ou, ao menos, tu que conheces pouca coisa, de que tens pudor de falar. E tens a pretensão de tudo conhecer? Vamos, põe-te a estudar, pesquisa e descobre as razões da agregação embrionária, da conformação anatômica, da ligação entre o corpo e a alma...
Explica-me isso tudo ou, caso contrário, não raciocines a respeito da geração de Deus. Como foi Ele gerado? Eu o repito com indignação que tal pergunta merece: a geração de Deus é honrada pelo silêncio. Para ti, já é muito saber que Ele é gerado. Quanto a entender o como, não o concedemos aos anjos, menos ainda a ti”.
Tertuliano (+ 220) recorre a certas imagens que ilustram o mistério, ainda que imperfeitamente:
“Deus proferiu a Palavra, como o Paráclito ensina, à semelhança da raiz que produz o caule, da fonte que produz o rio, e do sol que produz o raio... E não receio chamar o Filho caule da raiz, rio da fonte, raio do sol. Toda origem se abre para fora, e tudo o que procede da sua origem é um rebento. Isto é muito mais verídico ainda quando se trata da Palavra de Deus, cujo nome próprio é Filho. Não obstante, o caule não se separa da raiz, nem o rio se separa da fonte, nem o raio se separa do sol, como a Palavra não se separa de Deus. De acordo com essas imagens professo que o Pai e sua Palavra ou o Pai e o Filho são dois. Pois a raiz e o caule são duas coisas, mas conjugadas. A fonte e o rio são duas realidades, mas inseparáveis. O sol e o raio são duas modalidades, mas unidas entre si”.
São Hilário de Poitiers (+ 366) corrige o que haja de imperfeito nessas comparações:  
“Frequentemente chamamos a atenção: em nosso discurso sobre a unidade de Deus Pai e do Filho, não devemos introduzir o vício das opiniões humanas, nem supor extensão, sucessão, derramamento, como se verifica no riacho que sai da fonte, no ramo sustentado pela raiz ou no calor que o fogo espalha pelo espaço. Essas coisas são prolongamentos inseparáveis dos seus suportes e não subsistem em si mesmas. O calor esta no fogo, o ramo na árvore, o riacho na fonte... Há, pois, aí uma só e mesma coisa e não duas substâncias, das quais uma se deriva da outra. A árvore não é outra coisa senão o ramo, o fogo não é outra coisa senão o calor e a fonte não pode ser outra coisa senão o riacho. Ao contrário o Deus Filho único é, por uma indescritível naturalidade, Deus subsistente, verdadeiro Filho de Deus ingênito, descendente incorpóreo de uma natureza incorpórea. Deus verdadeiro e vivo, Deus inseparável de Deus que o gerou. Assim a natividade que o faz subsistir, não faz que seja outra natureza”.
Como se vê, São Hilário, procurando esclarecer os dizeres de Tertuliano, também escreve sentenças difíceis, que ao menos têm a vantagem de evidenciar que de Deus só podemos falar afirmando e negando: afirmando perfeições que se encontram nas criaturas e têm sua fonte no Criador, mas negando a maneira limitada e precária como tais perfeições se realizam nas criaturas.
Citemos ainda Santo Atanásio (+ 373), que procurava explicar aos arianos a diferença entre geração humana e geração divina:
“Diferem entre si a geração dos homens e a processão do Filho a partir do Pai. Com efeito, a prole dos homens consta de partes de seus genitores, pois a natureza dos corpos não é simples, mas fluente e composta de partes. Os genitores perdem algo de sua substância, e o alimento lhes proporciona um dom reparador: eis por que os homens se tornam sucessivamente pais de muitos filhos. Mas Deus, sendo indivisível, é, indivisivelmente e sem mudança, Pai do Filho. Num ser incorpóreo, não pode haver nem fluxo que saia nem fluxo que entre, como entre os homens o há. Deus, sendo simples por natureza, é o Pai de um só e único Filho... é o Logos do Pai, no qual é possível conceber a impassibilidade e indivisibilidade do Pai. Pois, se a palavra dos homens é gerada sem paixão nem divisão, quanto mais a de Deus o será!” 
A filiação, como é entendida em Deus, explica a consubstancialidade, a eternidade e a Divindade da segunda Pessoa da SSma. Trindade.
A filiação eterna do Filho é penhor da filiação adotiva dos homens. Na verdade, o Filho de Deus se fez Filho do Homem e novo Adão. Enxertados pelo Batismo no Corpo prolongado ou místico do novo Adão, os homens participam da filiação divina. Esta se estende através dos tempos mediante a humanidade de cristo. Com razão, pois, se diz que fomos feitos filhos no Filho, ilustrando as palavras de São Paulo: 
“Não recebestes um espírito de escravos, para recair no temor, mas recebestes um espírito de filhos adotivos, pelo qual clamamos: Abba, Pai” (Rm. 8,15; Gl. 4,6).

IMAGEM

O nome Imagem é atribuído por S. Paulo a Jesus Cristo (Deus feito homem): “Ele é a Imagem do Deus invisível” (CL 1,15; 2Cor 4,4). A teologia, porém, julga que o título compete ao Filho também no íntimo da vida trinitária, ou antes, mesmo da Encarnação. Isto, porque todo filho é, de algum modo, imagem de seu Pai. Há, pois, um nexo estrito entre Filho e Imagem.
Os antigos Padres da Igreja valiam-se do conceito de Imagem para refutar os hereges sabelianos ou modalistas (não haveria distinção de Pessoas em Deus) e arianos (o Filho seria distinto do Pai, mas criatura). Com efeito, o conceito de Imagem supõe um original, portanto dualidade de pessoas; ademais a imagem perfeita de Deus só pode se divina, portanto implica unidade de natureza.
Todavia um problema sutil se colocava para a teologia antiga e medieval, a saber: a semelhança que deve haver entre o exemplar e sua imagem, pode ser entendida de diversas maneiras: assim a estátua é a imagem de um herói porque ela imita os traços visíveis desse herói; um discípulo é imagem de seu mestre, porque reproduz as aulas e os ensinamentos deste; um filho pode ser a imagem de seu pai por seus traços pessoais ou seu temperamento. Transpondo a questão para o plano da SS. Trindade, pergunta-se: de que maneira o Filho como imagem é semelhante ao Pai? Será porque, consubstancial ao Pai possui a natureza mesma do Pai ou possui a Divindade, que é comum às três Pessoas? Ou será porque reproduz os traços pessoais ou a paternidade do Pai?
Não nos deteremos sobre a discussão de tão difícil questão, mas apresentamos a resposta de São Roberto Belarmino (+ 1621), que afirma:
   
A imagem reproduz a perfeição do exemplar do qual ela procede. Ora o exemplar do Filho ou o termo do qual o Filho procede, é o Pai não como Deus, mas como Pai.
   
Por conseguinte, o Filho é a imagem do Pai como Pai.
   
O texto de Cl 1,15 tem seu paralelo em Hb 1,3, onde se lê:
   
“(O Filho) é o resplendor as sua glória e a expressão do seu ser (charaktér tes hypostáseos autou)”.

Estes dizeres significam que o Filho é a expressão ou efígie (charaktér) da substância de Deus. Ele é como a marca deixada por um carimbo, reproduzindo exatamente os traços do selo ou do carimbo.
    
Isto nos leva a afirmar que, se em Deus o Filho é a eterna Imagem do Pai, no tempo feito homem, Ele se tornou, para os homens, a Imagem do Deus invisível (Cl 1,15). Assim, quando o Apóstolo Filipe pediu a Jesus que lhe mostrasse o Pai, o Senhor respondeu: “Há tanto tempo estou convosco e não me conheces Filipe? Quem me viu, viu o Pai. – Não crês que estou no Pai e o Pai está em mim?” (Jo 14,9-10). Na qualidade de Imagem do Pai feita carne, o Filho nos revelou o Pai:
“A Deus jamais alguém viu; o Filho único, que está voltado para o seio do Pai, Ele o deu a conhecer” (Jo 1,18).
Os Padres da Igreja estenderam essa função manifestativa do Filho – Imagem – ás teofanias (ou aparições de Deus) do Antigo Testamento. Já que o Pai é o Deus Invisível, quem se revela aos patriarcas, era a segunda Pessoa da SS. Trindade; antecipada assim o mistério da Encarnação, mostrando-se a Abraão, Isaque, Jacó...
Verdade é que o Espírito Santo é tido por alguns Padres da Igreja como imagem do Filho. É o que, por exemplo, São João Damasceno afirma:   
“O Espírito Santo é a imagem do Filho. Pois ninguém pode dizer Jesus é o Senhor a não ser pelo Espírito Santo” (1 Cor 12,3). Por conseguinte, é pelo Espírito Santo que conhecemos a Cristo, Filho de Deus e Deus, e é no Filho que vemos o Pai... Palavra mensageira, sopro manifestador da Palavra. Assim o Espírito Santo é a semelhança e completa imagem do Filho, com diferença apenas na processão. Pois o Filho é gerado e não procede como o Espírito Santo” 
O conceito de imagem, próprio do Filho, é apropriado ao Espírito Santo, na medida em que este revela o Filho; cf. Jo 16,14-15. A processão por via de geração e no plano intelectual é que faz do Filho a perfeita imagem do Pai. O Espírito Santo procede por via do amor; ora o amor não proteja imagem, mas atrai o objeto amado e é atraído por este.

O Logos

            São João, e ele só, atribui como próprio a segunda Pessoa o nome Logos; ver Jo 1,1.914; 1Jo 1,1-2; Ap 19.13.   
O vocábulo em grego tem três significados; designa: 1) o intelecto ou a razão; 2) o conceito formulado pelo intelecto; 3) a palavra que manifesta o intelecto e o conceito. 
De imediato, uma observação lingüística nos faz perceber a afinidade entre Logos e Filho: em português utilizamos o mesmo verbo conceber para exprimir o produto da intelecção – o conceito – e o produto da geração – o concepto; assim o filho e o conceito (a noção, a palavra) estão em paralelo entre si. È o que ilustra o fato de que a segunda Pessoa da SSma. Trindade seja chamada Filho e Logos.   
O vocábulo Logos tem afinidade também com o termo Imagem, pois ambos são reveladores, manifestam algo de oculto. Assim a trilogia “Filho, Imagem, Logos” é homogênea.   
Pergunta-se: donde terá São João tirado a palavra Logos para caracterizar Deus Filho?

Em resposta, apontam-se fontes veterotestamentárias:
 - A Sabedoria era personificada em textos posteriores ao exílio,... personificada poeticamente, pois os judeus nunca admitiriam uma Pessoa divina ao lado de Javé. Tenham-se em vista os textos de Jó 28,1-28; Br 3,4-4,4; PR 8, 12-36; Eclo 24,5-32; Sb 7, 22-26.   
A Sabedoria “sai da boca do Altíssimo, e, como a neblina cobre a terra... reina sobre todos os povos e nações” (Eclo 24,3-6). Só Deus sabe onde ela habita; Só Deus conhece o caminho que leva a ela (cf. Jó 28,23). Desde a eternidade, ela foi estabelecida; antes das montanhas e dos mares, foi gerada; assistia a Deus, como mestre-de-obra, na criação do mundo todo o tempo ela brincava na presença de Deus e se alegrava com os homens (cf. Pr 8,22-31). Ela apareceu sobre a terra e no meio dos homens conviveu (cf. Br 3,38). “É um espírito inteligente, santo, imaculado, amigo do bem, todo-poderoso... É um reflexo da luz eterna, um espelho nítido da atividade de Deus, uma imagem da sua bondade” (Sb 7,22-26).   
- Também a Palavra foi personificada na literatura poética do Antigo Testamento. Com efeito; a palavra (dabar), para os semitas, tinha mais importância do que para nós. Atribuíam-lhe eficácia própria, que durava para além do momento em que era proferida.
   
Assim a palavra de Deus é criadora:
   
Gn 1,3.6.9.11.14-15.20.24: “Deus disse...e assim se fez”.
   
Sl 33,6: “O céu foi feito pela Palavra do Senhor”.
   
Sb 9,1: “Deus dos Pais, ... que tudo criaste com tua palavra”.
   
Sl 147,4: “O Senhor envia suas ordens à terra e sua palavra corre velozmente”.
   
A eficácia atribuída à palavra de Deus explica tenha sido ela concebida como pessoa ao lado do próprio Deus; assim, por exemplo, nos seguintes textos:
Is 55,10-11: “Como a chuva e a neve descem do céu e para lá não voltam sem ter regado a terra,... tal ocorre com a palavra de minha boca; ela não torna a mim sem fruto; antes, ela cumpre a minha vontade e assegura o êxito da missão para a qual a enviei”.
Sb 18,14s: “Quando um silêncio profundo envolvia todas as coisas e a noite meditava o seu rápido percurso, tua palavra onipotente precipitou-se do trono real dos céus”.  
Sb 16,12: “Não os curou nem erva nem ungüento, mas a tua palavra,Senhor,que a tudo cura” 
- Também se aponta como fonte joanina o Logos como era entendido pelo filósofo judeu Filon de Alexandria (+ 44 d. C.); tal autor atribuía ao Logos a função de intermediário entre Deus e as criaturas: seria a Sabedoria Divina, Filho, anjo, grão-sacerdote de Deus, imagem de Deus, modelo do mundo sensível, instrumento da criação.  
Ora é possível que o evangelista, escrevendo na Ásia Menor ou em ambiente helenista, tenha desejado recorrer a um vocábulo caro aos gregos e aos judeus da diáspora para designar a segundo Pessoa da SS. Trindade. Combinava bem com os conceitos de Filho e Imagem.

            A Tradição patrística desenvolveu as várias acepções de Logos:
   
Intelecto – Escreve S. Máximo de Turim (+ 423):
   
“Falando do Deus Logos, Dionísio explica por que é chamado Logos, e indica uma só causa: Ele contém em si os exemplares de todas as criaturas. Os exemplares de tudo que foi criado estão nele como causa de todas as criaturas. Sim; por Ele existem todas as cousa”
            Deus é como o artesão que tem em sua mente (logos) os exemplares de todos os seus artefatos.
   
Palavra – São Gregório de Nissa escreve:
   
“A palavra de Deus não deve a sua subsistência transitória ao impulso de uma linguagem articulada. À nossa caduca natureza corresponde uma palavra caduca; à única natureza eterna e sempre existente corresponde uma palavra eterna e subsistente”.
   
Já que o Filho manifesta o Pai, Ele é dito “a definição do Pai” São palavras de São Gregório de Nazianzo:
   
“Podemos sustentar também que o Filho é chamado Logos porque Ele se relaciona com o Pai como a definição se relaciona com o sujeito definido. Pois Logos significa também definição, de modo que aquele que concebe o Filho concebe também o Pai. Por conseguinte o Filho é uma declaração, concisa e fácil de se perceber, da natureza do Pai. Pois todo filho é uma silenciosa definição de seu pai”.      
Está claro que, no caso da SS. Trindade, definição não tem sentido etimológico de delimitação. Significa apenas expressão exata e fiel.
Segundo a mesma concepção, o grande defensor da fé e mártir São Máximo Confesor (+ 662), escrevia 
            “O Nome de Deus Pai, Nome substancial e subsistente, é o Filho único”.
O percurso dos títulos atribuídos à segunda Pessoa da SS. Trindade evidencia o significado que ela tem na vida íntima de Deus e na economia ou dispensação da salvação.
Resta agora considerar as apropriações feitas à segunda Pessoa.


As Apropriações

            O Filho procede do Pai por via intelectual, segundo a teoria agostiniano-tomista. À luz deste princípio, a teologia latina explicou os textos do Novo Testamento que apropriam À segunda Pessoa algum título além dos três próprios (Filho, Imagem, Logos):
   
Sabedoria: Em 1 Cor 1,24.30 lê-se: “Cristo é Sabedoria de Deus... tornou-se para nós sabedoria proveniente de Deus”. Isto se compreende pelo fato de que o Logos é a Mente do Pai portadora das idéias exemplares das diversas criaturas.
   
Verdade: Em Jo 14,6, lê-se: “Eu sou... a verdade”. A verdade é a própria Sabedoria.
   
Luz: “Eu sou a luz do mundo” (Jo 8,12). A Sabedoria e a Verdade iluminam.
   
Vida: “Eu sou...a Vida” (Jo 14,6) O Filho é vida porque nos libertou do pecado.
   
Redenção: “Cristo Jesus... se tornou para nós... redenção” (Cor 1,30). Pelo mesmo motivo.
   
Poder de Deus: “Cristo é poder de Deus “ (1Cor 1,24), porque realizou a obra poderosa da re-criação do homem dominado pelo pecado.
Qualquer outro atributo, como Caminho, Justiça, Santificação..., há de ser entendido como derivado das notas próprias do Filho.
Tal é a rica explanação que a Teologia tece em torno da segunda Pessoa da SS. Trindade.
  
AS PESSOAS  -  O ESPÍRITO SANTO

Três são os nomes próprios da terceira Pessoa da SSma. Trindade: Espírito Santo, Amor, Dom.

ESPÍRITO SANTO

A rigor, a designação Espírito Santo é comum às três Pessoas, pois são todas Espírito e santas. Acontece, porém, que a Escritura atribui tal título, como próprio, à terceira Pessoa: “Batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo” (Mt 2819).
            A teologia justifica tal emprego, lembrando que santidade significa consumação, plenitude; ora a terceira Pessoa é a plenitude da SSma. Trindade entendida como comunicação de vida (sem antes, nem depois).
Santo Agostinho (+430) explica, a seu modo a apelativo: tanto o Pai quanto o Filho são Espírito e são santos; ora já que a terceira Pessoa procede de ambos, é convenientemente designada pelos nomes comuns de ambos 
“O Espírito Santo é uma inefável comunhão existente entre o Pai e o Filho; talvez seja assim chamado porque os mesmos nomes convêm ao Pai e ao Filho, pois o Pai é Espírito e o Filho é Espírito, o Pai é santo e o Filho e santo” 
A expressão “Espírito Santo” há de ser entendida como se fosse uma palavra só ou um apelativo que não se pode decompor dizendo: “o Espírito que é Santo”. 
São Gregório de Nazianzo (+390) considera o termo santo e a santidade como próprios da terceira Pessoa porque, afinal, é a Escritura que assim apresenta a terceira Pessoa: 
“Realmente Pai é o Pai, e muito mais realmente do que os homens são pais. Realmente Filho é o Filho. Realmente Santo é o Espírito Santo; não há outro santo tal como Ele; pois Ele não adquiriu a santificação, mas é a santidade mesma”. 
Já que o Espírito Santo é a própria Santidade, atribui-se-lhe a santificação dos homens. Na dispensação da graça ou na economia da salvação, Ele é o santificador. Ele á a última expressão da vida trinitária e a primeira que atinge os homens, como aliás se deu em  Maria SSma., que concebeu do Espírito Santo. 
O AMOR

O Espírito Santo é o fruto do amor com que o Deus ama a si ou com que o Pai ama o Filho.
“O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5,5). 
Sendo o Amor em Deus, o Espírito Santo também é o Ósculo. Segundo São Bernardo (+1153), o Pai é o Osculante, o Filho o Esculado, o Espírito Santo o Ósculo. Esta imagem indica bem a unidade substancial expressa pelo radical oscul – e as diferenças relativas expressas pelos sufixos ante, ado e o.
  
O DOM

O amor está naturalmente associado ao dom ou à doação. Quem ama, se dá ao ser amado e lhe dá o que tem para o enriquecer. 
Em Deus o Amor está ligado à doação do Pai ao Filho e do Filho ao Pai, sem que haja inferioridade ou superioridade de um para com o outro. Muito mais claramente se entende o Espírito Santo como Dom de Deus às criaturas. Ele é o fruto da vitória de Cristo sobre o pecado e a morte, enviado aos homens pelo Senhor glorificado (Jo 7,37-39).  
São Hilário de Poitiers (+367) propõe a sinonímia de Espírito Santo e Dom no texto seguinte: 
“O Batismo é conferido em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, isto é, mediante a confissão do Autor (Criador), do Filho e do Dom. Há um só Autor (Criador) de todas as coisas, pois há um só Deus Pai, ex quo omnia (a partir do qual), e um só Filho único Nosso Senhor Jesus Cristo, per quem omnia (pelo qual), e um só Espírito Dom in quo (no qual)”. 
Este texto é importante porque, além da sinonímia apontada, refere três proposições latinas que caracterizam a vida trinitária e sua comunicação às  criaturas:

O Pai é Aquele ex quo omnia, do qual tudo procede.

O Filho é Aquele per quem omnia, pelo qual tudo procede.

O Espírito Santo é in omnibus, está em todos os seres humanos como Mestre e Guia ou também Aquele no qual caminhamos pelo Filho ao Pai. 
Os latinos consideram diretamente a unidade e, em função desta, a trindade, de acordo com a seguinte figura:
As Apropriações

Água viva

Os antigos Padre viram na água e sua modalidades uma imagem as SSma. Trindade. 
“Considerai o Pai como a fonte da vida, o Filho como o rio que daí nasce, e o Espírito Santo como o mar, pois a fonte, o rio e o mar têm a mesma natureza” (São João Damasceno). 
Havia também quem propusesse: lençol d’água, olho d’água e córrego d’água. O lençol d’água  subterrâneo significaria a imensidade do Pai; o olho d’água seria a manifestação do grande lençol d’água oculto, significando o Filho como Palavra ou Imagem; o córrego d’água simbolizaria a ação vivificante e fecundante do Espírito Santo. A água representa a essência divina, que é sempre a mesma; as modalidades da água, as Pessoas Divinas. 
Embora a água viva seja um símbolo comum à três Pessoas, foi apropriada ao Espírito Santo na base de textos bíblicos como Jo 7, 37-39, onde se lê que, ao falar da água, Jesus falava do Espírito Santo que deviam receber os que nele cressem. 
“O Pai sendo a fonte, o Filho é chamado o rio; a Escritura diz que bebemos o Espírito, pois está escrito: ’Todos bebemos do mesmo Espírito’. Mas , quando bebemos o Espírito, bebemos o Cristo: ‘Bebiam de uma rocha espiritual que os acompanhava, e essa rocha era Cristo’” (1Cor 10,4).
Neste texto, o Espírito Santo é simbolizado pela água... água que no deserto jorrou da rocha (Nr 20,8) e identificada por São Paulo com Cristo; assim quem bebe do Espírito Santo, bebe de Cristo, que nos enviou o Espírito. 

Ungüento ou Bálsamo e Perfume

A palavra grega Christós (Cristo) significa “Ungido”. Pergunta-se então: Jesus o Cristo como foi ungido? Foi ungido com o ungüento ou o balsamo que é o Espírito Santo. É o que os Padres da Igreja deduziam dos textos bíblicos: 
Lc 4,18 “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque lê me ungiu para evangelizar os pobres”. São palavras de Is 61,1 que Jesus leu na sinagoga de Nazaré e aplicou a si. 
At 10,38 “... Jesus de Nazaré, que Deus ungiu com o Espírito Santo”. 
Isto quer dizer que a humanidade que Deus filho assumiu no seio de Maria Virgem fou cumulada ou enriquecida pelo Espírito Santo e seus dons.

Por extensão, o Espírito Santo é chamado “Unção”, como se depreende de:

1Jo 2,20 “Não necessitais de que alguém vos ensine, mas a unção deve vos ensina a respeito de tudo”. 
“No nome de Cristo, subentende-se Aquele que unge, Aquele que é ungido e o ungüento mesmo com que é ungido. É o Pai quem unge, e o Filho é ungido no Espírito que é o ungüento” (Santo Irineu). 
“O próprio apelativo do Cristo é uma profissão de toda a Trindade, pois aponta Deus que unge, o Filho que é ungido, e o Espírito Santo que é o Cisma ou o ungüento” (São Basílio). 
Se o Espírito Santo é bálsamo ou ungüento, Ele exala um bom odor ou perfume. Em conseqüência, a teologia patrística considera o Espírito Santo também como o odor ou o perfume da divindade.

Roseira                           Rosa                             Perfume da Rosa

Raiz                                Caule                             Flor ou Fruto

Pai                                  Filho                              Espírito Santo


“Concebe o Pai como a raiz o Filho como o ramo, o Espírito Santo como o fruto. Nos três há uma só substância” (São João Damasceno). 
A flor ou o fruto são o termo ou o ponto final do desenvolvimento vital do arbusto. Procedem da raiz e do caule por efeito da seiva, que tem sua origem na raiz. Flor e fruto insinuam repouso e consumação; ora o Espírito Santo é, por assim dizer, a consumação da vida trinitária segundo os esquemas. Quando se diz que o Espírito Santo é o perfume, explicita-se a ação difusiva, penetrante e vivificante do Espírito Santo. 
 O Cristão, ungido pelo Espírito Santo no Batismo e no Sacramento do Crisma, pode dizer como São Paulo: “Somos o bom odor de Cristo”. (2Cor 2,15).
  
Paráclito

O apelativo grego Parácletos toca a Jesus Cristo em 1Jo 2,1, mas é por excelência apropriado ao Espírito Santo em Jo 14,16-26. Este é dito “o outro Paráclito”. 
Tal vocábulo tem duplo sentido: 1) Advogado, Defensor (é o que ocorre em 1Jo 2,1) e Consolador. Pode-se dizer que são dois significados que se complementam mutuamente. 
O Paráclito é Advogado e Defensor frente aos adversários dos cristãos, entre os quais está Satanás, “o acusador dos nossos irmãos diante do nosso Deus dia e noite” (Ap 12,10). Mas é também Consolador. 
A idéia de que Deus consola seu povo, vem do Antigo Testamento, onde se lê: “Eu sou o teu Paráclito” (Is 51,12), aquele que “consola como a mãe consola seu filho” (IS 66,13). O “Deus de consolação” (Rm 15,5) se encarna em Jesus Cristo, que é primeiro consolador, cuja obra é continuada pelo outro Consolador, que é o Espírito Santo. É ele quem consola a Igreja perseguida e a fortalece: “A Igreja andava no temor do Senhor, repleta da Consolação do Espírito Santo” (At 9,31). 
“A consolação do Espírito Santo é verdadeira, perfeita e proporcional. É verdadeira, porque Ele usa a consolação onde se deve aplicar, isto é, na alma, não na carne, como faz, no entanto, o mundo, que consola a carne e aflige a alma, assemelhando-se nisto a um mau hospedeiro que cuida do cavalo e trata mal o cavaleiro; é perfeita, porque consola em toda tribulação, não como faz o mundo que, dando uma consolação, proporciona o dobra de tribulação, como alguém que remenda um velho agasalho tapando um buraco e abrindo dois; é proporcional, porque onde há maior tribulação Ele traz maior consolação, não como faz o mundo que, na prosperidade, consola e lisonjeia, mas na adversidade fica rindo e condena” (São Boaventura). 
Analisando as funções que Jesus atribui al Paráclito em seu discurso de despedida, verificamos que são todas elas relativas à verdade apregoada por Jesus; Ele deve “ensinar, recordar, dar testemunho, convencer, levar a toda a verdade, anunciar”; por isto é chamado “o Espírito da Verdade” (Jo 14,17). É Ele quem assiste à Igreja garantindo-lhe fidelidade ao Evangelho ou ao patrimônio da fé e levando-a a descobrir e explicitar o que tenha ficado implícito na pregação de Jesus: 
“O Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará tudo e vos recordará tudo o que eu vos disse” (Jo 14,26). 
É Ele também o Mestre interior, que fala no íntimo dos corações possibilitando-lhes a compreensão da Palavra de Deus.  
O Espírito Santo nos ensina a responder à Palavra de Deus pela oração: “Intercede por nós com gemidos inefáveis” (Rm 8,26). É Ele quem comunica aos fiéis o sabor da Palavra de Deus; é Ele quem, com indizível suavidade, nos faz caminhar para o Pai a passos firmes e acelerados.
  
O Dedo de Deus

O Espírito Santo também é chamado “o Dedo de Deus” em virtude de dois textos do Evangelho comparados ente si: 
Lc 11,20; “Se é pelo Dedo de Deus que eu expulso os demônios...” 
Mt 12,28: “Se é pelo Espírito de Deus que eu expulso os demônios...” 
O Espírito Santo é tido como o Dedo de Deus porque o dedo é, para nós, o instrumento vivo e sensível com o qual realizamos obras delicadas. O Espírito Santo burila e cinzela nossas almas, configurando-as a Cristo. 
AS MISSÕES DIVINAS

            A Escritura que nos fala de procedência ou processão do Espírito (cf. Jo 15,26), fala também do envio ou da missão do Filho e do Espírito Santo. Eis por que passamos a estudar as missões divinas.
Não se lê que o Pai seja enviado. Ele vem:

Jo 14,23: "Se alguém me ama, guardará a minha palavra. e meu Pai o amará, e a ele viremos, e nele estabeleceremos nossa morada".

 O Filho é enviado pelo Pai, como se lê repetidamente:

Jo 3,17: "Deus enviou seu Filho ao mundo não para julgar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele".
Jo 5,23: "Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou" Jo 8,16: "Comigo está o Pai, que me enviou"
Jo 12,44: " Quem crê em mim, não é em mim que crê, mas naquele que me en­viou". :

Jo 17,3: "Conheçam a Ti ... e aquele que enviaste: Jesus Cristo":, Jo 20,21: "Como o Pai me enviou, também eu vos envio"
Gl4,4: "Enviou Deus seu Filho,formado de uma mulher".

O Espírito Santo também é enviado •... enviado pelo Pai e pelo Filho:

Jo 14,16: "Rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Paráclito para que convosco per­maneça para sempre"
Jo 15,26: "Quando vier o Paráclito, que vos enviarei de junto do Pai ... "
Jo 16,7: "É de vosso interesse que eu parta, pois, se eu não for, o Paráclito não virá a vós. Mas, se eu for, enviá-Io-ei a vós".

Em conclusão deve-se dizer:

-  o Pai vem. mas por ninguém é enviado;
-  o Filho vem,enviado pelo Pai;
-  o Espírito Santo vem, enviado pelo Pai em nome do Filho ou pelo Filho de junto do Pai.

Aprofundamento Teológico

A consideração dos textos bíblicos evidencia que as missões estão em correlação com as processões divinas: o Pai, que não procede, não é enviado, mas vem ou se dá. O Filho, que na vida trinitária procede do Pai, é enviado pelo Pai ao mundo. O Espírito Santo, que na Trindade eterna, procede do Pai e do Filho, é enviado ao mundo pelo Pai e pelo Filho.
Assim as processões são de ordem interna. As missões exteriorizam essa ordem, fazendo os homens participar da vida trinitária. Uma Pessoa divina só pode ser enviada por outra da qual proceda. Por isto o Filho nunca poderia ser enviado pelo Espírito Santo.
Por conseguinte:

Na eternidade:

Pai                  
                        Filho
                                               Espírito Santo

No tempo:

Pai                  
                        Filho
                                               Espírito Santo


É de notar, como se tem feito repetidamente, que em Deus não há prioridade nem posteridade, não há maior nem menor, de modo que o ser enviado não implica diminuição para o Filho e o Espírito Santo.
O Filho é enviado em missão visível: mistério de Encarnação.
É enviado em missão invisível, habitando nos corações: "Cristo habite pela fé em vossos corações" (Ef 3,17).
Também o Espírito Santo é enviado em_missão visível: Pentecostes é enviado em missão invisível nos sacramentos em ge­rai, especialmente no Batismo e na Crisma. Ele habita nos corações retos como se depreende dos textos seguintes:
1Cor 3,16: "Não sabeis que sois um templo de Deus e que o Espírito de Deus
habita em vós?"
1Cor 6, 19: "Não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que está em vós e que recebestes de Deus"?
Rm 5,5: "O amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi dado".
Falamos de missão do Filho e do Espírito Santo por apropriação ou apropriando a determinada pessoa uma ação que é comum às três'. Somente a Encarnação é própria do Filho, e não apropriada, pois a Encarnação consistem dar subsistência (hipóstase pessoa) à natureza humana assumida no seio de Maria Virgem; somente a Pessoa do o fez, pois em Jesus não havia duas ou três Pessoas. Está claro, porém, que em Jesus estavam presentes o Pai e o Espírito Santo por concomitância , pois a natureza divina não é retalhável; há entre as Pessoas divinas o que se chama "a circumincessão"
           Deve-se aqui lembrar o famoso adágio da teologia trinitária: todas as ações de Deus ad extra (para fora) são comuns às três Pessoas divinas a não ser que haja alguma oposição relativa. Ora habitar nos corações retos não implica oposição relativa entre as Pessoas divinas, de modo que as três habitam sim.ultaneamente. Da mesma forma, a comunicação de Deus aos apóstolos em Pentecostes não importa oposição relativa, de modo que é a Trindade que se dá à Igreja em Pentecostes; o fato, porém, foi atribuído ao Espírito Santo, pois este, na Trindade, é o Amor e a Consumação, que vem consumar e santificar os homens; como ao Pai é apropriada a criação, ao Espírito Santo é apropriada a santificação. - Ao Filho é apropriada a habitação nos corações retos porque somos feitos filhos de Deus - o que parece "como próprio" ao Filho Eterno. Somos feitos filhos porque enxertados no Filho por obra do Espírito Santo e, como filhos, caminhamos para o Pai. Com outras palavras pode-se dizer a mesma coisa:
"Porque sois filhos, enviou Deus em nossos corações o Espírito do seu Filho, que clama: 'Abba, Pai!' De modo que já não és escravo, mas filho. E,se és filho, és também herdeiro, graças a Deus" (GI 4, 6s; cf. Rm 8,15).
A piedade cristã há de saber orientar-se diante desta verdade. Especialmente a sua oração há de se mover dentro do esquema: Ao Pai pelo Filho no Espírito Santo.        
As doxologias (fórmulas de glorificação) antigamente rezavam "Glória ao Pai pelo Filho no Espírito Santo", No século IV, porém, surgiu a heresia ariana, que subordinava o Filho ao Pai, prevalecendo-se, entre outras coisas, de tal fórmula. Em conseqüência, os autores católicos enfatizaram outra redação: "Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito San­to", frase em que são postas exatamente no mesmo plano as três Pessoas divinas. Esta outra maneira de rezar tem seu fundamento teológico e acabou prevalecendo sobre a anterior. Todavia não nos deveria levar a esquecer o papel que toca a cada Pessoa trinitária na santificação do cristão. 
Templos da SSma.Trindade

A presença de Deus nos corações retos chama-se dom incriado (não criado).
             
A tradição grega antiga acentuou fortemente a presença de Deus nos justos; a
teologia trinitária e a da graça foram estudadas pelos gregos em estrita correlação; fala­vam freqüentemente da divinização do homem pelo contato com Deus, que se lhe dá (sem cair no panteísmo ou na identificação da criatura com o Criador). 
No Ocidente os teólogos acentuaram mais o agir do que o ser do cristão. Isto se deve ao surto de heresias como o pelagianismo e o semipelagianismo (séc. IVIVI), que afirmavam a capacidade natural do homem para fazer o bem, a ponto de reduzir a obra de Cristo à de mero modelo que aponta o caminho ao homem. Contra tais hereges S. Agos­tinho (t 430) e sua escola enfatizaram a corrupção da natureza humana devida ao peca­do de Adão e a necessidade da graça divina para que o homem possa praticar o bem; em
conseqüência, a graça foi concebida principalmente como auxílio para que o homem não peque, mas cultive a virtude. 
As encíclicas "Divinum illud munus" de Leão XIII (1897) e "Mystici Corporis Christi" de Pio XII (1943) puseram em novo relevo a habitação de Deus no cristã'?, como elemento principal da graça.     
Para entender devidamente o assunto, devemos distinguir dois modos de presença de Deus às suas criaturas:

1) Presença de imensidade. Deduz-se do fato de que Deus, tendo criado, sustenta toda e qualquer criatura para que não recaia no nada. Assim Deus está presente à pedra, à flor, ao animal, ao homem ... pelo fato mesmo de que eles existem; só podem existir porque Deus mantém com eles o seu contato de Criador. Alguns textos bíblicos falam dessa presença de imensidade: SI 138 (139); Eclo 42,15-43,33.
S. Agostinho, recordando sua vida pré-cristã, salienta a presença de Deus em sua alma não batizada:
"Tarde eu Te amei, Ó beleza tão antiga e tão nova, tarde eu Te amei. Mas como?
Tu estavas dentro de mim, e eu estava fora de mim mesmo ... Tu estavas comigo, e eu não estava contigo. Retinham-me longe de Ti as criaturas que não existiriam se não existissem por Ti. ..
Tu me chamaste, e teu clamor venceu a minha surdez. Tu exalaste o Teu perfume; eu respirei, e eis que para Ti suspiro. Provei-te e tenho fome de Ti. Tu me tocaste, e eu ardo de amor por causa da paz que Tu me deste" (Confissões X 27).

A presença de imensidade é algo de natural ou decorrente da própria natureza de cada criatura.
             
2) Presença sobrenatural. Deriva-se do fato de que Deus - e, propriamente, cada uma das três Pessoas Divinas, a seu modo - se abre para a criatura humana e assume-a em sua vida, fazendo-a conhecer como Deus conhece e amar como Deus ama. Tal modo de presença divina confere à criatura, de maneira imperfeita, o que se verifica na visão beatífica de maneira consumada. Existe, sim, continuidade entre a vida da graça e a vida da glória.
Esta forma de habitação de Deus nas almas justas é dita "sobrenatural", porque ultrapassa as exigências de toda e qualquer criatura. Deve-se admitir no ser humano a capacidade de ser elevado a tão sublime união com Deus, nunca, porém, a exigência. "Sobrenatural", portanto, em Teologia, não tem que ver com milagres e portentos, mas é um tesouro depositado no íntimo do cristão sem que necessariamente transpareça.
S. Leão Magno (t 461) realça a grandeza de tal dom:
cristão, reconhece a tua dignidade. Participas da natureza divina; não voltes ao teu estado inferior de outrora por uma vida indigna da tua genuína condição. Lembra-te sempre da Cabeça a que pertences, e do Corpo do qual és membro. Lembra-te de que foste arrancado do poder das trevas e transplantado para a luz e o reino de Deus" (serm. 21,c.3).
Notemos que cada uma das três Pessoas Divinas se dá, de modo próprio, ao cris­tão: vamos ao Pai pelo Filho no Espírito Santo. Essa presença é, pois, dinâmica e não estática; Deus se dá continuamente ao homem em novas situações e o homem deve responder-lhe proporcionalmente.
Os Santos sempre desfrutaram o dom que o próprio Deus faz de si a quem O procura. A bem-aventurada Elisabeth da Trindade, Religiosa carmelita (t 1906), cultivou generosamente a consciência da habitação de Deus no cristão, deixando, entre outras,
         Os Santos sempre desfrutaram o dom que o próprio Deus faz de si a quem O procura. A bem-aventurada Elisabeth da Trindade, Religiosa carmelita (t 1906), cultivou generosamente a consciência da habitação de Deus no cristão, deixando, entre outras,
as seguintes poesias:

"Era uma noite tranqüila, alto o silêncio; Meu pequeno navio cortava o mar.
De repente levantaram-se as ondas
E o frágil navio naufragou:
Era a Trindade que me absorvia. Refúgio encontrei naquele abismo, Mergulhada para sempre no infinito. Aqui minhalma respira e adormece,
Vivendo com os seus 'três' no tempo eterno".

meu Deus, Trindade que adoro,
Ajudai-me a esquecer-me a fim de estabelecer-me em vós, Como se a minha alma, imóvel e tranqüila,
Já estivesse na vida eterna!"

O Dom Criado

Que é a nova vida concedida ao cristão feito filho de Deus? Seria o próprio Espírito Santo? Ou seria uma realidade criada, distinta do Espírito e inerente à alma justa? 
Em resposta; afirmam os teólogos que todo cristão recebe dois dons inseparáveis um do outro:

- o Espírito Santo e, com ele, toda a SSma. Trindade, como "hóspede da alma";
- uma graça criada, que progressivamente transforma a alma e a torna capaz dos atos da vida nova. O Concílio de Trento declarou que "os homens não são justificados porque os méritos de Cristo lhes são atribuídos juridicamente, nem apenas porque os pecados lhes são perdoados, sem infusão da graça e da caridade"; definiu outrossim que "a graça não é a mera benevolência divina" (DS nº 1561 [821]). 
Essa transformação íntima ou divinização devida à presença da SSma. Trindade na alma do justo pode ser ilustrada por imagens: uma barra de ferro penetrada pelo fogo torna-se ígnea e ardente como o próprio fogo ... Uma gota d’água, um grão de poeira revestidos pela luz do sol parecem tornar-se prata (a água) e ouro (a poeira). De modo semelhante, quando o Espírito Santo entra numa alma por ocasião da justificação, dissipa aí as trevas do pecado e faz que essa criatura se torne fogo, prata ou ouro; Ele assim renova, cristifica ou diviniza o cristão (sem que haja panteísmo ou identificação de Deus com a criatura), 
Desse momento em diante, começa a haver no cristão algo de novo, distinto do dom incriado, que se chama "graça criada" ou também "graça habitual" ou "graça santificante". Esta, sem destruir a alma, transforma a alma e suas faculdades, habilitan­do-a a participar da vida do próprio Deus. Assim a graça criada torna-se o segundo ele­mento constitutivo da justificação ou da vida eterna que Cristo comunica aos remidos.
De quanto foi dito, concluímos que a graça não é uma coisa, uma substância que poderíamos isolar (como isolamos uma coroa ou um ornamento). É um elo, inseparável de Deus (que a cria) e de nós (que ela embeleza e diviniza).

COMO APRESENTAR A TRINDADE

O mistério da SSma. Trindade, com tudo o que ela tem de grande e transcendental, deve ser apregoado ao mundo. Isto pode ser feito pela palavra e pela imagem

A Linguagem Correta

Distingamos substantivos e adjetivos.

Os substantivos, no caso, referem-se à natureza ou essência divina; esta é uma só. Por isto nunca os podemos usar no plural ao falar da SSma. Trindade. Seria, portanto, falso apregoar três eternidades, três imensidades, três sabedorias ... Como há uma só Divindade, há uma só eternidade, imensidade, sabedoria. 
Os adjetivos designam acidentes, que em Deus são relações (relações subsistentes). Por isto, podem-se usar os adjetivos no plural, pois em Deus há relações. Daí dizermos: três eternos, três imensos, três sábios ... Em Deus há uma Sabedoria e três sábios, uma Onipotência e três onipotentes ...
Paralelamente dizemos: há uma turma e muitos enturmados, uma sociedade e muitos associados, uma congregação e muitos congregados ...

A Iconografia

O Concílio de Nicéia II, que, em 787, confirmou a legitimidade da confecção de imagens como subsídios para a catequese e a piedade, mostrou-se reticente quanto à apresentação iconográfica do próprio Deus, pois este é espírito, sem forma corpórea. Apenas a imagem de Cristo (Deus feito homem) era favorecida, aliás desde as catacumbas, onde se encontra a repre­sentação do Bom Pastor, entre outras.

Diziam os Padres do Concílio de Nicéia II:
"Crendo em um Deus, que louvamos na Trindade, saudamos as preciosas imagens" (4ª e 5ª sessões do Concílio).

Imagens, no caso, referia-se a Jesus Cristo e aos Santos.

Eis por que Deus foi representado por símbolos: no Ocidente, o triângulo equilátero, às vezes com um olho no centro, ou então os três lírios de um brasão de reis de França.
Com o tempo, especialmente a partir dos séculos XIV e XV, foi-se propagando o costume de recorrer a figuras humanas para representar a SSma. Trindade. Assim:

- no mesmo trono, o Pai, ancião majestoso em trajes de Imperador; à sua direita o Filho segurando a Cruz, e, no meio de ambos, o Espírito Santo sob a forma de pomba cujas asas tocam as faces do Pai e do Filho;

- dois jovens idênticos um ao outro (significando a eterna juventude de Deus), com uma pomba que sai de suas bocas voando;

- três jovens idênticos entre si, sentados no mesmo trono.

Tais representações nunca foram propostas pela Igreja como autênticos subsídios da pie­dade. Eram tidas como obras de artistas que tentavam ilustrar o mistério e encontravam rejeição por parte de alguns teólogos.
Vista a importância da arte sacra, que tem finalidades catequéticas e dado o perigo de que a iconografia trinitária levasse o povo a falsas concepções, a Igreja interveio mais de uma vez para coibir mal-entendidos:

O Papa Bento XIV, a 1º/10/1745, promulgou as seguintes normas:

1) As três Pessoas divinas podem ser representadas por imagens porque se manifesta­ram visivelmente aos homens.

2) Sejam representadas da maneira como se manifestaram ou como Deus quis manifes­tar-se.
a) O Pai pode ser representado como ancião, pois em Dn 7,10 a Tradição cristã o vê insinuado:
"Eu continuava contemplando, quando foram preparados alguns tronos e um Ancião se sentou. Suas vestes eram brancas como a neve, e os cabelos de sua cabeça alvos como a lã".

b) O Filho pode ser representado com os traços humanos que Ele assumiu pela Encarnação. Aceita-se também que seja simbolizado por um Cordeiro (cf. Jo 1,29.36) e um pelicano (ave grande, caracterizada por uma bolsa existente debaixo do bico, bolsa donde retira gotas de sangue para alimentar os filhotes);

c) o Espírito Santo seja simbolizado por uma pomba (cf. Mt 3,16; Mc 1,10) ou como ( línguas de fogo (cf. At 2,3), ou ainda como o dedo de Deus em conseqüência de dois textos J paralelos encontrados no Evangelho:
Le 11,20: "Se é pelo dedo de Deus que expulso os demônios ... " Mt 12,28: "É pelo Espírito de Deus que expulso os demônios".

Aos 14/03/1928, a Congregação dos Ritos, órgão da Santa Sé, proibiu que se represente o Espírito Santo sob forma humana.              
Faz exceção a estas regras o ícone de Rubleev (+ 1430): representa três anjos sentados à mesa de Abraão (cf. Gn 18,1-8), que a Tradição cristã viu como símbolos da SSma. Trindade. Tal imagem é aceita; aliás, é tida como uma das melhores imagens da 88ma. Trindade, dado o caráter místico e estilizado que o pintor lhe comunicou.
É aceita também a representação do trono da graça: o Pai, sentado num trono, tem em mãos a cruz, da qual pende o Filho; sobre este desce o Espírito Santo sob a forma de pomba.

O Espírito Santo não deve descer sobre o Pai.

Foi condenada a imagem de um tronco humano com três cabeças: uma anciã, outra adulta e a terceira jovem.

Por vezes é acrescentada à imagem das três Pessoas a de Maria . coroada nos céus.

Esta representação corre o risco de insinuar que há quatro Pessoas em Deus.

A Igreja é cautelosa frente à criação dos artistas, pois pode faltar a estes especialistas da arte o senso teológico necessário para atender à finalidade catequética da iconografia.





Fontes de consulta:

Catecismo da Igreja Católica
Lumem Gentium                      - Concílio Vaticano II
Gaudium et Spes                     - Concílio Vaticano II
Curso Deus Uno e Trino          - Escola Mater Ecclesiae
Sagrada Escritura                    - Editora Ave Maria
            Diácono Neves

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