Sacramentos



SACRAMENTOS

1. Os sacramentos na História da Salvação. Deus criou o Homem, colocando-o no centro da mesma, com os dons da inteligência, consciência e liberdade; assim, o sobrenatural, faz parte do Homem, segundo o projecto de Deus. Porém, o Homem rejeitou o projecto de Deus, seguindo o seu próprio projecto, surgindo a desarmonia com os outros, com a natureza e com Deus. Deus dá ao Homem a possibilidade de se reencontrar, entrando na História como Deus-redentor: na Antiga Aliança, essa obra é prefigurada, é sinal de Aliança melhor; é realizada em Cristo e por Cristo, pelo Seu mistério pascal; por fim, a redenção é actualizada na Igreja, sobretudo mediante a Palavra e os Sacramentos, no Espírito Santo. É sobretudo através dos sacramentos que o mistério de Cristo se torna em presente salvífico.

2. A realidade sacramental.
Ø       RITOS: O Homem utiliza ritos na sua vida: o rito é uma operação social, programada, repetitiva e simbólica que, por meios que põem em acção o domínio do supra-racional e do sensível, visa estabelecer uma comunicação com o oculto. É uma transição que serve de caminho ao Homem para passar de um estado a outro.
Ø       SINAIS: há vários tipos de sinais, como os naturais (o fumo é sinal do fogo), os convencionais (foi definido a priori o significado para aquele sinal, por exemplo um sinal de trânsito) e os simbólicos (indicam algo para além dele).
Ø       SÍMBOLOS: tem duas partes, uma sensível, que corporiza uma realidade imaterial que o Homem só pode apreender com as partes que o unem, chama a atenção para outra realidade.
Ø       Sacramentos ou o invisível tornado presente através de sinais. Sacramento = «sinal sagrado».
Ø       Necessidade antropológica dos sacramentos: são da necessidade do Homem e não de Deus, sendo um dos grandes sinais do amor para connosco.
Ø       Cristo, o «proto-sacramento» ou o «sacramento fontal». Cristo é o único sacramento de Deus, Aquele que O revela plenamente: «Quem Me vê, vê o Pai» (Jo 14, 9). É de Cristo que todos os sacramentos adquirem o seu sentido.
Ø       A Igreja, sacramento principal de Cristo. Cristo ressuscitado e glorificado prolonga-Se historicamente na Igreja, que deve viver de forma a tornar visível a presença salvadora de Cristo.
Ø       O cristão, sacramento de Cristo e da Igreja. O cristão deve ser sinal de Cristo e da Igreja, porque deve manifestá-los, ser deles sinal clarividente e torná-los presentes no mundo, com toda a sua vida que deve ser sacramental, presença de Cristo e da Igreja.
Ø       Os sete sacramentos, momentos privilegiados da sacramentalidade de Cristo, das Igreja e do cristão. Os sete sacramentos são os momentos mais decisivos da sacramentalidade de Cristo e da Igreja na vida dos homens, sob a acção do Espírito. Tocam elementos essenciais da vida do Homem: incorporação na comunidade eclesial, constituição da família, luta contra o pecado, etc.

3. Origem, número e definição dos sacramentos.
Ø       Origem e instituição dos sacramentos. Os sacramentos têm a origem na Trindade. A Escritura fala-nos na intervenção directa de Jesus na instituição de alguns sacramentos, sem descer a pormenores. Não há «declarações solenes» da sua instituição: mas há a fundação da Igreja, fazendo-a sacramento do Seu Reino; os sacramentos são prolongamentos dos gestos salvadores de Deus na História; os sacramentos procedem de Cristo, porque de Cristo procede a Igreja.
Ø       O termo «sacramento». Em latim, «sacramentum», tinha dois significados: juramento militar que era o termo técnico que exprimia o juramento da bandeira dos soldados romanos; ou também significava o depósito por ocasião de um processo (caso se perdesse, ficava para esse lugar sagrado). É o meio através do qual uma pessoa ou coisa se torna sagrada.
Ø       «Mysterion» e «sacramentum». O termo mysterion é importante na economia sacramental. Mais tarde, sacramentum assimila o sentido bíblico de mysterion, citado 27 vezes no Novo Testamento e passou a significar: «O projecto escondido e salvífico de Deus que se comunica e se manifesta às pessoas, aos povos, especialmente por meio de Cristo e pela acção da Igreja».
Ø       Os sacramentos ao longo da História. A definição de sacramentos e o seu número variaram ao longo da História. Durante muitos séculos, a palavra sacramento, usada como sinónimo do símbolo do sagrado, aplicava-se a centenas de sacramentos. Por exemplo, Stº Agostinho enumera 304! Ele define o conceito de sacramento (estrito): «sinal sagrado ou palavra visível duma realidade invisível». A partir do séc. XII começam a sobressair sete gestos da Igreja, que são os 7 sacramentos actuais. Estes foram definidos no Concílio de Trento, em 1547: «Os sacramentos das Nova lei são sete, nem mais nem menos». Após o Concílio Vaticano II, o emprego da palavra «sacramento» recebeu um sentido mais amplo.
Ø       E porquê sete e só sete? Nos primeiros séculos o conceito de sacramento era amplo; na Idade Média, com o pulular das heresias, houve necessidade de clarificar o conceito, colocando-se o acento na eficácia sacramental. Mais do que um número aritmético, o número 7 exprime a plenitude, a totalidade… Tratou-se de clarificar o que era ou não sacramento e evitar que tudo fosse sacramento. Eventualmente, a Graça de Deus pode chegar por outras formas, mas a Igreja garante que chega pelos sete sacramentos.
Ø       Os sete sacramentos: Baptismo, Confirmação (ou Crisma), Eucaristia, Reconciliação (ou Penitência ou Confissão), Unção dos Doentes, Ordem e Matrimónio.
Ø       Definições de «sacramento». Antes do Concílio Vaticano II, a mais corrente era: «sinal sensível instituído por Cristo que comunica a Graça que santifica»; esta definição não atende à sua relação com os gestos salvadores de Deus na História dos homens. Actualmente, começa a privilegiar-se a noção de «encontro»: «acções de Cristo glorificado nas quais Deus vem ao encontro do Homem»; as chaves de leitura são; a História da Salvação, Cristo, a Igreja e o Homem. O sacramento encerra duas realidades: aquilo que não conhecemos (o plano de Deus) e a sua manifestação (a comunicação de Deus por meio dos sinais e símbolos do mundo humano). Os sacramentos são memória (das intervenções de Deus na História), presente (actualizam do mistério de salvação) e promessa (anúncio do que há-de vir).
Ø       Sacramentos é diferente de sacramentais: sacramentais são sinais sagrados que, embora não conferindo a graça do Espírito Santo, preparam para receber a graça e dispõem para cooperar. As bênçãos ocupam lugar de destaque nos sacramentais.

4. Elementos dos sacramentos. Têm quatro elementos: a matéria ou coisa sensível (elementos que se utilizam, como água, óleo, etc.), forma ou palavras que o ministro utiliza com a intenção de fazer o que a Igreja faz: administrar o sacramento de acordo com a vontade de Cristo; ministro ou a pessoa que o executa (Cristo é o ministro principal; só pode ser ministro o homem devidamente ordenado, ou o legitimamente eleito com esta finalidade pela legítima autoridade), sujeito ou pessoa que o recebe. O sacramento válido é aquele que, na sua confecção ou recepção, se produziu verdadeiramente; sacramento lícito é o sacramento válido que, além disso, foi confeccionado ou recebido de acordo com as condições próprias dele e, portanto, produz todos os seus efeitos. Um exemplo de um sacramento inválido seria o caso de o sacerdote, na Consagração, usasse água em vez de vinho; um exemplo de um sacramento ilícito, seria o caso de um médico que baptizasse uma criança que não estivesse em perigo de morte. Os sacramentos devem ser negados aos sujeitos incapazes e a sujeitos indignos.

5. Efeitos dos sacramentos. São três os efeitos principais: comunicam a graça santificante (dom sobrenatural que nos faz participar da vida divina, apaga no homem o pecado e comunica-lhe nova vida), comunicam a graça sacramental (comunica ao cristão, no tempo oportuno, nas diversas situações da sua vida espiritual, as graças necessárias ao cumprimento dos seus deveres) e alguns imprimem carácter (marca espiritual indelével impressa na alma, o «selo do Espírito Santo», não podem ser recebidos mais do que uma vez, nos seguintes sacramentos Baptismo, Confirmação e a Ordem. Os sacramentos não produzem a graça se existir um obstáculo (por exemplo, a falta do estado de graça para alguns sacramentos, etc.), podem reviver os que só se podem receber uma vez ou poucas vezes (a Eucaristia e a Reconciliação não revivem), quando se adquirir aquela disposição necessária quando se recebeu mal o sacramento. Baptismo: dá-nos a vida nova de filhos de Deus na Igreja. Confirmação: o Espírito Santo fortalece-nos para que sejamos testemunhas de Cristo. Eucaristia: participamos do Sacrifício de Cristo e comungamos o Seu Corpo e Sangue. Reconciliação: Cristo perdoa-nos os pecados e reconcilia-nos com Deus e com a Igreja. Unção dos Enfermos: Cristo fortalece o cristão perante a doença, velhice ou a morte. Ordem: Cristo consagra sacerdotes para servir o Seu povo. Matrimónio: Cristo santifica a união do homem e da mulher.

6. Classificações dos sacramentos. Podem ser: de iniciação cristã (Baptismo, Confirmação e Eucaristia), de cura (Reconciliação e Unção dos Enfermos) e de serviço à comunidade (Ordem e Matrimónio).

7. Normas actuais sobre os sacramentos. O Código de Direito canónico dedica nove cânones aos sacramentos em geral.

8. Os sacramentos na sociedade actual. Na sociedade actual, existem vários escolhos e problemas, relativamente à vivência dos sacramentos: por vezes são vistos como folclore, como magia, como mera tradição a cumprir; ou então, como garantes da salvação, como mero produto de consumo, numa perspectiva individualista, sem celebração comunitária… Ou então, aqueles que não frequentam os sacramentos, porque não lhes encontram o sentido, embora até possam ter fé.

9. Bibliografia recomendada: CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA; CÓDIGO DE DIREITO CANÓNICO; BÉGUERIE, Ph; DUCHESNEAU, C. - Para viver os sacramentos. Editorial perpétuo Socorro; RUIZ, A.; CALVO, A – Para conhecer a Eclesiologia. Editorial Perpétuo Socorro, Porto, 1993; SESBOUÉ, Bernard – Pensar e viver a Fé no Terceiro Milénio. Gráfica de Coimbra; VEIGA, Américo – Porque sou cristão? Editorial Perpétuo Socorro; RUIZ, A.; CALVO, A – Para conhecer a Eclesiologia. Editorial Perpétuo Socorro, Porto, 1993; COMBY, Jean – Para ler a História da Igreja. Editorial perpétuo Socorro, 1989 (vols. 1, 2 e 3).


O Tratado dos Sacramentos se relaciona intimamente com outros tratados teológicos, como a Cristologia, a Eclesiologia, a Liturgia... Há em todos estes um denominador comum, que é o conceito de SINAL (seméion, em grego). Na verdade, a santíssima humanidade de Cristo é sinal eficiente ou transmissor da graça; a Igreja, como Corpo de Cristo prolongado (Cl 1,24), também é sinal; a Liturgia, com seus ritos sagrados continua essa função.

Em conseqüência, pode-se dizer que o Cristianismo é essencialmente a religião dos sinais.

E por que isto? – Por duas razões:

a) o ser humano é psicossomático: passa do visível ao invisível (prefácio da Missa de Natal). “Nada há no intelecto que não tenha passado pelos sentidos”. Aristóteles. (+ 322 a.C.);

b) o ser humano é social, feito para se desabrochar e forma vendo e ouvindo dos seus semelhantes as lições de que necessita. É pelos sentidos que ele aprende.

Deus se revela aos homens por palavras e por feitos

É o que se lê na Constituição Dei Verbum nº 2

“Este plano de revelação se concretiza através de acontecimentos e palavras intimamente conexos entre si, de forma que as obras realizadas por Deus na História da Salvação manifestam e corroboram os ensinamentos e as realidades significadas pelas palavras. Estas, por sua vez, proclamam as obras e elucidam o mistério nelas contido. No entanto, o conteúdo profundo da verdade seja a respeito de Deus, seja da salvação do homem, se nos manifesta por meio dessa revelação em Cristo, que é ao mesmo tempo mediador e plenitude de toda a revelação.”

Em síntese, Deus se revela por palavras e por feitos. As palavras proclamam a mensagem divina, e os feitos corroboram as palavras; estas, por sua vez, elucidam o significado dos dizeres, donde:

                                   Palavras
                                              
                                                                      
Feitos


                                   Palavras



                                                                       Feitos


Assim o anúncio salvífico penetra a história sagrada descrita nos livros do Antigo Testamento; nela “se encarna”, fazendo da história um discurso. Os feitos do Antigo Testamento são pontos que parecem isolados e insignificantes, mas que o bom entendedor liga entre si, de modo a perceber aí o nome de Deus.

Contato com Cristo

O contato do cristão com Cristo não é meramente psicológico ou afetivo. É, sim, um contato ontológico: a vida de Cristo toca a do cristão mediante os sacramentos. Estes são os canais comunicadores da graça divina.
SINAL 
No plano Filosófico

Sinal é algo que representa outra coisa em virtude de uma correspondência analógica.

Há dois tipos de sinal:

a)      sinal natural: é sinal por sua própria índole; assim a fumaça é sinal natural do fogo.

b) sinal convencional ou artificial: é sinal por livre decisão do ser humano; assim a bandeira de um país.

Os vocábulos sinal e símbolo têm afinidade entre si. Símbolo vem do grego symbállo, que significa lançar com ou juntar. Um prato partido ao meio e as duas metades justapostas.

Em grego, o correspondente a sinal é seméion, que vem de sema, sama, indício, imagem. O corpo (soma) humano é imagem da alma que o vivifica; por ele transparece o mistério da pessoa humana.

O recurso a imagens ou sinais é exigência da natureza psicossomática do ser humano. Mesmo que exprime conceitos abstratos ou metafísicos, precisa de sinais sensíveis, como são a palavra oral, a escrita, os números .... Tudo o que é invisível tende a se traduzir por sinais ou símbolos.
A linguagem dos símbolos supõe capacidade intuitiva (diversa do raciocínio). Põe em relevo secretas modalidades que o discurso oral não dá a perceber. O símbolo assim é a epifania de um mistério indizível. Valioso espécimen dessa função vêm a ser os ícones orientais, que fascinam o bom entendedor. É preciso, pois, ter disposições adequadas para compreender os símbolos.

Dado que as realidades terrestres são polivalentes, é a mente do ser humano que, a partir de sua cultura, sua situação ou seu inconsciente, determina as virtualidades simbólicas de um mesmo objeto. Assim a palavra luz pode significar a luz física como também a luz da verdade. O vocábulo pão pode designar tanto o alimento corporal quanto o sustento da vida em geral ou o ganha-pão.

No plano Bíblico

Especialmente no Evangelho segundo São João é freqüente o vocábulo seméion, designando milagre enquanto é aceno para as realidades transcendentais:

Jo 2,23 ”Enquanto Jesus celebrava em Jerusalém a festa da Páscoa, muitos creram no seu nome, à vista dos milagres que fazia”.

Jo 3,2 “Nicodemos foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és um Mestre vindo de Deus. Ninguém pode fazer esses milagres que fazes, se Deus não estiver com ele”.
Jo 6,2 “Seguia-o uma grande multidão, porque via os milagres que fazia em beneficio dos enfermos”.

Jo 6,26 “Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: buscais-me, não porque vistes os milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes fartos”.

Jo 9,16 “Diziam alguns dos fariseus: Este homem não é o enviado de Deus, pois não guarda o sábado. Outros replicavam: Como pode um pecador fazer tais milagres? E havia desacordo entre eles”.

O sinal preenche diversas funções:

a)      identifica:

Lc 2,12 “Isto vos servirá de sinal: achareis um recém-nascido envolto em faixas e posto numa manjedoura”.

Mt 26,48 ‘”O traidor combinara com eles este sinal: Aquele que eu beijar, é ele. Prendei-o!”

Mt 24,3 “Indo ele assentar-se no monte das Oliveiras, achegaram-se os discípulos e, estando a sós com ele, perguntaram-lhe: Quando acontecerá isto? E qual será o sinal de tua volta e do fim do mundo?”

b)      assinala autoridade:

Mc 8,11 “Vieram os fariseus e puseram-se a disputar com ele e pediram-lhe um sinal do céu, para pô-lo à prova”.

c)      é figura que antecipa:

Mt 12,39 “Respondeu-lhes Jesus: Esta geração adúltera e perversa pede um sinal, mas não lhe será dado outro sinal do que aquele do profeta Jonas:”

d)      é milagre:

Rm 15,19 “pelo poder dos milagres e prodígios, pela virtude do Espírito. De maneira que tenho divulgado o Evangelho de Cristo desde Jerusalém e suas terras vizinhas até a Ilíria”.

2 Cor 12,12 “Os sinais distintivos do verdadeiro apóstolo se realizaram em vosso meio através de uma paciência a toda prova, de sinais, prodígios e milagres”.

Hb 2,3-4 “Como, então, escaparemos nós se agora desprezarmos a mensagem da salvação, tão sublime, anunciada primeiramente pelo Senhor e depois confirmada pelos que a ouviram, comprovando-a o próprio Deus por sinais, prodígios, milagres e pelos dons do Espírito Santo, repartidos segundo a sua vontade”?

e)      Jesus é sinal de contradição:

Lc 2,34 “Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: Eis que este menino está destinado a ser uma causa de queda e de soerguimento para muitos homens em Israel, e a ser um sinal que provocará contradições”.
  
Polivalência dos sinais

Na Escritura os diversos sinais ou símbolos podem ter diversos significados.

                                   Purificação: Mc 7,3-4
                                   Vida: Jo 4,10-14
Água
                                   Tribulação: Sl 123,4-5
                                   Espírito Santo: Jo 7,37-39
                                   Casa de pedras: Ag 2,6-7
Templo                        Corpo de Jesus: Jo 2,19
                                   Corpo do cristão: 1 Cor 6,19


                                   Física: Jo 11,9-10
Luz                              Cristo: Jo 1,9
                                   Deus: 1 Jo 1,5
           
                                  
                                   Alimento corporal: Mc 6,35-44
Pão
                                   Alimento espiritual: Jo 6,32-55


Jesus é a imagem do Pai (Jo 14,9-10) ou do Deus invisível (Cl 1,15)

Jesus é o exegeta (explicador) do Pai: Jo 1,18. Precisamente o fato de que o Verbo se fez carne assumindo a natureza humana como transparência da divindade, é o fundamento mais profundo do amor de Deus; o mundo inteiro pode ser tomado como um reflexo da sabedoria e do poder de Deus; é uma grande realidade da qual são tiradas as parábolas e imagens do Novo Testamento.

MISTÉRIO E SACRAMENTO
  
MISTÉRIO

Mistério vem do grego mystérion, que vem do verbo myein, que significa “fechar a boca, calar, silenciar”.

Os judeus depuraram o vocábulo “mistério” do seu significado mitológico e foram-lhe atribuindo um valor monoteísta. Assim, por exemplo, em Daniel “mistérios” são os acontecimentos finais da história, que trarão salvação aos justos e cuja notícia é revelada a quem Deus a quer comunicar:

Dn 2,28-29 “Mas no céu existe um Deus que desvenda os mistérios, o qual quis revelar ao rei Nabucodonosor o que deve suceder no decorrer dos tempos. Eis, portanto, teu sonho e as visões que se apresentaram a teu espírito quando estavas em teu leito.  Senhor, os pensamentos que vieram ao teu espírito, enquanto estavas em teu leito, são previsões do futuro: aquele que revela os mistérios mostrou-te o futuro”.

Dn 2,47 “Dirigindo-se a Daniel, disse o rei: Vosso Deus é verdadeiramente o Deus dos deuses, o Senhor dos reis; é também o revelador dos mistérios, já que pudeste revelar este”.

A palavra mistério significa um desígnio de Deus, decretado desde todo o sempre e destinado a se revelar no fim dos tempos para instaurar a ordem violada no mundo pelos iníquos.

No Evangelho Jesus diz em Mc 4,11: “A vós foi dado o mistério do Reino de Deus...”.

“Mistério do Reino” é expressão para significar o desígnio de Deus que se deve realizar no fim dos tempos e só pode ser conhecido mediante especial revelação, por conseguinte, “conhecer os mistérios do Reino” quer dizer, no Evangelho, “ter os olhos abertos à instauração ou aos inícios do reino do Messias” (Mt 13,16-17). O mistério do Reino de Deus revelado aos Apóstolos é o próprio Jesus aparecendo como Messias.

Nas epístolas de São Paulo a palavra mistério aparece com significado bem definido:

- 1 Cor 2,7. É o plano de salvação concebido por Deus Pai desde toda a eternidade;
- 1 Cor 2,8. Ocultado a todas as criaturas, até mesmo aos anjos;
- Ef 3,3-5. Revelado aos homens mediante a pregação dos Apóstolos e a história da Igreja;
- Cl 1,27. Identificado com o próprio Cristo;
- Ef 1,9. A progressiva revelação do mistério inaugura os últimos tempos ou marca a plenitude dos tempos.

Nos escritos paulinos mistério revela a ação salvífica de Deus que vai sendo anunciada aos homens, tendo por centro a morte e a ressurreição de Jesus.

Mistério veio a ser, nos primeiros séculos do Cristianismo, 1) o plano salvífico concebido por Deus desde toda a eternidade, 2) a ação salvífica de Cristo, que começou a revelar este plano, 3) a celebração dessa obra salvífica no culto sagrado, 4) os símbolos do Antigo Testamento que prefiguravam o Cristo Salvador, 5) as verdades de fé ligadas a essa ação salvífica do Senhor.

A palavra grega mystérion foi traduzida para o latim pelo vocábulo sacramentum.
  
SACRAMENTO

Etimologicamente falando, sacramento vem do latim sacramentum. A raiz sacra significa relação com o divino, o verbo sacrare implica devotar à Divindade. O sufixo mentum significa o meio ou instrumento pelo qual se faz algo. Donde se vê que sacramentum é aquilo mediante o qual algo se torna sagrado. Por extensão o vocábulo podia designar também a ação de consagrar ou devotar e o objeto consagrado à Divindade.

Os significados de sacramentum e mysterium se tornaram mais precisos.

Sacramentum ficou reservado para designar os ritos sagrados e, de modo especial, os sete sacramentos: Batismo, Eucaristia, Confirmação, Penitência, Unção dos Enfermos, Ordem e Matrimônio. Por Sacramento entende-se um sinal sensível que comunica a graça divina.

Mysterium passou a indicar cada vez mais as ações salvíficas de Jesus (dizemos: os mistérios do Rosário, para indicar a Anunciação do Anjo a Maria, o Nascimento de Jesus, sua circuncisão, as fases da Paixão do Senhor...), como também as grandes verdades da fé, que ultrapassam a compreensão dos homens (o mistério da SSma. Trindade, o da Encarnação, o da Eucaristia...)

JESUS CRISTO É O PRIMEIRO SACRAMENTO
  
União Hipostática

A vida do Pai (e da SSma. Trindade) se derramou sobre a humanidade de Jesus: “Nele habita corporalmente poda a plenitude da Divindade”.  Unindo em si a Divindade e a humanidade, Jesus podia dizer: “Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,6).

Essa união do Divino e do Humano em Jesus chama-se União Hipostática, união numa só Pessoa: um só Eu (Divino), o Eu de Deus Filho, dispõe de tudo o que é de Deus (poder, sabedoria, amor...) e de tudo o que é do homem (corpo, alma, faculdades sensíveis... exceto o pecado). Em tudo Ele age como Deus feito homem o de modo divino-humano, teândrico. A finalidade dessa união era recriar o homem e dar um sentido novo, muito valioso, a todas as fases da existência humana. Na linguagem de São Paulo, dir-se-ia: “recapitular todas as coisas” (Ef 1,9-10), dando ao ser humano e à sua realidade de cada dia um valor e um alcance santificados e santificantes. Por isto é que Deus feito Homem quis:

- sofrer fome no deserto:  Mt 4,1-10;
- sentir sede junto ao poço de Jacó: Jo 4,6-7;
- ter sede na cruz: Jo 19,28;
- sofrer os flagelos e os espinhos da Paixão: MC 15,15-17;
- orar ao Pai: Lc 11,1;
- alegrar-se por ver a fé da cananéia: Mt 9,20-22;
- estremecer quando contemplou Lázaro morto: Jo 11,33;
- suar sangue diante de perspectiva da Paixão: Lc 22,41-44;
- morrer na cruz a morte de um escravo: Mc 15,37

Jesus, segunda pessoa da SSma. Trindade agia mediante a sua humanidade. (O Concílio de Calcedônia (451) o definiu afirmando que em Jesus havia uma só Pessoa (divina) e duas naturezas (a divina e a humana). Tudo que Jesus fez de humano, Ele o fez como Deus. Quando rezava, rezava como homem, mas a sua oração era a de Deus Filho feito homem, cheio de reverência (Hb 5,7). Assim toda a vida humana de Jesus, em cada qual dos seus gestos, foi salvífica. Por isto esses gestos se chamam mistérios e perfazem o grande SACRAMENTO da humanidade de Jesus. Ele viveu tudo o que nós vivemos para o transfigurar. Essa ação sacramental  de Jesus não terminou com a Ascensão, mas se prolonga na Igreja através dos séculos. 

Ação e Eficácia dos Mistérios de Jesus

Todas as ações da vida de Cristo tinham valor infinito por causa da Pessoa Divina que as exercia. Converteram-se assim em fonte de santidade. Diz Santo Tomás de Aquino:
 “Tudo o que Jesus fez e padeceu atua como instrumento da Divindade para a salvação do homem”.

Essa ação salvífica se prolonga no tempo e no espaço mediante os sinais sacramentais. Estes são ministrados por Cristo Deus e Homem – o Cristo Sacerdote:


JESUS             AÇÕES DIVINO-HUMANAS                     SINAIS                       GRAÇA            CRISTÃO
CRISTO              DE SUA VIDA MORTAL        SACRAMENTAIS      SANTIFICANTE


Os sacramentos são ministrados na Liturgia e pela Liturgia da Igreja, de modo que a Liturgia é mais do que um cerimonial ou ritual; ela é a continuação da obra salvífica de Cristo.

Já que os sacramentos correspondem às ações teândricas (Divino-Humano) ou aos mistérios da vida de Cristo, compreende-se que eles recobrem a vida inteira do cristão, elevando-a a um plano mais elevado ou sobrenatural.


NASCER        CRESCER      ALIMENTAR-SE   MEDICINA          ESTADO DE VIDA   LUTA FINAL
     

BATISMO  CONFIRMAÇÃO   EUCARISTIA  RECONCILIAÇÃO  ORDEM/MATRIMONIO   UNÇÃO

 A Sacramentalidade da Igreja

            Cristo continua a agir na santificação dos homens mediante os sacramentos. A Igreja participa da sacramentalidade de Cristo; ela é o âmbito através do qual Cristo exerce a sua ação e santifica os homens. É São Leão Magno (+461) quem o diz: “Aquilo que era visível em Cristo, passou para os sacramentos da Igreja”.
            A Igreja é uma comunidade sacerdotal porque participa do sacerdócio de Cristo. Os sacramentos fazem a Igreja; a Igreja faz os sacramentos. (os ministros agem em nome de Cristo; os ministros são as mãos estendidas de Cristo).

            A Igreja é chamada “Corpo Místico de Cristo” porque é um Corpo derivado do mistério da Eucaristia e dos demais sacramentos. De modo especial, a Eucaristia faz a Igreja, pois, proporcionando comunhão com Cristo Cabeça, propicia comunhão com os membros de Cristo, reunindo-os num só Corpo, que é a Igreja.

            Os sacramentos foram por Cristo confiados à Igreja como Corpo de Cristo. É Jesus Cristo, como Sumo Sacerdote, quem os ministra através da Igreja. Esta verdade é expressa pela Tradição da Igreja, que Santo Tomás de Aquino reassume nos seguintes termos:
           
            “Do lado de Cristo adormecido na Cruz jorraram os sacramentos com os quais a Igreja foi construída”.

            O Concílio Vaticano II explicita a ação de Cristo e da Igreja na aplicação dos sacramentos:
           
“Toda a celebração litúrgica, como obra de Cristo Sacerdote e de seu Corpo, que é a Igreja, é uma ação sagrada por excelência, cuja eficácia, no mesmo título e no mesmo grau, não é igualada  por alguma outra ação da Igreja” (Sacrosanctum concilium nº 7).

            “Em tão grandiosa obra pela qual Deus é perfeitamente glorificado e os homens são santificados, Cristo sempre associa a si a Igreja, sua Esposa diletíssima, que invoca  seu Senhor e por Ele presta culto ao Eterno Pai”

            “A Liturgia é o cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo é a fonte da qual emana toda a sua força. Pois os trabalhos apostólicos se ordenam a esta finalidade: todos os fiéis, feitos pela fé e o Batismo filhos de Deus, juntos se reúnam, ouvem a Deus na Igreja, participem do sacrifício e se alimentem da ceia do Senhor”.

            A Igreja é o sacramento do Espírito Santo!

A Igreja é, a um tempo, humana e divina, visível, mas ornada de dons invisíveis, operosa na ação e devotada à contemplação, presente no mundo e, no entanto, peregrina; e isso de tal maneira que nela o humano se ordene ao divino e a ele se subordine, o visível ao invisível, a ação à contemplação e o presente à cidade futura que buscamos.

MATÉRIA E FORMA

            Já Santo Agostinho (+430) distinguia dois componentes de cada sacramento: o elemento material (água, óleo, pão, vinho...) e a palavra, que define precisamente o sentido do elemento material.

O sacramento é um básico sinal ou uma única causa, integrada por dois componentes – matéria e forma.

O pleno significado dos sacramentos exige que o sentido das coisas sensíveis seja determinado por algumas palavras. “.... .. eu te batizo .....”

Das palavras e das coisas faz-se nos sacramentos uma só realidade, sendo matéria e forma; as palavras aperfeiçoam o significado das coisas.

As palavras não pedem a infusão da graça, mas indicam a infusão da graça devida à eficácia do sacramento. O sacerdote não pede a Deus que perdoe os pecados, mas diz: “Eu te absolvo dos teus pecados”, pois o próprio sacramento devidamente aplicado pelo ministro, é canal de graça.
  
O Caráter Sacramental

Os sacramentos produzem um efeito intermediário entre o sinal sensível e a graça, efeito chamado caráter.

Ef 4,30 “Não contristeis o Espírito Santo de Deus, com o qual estais selados para o dia da Redenção”.

Ef 1,13 “...fostes selados com o Espírito Santo que fora prometido”.

2 Cor 1,22 “Ele nos marcou com o seu selo e deu aos nossos corações o penhor do Espírito”.

Selar ou marcar com um selo quer dizer tomar posse, assumir em pertença. O cristão  selado é marcado pelo Espírito Santo com o selo, a marca ou a efígie de Cristo, isto se dá à semelhança do que ocorria no Antigo Testamento, quando a pertença do povo eleito era assinalada pela circuncisão.

Este é o efeito produzido pelos três sacramentos consecratórios – Batismo, Crisma e Ordem; é efeito indelével que permanece na alma do cristão, mesmo quando este cai em pecado e perde a graça santificante.

Os demais sacramentos produzem um quase caráter, isto é, um efeito objetivo, independente da fidelidade do sujeito a Cristo. Caso típico é o da Eucaristia: quem a recebe, recebe realmente o Corpo e o Sangue de Cristo independente das disposições do sujeito (tal é o quase caráter), mas nem sempre recebe o efeito último que é a graça santificante e a comunhão com o Corpo Místico de Cristo que é a Igreja.

 O PECADO ORIGINAL
  
Os primeiros seres humanos foram criados em estado de harmonia, ...harmonia com Deus e consigo mesmos.

Quem lê atentamente o texto bíblico, verifica que os primeiros seres humanos gozavam de dons especiais constituídos de “justiça original”, ou seja, santidade original.

1) a filiação divina ou a graça santificante, chamado a participar da vida e da felicidade do próprio Deus, é o que diz o texto sagrado, o qual indica claramente que Adão vivia na amizade com o Criador. Este dom é dito “sobrenatural”, isto é, ultrapassa todas as exigências de qualquer criatura;

            2) Os dons preternaturais, isto é, que ampliavam as perfeições da natureza;

            a) a imortalidade, pois em Gn 3,3-4.19 a morte é apresentada como conseqüência do pecado; isto significa que, antes do pecado, o homem não morreria dolorosa e tragicamente como hoje morre;
            b) a impassibilidade ou ausência de sofrimento, pois estes decorrem da sentença condenatória de Gn 3,16;
            c) a integridade ou a imunidade de concupiscência desregrada, visto que os primeiros pais, antes do pecado, não se envergonhavam da sua nudez (Gn 2,25; 3,7-11); os seus instintos ou afetos estavam em consonância com a razão e a fé; não havia neles tendências contraditórias;
            d) a ciência moral infusa, que os tornava aptos a assumirem suas responsabilidades diante de Deus.

            Em Gn 3,6-7 está escrito que os primeiros pais comeram da fruta proibida. Isto quer dizer que desobedeceram a Deus ou não aceitaram o modelo de vida que o Senhor lhes havia apontado. A raiz desse pecado foi a soberba.

            As conseqüências do Pecado

            Em relação aos primeiros pais, o pecado acarretou a perda da justiça original, ou seja, da filiação divina e dos dons que a acompanhavam. O pecado acarretou também a desarmonia no mundo irracional que cerca o homem; este já não é o ponto de convergência das criaturas inferiores; ao contrário, estas muitas vezes prejudicam o homem e lhe negam a sua serventia; tendo se rebelado contra Deus, o homem sente contra si a rebelião das criaturas.

            Em relação aos descendentes dos primeiros pais, o pecado original tornou-se algo de hereditário. Dizemos que todos os homens nascem com a culpa original. Nos descendentes o pecado original consiste na ausência dos dons originais (graça santificante, dons preternaturais), que os primeiros pais deveriam ter guardados e transmitido, mas não puderam transmitir porque perderam esses dons. A criança que hoje nasce, devia nascer com a graça santificante, mas isto não acontece; ela nasce destoando do modelo que o Senhor lhe tinha assinalado; essa dissonância (que implica a concupiscência desordenada e a morte) é que se chama, por analogia, “pecado original” nos pequeninos.

            Toda criança que vem ao mundo, nasce dentro de um contexto social, geográfico, do qual é solidária.  A solidariedade mais fundamental que cada um de nós traz, é a solidariedade com os primeiros pais; se estes perderam os dons originais, nós, sem culpa nossa, somos afetados por essa perda – o que é muito lógico. Vê-se, pois, que a transmissão do pecado original não se deve a intenção vingativa de Deus, mas é conseqüência da índole mesma da natureza humana.

O BATISMO

FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA

            Diversas correntes religiosas praticavam e praticam a purificação ritual dos seus seguidores mediante a água. Esta tem, antes do mais, a função de lavar ou apagar manchas – o que sugere vida nova ou renascer.

            O Antigo Testamento conhece abluções rituais Ex 19,10; Lv 14,47. Não supunham pecados, mas impurezas fisiológicas ou naturais. São João Batista praticou tal rito em preparação do sacramento do Batismo, que Jesus havia de instituir; o Batismo de João suscitava o arrependimento mediante o qual os judeus podiam obter a remissão dos pecados. Era um sinal exterior com um desejo interior, mudança de vida.

            Jesus quis submeter-se a tal rito não porque dele precisasse, mas porque assim quis santificar a água, tornando-a canal da graça divina. São Lucas narra o episódio nos seguintes termos:
            “Quando todo o povo ia sendo batizado, também Jesus o foi. E estando ele a orar, o céu se abriu e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como uma pomba; e veio do céu uma voz: Tu és o meu Filho bem-amado; em ti ponho minha afeição”. Lc 3,21-22

            Jesus, solidário com os homens, cumpre toda a justiça (Mt 3,15), mas ao mesmo tempo é revelado como Filho de Deus e apresentado como Messias. O Batismo de Jesus, mergulhado nas águas, é figura da futura morte do Salvador, na qual será mergulhado no sofrimento.

            “Devo receber um Batismo, e como me anseio até que ele se cumpra!” Lc 12,50

            Juntamente com a ordem de anunciar a Boa Nova os discípulos receberam a ordem de batizar. O Cristianismo não é apenas escola; é inserção em Cristo, comunhão de vida com o Senhor, que se faz mediante os sacramentos, cujo portal é o Batismo. São Marcos associa Batismo e fé: “Quem  crer  e  for  batizado  será  salvo,  mas  quem  não  crer será condenado”. Mc 16,16. A fé implica a entrega total da pessoa a Deus e a aceitação da sua graça; como tal, ela é condição para o Batismo.

            Em Mateus é explicitada a fórmula batismal: “Batizai em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” Mt 28,19. “Em nome de ....” significa  “colocar sob o senhorio e a proteção de ...”, significa, no caso, dar comunhão de vida com o Pai pelo Filho no Espírito Santo.

            Jesus é o Cordeiro de Deus que toma sobre si o pecado do mundo para apagá-lo; além disto, sobre Jesus paira o Espírito prometido pelos Profetas (Is 11,2; 42,1); assim “Ele batiza no Espírito Santo” (Jo 1,29-34). É prometido, com estas palavras, um Batismo diferente do de João: será um sacramento, que fará da água o sinal transmissor da graça divina.
           
            Em Jo 3,1-13 é registrado o diálogo de Jesus com Nicodemos, que trata de um novo nascimento a partir da água e do Espírito: “Quem não nascer da água e do Espírito, não poderá entrar no Reino de Céus”. A Tradição cristã e o Concílio de Trento (1545-1563) entenderam este texto como alusivo ao Batismo; este é apresentado como algo mais do que a matrícula numa comunidade religiosa; é, sim, uma regeneração da nova vida mediante a ação do Espírito, que nos faz filhos no FILHO e nos leva ao Pai. (Rm 8,15-16).

            São João incute repetidamente este renascer ou esta comunhão com a vida trinitária:

            1 Jo 2,29 “Se sabeis que ele é justo, sabei também que todo aquele que pratica a justiça é nascido dele”.
            1 Jo 3,9 “Todo o que é nascido de Deus não peca, porque o germe divino reside nele; e não pode pecar, porque nasceu de Deus”.
            A semente portadora de nova vida, é o Cristo, (1 Jo 5,18), ou o Espírito (1 Jo 2,20.27), ou é a Palavra de Deus (1 Jo 2,7.24). Estas diversas acepções convergem entre si.

            Merece atenção também o texto de Jo 7,37-39 “Se alguém tem sede, venha a mim. E beba aquele que crê em mim. Como diz a Escritura, do seio dele (Messias) jorrarão rios de água viva”.

            Jesus falava do Espírito que deveriam receber os que nele cressem, pois o Espírito ainda não fora dado, já que Jesus ainda não fora glorificado.

            Este texto alude às promessas bíblicas do Espírito, que deveria ser dado como fruto da vitória de Cristo (Jl 3,1-5) e que seria simbolizado pela água (Ez 36,25-29). O Espírito Santo, que é comunicado pelo Pai mediante a água do novo nascimento, dá plena comunhão com Cristo ou leva até a fonte, que é Cristo. A imagem da água viva e vivificante ocorre também em Jo 4,7-15 (diálogo com a Samaritana), em Jo 5,1-9 (o paralítico curado na piscina de Betesda) e em Jo 9,1-11 (cura do cego que lava os olhos na piscina de Siloé).

            Pendente da cruz, Jesus teve seu lado transpassado pelo golpe de lança; donde jorraram água e sangue (Jo 19,33-37). O evangelista dá muita importância a este fato, porque vê nele o sinal de algo maior. Na verdade, a Tradição cristã é unânime ao contemplar aí os símbolos do Batismo (água) e da Eucaristia (sangue).

            De acordo com a ordem do Senhor, logo após o batismo da Igreja pelo Espírito Santo em Pentecostes, os Apóstolos começaram a pregar e batizar. O Batismo está associado ao dom do Espírito Santo, que vem a ser o Dinamizador ou a alma da comunidade que se vai formando:

At 2,37-38 “Ao ouvirem essas coisas, ficaram compungidos no íntimo do coração e indagaram de Pedro e dos demais apóstolos: Que devemos fazer, irmãos? Pedro lhes respondeu: Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo”.

            Em cada cidade que os Apóstolos chegam, registram-se as seguintes etapas: anúncio da Palavra, acolhida por parte dos ouvintes, fé, Batismo, dom do Espírito Santo, fundação de uma nova comunidade, que comunga, pela fé os sacramentos, com as comunidades já existentes.

-         o etíope batizado por Filipe em Samaria: At 8,26-40;
-         o Batismo de Paulo em Damasco por Ananias: At 9,18;
-         o Batismo de Cornélio com todos os seus em Cesaréia por Pedro: At 10,1-48;
-         o Batismo de Lídia com sua família em Filipos: At 16,14-15;
-         o Batismo do carcereiro de Filipos com todos os seus: At 16,29-33;
-         o Batismo de Crispo, chefe da sinagoga, com os seus e outros concidadãos em Corinto: At 18,8.

Assim se construiu “o novo Israel de Deus” Gl 6,15-16 “Porque a circuncisão e a incircuncisão de nada valem, mas sim a nova criatura.  A todos que seguirem esta regra, a paz e a misericórdia, assim como ao Israel de Deus”.

            O Batismo é a participação na Páscoa de Cristo:

            Rm 6,4-6 “Fomos, pois, sepultados com ele na sua morte (pecado) pelo batismo para que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma vida nova. Se fomos feitos o mesmo ser com ele por uma morte semelhante à sua, seremos igualmente por uma comum ressurreição.  Sabemos que o nosso velho homem foi crucificado com ele, para que fosse destruído este corpo de pecado, e assim não sirvamos mais ao pecado”.

            O Batismo faz a pessoa entrar na morte de Cristo, que é, antes do mais, morte para o pecado, inseparável da ressurreição para uma vida isenta de faltas. Esta morte e ressurreição exigem um desdobramento na existência moral do cristão; ele tem que realizar a morte ao pecado e a afirmação de uma vida nova através de todos os seus atos.

            Rm 6,8.11 “Ora, se morremos com Cristo, cremos que viveremos também com ele. Portanto, vós também considerai-vos mortos ao pecado, porém vivos para Deus, em Cristo Jesus”.

            Rm 6, 12-13 “Não reine, pois, o pecado em vosso corpo mortal, de modo que obedeçais aos seus apetites. Nem ofereçais os vossos membros ao pecado, como instrumentos do mal. Oferecei-vos a Deus, como vivos, salvos da morte, para que os vossos membros sejam instrumentos do bem ao seu serviço”.

            Assim o Batismo só terá atingido a sua consumação no indivíduo quando o corpo herdado do primeiro Adão tiver sido, pela ressurreição, plenamente configurado ao corpo glorioso do segundo Adão. (1 Cor 15,45-49).

            A vida cristã é comparada à militância num exército. Dois Generais em guerra se apresentam ao homem: o Pecado e Deus. Ao cristão cabe escolher o Chefe em cujas fileiras se alistará; feita a escolha, terá que arcar com as conseqüências.

            O cristão é capacitado a lutar eficazmente contra o pecado, como bom soldado de Cristo, a fim de se santificar e santificar o mundo.

            O “ser incorporado em Cristo” e “participar da vida de Cristo” é um revestimento: “Todos vós que fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo”(Gl 3,27). Revestir-se do Cristo significa “comungar com a vida de Cristo”, “prolongar a vida, a morte e a ressurreição de Jesus na existência mesma do cristão”.

            “Tornai-vos aquilo que sois”

É necessário que, na prática de cada dia, o cristão se comprometa a uma vida nova.

            Cl 3,1-11 “Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas de cima, e não às da terra.
Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.
Quando Cristo
, vossa vida, aparecer, então também vós aparecereis com ele na glória.
Mortificai, pois, os vossos membros no que têm de terreno: a devassidão, a impureza, as paixões, os maus desejos, a cobiça, que é uma idolatria. Dessas coisas provém a ira de Deus sobre os descrentes. Assim também vós quando vivíeis entre eles. Agora, porém, deixai de lado todas estas coisas: ira, animosidade, maledicência, maldade, palavras torpes da vossa boca, nem vos enganeis uns aos outros. Vós vos despistes do homem velho com os seus vícios, e vos revestistes do novo, que se vai restaurando constantemente à imagem daquele que o criou, até atingir o perfeito conhecimento.  Aí não haverá mais grego nem judeu, nem bárbaro nem cita, nem escravo nem livre, mas somente Cristo, que será tudo em todos”.

            O Espírito Santo dinamizador

            O Espírito Santo é o dom do Cristo que batiza. O espírito santo é selo, penhor e agente de vida nova:

            2 Cor 1,22 “Ele nos marcou com o seu selo e deu aos nossos corações o penhor do Espírito”.

            Ef 1,13-14 “Nele também vós, depois de terdes ouvido a palavra da verdade, o Evangelho de vossa salvação no qual tendes crido, fostes selados com o Espírito Santo que fora prometido, que é o penhor da nossa herança, enquanto esperamos a completa redenção”.

            Ef 4,30 “Não contristeis o Espírito Santo de Deus, com o qual estais selados para o dia da Redenção”.
            Rm 8,11-17 “Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vós, ele, que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos, também dará a vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós. Portanto, irmãos, não somos devedores da carne, para que vivamos segundo a carne. De fato, se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras da carne, vivereis, pois todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Porquanto não recebestes um espírito de escravidão para viverdes ainda no temor, mas recebestes o espírito de adoção pelo qual clamamos: Aba! Pai!
O Espírito mesmo dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus.
E, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, contanto que soframos com ele, para que também com ele sejamos glorificados”.

            Portanto, somos devedores não à carne para vivermos segundo a carne. Pois se vivermos segundo a carne, morreremos, mas, se vivermos pelo Espírito faremos morrer as obras do corpo, e assim viveremos.

            O Espírito recebido no Batismo move o cristão, dá-lhe comunhão com a vida trinitária e torna-se penhor da plena configuração a Cristo pela ressurreição.

A inserção no Corpo de Cristo, que é a Igreja

            A ação do Espírito Santo visa não somente à santificação de cada cristão, ms também à formação do Corpo de Cristo, a Igreja.

            1 Cor 12,13 “Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só corpo, judeus ou gregos, escravos ou livres; e todos fomos impregnados do mesmo Espírito”.

            Por causa dessa presença dinâmica do Espírito Santo, as diversas funções existentes na Igreja se harmonizam entre si:

            Ef 4,5-6 “Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo. Há um só Deus e Pai de todos, que atua acima de todos, por todos e em todos”.

            A unidade na multiplicidade resulta do Espírito Santo. Pelo único Batismo, todos os cristãos sabem estar unidos entre si no único corpo de Cristo, que á a Igreja.

     Purificação do Corpo Místico

            A Igreja, Corpo de Cristo, é também “a Esposa de Cristo”. No Oriente antigo a noiva era banhada e lavada; depois os amigos do noivo a apresentavam ao noivo. No caso, porém, da Igreja, foi Cristo quem lavou sua noiva, purificando-a de toda mancha mediante o Batismo para apresentá-la a si mesmo:

            Ef 5,25-27 “ ... Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo com a palavra, para apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível”.

            1 Cor 6,11 “Ao menos alguns de vós têm sido isso. Mas fostes lavados, mas fostes santificados, mas fostes justificados, em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus”.

            À idéia de purificação se associa a de iluminação.

Ef 5,11-14 “Não sejais participantes nas obras infrutíferas das trevas; pelo contrário, condenai-as  abertamente. Porque as coisas que tais homens fazem ocultamente é vergonhoso até falar delas. Mas tudo isto, ao ser reprovado, torna-se manifesto pela luz. E tudo o que se manifesta deste modo torna-se luz. Por isto (a Escritura) diz: Desperta, tu que dormes! Levanta-te dentre os mortos e Cristo te iluminará”

            Hb 6,4 “Porque aqueles que foram uma vez iluminados saborearam o dom celestial, participaram dos dons do Espírito Santo”.

            Hb 10,32 “Lembrai-vos dos dias de outrora, logo que fostes iluminados. Quão longas e dolorosas lutas sustentastes”.
           
O Batismo fica sendo sempre o referencial da vida do cristão: este deve fazer do sacramento uma realidade vivenciada, morrendo ao pecado e ressuscitando para uma vida nova.

 O BATISMO DE CRIANÇAS

A Sagrada Escritura não se refere explicitamente ao Batismo de crianças. Todavia narra que vários personagens pagãos professaram a fé cristã e se fizeram batizar “com toda a sua casa”; o Batismo de Cornélio com todos os seus em Cesaréia por Pedro: At 10,1-48; o Batismo de Lídia com sua família em Filipos: At 16,14-15; o Batismo do carcereiro de Filipos com todos os seus: At 16,29-33; o Batismo de Crispo, chefe da sinagoga, com os seus e outros concidadãos em Corinto: At 18,8., a família de Estéfanas AT 1,16. A expressão “casa” (domus, em latim; oikos, em grego) tinha sentido amplo na antiguidade: designava o chefe de família com todos os seus domésticos, inclusive as crianças (que geralmente não faltavam). Indiretamente, pois, as Escrituras sugerem o Batismo de crianças.

            Esta impressão se confirma desde que consideremos que os judeus batizavam os filhos pequeninos dos pagãos que abraçassem a fé de Israel. Ademais Orígenes de Alexandria (+250) e Santo Agostinho (+430) atestam que “o costume de batizar crianças é tradição recebida dos Apóstolos”. No próprio Evangelho, aliás, encontra-se a palavra incisiva do Senhor: “Quem não renascer da água e do Espírito, não poderá entrar no Reino dos Céus” (Jo  3,5). Estes dizeres sempre foram entendidos em sentido estrito e aplicados tanto a crianças como a adultos. Quando no século II aparecem os primeiros testemunhos diretos do Batismo de crianças, nenhum deles o apresenta como inovação. Santo Irineu de Lião (+202) considera óbvia, entre os batizados, a presença “das crianças e dos pequeninos” ao lado dos jovens e dos adultos.

            O Papa Paulo VI escreveu: “O Batismo deve ser administrado também às criancinhas que não tenham podido ainda tomar-se culpadas de qualquer pecado pessoal, a fim de que elas, tendo nascido privadas da graça sobrenatural, renasçam pela água e o Espírito Santo para a vida divina em Cristo Jesus”.

O fato de que as crianças ainda não podem professar a fé pessoalmente, não é obstáculo, pois a Igreja batiza os pequeninos na fé da própria Igreja, isto é, professando a fé em nome dos pequeninos. Esta doutrina acha-se expressa no Ritual do Batismo, quando o celebrante pede aos pais e padrinhos que professem “a fé da Igreja, na qual as crianças são batizadas”.  

É de notar que, no plano natural, os pais fazem, em lugar de seus filhos, opções indispensáveis ao futuro destes: a alimentação, a higiene, a educação, a escola... Os pais que se omitissem a tal propósito sob o pretexto de salvaguardar a liberdade da criança, prejudicariam seriamente a prole. Ora a regeneração batismal vem a ser o bem por excelência que os pais católicos devem proporcionar aos filhos; para quem tem fé, a filiação divina é o mais importante de todos os valores.

Mesmo que a criança, chegando à adolescência, rejeite os deveres  decorrentes do seu Batismo, o mal é então menor do que a omissão do sacramento. O fato de alguém rejeitar a boa educação que recebeu, é dano menos grave do que a omissão de educação por parte dos pais. Observemos ainda que, não obstante as aparências, a semente da fé depositada na alma da criança poderá um dia germinar; os pais contribuirão para isto mediante a sua oração e o seu autêntico testemunho de fé.

Caso não lhe seja possível batizar, a Igreja confia a criança falecida sem batismo ao amor de Deus, que é Pai e fonte de misericórdia.

A CONFIRMAÇÃO

O Batismo se acha estritamente associado ao sacramento da Confirmação, pois este, como diz o nome, corrobora e leva à plenitude o Batismo; é o sacramento da maturidade cristã. Também se chama “sacramento da Crisma”. A expressão “o Crisma” fica reservada para designar o próprio óleo.

O sacramento da Crisma é a consolidação pentecostal do Batismo; é a consumação do Batismo. Isto vem indicado pelo próprio Rito Batismal, pois no fim da cerimônia batismal o batizado é ungido pelo óleo – unção esta que ainda não é o sacramento da Crisma. Assim, embora seja um sacramento próprio, a Crisma fica intimamente vinculada ao sacramento do Batismo, como também ao da Eucaristia, constituindo a tríade dos sacramentos da iniciação cristã.

FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA

Desde os primeiros livros do Antigo Testamento, o Espírito de Deus (Ruach – Elohim), embora não revelado como pessoa as Ssma. Trindade aparece como Dom transformador, que permite aos homens cumprir a missão para a qual são escolhidos:

Os juízes são fortalecidos pelo Espírito para libertar o povo oprimido por invasores.

Jz 3,9-10  “Os israelitas clamaram ao Senhor, que lhes suscitou um libertador para salvá-los: Otoniel, filho de Cenez, irmão mais novo de Caleb. O Espírito do Senhor desceu sobre ele: ele julgou Israel e saiu para a guerra. O Senhor entregou-lhe Cusã-Rasataim, rei da Mesopotâmia, e sua mão triunfou sobre ele”.

Jz 6,34 “O Espírito do Senhor apoderou-se de Gedeão, o qual, tocando a trombeta, convocou os filhos de Abieser para que o seguissem”.

Os reis foram consagrados com uma unção para exercerem suas funções de governo.

1Sm 10,1 “Samuel tomou um pequeno frasco de óleo e derramou-o na cabeça de Saul; beijou-o e disse: O Senhor te confere esta unção para que sejas chefe da sua herança”.

1Sm 16,12 –13 “E Isaí mandou buscá-lo. Ele era louro, de belos olhos e mui formosa aparência. O Senhor disse: Vamos, unge-o: é ele. Samuel tomou o óleo e ungiu-o no meio dos seus irmãos. E, a partir daquele momento, o Espírito do Senhor apoderou-se de Davi”.

1Rs 1,39  “Tomou o sacerdote Sadoc no tabernáculo o chifre de óleo e ungiu com ele Salomão. A trombeta soou e todo o povo pôs-se a gritar: Viva o rei Salomão”!

Os profetas falavam e atuavam guiados pelo Espírito do Senhor.

1Sm 19,20  “Saul mandou homens para prendá-lo (Davi), mas quando viram a comunidade dos profetas em delírio, tendo Samuel à sua frente, o Espírito de Deus veio sobre os enviados de Saul que começaram, também eles, a profetizar”.

Ez 8,3 “Estendeu uma espécie de mão, e me agarrou pelos cachos dos cabelos. O Espírito levantou-me entre o céu e a terra, e me levou a Jerusalém, em visões divinas, à entrada da porta interior que olha para o norte, lá onde se erige o ídolo que provoca o ciúme (do Senhor)”.

Ez 11,1 “O Espírito arrebatou-me e transportou-me à porta oriental do templo do Senhor, a que olha para o Levante. Havia à entrada dessa porta vinte e cinco homens, entre os quais distingui Jazanias, filho de Azur, e Feltias, filho de Banaías, chefes do povo”.

Ez 37,9-10  “Profetiza ao Espírito, disse-me o Senhor, profetiza, filho do homem, e dirige-te ao Espírito: eis o que diz o Senhor Javé: vem, Espírito, dos quatro cantos do céu, sopra sobre esses mortos para que revivam.  Proferi o oráculo que ele me havia ditado, e daí a pouco o Espírito penetrou neles. Retornando à vida, eles se levantaram sobre seus pés: um grande, um imenso exército”.

Jesus (o Messias) devia ser e foi o portador, por excelência, do Espírito de Deus, que ele transmitiria aos fiéis da nova aliança.

Is 11,1-2  “Um renovo sairá do tronco de Jessé, e um rebento brotará de suas raízes. Sobre ele repousará o Espírito do Senhor, Espírito de sabedoria e de entendimento, Espírito de prudência e de coragem, Espírito de ciência e de temor ao Senhor”.

Jl 3,1-2  “Depois disso, acontecerá que derramarei o meu Espírito sobre todo ser vivo: vossos filhos e vossas filhas profetizarão; vossos anciãos terão sonhos, e vossos jovens terão visões.  Naqueles dias, derramarei também o meu Espírito sobre os escravos e as escravas”.

Esta profecia de Joel começou a se realizar em Pentecostes; se cumpre em plenitude na Igreja; donde se pode dizer que o tempo da Igreja é o tempo do Espírito Santo.

At 2, 15-18 “Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, visto não ser ainda a hora terceira do dia. Mas cumpre-se o que foi dito pelo profeta Joel: Acontecerá nos últimos dias - é Deus quem fala -, que derramarei do meu Espírito sobre todo ser vivo: profetizarão os vossos filhos e as vossas filhas. Os vossos jovens terão visões, e os vossos anciãos sonharão. Sobre os meus servos e sobre as minhas servas derramarei naqueles dias do meu Espírito e profetizarão”.

Jo 7,37-39  “No ultimo dia, que é o principal dia de festa, estava Jesus de pé e clamava: Se alguém tiver sede, venha a mim e beba.  Quem crê em mim, como diz a Escritura: Do seu interior manarão rios de água viva.  Dizia isso, referindo-se ao Espírito que haviam de receber os que cressem nele, pois ainda não fora dado o Espírito, visto que Jesus ainda não tinha sido glorificado”.

O Sacramento da Crisma é o sacramento da plenitude do Espírito Santo, que confirma o cristão batizado e o habilita a dar claro testemunho do Evangelho para a edificação da Igreja e do Reino de Deus no mundo.

At 8, 14-17 “Os apóstolos que se achavam em Jerusalém, tendo ouvido que a Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram-lhe Pedro e João. Estes, assim que chegaram, fizeram oração pelos novos fiéis, a fim de receberem o Espírito Santo, visto que não havia descido ainda sobre nenhum deles, mas tinham sido somente batizados em nome do Senhor Jesus.  Então os dois Apóstolos lhes impuseram as mãos e receberam o Espírito Santo”.

Jo 14,26 “Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito”.

Jo 16,7 “Entretanto, digo-vos a verdade: convém a vós que eu vá! Porque, se eu não for, o Paráclito não virá a vós; mas se eu for, vo-lo enviarei”.

O Espírito santo desceu sobre eles e eles que eram homens medrosos se tornaram pessoas  corajosas.

Através do Sacramento da Crisma o Espírito Santo atua com mais profundidade em nossa vida.  É a pessoa já adulta que realmente quer participar ativamente da Igreja de Cristo.

O bispo unge a pessoa com óleo santo.  A Crisma é o selo do Dom do Espírito Santo.

At 19,6 “E quando Paulo lhes impôs as mãos, o Espírito Santo desceu sobre eles, e falavam em línguas estranhas e profetizavam”.

Toda a doutrina do Novo Testamento oferece a fundamentação do Sacramento da Crisma, pois, referindo-se às promessas do Antigo Testamento, afirma a efusão do Espírito Santo sobre Cristo (como homem), sobre a Igreja e sobre os cristãos.

Sobre Cristo: Por ocasião do Batismo:

Mc 1,9-10 “Ora, naqueles dias veio Jesus de Nazaré, da Galiléia, e foi batizado por João no Jordão. No momento em que Jesus saía da água, João viu os céus abertos e descer o Espírito em forma de pomba sobre ele”.

Sobre a Igreja: No dia de Pentecostes:

At 2,1-4 “Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. Apareceu-lhes então uma espécie de línguas de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem”.

Sobre os cristãos:

2 Cor 1,21-22 “Ora, quem nos confirma a nós e a vós em Cristo, e nos consagrou, é Deus. Ele nos marcou com o seu selo e deu aos nossos corações o penhor do Espírito”.

O Espírito Santo é penhor por que é Deus que se dá ao cristão peregrino, antecipando a plena doação que ocorre na vida eterna.

O Espírito Santo é também unção (chrísma, em grego) porque, à semelhança do óleo nos penetra interiormente e consagra como filhos configurados ao FILHO.

1 Jo 2,27  “Quanto a vós, a unção que dele recebestes permanece em vós. E não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, assim é ela verdadeira e não mentira. Permanecei nele, como ela vos ensinou”.

Deve irradiar-se fazendo do cristão o bom odor de Cristo.

Este sacramento nos une mais a missão de Jesus. Aumenta em nós os dons do Espírito Santo, por este sacramento recebemos os dons:

SABEDORIA  -  INTELIGENCIA  - CIÊNCIA   -   CONSELHO  - FORTAQLEZA  - PIEDADE  -  TEMOR DE DEUS  (Is 11,1-3)


APROFUNDAMENTO TEOLÓGICO

            A Confirmação – como insinua o próprio nome – deve ser considerada à luz do Batismo, como Pentecostes à luz da Páscoa.

            Na Páscoa Jesus, vencedor da morte, apresentou ao mundo a nova criatura (2 Cor 5,17) ou o novo Adão (1 Cor 15,45-47). A vitória de Páscoa devia estender-se a todas as criaturas humanas. Por isto Jesus enviou o Espírito Santo – que reúne os fiéis na Igreja – Corpo de Cristo vivificado pelo Espírito. A Igreja assim concebida foi fundada, e de modo definitivo, em Pentecostes.

            O dom do Espírito não é outorgado apenas à Igreja como Corpo ou comunidade. Ele é concedido a cada cristão pessoalmente em paralelo ao Pentecostes da Igreja inteira. Com efeito, o cristão participa da Páscoa de Cristo pelo Batismo, mergulhado na morte e ressurreição do Senhor; e participa do Pentecostes da Igreja pelo Sacramento da Confirmação. Esta, comunicando a plenitude do Espírito Santo, faz que toda a vida do cristão seja animada pelo Espírito Santo.

            1 Cor 12,3 “Ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor, a não ser pela ação Espírito Santo”.

            Rm 8,14 “Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus”

            A vida assim orientada pelo Espírito Santo frutifica em “amor, alegria, paz, longanimidade, bondade, fidelidade, mansidão” Gl 5,22-23.

            Portanto é no Sacramento da Crisma que têm seu embasamento mais profundo todas as expressões da vida cristã: a oração, o culto divino, a prática da ascese, o cultivo das virtudes, o testemunho do Evangelho até o martírio. A vocação para a santidade é decorrente do Batismo, e corroborada e sustentada pela graça sacramental da Confirmação.

            A relação da Crisma com Pentecostes e Páscoa é expressa pelo Papa Paulo VI:

            “No dia da festa de Pentecostes, o Espírito Santo desceu de modo maravilhoso sobre os apóstolos reunidos com Maria, Mãe de Jesus, e o grupo dos discípulos; ficaram de tal modo repletos desse Espírito (At 2,4), que, inspirados pelo sopro divino, começaram a anunciar as maravilhas de Deus. Pedro reconheceu então que o Espírito que descera assim sobre os apóstolos era o dom da era messiânica (At 2,17-18)”. (Constituição Apostólica 15/08/71).

            O Papa continua:
           
            “A participação na natureza divina, que é dada aos homens pela graça de Cristo, apresenta certa analogia com a origem, o desenvolvimento e o sustento da vida natural. Com efeito, os fiéis, renascidos no Batismo, são fortalecidos pelo Sacramento da Confirmação e nutridos depois na Eucaristia com o alimento da vida eterna. Assim, por esses sacramentos da iniciação cristã, recebem cada vez mais os tesouros da vida divina e caminham para a perfeição da caridade”.

            Pelo exposto acima, vê-se a importância própria da Confirmação para a iniciação sacramental, pela qual os fiéis, ‘como membros do Cristo vivo’, são incorporados e configurados não só pelo Batismo, mas também pela Confirmação e pela Eucaristia. No Batismo, os neófitos recebem o perdão dos pecados, a adoção de filhos de Deus e o ‘caráter’ de Cristo, pelo qual são agregados à Igreja e começam a participar do sacerdócio de seu Salvador. Pelo sacramento da Confirmação, aqueles que nasceram no Batismo recebem o Dom inefável, o próprio Espírito Santo. São enriquecidos por ele com uma força especial e marcados pelo caráter desse sacramento, ‘ficam mais perfeitamente unidos à Igreja’ e mais estritamente obrigados a difundir e defender a fé por palavras e atos, como verdadeiras testemunhas de Cristo. A Confirmação está de tal modo ligado à sagrada Eucaristia, que os fiéis, já marcados com o sinal do Batismo e o da Confirmação, são inseridos plenamente no Corpo de Cristo pela participação na Eucaristia.
           
          Participação no Sacerdócio de Cristo

            Assim como os Sacramentos do Batismo e da Ordem, o da Crisma imprime caráter.

            A palavra caráter vem do grego charakter = imagem, efígie. Donde se segue que a Crisma configura, de modo especial, o cristão a Cristo Sacerdote, Profeta e Rei. Ela confirma assim o fiel na participação do sacerdócio de Cristo, já outorgada pelo Batismo, habilitando-o a oferecer, sob a presidência do ministro ordenado (Presbítero ou Bispo), o santo sacrifício da Missa e o culto divino em geral.
           
            “O Senhor Jesus, a Quem o Pai santificou e enviou ao mundo (Jo 10,36), faz todo o Seu Corpo místico participar da unção do Espírito pela qual ele foi ungido. Pois n’Ele os fiéis todos tornam-se um sacerdócio santo e régio, oferecem a Deus hóstias espirituais por Jesus Cristo, e anunciam as virtudes d’Aquele que das trevas os chamou para sua luz admirável.

O mesmo Jesus, porém, instituiu a alguns como ministros entre os fiéis, para que estes se unissem num só corpo, em que ‘todos os membros não desempenham a mesma atividade’ (Rm 12,4).  “Tais ministros devem assumir o poder sagrado da Ordem, na comunidade dos fiéis, para oferecer o Sacrifício e perdoar os pecados, exercendo ainda publicamente o ofício sacerdotal em favor dos homens e em nome de Cristo”. (Concílio Vaticano II – sobre o Ministério e a Vida dos Presbíteros).

“O supremo e eterno Sacerdote Jesus Cristo quer continuar seu testemunho e seu serviço também através dos leigos. Vivifica-os por isso com seu Espírito e incessantemente os impele para toda obra boa e perfeita”. (Lumen Gentium).

            Participação nas funções de Cristo Profeta

            O Sacramento da Crisma confere o Espírito Santo muito especialmente para que o cristão se lance no mundo como arauto da Palavra ou como evangelizador ou ainda como Profeta não para predizer o futuro, mas para apregoar a Boa Nova no tempo presente.

            “Pelo Sacramento da Confirmação são vinculados mais perfeitamente à Igreja, enriquecidos de especial força do Espírito Santo, e assim mais estritamente obrigados à fé que, como verdadeiras testemunhas de Cristo, devem difundir e defender tanto por palavras como por obras” (Lumen Gentium).
            “Tal apostolado anuncia-se tanto mais urgente quanto a autonomia de muitos setores da vida humana, como se esperava, se desenvolveu ao máximo, por vezes com desvios de ordem ética e religiosa e com grave perigo para a vida cristã. Além disso, em muitas regiões em que os sacerdotes são tão escassos ou,  como também acontece, estão sendo cerceados em sua liberdade de ministério, sem a ação dos leigos, a Igreja mal poderia garantir sua presença e ação”. (Apostolado dos Leigos).
            Participação na função régia de Cristo

            Participar na função régia de Cristo não significa dominar nem conquistar, mas colaborar para organizar a Igreja e o mundo segundo os desígnios de Deus. Todo fiel católico tem a obrigação de contribuir para construção do Reino de Deus.

            “Existe na Igreja diversidade de serviços, mas unidade de missão. Aos Apóstolos e a seus sucessores foi por Cristo conferido o empenho de, em nome e com o poder d’Ele, ensinar, santificar e reger. Os leigos, por sua vez, participantes do ofício sacerdotal, profético e régio de Cristo, compartilham a missão de todo o povo de Deus na Igreja e no mundo. Realizam verdadeiramente apostolados quando se dedicam a evangelizar e santificar os homens e animar e aperfeiçoar a ordem temporal com o espírito do Evangelho, de maneira a dar com a sua ação neste campo claro testemunho de Cristo e a ajudar à salvação dos homens”. (Apostolado dos Leigos).

            Exercem o apostolado na fé, esperança e caridade, virtudes que o Espírito Santo derrama nos corações de todos os membros da Igreja. Mais: pelo preceito da caridade, que é o maior mandamento do Senhor, são instados os cristãos todos a promover a glória de Deus pelo advento de seu Reino e a conseguir a vida eterna em favor de todos os homens: para que conheçam o único Deus verdadeiro e aquele a quem enviou, Jesus Cristo. (Jo 17,3)

            Sede, portanto, membros vivos dessa Igreja e, guiados pelo Espírito Santo, procurai servir a todos, à semelhança do Cristo, que não veio para ser servido, mas para servir.

EUCARISTIA

A Eucaristia é o ápice da ordem sacramental. O Batismo é dirigido à Eucaristia, de modo que esta é o centro de toda a vida da Igreja e de cada um dos fiéis. É a perpetuação do sacrifício que Cristo ofereceu a sós no Calvário outrora e que atualmente, através dos sinais sagrados, oferece com a sua Igreja.

Por isto a Eucaristia apresenta dois aspectos: 1) é, antes do mais, sacrifício (o sacrifício do Calvário oferecido por Cristo e pela Igreja); 2) em conseqüência, é sacramento, ou seja, alimento da vida espiritual.

FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA

A promessa da Sagrada Eucaristia

A promessa acha-se consignada em Jo 6. O quarto Evangelista, escrevendo bem depois dos demais, não quis repetir a narrativa da instituição da Eucaristia, já apresentada por Mateus, Marcos, Lucas e Paulo (1 Cor 11,23-24); procurou, antes, desenvolver o profundo significado doutrinário do gesto de Jesus, referindo a promessa que o Senhor fizera do Pão da Vida.

Qual seria então o conteúdo de Jo 6?

Reúne três episódios harmoniosamente concatenados a fim de incutir uma grande tese ou o mistério da Eucaristia: a multiplicação dos pães (1-15), que revela o poder de Jesus sobre o pão; o caminhar sobre as águas (16-21), que significa o poder de Jesus sobre seu corpo e os elementos da natureza; o sermão sobre o Pão da Vida (22-71), que, utilizando os ensinamentos dos dois quadros anteriores, anuncia um pão que será o próprio Corpo de Cristo.

Observemos as expressões bem concretas:

“Eu sou o pão vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo. A essas palavras, os judeus começaram a discutir, dizendo: Como pode este homem dar-nos de comer a sua carne? Então Jesus lhes disse: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele”.

A clareza e a insistência destas palavras exigem que sejam entendidas em seu pleno realismo. Notemos que os judeus perguntaram como Jesus lhes poderia dar a sua carne a comer; então, procurando esclarecê-los, Jesus, longe de propor uma interpretação alegorista, reafirmou o sentido literal das suas palavras, utilizando uma expressão ainda mais forte, “se não comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos”.

Quem quisesse interpretar metaforicamente as palavras de Jesus, deveria comprovar a sua tese – o que seria difícil, pois o sentido metafórico que os dizeres de Jesus podiam ter em linguagem semita, não combina com o contexto de Jo 6,

Muitos dos seus discípulos, ouvindo-o, disseram: Isto é muito duro! Quem o pode admitir?

Ora, acontecia que, quando os discípulos se enganavam a respeito das afirmações do Mestre, tomando ao pé da letra expressões que deviam se entendidas metaforicamente, o Senhor tratava de desfazer o equívoco. Assim por exemplo, em Jo 11,11-14 Jesus dissipa o mal-entendido a respeito de “dormir” dizendo que se trata do sono da morte. Em Jo 3,4-5 Jesus explica que o “nascer de novo” não significa “entrar de novo no seio materno”, mas “nascer da água e do Espírito”. No caso, porém, de Jo 6, Jesus não somente não atenuou o realismo de suas palavras mas, ao contrário, o acentuou: “ Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida”. O Senhor manteve a sua posição, embora soubesse que, em conseqüência, vários de sues ouvintes haveriam de O abandonar; Cristo não hesitou mesmo em intimar os doze discípulos a definir a sua atitude com toda a clareza: ou crer no realismo das palavras do Senhor e, conseqüentemente, acompanhá-lo, ou negar a fé e, conseqüentemente,  afastar-se.


“O espírito é que vivifica, a carne de nada serve. As palavras que vos tenho dito são espírito e vida”. Que tinha em vista o Senhor ao dizer isto?

Jesus apenas visava a remover um entendimento grosseiro de suas afirmações: não se tratava de comer carne enquanto tal (está claro que esta por si não santifica o homem) nem de comer a carne do Senhor em suas condições terrestres (como se come a carne do açougue), mas, sim, de receber a carne de Cristo glorificada, emancipada das leis do espaço e do tempo. É a carne nessas circunstâncias novas que Jesus chama “espírito”; é espírito porque está toda penetrada pela Divindade (na verdade, á a Divindade de Cristo que, mediante a carne, vivifica os fiéis na Eucaristia).

Acrescentou o Senhor que as suas palavras são espírito, não como se tivessem de ser entendidas em sentido figurado, mas pelo fato de terem um alcance espiritual e exigirem um entendimento de fé; são vida também, porque nos revelam o meio de termos a vida em nós.


A Instituição da Eucaristia

Os textos básicos para se depreender o significado da Eucaristia são os quatro relatos da sua Instituição que o Novo Testamento nos oferece: Mt 26,26-29; Mc 14,22-25; Lc 22,19-20; 1 Cor 11,23-26. Quanto à substância, são equivalentes entre si: significam que. a) Jesus entrega aos discípulos sob o sinal de pão e vinho, o seu Corpo e o seu Sangue. b) para a remissão dos pecados, ou seja, como vítima expiatória. c) tal gesto deveria ser repetido pelos discípulos à guisa de memorial. 

Ao entregar o Corpo e o Sangue “por vós” ou “para a remissão dos pecados”, Jesus quis assumir o papel do Servidor de Javé anunciado por Isaías 53; aliás, por toda a sua vida pública Jesus demonstrou que se identificava com o Servo de Javé e os primeiros cristãos bem o compreenderam.

Poucas horas antes de oferecer o seu sacrifício cruento no Calvário, sacrifício para o qual tendia toda a sua vida terrestre, Jesus realizou uma ação profética, isto é, antecipou em sinais e palavra a sua entrega ao Pai, instituindo o rito da Eucaristia; esta tornaria presente o seu gesto a todas as gerações futuras, chamadas a participar da mesma entrega.

O gesto profético de Jesus se realizou dentro da moldura da Páscoa judaica, quando os israelitas imolavam o Cordeiro da Páscoa. Jesus substituiu-se a este, fazendo as vezes do verdadeiro Cordeiro, o único realmente capaz de trazer aos homens a redenção prefigurada pela vítima do Antigo Testamento. Foi assim que os cristãos entenderam a oblação feita por Jesus: 1 Cor 5,7 “Purificai-vos do velho fermento, para que sejais massa nova, porque sois pães ázimos, porquanto Cristo, nossa Páscoa, foi imolado”.
João Batista apontava Jesus como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Jesus é também o Cordeiro cujo sangue sela a nova e definitiva Aliança de Deus com os homens.

Ao dar aos Apóstolos o pão e o vinho consagrados, Jesus lhes apresentava o seu corpo entregue e o seu sangue derramado pela remissão dos pecados. Ora, no estilo bíblico, as duas expressões “entregar, dar o corpo (ou a alma)” e “derramar o sangue (pelos pecados)” indicam a imolação de um sacrifício propriamente dito. Com efeito, o sentido de “dar o corpo, a alma” depreende de Is 53,12. O sentido sacrificial e expiatório de “derramar o sangue (pelos pecados)” depreende de Rm 3,25.

Ao falar do sangue da nova Aliança na ceia, Jesus aludia a Ex 24,8, Moisés tomou o sangue para aspergir com ele o povo: “Eis, disse ele, o sangue da aliança que o Senhor fez convosco, conforme tudo o que foi dito”. Cristo assim oferecia-se como vítima para selar a definitiva Aliança, em lugar da vítima irracional cujo sangue selava a primeira Aliança no Sinai; Jesus assim opunha sangue a sangue, sacrifício a sacrifício, imolação realizada na última ceia à imolação realizada outrora no deserto. A última ceia aparece como a nova Páscoa, que, mediante o sangue do verdadeiro Cordeiro imolado pelos pecados do mundo, faz cessar os numerosos e imperfeitos sacrifícios do Antigo Testamento.

Jesus mandou aos Apóstolos que repetissem o rito da última ceia,... dessa última ceia à qual Jesus atribuiu o significado de sacrifício. Desta ordem concluíram os Apóstolos e as gerações subseqüentes que, todas as vezes que renovavam a Ceia do Senhor (também chamada Eucaristia), realizavam a oblação de uma Vítima (Cristo) ou de um sacrifício. Este, porém, não podia nem pode se a repetição do sacrifício da cruz, pois Jesus se imolou uma vez por todas conforme a epístola aos Hebreus. A Ceia, por conseguinte, não pode ser senão o ato de “tornar presente” (sem multiplicar) através dos tempos, e de maneira incruenta, o único sacrifício de Cristo oferecido cruentamente no Calvário.

Na quinta-feira santa Jesus perante os discípulos tornou presente de modo real, mas incruento, o sacrifício que Ele no dia seguinte devia realizar cruentamente na cruz; tornou-o antecipadamente presente.

Atualmente em cada Santa Missa Jesus torna presente de modo real, mas incruento, esse mesmo e único sacrifício que Ele já realizou cruentamente na Cruz.

Justamente este “tornar presente” a todos os tempos, sem implicar repetição nem multiplicação, constitui o “mistério da fé”, título dado por excelência à Sagrada Eucaristia.

A Santa Missa torna presente sobre os altares (sem o multiplicar) o único sacrifício da Cruz. A Santa Missa renova a última Ceia de Cristo.  

Quando os Apóstolos repetiam o gesto de Jesus depois da Páscoa, o Senhor já havia sido glorificado; a sua morte sacrificial já se revelara como passagem para a ressurreição e a exaltação. Por isto não podiam deixar de associar à memória da Paixão do Senhor e da sua vitória final: o Servidor de Javé sofredor tornara-se o Kyrios ou o Senhor, ao qual todo joelho se dobra no céu, na terra e debaixo da terra (Fl 239-10).

A Eucaristia é posta em relação com a Igreja e sua unidade: “O cálice de bênção, que benzemos, não é a comunhão do sangue de Cristo? E o pão, que partimos, não é a comunhão do corpo de Cristo? Uma vez que há um único pão, nós, embora sendo muitos, formamos um só corpo, porque todos nós comungamos do mesmo pão”. Deve-se, pois, dizer que o Corpo de Cristo eucarístico se prolonga no Corpo de Cristo eclesial.

Jesus quis associar ao sacrifício da Cruz a sua Igreja. Com efeito, outrora no Calvário Jesus, sumo Sacerdote, se ofereceu ao Pai qual Vítima pelos pecados do mundo. Atualmente na Santa Missa Jesus oferece com a Igreja, que participa do Sacerdócio de Cristo, e se oferece com a Igreja, que participa na qualidade de Cristo Hóstia.

RECONCILIAÇÃO


   O cristão, portador de um tesouro em vaso de argila (2 Cor 4,17), está sujeito a falhas durante a sua caminhada. Daí a necessidade dos dois sacramentos de cura: a Reconciliação (para qualquer situação de pecado) e Unção dos Enfermos (para os momentos de grave moléstia).

FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA

1. Lc 15,11-32.

O Evangelho, mediante a conhecida parábola do filho pródigo, ensina que não há pecados que não possam ser perdoados. O jovem que voltou à casa paterna depois de haver esbanjado a sua porção de herança, foi recebido de braços abertos pelo Pai, logo que reconheceu suas faltas. Bastou-lhe dizer, sinceramente arrependido: “Pai, pequei contra o céu e contra ti”, para que o Pai lhe calasse a boca, sem lhe perguntar onde estivera e o que fizera com a porção de sua herança; imediatamente mandou colocá-lo no lugar que lhe competia antes que deixasse a casa paterna; houve festa por ocasião do retorno do filho que se perdera e voltara vivo.

“A parábola do filho pródigo é, antes de mais, a história inefável do grande amor de um pai – Deus que oferece ao filho que a ele retorna, o dom da reconciliação plena. E, o evocar a figura do irmão mais velho o egoísmo que divide os irmãos entre si, ela torna-se também a história da família humana; mostra a nossa situação e indica o caminha a percorrer” (Papa João Paulo II )

São paralelas a esta parábola as da ovelha perdida e da moeda perdida.

2. Jo 20, 21-23

Na noite de Páscoa Jesus aparece aos Apóstolos reunidos e disse-lhes: “A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós.
Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: Recebei o Espírito Santo.
Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos”

O texto do Evangelho significa que:

1) Os Apóstolos, não por efeito de sua santidade própria, mas em conseqüência de um Dom de Deus (“Recebei o Espírito Santo”), são habilitados a perdoar os pecados.

2) A sentença proferida pelos Apóstolos é confirmada pelo próprio Deus.

3) Trata-se de perdoar pecados propriamente ditos, faculdade esta que os israelitas atribuíam somente a Deus. Jesus disse ao paralítico: “Os teus pecados te são perdoados” (Lc 5,20). Declarou também à pecadora: ”Perdoados te são os teus pecados” (Lc 7,48). Em Jo 20, 23 diz o Senhor: “Àqueles a quem perdoardes os pecados, serão perdoados”. São as mesmas palavras usadas nos três casos: perdoar e pecados. Donde se vê que um poder próprio de Deus “perdoar pecados”, é concedido aos ministros do Senhor. Aquilo que Jesus fazia por si quando peregrino na terra, Ele havia de continuar a fazê-lo depois de glorificado mediante o serviço dos seus ministros.

São Mateus escrevendo no século I diz: ”Vendo isto, a multidão encheu-se de medo e glorificou a Deus por ter dado tal poder aos homens”.(Mt 9,8). O plural aos homens parece ser o sinal de que São Mateus pensava nos ministros da Igreja, que haviam recebido de Jesus tal poder e o punham em prática.

4) O poder assim concedido por Jesus não é dado à Igreja inteira, mas apenas aos seus ministros. Com efeito, Jesus na noite da Páscoa soprou sobre a face dos Apóstolos apenas, e somente a estes dirigiu as palavras dando lhes o poder de perdoar pecados. É a estes mesmos que Jesus ordena consagrar o pão e o vinho em memória dele: “Fazei isto em memória de mim” Lc 22,19). Trata-se, pois, de pessoas especialmente chamadas por Jesus e, mais ainda, enriquecidas por um dom especial, a fim de realizar um ministério singular dentro da Igreja.

A fim de salvaguardar a pureza e a grandeza do Sacramento da Reconciliação, a Igreja exige dos confessores estrito sigilo a respeito de tudo o que lhes seja confiado no foro sacramental. Ao ministro não é lícito, em hipótese alguma, fazer uso dos conhecimentos que lhe advêm pela confissão sacramental; esteja disposto a sofrer os mais penosos danos para jamais violar o segredo do Sacramento.

“Cânon 1388 – O confessor que violar diretamente o sigilo sacramental, incorre em excomunhão latae sententiae, reservada à Sé Apostólica. Quem o faz só indiretamente, seja punido conforme a gravidade do delito”.

A excomunhão

1 Cor 5,3-5.13 “Pois eu, em verdade, ainda que distante corporalmente, mas presente em espírito, já julguei, como se estivesse presente, aquele que assim se comportou.
Em nome do Senhor Jesus  - reunidos vós e o meu espírito, com o poder de nosso Senhor Jesus -
seja esse homem entregue a Satanás, para mortificação do seu corpo, a fim de que a sua alma seja salva no dia do Senhor Jesus. Tirai o perverso do vosso meio”.

O Apóstolo quer que a comunidade de Corinto elimine o pecador escandaloso do seu seio. Por isto comunica aos fiéis a sua sentença, que há de ser assumida por todos.

1 Tm 1,20 “É o caso de Himeneu e Alexandre, que entreguei a Satanás, para que aprendam a não blasfemar”.

Tem-se aqui uma alusão à excomunhão dos que pecam gravemente, com finalidade medicinal ou salvífica.

A faculdade de perdoar pecados não tem limites, segundo o Senhor Jesus. Mt 18, 21-22 “Então Pedro se aproximou dele e disse: Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? Respondeu Jesus: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”.

Quanto ao pecado contra o Espírito Santo (Lc 12,10), é a recusa direta de Deus e da sua graça; não tem perdão simplesmente porque é a própria rejeição do perdão. Deus não força o pecador ao arrependimento; contudo, desde que a criatura peça sinceramente o perdão, nenhum pecado, por mais grave que seja, e irremissível. 

Os ministros do Sacramento da Reconciliação são os Bispos e os Presbíteros.

Contrição

A contrição supõe um exame de consciência sincero. O penitente procura considerar sua conduta com  toda a objetividade tal como Deus a considera. Embora somente o pecado grave ou mortal seja matéria obrigatória da confissão, muito se recomenda também o exame e a confissão de pecados leves ou veniais, pois sobre eles também pode recair a absolvição sacramental. Pode-se obter também o perdão dos pecados leves mediante um ato de arrependimento ou uma obra de caridade.

 Uma confissão perfeita é aquela que o penitente se arrepende por ter ofendido a Deus. Na confissão imperfeita o penitente só se arrepende por ter medo de ir para o inferno.

 O arrependimento leva a confessar os pecados, ou seja, reconhecê-los diante de Deus representado por seu ministro.

A satisfação ou penitência imposta pelo confessor não é um castigo nem uma multa, mas pretende ser uma ajuda medicinal para que o penitente elimine da sua alma todo resquício de pecado.

A reconciliação com Deus, embora seja dom da Sua misericórdia, implica um processo em que o homem está envolvido no seu empenho pessoal, e a Igreja, na sua missão sacramental. O caminho de reconciliação tem o seu centro no Sacramento da Penitência, mas também depois do perdão do pecado, obtido mediante esse Sacramento, o ser humano permanece marcado por aqueles "resíduos" que não o tornam totalmente aberto à graça, e precisa de purificação e daquela renovação total do homem em virtude da graça de Cristo, para cuja obtenção o dom da indulgência lhe é de grande ajuda.

A Indulgência é assim definida no Código de Direito Canônico (cân. 992) e no Catecismo da Igreja Católica (n. 1471):  "A indulgência é a remissão, perante Deus, da pena temporal devida aos pecados cuja culpa já foi apagada; remissão que o fiel devidamente disposto obtém em certas e determinadas condições pela ação da Igreja que, enquanto dispensadora da redenção, distribui e aplica, por sua autoridade, o tesouro das satisfações de Cristo e dos Santos".

O Catecismo da Igreja Católica esclarece sobre as Indulgências que podem ser alcançadas:

§1479 - Uma vez que os fiéis defuntos em vias de purificação também são membros da mesma comunhão dos santos, podemos ajudá-los obtendo para eles indulgências, para libertação das penas temporais devidas por seus pecados.

§1498 - Pelas indulgências, os fiéis podem obter para si mesmos e também para as almas do Purgatório, a remissão das penas temporais, seqüelas dos pecados.

§1032 – A Igreja recomenda também as esmolas, as indulgências e as obras de penitência em favor dos defuntos... "Não hesitemos em socorrer os que partiram e em oferecer nossas orações por eles." (S. João Crisóstomo)

§1471 – A doutrina e a prática das indulgências na Igreja estão estreitamente ligadas aos efeitos do Sacramento da Penitência.

"A indulgência é parcial ou plenária, conforme libera parcial ou totalmente da pena devida pelos pecados (Indulgentiarum Doctrina,2 ). Todos os fiéis podem adquirir indulgências, para si mesmos ou para aplicá-las aos defuntos" (CDC, cân 994).

§1472 - As penas do pecado. Para compreender esta doutrina e esta prática da Igreja, é preciso admitir que o pecado tem dupla conseqüência. O pecado grave priva-nos da comunhão com Deus e, conseqüentemente, nos torna incapazes da vida eterna; esta privação se chama pena eterna do pecado. Por outro lado, mesmo o pecado venial, acarreta um apego prejudicial às criaturas que exige purificação, quer aqui na terra quer depois da morte, no estado chamado purgatório. Esta "purificação" liberta da chamada "pena temporal" do pecado.

Condições para a Indulgência plenária (uma vez ao dia):

1 - Confessar-se e rejeitar todo pecado (uma Confissão para várias Indulgências)
2 – Participar da Missa e Comungar com o desejo de receber a Indulgência (uma Missa e Comunhão para cada indulgência).
3 - Rezar pelo Papa ao menos: um Pai Nosso, Ave Maria e Glória.
4 – Escolher uma das atividades:
- Via Sacra na igreja diante dos quadros, ou
- Reza do Terço em família diante de um oratório, ou
- Adoração do Santíssimo diante do Sacrário, por meia hora, ou
- Leitura meditada da Sagrada Escritura por meia hora.

As indulgências se explicam pelo fato de que todo pecado, mesmo perdoado, deixa no pecador uma tendência para o mal ou alimenta uma desordem interior. Esta desordem deve ser extinta, para que o cristão possa ver Deus face-à-face na outra vida. As indulgências surgiram na Idade Média.

Indulgência parcial: A recitação do terço em particular. Leitura da Sagrada Escritura, como alimento espiritual, durante menos de meia hora.

UNÇÃO DOS ENFERMOS

FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA

Jesus se apresentou como o Restaurador do homem e da natureza, feridos pelo pecado, de acordo com o anúncio dos Profetas. Is 61,1-2; Is 35,5-6; Jr 33,6. “Dirigiu-se a Nazaré, onde se havia criado. Entrou na sinagoga em dia de sábado, segundo o seu costume, e levantou-se para ler. Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías. Desenrolando o livro, escolheu a passagem onde está escrito. O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano da graça do Senhor. E enrolando o livro, deu-o ao ministro e sentou-se; todos quantos estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Ele começou a dizer-lhes: Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir. Todos lhe davam testemunho e se admiravam das palavras de graça, que procediam da sua boca, e diziam: Não é este o filho de José?” Lc 4,16-22

As curas milagrosas realizados por Jesus são sinais de que o Reino de Deus já chegou e a vitória sobre o pecado e suas conseqüências já foi iniciada. As curas efetuadas por Jesus aparecem não raro associadas ao perdão dos pecados.

Embora pecado e morte estejam conjugados entre si na Sagrada Escritura (Gn 2,17; 3,19; Rm 5,12), Jesus não aceita a tese segundo a qual toda doença é castigo de pecados pessoais. “Nem este pecou nem seus pais, mas é necessário que nele se manifestem as obras de Deus”. (Jo 9,3).

Jesus mesmo quis compartilhar o sofrimento físico e moral dos homens, experimentando cansaço, fome, sede, a agonia e a morte, a fim de transfigurar a dor humana (Mt 8,16-17; Mc 14,32-42; 15,21-41; Jo 4,6).  Quis ensinar-nos que o sofrimento, aceito com fé e confiança em Deus, vem a ser salvífico; é participação na Cruz redentora de Cristo.

A igreja continua a se interessar pelos enfermos e sofredores.

Cl 1,24 “Agora me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja”.

2 Cor 1,5 “Com efeito, à medida que em nós crescem os sofrimentos de Cristo, crescem também por Cristo as nossas consolações”.

Tg 5,14-16 “Está alguém enfermo? Chame os sacerdotes da Igreja, e estes façam oração sobre ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o enfermo e o Senhor o restabelecerá. Se ele cometeu pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros para serdes curados. A oração do justo tem grande eficácia”.

São Tiago fala de doentes que não podem procurar os Presbíteros na Igreja, mas chamam a estes. Isto supõe doença grave. Isto significa que agiam em nome da Igreja.

A tarefa dos Presbíteros é ungir com óleo em nome do Senhor. A unção parece ser conhecida aos leitores de São Tiago (já é mencionada em Mc 6,7.12-13). “Orar sobre eles” insinua imposição das mãos. 

A unção é praticada em nome do Senhor. Isto significa que não tem eficácia própria, mas a recebe de Cristo.

Os efeitos do rito são três:

1)      Salvar. Com o sentido de benefício para o homem inteiro;
2)      Erguer. No sentido físico e moral;
3)      Perdoar os pecados, quando necessário.

Os destinatários do Sacramento são os fiéis cujo estado de saúde esteja gravemente comprometido por doença ou por velhice. Pode-se conferir a Unção antes de uma intervenção cirúrgica, se a causa da operação é uma doença perigosa. Às crianças seriamente enfermas é lícito ministra a Unção dos Enfermos desde que tenham uso da razão e possam compreender o valor do Sacramento.

A Unção pode ser reiterada durante a mesma doença, desde que se agrave o estado de saúde.

As partes do corpo a serem ungidas são a fronte, que lembra o cérebro e o pensamento e as mãos, que são os instrumentos da ação; assim a pessoa é atingida na totalidade do seu ser. 

A Sagrada Unção pode ser dada aos doentes privados dos sentidos ou do uso da razão, desde que se possa crer que provavelmente a pediriam se estivessem em pleno gozo das suas faculdades. Contudo o Sacerdote chamado para assistir ao enfermo que já tenha falecido, reze a Deus por ele, a fim de que o absolva de seus pecados e o recebe misericordiosamente em seu Reino; não lhe administre, porém, a Sagrada Unção. Se houver dúvidas quanto à morte, visto que existem diversos graus de coma, o Sacerdote poderá administrar a Unção sob condição (“se estás vivo...”).

O costume de adiar a Unção dos Enfermos para os últimos instantes da vida acabou cercando este sacramento de um ambiente fúnebre, que por vezes se assemelha a cerimônia de velório. Vem a ser o último adeus, com a presença obrigatória do Sacerdote. 

O Sacramento da Unção dos Enfermos é um sacramento de cura: alívio da alma e do corpo, e não a triste despedida de quem está prestes a deixar este mundo. 

ORDEM 

FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA 

É um sacramento de serviço. É o sacramento dos bispos, presbíteros e diáconos.

O Antigo Testamento conheceu o sacerdócio como função confiada à tribo de Levi; donde chamar-se “sacerdócio levítico”. Aarão, irmão de Moisés, foi o primeiro grande sacerdote levítico.

O papel desse ministério sacerdotal era fazer a mediação entre Deus Santo e o povo pecador, oferecendo sacrifícios de vítimas irracionais; estas representavam o homem desejoso de se oferecer a Deus, mas, por serem irracionais, ficavam abaixo do nível do homem e de Deus. Multiplicavam-se os sacrifícios porque nenhum deles era cabal ou adequado para fazer a ponte entre o homem e Deus. Havia muitos sacerdotes e muitos sacrifícios, regidos por minuciosa legislação. (Nm 3,11-39; Lv 1,1-17).

Jesus Cristo aboliu o sacerdócio levítico e fez-se Ele o único Sacerdote da nova e definitiva aliança, de acordo com o modelo não de Levi, mas de Melquisedeque, que era rei e sacerdote (Hb 7,1-28; 10,4-10). Cristo Sacerdote ofereceu um único sacrifício, que é o holocausto de sua vontade e de sua vida entregues ao Pai; como novo Adão, Ele disse um Sim inspirado por amor, apagando o Não dito pelo primeiro Adão em desamor ao PaI. (Rm 5,12-21).

O Novo Testamento apresenta Jesus como o Sacerdote novo e perfeito. O Servo que assume sobre si os pecados alheios.

2 Cor 5,21 “Aquele que não conheceu o pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos tornássemos justiça de Deus”

Gl 3,12 “Cristo remiu-nos da maldição da lei, fazendo-se por nós maldição, pois está escrito: Maldito todo aquele que é suspenso no madeiro (Dt 21,23)”.

A morte de Cristo é descrita em linguagem de rito de sacrifício e, indiretamente, em linguagem sacerdotal:

1 Cor 5,7 “Purificai-vos do velho fermento, para que sejais massa nova, porque sois pães ázimos, porquanto Cristo, nossa Páscoa, foi imolado”.

Ap 5,9-10 “Cantavam um cântico novo, dizendo: Tu és digno de receber o livro e de abrir-lhe os selos, porque foste imolado e resgataste para Deus, ao preço de teu sangue, homens de toda tribo, língua, povo e raça; e deles fizeste para nosso Deus um reino de sacerdotes, que reinam sobre a terra”.

Ef 5,2 “Progredi na caridade, segundo o exemplo de Cristo, que nos amou e por nós se entregou a Deus como oferenda e sacrifício de agradável odor”.

1 Jo 2,2 “Jesus é a vítima de expiação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo”.

Jesus é o Sacerdote que se oferece ao Pai como vítima pelos pecados. O próprio Cristo, aliás, concebeu seu ministério como cumprimento das profecias relativas ao Servo de Javé.

Na epístola aos Hebreus é que Cristo vem apresentado formalmente como Sumo e Único Sacerdote de uma Nova Aliança, “um Sumo Sacerdote que atravessou os céus”. “Temos, portanto, um grande Sumo Sacerdote que penetrou nos céus, Jesus, Filho de Deus. Conservemos firme a nossa fé”. (Hb 4,14). A doutrina respectiva é longamente explanada em todo o decurso da epístola:

Hb 7,26-27 “Tal é, com efeito, o Pontífice que nos convinha: santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e elevado além dos céus, que não tem necessidade, como os outros sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro pelos pecados próprios, depois pelos do povo; pois isto o fez de uma só vez para sempre, oferecendo-se a si mesmo”.

Hb 9, 12-15 “Sem levar consigo o sangue de carneiros ou novilhos, mas com seu próprio sangue, Cristo entrou de uma vez por todas no santuário, adquirindo-nos uma redenção eterna. Pois se o sangue de carneiros e de touros e a cinza de uma vaca, com que se aspergem os impuros, santificam e purificam pelo menos os corpos, quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu como vítima sem mácula a Deus, purificará a nossa consciência das obras mortas para o serviço do Deus vivo? Por isso ele é mediador do novo testamento. Pela sua morte expiou os pecados cometidos no decorrer do primeiro testamento, para que os eleitos recebam a herança eterna que lhes foi prometida”.

Hb 10,12-14 “Cristo ofereceu pelos pecados um único sacrifício e logo em seguida tomou lugar para sempre à direita de Deus, onde espera de ora em diante que os seus inimigos sejam postos por escabelo dos seus pés (Sl 109,1). Por uma só oblação ele realizou a perfeição definitiva daqueles que recebem a santificação”

Assim, no Novo Testamento aparece Jesus Cristo Sacerdote que se oferece ao Pai como vítima ou como hóstia em prol da humanidade.

Cristo quer continuar o seu sacerdócio aplicando os frutos da Redenção aos homens, mediante ministros que Ele escolhe. Estes não são sacerdotes ao lado de Jesus Sacerdote, mas são participantes do único sacerdócio de Cristo e oferecem o único sacrifício de Cristo na Cruz como se fossem a mão estendida do Senhor através dos séculos. 

Jesus quis escolher os doze Apóstolos para serem seus íntimos colaboradores; Mc 3,13-14 “Depois, subiu ao monte e chamou os que ele quis. E foram a ele. Designou doze dentre eles para ficar em sua companhia  Ele os enviaria a pregar, com o poder de expulsar os demônios. Escolheu estes doze: Simão, a quem pôs o nome de Pedro; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer dizer Filhos do Trovão. Ele escolheu também André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu; Tadeu, Simão, o Zelador; e Judas Iscariotes, que o entregou”. Eles agiriam  como se fossem o próprio Cristo: “Quem vos ouve, a mim ouve; e quem vos rejeita, a mim rejeita; e quem me rejeita, rejeita aquele que me enviou” (Lc 10,16).

Jesus confiou a 72 discípulos missão análoga à dos Apóstolos (Lc 10, 1-16). Os Apóstolos foram desdobrando o ministério que receberam.

A Sagrada Escritura e, mais ainda, a Tradição oferecem os dados necessários para se reconstituir a evolução. Com efeito, as primeiras comunidades cristãs eram governadas pelos Apóstolos, que tinham jurisdição universal, mas eram itinerantes ou não residiam em sede fixa. Deixaram, pois, em cada Igreja, um colegiado de presbyteros ou epískopos, que governavam de imediato a comunidade, tendo abaixo de si os diákonos.

Fl 1,1 “Paulo e Timóteo, servos de Jesus Cristo, a todos os santos em Jesus Cristo, que se acham em Filipos, juntamente com os bispos e diáconos”.

At 20, 17.28 “Mas de Mileto mandou a Éfeso chamar os presbíteros da igreja. Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastorear a Igreja de Deus, que ele adquiriu com o seu próprio sangue”.

O Sacramento da Ordem consta, pois, de três graus. Em cada um se confere mais do que uma função ou um título; há aí um dom de Deus na linha do ser (é uma transformação interior) e não apenas na linha do agir, que torna o ministro participante do sacerdócio de Cristo de modo essencialmente diverso do sacerdócio comum dos fiéis.




O Sacramento da Ordem é transmitido pela imposição das mãos.

Os primeiros candidatos a diáconos foram apresentados aos Apóstolos. At 6,6 “Apresentaram-nos aos apóstolos, e estes, orando, impuseram-lhes as mãos”.

2 Tm 1,6-7 “Por esse motivo, eu te exorto a reavivar a chama do dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos. Pois Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e de sabedoria”.

A plenitude do sacerdócio de Cristo é conferida pela ordenação episcopal.

MATRIMÔNIO 

FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA

Um dos textos mais antigos é o de Gn 2,21-24. “Então o Senhor Deus mandou ao homem um profundo sono; e enquanto ele dormia, tomou-lhe uma costela e fechou com carne o seu lugar. E da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma mulher, e levou-a para junto do homem. “Eis agora aqui, disse o homem, o osso de meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamará mulher, porque foi tomada do homem.”  Por isso o homem deixa o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne”.

Mostra que o matrimônio é uma instituição natural, derivada da própria índole masculina e feminina do ser humano. O texto incute a monogamia. A sexualidade aí aparece como dom de Deus; por isto não é má; antes, é sagrada, porque oferece ao homem e à mulher a oportunidade de colaborar com Deus, transmitindo a vida.

Em Gn 1, 27-28, além da monogamia e da dignidade dos cônjuges, é incutida a fecundidade. Esta tem sua origem em Deus e pode ser ocasião de uma vocação especial dada pelo Senhor ao homem:

“Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. Deus os abençoou: "Frutificai, disse ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra."

Em Gn 3, 1-24 aparece o aspecto difícil da vida conjugal, que exigirá sempre a grandeza de alma da parte dos cônjuges, pois o matrimônio é missão (serviço). Com efeito; o orgulho se apodera do homem e da mulher, que querem ser como Deus, árbitros do bem e do mal, desobedecendo ao Senhor. Em conseqüência, afastam-se do Senhor e desentendem-se entre si: o homem lança a culpa do pecado sobre a mulher, e esta a lança sobre a serpente. Pode haver desunião entre marido e mulher em virtude da perda de fidelidade ao Senhor Deus.

Nos livros dos Profetas, a união matrimonial é frequentemente evocada como imagem da Aliança de Deus com o seu povo.

Jr 31, 21-22 “Ergue sinais, coloca postes indicadores, olha bem o caminho, a senda que percorres. Volta, virgem de Israel, volta para tuas cidades. Até quando andarás vagando, filha rebelde? Eis que o Senhor criou uma coisa nova sobre a terra: É a esposa que cerca (de cuidados) o esposo”.

Ml 2,15-16 “Porventura não fez ele um só ser com carne e sopro de vida? E para que pende este ser único, senão para uma posteridade concedida por Deus? Tende, pois, cuidado de vós mesmos, e que ninguém seja infiel à esposa de sua juventude. Quando alguém, por aversão, repudia (a mulher) - diz o Senhor, Deus de Israel -, cobre de injustiça as suas vestes - diz o Senhor dos exércitos. Tende, pois, cuidado de vós mesmos e não sejais infiéis!”

O livro do Cântico dos Cânticos descreve as fazes do amor, desde o seu primeiro despertar até as núpcias, como figura do amor de Deus ao seu povo. O livro de Tobias apresenta o matrimônio santificado pela oração e a bênção de Deus; é a vivência de um casto amor, que sabe sofrer e vencer sob a proteção do Criador.

Em Mt 19, 1-9 Jesus diz que o Gênesis apresentou o matrimônio na sua forma ideal, que exclui a dissolubilidade; repudiar a mulher e casar com outra é adultério. Jesus observa que já um mau desejo, alimentado interiormente, é equivalente a um adultério.

O contrato natural do matrimônio, apresentado por Gênesis, é por Jesus Cristo elevado a nova dignidade ou ao plano sacramental – o que quer dizer que, dentro dos moldes da vida humana de um casal cristão, se processa uma realidade transcendental; esta passa através do cotidiano do esposo e da esposa e o ultrapassa, encarnando o amor fecundo de Cristo à Igreja e da Igreja a Cristo.

Ef 5,25 “Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo com a palavra, para apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas santa e irrepreensível. Por isso, o homem deixará pai e mãe e se unirá à sua mulher, e os dois constituirão uma só carne (Gn 2,24). Este mistério é grande, quero dizer, com referência a Cristo e à Igreja”.

É isto que faz a grandeza do matrimônio: “sacramento grande em relação a Cristo e à Igreja” (Ef 5,32). Isto também quer dizer que a união do matrimônio-sacramento é mais rica de conteúdo e significado do que a união de vínculo natural; em conseqüência, o lar cristão é, com razão, chamado “Igreja-doméstica”; por ele a vida eterna, conquistada por Cristo na cruz para a humanidade, é transmitida a novas e novas gerações.

O Concílio de Trento (1439) cita três bens do matrimônio:

- o bem da prole: o matrimônio é destinado à perpetuação do gênero humano;

- o bem da fidelidade ou do apoio mútuo e complementar existente entre os cônjuges;

- o bem do sacramento, entendendo-se “sacramento” no sentido de indissolúvel.


“Como Cristo amou a Igreja...” Ele a amou experimentando a cruz, o aparente fracasso, a aridez da solidão, a aspereza da rejeição... Ora entre esposo e esposa pode haver fases de aparente fracasso, de experiência de trauma e desânimo. Pois bem; considerem isso à luz do mistério de co-redenção em que estão inseridos, cientes de que a cruz suportada por amor a Deus e com tenacidade é o instrumento e santificação para o casal e para a Igreja, da qual a família faz parte. Nada é perdido ou destituído de sentido, para quem sabe vivenciar o sacramento do amor salvífico de Deus.

Dois numa só carne...” Isto significa que os cônjuges devem tender à realização de certa unanimidade conquistada através de renúncias feitas de parte a parte mediante concessões mútuas. A solidariedade recíproca é necessária na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, na alegria e na tristeza.

Comunhão aberta. Sem dúvida, os cônjuges devem gozar de especial intimidade e privacidade. Evitem, porém, viver no egoísmo ou numa solidão a dois. Ao contrário, abram-se para a sociedade eclesial e civil. A consciência de ser Igreja em miniatura deve impeli-los a se sentir presentes à grande Igreja e a doar-se aos outros.

INDISSOLUBILIDADE

A indissolubilidade da união conjugal não se fundamenta apenas no Evangelho, mas se deriva da própria lei natural. Com efeito; a união conjugal é tão íntima e plena que ela não admite restrições; doar-se a alguém “para constituir uma só carne” com reservas é incoerente, que o próprio bom senso rejeita. O que se pode e deve desejar, é que a união matrimonial só seja contraída após a devida preparação e com a possível maturidade.

Mt 5,31-32 “Foi também dito: Todo aquele que rejeitar sua mulher, dê-lhe carta de divórcio. Eu, porém, vos digo: todo aquele que rejeita sua mulher, a faz tornar-se adúltera, a não ser que se trate de matrimônio falso; e todo aquele que desposa uma mulher rejeitada comete um adultério”.

1 Cor 7,10-11 “Aos casados mando (não eu, mas o Senhor) que a mulher não se separe do marido. E, se ela estiver separada, que fique sem se casar, ou que se reconcilie com seu marido. Igualmente, o marido não repudie sua mulher”.

Mc 10,11-12 "Quem repudia sua mulher e se casa com outra, comete adultério contra a primeira. E se a mulher repudia o marido e se casa com outro, comete adultério."

Lc 16,18 “Todo o que abandonar sua mulher e casar com outra, comete adultério; e quem se casar com a mulher rejeitada, comete adultério também”.

O matrimônio por sua índole mesma é indissolúvel; quem o contrai, deve sabê-lo de antemão; Jesus mesmo diz: “O que Deus uniu, o homem não o deve separar” (Mt 19,6).

Fontes de consulta
Diácono Neves
Pastoral dos Sacramentos – Ed. Vozes
A Fé da Igreja – Ed. Vozes
Os Sacramentos da Igreja Católica – EDIPUCRS
A Fé do Cristão Católico Hoje – Ed. Vozes
Minha Igreja - Ed. Vozes
Bíblia - Ave Maria e CNBB
Curso sobre os Sacramentos - Escola “Mater Ecclesiae”
Concílio Vaticano II                                       


SÍMBOLOS NOS SACRAMENTOS

O que são símbolos?

Quando se diz que algo é símbolo, pensamos o que é irreal, fantástico. Mas símbolo não é isto. Símbolo é o encontro de duas realidades em outra forma. Assim, quando vemos um bolo de aniversário, pensamos na festa, quando vemos uma aliança no dedo de alguém, pensamos no casamento. Então, bolo representa festa, aliança significa amor e fidelidade e assim por diante. Símbolo pode ser um objeto, um elemento capaz de expressar de alguma maneira uma realidade que está presente, que a gente não pode expressar totalmente, mas que é mais do que a gente pode exprimir por palavras. Símbolo é um objeto, um gesto, um, elemento, um, movimento, uma expressão corporal, onde que vale não é mais aquilo que é em si, mas o que exprime o que significa.  Quando um rapaz leva uma rosa para a sua noiva o que importa não é o valor da rosa em si, mas o que a rosa significa: algo de tão profundo que o noivo não sabe definir e chama de amor. Rosa é amor. Rosa é símbolo porque revela e oculta ao mesmo tempo o amor, o mistério do amor. Podemos dizer que o símbolo é a linguagem do mistério. As realidades que Deus nos quer revelar e comunicar na Liturgia são tão grandes, tão profundas e inefáveis que o homem não consegue exprimi-las por palavras. Por isso, ele recorre a linguagem mais profunda, aos sinais sagrados, aos símbolos. A Liturgia é um acontecer de realidades sagradas e ocultas em forma terrena. É preciso, portanto, antes de tudo, transformar em ação vivencial aquela ação mediante a qual o homem que tem fé compreende a colhe e realiza os sinais visíveis e sagrados da graça invisível. Deus se vela e se comunica não só pela linguagem falada. A água, o fogo, o ar, as nuvens, o vento, as plantas, os animais, toda a natureza fala de Deus e pode servir de linguagem para o homem. Por isso, todos estes elementos também podem servir de sinais litúrgicos que significam e comunicam a graça. O importante em tudo isso é que deixemos os sinais falarem, qu8e demos vida a eles, pois podem falar de Deus, de Cristo, de nós mesmos e de nossos irmãos. Mas não querem apenas falar destas realidades, e sim comunicar-nos com elas.

ÁGUA: Um símbolo muito significativo e forte é a água. Ocorre no Batismo e na Eucaristia. Se comerçamos a refletir sobre o sentido da água, veremos que ela está em íntima relação com a vida do homem. Sabemos que o homem vive os primeiros nove meses de sua existência mergulhados em água. O próprio corpo humano é constituído em grande parte de água. Para que serve a água? Ela serve para purificar, para embelezar, para tomar banho, para refrescar para reanimar. A água serve para tomar, matar a sede. A tal ponto ela está ligada ao homem que não podemos nem sequer viver sem a água. Sem a água não haveria nenhuma espécie de vida sobre a terra. Daí se segue que ela é uma substância essencial pra a vida do homem. Podemos dizer, então, que água é vida. Eis o que estamos no simbolismo as água. A partir desta compreensão da água podemos entender melhor o sentido do Batismo e principalmente da oração da benção da água batismal. Nesta benção a Igreja comemora a ação de Deus na história da salvação através da água. Das águas do inicio do mundo surge a vida. Assim surge a nova vida das águas do Batismo.
            As águas do dilúvio foram à vida para os justos e morte para os maus. A água pode ser vida e morte. Assim, no Batismo morremos para o pecado e somos salvos como Noé na Igreja. Nas águas do Mar vermelho surgiu o povo de Deus. Elas foram vida pra os israelitas e morte para os egípcios. Também das águas do Batismo nasce um povo novo para Deus, a Igreja. No Batismo morremos para o pecado e o mal e renascemos para uma nova vida. Eis por que são Paulo compara a piscina batismal com o sepulcro. No Batismo morremos com Cristo para o pecado e ressuscitamos com Ele para a nova vida. A pia batismal na tradição da Igreja é comparada ainda ao seio materno e a Igreja à mãe que dá a luz. Seria interessante refletir ainda sobre a água que jorrou do rochedo do deserto, as águas do rio Jordão, o poço da Samaritana, a piscina de Siloé, a água que jorra do lado aberto de Cristo: os rios de água viva que jorram para a vida eterna da qual fala Cristo. A partir do sentido da água como símbolo de vida compreendemos melhor o gesto do sacerdote na hora da preparação das oferendas ao colocar gotas de água no vinho.
O povo de Deus salvo das águas do Batismo pela fé no Sangue redentor, une-se a Cristo na oferta de si mesmo ao Pai. Para este sacrifício devemos apresentar-se purificados de todo pecado. Eis o sentido do gesto do sacerdote ao lavar as mãos antes da Oração Eucarística. Lembramos ainda o símbolo da água no uso da água benta. Ela lembra a quem usa com fé, a purificação e nova vida recebida no Batismo. A aspersão com água abençoada no inicio da Missa dominical lembra à assembléia que cada domingo constitui uma pequena Páscoa em comemoração a Páscoa do Batismo. E para se viver em profundo mistério da Eucaristia será necessário voltar sempre de novo à atitude de conversão vivida no Batismo. Por isso, o rito do “Asperges”, conforme o Novo Missal pode substituir o ato penitencial no inicio da Missa, rito que deveria ser muito mais valorizado Uma vez que a água tem um sentido simbólico tão profundo na vida das pessoas seria tão bom que em contato com a água do mar, dos rios, das fontes, da chuva, etc., refletíssemos sobre as realidades da fé que elas podem significar.  Devemos ter os olhos abertos para os símbolos que a natureza nos oferece, pois Deus e a Liturgia falam por meio deles.

A VELA: O uso litúrgico da vela é muito freqüente, tornado-se por isso um símbolo bastante presente na vida cristã. Assim, a apresentação do Senhor no Templo é uma festa muito significativa entre nós. É chamada também festa da Purificação de Nossa Senhora, ou festa de Nossa Senhora das Candeias, isto é, das velas. Isto porque nesse dia são abençoadas as velas para a procissão, velas que depois são levadas devotamente para casa dos fiéis. Celebra-se a festa 40 dias depois do Natal, pois, segundo o Evangelho, neste dia, Maria e José apresentaram o Menino Jesus no Templo por ser o primogênito e o resgataram pelo resgate dos pobres, ou seja, um par de rolas. Esta festa quer antes de tudo comemorar e reviver o mistério da manifestação de Jesus Cristo no Templo, proclamado pelo velho Simeão como luz dos povos. Cristo se manifesta como a luz. Por isso, a procissão das velas e o símbolo da vela de onde surgiu também o nome da Festa de Nossa Senhora das Candeias.
            A vela, símbolo da luz e da consagração, acompanha o cristão em sua caminhada por este mundo até chegar ao reino da luz. No Batismo ela significou a fé, a nova vida em Cristo, o Cristo que somos chamados a testemunhar. Na Primeira Eucaristia assumimos o significado da vela, professando pessoalmente nossa fé. Usamos a vela acesa quando anualmente renovamos nossas promessas do Batismo na Vigília da Páscoa. Está presente em quase todas as celebrações litúrgicas; de modo especial na Celebração Eucarística; Na profissão religiosa ela quer significar a dedicação total a Deus e aos homens na vida da perfeita caridade. Acendemo-la em expressão de consagração ou agradecimento nos santuário. A vela está presente em nossos encontros na intimidade, como na Ceia de Natal. Enfim, muitos se preocupam em colocar a vela acesa na mão do moribundo. Pode ser um gesto de profundo significado de fé e esperança no Cristo, luz eterna dos que morrem no Senhor e de consagração de toda a vida a Deus. Infelizmente o gesto muitas vezes não passa de pura supertição, como se fosse o auxilio espiritual mais importante na hora da morte. A festa da apresentação de Jesus no Templo nos lembra  que também nós nos devemos torna Templo de Deus, acolhendo Jesus em nossa vida.Depois da vinda de Cristo que armou sua tenda entre os homens, aboliram-se os templos de pedra para surgirem por toda a terra os templos vivos. A liturgia desta festa ensina aos homens o acolhimento que devem prestar ao Salvador Luz do Mundo e a sua Mãe, quando canta: “Adorna, Sião, a tua câmara nupcial! Acolhe mo Cristo, teu Rei! Corre a Maria! Ela é a porta do Céu, porque nos braços tem o Rei da Glória, a Luz nova. Gerada antes da aurora”.


O ÓLEO:       é usado com freqüência na Liturgia: duas vezes no Batismo, na Confirmação, na Unção dos Enfermos, na Ordenação Sacerdotal, bem como na consagração de altares, cálices e outros objetos ou lugares de culto. Para melhor descobrirmos o alcance e o significado do gesto da unção na Liturgia, precisamos recorrer ao significado do óleo no uso dos povos e na História da Salvação. Esta compreensão é de máxima importância para melhor compreendermos, sobretudo os Sacramentos da Confirmação e da Unção dos Enfermos me que o óleo é considerado a matéria do Sacramento. Infelizmente a sociedade moderna perdeu muito da compreensão do significado do óleo. É verdade quem faz uso de loções, de fricções e massagens. A medicina popular usa ainda o azeite para curar feridas aliviar a dor, mas, de modo geral, deixou de ser usado como unção. Dai a dificuldade de compreensão do sentido do óleo na Liturgia.  Os povos antigos viam no óleo da oliveira uma substância de um poder particular. Por isso, usavam-no particularmente como medicina. Na Babilônia o médico era chamado “o versado no óleo”. Nas grandes culturas antigas as pessoas consagradas, entre as quais os governantes eram investidos do seu ministério através da unção com o óleo.
            Na História do povo de Israel vemos algo de semelhante. Os lugares da especial presença de Deus são ungidos. Samuel unge a cabeça de Saul, dizendo: “O Senhor te ungiu príncipe a sua herança (1Sm 10,1). A unção com o óleo significa benção, consagração, reconhecimento da parte de Deus e especial distinção diante dos homens. Os sacerdotes também precisam desta unção. Assim Aarão e seus filhos. Quem fosse ungido como profeta era iluminado pelo Espírito de Deus. O óleo torna-se símbolo do Espírito de Deus. Ora, o Messias era ungido de Deus por excelência. Ele é totalmente pervadido do Espírito de Deus, pois Ele veio de Deus e está totalmente voltado para Deus. Quando inicia sua atividade messiânica, o Evangelista coloca em sua boca as palavras de Isaias (Is 61,1-2): “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu” (Lc 4,18). Cristo reuni em si as funções de rei, sacerdote e profeta, pois o próprio Deus ungiu Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com força (At 10,38). Cristo, o ungido, unge por sua vez os cristãos, tornando-os participantes de sua santidade e de sua salvação. E Jesus transmitiu aos apóstolos o poder de salvar e curar. Por isso, quando a Igreja usa o óleo nas celebrações dos Sacramentos, ele se torna símbolo da graça e do dispensador da graça, o Espírito Santo, como já dizia São Cirilo em suas catequeses: “O corpo é ungido com uma unção terrena, enquanto a alma é santificada apelo Espírito Santo e vivificador”. Com o óleo impregna o corpo ungido, a presença do Espírito Santo pervade a pessoa com sua graça, que é vida e salvação, tornado-a o seu templo.
            Assim, no Batismo somos ungidos para, na força do Espírito Santo, renunciarmos o mal e aderirmos ao bem, professando a fé em Cristo Jesus. Após o Batismo, a unção no alto da fronte quer significar que nós pelo Batismo nos tornamos, com Cristo, reis, sacerdotes e profetas pela força do Espírito Santo. Na Confirmação ou Crismo, recebemos a virtude do Espírito Santo para vivermos até a plenitude a vocação batismal de reis, sacerdotes e profetas. As mãos do sacerdote são ungidas para significar que por elas age o Espírito Santo: são mãos que abençoam, consagram, perdoam e servem no serviço da salvação. Os enfermos recebem a força do Espírito Santo significada pela unção como remédio, alívio, conforto e força para viverem sua vocação batismal durante a enfermidade e apesar da enfermidade. Como vimos, o óleo tem profundo significado na Liturgia e adquirirá uma significação maior para a espiritualidade cristã, quando inserido na História da Salvação.

IMPOSIÇÃO DAS MÃOS: Desde as religiões mais antigas a imposição das mãos constitui um símbolo de benção. Profetas, sacerdotes e outras pessoas consagradas impunham as mãos para abençoar, representando a própria divindade. Impõem-se ainda as mãos para a cura de enfermidades. E nos antigos cultos mistéricos pagãos a imposição das mãos fazia parte também dos ritos da iniciação. No AT a imposição das mãos constitui uma expressão visível da transmissão de benção (cf. Gn 48,14). O mesmo gesto expressa transmissão de um cargo ou missão (cf. Nm 27,18). O gesto significa ainda a libertação de uma opressão com a impureza ou pecado (cf, Lv 16,21). Jesus impôs as mãos às crianças em sinal de benção (Mc 10,14). A transmissão da benção pela imposição das mãos manifesta-se ainda nas numerosas curas milagrosas de Jesus (cf. Lc 13,13; Mt 6,2). Em Samaria Pedro e João transmite o dom do Espírito Santo pela imposição das mãos (At 8,17). Homens carismáticos transmitem um carisma a outros pela imposição das mãos (cf. 2Tm 1,6; At 6,6). Assim na liturgia a imposição das mãos constitui fundamentalmente um gesto de benção, significando a transmissão do Espírito Santo. O gesto da imposição das mãos está presente com muita freqüência na Liturgia. No Catecumenato, em preparação ao Batismo, à Crisma e à Primeira Eucaristia, temos a imposição das mãos como expressão de exorcismo, de libertação do mal, de acolhimento da parte de Deus e de benção; na benção da água batismal vemos também a imposição das mãos na Invocação do Espírito Santo; no próprio rito batismal, a unção pré-batismal pode ser substituída pela imposição das mãos com a invocação da força do Espírito Santo.
            Na Reconciliação dos penitentes, ao absolver o pecador, o Sacerdote impõe as mãos ou ao menos a mão direita. É sinal de reconciliação, de perdão, de acolhimento e ao mesmo tempo de transmissão do dom do Espírito Santo, para que pelo dom da Penitencia o pecador possa evitar o pecado e vive sempre em atitude der conversão. Na celebração Eucarística, a Consagração é precedida pela imposição das mãos sobres à oferenda, acompanhada de uma fórmula de invocação ao Espírito Santo. A unção dos Enfermos também e precedida da imposição das mãos, sinal de benção, de cura, de alívio e de transmissão da força do Espírito Santo para que o enfermo possa ser aliviado. Nas ordenações a imposição das mãos é um dos gestos principais para significar a transmissão do Espírito Santo a fim de que o eleito possa exercer seu cargo ou função diaconal, presbiteral ou episcopal a serviço da Igreja. Também no Sacramento do Matrimonio podemos perceber a imposição das mãos por parte do sacerdote na benção nupcial e na solene benção final. O mesmo poderíamos dizer da Profissão Religiosa e da benção das pessoas em geral. A Imposição das mãos parece, portanto um símbolo importante na Sagrada Liturgia. Sua linguagem é eloqüente. É de uma riqueza muito grande, significando, sobretudo, como vimos proteção, defesa, reconciliação, perdão, consagração, transmissão da força do Espírito Santo, transmissão de funções, em suma, uma benção de Deus.

A CRUZ: está plantada em toda à parte. Encontramo-la nas igrejas, nas casas, nas praças, em repartições públicas, a beira das estradas e nos cimos das montanhas, Com ela deparamos desde o nascer até o por do sol; do nascimento até a morte. Caminha conosco em horas de alegrias e de tristeza. Junto ao batistério por ela fomos marcados. Encontramo-la na natureza e na arte. Não apenas a encontramos; ela está e cresce em cada homem; ela nos reveste. Contudo, desde que Jesus Cristo morreu suspenso a um madeiro, abraçando em seu imenso amor toda a humanidade, as cruzes de todos os tempos e lugares foram iluminadas. Daquele momento a cruz tornou-se esperança dos homens. A figura da serpente levantada no deserto transformou em realidade. Jesus Cristo venceu a antiga serpente, transformando a cruz em troféu de vitória. Assim, aos poucos a cruz foi sendo tomada como sinal do cristão. Os cristãos dos primeiros séculos começaram a identificar a cruz de Cristo em toda a parte: no martelo, no machado, nas iniciais da palavra de Cristo em Grego (XP), no X, no Y, na âncora, no báculo, no candelabro, na palma, no T, nas plantas e na figura humana. Primeiramente se usava simplesmente o símbolo da cruz, sem o corpo de Cristo afixado. Portanto, a cruz e não o crucifico. Era natural que a cruz como sinal do cristão, de sua fé na morte redentora de Cristo, muito cedo entrasse também no uso litúrgico. Assim temos hoje uma presença muito freqüente da cruz nas diversas formas de expressão.

O SINAL DA CRUZ: Não há quase reunião de assembléia litúrgica que não comece com o sinal da cruz. Enquanto tocamos com a palma da mão direita a fronte, o peito, o ombro esquerdo e o ombro direito, dizemos: “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Declaramos que todo o nosso pensamento, nossa vontade  e a nossa ação, representado pela fronte, pelo peito e pelos braços, à luz da morte de Cristo, se desenvolvem em nome da Santíssima Trindade. Todo o nosso ser está mergulhado no mistério da Trindade. Todo o nosso ser está mergulhado no mistério da Trindade através da cruz redentora de Cristo.

A PERSIGNAÇÃO: constitui uma forma mais solene, ligada à proclamação do Santo Evangelho. O Sacerdote, depois de saudar o povo, contínua: Evangelho de Jesus segundo N., fazendo com o polegar o sinal da cruz sobre o livro e sobre si mesmo, na fronte, na boca e no peito. Qual o sentido mais profundo desta forma de fazer o sinal da cruz? Pedimos a Deus que a força da mensagem de Cristo penetre a nossa mente, a nossa palavra e a nossa vida. Que Ele ilumine a nossa inteligência para compreendermos bem a sua mensagem; que possamos professar a nossa fé, por nossas palavras e agir de acordo com ela.

TRAÇAR O SINAL DA CRUZ: é muito freqüente na Liturgia o gesto de traçar o sinal da cruz sobre as pessoas, objetos e elementos. Muitas vezes o gesto vem acompanhado da invocação das três pessoas da Santíssima Trindade. Outras vezes é acompanhada por formulas especiais que dão sentido ao gesto; a ocasião em que é traçado em silêncio. É sempre sinal de benção e consagração. Pensamos aqui na consagração das oferendas durante a Missa, na benção final que encerra quase todas as assembléias litúrgicas; na benção dada as pessoas, na benção de elementos como a água benta, o sal, objetos de devoção; na benção de objetos como as alianças, os paramentos, imagens, terços, etc. A faculdade de abençoar, traçando o sinal da cruz sobre as pessoas e objetos, é reservada aos sacerdotes e ao diácono quando ocorre dentro de sua função. Existem ainda dois outros modos de dar a benção. A primeira consiste em traçar com a cruz ou crucifixo ou ainda com o Santíssimo ou alguma relíquia o sinal da cruz sobre pessoas, abençoando-as. Gesto que é realizado também com o incenso. Segundo, traçar o sinal da cruz com o polegar sobre a fonte de uma pessoa ou objetos, assim temos no Batismo. Além do sinal da cruz a própria cruz encontra-se freqüentemente nas celebrações litúrgicas. É costume antigo a presença de uma cruz sobre o altar. A presença tão freqüente da cruz nos faz lembrar continuamente que toda a Liturgia não é outra coisa do que a evocação do mistério pascoal de Cristo, que por sua morte e ressurreição nos traz a vida nova. É pela cruz que o povo de Deus, a exemplo de Cristo, chega à ressurreição.

PÃO E VINHO: a linguagem litúrgica é de um arrojo inaudito. Certas realidades, que não ousaríamos expressar por palavras, nós as vivenciamos através de símbolos do culto cristão. Um dos símbolos mais eloqüentes é o pão e o vinho, que no plano da graça querem expressar o que significam no plano natural. Existe no homem o intimo desejo de comunhão de vida com Deus. Gostaria de estar unido a Ele como a comida e a bebida se tornam um com seu corpo. O homem tem fome e sede de Deus. Não deseja apenas conhece-lo e ama-lo, mas apoderar-se dele, possuí-lo, consumi-lo, comê-lo e bebê-lo, saciar-se plenamente nele. Para exprimir que Deus veio ao seu encontro deste desejo do homem, Cristo, o pão da vida, escolheu o símbolo do pão e do vinho, da comida e da bebida. Pão significa união, alimento, vida. Como o alimento se torna um com o homem, Deus quer unir-se ao homem. Vinho é bebida. Mas não bebida que apenas mata a sede. É bebida que se alegra, inebria, faz transbordar de felicidade. Assim Deus constitui a felicidade do homem, a sociedade do homem.
            Cristo tornou-se para nós pão e vinho. Podemos comê-lo e bebê-lo, isto é podemos tornar-se um com Ele na sociedade inebriante da vida feliz. Este pão torna-se para nós garantia da imortalidade. No pão e no vinho existe também muito de humano. O pão para ser pão passa por um longo processo. Igualmente o vinho. Por isso podemos dizer que o pão e o vinho quando usados no Sacramento da Eucaristia adquirem um tríplice sentido. Eles representam nossa vida e todas as coisas criadas por Deus. Toda a criação constitui objeto de ação de graça. E o homem a oferece a Deus como rei da criação. Em segundo lugar, o pão e o vinho significam o trabalho, a capacidade de criar do homem, sendo também nisto semelhante a Deus. Terceiro lugar – e isto é algo de inaudito e nós a aceitamos porque Cristo no-lo revelou – o pão e o vinho significam nossa comunhão de vida com Deus, onde Cristo se torna comida e bebida no Banquete Eucarístico. Deus vem ao encontro do homem no seu desejo de comunhão de vida com Ele.
            Pão e vinho, símbolos de comida e bebida, exprimem, pois a nossa vida, como também a nossa ação, a indústria do homem, seu domínio sobre a natureza que ele trabalha e transforma. Significam, outrossim, o próprio Cristo no mistério de sua Morte e Ressurreição. A preparação destas ofertas não constitui ainda o sacrifício com tal. O pão e o vinho querem recordar, recolher toda essa realidade humana em Cristo. A serviço dessa preparação está toda a Liturgia da palavra que quer dar maior sentido à nossa vida, aumentando o nosso amor. O homem aparece na presença do seu Deus, que o agraciou com a existência e o cumulou com a nova vida da graça. Toma daquilo que Deus lhe deu e que ele realizou pelo trabalho para dizer que tudo lhe pertence, tornando-se, desta forma, o pão e o vinho sinal do homem mesmo, daquilo que ele é e daquilo que ele faz. Deus por sua vez aceita este dom, o homem mesmo, representado pelos símbolos do pão e do vinho. Não só os aceita, mas os transforma, os assume pela ação de graça. Em resposta à oferta de nossa existência, em conformidade com a santíssima vontade, Deus mesmo se dá em alimento. Ali se realiza aquele desejo do homem de participar da vida e da imortalidade de Deus, não pelo orgulho como no caso de Adão e Eva, mas pela humildade, reconhecendo a sua condição de criatura mortal.

AS GOTAS DE ÁGUA NO VINHO: Um gesto simples e quase despercebido foi mantido no Ordinário da Missa. Ao preparar as oferendas, o sacerdote deposita um pouco de água no cálice com vinho. Sabemos que os hebreus usavam vinho misturado com água na celebração da Páscoa. Consciente de que Cristo na última Ceia também usou vinho misturado, os cristãos faziam o mesmo na Celebração Eucarística. E muito cedo os Santos Padres, sobretudo São Cipriano, começaram a dar um significado a esta mistura de água no vinho. Reagindo contra aqueles que celebravam a Eucaristia com pão e água, diz São Cipriano que se deve colocar ao menos um pouco de vinho na água. Se houver só água sem vinho, diz o santo, nós estamos sozinhos sem Cristo. O que não possível. E se houver só vinho sem água, Cristo está sozinho sem nós. De que nos adianta isto?, Pergunta São Cipriano. Com isso ele quer dizer que a Eucaristia é o Sacrifício de Cristo e da Igreja, isto é, do Corpo Místico de Cristo.
            Ele então procura ilustrar pela Sagrada Escritura. O vinho lembra a Redenção pelo sangue e de modo particular a Paixão de Cristo, ao passo que a água traz a mente o povo de Deus salvo das águas do Batismo. Assim como as gotas de água colocadas no vinho somem totalmente, são assumidas pelo vinho, no Sacrifício da Missa, nós devemos entrar em Cristo, identificar-nos com Ele, fazer-nos um com Ele. Nas oferendas da Missa encontramos um duplo simbolismo. Por um lado, o pão e o vinho significam a vida, a existência do homem unida a Cristo. Por outro lado, temos a água em relação ao vinho. Agora, o vinho significa Cristo e a água o cristão que se oferece juntamente com Cristo. Gesto singelo, mas tão significativo! O que importa não é o sinal em si, mas o que ele significa; o que importa é a nossa atitude unida à de Cristo.
            A partir desta ação do Sacerdote podemos valorizar o momento da preparação das oferendas para dispor o nosso coração a participar melhor do Sacrifício Eucarístico, tornando-o também nosso sacrifício. Água é símbolo de vida em geral e da nova vida adquirida pela fé e pelo Batismo em particular. O povo sacerdotal nascido das águas do Batismo manifesta sua presença na Eucaristia pelas gotas de água colocadas no cálice com vinho.

A PARTÍCULA DE HÓSTIA NO CÁLICE: Trata-se de um rito que muitas vezes pode passar despercebido. Ou então se pergunta sobre o seu significado. Após a fração do pão que precede o rito da Comunhão, o Celebrante coloca uma partícula da hóstia no cálice, rezando em silencio: “Esta união do Corpo e do Sangue de Jesus, o Cristo e Senhor nosso, que vamos receber, nos sirva para a vida eterna!”. O rito de romper o pão para dividi-lo fraternalmente era usado entre os judeus. O próprio Jesus na última Ceia tomou o pão partiu-o e deu aos discípulos. E mandou repetir o gesto em sua memória. De tal modo o rito de partir o pão tornou-se familiar entre os cristãos que “fração do pão” se tornou sinônimo de Celebração Eucarística. Nos primeiros séculos o partir o pão era uma ação normal exigida pela necessidade de reduzir os pedaços de pão consagrados para a comunhão dos fieis. O rito da fração era realizado com grande solenidade, enquanto o povo cantava o Cordeiro de Deus. O rito perdeu sua importância com a confecção de hóstias pequenas para os fiéis. Com o correr do tempo começou-se a ligar ao gesto da fração do pão um sentido simbólico que levou a um rito de “mistura” ou união das espécies do pão e do vinho. O pão partido representava o Corpo de Cristo rompido em sua Paixão.            Cristo é apresentado como aquele que cada dia na Santa Missa se imola pelos pecados dos homens. Por que, então, a mistura do pão consagrado com o vinho? Sua origem é bastante obscura. Algumas indicações históricas podem lançar luz a maior compreensão. A Eucaristia foi sempre considerada como expressão da unidade do Corpo Místico de Cristo. São Paulo diz: “Uma vez que há um único pão, nós embora sendo muitos. Formamos um só corpo, porque todos nós comungamos de um mesmo pão” (1Cor 10,17). A Igreja romana deu uma expressão visível a este conceito através do uso do “fermento”. Fermento era chamado a particular que o Papa destacava das próprias espécies consagradas em dias festivos e enviava aos bispos das cidades vizinhas de Roma e aos presbíteros das outras igrejas da cidade, que, por sua vez, a colocavam no cálice do Sacrifício, em sinal de união com op Papa e a presidência hierárquica dele. Em Roma este uso foi praticado até o século IX. Quando o rito do fermento caiu em desuso continuou o costume de o próprio Celebrante colocar no cálice um pedaço da própria hóstia. Este rito simboliza, sobretudo a união e a paz. Mas tarde, outra idéia vinda do Oriente inspirou o gesto de colocar um pedaço de hóstia consagrada no cálice imediatamente antes da Comunhão. Queria significar a unidade das espécies consagradas. O pão e o vinho, embora separados, não são algo mortos, como o sangue separado do corpo, formam uma unidade, o Corpo vivo e glorioso de Cristo. Lembram o mistério da Ressurreição. A união dos elementos separados pela memorial da Morte De Jesus Cristo é feita para simbolizar a sua ressurreição. A Eucaristia celebra não o Cristo morto, mas o Cristo morto e ressuscitado, pão vivo descido dos céus, garantia de imortalidade. A oração fala de Cristo vivo que é Senhor nosso; um Cristo alimento; um Cristo alimento para a vida eterna. Significativo é que durante a fração do pão e a mistura à assembléia cante o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. O canto é da assembléia, entoado pela assembléia que está se preparando pra participar do Banquete do Cordeiro de Deus que dá a vida. Hoje este rito passa muitas vezes quase despercebido. Muitas vezes ele é abafado pela ruidosa e pouco ritual saudação da paz. Para valorizá-lo importa compreender seu significado mais profundo. Finalmente, importa realizar o rito com dignidade e vagar, depois de concluída a saudação da paz e fazendo concluir a fração e a mistura com o canto do Cordeiro de Deus.

AS VESTES: Também o uso das veste a arte está a serviço da vivência litúrgica por ser um meio de comunicação. O homem faz uso de vestimentas, sem dúvida, para defender-se do frio e do calor. Mas o sentido da veste vai muito além deste uso utilitário. Perguntando, então, pelo sentido das vestes em geral, perguntaremos depois sobre o porquê das vestes litúrgicas. Pelo traje o homem procura comunicar-se no seu relacionamento social. Pelo fato de o corpo constituir como que o sacramento do mistério do homem, ele o recobre. Quer significar com isso que o homem não é apenas aquilo que se pode perceber pelos sentidos. Vai muito além de sua corporeidade. Interessante notar que o homem gosta de recobrir, velar aquilo que valoriza de modo especial. Assim também o corpo humano. Assim surgiram através da história as diferentes vestimentas usadas nos momentos importantes da vida e em determinadas funções da sociedade humana. Temos, por exemplo, a veste batismal, de Primeira Comunhão, a vestido da noiva, a veste do religioso, do sacerdote. Usamos roupas diferentes para o trabalho. Elas são a expressão de um estado de alma com a alegria, a festa ou o luto. Podem também exprimir também uma função. Em vista da capacidade de a veste humana torna-se uma linguagem, uma comunicação, ela pode demonstrar também uma realidade religiosa. Para significar que o homem rompeu com o divino que o envolvia, o autor do Gênesis usa a imagem da veste. Adão e Eva sentiram-se nus porque não estavam revestidos, envolvidos pelo mistério de Deus (cf. Gn 3,7). São Paulo usa freqüentemente em seus escritos a imagem do despir-se do homem velho e revestir-se de Cristo para traduzir a realidade da nova vida em Cristo. Como as demais vestes, também as litúrgicas possuem dupla função, significando estados de alma e o mistério exercido. As vestes litúrgicas, das mais simples às mais ricas, criam um clima de alegria, de elevação, de festa, ajudando desta forma a assembléia a manifestar-se como um povo em festa pela salvação em Cristo.
            Quando falamos em vestes litúrgicas parece não devamos pensar apenas nas vestes sacerdotais. Deveríamos pensar na veste que usa qualquer cristão ao participar do culto. Por uma veste melhor ele procura criar e expressar o ambiente de festa; a veste nova torna-se um convite para revestir-se de Cristo. Claro que isto não constitui algo de essencial. O pobre sem recursos não deixará de participar da Eucaristia por não possuir um traje adequado, mas, quem sabe, procurará trazê-lo bem asseado e arrumado como ao receber uma visita importante em sua casa. Haverá, pois, um traje para sair a passeio, outro para a praia, o esporte e outro ainda para os momentos do culto, o qual não será motivo de atenções que distraiam, mas que possa realmente elevar sua mente e a dos demais participantes da assembléia. A veste quer ajudar a comunicar-nos com Deus. Para o sacerdote e todos o que tiverem funções especiais, o vestuário pretende ainda exprimir ou realçar sua função. A vestimenta especial do sacerdote não constitui elemento essencial na Liturgia. Mas se colocarmos a questão nestes termos, creio que não entendemos nada do sentido dos sinais litúrgicos. Devo perguntar-me antes: “Senhor será que as vestes sacerdotais ajudam a mim e a toda a assembléia a viver melhor o mistério celebrado?” Temos, portanto, na linha do essencial, do necessário, mas daquilo que convém daquilo que tem sentido. Mantendo seu sentido fundamental de comunicar com os mistérios celebrados, as vestes poderão assumir as formas mais diversas. O feitio dos nossos paramentos constitui uma das formas possíveis na procura de novas e mais apropriadas formas ao nosso tempo. Uma coisa me parece certa. As formas variam através dos séculos, mas a vestuário como tal será sempre um elemento valioso na expressão religiosa do homem.

ANEL-ALIANÇA: Aqui o símbolo já é chamado pelo que significa. O significado principal do anel é realmente a aliança. Sua forma circular evoca a eternidade, a permanência, a fidelidade. O anel é, outrossim, sinal de dignidade e de poder. O antigo costume dos romanos que trocarem anéis por ocasião do casamento, como símbolo da mútua união, passou mais tarde pra o rito do matrimonio cristão. Os anéis dos esposos, chamados também de alianças, são sinal de amor e fidelidade, de amor total e sem fim. Estes anéis deverão recordar sempre a aliança de amor e fidelidade para com a pessoa amada, para com Deus e o testemunho de amor e fidelidade, diante da comunidade cristã. Como já dissemos, o símbolo é a presença da mesma realidade em outra forma. Assim o anel de casamento que um cônjuge traz em seu dedo evoca, oculta, significa, constitui continuamente a presença do outro cônjuge em sua vida. Não somos mais dois, somos um só, onde estou eu, está ela; onde estou eu, está ele. Em grande sentido, portanto, o gesto de o viúvo ou a viúva passar para o próprio dedo o anel do cônjuge já falecido.
            O anel conferido às religiosas é símbolo das núpcias da alma consagrada com Cristo, sendo, pois, um desafio à santidade da consagração total a Deus. Diz a oração que acompanha o gesto: “Recebe esta aliança de esposa do Rei Eterno; sendo-lhe fiel, chegarás à alegria das núpcias celestes” A anel do Bispo também não constitui mero enfeite ou manifestação de sua função ou dignidade., Seu significado vai muito além. Diz o Ritual da Ordenação e um Bispo: “Recebe este anel, símbolo da fidelidade; e com fidelidade invencível guarda sem mancha a Igreja, esposa de Deus”. Portanto, usar ou não as alianças como casados ou noivos não é questão de esnobismo ou de espírito de contradição, mas brotará da compreensão ou não da linguagem simbólica na vida do homem.


BIBLIOGRAFIA: 
 Diácono Neves 
Símbolos Litúrgicos – Editora Vozes – Frei Alberto Beckäuser, OFM



“Sendo conhecedores da verdade ela te libertará”.

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