Patrologia/Patrística


PATROLOGIA – PATRÍSTICA

I. Significado dos termos
II. História literária dos Padres
III. A transmissão dos textos patrísticos
IV. A edição impressa dos Padres
V. A patrística hoje

Foi o título de “Pai” (“Padre”) que forjou o termo “patrologia”, depois, o de “patrística”; dois termos vizinhos, mas que tendem a distinguir-se. O criador do termo “patrologia” foi o luterano J. Gerhard ( 1637) em seu estudo póstumo “Patrologia sive de primitivae ecclesiae christianae doctorum vita ac lucubrationibus opusculum”, aparecido em Jena em 1653; o livro vai de Hermas a Belarmino.

I. Significado dos termos. 1) O termo “patrologia” quer expressar sobretudo o estudo histórico e literário (vida e obras) dos escritores antigos. Certo número de historiadores, a fim de incluir todos os autores da Igreja, sejam ortodoxos sejam heterodoxos, preferem falar de “História da literatura cristã” (Harnack) ou “eclesiástica” (Berdenhewer), título adoptado por numerosas obras contemporâneas, de origem e tendências diversas (Batiffol, Puech, Labriolle, Bardy, Moricca, Pellegrino). Na origem, “patrística” era um adjectivo, subentendendo teologia. Apareceu no séc. XVII entre os teólogos luteranos e católicos, que distinguiam a teologia em “bíblica, patrística, escolástica, simbólica, especulativa”. Aqueles que hoje lhe dão preferência estudam as ideias e as doutrinas mais do que o aspecto filológico e literário. Basta folhear as novas edições dos textos patrísticos, como as Sources chrétiennes, para perceber esta mudança. 2) Os antigos não traçaram uma fronteira rígida entre a antiguidade cristã e a Idade Média; com facilidade deram eles o nome de “Padres” aos escritores posteriores, como no caso das antigas Bibliothecae Patrum, que vão até o séc. XV e XVI. Até mesmo Mabillon ainda considera S. Bernardo como “o último Padre”. Migne seguiu este exemplo na sua Patrologia (para grande desespero de J. B. Pitra). Os modernos fixam limites mais precisos. Para eles, em geral os Padres terminaram com Gregório Magno ou Isidoro de Sevilha para os latinos, com João Damasceno para os gregos. Alguns desejam incluir também Beda o Venerável e o Bizantinismo.

II. História literária dos Padres. Pode-se considerar Eusébio de Cesareia como o pai da Patrologia. Na sua História Eclesiástica., ele nos dá insubstituíveis informações sobre os escritores e as suas obras, reproduzindo também longos trechos. No De viris inlustribus Jerónimo redige 135 breves notícias, pouco mais ou menos em ordem cronológica, que vão de Simão Pedro a Sofrônio, terminando modestamente com ele próprio. Inspira-se em Eusébio. As melhores notícias são sobre seus contemporâneos. A obra de Jerónimo foi continuada por Genádio de Marselha, que lhe acrescentou 97 (100) novas notícias; é preciosa para o séc. V. A continuação por obra de Isidoro de Sevilha e de Ildefonso de Toledo se estende principalmente sobre os escritores espanhóis (PL 83, 1084-1106).
Um anónimo introduz no Onomasticon de Hesíquio de Mileto os escritores cristãos, que dali passam para a Sudas e para Fócio, Myriobiblon sive Bibliotheca. Por volta de 1317, Ebedjesus bar Berika estabelece o Catálogo dos escritores da literatura siríaca.
No Ocidente, os historiadores da Idade Média (Sigeberto de Gembloux [ 1112], Honório de Autun, o Anónimo de Melk, falsamente identificado com Henrique de Gand, continuado por João de Tritenheim, dito Trithemius [ 1516]) contentam-se com fornecer resumos (não isentos de erros) de Jerónimo, Genádio, Isidoro. A documentação encontra-se em J. A. Fabricius, Bibliotheca ecclesiastica, Hamburgo 1718.
Renascimento e Humanismo levam ao auge a antiguidade clássica e a cristã, no plano dos textos e da história, e afirma-se uma verdadeira volta às fontes. O conhecimento das línguas antigas, sobretudo do grego, faz descobrir o património oriental e ocidental. De ora em diante os Padres são citados nas controvérsias em que se contrapõem a Reforma e a Igreja católica. E o caso das Centúrias de Magdeburgo (1559), pesquisa histórica luterana que pretende demonstrar os desvios católicos. Elas provocam o monumental trabalho de C. Barónio (1538-1607), os Annales Ecclesiastici, em 12 vols.
O séc. XVII vê aparecerem obras que marcam época: R. Belarmino, Liber de scriptoribus ecclesiasticis, Roma 1613, continuado por Ph. Labbé e C. Oudin. Seguem-se três historiadores de grande estatura: Louis Ellies du Pin, Nouvelle bibliothèque des auteurs ecclésiastiques, Paris 1686-1711, 47 vols.; L. S. Le Nain de Tillemont, Mémoires pour servir à l’histoire des 6 premiers siècles, Paris 1693-1712, 16 vols., obra reeditada ainda hoje e apreciada pelos eruditos; depois R. Ceillier, Histoire générale des auteurs sacrés et ecclésiastiques, Paris 1729/63, 23 vols.
A igreja protestante e a anglicana apresentam os trabalhos de Dodwell ( 1711), Cave ( 1713), C. Oudin ( 1717), Fabricius e C. T. G. Schönemann; estes entraram no Migne. Os estudos teológicos de Petau ( 1652) e de Thomassin ( 1695) fazem surgir um sério conhecimento da patrística. O mesmo se dá com as diversas pesquisas sobre as fontes litúrgicas; para a igreja oriental a de Jean Morin ( 1659) e Renaudot ( 1720), de quem a Liturgiarum Orientalium Collectio é reeditada ainda hoje. Faz-se mister acrescentar o Rituale Graecorum de J. Goar ( 1654) e os Antigos ritos da Igreja de Martène ( 1739).
Nos sécs. XVII e XVIII intensifica-se a exploração das ricas bibliotecas, o que permite a publicação de numerosos inéditos, que vão engrossar as colecções parciais dos Padres. É preciso citar aqui L. A. Muratori (1672-1750) e Mansi (1692-1769), cuja Amplissima collectio dos concílios, já precedida pela de Ph. Labbé ( 1667), é reeditada até aos nossos dias. De seu lado, a família Assemani, principalmente José Simão, revela ao Ocidente as riquezas da literatura siríaca.
Nos inícios do séc. XIX, contentam-se com continuar esta exploração, graças à sagacidade de Angelo Mai (1782-1854), que publica 38 volumes em quatro colecções sucessivas. J. B. Pitra (1812-1889), que já havia decifrado a inscrição de Pectorius de Autun, continua com menor rigor o trabalho de Mai. A estes pesquisadores acrescenta-se o norueguês C. P. Caspari (1814-1892) para a edição de símbolos inéditos (3 vols.). A pesquisa patrística intensifica-se na segunda metade do séc. XIX. É o tempo de J. H. Newman na Inglaterra. A Universidade cria a cátedra de patrologia em Louvain (J. B. Malou, B. Jungmann), em Tübingen (J. A. Möhler, depois F. X. Funk), mormente em Berlim, que se torna um centro de edições e de pesquisa com A. Harnack ( 1930) e Th. Zahn ( 1933), em Munique (Bardenhewer). A França chega à ribalta com L. Duchesne (1843-1922) e P. Batiffol (1861-1929). Todos estes autores do “revival” patrístico aplainam a estrada para a pesquisa contemporânea. A arqueologia por sua vez entra com coragem para enriquecer a pesquisa histórica sobre a antiguidade cristã. Neste campo, o precursor é Antonio Basio ( 1629), que, a partir de 1620, descreve a Roma subterrânea. No séc. XIX, G. B. De Rossi ( 1894) lança luz sobre a Roma cristã, sobretudo pré-constantiniana, com suas inscrições, com a iconografia das catacumbas.

III. A transmissão dos textos patrísticos. Desde o séc. IV alguns monges se dedicam à transcrição das obras cristãs e também pagãs. Para este fim Cassiodoro funda o mosteiro de Vivarium, onde se traduzem os textos gregos. Tanto no Oriente quanto no Ocidente os mosteiros conservam e transmitem o património patrístico, principalmente o espiritual. Ricas bibliotecas de obras dos Padres encontram-se especialmente nas grandes abadias (Bobbio, S. Gall, Reichenau, Corbie). No Ocidente, os gregos são conhecidos apenas em tradução latina.
Desde o fim da época patrística, os textos são transmitidos graças a colecções (Compilações, Filocalias, Cadeias, Florilégios dogmáticos e monásticos, Apoftegmas), mais cómodas e menos dispendiosas.
A primeira antologia de Orígenes (Philocalia) remonta aos Capadócios. Nestas selecções, no Ocidente Agostinho domina com vantagem. Próspero, Eugípio, mais tarde Floro de Lyon e Beda o Venerável compõem Sentenças tiradas das obras agostinianas. Patério compõe o Liber testimoniorum (excertos das obras de Gregório Magno).
Isidoro inaugura o género literário das Sentenças e compõe uma “suma” teológica com citações de Agostinho e de Gregório I. No séc. VII o Liber scintillarum do Defensor de Ligugé, um dos livros mais lidos, alarga sua colheita sobretudo com sentenças morais e ascéticas; além dos latinos, aí figuram os gregos e até mesmo Efrém. É preciso acrescentar os Testimonia divinae Scripturae et Patrum de um autor contemporâneo. O Oriente e, mais tarde, o Ocidente concebem florilégios dogmáticos e espirituais, que saqueiam a literatura patrística. Os florilégios dogmáticos brotam da importância dada à prova de autoridade nas controvérsias teológicas e nos concílios; os Padres se substituem à Escritura. Basílio (Tratado sobre o Espírito Santo, cap. 2s), Vicente de Lérins (Commonitorium 29-31), Agostinho (Contra Julianum I, 6-34), Cirilo de Alexandria, Teodoreto (Eranistes), Severo de Antioquia (Contra Joharmem Grammaticum, e suas fontes) constituem dossiers patrísticos. O mesmo acontecerá com Efrém de Antioquia e Sofrónio de Jerusalém (perdidos), com os organizados por Máximo o Confessor, com a Doctrina Patrum de incarnatione Verbi de um certo Anastásio (séc. VII-VIII), com os Sacra Parallela e a obra de Floro de Lyon. A tradição arménia transmitiu o florilégio de Timóteo Eluro contra o Concílio de Calcedónia, e compôs outros originais (Sigilo da fé, etc.).
Os florilégios espirituais e monásticos recolhem os ditos dos Padres, mormente de J. Crisóstomo e dos Padres bizantinos. Assim as Pandectas da Sagrada Escritura (séc. VII), as Perguntas e Respostas de Anastásio Sinaíta, depois aumentadas, o Evergetinon de Paulo de Constantinopla (séc. XI). No Ocidente, é preciso citar o Liber exhortationis de Paulino de Aquiléia ( 802), o Livro dos vícios e das virtudes de Alcuíno, o Diadema dos monges de Smaragdo (séc. XI). Muitos destes florilégios são ainda inéditos. Entre as Gnomai (Sentenças) e os Lugares comuns, além das famosas Sentenças de Sexto, os Preceitos do diácono Agapito de Constantinopla se espalharam por todas as bibliotecas da Europa e inauguraram o género literário dos chamados Espelhos dos príncipes; os mais conhecidos são os Lugares-comuns do Ps.-Máximo, em que são abundantemente citados os Padres. Também os Homiliários hauriram do património patrístico e divulgaram “trechos selectos” da pregação, mas também comentários bíblicos e obras teológicas e espirituais dos Padres. Minuciosa exploração permitiu reconstruir em parte a obra de Cromácio. Durante séculos tal literatura nutrirá a oração dos monges e de toda a Igreja.
Enfim acrescentemos que as colecções canónicas (abertas também a questões teológicas, como os sacramentos e os ministérios) transmitem alguns textos patrísticos. O Decreto de Graciano, no auge da Idade Média, deles cita 1200, dos quais 1022 autênticos, embora nem sempre seja correcta a atribuição. Aí predominam os latinos, sobretudo Agostinho; os gregos são modestamente representados. Dos 33 textos atribuídos a João Crisóstomo, apenas 14 são autênticos. Trata-se de excertos, muitas vezes longos, que por vezes cobrem várias colunas do Migne. É através desta mediação que os Padres estão presentes na Escolástica. Raramente os Mestres têm conhecimento directo das obras; em geral, recorrem às colecções. O próprio Pedro Lombardo, que dá, nas Sentenças, o manual teológico para os Mestres, apresenta sua obra como uma compilação dos Padres “in quo maiorum exempla doctrinamque invenies... brevi volumini complicans Patrum sententias” (Prólogo). Os Padres aí figuram como autoridades às quais é necessário recorrer. Os Escolásticos os consultam mediante as Tabulae originalium, os Libri auctoritatum.
Não se deve passar em silêncio o estudo mais intenso dos Padres nos grandes mosteiros, mediadores de seus textos durante a Idade Média, quer se trate da Ordem beneditina ou dos mosteiros cluniacenses, das abadias cistercienses ou das comunidades agostinianas, ou das várias cartuxas. Mais do que “auctoritates”, os monges aí procuram um alimento para sua fé e sua vida espiritual (J. Leclercq, L’amour des lettres et le désir de Dieu, Paris 1957, p. 87-107).
Dentro da própria Universidade, Jean Gerson ( 1429) prepara a época dos Humanistas começando, contra as tendências da época, uma volta a Gregório Magno, a Agostinho, ao Ps.-Dionísio, às Vitae Patrum.

IV. A edição impressa dos Padres. O Renascimento e a invenção da imprensa favoreceram a difusão dos escritos patrísticos. Na origem, prevalece a tendência a imprimir os livros mais procurados. O primeiro texto é um apócrifo de Agostinho, De vita christiana, impresso em Mogúncia em 1461; depois, o De arte praedicandi (l. IV do De doctrina christiana). As primeiras obras cristãs impressas na Itália, em Subiaco, em 1465, são as obras de Lactâncio, seguidas pela Cidade de Deus. O primeiro texto grego, os Discursos de Gregório de Nazianzo, é publicado em 1516, em Veneza, por Aldo Manuzio. São de novo postos em lugar de honra textos até então negligenciados, como Lactâncio, Tertuliano, Jerónimo.
Os Humanistas melhoram aos poucos o texto a ser impresso, aperfeiçoando e eliminando os erros dos copistas, acumulados no passar dos séculos. São os colaboradores técnicos dos editores: Andrea de Bossi colabora nas publicações de Schweynheim e Pannartz, em Subiaco, depois em Roma. Em Basileia, Amerbach e depois Froben se cercam de uma plêiade de Humanistas: Johann Heylin, Beatus Rhenanus, Johann Pellikan e sobretudo Erasmo, o príncipe dos Humanistas.
Tende a afirmar-se a publicação das “opera omnia”, o que impõe um exame crítico para discernir o autêntico do apócrifo, depois de séculos de fantasiosas atribuições. As obras completas de Ambrósio saem primeiro em Milão em 1492, depois em Basileia, onde são seguidas pelas de Agostinho em 1506, de Jerónimo em 1508. Não se faz ainda nenhuma selecção crítica: esta será a iniciativa de Erasmo, que prepara a edição das obras de Cipriano (1521), de Arnóbio (1522), de Hilário (1523), de Jerónimo (1524-26), de Ireneu (1526), de Ambrósio (1527), e finalmente de Agostinho (1527-29). Orígenes, em latim, somente aparece em 1536, depois da morte de Erasmo. Erasmo já começa a coleccionar, com amigos, diversos manuscritos, a estabelecer a “censura” das obras, a livrar o texto dos descuidos e dos erros dos copistas. Graças a ele começa-se a estabelecer a edição sobre bases mais críticas.
Os esforços de Erasmo são continuados por editores de valor, muitas vezes assessorados por filólogos como Robert Estienne ( 1559) e seu filho Henrique. Aqui se faz mister citar o franciscano Feuardent ( 1610), autor de uma série de edições patrísticas; o jesuíta Fronton du Duc ( 1624), editor de João Crisóstomo, de Gregório de Nissa e de Basílio; J. Sirmond ( 1651), ao mesmo tempo historiador e editor dos Padres (Fulgêncio, Teodoreto de Ciro, Eusébio e Rufino), e da colecção Concilia antiqua Galliae; o dominicano F. Combefis ( 1678), que publica Máximo o Confessor e um vasto Homiliário patrístico; o historiador Etienne Baluze 1718) que, entre outros, prepara uma Conciliorum nova collectio; J. B. Cotelier ( 1686) que, em Paris, estabelece o catálogo dos manuscritos gregos e publica os três volumes da Ecclesiae Graecae Monumenta.
Na Inglaterra, deve-se citar pelo menos Henri Savile ( 1622), fundador da Bodleian Library, que apresenta uma já notável edição das obras de João Crisóstomo, cotejada com os melhores manuscritos. Na Alemanha, J. A. Fabricius ( 1736), filólogo e editor de Hipólito e de Filástrio (1721).
A estes é preciso acrescentar o trabalho de equipa dos Maurinos e dos Bolandistas.
No séc. XIX, Jacques Paul Migne (1800-1875) recolheu numa só Patrologia, em duas séries, latina e grega, todas as publicações parciais, as grandes edições dos Padres, reunindo Bibliotecas, Espicilégios, Analecta, Anedocta, Miscelâneas, Monumenta e Reliquiae, editados a partir da invenção da imprensa. Nela reuniu as dissertações históricas, críticas, teológicas dos séculos passados, a que o erudito pode recorrer ainda hoje com proveito, e que seriam dificilmente encontráveis em outro lugar.
A partir da metade do séc. XIX, a edição crítica baseia-se em critérios mais rigorosos, formulados e empregados por K. Lachmann; desde então deles se beneficiam os textos patrísticos e os novos “corpus”, principalmente o CSEL[1] e o GCS[2], depois SCh e CCL. O Oriente encontra seu lugar na PO[3], em PS[4] e em CSCO[5].

V. A Patrística hoje. O campo da pesquisa se alargou enormemente; acumulam-se as monografias e as revistas especializadas. A bibliografia de Orígenes e de Agostinho exige só por si grossos volumes. Hoje a patrística se enriquece graças à descoberta de novos textos latinos, gregos, orientais, que incessantemente aumentam o dossier. Exigiram-se quatro volumes de Suplemento só para a Patrologia latina.
Numerosos textos gregos nos são propostos em diversas versões, especialmente em siríaco, que nos permitem reconstruir aos poucos a obra de um Teodoro de Mopsuéstia até aqui desconhecida. A Clavis Patrum de Geerard estabeleceu um primeiro inventário deles, onde se encontram muitos inéditos.
Papirologia e epigrafia não cessam de oferecer textos inéditos como a Disputa com Heráclides de Orígenes, os comentários sobre o Génesis, sobre e sobre Zacarias de Dídimo, descobertos em Tura, em 1941. A biblioteca de Nag Hammadi abriu nova fase no estudo do gnosticismo. Papiros mais modestos nos permitem conhecer melhor a vida quotidiana dos cristãos dos primeiros séculos. Além disto, a arqueologia enriquece a patrística, o que explica o lugar que lhe foi dado neste Dicionário.
Papiros, versões, fragmentos, inventários exactos de manuscritos favorecem a edição sempre mais rigorosa dos textos antigos, que se beneficia também de um conhecimento mais aprofundado do latim e do grego cristãos. Para medir o caminho percorrido basta analisar a última edição do Adversus haereses em Sources Chrétiennes.
A contribuição da filologia permitiu reais progressos no concernente à fixação e ao estudo dos textos antigos. Não por acaso foram os trabalhos de Harnack reeditados anastaticamente, não obstante seu valor histórico desigual. Depois da escola de Uppsala, a de Nimega nos ensinou a discernir melhor a originalidade do latim cristão. As questões de autenticidade e de cronologia foram estudadas com novo rigor, as fontes dos autores acurada e pacientemente analisadas. O Sitz im Leben, o ambiente cultural, religioso, político, social, literário, filosófico são explorados minuciosamente. Frutos abundantes produz o caminho aberto por F. J. Dölger para o confronto entre Antiguidade e Cristandade. Uma releitura feita com preocupações mais existenciais dá maior consistência à interpretação, uma dimensão mais verdadeira à análise.
No curso dos séculos, os textos dos Padres foram invocados principalmente como norma de ortodoxia, e alimentaram as contraposições no tempo da Reforma e da Contra-Reforma. Isto teve duas consequências que ainda pesam sobre a patrística: a hipertrofia da dogmática em prejuízo dos outros âmbitos, a exacerbação da ortodoxia, que provocou o ostracismo dos heresiarcas e de até um Orígenes, em seu tempo juiz da ortodoxia numa assembleia de bispos.
Vezes demais a patrística favoreceu os latinos em prejuízo dos gregos, Agostinho em prejuízo de Hilário de Poitiers. Afortunadamente Ireneu, Orígenes, Gregório de Nissa estão retomando seu devido lugar, ao passo que Hilário e outros tantos não o ocupam ainda. Toda a literatura apócrifa, por muito tempo a Cinderela da patrística, somente agora começa a ser estudada melhor e editada.
Desde a aparição das “Dogmengeschichten”, a patrística quase exclusivamente se tem refugiado na história antiga do dogma. Estudos recentes começam a pôr em evidência todos os outros âmbitos a serem explorados: ensinamento moral e ascético, vida teologal e monástica, doutrina política e teologia da história, vida espiritual e mística, ideias sociais e económicas. Podem-se acrescentar ainda a liturgia, a catequese, a homilética. São todos assuntos que, em vão, se procuraria nos cultores da patrística no início do século, como também nos manuais actuais, e que permitiram pôr de novo em evidência a contribuição original de um Salviano de Marselha.
A todos estes âmbitos, não ainda completamente explorados, ajunte-se a influência exercida pelos Padres sobre os séculos seguintes, para se medir até que ponto Tertuliano, Orígenes, Lactâncio, Agostinho puderam informar o pensamento da Europa inteira.
A patrística, por algum tempo domínio reservado ao clero (como a teologia), entrou hoje para o domínio público. Os Padres encontram seu lugar na literatura geral (M. Schanz). Eles interessam pesquisadores religiosos ou não, cristãos e não-cristãos, que concorrem para o estudo dos Padres com sua cultura filológica e filosófica. Mas não é suficiente querer para ser um patrólogo; doutra parte, o termo patrística não passa de um adjectivo de teologia, no sentido mais autêntico e completo do termo.

Bibliografia 

Fr. José Manuel Correia Fernandes, OP

Os Santos Padres da Igreja
hamamos de «Padres da Igreja» (Patrística) aqueles grandes homens da Igreja, aproximadamente do século II ao século VII, que foram no Oriente e no Ocidente como que «Pais» da Igreja, no sentido de que foram eles que firmaram os conceitos da nossa fé, enfrentaram muitas heresias e, de certa forma foram responsáveis pelo que chamamos hoje de Tradição da Igreja; sem dúvida, são a sua fonte mais rica. Certa vez disse o Cardeal Henri de Lubac:
«Todas as vezes que, no Ocidente tem florescido alguma renovação, tanto na ordem do pensamento como na ordem da vida – ambas estão sempre ligadas uma à outra – tal renovação tem surgido sob o signo dos Padres.»
Gostaria de apresentar aqui ao menos uma relação, ainda que incompleta, desses gigantes da fé e da Igreja, que souberam fixar para sempre o que Jesus nos deixou através dos Apóstolos.
Em seguida, vamos estudar um pouco daquilo que eles disseram e escreveram, a fim de que possamos melhor conhecer a Tradição. [...]

  1. S. Clemente de Roma (†102), Papa de Roma (88 - 97)
  2. Santo Inácio de Antioquia (†110)
  3. Aristides de Atenas (†130)
  4. São Policarpo de Esmira (†156)
  5. Pastor de Hermas (†160)
  6. Aristides de Atenas (†160)
  7. São Hipólito de Roma (160 - 235)
  8. São Justino (†165)
  9. Militão de Sardes (†177)
  10. Atenágoras (†180)
  11. São Teófilo de Antioquia (†181)
  12. Orígenes de Alexandria (184 - 254)
  13. Santo Ireneu (†202)
  14. Tertuliano de Cartago (†220)
  15. São Clemente de Alexandria (†215)
  16. Metódio de Olimpo (sec.III)
  17. São Cipriano de Cartago (210-258)
  18. Novaciano (†257)
  19. São Atanásio de Alexandria(295 -373)
  20. São Efrém - (306 - 373), diácono, Mesopotânia
  21. São Hilário de Poitiers - bispo (310 - 367)
  22. São Cirilo de Jerusalém, bispo (315 - 386)
  23. São Basílio Magno, bispo (330 - 369) - Cesaréia
  24. São Gregório Nazianzeno - (330 - 379), bispo
  25. São Ambrósio - (340 - 397), bispo, Treves - Itália
  26. Eusébio de Cesaréia (340)
  27. São Gregório de Nissa (340)
  28. Prudêncio (384 - 405)
  29. São Jerônimo ( 348 - 420), presbítero Strido, Itália
  30. São João Cassiano (360 - 407)
  31. São João Crisóstomo - (349 - 407), bispo
  32. São Agostinho - (354 - 430), bispo
  33. Santo Efrém (†373)
  34. Santo Epifânio (†403)
  35. São Cirilo de Alexandria - (370 - 442), bispo
  36. São Pedro Crisólogo - (380 - 451), bispo, Itália
  37. São Leão Magno (400 - 461), papa de Roma - Toscana, Itália
  38. São Paulino de Nola (†431) - Sedúlio (sec V)
  39. São Vicente de Lerins (†450)
  40. São Pedro Crisólogo (†450)
  41. São Bento de Núrcia (480 - 547)
  42. São Venâncio Fortunato (530-600)
  43. São Ildefonso de Toledo (617 - 667)
  44. São Máximo Confessor (580-662)
  45. São Gregório Magno (540 - 604), Papa de Roma
  46. São Ildefonso de Sevilha (†636)
  47. São Germano de Constantinopla - (610-733)
  48. São João Damasceno (675 - 749), bispo, Damasco
Neste capítulo vamos apresentar um pouco daquilo que esses grandes Padres da Igreja escreveram; isto nos ajudará a compreender melhor o que é a Sagrada Tradição da Igreja. Veremos de onde vem a fonte de tudo aquilo que cremos e vivemos na Igreja [...]
São Clemente de Roma (†102), Papa (88-97), foi o terceiro sucessor de São Pedro, nos tempos dos imperadores romanos Domiciano e Trajano (92 a 102). No depoimento de Santo Ireneu “ele viu os Apóstolos e com eles conversou, tendo ouvido diretamente a sua pregação e ensinamento”. (Contra as heresias)
Santo Inácio de Antioquia (†110) foi o terceiro bispo da importante comunidade de Antioquia, fundada por São Pedro. Conheceu pessoalmente São Paulo e São João. Sob o imperador Trajano, foi preso e conduzido a Roma onde morreu nos dentes dos leões no Coliseu. A caminho de Roma escreveu Cartas às igreja de Éfeso, Magnésia, Trales, Filadélfia, Esmirna e ao bispo S. Policarpo de Esmirna. Na carta aos esmirnenses, aparece pela primeira vez a expressão “Igreja Católica”.
Aristides de Atenas († 130) foi um dos primeiros apologistas cristãos; escreveu a sua Apologia ao imperador romano Adriano, falando da vida dos cristãos.
São Policarpo (†156)  foi bispo de Esmirna, e uma pessoa muito amada. Conforme escreve Santo Irineu, que foi seu discípulo, Policarpo foi discípulo de São João Evangelista. No ano 155 estava em Roma com o Papa Niceto tratando de vários assuntos da Igreja, inclusive a data da Páscoa. Combateu os hereges gnósticos. Foi condenado à fogueira; o relato do seu martírio, feito por testemunhas oculares, é documento mais antigo deste gênero (publicado neste livro).
Hermas (†160) era irmão do Papa São Pio I, sob cujo pontificado escreveu a sua obra Pastor. suas visões de estilo apocalíptico. 
Didaquè (ou Doutrina dos Doze Apóstolos) é como um antigo catecismo, redigido entre os anos 90 e 100, na Síria, na Palestina ou em Antioquia. Traz no título o nome dos doze Apóstolos. Os Padres da Igreja mencionaram-na muitas vezes. Em 1883 foi encontrado um seu manuscrito grego.
São Justino (†165), mártir nasceu em Naplusa, antiga Siquém, em Israel; achou nos Evangelhos “a única filo proveitosa”, filósofo, fundou uma escola em Roma. Dedicou a sua Apologias ao Imperador romano Antonino Pio, no ano 150, defendendo os cristãos; foi martirizado em Roma.
Santo Hipólito de Roma (160-235) discípulo de santo Irineu (140-202), foi célebre na Igreja de Roma, onde Orígenes o ouviu pregar. Morreu mártir. Escreveu contra os hereges, compôs textos litúrgicos, escreveu a Tradição Apostólica onde retrata os costumes da Igreja no século III: ordenações, catecumenato, batismo e confirmação, jejuns, ágapes, eucaristia, ofícios e horas de oração, sepultamento, etc.
Melitão de Sardes (†177) foi bispo de Sardes, na Lídia, um dos grandes luminares da Ásia Menor. Escreveu a Apologia, dirigida ao imperador Marco Aurélio.
Atenágoras (†180) era filósofo em Atenas, Grécia, autor da Súplica pelos Cristãos, apologia oferecida em tom respeitoso ao imperador Marco Aurélio e seu filho Cômodo; escreveu também o tratado sobre A Ressurreição dos mortos, foi grande apologista.
São Teófilo de Antioquia (†após 181) nasceu na Mesopotâmia, converteu-se ao cristianismo já adulto, tornou-se bispo de Antioquia. Apologista, compôs três livros, a Autólico.
Santo Ireneu (†202) nasceu na Ásia Menor, foi discípulo de são Policarpo (discípulo de são João), foi bispo de Lião, na Gália (hoje França). Combateu eficazmente o gnosticismo em sua obra Adversus Haereses (Refutação da Falsa Gnose) e a Demonstração da Preparação Apostólica. Segundo são Gregório de Tours (†594), são Irineu morreu mártir. É considerado o “príncipe dos teólogos cristãos”. Salienta nos seus escritos a importância da Tradição oral da Igreja, o primado da Igreja de Roma (fundada por Pedro e Paulo).
Santo Hilário de Poitiers (316-367), doutor da Igreja, foi bispo de Poitiers, combateu o arianismo, foi exilado pelo imperador Constâncio, escreveu a obra Sobre a Santíssima Trindade.
São Clemente de Alexandria (†215) Seu nome é Tito Flávio Clemente, nasceu em Atenas por volta de 150. Viajou pela Itália, Síria, Palestina e fixou-se em Alexandria. Durante a perseguição de Setímio Severo (203), deixou o Egito, indo para a Ásia Menor, onde morreu em 215. Seu grande trabalho foi tentar a aliança do pensamento grego com a fé cristã. Dizia: “Como a lei formou os hebreus, a filo formou os gregos para Cristo”. 
Orígenes (184-254) Nasceu em Alexandria, Egito; seu pai Leônidas morreu martirizado em 202. Também desejava o martírio; escreveu ao pai na prisão: “não vás mudar de idéia por causa de nós”. Em 203 foi colocado à frente da escola catequética de Alexandria pelo bispo Demétrio. Em 212 esteve em Roma, Grécia e Palestina. A mãe do imperador Alexandre Severo, Júlia Mammae, chamou-o a Antioquia para ouvir suas lições. Morreu em Cesaréia durante a perseguição do imperador Décio. 
Tertuliano de Cartago (†220), norte da África, culto, era advogado em Roma quando em 195 se converteu ao Cristianismo, passando a servir a Igreja de Cartago como catequista. Combateu as heresias do gnosticismo, mas se desentendeu com a Igreja Católica. É autor das frases: “Vede como se amam” e “ O sangue dos mártires era semente de novos cristãos”.
São Cipriano (†258) Cecílio Cipriano nasceu em Cartago, foi bispo e primaz da África Latina. Era casado. Foi perseguido no tempo do imperador Décio, em 250, morreu mártir em 258. Escreveu a bela obra Sobre a unidade da Igreja Católica. Na obra De Lapsis, sobre os que apostataram na perseguição, narra ao vivo o drama sofrido pelos cristãos, a força de uns, o fracasso de outros. Escreveu ainda a obra Sobre a Oração do Senhor, sobre o Pai Nosso.
Eusébio de Cesaréia (260-339) bispo, foi o primeiro historiador da Igreja. Nasceu na Palestina, em Cesaréia, discípulo aí de Orígenes. Escreveu a sua Crônica e a História Eclesiástica, além de A Preparação e a Demonstração Evangélicas. Foi perseguido por Dioclesiano, imperador romano.
Santo Atanásio (295-373), doutor da Igreja, nasceu em Alexandria, jovem ainda foi viver o monaquismo nos desertos do Egito,onde conheceu o grande Santo Antão(†376), o “pai dos monges”. Tornou-se diácono da Igreja de Alexandria, e junto com o seu Bispo Alexandre, se destacou no Concílio de Nicéia (325) no combate ao arianismo. Tornou-se bispo de Alexandria em 357 e continuou a sua luta árdua contra o arianismo (Ário negava a divindade de Jesus), o que lhe valeu sete anos de exílio. São Gregório Nazianzeno disse dele: “O que foi a cabeleira para Sansão, foi Atanásio para a Igreja.”
Santo Hilário de Poitiers (316-367), doutor da Igreja, nasceu em Poitiers, na Gália (França); em 350 clero e povo o elegiam bispo, apesar de ser casado. Organizou a luta dos bispos gauleses contra o arianismo. Foi exilado pelo imperador Constâncio, na Ásia Menor, voltando para a Gália em 360, fazendo valer as decisões do Concílio de Nicéia. É chamado o “Atanásio do Ocidente”.Escreveu as obras Sobre a Fé, Sobre a Santíssima Trindade.
Santo Efrém, o Sírio (†373) doutor da Igreja é considerado o maior poeta sírio, chamado de “a cítara do Espírito Santo”. Nasceu em Nísibe, de pais cristãos, por volta de 306, deve ter participado do Concílio de Nicéia (325), segundo a tradição, com o seu bispo Tiago. Foi ordenado diácono em 338 e assim ficou até o fim da vida. Escreveu tratados contra os gnósticos, os arianos e contra o imperador Juliano, o apóstata. Escreveu belos hinos e louvores a Maria.
São Cirilo de Jerusalém (†386), doutor da Igreja, Bispo de Jerusalém, guardião da fé professada pela Igreja no Concílio de Nicéia (325). Autor das Catequeses Mistagógicas, esteve no segundo Concílio Ecumênico, em Constantinopla, em 381.
São Dâmaso (304-384), Papa da Igreja, instruído, de origem espanhola, sucedeu o Papa Libério que o ordenou diácono; obteve do Imperador Graciano o reconhecimento jurisdicional do bispo de Roma. Mandou que S. Jerônimo fizesse uma revisão da versão latina da Bíblia, a Vulgata. Descobriu e ornamentou os túmulos dos mártires nas catacumbas, para a visita dos peregrinos.
São Basílio Magno (329-379), Bispo e doutor da Igreja, nasceu na Capadócia; seus irmãos Gregório de Nissa e Pedro, são santos. Foi íntimo amigo de S. Gregório Nazianzeno; fez-se monge. Em 370 tornou-se bispo de Cesaréia na Palestina, e metropolita da província da Capadócia. Combateu o arianismo e o apolinarismo (Apolinário negava que Jesus tinha uma alma humana). Destacou-se no estudo a Santíssima Trindade (Três Pessoas e uma Essência).
São Gregório Nazianzeno (329-390), doutor da Igreja – nasceu em Nazianzo, na Capadócia, era filho do bispo local, que o ordenou padre; foi um dos maiores oradores cristãos. Foi grande amigo de São Basílio, que o sagrou bispo. Lutou contra o arianismo. Sua doutrina sobre a Santíssima Trindade o fez ser chamado de “teólogo”, que o Concílio de Calcedônia confirmou em 481.
São Gregório de Nissa (†394) foi bispo de Nissa, e depois de Sebaste, irmão de São Basílio e amigo de São Gregório Nazianzeno. Os três santos brilharam na Capadócia. Foi poeta e místico; teve grande influência no primeiro Concílio de Constantinopla (381) que definiu o dogma da SS. Trindade. Combateu o apolinarismo, macedonismo (Macedônio negava a divindade do Espírito Santo) e arianismo.
São João Crisóstomo (354-407) ( = boca de ouro), doutor da Igreja, é o mais conhecido dos Padres da Igreja grega. Nasceu em Antioquia. Tornou-se patriarca de Constantinopla, foi grande pregador. Foi exilado na Armênia por causa da defesa da fé sã. Foi proclamado pelo papa S. Pio X, padroeiro dos pregadores.
São Cirilo de Alexandria (†444) Bispo e doutor da Igreja, sobrinho do patriarca de Alexandria, Teófilo, o substituiu na Sé episcopal em 412. Combateu vivamente o Nestorianismo (Nestório negava que em Jesus havia uma só Pessoa e duas naturezas), com o apoio do papa Celestino. Participou do Concílio de Éfeso (431), que condenou as teses de Nestório. É considerado um dos maiores Padres da língua grega, e chamado o “Doutor mariano”.
São João Cassiano (360-465) recebeu formação religiosa em Belém e viveu no Egito. Foi ordenado diácono por S. João Crisóstomo, em Constantinopla, e padre pelo papa Inocêncio, em Roma. Em 415 fundou dois mosteiros em Marselha, um para cada sexo. São Bento recomendou seus escritos.
São Paulino de Nola (†431) nasceu na Gália (França), exerceu importantes cargos civis até ser batizado. Vendeu seus bens, distribuindo o dinheiro aos pobres, e com sua esposa Terásia passou a viver vida eremítica. Foi ordenado padre em 394, em 409 bispo de Nola.
São Pedro Crisólogo (†450) (= palavra de ouro) bispo e doutor da Igreja – foi bispo de Ravena, Itália. Quando Êutiques, patriarca de Constantinopla pediu o seu apoio para a sua heresia (monofisismo - uma só natureza em Cristo), respondeu: “Não podemos discutir coisas da fé, sem o consentimento do Bispo de Roma”. Temos 170 de suas cartas e escritos sobre o Símbolo e o Pai – Nosso.
Santo Ambrósio (†397), doutor da Igreja, nasceu em Tréveris, de nobre família romana. Com 31 anos governava em Milão as províncias de Emília e Ligúria. Ainda catecúmeno, foi eleito bispo de Milão, pelo povo, tendo, então recebido o batismo, a ordem e o episcopado. Foi conselheiro de vários imperadores e batizou santo Agostinho, cujas pregações ouvia. Deixou obras admiráveis sobre a fé católica.
São Jerônimo (347-420), “Doutor Bíblico” – nasceu na Dalmácia e educou-se em Roma; é o mais erudito dos Padres da Igreja latina; sabia o grego, latim e hebraico. Viveu alguns anos na Palestina como eremita. Em 379 foi ordenado sacerdote pelo bispo Paulino de Antioquia; foi ouvinte de São Gregório Nazianzeno e amigo de São Gregório de Nissa. De 382 a 385 foi secretário do Papa S. Dâmaso, por cuja ordem fez a revisão da versão latina da Bíblia (Vulgata), em Belém, por 34 anos. Pregava o ideal de santidade entre as mulheres da nobreza romana (Marcela, Paula e Eustochium) e combatia os maus costumes do clero. Na figura de São Jerônimo destacam-se a austeridade, o temperamento forte, o amor a Igreja [...].
Santo Epifânio (†403), Nasceu na Palestina, muito culto, foi superior de uma comunidade monástica em Eleuterópolis (Judéia) e depois, bispo de Salamina, na ilha de Chipre. Batalhou muito contra as heresias, especialmente o origenismo.
Santo Agostinho (354-430), Bispo e Doutor da Igreja - Nasceu em Tagaste, Tunísia, filho de Patrício e S. Mônica. Grande teólogo, filósofo, moralista e apologista. Aprendeu a retórica em Cartago, onde ensinou gramática até os 29 anos de idade, partindo para Roma e Milão onde foi professor de Retórica na corte do Imperador. Alí se converteu ao cristianismo pelas orações e lágrimas, de sua mãe Mônica e pelas pregações de S. Ambrósio, bispo de Milão. Foi batizado por esse bispo em 387. Voltou para a África em veste de penitência onde foi ordenado sacerdote e depois bispo de Hipona aos 42 anos de idade. Foi um dos homens mais importantes para a Igreja. Combateu com grande capacidade as heresias do seu tempo, principalmente o Maniqueísmo, o Donatismo e o Pelagianismo, que desprezava a graça de Deus. Santo Agostinho escreveu muitas obras e exerceu decisiva influência sobre o desenvolvimento cultural do mundo ocidental. É chamado de “Doutor da Graça”. São Leão Magno (400-461) - Papa e Doutor da Igreja - nasceu em Toscana, foi educado em Roma. Foi conselheiro sucessivamente dos papas Celestino I (422-432) e Xisto III (432-440) e foi muito respeitado como teólogo e diplomata. Participou de grandes problemas da Igreja do seu tempo e pôde travar contato pessoal e por cartas com Santo Agostinho, São Cirilo de Alexandria e São João Cassiano, que o descrevia como “ornamento da Igreja e do divino ministério”. Deixou 96 Sermões e 173 Cartas que chegaram até nós. Participou ativamente na elaboração dogmática sobre o grave problema tratado no Concílio de Calcedônia, a condenação da heresia chamada monofisismo. Leão foi o primeiro Papa que recebeu o título de Magno (grande). Em sua atuação no plano político, a História registrou e imortalizou duas intervenções de São Leão, respectivamente junto a Átila, rei dos Hunos, em 452, e junto a Genserico, em 455, bárbaros que queriam destruir Roma.
São Vicente de Lérins (†450) Depois de muitos anos de vida mundana se refugiou no mosteiro de Lérins. Escreveu o seu Commonitorium, “ para descobrir as fraudes e evitar as armadilhas dos hereges”.
São Bento de Núrcia (480-547) nasceu em Núrcia, na Úmbria, Itália; estudou Direito em Roma, quando se consagrou a Deus. Tornou-se superior de várias comunidades monásticas; tendo fundado no monte Cassino a célebre Abadia local. A sua Regra dos Mosteiros tornou-se a principal regra de vida dos mosteiros do ocidente, elogiada pelo papa S. Gregório Magno, usada até hoje. O lema dos seus mosteiros era “ora et labora”. O Papa Pio XII o chamou de Pai da Europa e Paulo VI proclamou-o Patrono da Europa, em 24/10/1964.
São Venâncio Fortunato (530-600) nasceu em Vêneto na Itália, foi para Poitiers (França). Autor de célebres hinos dedicados à Paixão de Cristo e à Virgem Maria, até hoje usados na Igreja.
São Gregório Magno (540-604), Papa e doutor da Igreja - Nasceu em Roma, de família nobre. Ainda muito jovem foi primeiro ministro do governo de Roma. Grande admirador de S. Bento, resolveu transformar suas muitas posses em mosteiros. O papa Pelágio o enviou como núncio apostólico em Constantinopla até o ano 585. Foi feito papa em 590. Foi um dos maiores papas que a Igreja já teve. Bossuet considerava-o “modelo perfeito de como se governa a Igreja”. Promoveu na liturgia o canto “gregoriano”. Profunda influência exerceram os seus escritos: Vida de São Bento e Regra Pastoral, usado ainda hoje.
São Máximo, o confessor (580 - 662) nasceu em Constantinopla, foi secretário do imperador Heráclio, depois foi para o mosteiro de Crisópolis. Lutou contra o monofisismo e monotelismo, sendo preso, exilado e martirizado por isso. Obteve a condenação do monotelismo no Concílio de Latrão, em 649.
Santo Ildefonso de Sevilha (†636) doutor da Igreja. Considerado o último Padre do ocidente. Bispo de Sevilha, Espanha desde 601. Em 636 dirigiu o IV Sínodo de Toledo. Exerceu notável influência na Idade Média com os seus escritos exegéticos, dogmáticos, ascéticos e litúrgicos.
São Germano de Constantinopla - (610-733) Bispo - Patriarca de Constantinopla (715-30), nasceu em Constantinopla ao final do reinado do imperador Heracleo (610-41); morreu em 733 ou 740. Filho de Justiniano, um patriciano, Germano dedicou seus serviços à Igreja e começou como clérigo na catedral de Metrópolis. Logo depois da morte de seu pai que havia ocupado vários altos cargos de oficial, pelas mãos do sobrinho de Herácleo, Germano se consagrou bispo de Chipre, o ano exato, porém, de sua elevação é desconhecido.
São João Damasceno (675-749) Bispo e Doutor da Igreja - É considerado o último dos representantes dos Padres gregos. É grande a sua obra literária: poesia, liturgia, filo e apologética. Filho de um alto funcionário do califa de Damasco, foi companheiro do príncipe Yazid que, mais tarde o promoveu ao mesmo encargo do pai, ministro das finanças. A um determinado tempo deixou a corte do califa e retirou-se para o mosteiro de São Sabas, perto de Jerusalém. Tornou-se o pregador titular da basílica do Santo Sepulcro. Enfrentou com muita coragem a heresia dos iconoclastas que condenavam o culto das imagens. Ficaram famosos os seus Três Discursos a Favor das Imagens Sagradas.




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