quarta-feira, 11 de abril de 2012

3º semana da quaresma Ano B


3º semana da quaresma
Liturgia da Segunda Feira


III SEMANA DA QUARESMA 
(ROXO – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Minha alma anseia, até desfalecer, pelos átrios do Senhor; meu coração e minha carne exultam pelo Deus vivo! (Sl 83,3)

Primeira Leitura (2 Reis 5,1-15)
Leitura do segundo livro dos Reis.
5 1 Naamã, general do exército do rei da Síria, gozava de grande prestígio diante de seu amo, e era muito considerado, porque, por meio dele, o Senhor salvou a Síria; era um homem valente, mas leproso. 
2 Ora, tendo os sírios feito uma incursão no território de Israel, levaram consigo uma jovem, a qual ficou a serviço da mulher de Naamã. 
3 Ela disse à sua senhora: "Ah, se meu amo fosse ter com o profeta que reside em Samaria, ele o curaria da lepra!" 
4 Ouvindo isso, Naamã foi e contou ao seu soberano o que dissera a jovem israelita. 
5 O rei da Síria respondeu-lhe: "Vai, que eu enviarei uma carta ao rei de Israel". Naamã partiu com dez talentos de prata, seis mil siclos de ouro e dez vestes de festa. 
6 Levou ao rei de Israel uma carta concebida nestes termos: "Ao receberes esta carta, saberás que te mando Naamã, meu servo, para que o cures da lepra". 
7 Tendo lido a missiva, o rei de Israel rasgou as vestes e exclamou: "Sou eu porventura um deus, que possa dar a morte ou a vida, para que esse me mande dizer que cure um homem da lepra? Vede bem que ele anda buscando pretextos contra mim". 
8 Quando Eliseu, o homem de Deus, soube que o rei tinha rasgado as vestes, mandou-lhe dizer: "Por que rasgaste as tuas vestes? Que ele venha a mim, e saberá que há um profeta em Israel". 
9 Naamã veio com seu carro e seus cavalos e parou à porta de Eliseu. 
10 Este mandou-lhe dizer por um mensageiro: "Vai, lava-te sete vezes no Jordão e tua carne ficará limpa". 
11 Naamã se foi, despeitado, dizendo: "Eu pensava que ele viria em pessoa, e, diante de mim, invocaria o Senhor, seu Deus, poria a mão no lugar infetado e me curaria da lepra. 
12 Porventura os rios de Damasco, o Abana e o Farfar, não são melhores que todas as águas de Israel? Não me poderia eu lavar neles e ficar limpo?" E, voltando-se, retirou-se encolerizado. 
13 Mas seus servos, aproximando-se dele, disseram-lhe: "Meu pai, mesmo que o profeta te tivesse ordenado algo difícil, não o deverias fazer? Quanto mais agora que ele te disse: Lava-te e serás curado". 
14 Naamã desceu ao Jordão e banhou-se ali sete vezes, como lhe ordenara o homem de Deus, e sua carne tornou-se tenra como a de uma criança. 
15 Voltando então para o homem de Deus, com toda a sua comitiva, entrou, apresentou-se diante dele e disse: "Reconheço que não há outro Deus em toda a terra, senão o de Israel. Aceita este presente do teu servo". 

Salmo responsorial 41/42
Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo: 
e quando verei a face de Deus?
Assim como a corça suspira pelas águas correntes, 
suspira igualmente minha alma 
por vós, ó meu Deus!
A minha alma tem sede de Deus 
e deseja o Deus vivo. 
Quando terei a alegria de ver 
a face de Deus?
Enviai vossa luz, vossa verdade: 
elas serão o meu guia; 
que me levem ao vosso monte santo, 
até a vossa morada!
Então irei aos altares do Senhor, 
Deus da minha alegria. 
Vosso louvor cantarei ao som da harpa, 
meu Senhor e meu Deus!
Aclamação do Evangelho
Jesus Cristo, sois bendito, sois o ungido de Deus Pai! 
No Senhor ponho a minha esperança, espero em sua palavra. Pois no Senhor se encontra toda graça e copiosa redenção (Sl 129,5.7).

Evangelho (Lucas 4,24-30)

4 24 Disse Jesus: "Em verdade vos digo: nenhum profeta é bem aceito na sua pátria. 
25 Em verdade vos digo: muitas viúvas havia em Israel, no tempo de Elias, quando se fechou o céu por três anos e meio e houve grande fome por toda a terra; 
26 mas a nenhuma delas foi mandado Elias, senão a uma viúva em Sarepta, na Sidônia. 
27 Igualmente havia muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu; mas nenhum deles foi limpo, senão o sírio Naamã". 
28 A estas palavras, encheram-se todos de cólera na sinagoga. 
29 Levantaram-se e lançaram-no fora da cidade; e conduziram-no até o alto do monte sobre o qual estava construída a sua cidade, e queriam precipitá-lo dali abaixo. 
30 Ele, porém, passou por entre eles e retirou-se. 


COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "Quando o exemplo vem de fora..."
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz )
Nos meus tempos de repórter, certa ocasião fui á Delegacia fazer uma matéria sobre um ancião que havia matado um jovem a marretadas, um crime brutal que revoltou a população. O criminoso tinha mais de 70 anos e ficou detido alguns dias já que seu estado de saúde era meio grave. Conversei com ele na sala do Delegado onde estava depondo e me pediu para interceder por ele, para que o soltassem, pois precisa tomar remédios para seu problema cardíaco. Na conversa, o ancião disse que na cela onde estava, os demais presos o estavam ajudando, e como a sua prisão não era ainda definitiva, naquela semana não vinha comida para ele, e um dos detentos, cedia a marmita para ele na hora do almoço, se alimentando com um pedaço de pão.
História que o carcereiro confirmou-me mais tarde, dizendo que o rapagão que cedia a comida, ficava com a barriga roncando de fome, e quando os outros comentavam ele dizia "A danada da fome eu tenho e muita, mas me corta o coração ver o velhinho doente, preso aqui com a gente, e ainda com fome". Um outro cedia o cobertor quando percebia que de noite ele estava com frio.
Não procurei saber sobre a ficha criminal dos dois companheiros solidários ao ancião, que ficou detido apenas uma semana e depois saiu, para responder processo em liberdade. Mas é interessante e até estranho notar que um marginal, que está pagando sua culpa com a justiça, consiga sentir compaixão de alguém que sofre ao seu lado. Longe de mim dizer que os dois são bonzinhos e que são um exemplo a serem seguidos, mas neste gesto de bondade para com o companheiro de infortúnio, há sem dúvida alguma uma abertura de coração para a GRAÇA e daí acontece algo de bom: Deus se revela...
Qual era o problema da comunidade de Lucas, e da comunidade judaica de sua cidade Nazaré? Exatamente esse, o de não admitir que fora da comunidade houvesse revelações de Deus e as pessoas o experimentassem. Um erro terrível que nós todos podemos cometer, quando nos recusamos a ver as maravilhas de Deus acontecendo na vida de outras pessoas, que não são da nossa Igreja e não professam a mesma Fé que nós. O Sírio Naamã, curado da lepra pelo Profeta Elias, a viúva de Sarepta, favorecida por um milagre do profeta Eliseu, são dois ótimos exemplos lembrados por Jesus, e que causa ira nos da sua comunidade, uma ira tão grande que pretendiam matá-lo... ainda mais quando Jesus afirma , que é o próprio Deus que envia seus profetas a essas pessoas que não pertencem a religião oficial.
Foi para eles que Jesus veio, e com esses, portanto, deve ser o nosso compromisso maior enquanto Igreja de Cristo, se sairmos dos limites da nossa comunidade iremos nos surpreender ao encontrar pessoas exemplares, fiéis observadoras dos valores do evangelho, e que dão um testemunho bastante convincente, estando sempre abertas para acolher a Palavra de Deus e a colocá-la em prática, ao manifestar amor, respeito e carinho com a vida dos irmãos e irmãs.
2. Fé na Palavra Profética
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva )
Dirigindo-se aos moradores de Nazaré, Jesus evoca a memória dos dois profetas populares do antigo reino de Israel, Elias e Eliseu. Elias entrou em confronto direto com o rei Acab e Eliseu em confronto com Jorão, filho de Acab, articulando o fim de sua dinastia.
Elias e Eliseu são a expressão da defesa dos interesses dos pobres e excluídos diante dos poderosos, reis e sacerdotes, que submetiam o povo através de ídolos e ideologias. A viúva de Sarepta, que teve seu filho ressuscitado por Elias, e o sírio Naamã, que foi curado da lepra por Eliseu, são dois gentios, estranhos ao povo de Israel, que tiveram fé nos profetas. Em sua própria terra, Jesus defronta-se com o povo cativo à doutrina dos fariseus difundida através das sinagogas. Como os profetas, Jesus se empenha em libertar aqueles possuídos por este espírito doutrinário, porém é incompreendido e rejeitado.
Oração
Pai, que eu saiba acolher Jesus e reconhecê-lo como de Filho de Deus, de modo a tornar-me beneficiário de seu ministério messiânico.
3. A DUREZA DE CORAÇÃO
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório ).
A reação dos habitantes de Nazaré, diante da pregação de Jesus, foi de aberta rejeição. Foi tal o desprezo pelas palavras do Mestre, que eles decidiram eliminá-lo lançando-o de um precipício.
É possível imaginar a decepção de Jesus, diante da rejeição de seus conterrâneos. Ele tentou compreender a situação, rememorando as experiências de profetas do passado que, rejeitados por seu povo, foram bem acolhidos pelos estrangeiros. Assim aconteceu com Elias: num tempo de seca e fome, beneficiou uma mulher estrangeira, da terra dos sidônios. O mesmo sucedeu com Eliseu: curou da lepra um general sírio, ao passo que, em Israel, essa doença vitimava muitas pessoas.
A conclusão de Jesus foi clara: já que o povo de sua cidade insistia em não lhe dar atenção, ele sentiu-se obrigado a ir em busca de quem estivesse disposto a acolhê-lo. Aos duros de coração, no entanto, só restava o castigo.
Longe de nós seguirmos o exemplo do povo de Nazaré. Jesus quer encontrar, em nós, abertura para acolhê-lo e disponibilidade para converter-nos. Ninguém é obrigado a aceitar este convite. Entretanto, fechar-se para Jesus significa recusar a proposta de salvação que ele, em nome do Pai, veio nos trazer.
Oração
Espírito de docilidade, abre meu coração para aceitar o convite à conversão, que Jesus me dirige, em nome do Pai.
Liturgia da Terça-Feira 


III SEMANA DA QUARESMA 
(ROXO – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Eu vos chamo, meu Deus, porque me atendeis; inclinai vosso ouvido e escutai-me. Guardai-me como a pupila dos olhos, à sombra das vossas asas abrigai-me (Sl 16,6.8).

Primeira Leitura (Daniel 3,25.34-43)
Leitura da profecia de Daniel.
3 25 Azarias, em pé bem no meio do fogo, fez a seguinte oração: 
34 "Pelo amor de vosso nome, não nos abandoneis para sempre; não destruais de modo algum vossa aliança. 
35 Não nos retireis vossa misericórdia em consideração a Abraão, vosso amigo, Isaac, vosso servo, Israel, vosso santo, 
36 aos quais prometestes multiplicar sua descendência como as estrelas do céu e a areia que se encontra à beira do mar. 
37 Senhor, fomos reduzidos a nada diante das nações, fomos humilhados diante de toda a terra: tudo, devido a nossos pecados! 
38 Hoje, já não há príncipe, nem profeta, nem chefe, nem holocausto, nem sacrifício, nem oblação, nem incenso, nem mesmo um lugar para vos oferecer nossas primícias e encontrar misericórdia. 
39 Entretanto, que a contrição de nosso coração e a humilhação de nosso espírito nos permita achar bom acolhimento junto a vós, Senhor, 
40 como (se nós nos apresentássemos) com um holocausto de carneiros, de touros e milhares de gordos cordeiros! Que assim possa ser hoje o nosso sacrifício em vossa presença! Que possa (reconciliar-nos) convosco, porque nenhuma confusão existe para aqueles que põem em vós sua confiança. 
41 É de todo nosso coração que nós vos seguimos agora, que nós vos reverenciamos, que buscamos vossa face. 
42 Não nos confundais; tratai-nos com vossa habitual doçura e com todas as riquezas de vossa misericórdia. 
43 Ponde em execução vossos prodígios para nos salvar, Senhor, e cobri vosso nome de glória". 

Salmo responsorial 24/25
Recordai, Senhor, a vossa compaixão!
Mostrai-me, ó Senhor, vossos caminhos 
e fazei-me conhecer a vossa estrada! 
Vossa verdade me oriente e me conduza, 
porque sois o Deus da minha salvação.
Recordai, Senhor meu Deus, vossa ternura 
e a vossa compaixão, que são eternas! 
De mim lembrai-vos, porque sois misericórdia 
e sois bondade sem limites, ó Senhor!
O Senhor é piedade e retidão 
e reconduz ao bom caminho os pecadores. 
Ele dirige os humildes na justiça 
e aos pobres ele ensina o seu caminho.
Aclamação do Evangelho
Jesus Cristo, sois bendito, sois o ungido de Deus Pai! 
Voltai ao Senhor, vosso Deus, ele é bom, compassivo e clemente (Jl 2,12s).

Evangelho (Mateus 18,21-35)

18 21 Então Pedro se aproximou dele e disse: "Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?" 
22 Respondeu Jesus: "Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. 
23 Por isso, o Reino dos céus é comparado a um rei que quis ajustar contas com seus servos. 
24 Quando começou a ajustá-las, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil talentos. 
25 Como ele não tinha com que pagar, seu senhor ordenou que fosse vendido, ele, sua mulher, seus filhos e todos os seus bens para pagar a dívida. 
26 Este servo, então, prostrou-se por terra diante dele e suplicava-lhe: 'Dá-me um prazo, e eu te pagarei tudo!' 
27 Cheio de compaixão, o senhor o deixou ir embora e perdoou-lhe a dívida. 
28 Apenas saiu dali, encontrou um de seus companheiros de serviço que lhe devia cem denários. Agarrou-o na garganta e quase o estrangulou, dizendo: 'Paga o que me deves!' 
29 O outro caiu-lhe aos pés e pediu-lhe: 'Dá-me um prazo e eu te pagarei!' 
30 Mas, sem nada querer ouvir, este homem o fez lançar na prisão, até que tivesse pago sua dívida. 
31 Vendo isto, os outros servos, profundamente tristes, vieram contar a seu senhor o que se tinha passado. 
32 Então o senhor o chamou e lhe disse: 'Servo mau, eu te perdoei toda a dívida porque me suplicaste. 
33 Não devias também tu compadecer-te de teu companheiro de serviço, como eu tive piedade de ti?' 
34 E o senhor, encolerizado, entregou-o aos algozes, até que pagasse toda a sua dívida. 
35 Assim vos tratará meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão, de todo seu coração". 



COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "O coração não pode estar preso a números..."
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz )
Em seu coração, o apóstolo Pedro, que sempre falava em nome do grupo, encontrou uma matemática com a qual pensava surpreender Jesus. Sete, além de ser um número que simboliza a plenitude, era o dobro de três, mais um. Três vezes era o número de vezes que o Judeu Piedoso perdoava. Pedro dobra esse número e acrescenta mais um, esperando, quem sabe, que o Mestre lhe moderasse aquele ímpeto de perdoar além do que era estabelecido.
Entretanto, a Matemática de Jesus é infinita e plena de misericórdia quando se trata de perdão, e Jesus simplesmente multiplica setenta vezes o número apresentado, mostrando que se deve perdoar sempre, em um amor gratuito, incondicional e sem medidas e ilustra o seu ensinamento com a parábola do Rei que perdoou uma fortuna que um servo lhe devia, pois naquele tempo, quando não se tinha recursos para o pagamento de uma dívida, simplesmente o devedor sem tornava escravo juntamente com toda sua família.
Nossa dívida para com Deus era impagável, mas em vez de nos fazer seus escravos por toda a vida, Ele nos fez Filhos e Filhas, em Jesus Cristo que assumindo a natureza humana, pagou toda a dívida por nós e por isso, pertencemos a Cristo, que abrindo mão desse Domínio e soberania, nos fez seus irmãos. Sabedor disso, o cristão deve manifestar exatamente esse amor sem medidas, com os irmãos e irmãs, e aqui podemos trazer a reflexão em nível de comunidade onde jamais deve nos faltar o perdão que decorre do amor, que é a nossa identidade de discípulos do Senhor. "Nisso reconhecereis que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros como eu vos amei".
O problema é que, embora nosso coração pertença a Cristo, nossa cabeça pensa como Pedro, amamos mais a uns, aos quais somos até capazes de perdoar, em um gesto heróico, mas a outros nem tanto... E até na comunidade fazemos sempre uma seleção das pessoas que nos são queridas, quanto aos outros, usamos uma calculadora, porque não conseguimos passar dos limites como Jesus nos ensina... Nosso coração se quiser ser manso e humilde como o de Jesus, não pode estar atrelado a números e quantidades, quando se trata do amor...
2. O perdão é fonte de misericórdia
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva )
Esta parábola exclusiva de Mateus caberia também em Lucas, que é o evangelista que mais acentua o amor misericordioso de Deus, revelado em Jesus. A parábola exprime que a fonte da misericórdia é o perdão de Deus, concedido a quem a Ele recorre. Cabe àqueles que foram libertados por este perdão comunicá-lo a outros. Isto é próprio de um coração generoso e agradecido. O perdão é desejado por Jesus não só como reconciliação entre duas pessoas, mas como a prática que consolida a comunidade, tornando-a um espaço de alegria e paz.
Oração
Pai, é meu desejo imitar teu modo de agir, no tocante ao perdão. Faze-me ser pródigo e misericordioso em relação ao próximo que precisa do meu perdão.
3. ATÉ QUANDO PERDOAR?
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório ).
Conviver é uma arte. Não basta boa vontade e paciência para que o relacionamento interpessoal seja perfeito. Embora com todas as precauções, é grande a possibilidade de desentendimento entre pessoas amigas, e até mesmo entre cristãos convictos.
Entretanto, a questão não reside na ruptura, e sim, na disposição a refazer os laços de amizade rompidos. Ninguém pode garantir que uma única reconciliação seja suficiente para cimentá-los, para sempre. É possível que outras rupturas aconteçam, pelo mesmo motivo. A tendência humana é impor limites bem definidos a esta situação. "A paciência tem limite" - assim justificamos a ruptura definitiva.
O discípulo de Jesus defronta-se com a lição de perdoar, toda vez que for ofendido. É exortado a fazer frente a uma tendência humana muito forte, a de não perdoar. O motivo apresentado pelo Mestre é inquestionável: é assim que somos perdoados pelo Pai. Quem se julga tão fiel a Deus a ponto de estar seguro de jamais correr o risco de pecar? Só um insensato poderá ter tal pretensão.
Todos somos pecadores e precisamos do perdão de Deus. Da mesma forma, quando alguém precisar do nosso perdão, por respeito a Deus somos obrigados a concedê-lo. Trata-se de dar o que também recebemos.
Oração 
Espírito de perdão, liberta-me da tendência a colocar limites ao perdão. Pelo contrário, que eu esteja sempre pronto a perdoar a quem me ofendeu.
Liturgia da Quarta-Feira 


III SEMANA DA QUARESMA 
(ROXO – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Orientai meus passos, Senhor, segundo a vossa palavra, e que o mal não domine sobre mim! (Sl 118,133)

Primeira Leitura (Deuteronômio 4,1.5-9)
Leitura do livro do Deuteronômio.
4 1 "E agora, ó Israel, ouve as leis e os preceitos que hoje vou ensinar-vos. Ponde-os em prática para que vivais e entreis na posse da terra que o Senhor, Deus de vossos pais, vos dá. 
5 Vede: ensinei-vos leis e ordenações, conforme o Senhor, meu Deus, me ordenou, a fim de as praticardes na terra que ides possuir. 
6 Observai-as, praticai-as, porque isto vos tornará sábios e inteligentes aos olhos dos povos, que, ouvindo todas essas prescrições, dirão: 'eis uma grande nação, um povo sábio e inteligente'. 
7 Haverá, com efeito, nação tão grande, cujos deuses estejam tão próximos de si como está de nós o Senhor, nosso Deus, cada vez que o invocamos? 
8 Qual é a grande nação que tem mandamentos e preceitos tão justos como esta lei que vos apresento hoje? 
9 Guarda-te, pois, a ti mesmo: cuida de nunca esquecer o que viste com os teus olhos, e toma cuidado para que isso não saia jamais de teu coração, enquanto viveres; e ensina-o aos teus filhos, e aos filhos de teus filhos". 

Salmo responsorial 147/147B
Glorifica o Senhor, Jerusalém!
Glorifica o Senhor, Jerusalém! 
Ó Sião, canta louvores ao teu Deus! 
Pois reforçou com segurança as atuas portas 
e os teus filhos em teu seio abençoou.
Ele envia suas ordens para a terra, 
e a palavra que ele diz corre veloz. 
Ele faz cair a neve como lã 
e espalha a geada como cinza.
Anuncia a Jacó sua palavra, 
seus preceitos e suas leis a Israel. 
Nenhum povo recebeu tanto carinho, 
a nenhum outro revelou os seus preceitos.
Aclamação do Evangelho
Glória a Cristo, palavra eterna do Pai, que é amor! 
Senhor, tuas palavras são espírito, são vida; só tu tens palavras de vida eterna! (Jo 6,63.68)

Evangelho (Mateus 5,17-19)

5 17 Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: "Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição. 
18 Pois em verdade vos digo: passará o céu e a terra, antes que desapareça um jota, um traço da lei. 
19 Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor no Reino dos céus. Mas aquele que os guardar e os ensinar será declarado grande no Reino dos céus". 

COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "Santos Mandamentos de Deus"
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz )
Confesso que no método de catequese da "Decoreba", nunca consegui tirar dez quando a catequista perguntava sobre os mandamentos de Deus e depois sobre os cinco da Igreja e não tenho vergonha de dizer que, se for responder ali na "lata", ainda vou me enroscar. Entretanto é bom que se diga que o problema estava no método e não no conteúdo, claro que nos anos 60 esse método servia. Hoje é quase impossível continuar-se com essa catequese conceitual e formulativa.
Quando a Igreja se preocupa hoje em rever e modificar o método de catequese, adequando-o ao nosso contexto, ela não está "jogando fora" todo o ensinamento doutrinal da Tradição, o conteúdo doutrinal, que, aliás, é riquíssimo, continua o mesmo, a mudança está apenas no método, como apresentar tudo isso as crianças e aos catecúmenos nesses tempos da pós modernidade.
O mesmo acontecia no tempo da vida pública de Jesus, quando os seus opositores o acusavam de não seguir e obedecer a Sagrada Lei de Moisés e de querer acabar com ela. No evangelho de hoje o evangelista Mateus coloca na boca de Jesus a afirmação que quer recolocar as coisas nos seus devidos lugares "Não vim para abolir a Lei e os Profetas, mas para levá-los á sua perfeição".
Ninguém tem autoridade para alterar a lei, ou manipulá-la de acordo com suas conveniências; possivelmente na comunidade de Mateus onde esse evangelho foi refletido, haviam pessoas zelosas e bastante preocupadas com a tradição apostólica que trazia em si a Tradição de Israel, a Lei e os Profetas. O Cristianismo a princípio era uma seita dentro do Judaísmo e as coisas não aconteceram da noite para o dia, foram muitos anos até que o Cristianismo tivesse uma identidade própria. Com toda certeza a comunidade vivia esse dilema: abrir-se totalmente para a Plenitude que é Jesus ressuscitado e a novidade do evangelho, ou manter a raiz em Israel, seguindo a Lei de Moisés?
Hoje entendemos a importância e o valor do Antigo Testamento, caminho seguro percorrido pelos Santos Homens e pelo Povo de Deus, para se chegar a Jesus Cristo, desta forma nada se pode acrescentar e nem diminuir neste legado de Fé da Antiga Aliança, o Novo Testamento ilumina o Antigo e o Antigo ilumina o Novo, pensar que a História da Salvação tem o seu início na Encarnação do Verbo, e desprezar a experiência de Fé de todos os que nos antecederam, seria o mesmo que destruir o alicerce, as vigas mestras de uma construção, onde o Edifício virá abaixo...
2. A novidade do Reino
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva )
Após a proclamação das bem-aventuranças, Mateus, no Sermão da Montanha, apresenta o ensinamento de Jesus sobre a novidade do Reino dos Céus. O ingresso no Reino implica novas práticas que superam as tradições que refletem puros interesses humanos, tanto gentílicas como judaicas.
Neste texto de hoje, Mateus relaciona a Lei e os Profetas com os mandamentos das Bem-aventuranças. Dessa maneira ele prepara as seis contraposições entre a Lei e o Reino dos Céus, que virão a seguir, introduzidas por: "Ouvistes o que foi dito aos antigos... eu, porém, vos digo". Com sua redação, Mateus procura mostrar às suas comunidades originárias do judaísmo que suas esperanças estão se realizando na novidade do Reino dos Céus. Jesus vem para cumprir a Lei e os profetas. Contudo, este cumprimento se dá por uma conversão radical às novas práticas das bem-aventuranças proclamadas por Jesus.
Estas são os novos mandamentos a serem vivenciados na humildade e no amor. A prática e o ensinamento destes mandamentos correspondem à nova justiça, muito superior do que a dos escribas e fariseus, e significam a entrada no Reino dos Céus.
Oração
Pai, livra-me do perigo de reduzir minha obediência aos teus mandamentos à execução mecânica de gestos exteriores. Revela-me, cada vez mais profundamente, a tua vontade.
3. GRANDE E PEQUENO NO REINO
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório ).
A liberdade de Jesus, frente à Lei de Moisés, dava a falsa impressão de que os discípulos estivessem liberados para agir a seu bel-prazer. Os adversários do Mestre, que esperavam dele submissão absoluta à tradição legal, ficavam decepcionados quando o viam agir de uma forma inusitada, em pleno desacordo com o costume da época. No parecer deles, o agir de Jesus beirava a impiedade.
O Mestre tenta corrigir esta distorção, afirmando não ter vindo para abolir a Lei e os Profetas, e sim, para dar-lhes pleno cumprimento. Pelo contrário, ele exorta os discípulos a não transgredirem os mandamentos, por menor que sejam, para não serem considerados menores no Reino dos Céus. Estaria Jesus confessando-se legalista, e levando seus discípulos a competirem com o legalismo dos escribas e fariseus?
A exortação do Mestre deve ser entendida no contexto global de sua pregação. Quando se refere ao respeito à Lei e aos Profetas, está pensando na Lei como ele a entende: o desígnio original do Pai para nortear a vida humana, e não o amontoado de prescrições às quais os legalistas se submetiam. Jesus supera a letra da Lei, para atingir-lhe o espírito. Neste sentido, é grande quem se atém ao espírito da Lei e a cumpre com radicalidade; é pequeno quem a despreza, pois estará desprezando o próprio Deus.
Jesus foi grande, porque toda sua vida consistiu em cumprir a vontade de seu Pai, mesmo tendo de padecer a morte de cruz.
Oração
Espírito de obediência, guia-me a uma submissão sempre maior ao querer do Pai, de modo que eu possa ser considerado grande no Reino dos Céus.
Liturgia da Quinta-Feira — 15.03.2012



III SEMANA DA QUARESMA 
(ROXO – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Eu sou a salvação do povo, diz o Senhor: quando, em qualquer aflição, clamarem por mim, eu os ouvirei e serei seu Deus para sempre.

Primeira Leitura (Jeremias 7,23-28)
Leitura do livro do profeta Jeremias.
Assim fala o Senhor: 7 23 "Foi esta a única ordem que lhes dei: escutai minha voz: serei vosso Deus e vós sereis o meu povo; segui sempre a senda que vos indicar, a fim de que sejais felizes. 
24 Eles, porém, não escutaram, nem prestaram ouvidos, seguindo os maus conselhos de seus corações empedernidos; voltaram-me as costas em lugar de me apresentarem seus rostos. 
25 Desde o dia em que vossos pais deixaram o Egito até agora, enviei-vos todos os meus servos, os profetas. Todos os dias sem cessar os mandei. 
26 Eles, porém, não os escutaram, nem lhes deram atenção; endureceram a cerviz e procederam pior que os pais. 
27 Quando tudo isso lhes transmitires, também a ti não escutarão. Chamá-los-ás e não obterás resposta. 
28 Dir-lhes-ás então: 'Esta é a nação que não escuta a voz do Senhor, seu Deus, e não aceita suas advertências. A lealdade desapareceu, tendo sido banida de sua boca'". 

Salmo responsorial 94/95
Oxalá ouvísseis hoje a voz do Senhor: 
não fecheis os vossos corações.
Vinda, exultemos de alegria no Senhor, 
aclamemos o rochedo que nos salva! 
Ao seu encontro caminhemos com louvores 
e, com cantos de alegria, o celebremos!
Vinde, adoremos e prostremo-nos por terra, 
e ajoelhemos ante o Deus que nos criou! 
Porque ele é o nosso Deus, nosso pastor, 
e nós somos o seu povo e seu rebanho, 
as ovelhas que conduz com sua mão.
Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: 
"Não fecheis os corações como em Meriba, 
como em Massa, no deserto, aquele dia, 
em que outrora vossos pais me provocaram, 
apesar de terem visto as minhas obras".
Aclamação do Evangelho
Jesus Cristo, sois bendito, sois o ungido de Deus Pai! 
Voltai ao Senhor, vosso Deus, ele é bom, compassivo e clemente (Jl 2,12s).

EVANGELHO (Lucas 11,14-23)

Naquele tempo, 11 14 Jesus expelia um demônio que era mudo. Tendo o demônio saído, o mudo pôs-se a falar e a multidão ficou admirada. 
15 Mas alguns deles disseram: "Ele expele os demônios por Beelzebul, príncipe dos demônios". 
16 E para pô-lo à prova, outros lhe pediam um sinal do céu. 
17 Penetrando nos seus pensamentos, disse-lhes Jesus: "Todo o reino dividido contra si mesmo será destruído e seus edifícios cairão uns sobre os outros. 
18 Se, pois, Satanás está dividido contra si mesmo, como subsistirá o seu reino? Pois dizeis que expulso os demônios por Beelzebul. 
19 Ora, se é por Beelzebul que expulso os demônios, por quem o expulsam vossos filhos? Por isso, eles mesmos serão os vossos juízes! 
20 Mas se expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente é chegado a vós o Reino de Deus. 
21 Quando um homem forte guarda armado a sua casa, estão em segurança os bens que possui. 
22 Mas se sobrevier outro mais forte do que ele e o vencer, este lhe tirará todas as armas em que confiava, e repartirá os seus despojos. 
23 Quem não está comigo, está contra mim; quem não recolhe comigo, espalha". 

COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "Quando o Mal se camufla de Bem..."
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz )
Lembrando meus tempos de repórter, tinha um conhecido que traficava drogas, gente boa, não bebia e nem fumava, mas de vez em quando era pego com a boca na botija e permanecia 5 a 10 anos "engaiolado". Certa ocasião, em respeito a nossa amizade ele quis ajudar-me e me falou "Olha, se algum malandro entrar na sua casa ou tentar te assaltar ou fazer algum mal a alguém da sua família, diga pro sujeito que você é meu amigo e ele vai se borrar de medo deixando você em paz..."
Alguém que me dá segurança e proteção, só pode estar do lado do Bem, nada disso! É impossível navegar com o pé em duas canoas, ou eu pratico o Bem ou então o Mal. Não tem como fazer os dois ao mesmo tempo. Nesse caso do meu amigo "Vida Torta" a segurança que ele me oferecia era fruto da violência que ele cometia contra as Vidas dos Viciados e quem destrói a Vida do outro em benefício próprio está comprometido com o Mal e não com o Bem.
As ações de Jesus todas elas são libertadoras, resgatando ao ser humano a sua dignidade, ele tem poder sobre todas as forças que oprimem e escravizam o homem e por isso as multidões ficam admiradas quando vêem a total transformação de quem foi por ele liberto e curado. Mas há um grupo de pessoas que Jesus não consegue convencer, elas estão sempre por perto, prontas para o acusar, buscando argumentos para condená-lo á morte e chegam ao absurdo de desvirtuarem a ação libertadora, vendo nela uma força opressora, pois o demônio jamais liberta, ele só oprime e escraviza.
A ação libertadora de Jesus é a prova incontestável de que o Reino chegou e nele devem engajar-se todos os que desejam a salvação e a libertação de tudo quanto oprime e escraviza. Afirmar que se está do lado de Jesus, mas não mover uma agulha para que a ação libertadora aconteça na vida do outro, é certamente uma grande incoerência. Cristão que não busca a valorização da Vida, a preservação da dignidade humana, e o respeito pelo ser humano, pode até participar comunidade, mas pertence ao outro "time". Nesta lista entram também todos os que se omitem e até na comunidade ficam de boca calada, preferindo não dar sua opinião, para não ser criticado. Estes também estão possessos do demônio que os torna mudos e omissos.
Na comunidade, no mundo do trabalho, na política, nas instituições governamentais, está "assim ó" de mudos e mudas, omissos e omissas, que em fins de semana, da boca prá fora dizem o seu amém ao receberem uma Eucaristia que não vivem...
2. Sinais de libertação
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva )
Os sinais libertadores (curas e exorcismos) operados por Jesus suscitam a admiração de muitos nas multidões. Mas também suscitam o ódio de alguns que têm o poder religioso e econômico nas mãos e temem a libertação do povo.
Assim, pretendem difamar Jesus diante do povo acusando-o de estar sob o poder de Beelzebu. Jesus responde que suas ações são feitas pelo dedo de Deus, libertando os possuídos pelo sistema opressor do Templo e das sinagogas, revelando a chegada do Reino de Deus.
Somos libertados por Deus, em Jesus, para sermos agentes da transformação deste mundo em um mundo novo em que a ambição do dinheiro que promove o horror da guerra ceda lugar à fraternidade, à partilha e à paz.
Oração
Pai, transforma-me em instrumento de teu amor misericordioso, a exemplo de Jesus. Por onde eu passar, possa ser testemunha de que teu Reino já chegou para nós.
3. ADMIRAÇÃO E SUSPEITA
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório ).
Embora agisse com absoluta boa-fé, a ação de Jesus foi alvo de interpretações desencontradas. As multidões ficavam maravilhadas diante de seus gestos poderosos. O caso da libertação de um homem mantido escravo pelo demônio, que o impedia de falar, era um, entre tantos. O povo começava a perceber algo de extraordinário, presente na ação de Jesus. Sem dúvida, a mão de Deus estava agindo por meio dele. Esta percepção constituia o primeiro passo para a fé.
Outros, porém, viam as coisas de modo diferente, e acusavam o Mestre de estar agindo em conluio com Belzebu. Por isso, colocavam-no sob suspeita. Na visão deles, os milagres de Jesus eram só aparentes; quem acreditava neles, corria o risco de afastar-se de Deus. A beleza desses milagres era como que uma capa que impedia as pessoas de se darem conta das reais intenções do Mestre. Por trás dessa capa bonita, ocultava-se um inimigo de Deus, que só buscava fazer adeptos.
Jesus não ficava indiferente, quando seu ministério era objeto de falsas interpretações. Afinal, os que o colocavam sob suspeita, estavam questionando o núcleo de sua ação: a obediência e a submissão ao Pai. Sem elas, toda a vida de Mestre não teria mais sentido, e sua condição de Messias, Filho de Deus, não passaria de uma impostura.
Ao maravilhar-se da ação de Jesus, o discípulo reconhece Deus agindo por meio dele, e se abre para acolhê-lo na fé.
Oração 
Espírito de compreensão, coloca-me, cava vez mais, em sintonia com Jesus, para eu poder perceber o verdadeiro sentido do seu agir.
Liturgia da Sexta-Feira 


III SEMANA DA QUARESMA 
(ROXO – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Senhor, não há entre os deuses nenhum que se vos compare, porque sois grande e fazeis maravilhas: só vós, Senhor, sois Deus (Sl 85,8.10).

Primeira Leitura (Oséias 14,2-10)
Leitura da profecia de Oseias.
Assim fala o Senhor: 14 2 "Muni-vos de palavras (de súplicas) e voltai ao Senhor. Dizei-lhe: 'Perdoai todos os nossos pecados, acolhei-nos favoravelmente. Queremos oferecer em sacrifício a homenagem de nossos lábios. 
3 O assírio não nos salvará, não mais montaremos nossos cavalos, e não mais teremos como Deus obra alguma de nossas mãos, porque só junto de vós encontra o órfão compaixão. 
4 Curarei a sua infidelidade, amá-los-ei de todo o coração, (porque minha cólera apartou-se deles)'. 
5 Serei para Israel como o orvalho; ele florescerá como o lírio, e lançará raízes como o álamo. 
6 Seus galhos estender-se-ão ao longe, sua opulência igualará à da oliveira e seu perfume será como o odor do Líbano. 
7 (Os de Efraim) virão sentar-se à sua sombra. Cultivarão o trigo. Crescerão com a vinha. E serão famosos como o vinho do Líbano. 
8 Que terá ainda Efraim de comum com os ídolos? Eu mesmo, que o afligi, torná-lo-ei feliz. Eu sou como o cipreste sempre verde: graças a mim é que produzes fruto. 
9 Quem é sábio atenda a estas coisas! Que o homem inteligente reflita nelas, porque os caminhos do Senhor são retos. Os justos andam por eles, mas os pecadores neles tropeçam". 

Salmo responsorial 80/81
Ouve, meu povo, porque eu sou o teu Deus!
Eis que ouço uma voz que não conheço: 
"Aliviei as tuas costas de seu fardo, 
cestos pesados eu tirei de tuas mãos. 
Na angústia a mim clamaste, e te salvei.
De uma nuvem trovejante te falei 
e junto às águas de Meriba te provei. 
Ouve, meu povo, porque vou te advertir! 
Israel, ah! se quisesses me escutar.
Em teu meio não exista um deus estranho, 
nem adores a um deus desconhecido! 
Porque eu sou o teu Deus e teu Senhor, 
que da terra do Egito te arranquei.
Quem me dera que meu povo me escutasse! 
Que Israel andasse sempre em meus caminhos. 
Eu lhe daria de comer a flor do trigo 
e com o mel que sai da rocha o fartaria".
Aclamação do Evangelho
Glória a vós, Senhor Jesus, primogênito dentre os mortos! 
Convertei-vos, nos diz o Senhor, está próximo o reino de Deus! (Mt 4,17)

EVANGELHO (Marcos 12,28-34)

Naquele tempo, 12 28 achegou-se de Jesus um dos escribas que os ouvira discutir e, vendo que lhes respondera bem, indagou dele: "Qual é o primeiro de todos os mandamentos?" 
29 Jesus respondeu-lhe: "O primeiro de todos os mandamentos é este: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor; 
30 amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito e de todas as tuas forças. 
31 Eis aqui o segundo: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Outro mandamento maior do que estes não existe". 
32 Disse-lhe o escriba: "Perfeitamente, Mestre, disseste bem que Deus é um só e que não há outro além dele. 
33 E amá-lo de todo o coração, de todo o pensamento, de toda a alma e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, excede a todos os holocaustos e sacrifícios". 
34 Vendo Jesus que ele falara sabiamente, disse-lhe: "Não estás longe do Reino de Deus". E já ninguém ousava fazer-lhe perguntas. 



COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "Um Escriba Fiel..."
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz )
Nem todos os Escribas, Fariseus e Doutores da Lei eram cabeças duras e não aceitavam os ensinamentos de Jesus, alguns tinham o coração mais aberto e nutriam pelo Mestre grande admiração e carinho. Assim, não se pode generalizar, em todas as classes e categorias de pessoas há as sensatas e as insensatas, os que crêem e os que são indiferentes, os que buscam algo novo e vislumbram isso em Deus, e os que se prendem simplesmente a matéria, rejeitando qualquer experiência mística.
O escriba que hoje Marcos apresenta no evangelho é alguém bem intencionado, embora a pergunta seja um tanto capciosa. A Lei de Moisés tinha 613 mandamentos, sendo 365 negativos e 248 positivos, que eram as obrigações de um Israelita. Entre os 613 qual era o primeiro em termos de importância, é o que quer saber aquele Homem das Letras...
Jesus não revoga 611 mandamentos, ao contrário, de forma magistral apresenta uma belíssima síntese de todo conteúdo Mosaico. "Ouve, Israel, o Senhor, Nosso Deus, é o único Senhor: amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu Espírito e de todas as tuas forças. Eis aqui o segundo: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Outro mandamento maior que estes não existe.
O Escriba não só concorda com a afirmativa de Jesus, como vai repeti-la e fazer uma hermenêutica: se estes dois mandamentos não forem praticados, inútil será diante de Deus qualquer sacrifício ou holocausto! Por esta razão Jesus vai dizer a ele "Não estás longe do Reino de Deus".
Ficamos longe do Reino de Deus, quando deturpamos os ensinamentos do evangelho a nosso bel prazer, ficamos longe do Reino de Deus quando fazemos uma interpretação equivocada sobre a Lei do amor, imaginando que são dois amores ou duas formas de amar, em momentos diferentes e circunstâncias diferentes. Ficamos longe do Reino de Deus quando pensamos que nossas práticas piedosas e nossas celebrações são manifestações do nosso amor a Deus, achando que isso é mais que suficiente.
Enfim, ficamos longe de Deus quando deixamos de amar o próximo, mas nos iludimos com nossa prática religiosa, achando que estamos amando a Deus. Quando assim agimos, som os mentirosos e enganadores, segundo São João! Quanto mais perto do próximo, mais perto de Deus e do seu Reino.
2. Amor em ações a favor dos irmãos
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva )
Jesus encontra-se em Jerusalém. Os últimos embates com os chefes religiosos do judaísmo são encerrados com este diálogo. O diálogo é aparentemente harmonioso, mas pode encobrir uma simulação da parte do escriba. Jesus, percebendo certo interesse do escriba, lhe dirige uma palavra de estímulo na busca do Reino. Com a sábia resposta de Jesus ninguém mais tinha coragem de fazer-lhe perguntas. 
Jesus, em sua resposta, reúne um mandamento do Deuteronômio (6,4-5), o amor a Deus, e um mandamento do Levítico (19,18), o amor ao próximo. Ambos são equivalentes. O amor a Deus só é verdadeiro quando concretizado em ações a favor dos irmãos, particularmente os mais necessitados.
Oração
Senhor Jesus, que o Reino aconteça sempre mais em minha vida, pela vivência radical do amor a Deus e ao próximo.
3. A PRIMAZIA DO AMOR
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório ).
É de se admirar que um escriba - mestre da Lei - tenha-se colocado diante de Jesus, na posição de discípulo. Os escribas eram reconhecidos como pessoas sábias. Por conseguinte, capazes de interpretar a Lei e descobrir-lhe sentidos novos. O povo consultava-os quando tinham dúvidas. Por sua vez, os escribas tinham consciência de sua posição elevada.
O escriba, que sabia dar respostas a tantas questões complicadas, tinha, agora, sérias dúvidas a respeito de uma questão fundamental: qual ação humana mais agrada a Deus, e coloca o ser humano em comunhão com o Pai?
A resposta de Jesus é como que o resumo de toda a Escritura: amar a Deus, consagrando-se totalmente a ele, e amar ao próximo como a si mesmo. Estes são os dois eixos da religião que agrada a Deus. Tudo o mais será complemento e terá valor relativo. É preciso dar primazia ao amor!
A preocupação do mestre da Lei tinha sua razão de ser. Com muita facilidade, no caminho para Deus, o ser humano embrenha-se por atalhos, abandonando a estrada principal. Deixando de lado o caminho do amor a Deus e ao próximo, por mais que alguém se esforce, jamais alcançará a meta almejada. Só o caminho do amor pode levar-nos ao destino esperado: o Pai.
Oração
Espírito de conhecimento, conduze-me sempre pelo caminho do amor, o único que pode me levar até o Pai.
Liturgia do Sábado 


III SEMANA DA QUARESMA *
(ROXO – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Bendize, ó minha alma, ao Senhor, não esqueças nenhum dos seus benefícios: é ele quem te perdoa todas as ofensas (Sl 102,2s).

Primeira Leitura (Oséias 6,1-6)
Leitura da profecia de Oséias.
6 1 "Vinde, voltemos ao Senhor, ele feriu-nos, ele nos curará; ele causou a ferida, ele a pensará. 
2 Dar-nos-á de novo a vida em dois dias; ao terceiro dia levantar-nos-á, e viveremos em sua presença. 
3 Apliquemo-nos a conhecer o Senhor; sua vinda é certa como a da aurora; ele virá a nós como a chuva, como a chuva da primavera que irriga a terra". 
4 Que te farei, Efraim? Que te farei, Judá? Vosso amor é como a nuvem da manhã, como o orvalho que logo se dissipa. 
5 Por isso é que os castiguei pelos profetas, e os matei pelas palavras de minha boca, e meu juízo resplandece como o relâmpago, 
6 porque eu quero o amor mais que os sacrifícios, e o conhecimento de Deus mais que os holocaustos. 

Salmo responsorial 50/51
Eu quis misericórdia e não o sacrifício!
Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia! 
Na imensidão de vosso amor, purificai-me! 
Lavai-me todo inteiro do pecado 
e apagai completamente a minha culpa!
Pois não são de vosso agrado os sacrifícios, 
e, se oferto um holocausto, o rejeitais. 
Meu sacrifício é minha lama penitente, 
não desprezeis um coração arrependido!
Sede benigno com Sião, por vossa graça, 
reconstruí Jerusalém e os seus muros! 
E aceitareis o verdadeiro sacrifício, 
os holocaustos e oblações em vosso altar!
Aclamação do Evangelho
Honra, glória poder e louvor a Jesus, nosso Deus e Senhor! 
Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: não fecheis os corações como em Meriba! (Sl 94,8)

Evangelho (Lucas 18,9-14)

9 Jesus lhes disse ainda esta parábola a respeito de alguns que se vangloriavam como se fossem justos, e desprezavam os outros: 
10 Subiram dois homens ao templo para orar. Um era fariseu; o outro, publicano. 
11 O fariseu, em pé, orava no seu interior desta forma: Graças te dou, ó Deus, que não sou como os demais homens: ladrões, injustos e adúlteros; nem como o publicano que está ali. 
12 Jejuo duas vezes na semana e pago o dízimo de todos os meus lucros. 
13 O publicano, porém, mantendo-se à distância, não ousava sequer levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador! 
14 Digo-vos: este voltou para casa justificado, e não o outro. Pois todo o que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado. 


COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "Uma oração que não chega ao coração de Deus" 
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Diácono José da Cruz )
Usemos o nosso imaginário: se nossas orações fossem e-mails enviados para Deus, as orações do tipo desse Fariseu não teriam a menor chance, ou voltariam por estar com a caixa de correio lotada, ou simplesmente seria deletada e iria parar na lixeira.
Não é que Deus se chateie ouvindo tais orações, acontece que não há o que atender, simplesmente porque não há nenhum pedido, podem notar. E não se trata de uma bela oração de ação de graças como aparenta ser, mas é uma oração arrogante e soberba, de quem se considera perfeito e melhor do que todos os outros homens. Às vezes corremos o risco de fazer operações desse tipo, quando no comparamos aos outros: que não são casados na igreja, que não são batizados, que não freqüentam a comunidade, que não ofertam o dízimo, que não receberam os sacramentos, ou quando exaltamos o nosso trabalho e achamos que, se cruzarmos os braços a comunidade ou a pastoral vai fechar as portas. Isso também é oração de arrogância!
Não sei se o Publicano ia ao tempo orar, mas Jesus certamente conhecia muitos publicanos, pois até jantava com eles, e via em alguns deles o desejo sincero de buscar a Deus, a partir do reconhecimento de que eram pecadores. Ficar no último lugar é sentir-se pequeno e sem valor, é não ter com o que ou com quem contar a não ser com a misericórdia de Deus.
Esta deve ser a autêntica postura de um cristão em oração, e não precisa se perder a auto-estima, basta apenas compreender e crer de coração, que sem Deus e a sua Graça Santificante e Operante, nada somos... Em nossa fraqueza somos fortalecidos pela Graça de Deus que nos socorre em sua misericórdia, porque simplesmente nos ama do jeito que somos...
2. Atitude necessária para a oração
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva )
Nesta parábola de sua exclusividade, Lucas faz um confronto entre duas atitudes fundamentais. De um lado estão aqueles que se julgam justos, puros, e ensoberbecidos desprezam os outros. São autossuficientes e, se invocam a Deus, é mais para se exibirem do que por um ato de humildade.
Do outro lado estão os simples e humildes. Estes são conscientes de sua fragilidade e reconhecem em Deus seu amparo e proteção. Estas duas atitudes são caracterizadas por Lucas a partir de um momento de oração, em duas personagens: um fariseu e um publicano. O fariseu, em posição ostensiva, orava em seu íntimo, com toda convicção de sua própria justiça e superioridade, desprezando o publicano que jazia prostrado a distância. Por outro lado, o publicano, em sua humildade e abandono, tinha o coração todo voltado para Deus. Contudo, o justo a seus próprios olhos está longe de Deus, enquanto o pequeno e humilde está em comunhão com Deus.
Oração
Pai, faze-me consciente de minha condição de pecador, livrando-me da soberba que me dá a falsa ilusão de ser superior a meu próximo e mais digno de me dirigir a ti.
3. SOBERBA E HUMILDADE
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório ).
Jesus não suportava a soberba de quem se gabava de ser justo, olhando os outros com desdém. Este comportamento o irritava por revelar uma falsa imagem de Deus, completamente contrária àquela ensinada por ele. O deus dos soberbos e orgulhosos é preconceituoso, deixa-se impressionar por exterioridades, é injusto para com os fracos, é facilmente enganável. A um deus assim, dirige-se o fariseu da parábola contada por Jesus. Assumindo uma postura de evidente arrogância, dirige-se a seu deus, prestando-lhe contas de suas práticas religiosas, como que a exigir uma recompensa generosa.
O Deus anunciado por Jesus é, radicalmente, diferente: é o Pai atento a seus filhos, de modo especial, aos fracos e pequeninos. Valoriza qualquer esforço humano de superar o pecado, para colocar-se, com humildade, no caminho da conversão. Vê o mais íntimo do ser humano, onde percebe seus sentimentos e intenções. Portanto, não é um Deus a quem se possa enganar.
Diante da atitude dos soberbos, Jesus não tinha dúvidas quanto ao fim que os esperava. Eles serão humilhados ao se encontrarem na presença do Pai. Recomenda-lhes, então, a humildade, porque só ela é capaz de sensibilizar a Deus, para a pessoa obter dele a justificação. Portanto, quem se vanglória de ser justo, está preparando sua própria condenação.
Oração 
Espírito de humildade, liberta-me da soberba, porque ela me afasta do Pai. E faze-me reconhecer, com humildade, minhas próprias limitações.




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