segunda-feira, 16 de abril de 2012

2ª semana da Páscoa Ano B


2º Domingo de Páscoa - Domingo da Divina Misericórdia  ANO B
(BRANCO, GLÓRIA, CREIO, PREFÁCIO DA PÁSCOA I – OFÍCIO PRÓPRIO)
"Reunidos pela fé"
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! Jesus ressuscitado está presente na comunidade, dando início à nova criação. Agradecemos ao Pai pela vitória de Cristo sobre nossa morte, pecados e incredulidades. Acolhemos a presença do Ressuscitado na comunidade unida e suplicamos o sopro de seu Espírito para vencer nossos medos, animar nossa fé ainda tão frágil e nos fortalecer na missão de testemunhas da ressurreição. Nesta semana inicia-se a 50ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil. Queremos rezar por todos os bispos, pedindo sempre a presença do ressuscitado entre eles. Sintamos o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos cânticos jubilosos ao Senhor!
Antífona da entrada: Como crianças recém-nascidas, desejai o puro leite espiritual para crescerdes na salvação, aleluia! (1Pd 2,2)
Comentário: As leituras nos apresentam uma comunidade de Pessoas Novas que nasce da cruz e da ressurreição de Jesus: a Igreja. A sua missão consiste em revelar aos homens a vida nova que brota da ressurreição. Às vezes nossas descren- ças nos assemelham a Tomé, mas é preciso ter a coragem de fazer a experiência de reconhecer em Cristo o "meu Senhor e meu Deus".
Primeira Leitura (Atos 4,32-35)
Leitura dos Atos dos Apóstolos.
4 32 A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuía, mas tudo entre eles era comum. 
33 Com grande coragem os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus. Em todos eles era grande a graça. 
34 Nem havia entre eles nenhum necessitado, porque todos os que possuíam terras e casas vendiam-nas, 
35 e traziam o preço do que tinham vendido e depositavam-no aos pés dos apóstolos. Repartia-se então a cada um deles conforme a sua necessidade. 

Salmo responsorial 117/118
Dai graças ao Senhor, porque ele é bom; "Eterna é a sua misericórdia!"
A casa de Israel agora o diga: 
"Eterna é a sua misericórdia!" 
A casa de Aarão agora o diga: 
"Eterna é a sua misericórdia!" 
Os que temem o Senhor agora o digam: 
"Eterna é a sua misericórdia!"
Empurraram-me, tentando derrubar, 
mas veio o Senhor em meu socorro. 
O Senhor é minha força e o meu canto 
e tornou-se para mim o salvador. 
"Clamores de alegria e de vitória 
Ressoem pelas tendas dos fiéis".
"A pedra que os pedreiros rejeitaram 
tornou-se agora a pedra angular". 
Pelo Senhor é que foi feito tudo isso: 
que maravilhas ele fez a nossos olhos! 
Este é o dia que o Senhor fez para nós, 
alegremo-nos e nele exultemos!

Segunda Leitura (1 João 5,1-6)
Leitura da primeira carta de são João.
5 1 Todo o que crê que Jesus é o Cristo, nasceu de Deus; e todo o que ama aquele que o gerou, ama também aquele que dele foi gerado. 
2 Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus: se amamos a Deus e guardamos os seus mandamentos. 
3 Eis o amor de Deus: que guardemos seus mandamentos. E seus mandamentos não são penosos, 
4 porque todo o que nasceu de Deus vence o mundo. E esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. 
5 Quem é o vencedor do mundo senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus? 
6 Ei-lo, Jesus Cristo, aquele que veio pela água e pelo sangue; não só pela água, mas pela água e pelo sangue. E o Espírito é quem dá testemunho dele, porque o Espírito é a verdade. 

Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia. 
Acreditaste, Tomé, porque me viste. Felizes os que creram sem ter visto! (Jo 20,29).

EVANGELHO (João 20,19-31)
20 19 Na tarde do mesmo dia, que era o primeiro da semana, os discípulos tinham fechado as portas do lugar onde se achavam, por medo dos judeus. Jesus veio e pôs-se no meio deles. Disse-lhes ele: "A paz esteja convosco"! 
20 Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se ao ver o Senhor. 
21 Disse-lhes outra vez: "A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós". 
22 Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: "Recebei o Espírito Santo. 
23 Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos". 
24 Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. 
25 Os outros discípulos disseram-lhe: "Vimos o Senhor". Mas ele replicou-lhes: "Se não vir nas suas mãos o sinal dos pregos, e não puser o meu dedo no lugar dos pregos, e não introduzir a minha mão no seu lado, não acreditarei"! 
26 Oito dias depois, estavam os seus discípulos outra vez no mesmo lugar e Tomé com eles. Estando trancadas as portas, veio Jesus, pôs-se no meio deles e disse: "A paz esteja convosco"! 
27 Depois disse a Tomé: "Introduz aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos. Põe a tua mão no meu lado. Não sejas incrédulo, mas homem de fé". 
28 Respondeu-lhe Tomé: "Meu Senhor e meu Deus!" 
29 Disse-lhe Jesus: "Creste, porque me viste. Felizes aqueles que crêem sem ter visto!" 
30 Fez Jesus, na presença dos seus discípulos, ainda muitos outros milagres que não estão escritos neste livro. 
31 Mas estes foram escritos, para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome. 

FORMAÇÃO LITÚRGICA
Oração do Dia
Encerram-se os Ritos Iniciais da Missa com a "Oração do Dia", também chamada "Coleta" . A expressão "coleta" vem do tempo em que os cristãos iniciavam a celebração da Eucaristia numa igreja e a continuavam em outra. A primeira chamava-se "igreja da reunião", em latim, "ecclesia collecta". Antes de sair em procissão para a segunda igreja, o que presidia a celebração fazia "a coleta", ou seja, oração da "comunidade reunida". Hoje, prefere-se a expressão "Oração do Dia", pois, conforme a orientação do Missal, esta oração "exprime a índole da celebração" daquele dia . Esta, portanto, não é a hora de colocar as intenções pessoais. Não é coleta de intenções, mas momento de os fiéis, a convite (oremos) do que preside, se "conectarem", se "reunirem" ao redor do que está sendo celebrado na festa do dia. Para que isto aconteça, solicita-se um breve silêncio depois do convite: "oremos". Como se pode ver, a oração se compõe de quatro elementos: o convite, o silêncio, a oração e o amém. O convite à oração: é uma herança do judaísmo. Os grandes momentos de oração comum da assembléia litúrgica eram precedidos de um convite. Este convite é um apelo que contém em si o que vai acontecer. Realiza o que diz, ou seja, coloca em oração. O silêncio: não é um detalhe facultativo. Está prescrito na . Tem duas funções: permite aos fiéis tomarem consciência de que estão na presença de Deus e dá tempo para que cada um exprima para si mesmo o sentido da festa que se está celebrando. A oração: é composta pela invocação, do pedido (motivo fundamental da súplica) e da conclusão. O amém: é como se o povo dissesse ao que preside: "esta é também a nossa prece".
TEXTOS BÍBLICOS PARA A SEMANA:

2ª Br - At 4,23-31; Sl 2(3); Jo 3,1-8
3ª Br - At 4,32-37; Sl 92(93); Jo 3,7b-15
4ª Br - At 5,17-26; Sl 33(34); Jo 3,16-21
5ª Br - At 5,27-33; Sl 33(34); Jo 3,31-36
6ª Br - At 5,34.42; Sl 26(27); Jo 6,1-15
Sb Vm - At 6,1-7; Sl 32(33); Jo 6,16-21

COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "ELE ESTÁ NO MEIO DE NÓS!"
Provavelmente um dos maiores equívocos que alguns cristãos cometem nos dias de hoje, é o de ausentar-se das celebrações dominicais por verem nelas a repetição monótona de um rito, que já sabem de cor e salteado. Uma partida de futebol também nunca sai da mesmice, em todo jogo nada muda, mas vá dizer a um torcedor que o futebol é monótono e cansativo, imediatamente ele irá afirmar que cada partida é uma história e uma emoção diferente, indescritível. O mesmo se diga de uma peça de teatro que se vê mais de uma vez, ou de um bom livro, eu mesmo perdi a conta de quantas vezes li “Éramos Seis...”, em cada leitura há algo de novo nos personagens ou no enredo, nunca é a mesma coisa. Então por que alguns cristãos acham a celebração tão chata e repetitiva?
Naqueles primeiros tempos do cristianismo, a pessoa de Jesus, seus ensinamentos e sua história ainda estava muito viva no coração dos seus seguidores, os apóstolos. Eles falavam com entusiasmo de Jesus, não como um herói nacional a ser reverenciado, mas como alguém presente, que caminha com a comunidade tomada pelo seu Espírito que a anima e lhe faz sentir esta vida nova que ele deu a todos.
Muita gente não entendia, admiravam Jesus, falavam muito dele, mas como alguém que foi um exemplo, um idealista, um líder nato, um grande profeta, um mestre sem igual em Israel, há até mesmo uma corrente de teólogos que reduzem a ressurreição a uma lembrança muito forte de Jesus no coração das pessoas que o conheceram e que o amaram profundamente, perpetuando sua memória entre eles nos encontros da comunidade. A verdade é que, a vida em comunidade só é possível quando a gente faz uma experiência pessoal com Jesus Cristo, quando o seu anúncio toca no fundo do coração e começamos a senti-lo a cada instante de nossa vida, quando o seu evangelho nos encanta e supera qualquer ideologia de felicidade que este mundo possa nos oferecer, quando descobrimos que ele nos conhece profundamente, e tem por nós um amor imenso, grandioso, que não hesita em dar-nos a própria vida. Quando percebemos que a salvação por ele oferecida não é algo misterioso, que só iremos ter após a nossa morte, mas que nessa vida a sentimos nas profundezas do nosso ser, quando conseguimos harmonizar todas as nossas virtudes e carismas, com o projeto que o Filho de Deus inaugurou em nosso meio.
Então o nosso coração quer estar junto de outros irmãos e irmãs, que fizeram essa mesma descoberta, para comemorar e celebrar essa presença misteriosa do Senhor em nossa vida, que se torna mais forte na vida de igreja. Para Tomé não faltou este testemunho dos seus irmãos apóstolos “Vimos o Senhor!”, não se trata apenas de um VER com os olhos, mas de um sentir com o coração, capaz de perceber nas marcas da paixão a evidência mais forte de um amor sem medida pelos seus.
A comunidade recebe o dom da Paz, nascida da vitória definitiva sobre as forças do mal, o discípulo que recebeu a Paz do Senhor, não pode nunca colocar em dúvida, em sua vida e na vida do mundo, o triunfo do Bem supremo sobre o mal, viver nessa paz, longe de permanecer de braços cruzados, é antes ir a luta pelo reino em que se crê, na certeza de que ele um dia se tornará visível em toda sua plenitude. Comunidade, portanto, é lugar de se receber o sopro de vida e renovação em cada momento celebrativo, é lugar onde a gente se reveste desse Espírito Santo, lugar onde somos recriados, restaurados, tornando-nos novas criaturas em Cristo.
Para se fazer essa experiência profunda, não é necessário uma celebração especial, deste ou daquele grupo, nem tão pouco um padrão “X” ou “Y” de espiritualidade, nem precisa identificar-se como conservador ou progressista, adeptos desta ou daquela eclesiologia, nem é preciso buscar revelações espetaculares, e ser agraciado com grandioso milagre, também não precisa tornar-se um místico, nem um alienado das realidades que nos cercam, é preciso apenas ser testemunha do amor, vivido e celebrado não de maneira egoísta, mas com os irmãos e irmãs da comunidade, em torno da Eucaristia, amor que nos alimenta.
Diante do testemunho recebido, Tomé limita-se no VER de enxergar, com os olhos da carne, para ele, naquele momento, e também para muitos nos dias de hoje, a celebração tem que ser um “arraso”, um show inesquecível, onde os ministros, como grandes estrelas, conseguem nos fazer VER Jesus, tem que valer o ingresso e o esforço de estar lá, é a celebração como espetáculo, mexendo com razão de ser, e com o emocional.
A Fé no Senhor ressuscitado que caminha com a sua igreja, não precisa de sinais ou provas, Cristo Jesus não precisa provar mais nada, nós é que precisamos provar a nossa fé, aceitando viver e celebrar em uma comunidade, onde nada ocorre de excepcional, mas onde cada encontro é diferente, porque fazemos essa experiência do Cristo vivo, que caminha conosco, podemos vê-lo e tocá-lo nos sacramentos, podemos ouvi-lo, e de fato o ouvimos na santa palavra, podemos percebê-lo na vida dos irmãos, razão pela qual não cansamos de repetir com a alma em júbilo, a cada saudação de quem preside “Ele está no meio de nós!”.
Se tivermos convicção desta afirmativa, o nosso testemunho será tão vivo e autêntico como o dos apóstolos, e o nosso coração baterá mais forte cada vez que chegar o DOMINGO, dia do Senhor.

2. A paz de Jesus
Nesta aparição aos discípulos reunidos, por três vezes Jesus dá a paz aos discípulos. Durante a última ceia Jesus já lhes concedera, de maneira expressiva, a paz (Jo 14,27); e agora, na condição de Ressuscitado, a renova. A paz do mundo se perde na ilusão das disputas de poder e riqueza, e os discípulos, de sua parte, vivem a perturbação de momentos de perseguição. A paz de Jesus, que se faz presente entre seus discípulos, fortalece os corações firmando-os no amor e na vida eterna de Deus.
Jesus também, na última ceia, anunciara o envio do Espírito que procede do Pai, o Consolador na ausência sensível de Jesus (Jo 15,26). Espírito Santo, ou Consolador, é a expressão da personalização do Amor de Deus. É o amor que move os discípulos à missão libertadora e promotora da vida. O pecado consiste na colaboração com a ordem injusta que impera na sociedade ou em qualquer outro atentado contra a vida. Gerados por Deus, os discípulos com sua fé vencem o mundo (segunda leitura). Com seu testemunho da partilha (primeira leitura), da justiça e do amor removem o pecado do mundo.
A narrativa da experiência de Tomé com o ressuscitado é bem expressiva quanto à questão da necessidade das aparições, e até do toque, para confirmar a fé. Ele é o tipo do "ver para crer", ao qual Jesus contrapõe a bem-aventurança dos que creram sem ver.
Entre as primeiras comunidades vinculadas à comunidade de Jerusalém surgiu a tradição do ver o ressuscitado como condição para ser incluído entre as lideranças. A partir daí, surge a tradição da fé no testemunho destas lideranças, sem ver. Este episódio do evangelho de hoje relativiza as narrativas de visões do ressuscitado. Assim acontece, também, com o episódio em que o discípulo que Jesus amava, diante do túmulo vazio, creu sem ver o ressuscitado (Jo 20,8; cf. 12 abr.). Para crer não é necessário ver. A fé brota da experiência de amor que os discípulos tiveram no convívio com Jesus, e da mesma experiência de amor que se pode ter, hoje, nas relações fraternas de acolhimento, de doação e serviço, de misericórdia e compaixão, na fidelidade às palavras de Jesus.
A bem-aventurança conferida àqueles que creem sem ver é bem convincente no sentido da desnecessidade de aparições para que se possa perceber, na fé, a presença do Jesus eterno em nossas vidas, nas nossas comunidades e no mundo.
Oração
Pai, abre todas as portas que me mantém fechado no medo e na insegurança, para que eu vá ao encontro do mundo a ser evangelizado.

3. BEM-AVENTURANÇA: CRER SEM VER
Durante a última ceia, Jesus já comunicara aos discípulos, de maneira expressiva, a sua paz (Jo 14,27); e agora, na condição de ressuscitado, a renova. Jesus aparece entre os discípulos reunidos, anuncia-lhes a paz e mostra-lhes as chagas. Os discípulos estão com as portas trancadas com medo dos judeus. Este detalhe exprime a situação da comunidade de João, excluída pelos judeus, os quais, inclusive, denunciavam os cristãos aos romanos. Porém, a presença do ressuscitado liberta a comunidade do medo e lhes traz a alegria. O mostrar as chagas das mãos e a do lado é a confirmação de identificação do ressuscitado com Jesus de Nazaré, que foi crucificado. Agora, conforme anunciara nos discursos de despedida, Jesus comunica aos discípulos o Espírito, soprando sobre eles. Os discípulos são enviados em missão, com o conforto do Espírito. Suas comunidades, que vivem na comunhão e partilha (primeira leitura), movidas pela fé em Jesus (segunda leitura), são responsáveis pela prática da misericórdia no acolhimento dos excluídos como pecadores e de todos aqueles que se sentem atraídos por Jesus. A partir da experiência de Tomé, Jesus proclama a bem-aventurança da fé. Começa o tempo dos bem-aventurados que não viram e creram. 
Liturgia da Segunda Feira 
II SEMANA DA PÁSCOA
(BRANCO – OFÍCIO DA MEMÓRIA)
Antífona da entrada: O Cristo, ressuscitado dos mortos, já não morre; a morte não tem mais poder sobre ele, aleluia! (Rm 6,9)
Leitura (Atos 4,23-31)
Leitura dos Atos dos Apóstolos.
4 23 Naqueles dias, postos em liberdade, voltaram aos seus irmãos e referiram tudo quanto lhes tinham dito os sumos sacerdotes e os anciãos. 
24 Ao ouvirem isso, levantaram unânimes a voz a Deus e disseram: "Senhor, vós que fizestes o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há. 
25 Vós que, pelo Espírito Santo, pela boca de nosso pai Davi, vosso servo, dissestes: ´Por que se agitam as nações, e imaginam os povos coisas vãs? 
26 Levantam-se os reis da terra, e os príncipes se reúnem em conselho contra o Senhor e contra o seu Cristo.´ 
27 Pois na verdade se uniram nesta cidade contra o vosso santo servo Jesus, que ungistes, Herodes e Pôncio Pilatos com as nações e com o povo de Israel, 
28 para executarem o que a vossa mão e o vosso conselho predeterminaram que se fizesse. 
29 Agora, pois, Senhor, olhai para as suas ameaças e concedei aos vossos servos que com todo o desassombro anunciem a vossa palavra. 
30 Estendei a vossa mão para que se realizem curas, milagres e prodígios pelo nome de Jesus, vosso santo servo!" 
31 Mal acabavam de rezar, tremeu o lugar onde estavam reunidos. E todos ficaram cheios do Espírito Santo e anunciaram com intrepidez a palavra de Deus. 

Salmo responsorial 2
Felizes hão de ser todos aqueles 
que põem sua esperança no Senhor.
Por que os povos agitados se revoltam? 
Por que tramam as nações projetos vãos? 
Por que os reis de toda a terra se reúnem, 
e conspiram os governos todos juntos 
contra o Deus onipotente e seu ungido? 
"Vamos quebrar suas correntes", dizem eles, 
"e lançar longe de nós o seu domínio!"
Ri-se deles o que mora lá nos céus; 
zomba deles o Senhor onipotente. 
Ele, então, em sua ira os ameaça 
e em seu furor faz tremer, quando lhes diz: 
"Fui eu mesmo que escolhi este meu rei 
e em Sião, meu monte santo, o consagrei!"
O decreto do Senhor promulgarei, 
foi assim que me falou o Senhor Deus: 
"Tu és meu filho, e eu hoje te gerei! 
Podes pedir-me, e em resposta eu te darei, 
por tua herança, os povos todos e as nações, 
e há de ser a terra inteira o teu domínio. 
Com cetro férreo haverás de dominá-los 
e quebrá-los como um vaso de argila!"

Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia. 
Se com cristo ressurgistes, procurai o que é do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus Pai (Cl 3,1).

Evangelho (João 3,1-8)
3 1 Havia um homem entre os fariseus, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus. 
2 Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: "Rabi, sabemos que és um Mestre vindo de Deus. Ninguém pode fazer esses milagres que fazes, se Deus não estiver com ele". 
3 Jesus replicou-lhe: "Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer de novo não poderá ver o Reino de Deus".
4 Nicodemos perguntou-lhe: "Como pode um homem renascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e nascer pela segunda vez?" 
5 Respondeu Jesus: "Em verdade, em verdade te digo: quem não renascer da água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus. 
6 O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do Espírito é espírito. 
7 Não te maravilhes de que eu te tenha dito: ´Necessário vos é nascer de novo´. 
8 O vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito". 

COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "Nicodemos entrou na Catequese..."
Gosto de Nicodemos pois ele era um homem de grande importância entre os Judeus, pessoa da mais alta reputação, que representava toda a tradição de Israel. Sentiu-se atraído por Jesus, ouvia falar de seus milagres, de suas palavras e ensinamentos e começou a admirá-lo, quis entrar na catequese para aprender mais e foi á noite, porque receava ser descoberto pelos irmãos do Judaísmo, afinal tinha um nome a zelar...
Está certo que só isso já é razão para criticá-lo e dizer que hoje em dia tem muitos cristãos como ele, que têm medo e vergonha de professar a sua Fé. Mas temos que olhar o outro lado da questão, com medo ou não, Nicodemos começou naquela noite a abrir a sua vida e o seu coração para que Jesus entrasse.
Começou a aula dizendo que sabia quem era Jesus, mas demonstrava claramente o desejo de saber ainda mais, olha que bonita confissão de Fé "Rabi sabemos que és um Mestre vindo de Deus, pois ninguém pode fazer esses milagres que fazes se Deus não estiver com ele". Jesus como um bom catequista aproveita o entusiasmo e a abertura do novo catequizando e aprofunda a lição explicando que quem quiser entrar no Reino de Deus precisa nascer de novo...
Nicodemos era um aluno novo, recém, iniciado na Fé e não compreendendo o ensinamento não teve vergonha de colocar a sua dúvida. A verdadeira catequese é sempre dialogante, e quer levar o catequizando a fazer uma experiência profunda com Jesus. E Jesus retoma pacientemente a lição afirmando que se trata de um nascimento espiritual e não carnal, trata-se de uma Vida Nova que vem com o Batismo, dado pelo Espírito Santo que é a Força de Deus e, portanto, não dá para se manipular. Vem e vai, sopra onde quer, como vento, e o homem sente a sua ação, mas não consegue detê-lo ou controlá-lo. A iniciativa é totalmente de Deus.
Jesus na verdade está dizendo que, aquele que se abre á graça de Deus, permite que nele tenha início o processo de algo novo que ninguém conseguirá impedir que aconteça.
Nicodemos tinha tudo para ser como os outros e odiar a Jesus de Nazaré rejeitando sua pessoa, seu ensinamento e suas obras para condená-lo á morte, entretanto, naquela noite na primeira aula de catequese algo mudou dentro dele.
Vamos encontrá-lo no enterro de Jesus, junto com José de Arimatéia, agora na qualidade de discípulo porque mantendo a abertura para a Graça de Deus dada em Jesus, ele encontrara finalmente a Verdade e ela o libertou... Mas este processo não foi da noite para o dia, Nicodemos foi um bom catequizando...
2. Nascer de novo
Em João, este diálogo com Nicodemos acontece durante a primeira visita de Jesus a Jerusalém, depois da expulsão dos comerciantes do Templo. Os sinais feitos por Jesus despertaram a fé em muitos. Jesus percebia que era uma fé superficial, misto de curiosidade e sinceridade.
Nicodemos representa o grupo dos fariseus. Encontra-se com Jesus, furtivamente, à noite. Reconhece que Deus está com Jesus, mas está apegado à expectativa do messias glorioso. Sua formação legalista não lhe permite entender a mensagem de Jesus, em sua linguagem simbólica. Não compreende o que é nascer do alto, nascer da água e do Espírito. Em lugar da rigidez da Lei carnal, é o Espírito que a todos conduz.
O nascimento do alto, a acolhida e a docilidade ao Espírito de amor completam a criação do homem e da mulher.
Oração
Pai, faze-me nascer de novo e renovar minha condição de discípulo de Jesus, totalmente confiado em ti, a serviço da construção do teu Reino.
3. NASCER DE NOVO
Várias eram as interpretações sobre a identidade de Jesus. Este chefe dos judeus, Nicodemos, o considera um "rabi". Os rabis eram mestres da Lei que ensinavam a sua estrita observância, pela qual se antecipariam os tempos apocalípticos da manifestação da glória de Israel. Diante do engano de Nicodemos, Jesus, com sutileza, lhe apresenta o caminho da conversão: o nascer do alto. É a proposta da substituição da Lei pelo Espírito. Nicodemos, que representa a doutrina judaica, não o entende. O nascer do Espírito é a perfeição da criação, confere à carne o dom da eternidade e aos homens e mulheres, a filiação divina. A ação vivificante do Espírito não está atrelada a nenhum sistema religioso ou legal. O Espírito é livre, sopra onde quer, e assim também quem nasce do Espírito. 
Liturgia da Terça-Feira 
II SEMANA DA PÁSCOA
(BRANCO – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Alegremo-nos, exultemos e demos glória a Deus, porque o Senhor todo-poderoso tomou posse do seu reino, aleluia! (Ap 19,7.6)
Leitura (Atos 4,32-37)
Leitura dos Atos dos Apóstolos.
32 A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuía, mas tudo entre eles era comum. 
33 Com grande coragem os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus. Em todos eles era grande a graça. 
34 Nem havia entre eles nenhum necessitado, porque todos os que possuíam terras e casas vendiam-nas, 
35 e traziam o preço do que tinham vendido e depositavam-no aos pés dos apóstolos. Repartia-se então a cada um deles conforme a sua necessidade. 
36 Assim José (a quem os apóstolos deram o sobrenome de Barnabé que quer dizer Filho da Consolação), levita natural de Chipre, possuía um campo. 
37 Vendeu-o e trouxe o valor dele e depositou aos pés dos apóstolos. 

Salmo responsorial 92/93
Reina o Senhor, revestiu-se de esplendor.
Deus é rei e se vestiu de majestade, 
revestiu-se de poder e de esplendor!
Vós firmastes o universo inabalável, 
vós firmastes vosso trono desde a origem, 
desde sempre, ó Senhor, vós existis!
Verdadeiros são os vossos testemunhos, 
refulge a santidade em vossa casa 
pelos séculos dos séculos, Senhor!
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia. 
O Filho do homem há de ser levantado, para que quem crer possua a vida eterna (Jo 3,14s).

Evangelho (João 3,7-15)
7 Disse Jesus a Nicodemos: Não te maravilhes de que eu te tenha dito: Necessário vos é nascer de novo. 
8 O vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito. 
9 Replicou Nicodemos: Como se pode fazer isso? 
10 Disse Jesus: És doutor em Israel e ignoras estas coisas!... 
11 Em verdade, em verdade te digo: dizemos o que sabemos e damos testemunho do que vimos, mas não recebeis o nosso testemunho. 
12 Se vos tenho falado das coisas terrenas e não me credes, como crereis se vos falar das celestiais? 
13 Ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu, o Filho do Homem que está no céu. 
14 Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim deve ser levantado o Filho do Homem, 
15 para que todo homem que nele crer tenha a vida eterna. 


COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "Ainda sobre Nicodemos, um catequizando persistente..."
Muitos catequizandos e catequizandas desistem no meio do caminho, porque descobrem que a catequese não é um amontoado de conceitos religiosos e doutrinais, no decorrer dos encontros e com o passar dos dias percebem que a Palavra de Deus ali ensinada os obriga a rever sua vida e a abrir-se para um modo novo de viver, mudando algumas coisas. Daí muitos acabam desistindo, às vezes frequentam até o fim, mas logo após a Crisma somem das Comunidades...
Nicodemos não é desses, percebeu que a coisa era mais séria do que pensava, ele era um Doutor em Israel, como disse o próprio Jesus, mas não teve medo de demonstrar sua falta de conhecimento em relação às coisas profundas que Jesus lhe dizia. Acostumado a pensar e a se relacionar com o Deus da Aliança, através dos ritos, holocaustos no templo e o seguimento da Lei de Moisés, Nicodemos aprende que o importante é a Fé no Filho do Homem que é Jesus.
Jesus por seu lado, não foi arrogante, mas paciencioso, de maneira sábia e prudente, como deve ser um catequista, entrou no mundo de Nicodemos, tomando como exemplo alguém que ele admirava e lhe era de extrema importância em sua crença Judaica. Acho que foi naquele momento que Jesus conquistou o coração de Nicodemos, quando falou de Moisés, que levantou a serpente de bronze no deserto, bastando que quem tivesse sido picado pelas serpentes venenosas, olhasse para ela e já estaria salvo. Basta um olhar de Fé para Jesus e a salvação acontecerá na vida dá passos e ela passará a ter a Vida Eterna...
Com isso Jesus não fica só na teoria, mas esclarece que a Salvação é um processo dinâmico, todos os dias, nas mais diferentes situações, movidos pelo Espírito Santo, em nossas ações manifestamos nossa Fé e adesão a Jesus Cristo e vamos sendo curados de nossas dores e pecados, vamos morrendo com ele mas também ressuscitando...
É isso que significa nascer de novo, um fato que agora já era luz e certeza no coração daquele catequizando...
2. Traços de uma catequese batismal
Neste texto do evangelho temos a continuidade do diálogo de Jesus com Nicodemos. Pode-se pensar que o evangelista João, ao fazer sua narrativa, com as expressões: "nascer da água", "nascer do alto" e "nascer do espírito", faz uma alusão ao batismo. Percebem-se aí traços de uma catequese batismal. É o batismo de João, na água, assumido pelo Espírito, em Jesus. O Espírito sopra onde quer e as comunidades cristãs vão surgindo livres de critérios de raça ou tradição.
Nicodemos só entende a letra nas Escrituras e manifesta incompreensão do testemunho de Jesus, que fala do que conhece e do que viu "no céu". Não se abre à inspiração do Espírito. Jesus dá por encerrado o diálogo.
Na parte final do texto, com uma construção literária diferente do diálogo, João passa a esclarecer o caráter celestial de Jesus. Quem olhasse a serpente de bronze levantada por Moisés, não morreria das picadas venenosas. Assim, pela fé em Jesus, que vivendo a plenitude do amor foi levantado na cruz, alcança-se a vida eterna.
Oração
Pai, lança-me, cada dia, na aventura do Espírito, que me tira do comodismo e do abatimento e me faz superar meus próprios limites.
3. ALUSÃO AO BATISMO
Continua o diálogo de Jesus com Nicodemos, o qual exprime o impasse entre a incredulidade da sinagoga e a fé das comunidades cristãs no tempo de João. O nascer da água e do espírito é uma alusão ao batismo. Podemos ver aí traços de uma catequese batismal. É o batismo de João, na água, assumido pelo Espírito, em Jesus. O Espírito sopra onde quer e as comunidades cristãs vão surgindo livres de critérios de raça ou tradição.
Nicodemos só entende a letra nas Escrituras. Não se abre à inspiração do Espírito e não aceita o testemunho de Jesus, que fala do que conhece e viu "no céu". Com uma construção literária diferente do diálogo, o Evangelho de João passa a esclarecer o caráter celestial de Jesus. Quem olhasse a serpente de bronze levantada por Moisés não morreria das picadas das serpentes. Assim a fé no Filho do Homem exaltado na cruz leva à vida eterna.
Liturgia da Quarta-Feira 
II SEMANA DA PÁSCOA
(BRANCO – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Senhor, eu vos louvarei entre os povos, anunciarei vosso nome aos meus irmãos, aleluia! (Sl 17,50;21,23)
Leitura (Atos 5,17-26)
Leitura dos Atos dos Apóstolos.
5 17 Levantaram-se então os sumos sacerdotes e seus partidários (isto é, a seita dos saduceus) cheios de inveja, 
18 e deitaram as mãos nos apóstolos e meteram-nos na cadeia pública. 
19 Mas um anjo do Senhor abriu de noite as portas do cárcere e, conduzindo-os para fora, disse-lhes: 
20 "Ide e apresentai-vos no templo e pregai ao povo as palavras desta vida". 
21 Obedecendo a essa ordem, eles entraram ao amanhecer, no templo, e puseram-se a ensinar. Enquanto isso, o sumo sacerdote e os seus partidários reuniram-se e convocaram o Grande Conselho e todos os anciãos de Israel, e mandaram trazer os apóstolos do cárcere. 
22 Dirigiram-se para lá os guardas, mas ao abrirem o cárcere, não os encontraram, e voltaram a informar: 
23 "Achamos o cárcere fechado com toda segurança e os guardas de pé diante das portas, e, no entanto, abrindo-as, não achamos ninguém lá dentro". 
24 A essa notícia, os sumos sacerdotes e o chefe do templo ficaram perplexos e indagaram entre si sobre o que significava isso. 
25 Mas, nesse momento, alguém transmitiu-lhes esta notícia: "Aqueles homens que metestes no cárcere estão no templo ensinando o povo!" 
26 Foi então o comandante do templo com seus guardas e trouxe-os sem violência, porque temiam ser apedrejados pelo povo. 

Salmo responsorial 33/34
Este infeliz gritou a Deus e foi ouvido.
Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo, 
seu louvor estará sempre em minha boca. 
Minha alma se gloria no Senhor; 
que ouçam os humildes e se alegrem!
Comigo engrandecei ao Senhor Deus, 
exaltemos todos juntos o seu nome! 
Todas as vezes que o busquei, ele me ouviu 
e de todos os temores me livrou.
Contemplai a sua face e alegrai-vos, 
e vosso rosto não se cubra de vergonha! 
Este infeliz gritou a Deus e foi ouvido, 
e o Senhor o libertou de toda angústia.
O anjo do Senhor vem acampar 
ao redor dos que o temem e os salva. 
Provai e vede quão suave é o Senhor! 
Feliz o homem que tem nele o seu refúgio!
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia. 
Deus o mundo tanto amou, que lhe deu seu próprio Filho, para que todo o que nele crer encontre vida eterna (Jo 3,16).

Evangelho (João 3,16-21)
3 16 Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna. 
17 Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele. 
18 Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado; por que não crê no nome do Filho único de Deus. 
19 Ora, este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a luz, pois as suas obras eram más. 
20 Porquanto todo aquele que faz o mal odeia a luz e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. 
21 Mas aquele que pratica a verdade, vem para a luz. Torna-se assim claro que as suas obras são feitas em Deus. 

COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "A Vocação para o amor... Essência da Vida Humana"
Todo Ser humano deve abrir-se para esta vocação comum a que foi chamado por Deus para essa existência. O sentido da Vida do homem está no amor. Portanto, Jesus, o Filho de Deus não veio para "forçar a barra" obrigando o homem a reconhecer a Deus. O ato de amor supremo que Deus manifestou no seu Filho Jesus é um convite para o homem olhar para si mesmo, sua vocação a viver um amor da plenitude, olhando para Jesus e o conhecendo melhor, o Ser humano olha para si mesmo e se reconhece como imagem e semelhança de Deus, com uma vocação natural para o amor. Crer em Jesus não é um projetar-se para fora, mas para dentro, não o aceitá-lo, não acreditar Nele é contrariar a própria natureza humana, é tirar de si mesmo a Dignidade própria de ser também Filhos de Deus e portanto, irmãos no Senhor.
O homem está inserido dentro de Deus, Ele é a realidade que nos envolve, estamos no útero de Deus, sendo gestados nesta vida para a Plenitude a que Deus nos criou e nos predestinou e que não é um mundo estranho, pois Jesus, que tem em si esses dois mundos e as duas naturezas, a Humana e a Divina, veio até nós e está entre nós. Jesus, Nosso Deus e Senhor, é o Elo com tudo o que somos realmente, segundo o Desígnio Divino.
Por esta razão no evangelho de hoje Jesus nos é apresentado como o Fiel da Balança, o sentido da Vida, a nossa realização como pessoa, depende da nossa Crença Nele, e quem não crer em Jesus já está condenado, a viver uma existência sem nenhuma perspectiva, onde é proibido sonhar com algo de promissor em uma outra Vida, quem não crer em Jesus está negando a Vocação natural para o amor que impulsiona a Vida.
E a Vida de quem não crê, perde então o seu sentido verdadeiro, as dúvidas e incertezas são constantes, muda-se a todo o momento de caminho e no final da jornada descobre-se horrorizado que todos os caminhos percorridos pela mera razão, não conduziram a lugar nenhum. Por isso João contrapõe Luz e Trevas, pois quem descobriu o sentido da Vida que está em Cristo, encontrou respostas para mil perguntas sobre a existência humana, encontrou, portanto a Luz da Verdade que iluminará suas decisões e irá requalificar todas suas obras tornando-as obras da Luz.
Cada dia, cada hora e cada momento desta vida, é uma oportunidade valiosa que Deus nos concede para fazermos essa descoberta. Essa possibilidade termina com a morte biológica, quando devemos estar prontos para plenificar a nossa existência e seguir em frente...
2. Em Jesus o Pai manisfesta seu amor
A revelação de Jesus, na continuidade do diálogo com Nicodemos, atinge seu auge nesta sua conclusão. Deus amou tanto o mundo que deu seu Filho, enviando-o pela sua concepção no ventre de Maria, na encarnação. O novo Adão, Jesus, já é a realidade da nova humanidade: é o homem que, na condição de Filho de Deus, já é divino e eterno.
O fruto do amor não é a condenação, mas a salvação, que é realizada por Deus, com o dom gratuito da vida eterna, e alcançada pela fé. Jesus, a luz do mundo, vem como dom e prova do amor de Deus. Sua glória, que é a glória do Pai, é a comunicação deste amor.
Contudo, afastam-se da luz aqueles que amam as trevas. Estes, escravos da riqueza e do poder, praticam a injustiça e a violência, promovem a guerra, semeando a miséria e a morte.
Entram em comunhão de vida eterna com Jesus todos aqueles que praticam a verdade e a justiça, empenhados na promoção da vida plena para todos.
Oração
Senhor Jesus, conduze-me sempre pelos caminhos da vida. E ensina-me a ser grato ao Pai por seu grande amor à humanidade.
3. CRER EM JESUS
João
, ao longo de seu Evangelho, retoma e aprofunda os temas anunciados no Prólogo (1,1-18). A encarnação é fruto do amor de Deus ao mundo. E este amor consiste em conceder a vida eterna a quem crer em Jesus. Em oposição à Lei que fixa o pecado e condena, Jesus vem para libertar e dar vida. Crer nele é converter-se. A adesão de fé a Jesus e a conversão resultam do acolher o seu testemunho e as suas palavras. Ele é a luz do mundo. Após anunciar a luz no Prólogo, João o repete com insistência em seu Evangelho. A luz é a transparência, a compreensão, a verdade e o bem que geram a vida. As trevas são as ambigüidades, o engodo, a mentira e o mal que procuram sufocar a vida. Quem se recusa a sair das trevas para caminhar na luz vai tendo sua própria vida sufocada. Porém, a luz tem o poder de invadir as trevas. Assim também Jesus, com seu amor, invade os corações e os atrai para si.
 
Liturgia da Quinta-Feira 
II SEMANA DA PÁSCOA
(BRANCO – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Ó Deus, quando saístes à frente do vosso povo, abrindo-lhe o caminho e habitando entre eles, a terra estremeceu, fundiram-se os céus, aleluia! (Sl 67,8s.20)
Leitura (Atos 5,27-33)
Leitura dos Atos dos Apóstolos.
Naqueles dias, 5 27 trouxeram-nos e os introduziram no Grande Conselho, onde o sumo sacerdote os interrogou, dizendo: 
28 "Expressamente vos ordenamos que não ensinásseis nesse nome. Não obstante isso, tendes enchido Jerusalém de vossa doutrina! Quereis fazer recair sobre nós o sangue deste homem!" 
29 Pedro e os apóstolos replicaram: "Importa obedecer antes a Deus do que aos homens. 
30 O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, que vós matastes, suspendendo-o num madeiro. 
31 Deus elevou-o pela mão direita como Príncipe e Salvador, a fim de dar a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados. 
32 Deste fato nós somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus deu a todos aqueles que lhe obedecem". 
33 Ao ouvirem essas palavras, enfureceram-se e resolveram matá-los. 

Salmo responsorial 33/34
Este infeliz gritou a Deus e foi ouvido.
Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo, 
seu louvor estará sempre em minha boca. 
Provai e vede quão suave é o Senhor! 
Feliz o homem que tem nele o seu refúgio!
Ma ele volta a sua face contra os maus 
para da terra apagar sua lembrança. 
Clamam os justos, e o Senhor bondoso escuta 
e de todas as angústias os liberta.
Do coração atribulado ele está perto 
e conforta os de espírito abatido. 
Muitos males se abatem sobre os justos, 
mas o Senhor de todos eles os liberta.
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia. 
Acreditaste, Tomé, porque me viste. Felizes os que crêem sem ter visto (Jo 20,29).

EVANGELHO
 (Lucas 24,35-48)
3 31 "Aquele que vem de cima é superior a todos. Aquele que vem da terra é terreno e fala de coisas terrenas. Aquele que vem do céu é superior a todos. 
32 Ele testemunha as coisas que viu e ouviu, mas ninguém recebe o seu testemunho. 
33 Aquele que recebe o seu testemunho confirma que Deus é verdadeiro. 
34 Com efeito, aquele que Deus enviou fala a linguagem de Deus, porque ele concede o Espírito sem medidas. 
35 O Pai ama o Filho e confiou-lhe todas as coisas. 
36 Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; quem não crê no Filho não verá a vida, mas sobre ele pesa a ira de Deus". 


COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "Fé, um Elo com aquilo que somos de fato..."
Há pessoas que acham que esse negócio de Fé, é apenas mais uma opção de vida, uma questão de opinião, e nesse caso trata-se de algo que não é essencial e ter ou não ter, não faz nenhuma diferença. Na verdade quem pensa dessa forma comete um equívoco terrível e que no final da história será desastroso. Não porque Deus irá castigar quem não têm Fé, mas porque a Fé é esse Elo com aquilo que realmente nós somos e não tê-la assume-se o risco de viver a esmo sem saber para onde estamos caminhando...
Faltando-lhe a Fé o homem tenta se apoiar em ideologias humanas, Filosofias de Vida, racionalismo e tudo mais que lhe apresente um sentido para o existir. Acontece que todas essas coisas até ajudam, mas haverá um momento em nossa vida, que nenhuma delas  dará resposta aos nossos anseios.
Tudo que o homem vai desvendando á Luz da ciência vai também perdendo seu encanto e nada há neste mundo que não possa ser explicado, entretanto, a Fé implica no Mistério de Deus e esse será sempre inacessível a quem não crê. Neste evangelho Jesus fala em coisas opostas para explicar que realmente são coisas diferentes, porém interligadas pela Fé. Aquele que vem da Terra e aquele que vem do Céu... Falam de coisas diferentes, e o conhecimento humano nunca conseguirá abarcar a Fé, mas esta consegue envolver o conhecimento humano, aprimorá-lo e conduzi-lo além, pois quando há da parte do homem essa abertura necessária, Deus se permite encontrar e se Revela.
Jesus Cristo seu Filho foi quem iniciou essa experiência, Ele é de fato Aquele que veio do Céu, que nos trouxe as coisas do céu falando abertamente sobre elas, mas por outro lado se encarnou entre nós tornando-se, portanto, um de nós, e sendo também aquele que veio da terra e por isso o seu testemunho é autêntico e verdadeiro, porque veio de cima, mas fala a nossa linguagem, sendo um de nós.
Na verdade a chave da Vida está em Jesus Cristo, só Nele chegaremos a compreensão de quem somos, de onde viemos e para onde caminhamos, pois o Pai confiou-lhe todas as coisas, inclusive a Vida de cada homem e cada mulher. Por isso quem Nele crer se apossará dessa chave que permitirá abrir a porta que se abre para um Novo Horizonte, nunca dantes imaginado pelo Homem. Mas todo ato de Fé deve sempre partir da Liberdade humana, prova de que Deus nos ama, porque nos permite escolher e tomar decisões, ainda que sejam contrárias ao seu desígnio, claro que daí o homem tem de arcar com as consequências, se decidir descartar definitivamente a Fé de sua Vida.
2. Originalidade e a autenticidade do testemunho de Jesus
Embora o evangelho de João tenha, aproximadamente, a mesma extensão que o de Mateus e de Lucas, o seu vocabulário é bem menor do que o destes dois evangelhos. Isto porque João costuma repetir as palavras-chave, com retomadas dos temas fundamentais. João o faz com didática e harmonia, a fim de aprofundar estes temas. 

No evangelho de hoje, João, a partir das oposições céu e terra, crer e não crer, afirma a originalidade e a autenticidade do testemunho de Jesus em revelar a Boa-Nova de Deus. Aquele que vem do céu, Jesus, foi enviado para anunciar as palavras de Deus e dar o espírito sem medida. Ele está acima de todos. Quem é da terra, sejam profetas, discípulos ou adversários, só entende segundo suas tradições terrenas. Jesus, enviado por Deus, fala das coisas do céu. Porém, ele dá o espírito sem medida, que inspira a fé e a compreensão das coisas do alto. O auge da revelação é o dom da vida eterna a todo aquele que crê em Jesus, Filho de Deus. E a vida eterna é conhecer a Deus (Jo 17,3), no amor fraterno vivido na comunidade acolhedora e aberta ao mundo.
Oração
Pai, faze-me dócil e acolhedor diante do testemunho de Jesus que nos revela a tua Palavra, empenhando-me a levar cada ser humano a entrar em profunda comunhão contigo.
3. A BOA NOVA DE DEUS
O Evangelho de João, de maneira admirável, une a didática, a poética e o simbolismo. Recorrendo freqüentemente à repetição dos temas e palavras-chave principais da revelação de Jesus, seu Evangelho apresenta um vocabulário bem mais reduzido do que os Evangelhos sinóticos.
Neste texto de hoje, a partir das oposições céu e terra, crer e não crer, são afirmadas a originalidade e a autenticidade do testemunho de Jesus em revelar a Boa-Nova de Deus. Aquele que vem do céu, Jesus, foi enviado para anunciar as palavras de Deus e dar o espírito sem medida. Ele está acima de todos. Quem é da terra, sejam profetas, discípulos ou adversários, só entende segundo suas tradições terrenas.
Jesus, enviado por Deus, fala das coisas do céu. Porém, ele dá o espírito sem medida, que inspira a fé e a compreensão das coisas do alto. O auge da revelação é o dom da vida eterna a todo aquele que crê em Jesus, Filho de Deus. E a vida eterna é conhecer a Deus (17,3), no amor fraterno vivido em comunidade, na missão de resgatar a vida e a dignidade humana no mundo.
Liturgia da Sexta-Feira 
II SEMANA DA PÁSCOA
(BRANCO – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Vós nos resgatastes, Senhor, pelo vosso sangue, de todas as raças, línguas, povos e nações e fizestes de nós um reino e sacerdotes para o nosso Deus, aleluia! (Ap 5,9s)
Leitura (Atos 5,34-42)
Leitura dos Atos dos Apóstolos.
Naqueles dias, 34 levantou-se, porém, um membro do Grande Conselho. Era Gamaliel, um fariseu, doutor da lei, respeitado por todo o povo. 
35 Mandou que se retirassem aqueles homens por um momento, e então lhes disse: "Homens de Israel, considerai bem o que ides fazer com estes homens. 
36 Faz algum tempo apareceu um certo Teudas, que se considerava um grande homem. A ele se associaram cerca de quatrocentos homens: foi morto e todos os seus partidários foram dispersados e reduzidos a nada. 
37 Depois deste, levantou-se Judas, o galileu, nos dias do recenseamento, e arrastou o povo consigo, mas também ele pereceu e todos quantos o seguiam foram dispersados. 
38 Agora, pois, eu vos aconselho: não vos metais com estes homens. Deixai-os! Se o seu projeto ou a sua obra provém de homens, por si mesma se destruirá; 
39 mas se provier de Deus, não podereis desfazê-la. Vós vos arriscaríeis a entrar em luta contra o próprio Deus". Aceitaram o seu conselho. 
40 Chamaram os apóstolos e mandaram açoitá-los. Ordenaram-lhes então que não pregassem mais em nome de Jesus, e os soltaram. 
41 Eles saíram da sala do Grande Conselho, cheios de alegria, por terem sido achados dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus. 
42 E todos os dias não cessavam de ensinar e de pregar o Evangelho de Jesus Cristo no templo e pelas casas. .

Salmo responsorial 26/27
Ao Senhor eu peço apenas uma coisa: 
habitar no santuário do Senhor.
O Senhor é minha luz e salvação; 
de quem eu terei medo? 
O Senhor é a proteção da minha vida; 
perante quem eu tremerei?
Ao Senhor eu peço apenas uma coisa 
e é só isto que eu desejo: 
habitar no santuário do Senhor 
por toda a minha vida; 
saborear a suavidade do Senhor 
e contemplá-lo no seu templo.
Sei que a bondade do Senhor eu hei de ver 
na terra dos viventes. 
Espera no Senhor e tem coragem, 
espera no Senhor!
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia. 
O homem não vive somente de pão, mas de toda palavra da boca de Deus (Mt 4,4)

EVANGELHO (João 6,1-15)
6 1 Depois disso, atravessou Jesus o lago da Galiléia (que é o de Tiberíades.) 
2 Seguia-o uma grande multidão, porque via os milagres que fazia em beneficio dos enfermos. 
3 Jesus subiu a um monte e ali se sentou com seus discípulos. 
4 Aproximava-se a Páscoa, festa dos judeus. 
5 Jesus levantou os olhos sobre aquela grande multidão que vinha ter com ele e disse a Filipe: "Onde compraremos pão para que todos estes tenham o que comer?" 
6 Falava assim para o experimentar, pois bem sabia o que havia de fazer. 
7 Filipe respondeu-lhe: "Duzentos denários de pão não lhes bastam, para que cada um receba um pedaço". 
8 Um dos seus discípulos, chamado André, irmão de Simão Pedro, disse-lhe: 
9 "Está aqui um menino que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas que é isto para tanta gente?" 
10 Disse Jesus: "Fazei-os assentar". Ora, havia naquele lugar muita relva. Sentaram-se aqueles homens em número de uns cinco mil. 
11 Jesus tomou os pães e rendeu graças. Em seguida, distribuiu-os às pessoas que estavam sentadas, e igualmente dos peixes lhes deu quanto queriam. 
12 Estando eles saciados, disse aos discípulos: "Recolhei os pedaços que sobraram, para que nada se perca". 
13 Eles os recolheram e, dos pedaços dos cinco pães de cevada que sobraram, encheram doze cestos. 
14 À vista desse milagre de Jesus, aquela gente dizia: "Este é verdadeiramente o profeta que há de vir ao mundo". 
15 Jesus, percebendo que queriam arrebatá-lo e fazê-lo rei, tornou a retirar-se sozinho para o monte. 


COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "UM MENINO, CINCO PÃES E DOIS PEIXES..."
Se reescrevêssemos esse evangelho na pós-modernidade, iríamos dizer que a comunidade estava em um retiro e precisava providenciar alimentação para todos, e daí alguém ligou para um comerciante católico muito rico e ele mandou um caminhão Baú com alimentação para todos e ainda sobrou um monte que foi dado às instituições assistenciais. Os grandes encontros e os grandes empreendimentos humanos requerem grande quantidade para suprir a necessidade do evento.
Claro que nesta versão moderna da multiplicação dos pães, deve-se louvar e agradecer a Deus por pessoas ricas, porém generosas, e são muitas, que ajudam de todas as formas nossas comunidades levando o sentido da partilha ao pé da letra. Mas a lógica do evangelho, fundamentada na Eucaristia não é essa. Os pobres são bem aventurados justamente porque eles também têm algo a dar para o Reino, ainda que seja pouco e até insignificante, como os cinco pães e dois peixinhos do evangelho.
João relata algo diferente, uma grande multidão com fome, os organizadores do encontro preocupadíssimos com o lanche, e de repente um menino cede o seu lanche (tenho minhas dúvidas, não sei se o menino cedeu ou se um dos discípulos o "requisitou"), o fato é, que era uma quantidade irrisória perto da necessidade da multidão. Voltemos ao menino anônimo para uma observação importante, digamos que ele não queria ceder, não porque fosse egoísta, mas porque sabia que o seu pouquinho não iria resolver a situação. Eis aí o grande problema de se viver em comunidade, quem não acredita no pouco é porque não confia em Deus e prefere a lógica do mundo onde, só quem tem muito pode e deve dar alguma coisa.
Lembro-me de minha primeira comunidade em um Bairro pobre, lá pelos idos de 70, quando era ministro da Palavra itinerante. Uma semana antes o padre me apresentou à comunidade em uma Festa do Padroeiro e tinha gente que não acabava mais, a capelinha parecia caixa de fósforo perto da multidão que estava na quermesse, a missa teve de ser campal... Esfreguei as mãos de contentamento...
No domingo seguinte, faltando dez minutos para as 17 horas lá estava eu e mais quatro pessoas a espera do início da celebração. Deu-me um desânimo tão grande que quase desisti. Daí chegou mais duas pessoas, uma delas a Dona Maria, uma Senhora Negra, bem simplezinha e pobrezinha, mas a quem devo a minha perseverança naquela comunidade. Começamos a celebração e o vento apagou as velas do altar, foi três ou quatro vezes e em todas elas a Dona Maria levantava, saía do seu lugarzinho e vinha acender as velas...
No final da celebração ela disse que naquela semana iria de casa em casa convidar as pessoas a vir participar da celebração no domingo seguinte. Fiquei depois sabendo que ela era analfabeta e que tinha um filho alcoólatra de quem levava uma surra de vez em quando. O que poderia se esperar de uma mulher com esse perfil, em uma comunidade pobre de um bairro distante? Nada ou quase nada, nos diz o espírito capitalista, de fato ela não tinha nada a oferecer, tinha sim, mas um pouquinho só: cinco pães e dois peixinhos... Para encurtar a história, Dona Maria foi quem incendiou a comunidade com seu testemunho autêntico, com seu cristianismo devocional. Que mulher de garra e de fibra que eu tive o prazer de tê-la como irmã de caminhada!
Hoje é uma grande comunidade com uma linda igreja no meio do Bairro, sempre lotada e bem participada, mas naqueles primeiros tempos, somente a Dona Maria teve coragem de profetizar "Olha minha gente, um dia seremos uma grande igreja aqui no Bairro, pois a comunidade está começando hoje...". E de fato começou com aquele gesto marcado pela simplicidade, de acender as velas do altar e de convidar as pessoas para a celebração. Naquele momento o seu gesto talvez tenha sido visto como uma ingenuidade, entretanto ali tudo começou a acontecer naquela comunidade.
Jesus ergueu os olhos para o céu e abençoou o lanchinho que o menino ofereceu; como também abençoou a atitude da Dona Maria... E a fome de cinco mil pessoas foi saciada e ainda sobrou... Eis o grande milagre da Eucaristia: em comunhão com Jesus damos o nosso pouquinho, aquele carisma que parece não ser tão importante, ofereça-o à comunidade, e ajude Jesus a fazer o grande milagre que mata a fome do povo, sem precisar de um Patrocinador que banque tudo.
Não tenhamos preconceito com o nosso "pouquinho", pois sem ele não tem como Deus fazer o milagre...
2. Jesus comunica a vida
Por três vezes, em seu evangelho, João menciona "a Páscoa dos judeus". Assim coloca a si próprio e a Jesus fora deste tipo de celebração no Templo de Jerusalém. A Páscoa era a celebração da morte dos egípcios oprimidos pelo faraó e da saída do Egito do povo de Israel, que se considera eleito, para a invasão e o extermínio dos povos de Canaã.
Jesus revela o Deus da vida e do amor. Sempre no meio da multidão, Jesus comunica a vida. João, em seu evangelho, não menciona a partilha do pão por Jesus na última ceia. Este gesto de partilha se realiza neste momento de encontro com a grande multidão na montanha.
A comunhão com Jesus se faz na promoção da vida, com gestos concretos de partilha com os pobres e excluídos: "Eu tive fome e me destes de comer" (Mt 25,35).
Oração
Senhor Jesus, ensina-me a lição da partilha e faze-me pensar sempre em meus irmãos mais necessitados, cuja sobrevivência depende do meu amor.
3. MANDAMENTO DA PARTILHA
No Evangelho de João, na narrativa da última ceia de Jesus em Jerusalém, não há menção à partilha eucarística do pão. A grande ação de Jesus nesta ceia é a de lavar os pés dos discípulos, como exemplo de serviço. O evangelista João apresenta a eucaristia neste episódio da partilha do pão. Ele promove o "pão" da refeição, na "montanha", onde Deus dá os dez mandamentos a Moisés. É o seu novo mandamento, mandamento da partilha, do amor. O personagem central é um menino (paidárion, jovem escravo), com cinco pães de cevada e dois peixes. Jesus dá graças (eukharistésas) pela partilha, e ela acontece a partir dos mais humildes. Somos convidados a viver a eucaristia como partilha concreta da vida.
Liturgia do Sábado 
II SEMANA DA PÁSCOA *
(BRANCO – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Povo resgatado por Deus, proclamai suas maravilhas: ele vos chamou das trevas á sua luz admirável, aleluia! (1Pd 2,9).
Leitura (Atos 6,1-7)
Leitura do livro dos Atos dos Apóstolos.
6 1 Naqueles dias, como crescesse o número dos discípulos, houve queixas dos gregos contra os hebreus, porque as suas viúvas teriam sido negligenciadas na distribuição diária. 
2 Por isso, os Doze convocaram uma reunião dos discípulos e disseram: "Não é razoável que abandonemos a palavra de Deus, para administrar. 
3 Portanto, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais encarregaremos este ofício. 
4 Nós atenderemos sem cessar à oração e ao ministério da palavra". 
5 Este parecer agradou a toda a reunião. Escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo; Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau, prosélito de Antioquia. 
6 Apresentaram-nos aos apóstolos, e estes, orando, impuseram-lhes as mãos. 
7 Divulgou-se sempre mais a palavra de Deus. Multiplicava-se consideravelmente o número dos discípulos em Jerusalém. Também grande número de sacerdotes aderia à fé.

Salmo responsorial 32/33
Sobre nós, Senhor, a vossa graça, 
da mesma forma que em vós nós esperamos!
Ó justos, alegrai-vos no Senhor! 
Aos retos fica bem glorificá-lo. 
Daí graças ao Senhor ao som da harpa, 
na lira de dez cordas celebrai-o!
Pois reta é a palavra do Senhor, 
e tudo o que ele faz merece fé. 
Deus ama o direito e a justiça, 
transborda em toda a terra a sua graça.
O Senhor pousa o olhar sobre os que o temem 
e que confiam, esperando em seu amor, 
para da morte libertar as suas vidas 
e alimentá-los quando é tempo de penúria.
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Ressurgiu Cristo, o Senhor, que criou tudo; ele teve compaixão da humanidade.

Evangelho (João 6,16-21)
6 16 Chegada a tarde, os seus discípulos desceram à margem do lago. 
17 Subindo a uma barca, atravessaram o lago rumo a Cafarnaum. Era já escuro, e Jesus ainda não se tinha reunido a eles. 
18 O mar, entretanto, se agitava, porque soprava um vento rijo. 
19 Tendo eles remado uns vinte e cinco ou trinta estádios, viram Jesus que se aproximava da barca, andando sobre as águas, e ficaram atemorizados. 
20 Mas ele lhes disse: "Sou eu, não temais". 
21 Quiseram recebê-lo na barca, mas pouco depois a barca chegou ao seu destino.


COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "O medo de um novo fracasso"
O evangelho tem como contexto a situação das comunidades no primeiro século do cristianismo e que refletem também os primeiros tempos dos discípulos após a ascensão do Senhor. O medo e a insegurança deles era por causa do acontecimento que desencadeou toda aquela caminhada, a vida de Jesus de Nazaré, seus ensinamentos, suas obras prodigiosas, mas que no final resultaram em fracasso com a morte na cruz. Se antes, caminhando com ele, a história acabou tão mal, agora o risco de um novo fracasso era ainda maior, pois Jesus não estava mais com eles...
Os cristãos do primeiro século olhavam á sua volta e não viam nenhuma perspectiva de que o cristianismo fosse dar certo, de um lado o Império Romano, a cultura grega que exaltava o conhecimento, de outro o Judaísmo e suas raízes. Que futuro teria a comunidade dos seguidores de Jesus de Nazaré?
Hoje se sabe que o cristianismo está entre as maiores religiões do mundo, mas a sociedade não reflete essa realidade, ao contrário, parece que tudo contraria o evangelho e os cristãos veem as forças do mal se fazerem presentes até nas comunidades. Divisões, discórdias, escândalos, cristãos que desistem de viver a Fé e fracassam em sua caminhada. A impressão é que as forças do mal imperam na humanidade e querem engolir a Igreja.
O que pode um frágil barquinho a mercê de ventos fortes e ondas gigantes? O que pode a Igreja de Cristo fazer para mudar os rumos da humanidade? O Evangelho terá poder e força suficiente para reverter esse quadro de tenebrosa escuridão que nossos olhos contemplam?
São inquietações que afligem o coração de todos os discípulos. Entretanto, quando parece que a barca vai à deriva, os homens e mulheres de Fé vislumbram, nos momentos mais críticos, algo que supera todo mal, Jesus acompanha a barca, e tem sob os pés as Forças do Mal, isso é, há bem lá na frente um porto seguro onde a Barca vai chegar. Quando pensamos nessa realidade nova, perceptível à luz da Fé, sentimos medo, mas o Senhor nos tranquiliza "Coragem, sou eu, não temais".
Jesus é o Senhor da História, não é alguém que influenciou a história no passado e que agora deve ser sempre lembrado por seu exemplo, como fazemos com nossos homens ilustres. Jesus está vivo, está vivendo com a Igreja cada momento de sua história, está atento e atuante nas comunidades cristãs, aponta novos rumos e direção a ser seguido, para se chegar à outra margem...
E as comunidades de João, com sua Fé e testemunho de Vida, passaram incólume pelas Forças Tenebrosas do Mal e chegaram até nós, com o mesmo evangelho, o mesmo anúncio. Essa é a prova inequívoca da presença de Jesus em nossa Igreja, são dois milênios de caminhada. O mar não é sereno, nem nunca será, mas as ondas revoltas e a ventania nada podem contra a Igreja, porque Jesus navega conosco...
2. Jesus traz paz
Após a partilha dos pães, Jesus retirou-se sozinho para a montanha. Ele o faz para evitar a euforia do povo que queria fazê-lo rei. Ao anoitecer, os discípulos, por sua vez, descem para a beira-mar. Entram no barco e vão para a direção de Cafarnaum, atravessando de novo o mar.
A barca com os discípulos, no escuro e no mar agitado pelo vento, simboliza a insegurança deles em face da ausência de Jesus. Estão de volta às trevas e à agitação do sistema opressor do qual Jesus procura libertá-los. Até então "Jesus não tinha vindo a eles". Mas Jesus não os abandona no perigo.
Andando sobre as águas, aproxima-se. Jesus vem como o Espírito de Deus que pairava sobre as águas, na criação. Os discípulos, sem entender, temem diante da visão. A identificação de Jesus lhes traz paz. "Sou eu. Não tenhais medo!" Agora, confiantes, querem receber Jesus no barco. Mas, com a simples aproximação de Jesus, eles estão libertados da agitação e do medo, pois o barco atinge a terra firme.
Esta narrativa, em sua simbologia, revela-nos Jesus como aquele que traz a paz e a segurança na comunidade e na missão.
Oração
Pai, em meio às tempestades, faze-me compreender que o Ressuscitado caminha comigo, incentivando-me a não temer e a permanecer firme no rumo traçado por ele.
3. RECONHECENDO O SENHOR
O processo de reconhecimento de Jesus Ressuscitado foi acontecendo em meio a fadigas e dificuldades que a comunidade encontrava em seu caminho de fé. Ao professar a fé no Ressuscitado, os cristãos viam-se questionados de várias formas. O fato mesmo de fazer a salvação depender de quem fora crucificado deixara-os em crise.
Segundo a mentalidade da época, quem morria na cruz, era tido como um amaldiçoado por Deus. Com Jesus teria sido diferente? Ou será que, de fato, Deus o resgatara da morte, restituindo-lhe a vida, de modo a estar sempre junto dos seus? Essas e outras dúvidas persistiam na comunidade de fé, exigindo uma resposta.
A experiência no lago, por ocasião de uma travessia, revela a situação da comunidade. A escuridão da noite, a força do vento e a agitação do mar impediam os discípulos de perceber Jesus se aproximando. Sua figura perdia-se na nebulosidade. Os discípulos tiveram certa dificuldade para superar a situação. Por sua vez, o Mestre os exortou a não temer, pois ele mesmo estava ali, junto deles. "Sou eu; não tenham medo!"- assegurou-lhes, chamando-os à realidade. A certeza desta presença descortinou-lhes um novo horizonte de segurança e de tranqüilidade.
A comunidade de fé reconhece o Ressuscitado, em meio às adversidades da vida. Importa não se deixar abater, pois ele está no meio de nós.
Oração
Espírito de lucidez dissipa as trevas que me impedem de reconhecer a presença do Ressuscitado, junto de mim e da comunidade.




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