segunda-feira, 24 de março de 2014

Liturgia da 03ª semana da Quaresma Ano São Mateus

Segunda 24 de Março de 2014

III SEMANA DA QUARESMA 
Antífona da entrada: Minha alma anseia, até desfalecer, pelos átrios do Senhor; meu coração e minha carne exultam pelo Deus vivo! (Sl 83,3)

Leitura (2 Reis 5,1-15)

Leitura do segundo livro dos Reis. 
5 1 Naamã, general do exército do rei da Síria, gozava de grande prestígio diante de seu amo, e era muito considerado, porque, por meio dele, o Senhor salvou a Síria; era um homem valente, mas leproso. 
2 Ora, tendo os sírios feito uma incursão no território de Israel, levaram consigo uma jovem, a qual ficou a serviço da mulher de Naamã. 
3 Ela disse à sua senhora: “Ah, se meu amo fosse ter com o profeta que reside em Samaria, ele o curaria da lepra!” 
4 Ouvindo isso, Naamã foi e contou ao seu soberano o que dissera a jovem israelita. 
5 O rei da Síria respondeu-lhe: “Vai, que eu enviarei uma carta ao rei de Israel”. Naamã partiu com dez talentos de prata, seis mil siclos de ouro e dez vestes de festa. 
6 Levou ao rei de Israel uma carta concebida nestes termos: “Ao receberes esta carta, saberás que te mando Naamã, meu servo, para que o cures da lepra”. 
7 Tendo lido a missiva, o rei de Israel rasgou as vestes e exclamou: “Sou eu porventura um deus, que possa dar a morte ou a vida, para que esse me mande dizer que cure um homem da lepra? Vede bem que ele anda buscando pretextos contra mim”. 
8 Quando Eliseu, o homem de Deus, soube que o rei tinha rasgado as vestes, mandou-lhe dizer: “Por que rasgaste as tuas vestes? Que ele venha a mim, e saberá que há um profeta em Israel”. 
9 Naamã veio com seu carro e seus cavalos e parou à porta de Eliseu. 
10 Este mandou-lhe dizer por um mensageiro: “Vai, lava-te sete vezes no Jordão e tua carne ficará limpa”. 
11 Naamã se foi, despeitado, dizendo: “Eu pensava que ele viria em pessoa, e, diante de mim, invocaria o Senhor, seu Deus, poria a mão no lugar infetado e me curaria da lepra. 
12 Porventura os rios de Damasco, o Abana e o Farfar, não são melhores que todas as águas de Israel? Não me poderia eu lavar neles e ficar limpo?” E, voltando-se, retirou-se encolerizado. 
13 Mas seus servos, aproximando-se dele, disseram-lhe: “Meu pai, mesmo que o profeta te tivesse ordenado algo difícil, não o deverias fazer? Quanto mais agora que ele te disse: ‘Lava-te e serás curado’”. 
14 Naamã desceu ao Jordão e banhou-se ali sete vezes, como lhe ordenara o homem de Deus, e sua carne tornou-se tenra como a de uma criança. 
15 Voltando então para o homem de Deus, com toda a sua comitiva, entrou, apresentou-se diante dele e disse: “Reconheço que não há outro Deus em toda a terra, senão o de Israel. Aceita este presente do teu servo”. 

Naamaã, homem valente e conceituado, general dos exércitos do rei da Síria, tinha ficado leproso. A lepra, vista como castigo divino, implicava separação, impureza, solidão. Era uma situação humanamente insolúvel, sem esperança. Mas Naamã acolhe a proposta de uma jovem prisioneira israelita, e vai ao encontro do profeta que está na Samaria. O rei da Síria apoia benevolentemente a ideia, que todavia provoca suspeitas no rei de Israel. A tensão entre os dois países é atenuada pela intervenção do profeta Eliseu. Seguindo as suas orientações, tão simples que parecem banais, Naamaã recupera a saúde e dispõe-se a uma profissão de fé no Deus de Israel. Ao lado dos protagonistas do episódio, Naamã, Eliseu e os dois reis, vemos a jovem escrava, o mensageiro e os servos, mediações de que Deus se serve para orientar o curso dos acontecimentos.
O texto apresenta referências à simbologia baptismal, tais como a imersão nas águas, a eficácia da palavra do Deus de Israel, o carácter universal da salvação.
Naaman, pelo contrário, aceita pôr de parte os seus preconceitos. Como pagão, não pretende ter direitos sobre o Deus de Israel. Apenas aceita os bons serviços diplomáticos do rei e se preocupa em captar a boa vontade do rei de Israel, com ricos presentes. O rei de Israel não corresponde às suas expectativas. Intervém o profeta Eliseu, sem qualquer espécie de diplomacia: não sai ao seu encontro para o saudar, acolher convenientemente e proceder aos devidos rituais de cura. Pelo contrário, manda um criado para lhe dizer que vá lavar-se sete vezes no rio Jordão. Uma verdadeira decepção! O poderoso homem da Síria mostra a sua indignação, tal como os nazarenos a mostraram em relação a Jesus! O rei de Israel tinha dito: «Sou eu, porventura, um deus que possa dar a morte ou a vids?». Naaman teve realmente que morrer aos seus preconceitos, às suas certezas e seguranças, para aceitar a iniciativa divina, marcada pela simplicidade. E foi curado: «a sua carne tornou-se como a de uma criança e ficou limpo.

Salmo responsorial 41/42

Minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo:
e quando verei a face de Deus?


Assim como a corça suspira pelas águas correntes,
suspira igualmente minha alma
por vós, ó meu Deus!

A minha alma tem sede de Deus
e deseja o Deus vivo.
Quando terei a alegria de ver
a face de Deus?

Enviai vossa luz, vossa verdade:
elas serão o meu guia;
que me levem ao vosso monte santo,
até a vossa morada!

Então irei aos altares do Senhor,
Deus da minha alegria.
Vosso louvor cantarei ao som da harpa,
meu Senhor e meu Deus!

Evangelho (Lucas 4,24-30)

Jesus Cristo, sois bendito, sois o ungido de Deus Pai!
No Senhor ponho a minha esperança, espero em sua palavra. Pois no Senhor se encontra toda graça e copiosa redenção (Sl 129,5.7).

Vindo a Nazaré, disse Jesus: 4 24 “Em verdade vos digo: nenhum profeta é bem aceito na sua pátria. 
25 Em verdade vos digo: muitas viúvas havia em Israel, no tempo de Elias, quando se fechou o céu por três anos e meio e houve grande fome por toda a terra; 
26 mas a nenhuma delas foi mandado Elias, senão a uma viúva em Sarepta, na Sidônia. 
27 Igualmente havia muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu; mas nenhum deles foi limpo, senão o sírio Naamã”. 
28 A estas palavras, encheram-se todos de cólera na sinagoga. 
29 Levantaram-se e lançaram-no fora da cidade; e conduziram-no até o alto do monte sobre o qual estava construída a sua cidade, e queriam precipitá-lo dali abaixo. 
30 Ele, porém, passou por entre eles e retirou-se. 

A DUREZA DE CORAÇÃO 
A reação dos habitantes de Nazaré, diante da pregação de Jesus, foi de aberta rejeição. Foi tal o desprezo pelas palavras do Mestre, que eles decidiram eliminá-lo lançando-o de um precipício. 
É possível imaginar a decepção de Jesus, diante da rejeição de seus conterrâneos. Ele tentou compreender a situação, rememorando as experiências de profetas do passado que, rejeitados por seu povo, foram bem acolhidos pelos estrangeiros. Assim aconteceu com Elias: num tempo de seca e fome, beneficiou uma mulher estrangeira, da terra dos sidônios. O mesmo sucedeu com Eliseu: curou da lepra um general sírio, ao passo que, em Israel, essa doença vitimava muitas pessoas. 
A conclusão de Jesus foi clara: já que o povo de sua cidade insistia em não lhe dar atenção, ele sentiu-se obrigado a ir em busca de quem estivesse disposto a acolhê-lo. Aos duros de coração, no entanto, só restava o castigo. 
Longe de nós seguirmos o exemplo do povo de Nazaré. Jesus quer encontrar, em nós, abertura para acolhê-lo e disponibilidade para converter-nos. Ninguém é obrigado a aceitar este convite. Entretanto, fechar-se para Jesus significa recusar a proposta de salvação que ele, em nome do Pai, veio nos trazer. 

Oração
Espírito de docilidade, abre meu coração para aceitar o convite à conversão, que Jesus me dirige, em nome do Pai. 

Terça 25 de Março de 2014

ANUNCIAÇÃO DO SENHOR 
Antífona da entrada: Ao entrar no mundo, Cristo disse: Eis-me aqui, ó Pai, para fazer a tua vontade (Hb 10,5.7).

Leitura (Isaías 7,10-14;8,10)

Leitura do livro do profeta Isaías. 
Naqueles dias, 7 10 o Senhor disse ainda a Acaz: 
11 "Pede ao Senhor teu Deus um sinal, seja do fundo da habitação dos mortos, seja lá do alto". 
12 Acaz respondeu: "De maneira alguma! Não quero pôr o Senhor à prova". 
13 Isaías respondeu: "Ouvi, casa de Davi: Não vos basta fatigar a paciência dos homens? Pretendeis cansar também o meu Deus? 
14 Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e o chamará Emanuel, 8 10 porque Deus está conosco".

Acaz, rei de Jerusalém, vê vacilar o seu trono devido à aproximação de exércitos inimigos. A sua primeira reação é entrar numa política de alianças humanas. Isaías, pelo contrário, propõe a resolução do problema pela confiança em Deus. Convida o rei a pedir um «sinal» (v. 11) que seja confirmação da assistência divina. Acaz recusa a proposta: «não tentarei o Senhor» (v. 12). Fá-lo por hipocrisia, e não por verdadeiro sentido religioso. Isaías insiste que, apesar da recusa do rei, Deus lhe dará um sinal: «a jovem está grávida e vai dar à luz um filho, e há-de pôr-lhe o nome de Emanuel: «Deus-connosco». O sentido imediato destas palavras refere-se a Ezequias, filho de Acaz, que a rainha está para dar à luz. O seu nascimento, nesse momento histórico, é interpretado como sinal da presença salvadora de Deus em favor do seu povo aflito. Mais profundamente, as palavras de Isaías são profecia de um futuro rei Salvador. A tradição cristã sempre viu neste oráculo o anúncio profético do nascimento de Jesus, filho de Maria Virgem.

Salmo responsorial 39/40

Eis que venho fazer, com prazer, 
a vossa vontade, Senhor!


Sacrifício e oblação não quisestes,
mas abristes, Senhor, meus ouvidos;
não pedistes ofertas nem vítimas,
holocaustos por nossos pecados,
e então eu vos disse: “Eis que venho!”

Sobre mim está escrito no livro:
“Com prazer faço a vossa vontade,
guardo em meu coração vossa lei!”

Boas novas de vossa justiça
anunciei numa grande assembléia;
vós sabeis: não fechei os meus lábios!

Proclamei toda a vossa justiça
sem retê-la no meu coração;
vosso auxílio e lealdade narrei.
Não calei vossa graça e verdade
na presença da grande assembléia.

Leitura (Hebreus 10,4-10)

Leitura da carta aos Hebreus. 
Irmãos, 10 4 pois é impossível que o sangue de touros e de carneiros tire pecados.
5 Eis por que, ao entrar no mundo, Cristo diz: "Não quiseste sacrifício nem oblação, mas me formaste um corpo. 
6 Holocaustos e sacrifícios pelo pecado não te agradam. 
7 Então eu disse: Eis que venho (porque é de mim que está escrito no rolo do livro), venho, ó Deus, para fazer a tua vontade". 
8 Disse primeiro: "Tu não quiseste, tu não recebeste com agrado os sacrifícios nem as ofertas, nem os holocaustos, nem as vítimas pelo pecado" (quer dizer, as imolações legais). 9 Em seguida, ajuntou: "Eis que venho para fazer a tua vontade". Assim, aboliu o antigo regime e estabeleceu uma nova economia. 10 Foi em virtude desta vontade de Deus que temos sido santificados uma vez para sempre, pela oblação do corpo de Jesus Cristo.

Este texto, retirado do seu contexto, procura demonstrar que o sacrifício de Cristo é superior aos sacrifícios do Antigo Testamento. O autor da Carta aos Hebreus relê o Salmo 39 – utilizado pela liturgia desta solenidade como Salmo Responsorial – como se fosse uma declaração de intenções do próprio Cristo ao entrar no mundo, no momento da Incarnação. Esta é também a atitude obediencial do povo da antiga aliança e de todo o piedoso cantor do salmo: «: Eis que venho, ó Deus, para fazer a tua vontade.». A Incarnação como atitude obediencial acontece no dia da Anunciação do Senhor a Maria. Esse dia inaugura a peregrinação messiânica que conduzirá à doação do corpo de Cristo no sacrifício salvífico, novo e inovador, único e indispensável, que se completa no sacrifício da cruz.

Evangelho (Lucas 1,26-38)

Glória a Cristo, palavra eterna do Pai, que é amor!
A palavra se fez carne e habitou entre nós. E nós vimos sua glória que recebe de Deus Pai (Jo 1,14).

Naquele tempo, 1 26 "no sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, 
27 a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria". 
28 Entrando, o anjo disse-lhe: "Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo". 
29 Perturbou-se ela com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação. 
30 O anjo disse-lhe: "Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. 
31 Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. 
32 Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, 
33 e o seu reino não terá fim". 
34 Maria perguntou ao anjo: "Como se fará isso, pois não conheço homem?" 
35 Respondeu-lhe o anjo: "O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus. 
36 Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril, 
37 porque a Deus nenhuma coisa é impossível". 
38 Então disse Maria: "Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra". E o anjo afastou-se dela.


MARIA, CHEIA DE GRAÇA
A Igreja, refletindo sobre a mãe de Jesus, foi entendendo, pouco a pouco, toda a verdade desta figura singular. Neste processo, a Igreja chegou a professar que o pecado original, tendo marcado para sempre a história da humanidade, mas não lançou raízes no ser de Maria. Vivendo num mundo de egoísmo, ela não foi contaminada pelo pecado.
Esta graça e privilégio, conferidos por Deus à mãe do Salvador, aconteceram por causa de Jesus Cristo. Deus preparou para receber seu Filho, que seria imune da culpa original, um ventre não corrompido pelo pecado. Maria, de certo modo, experimentou, por antecipação, o fruto da ação de seu filho Jesus, que viria ao mundo para salvar a humanidade do pecado. A mãe foi a primeira a tirar partido da missão do Filho. A santidade do Filho Jesus santificou todo o ser da mãe Maria, desde que fora concebida.
A proclamação do anjo "Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo" fundamenta a total santidade de Maria. Sendo cheia de graça, nela não podia haver espaço para o pecado e para a infidelidade a Deus. E sua existência, desde o início, só podia ser total comunhão com Deus. Por outro lado, toda a vida de Maria foi marcada pela pessoa de Jesus, a quem estaria ligada desde o momento do anúncio da encarnação. A concepção imaculada é, pois, mais uma maravilha da graça de Deus na vida de Maria.

Oração
Senhor Jesus, que a contemplação da concepção imaculada de tua mãe desperte em mim o desejo de romper, definitivamente, com o pecado que maculou a humanidade.

Quarta 26 de Março de 2014

III SEMANA DA QUARESMA 
Antífona da entrada: Orientai meus passos, Senhor, segundo a vossa palavra, e que o mal não domine sobre mim! (Sl 118,133)

Leitura (Deuteronômio 4,1.5-9)

Leitura do livro do Deuteronômio. 
4 1 “E agora, ó Israel, ouve as leis e os preceitos que hoje vou ensinar-vos. Ponde-os em prática para que vivais e entreis na posse da terra que o Senhor, Deus de vossos pais, vos dá. 
5 Vede: ensinei-vos leis e ordenações, conforme o Senhor, meu Deus, me ordenou, a fim de as praticardes na terra que ides possuir. 
6 Observai-as, praticai-as, porque isto vos tornará sábios e inteligentes aos olhos dos povos, que, ouvindo todas essas prescrições, dirão: ‘eis uma grande nação, um povo sábio e inteligente’. 
7 Haverá, com efeito, nação tão grande, cujos deuses estejam tão próximos de si como está de nós o Senhor, nosso Deus, cada vez que o invocamos? 
8 Qual é a grande nação que tem mandamentos e preceitos tão justos como esta lei que vos apresento hoje? 
9 Guarda-te, pois, a ti mesmo: cuida de nunca esquecer o que viste com os teus olhos, e toma cuidado para que isso não saia jamais de teu coração, enquanto viveres; e ensina-o aos teus filhos, e aos filhos de teus filhos”. 

Deuteronômio 4,1.5-9 - “ sabedoria e inteligência perante os povos”

Os ensinamentos de Moisés são para nós, hoje, uma verdadeira catequese a fim de enfrentarmos os desafios do mundo atual. No meio de tantos infortúnios, de tantas contradições e de tanta desventura, podemos fazer toda a diferença, se usamos os decretos do Senhor como princípios que regem a nossa vida. Enquanto caminhamos por aqui temos a oportunidade de por em prática tudo quanto aprendemos na Palavra de Deus com sabedoria e inteligência. Assim como prometeu aos antigos uma terra em que corria leite e mel Deus nos promete uma terra diferente para a nossa existência. As leis e os decretos do Senhor são para nós normas que nos ajudam na vivência da felicidade aqui na terra. Se refletirmos bem no conselho de Moisés, iremos entender que, quando praticamos os ensinamentos do Senhor, aqui, na terra em que estamos vivendo, ela então, tornar-se para nós, a terra prometida. Para que isto aconteça, precisamos, porém, ouvi-Lo, escutá-lo, isto é, estar de coração aberto. A terra prometida é um estado de espírito, resultado da nossa vivência dentro dos mandamentos da Lei de Deus os quais estão gravados dentro de nós e são para as outras pessoas uma prova da nossa inteligência e sabedoria, que significam felicidade e paz. Esse estado de espírito nós o observamos nas pessoas que vivem dentro da vontade de Deus e são sinais de que podemos também atravessar o vale escuro como se fosse um dia claro. Nesta terra nós teremos sabedoria, inteligência e chamaremos atenção para que outros queiram nela também entrar. Este é o reino de Deus e que devemos ensiná-lo a filhos e netos.

Salmo responsorial 147/147B

Glorifica o Senhor, Jerusalém!

Glorifica o Senhor, Jerusalém!
Ó Sião, canta louvores ao teu Deus!
Pois reforçou com segurança as atuas portas
e os teus filhos em teu seio abençoou.

Ele envia suas ordens para a terra,
e a palavra que ele diz corre veloz.
Ele faz cair a neve como lã
e espalha a geada como cinza.

Anuncia a Jacó sua palavra,
seus preceitos e suas leis a Israel.
Nenhum povo recebeu tanto carinho,
a nenhum outro revelou os seus preceitos.

Salmo 147 – “Glorifica o Senhor, Jerusalém!”

O Senhor envia suas ordens para a terra por meio da Sua Palavra que nós anunciamos. Do céu Ele faz cair proteção e abrigo para aqueles que confiam nas Suas promessas, pois escutam e praticam a Sua Palavra, Seus Preceitos e Suas Leis. Os preceitos do Senhor nos são dado com carinho, por isso, somos chamados a, como Jerusalém, glorificar o Senhor com a nossa vida, nosso louvor e nossas ações.

Evangelho (Mateus 5,17-19)

Glória a Cristo, palavra eterna do Pai, que é amor!
Senhor, tuas palavras são espírito, são vida; só tu tens palavras de vida eterna! (Jo 6,63.68)

5 17 Disse Jesus aos seus discípulos: “Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição. 
18 Pois em verdade vos digo: passará o céu e a terra, antes que desapareça um jota, um traço da lei. 
19 Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar assim aos homens, será declarado o menor no Reino dos céus. Mas aquele que os guardar e os ensinar será declarado grande no Reino dos céus”. 

Evangelho – Mateus 5, 17-19 - “o essencial não muda”

Esta Palavra também nos é providencial nestes tempos em que se propaga a ideia de que a Igreja deve se modernizar para seguir a evolução da mentalidade do mundo na sua pretensão de satisfazer a vontade da nossa carne humana. A Palavra de Jesus, portanto, é perfeita para que façamos uma reflexão: ”Não penseis que vim abolir a lei e os profetas” “vim para dar-lhe pleno cumprimento”. Se percebermos o que acontece dentro do nosso coração, sentiremos que nada dentro de nós mudou e que o ser humano precisa hoje, como sempre, dos valores que a Lei do Senhor propõe. A lei de Deus, portanto, é perfeita para a nossa alma e para a nossa vida e corresponde fielmente aos anseios mais profundos do nosso ser que foi criado à imagem e semelhança de Deus. Deus não mudou o Seu Plano para cada um dos Seus filhos, por isso, o que era é e sempre será. As leis e os mandamentos do Senhor não mudam, porém, muda o nosso entendimento de acordo com o sabor dos ventos. Hoje, neste Evangelho, Jesus nos esclarece que veio ao mundo, também, para dar cumprimento a Lei de Deus que está sendo deturpada por cada um de nós que desejamos um evangelho pessoal de acordo com as nossas conveniências. Jesus nos lembra de que é grande no reino dos céus quem pratica e também ensina os Seus mandamentos. Muitas vezes, nos apegamos à Lei de uma forma desvirtuada e nos prendemos apenas aos acessórios, por isso nos equivocamos e esquecemo-nos do que é essencial. Assim sendo, não podemos ficar nos confundindo hoje com as falsas ideias de que isto e aquilo são coisas do passado, que o mundo é outro e que os valores também mudaram. Jesus veio dar uma nova roupagem à lei que os antigos pregavam. Deus trabalha com a nossa humanidade. Ele é paciente e espera as nossas resoluções, no entanto, a essência da lei e do direcionamento de Deus tem sempre o mesmo objetivo: a vivência do amor que concede ao homem, feito à Sua imagem e semelhança, a oportunidade de ser feliz e fazer feliz também o seu semelhante. Praticar os mandamentos e ensiná-los aos outros, dar-nos-á uma qualidade de vida superior à que tem os que não os praticam. Não nos iludamos pensando que Deus irá mudar a Sua Palavra para nos agradar e corresponder aos nossos interesses. Se assim o fizesse Ele estaria rompendo dentro de nós tudo o que Ele já assinalou desde que soprou sobre nós o hálito da vida. 

Oração 
Pai, revela-me, cada dia, a tua vontade, transformando-a em mandamento ao qual toda a minha vida se submeta. 

Quinta 27 de Março de 2014

III SEMANA DA QUARESMA 
Antífona da entrada: Eu sou a salvação do povo, diz o Senhor: quando, em qualquer aflição, clamarem por mim, eu os ouvirei e serei seu Deus para sempre.

Leitura (Jeremias 7,23-28)

Leitura do livro do profeta Jeremias. 
7 23 “Foi esta a única ordem que lhes dei: escutai minha voz, serei vosso Deus e vós sereis o meu povo; segui sempre a senda que vos indicar, a fim de que sejais felizes. 
24 Eles, porém, não escutaram, nem prestaram ouvidos, seguindo os maus conselhos de seus corações empedernidos; voltaram-me as costas em lugar de me apresentarem seus rostos. 
25 Desde o dia em que vossos pais deixaram o Egito até agora, enviei-vos todos os meus servos, os profetas. Todos os dias sem cessar os mandei. 
26 Eles, porém, não os escutaram, nem lhes deram atenção; endureceram a cerviz e procederam pior que os pais. 
27 Quando tudo isso lhes transmitires, também a ti não escutarão. Chamá-los-ás e não obterás resposta. 
28 Dir-lhes-ás então: ‘Esta é a nação que não escuta a voz do Senhor, seu Deus, e não aceita suas advertências. A lealdade desapareceu, tendo sido banida de sua boca’”. 

Ao condenar o formalismo do culto, o profeta condena, sobretudo, a surdez de Israel à voz de Deus (v. 23), escutada no momento da Aliança, no monte Sinai (cf. Ex 20, 1-21). Só na escuta o povo de Israel pode conhecer o seu Deus, diferente de todas as outras divindades. Por isso, o primeiro mandamento é: «escuta, Israe//». Os verdadeiros profetas apelam continuamente a essa escuta. Os falsos profetas fazem outros apelos. A opção por ouvir uns ou ouvir outros determina, para cada um, a vida ou a morte.
O texto está dividido em três partes. As duas primeiras têm uma estrutura idêntica: ao «ouv» (v. 23), e ao «envie» (v. 26) correspondem dois «eles não ouviram» (vv. 24.26). Não há sinal de arrependimento, de conversão. Na terceira parte, enquanto o povo recai na idolatria e volta a ser espiritualmente escravo no Egipto, o profeta permanece fiel à sua vocação. Enquanto denuncia esta situação, partilha com Deus o sofrimento de ser recusado, de ser ele mesmo acusado de impostor pelos mentirosos.

Salmo responsorial 94/95

Oxalá ouvísseis hoje a voz do Senhor: 
não fecheis os vossos corações.


Vinda, exultemos de alegria no Senhor,
aclamemos o rochedo que nos salva!
Ao seu encontro caminhemos com louvores
e, com cantos de alegria, o celebremos!

Vinde, adoremos e prostremo-nos por terra,
e ajoelhemos ante o Deus que nos criou!
Porque ele é o nosso Deus, nosso pastor,
e nós somos o seu povo e seu rebanho,
as ovelhas que conduz com sua mão.

Oxalá ouvísseis hoje a sua voz:
“Não fecheis os corações como em Meriba,
como em Massa, no deserto, aquele dia,
em que outrora vossos pais me provocaram,
apesar de terem visto as minhas obras”.

Evangelho (Lucas 11,14-23)

Jesus Cristo, sois bendito, sois o ungido de Deus Pai!
Voltai ao Senhor, vosso Deus, ele é bom, compassivo e clemente (Jl 2,12s).


Naquele tempo, 11 14 Jesus expelia um demônio que era mudo. Tendo o demônio saído, o mudo pôs-se a falar e a multidão ficou admirada. 
15 Mas alguns deles disseram: “Ele expele os demônios por Beelzebul, príncipe dos demônios”. 
16 E para pô-lo à prova, outros lhe pediam um sinal do céu. 
17 Penetrando nos seus pensamentos, disse-lhes Jesus: “Todo o reino dividido contra si mesmo será destruído e seus edifícios cairão uns sobre os outros. 
18 Se, pois, Satanás está dividido contra si mesmo, como subsistirá o seu reino? Pois dizeis que expulso os demônios por Beelzebul. 
19 Ora, se é por Beelzebul que expulso os demônios, por quem o expulsam vossos filhos? Por isso, eles mesmos serão os vossos juízes! 
20 Mas se expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente é chegado a vós o Reino de Deus. 
21 Quando um homem forte guarda armado a sua casa, estão em segurança os bens que possui. 
22 Mas se sobrevier outro mais forte do que ele e o vencer, este lhe tirará todas as armas em que confiava, e repartirá os seus despojos. 
23 Quem não está comigo, está contra mim; quem não recolhe comigo, espalha”. 

O REINO ESTÁ ENTRE NÓS
A presença do Reino de Deus na história da humanidade revelava-se no poder de Jesus de expulsar os demônios, libertando todo ser humano desse poder opressor. Essa libertação significava a retomada do senhorio de Deus na vida de quem era dominado pelo maligno, possibilitando-lhe, novamente, a vivência do amor e da solidariedade.
Jesus personificava o Reino de Deus na medida em que estava todo centrado no Pai, cujas obras buscava realizar. Em suas ações, revelava-se "o dedo de Deus" na vida de tantas pessoas privadas de sua dignidade.
Contudo, isto não era evidente! Só quem estava sintonizado com Jesus tinha condições de perceber Deus agindo por meio dele. Caso contrário, corria-se o risco de interpretá-lo mal e fazê-lo objeto de falsas acusações.
Foi o que aconteceu quando o acusaram de agir com o poder de Belzebu, o chefe dos demônios. Ou quando exigiam dele sinais sempre mais mirabolantes, como prova da autenticidade do seu messianismo.
O fato de ser incompreendido não impedia Jesus de seguir adiante. Movia-o somente a consciência de dever ser fiel ao Pai. Por isso, não cessava de dar testemunho do amor que Deus derramava sobre a humanidade.

Oração
Pai, transforma-me em instrumento de teu amor misericordioso, a exemplo de Jesus. Por onde eu passar, possa ser testemunha de que teu Reino já chegou para nós.


Sexta 28 de Março de 2014

III SEMANA DA QUARESMA 
Antífona da entrada: Senhor, não há entre os deuses nenhum que se vos compare, porque sois grande e fazeis maravilhas: só vós, Senhor, sois Deus (Sl 85,8.10).

Leitura (Oséias 14,2-10)

Leitura da profecia de Oséias.
Assim fala o Senhor Deus: 14 1" Volta, Israel, ao Senhor teu Deus, porque foi teu pecado que te fez cair. 
2 Muni-vos de palavras (de súplicas) e voltai ao Senhor. Dizei-lhe: ‘Perdoai todos os nossos pecados, acolhei-nos favoravelmente. Queremos oferecer em sacrifício a homenagem de nossos lábios. 
3 O assírio não nos salvará, não mais montaremos nossos cavalos, e não mais teremos como Deus obra alguma de nossas mãos, porque só junto de vós encontra o órfão compaixão’. 
4 Curarei a sua infidelidade, amá-los-ei de todo o coração, (porque minha cólera apartou-se deles). 
5 Serei para Israel como o orvalho; ele florescerá como o lírio, e lançará raízes como o álamo. 
6 Seus galhos estender-se-ão ao longe, sua opulência igualará à da oliveira e seu perfume será como o odor do Líbano. 
7 (Os de Efraim) virão sentar-se à sua sombra. Cultivarão o trigo. Crescerão com a vinha. E serão famosos como o vinho do Líbano. 
8 Que terá ainda Efraim de comum com os ídolos? Eu mesmo, que o afligi, torná-lo-ei feliz. Eu sou como o cipreste sempre verde: graças a mim é que produzes fruto. 
9 Quem é sábio atenda a estas coisas! Que o homem inteligente reflita nelas, porque os caminhos do Senhor são retos. Os justos andam por eles, mas os pecadores neles tropeçam". 

Oseias convida o povo a «voltar», isto é, a converter-se a Deus, reconhecendo o seu pecado, causa das actuais desgraças. O profeta sugere uma confissão lúcida e sincera das próprias culpas, porque agrada mais a Deus uma vida purificada e unida à oferta de louvor (v. 3) do que os sacrifícios de vítimas. Há que libertar-se de compromissos humanos pecaminosos, e particularmente do recurso aos ídolos. O povo pode sentir-se pobre e desprotegido. Mas é então que Deus assume cuidar dele (v. 4).
Uma vez convertido o povo, o próprio Deus Se «converte» renunciando à sua justa ira. Mais ainda: o seu amor fiel curará Israel e perdoará as suas infidelidades. O texto detém-se a descrever os efeitos do amor divino com termos e expressões de rara beleza, lembrando o Cântico dos Cânticos. Quem caminha na rectidão compreenderá esse amor e fruirá dos seus benefícios: «Os caminhos do Senhor são rectos, os justos andarão por eles, mas os pecadores tropeçarão netes» (v. 10).

Salmo responsorial 80/81

Ouve, meu povo, porque eu sou o teu Deus!

Eis que ouço uma voz que não conheço:
“Aliviei as tuas costas de seu fardo,
cestos pesados eu tirei de tuas mãos.
Na angústia a mim clamaste, e te salvei.

De uma nuvem trovejante te falei
e junto às águas de Meriba te provei.
Ouve, meu povo, porque vou te advertir!
Israel, ah! se quisesses me escutar.

Em teu meio não exista um deus estranho,
nem adores a um deus desconhecido!
Porque eu sou o teu Deus e teu Senhor,
que da terra do Egito te arranquei.

Quem me dera que meu povo me escutasse!
Que Israel andasse sempre em meus caminhos.
Eu lhe daria de comer a flor do trigo
e com o mel que sai da rocha o fartaria”.

Evangelho (Marcos 12,28-34)

Glória a vós, Senhor Jesus, primogênito dentre os mortos!
Convertei-vos, nos diz o Senhor, está próximo o reino de Deus! (Mt 4,17)



Naquele tempo, 12 28 achegou-se dele um dos escribas que os ouvira discutir e, vendo que lhes respondera bem, indagou dele: "Qual é o primeiro de todos os mandamentos?" 
29 Jesus respondeu-lhe: "O primeiro de todos os mandamentos é este: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor; 
30 amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu espírito e de todas as tuas forças. 
31 Eis aqui o segundo: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Outro mandamento maior do que estes não existe". 
32 Disse-lhe o escriba: "Perfeitamente, Mestre, disseste bem que Deus é um só e que não há outro além dele. 
33 E amá-lo de todo o coração, de todo o pensamento, de toda a alma e de todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, excede a todos os holocaustos e sacrifícios". 
34 Vendo Jesus que ele falara sabiamente, disse-lhe: "Não estás longe do Reino de Deus". E já ninguém ousava fazer-lhe perguntas. 

A PRIMAZIA DO AMOR 
É de se admirar que um escriba - mestre da Lei - tenha-se colocado diante de Jesus, na posição de discípulo. Os escribas eram reconhecidos como pessoas sábias. Por conseguinte, capazes de interpretar a Lei e descobrir-lhe sentidos novos. O povo consultava-os quando tinham dúvidas. Por sua vez, os escribas tinham consciência de sua posição elevada. 
O escriba, que sabia dar respostas a tantas questões complicadas, tinha, agora, sérias dúvidas a respeito de uma questão fundamental: qual ação humana mais agrada a Deus, e coloca o ser humano em comunhão com o Pai? 
A resposta de Jesus é como que o resumo de toda a Escritura: amar a Deus, consagrando-se totalmente a ele, e amar ao próximo como a si mesmo. Estes são os dois eixos da religião que agrada a Deus. Tudo o mais será complemento e terá valor relativo. É preciso dar primazia ao amor! 
A preocupação do mestre da Lei tinha sua razão de ser. Com muita facilidade, no caminho para Deus, o ser humano embrenha-se por atalhos, abandonando a estrada principal. Deixando de lado o caminho do amor a Deus e ao próximo, por mais que alguém se esforce, jamais alcançará a meta almejada. Só o caminho do amor pode levar-nos ao destino esperado: o Pai. 

Oração 
Espírito de conhecimento, conduze-me sempre pelo caminho do amor, o único que pode me levar até o Pai. 

Sábado 29 de Março de 2014

III SEMANA DA QUARESMA 
Antífona da entrada: Bendize, ó minha alma, ao Senhor, não esqueças nenhum dos seus benefícios: é ele quem te perdoa todas as ofensas (Sl 102,2s).

Leitura (Oséias 6,1-6)

Leitura da profecia de Oséias.
6 1 “Vinde, voltemos ao Senhor, ele feriu-nos, ele nos curará; ele causou a ferida, ele a pensará. 
2 Dar-nos-á de novo a vida em dois dias; ao terceiro dia levantar-nos-á, e viveremos em sua presença. 
3 Apliquemo-nos a conhecer o Senhor; sua vinda é certa como a da aurora; ele virá a nós como a chuva, como a chuva da primavera que irriga a terra”. 
4 Que te farei, Efraim? Que te farei, Judá? Vosso amor é como a nuvem da manhã, como o orvalho que logo se dissipa. 
5 Por isso é que os castiguei pelos profetas, e os matei pelas palavras de minha boca, e meu juízo resplandece como o relâmpago, 
6 porque eu quero o amor mais que os sacrifícios, e o conhecimento de Deus mais que os holocaustos. 

São muitas as desgraças que afectam o povo de Deus. Israel e Judá estão em guerra. A aliança com a Assíria levou à perda das regiões setentrionais de Israel, no ano 732 a. C. No contexto de um acto litúrgico penitencial, o profeta avisa o povo: tudo isto se deve ao afastamento de Deus, a um culto meramente formal e vazio de amor. E clama: há que estar alerta, há que converter-se, pois já se divisa no horizonte o dia do castigo messiânico (Os 5, 9).
Com uma imagem frequente na Sagrada Escritura, o povo reconhece estar doente (Os 5, 13) e invoca a Deus como único médico capaz de curar a ferida que Ele mesmo provocou em vista da correcção (v. 1). Deus é o Senhor da história. Sabe que o arrependimento do povo é interessado (v. 3) e efémero (v. 4). Mas não se cansa de chamar à conversão. A sua palavra é uma espada que fere para curar. Pede amor e não holocaustos (v. 6), confiança e não simples actos de culto, ainda por cima praticados com hipocrisia.

Salmo responsorial 50/51

Eu quis misericórdia e não o sacrifício!

Tende piedade, ó meu Deus, misericórdia!
Na imensidão de vosso amor, purificai-me!
Lavai-me todo inteiro do pecado
e apagai completamente a minha culpa!

Pois não são de vosso agrado os sacrifícios,
e, se oferto um holocausto, o rejeitais.
Meu sacrifício é minha lama penitente,
não desprezeis um coração arrependido!

Sede benigno com Sião, por vossa graça,
reconstruí Jerusalém e os seus muros!
E aceitareis o verdadeiro sacrifício,
os holocaustos e oblações em vosso altar!

Evangelho (Lucas 18,9-14)

Honra, glória poder e louvor a Jesus, nosso Deus e Senhor!
Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: não fecheis os corações como em Meriba! (Sl 94,8)


Naquele tempo, 18 9 Jesus lhes disse ainda esta parábola a respeito de alguns que se vangloriavam como se fossem justos, e desprezavam os outros: 
10 “Subiram dois homens ao templo para orar. Um era fariseu; o outro, publicano. 
11 O fariseu, em pé, orava no seu interior desta forma: ‘Graças te dou, ó Deus, que não sou como os demais homens: ladrões, injustos e adúlteros; nem como o publicano que está ali. 
12 Jejuo duas vezes na semana e pago o dízimo de todos os meus lucros’. 
13 O publicano, porém, mantendo-se à distância, não ousava sequer levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: ‘Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!’ 
14 Digo-vos: este voltou para casa justificado, e não o outro. Pois todo o que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado”. 

SOBERBA E HUMILDADE 
Jesus não suportava a soberba de quem se gabava de ser justo, olhando os outros com desdém. Este comportamento o irritava por revelar uma falsa imagem de Deus, completamente contrária àquela ensinada por ele. O deus dos soberbos e orgulhosos é preconceituoso, deixa-se impressionar por exterioridades, é injusto para com os fracos, é facilmente enganável. A um deus assim, dirige-se o fariseu da parábola contada por Jesus. Assumindo uma postura de evidente arrogância, dirige-se a seu deus, prestando-lhe contas de suas práticas religiosas, como que a exigir uma recompensa generosa. 
O Deus anunciado por Jesus é, radicalmente, diferente: é o Pai atento a seus filhos, de modo especial, aos fracos e pequeninos. Valoriza qualquer esforço humano de superar o pecado, para colocar-se, com humildade, no caminho da conversão. Vê o mais íntimo do ser humano, onde percebe seus sentimentos e intenções. Portanto, não é um Deus a quem se possa enganar. 
Diante da atitude dos soberbos, Jesus não tinha dúvidas quanto ao fim que os esperava. Eles serão humilhados ao se encontrarem na presença do Pai. Recomenda-lhes, então, a humildade, porque só ela é capaz de sensibilizar a Deus, para a pessoa obter dele a justificação. Portanto, quem se vanglória de ser justo, está preparando sua própria condenação. 

Oração 
Espírito de humildade, liberta-me da soberba, porque ela me afasta do Pai. E faze-me reconhecer, com humildade, minhas próprias limitações. 


30 de Março de 2014
IV DOMINGO DA QUARESMA

Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs!

INTRODUÇÃO: O Tempo da Quaresma já se vai adiantando, nossas práticas de fé vão amadurecendo na caminhada rumo à Páscoa. O tema luz/trevas é bastante acentuado no Evangelho de João. Neste mesmo sentido vai a cura do cego de nascença, ou seja, a contraposição entre cegueira e visão. João parte de um sentido experimental. Todos sabem o que são trevas (noite, escuridão) e o que é luz (dia, claridade), o que é ser cego e o que é enxergar. Porém, salta depressa para o sentido figurado: a luz é o Cristo em sua pessoa divina e humana; e, como tal, se torna salvação para o homem. A treva é o não-reconhecimento da pessoa salvadora de Jesus, e nisto consiste o maior de todos os pecados.
INTRODUÇÃO: No 4º Domingo da Quaresma, a liturgia avança no Itinerário da Iniciação Cristã, apresentando a iluminação batismal por meio da cura do cego de nascença. Que Deus abra nossos olhos ao apelo da Campanha da Fraternidade, a fim de que vejamos como é terrível o tráfico humano no mundo.
INTRODUÇÃO: Como a água, também a luz, com seu oposto, a escuridão - é um dos símbolos fundamentais da existência humana e da reflexão religiosa. No relato do Gênesis, Deus, pela criação da luz e sua separação das trevas, põe ordem e distinção no caos primitivo, e o torna um cosmos cognoscível e depois habitável. Na plenitude dos tempos, a Palavra de Deus veio habitar no meio de nós. Vida e luz de todo ser vivo, ela ilumina com nova luz aquele que crê na Palavra feita homem, na mensagem tornada pessoa viva, concreta e histórica, no Filho de Deus invisível que dá a conhecer o Pai. Esses são os grandes temas desenvolvidos por oão desde o prólogo do seu evangelho, e ilustrados através de uma série de "sinais", diante dos quais só há uma alternativa: responder sim ou não, sem atenuantes.
Sentindo em nossos corações a alegria do Amor ao Próximo, da Caridade, do Jejum e da Oração, preparemo-nos para a Páscoa do Senhor!
Antífona da entrada: Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a amais; vós que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a abundância de suas consolações (Is 66,10s).

Comentário das Leituras: Jesus é a luz que ilumina o homem “peregrino nas trevas” e representado no cego de nascimento. Este recebe de Cristo primeiro a visão ocular, e depois a luz da fé. O batismo cristão, sacramento da fé, é iluminação de toda a pessoa: espírito e coração, sentimentos e conduta. Por isso o iluminado por Cristo, isto é, o cristão, deve andar na vida como filho da luz. É a atitude conseqüente de quem foi escolhido, vocacionado e ungido pelo Espírito, como os profetas, reis e sacerdotes da antiga Aliança; assim também o Davi. Ouçamos com atenção as leituras deste Domingo da alegria e da esperança que brotam da iluminação batismal.

Leitura (1 Samuel 16,1.6-7.10-13)

16 1 O Senhor disse-lhe: "Até quando chorarás tu Saul, tendo-o eu rejeitado da realeza de Israel? Enche o teu corno de óleo. Vai; envio-te a Isaí de Belém, porque escolhi um rei entre os seus filhos". 
6 Logo que entraram, Samuel viu Eliab e pensou consigo: "Certamente é esse o ungido do Senhor". 
7 Mas o Senhor disse-lhe: "Não te deixes impressionar pelo seu belo aspecto, nem pela sua alta estatura, porque eu o rejeitei. O que o homem vê não é o que importa: o homem vê a face, mas o Senhor olha o coração". 
10 Jessé mandou vir assim os seus sete filhos diante do profeta, que lhe disse: "O Senhor não escolheu nenhum deles". 
11 E ajuntou: "Estão aqui todos os teus filhos?" Resta ainda o mais novo, confessou Jessé, que está .pastoreando as ovelhas". Samuel ordenou a Jessé: "Manda buscá-lo, pois não nos poremos à mesa antes que ele esteja aqui". 
12 E Jessé mandou buscá-lo. Ele era louro, de belos olhos e mui formosa aparência. O Senhor disse: "Vamos, unge-o: é ele". 
13 Samuel tomou o corno de óleo e ungiu-o no meio dos seus irmãos. E, a partir daquele momento, o Espírito do Senhor apoderou-se de Davi. Samuel, porém, retomou o caminho de Ramá.

A leitura é tirada do início da última parte do 1º livro de Samuel, que deixa ver o progressivo declínio do rei Saúl até à sua morte. A ascensão de David ao trono de Israel não aparece apenas como obra do seu génio e sagacidade, mas como uma providência divina com a intervenção de Samuel.
1 «Jessé», grafia usada na Vulgata para o pai de David, chamado Isaí, no texto hebraico (nos LXX, Iesai).
6-7 Tanto o profeta Samuel como Isaí estavam de acordo em sagrar rei o primogénito Eliab. Porém Deus, nos seus desígnios vocacionais, não olha a critérios humanos (ser o mais velho, o mais belo, o mais forte, o mais sábio): «o homem olha às aparências, o Senhor vê o coração». A escolha divina é gratuita, não partindo dos méritos do escolhido, mas da benevolência divina que torna o homem capaz de cumprir a missão a que o chama.
12 «Ungiu-o no meio dos seus irmãos», isto é, em família, sem qualquer espécie de publicidade para evitar as iras e represálias do rei Saúl.

Salmo responsorial 22/23

O Senhor é o pastor que me conduz;
Não me falta coisa alguma.


O Senhor é o pastor que me conduz;
não me falta coisa alguma.
Pelo prados e campinas verdejantes
ele me leva a descansar.
Para as águas repousantes me encaminha
e restaura as minhas forças.

ele me guia no caminho mais seguro,
pela honra do seu nome.
Mesmo que eu passe pelo vale tenebroso,
nenhum mal eu temerei.
Estai comigo com bastão e com cajado,
eles me dão a segurança!

Preparais à minha frente uma mesa,
bem à vista do inimigo;
com óleo vós ungis minha cabeça,
e o meu cálice transborda.

Felicidade e todo bem hão de seguir-me
por toda a minha vida;
e na casa do Senhor habitarei
pelos tempos infinitos.

Leitura (Efésios 5,8-14)

Leitura da segunda carta de são Paulo aos Efésios. 
5 8 Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor: comportai-vos como verdadeiras luzes. 
9 Ora, o fruto da luz é bondade, justiça e verdade. 
10 Procurai o que é agradável ao Senhor, 
11 e não tenhais cumplicidade nas obras infrutíferas das trevas; pelo contrário, condenai-as abertamente. 
12 Porque as coisas que tais homens fazem ocultamente é vergonhoso até falar delas. 
13 Mas tudo isto, ao ser reprovado, torna-se manifesto pela luz. 
14 E tudo o que se manifesta deste modo torna-se luz. Por isto (a Escritura) diz: Desperta, tu que dormes! Levanta-te dentre os mortos e Cristo te iluminará! 

A leitura é tirada da segunda parte de epístola, com exortações morais, correspondentes a uma vida nova em Cristo.
2 «Outrora», isto é, antes da conversão, «éreis trevas», pois viviam na ignorância, no erro, no pecado, afastados de Cristo, Luz do mundo, «mas agora sois luz no Senhor», pela fé e pela graça que têm pela sua união ao Senhor (cf. Jo 12, 35-36). «Filhos da luz» (cf. Lc 16, 8; Jo 12, 36) é um semitismo que corresponde ao adjectivo: iluminados (pela verdade de Cristo, «Luz verdadeira que a todo o homem ilumina» – Jo 1, 9.4-5).
10 «Procurai sempre o que mais agrada ao Senhor». Para nos comportarmos como filhos da luz,temos de ter essa sobrenatural ponderação e discernimento de quem busca a todo o momento, em tudo o que diz e faz, a vontade de Deus.
13 «Tudo o que assim se manifesta torna-se luz». Toda a maldade que se denuncia é um projectar de luz sobre os ambientes tenebrosos do pecado. Estas palavras podiam adaptar-se à denúncia da nossa própria maldade, que levamos dentro de nós. Essa denúncia mais sincera e eficaz é a que se faz quando, no Sacramento da Penitência, acusamos sincera e contritamente os nossos pecados: então a nossa vida torna-se clara e luminosa, é luz. (A leitura presta-se, pois, a falar da Confissão Quaresmal).

Evangelho (João 9,1-41 ou 1.6-9.13-17.34-38)

Louvor e honra a vós, Senhor Jesus.
Pois eu sou a luz do mundo, quem nos diz é o Senhor; e vai ter a luz da vida quem se faz meu seguidor! (Jo 8,12)


Naquele tempo, 9 1 "caminhando, viu Jesus um cego de nascença. 
2 Os seus discípulos indagaram dele: "Mestre, quem pecou, este homem ou seus pais, para que nascesse cego?" 
3 Jesus respondeu: "Nem este pecou nem seus pais, mas é necessário que nele se manifestem as obras de Deus. 
4 Enquanto for dia, cumpre-me terminar as obras daquele que me enviou. Virá a noite, na qual já ninguém pode trabalhar. 
5 Por isso, enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo". 
6 Dito isso, cuspiu no chão, fez um pouco de lodo com a saliva e com o lodo ungiu os olhos do cego. 
7 Depois lhe disse: "Vai, lava-te na piscina de Siloé (esta palavra significa emissário)". O cego foi, lavou-se e voltou vendo. 
8 Então os vizinhos e aqueles que antes o tinham visto mendigar perguntavam: "Não é este aquele que, sentado, mendigava?" 
9 Respondiam alguns: "É ele". Outros contestavam: "De nenhum modo, é um parecido com ele". Ele, porém, dizia: "Sou eu mesmo". 
10 Perguntaram-lhe, então: "Como te foram abertos os olhos?" 
11 Respondeu ele: "Aquele homem que se chama Jesus fez lodo, ungiu-me os olhos e disse-me: ´Vai à piscina de Siloé e lava-te. Fui, lavei-me e vejo´". 
12 Interrogaram-no: "Onde está esse homem?" Respondeu: "Não o sei". 
13 Levaram então o que fora cego aos fariseus. 
14 Ora, era sábado quando Jesus fez o lodo e lhe abriu os olhos. 
15 Os fariseus indagaram dele novamente de que modo ficara vendo. Respondeu-lhes: "Pôs-me lodo nos olhos, lavei-me e vejo". 
16 Diziam alguns dos fariseus: "Este homem não é o enviado de Deus, pois não guarda sábado". Outros replicavam: "Como pode um pecador fazer tais prodígios?" E havia desacordo entre eles. 
17 Perguntaram ainda ao cego: "Que dizes tu daquele que te abriu os olhos?" "É um profeta", respondeu ele. 
18 Mas os judeus não quiseram admitir que aquele homem tivesse sido cego e que tivesse recobrado a vista, até que chamaram seus pais. 
19 E os interrogaram: "É este o vosso filho? Afirmais que ele nasceu cego? Pois como é que agora vê?" 
20 Seus pais responderam: "Sabemos que este é o nosso filho e que nasceu cego. 
21 Mas não sabemos como agora ficou vendo, nem quem lhe abriu os olhos. Perguntai-o a ele. Tem idade. Que ele mesmo explique".
22 Seus pais disseram isso porque temiam os judeus, pois os judeus tinham ameaçado expulsar da sinagoga todo aquele que reconhecesse Jesus como o Cristo. 
23 Por isso é que seus pais responderam: "Ele tem idade, perguntai-lho". 
24 Tornaram a chamar o homem que fora cego, dizendo-lhe: "Dá glória a Deus! Nós sabemos que este homem é pecador". 
25 Disse-lhes ele: "Se esse homem é pecador, não o sei... Sei apenas isto: sendo eu antes cego, agora vejo". 
26 Perguntaram-lhe ainda uma vez: "Que foi que ele te fez? Como te abriu os olhos?" 
27 Respondeu-lhes: "Eu já vo-lo disse e não me destes ouvidos. Por que quereis tornar a ouvir? Quereis vós, porventura, tornar-vos também seus discípulos?" 
28 Então eles o cobriram de injúrias e lhe disseram: "Tu que és discípulo dele! Nós somos discípulos de Moisés. 
29 Sabemos que Deus falou a Moisés, mas deste não sabemos de onde ele é". 
30 Respondeu aquele homem: "O que é de admirar em tudo isso é que não saibais de onde ele é, e entretanto ele me abriu os olhos. 
31 Sabemos, porém, que Deus não ouve a pecadores, mas atende a quem lhe presta culto e faz a sua vontade. 
32 Jamais se ouviu dizer que alguém tenha aberto os olhos a um cego de nascença. 
33 Se esse homem não fosse de Deus, não poderia fazer nada". 
34 Responderam-lhe eles: "Tu nasceste todo em pecado e nos ensinas?" E expulsaram-no. 
35 Jesus soube que o tinham expulsado e, havendo-o encontrado, perguntou-lhe: "Crês no Filho do Homem?" 
36 Respondeu ele: "Quem é ele, Senhor, para que eu creia nele?"
37 Disse-lhe Jesus: "Tu o vês, é o mesmo que fala contigo!" 
38 "Creio, Senhor", disse ele. E, prostrando-se, o adorou. 
39 Jesus então disse: "Vim a este mundo para fazer uma discriminação: os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos". 
40 Alguns dos fariseus, que estavam com ele, ouviram-no e perguntaram-lhe: "Também nós somos, acaso, cegos?"
41 Respondeu-lhes Jesus: "Se fôsseis cegos, não teríeis pecado, mas agora pretendeis ver, e o vosso pecado subsiste".

Este longo trecho apresenta-se como uma encantadora peça dramática, cheia de vigor e naturalidade, que se pode considerar estruturada em quatro actos: 1º – A abertura (vv. 1-5), onde aparece o tema, Jesus,Luz do mundo, em face da cegueira, não apenas física do doente, mas moral, de que participam os próprios discípulos, obcecados pela mentalidade «retribuicionista» (cf. Job 4, 7-8; 2 Mac 7, 18; Tob 3, 3); eles, em face da desgraça alheia, põem-se a indagar quem pecou e não quem a pode remediar. 2º – A cura do cego (vv. 6-7). 3º – A longa investigação acerca da cura (vv. 8-34), primeiro pelos vizinhos (vv. 8-12) e depois pelos fariseus que montam como que um processo judicial com sucessivos interrogatórios e que termina numa sentença de excomunhão (vv. 13-34). 4º – O desfecho do drama (vv. 35-41), com o acto de fé do cego e a obstinação na cegueira espiritual dos que não querem crer.
Sem prejuízo para o valor histórico da narração, esta reveste-se dum grande poder evocativo e dramático, em que sobressai, evocando o itinerário dum catecúmeno, a progressão do cego para a fé plena, o qual começa por se confessar beneficiário da misericórdia do homem Jesus (v. 11), passando a reconhecê-lo como um profeta (v. 17), depois a atestar que Ele vem de Deus (v. 33), e, por fim, a professar a fé explícita em Jesus como Senhor, à maneira de quem responde às perguntas rituais do último escrutínio catecumenal (v 35-38). A alusão ao Baptismo é bastante clara através da unção e do banho: «lavei-me e fiquei a ver» (vv. 11.15), pois na primitiva Igreja este Sacramento era chamado iluminação (cf. Hebr 6, 4; 10, 32; Ef 5, 14; Rom 6, 4). Por outro lado, o decreto de exclusão punitiva da sinagoga (v. 34) não vai apenas contra o cego, mas visa Jesus e os próprios cristãos, os quais no sínodo de Yámnia (pelo ano 80) se viram excomungados pelo farisaísmo que sobreviveu à destruição de Jerusalém (v. 22; cf. Jo 12, 42; 16, 2).
6-7 «Ungiu…» O milagre não se realiza nem pela virtude do «lodo», nem pela eficácia medicinal da água, água comum. O prodígio é consequência do simples querer de Jesus. Como em Mc 7, 33 e 8, 23, com este gesto, Jesus quis pôr à prova e estimular a fé do doente, mas, neste caso, também se quis apresentar como «Senhor do Sábado», pois os rabinos consideravam a preparação do lodo e a unção como um trabalho proibido aos sábados (cf. v. 16). A «Piscina de Siloé» era alimentada pela água da fonte de Gihon (a fonte de Maria), que ali chegava através do canal de Ezequias (rei contemporâneo do profeta Isaías), canal subterrâneo e cavado na rocha com cerca de meio quilómetro de comprido.

Oração
Pai, abre meus olhos para que eu reconheça Jesus como teu Messias Salvador. Livra-me da cegueira provocada por falsos raciocínios, mesmo com roupagem religiosa.


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