O TEMPO DA
QUARESMA
A Constituição
"Sacrosanctum Concilium", do Concílio Vaticano II, assim nos orienta:
"tanto na liturgia como na catequese litúrgica(...) (possam) os fiéis
ouvir com mais freqüência a palavra de Deus e entregar-se à oração. Na
catequese, seja inculcada na alma dos fiéis, juntamente com as conseqüências
sociais do pecado, a natureza própria da penitência, que detesta o pecado como
ofensa feita a Deus" (109).
A palavra
Quaresma vem do Latim quadragésima e é utilizada para designar o período de
quarenta dias que antecedem a festa ápice do cristianismo: a Ressurreição de
Jesus Cristo, comemorada no famoso Domingo de Páscoa. Começa na quarta-feira de
cinzas e termina no sábado santo, excluindo os domingos dentro desse período.
Na quaresma os católicos realizam a preparação para a Páscoa.
O período é
reservado para a reflexão e conversão espiritual. Ou seja, o católico deve se
aproximar de Deus visando o crescimento espiritual. Os fiéis são convidados a
fazerem uma comparação entre suas vidas e a mensagem cristã expressa nos
Evangelhos. Esta comparação significa um recomeço, um renascimento para as
questões espirituais e de crescimento pessoal. O cristão deve intensificar a
prática dos princípios essenciais de sua fé com o objetivo de ser uma pessoa
melhor e proporcionar o bem para os demais.
Essencialmente,
o período é um retiro espiritual, onde os cristãos se recolhem em oração e
penitência para preparar o espírito para a acolhida do Cristo Vivo,
Ressuscitado no Domingo de Páscoa.
O caráter
original da Quaresma, conforme a força expressiva da própria palavra, foi
colocado na penitência de toda a comunidade e dos indivíduos.
Na
determinação da duração de quarenta dias, teve grande peso a tipologia bíblica
dos quarenta dias, isto é:
- Os quarenta dias de jejum de Jesus no deserto (Lc 4,2)
- Os quarenta anos transcorridos
pelo povo de Deus no deserto (Ex 16,35);
- Os quarenta dias em que Moisés esteve no
Monte Sinai (Ex 24,12-18; Dt 9,9);
- Os quarenta dias em que Golias , o gigante
filisteu, desafiou Israel, até que Davi avançou contra ele, e o matou (1Sm
17,16-51);
- Os quarenta dias durante os
quais Elias, fortificado pelo pão cozido sob as cinzas e pela água, chegou ao
monte de Deus, o Horeb (1Rs 19,3-8);
- Os quarenta dias nos quais
Jonas pregou a penitência aos habitantes de Nínive (Jn 3,4).
Esses dias da
quaresma são como dias da prova a que Deus submete o povo (Dt 2,7; 8,2-4). São
os dias de prova visando o crescimento na fé, conforme o salmo 94.
Os quarenta
dias bíblicos são de modo especial dias da graça ou das maravilhas que Deus
opera em prol de seu povo (Ex 14,31.15; Am 2,10; Jt 5,15)
A Igreja
católica propõe, por meio do Evangelho proclamado na quarta-feira de cinzas,
três grandes linhas de ação: a oração, a penitência e a caridade. Não somente
durante a Quaresma, mas em todos os dias de sua vida, o cristão deve buscar o
Reino de Deus, ou seja, lutar para que exista justiça, a paz e o amor em toda a
humanidade. Os cristãos devem então recolher-se para a reflexão para se
aproximar de Deus. Esta busca inclui a oração, a penitência e a caridade. (MT
6,1-6.16-18).
Acima de tudo,
está a vida de oração, condição indispensável para o encontro com Deus. Na
oração, o cristão ingressa no diálogo íntimo com o Senhor, deixa que a graça
entre em seu coração e, a semelhança de Maria, abre-se à oração do Espírito
cooperando a ela com sua resposta livre e generosa (Lc 1,38). Portanto devemos
neste tempo animar a nossos fiéis a uma vida de oração mais intensa.
Além disso,
não se pode esquecer que a Quaresma é tempo propício para ler e meditar
diariamente a Palavra de Deus. Por isso
seria muito bom oferecer a nossos fiéis a relação das leituras bíblicas da
liturgia da Igreja de cada dia com a confiança de que sua meditação seja de
grande ajuda para a conversão pessoal que nos exige este tempo litúrgico.
Penitência e
renúncia, nas circunstâncias ordinárias de nossa vida, também constituem um
meio concreto para viver o espírito da Quaresma. Não se trata tanto de criar
ocasiões extraordinárias, mas sim bem oferecer aquelas circunstâncias
cotidianas que nos são molestas; de aceitar com humildade, gozo e alegria, os
distintos contratempos que nos apresenta o ritmo da vida diária, fazendo
ocasião deles para nos unir à cruz do Senhor. Da mesma maneira, o renunciar a
certas coisas legítimas ajuda a viver o desapego e o desprendimento. Inclusive
o fruto dessas renúncias e desprendimentos o podemos traduzir em alguma esmola
para os pobres. Dentro desta prática quaresmal estão o jejum e a abstinência.
A igreja
propõe o jejum principalmente como forma de sacrifício, mas também como uma
maneira de educar-se, de ir percebendo que, o que o ser humano mais necessita é
de Deus. Desta forma se justifica as demais abstinências, elas têm a mesma
função.
Oficialmente,
o jejum deve ser feito pelos cristãos batizados, na Quarta-feira de Cinzas e na
Sexta-feira Santa. Pela lei da igreja, o jejum é obrigatório nesses dois dias
para pessoas entre 14 e 60 anos.
O jejum, assim
como todas as penitências, é visto pela igreja como uma forma de educação no
sentido de se privar de algo e reverter em serviços de amor, em práticas de
caridade. Os sacrifícios, que podem ser escolhidos livremente, por exemplo: um
jovem deixa de mascar chicletes por um mês, e o valor que gastaria nos doces é
usado para o bem de alguém necessitado.
A caridade é
entre as distintas práticas quaresmais que nos propõe a Igreja, a que ocupa um
lugar especial. Assim nos lembra São Leão Magno: “estes dias quaresmais nos
convidam de maneira premente ao exercício da caridade; se desejamos chegar à
Páscoa santificados em nosso ser, devemos pôr um interesse especialíssimo na
aquisição desta virtude, que contém em si as demais e cobre multidão de
pecados”. “Antes de tudo, mantende entre vós uma ardente caridade, porque a
caridade cobre a multidão dos pecados” (Pe 4,8). “O ódio desperta rixas; a
caridade, porém, supre todas as faltas” (Pr 10,12).
A oração, a
penitência e a caridade, ajudam-nos a viver a conversão pascal: do fechamento
do egoísmo (pecado), estas três práticas da quaresma nos ajuda a viver a
dinâmica da abertura a Deus, a nós mesmos e a outros.
A Quaresma, no Brasil, dispõe de um instrumento
que fortalece a ação pessoal, por uma atuação comunitária: faz viver o
Evangelho e fortalece a solidariedade entre os irmãos. Trata-se da Campanha da
Fraternidade, cuidadosamente preparada pela Conferência Nacional dos Bispos do
Brasil. O farto material difundido por todas as paróquias do Brasil ajuda a
viver os exercícios quaresmais. A
Campanha da Fraternidade culmina com um gesto concreto: uma coleta realizada no
Domingo de Ramos.
A SEMANA
SANTA
A semana é
santa porque nela celebramos os momentos mais importantes da nossa salvação.
São João resume desta forma: “Com efeito, de tal modo Deus amou o mundo, que
lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a
vida eterna. Pois Deus não enviou o seu
Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele” (Jo
3,16-17). E também: “Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua
hora de passar deste mundo ao Pai, como amasse os seus que estavam no mundo,
até o extremo os amou” (Jo 13,1). Com sua entrega por nós, Jesus santificou
essa semana, e nós a santificamos com nosso compromisso cristão.
Ao
abraçar em seu coração humano o amor do Pai pelos homens, Jesus “amou-os até o
fim” (Jo 13,1) “pois ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos
que ama” (Jo 15,13).
Assim,
no sofrimento e na morte, sua humanidade se tornou o instrumento livre e
perfeito de seu amor divino, que quer a salvação dos homens. Com efeito,
aceitou livremente sua paixão e sua morte por amor de seu Pai e dos homens, que
o Pai quis salvar: “ninguém me tira a vida, mas eu a dou livremente” (Jo
10,18).
Daí
a liberdade soberana do Filho de Deus quando ele mesmo vai ao encontro da
morte.
Os
dias da semana santa oferecem uma oportunidade muito privilegiada para
renovarmos nosso encontro pessoal e comunitário com a Pessoa de Jesus Cristo e
experimentarmos a força e o ardor com que nos ama, a ponto de dar sua vida por
nós na cruz.
Deverá
ser uma semana de intensa evangelização.
A
morte e a ressurreição de Jesus estão no centro do querigma cristão, no centro
do primeiro anúncio, que a igreja retomou vigorosamente na nova evangelização.
Na
oração, na meditação, na leitura orante do evangelho e na participação das
cerimônias da semana santa, teremos oportunidade de encontrar-nos com Cristo
vivo, fortalecer nossa adesão a ele e encher-nos do fogo do Espírito Santo para
irmos em missão evangelizadora.
Celebrar a
Semana Santa para os cristãos, é aprofundar as dimensões mais importantes da
vida humana. É a ocasião privilegiada oferecida pela LITURGIA para a renovação
de um COMPROMISSO com a vida, e com a fonte da vida, a única que tem força para
superar a morte e os esmagamentos que pesa sobre o povo.
A Semana Santa
comemora a Paixão de Cristo, sua morte e ressurreição. O centro da Paixão de
Cristo é a CRUZ, símbolo da fé e da redenção.
Em que
consiste a espiritualidade da Semana Santa?
Na sociedade
atual a Semana Santa vem perdendo o clima religioso popular. Porém, sobrevivem
manifestações de devoção centralizada na Paixão de Cristo.
O povo venera Cristo como o "homem das dores", o nazareno sofredor e moribundo, com ele vive a sua agonia enquanto povo de oprimidos e deserdados. Por esta razão que é a Sexta feira Santa, não o Domingo da ressurreição, a festa cristã popular de maior importância na Semana Santa, para aqueles que não vivem plenamente o evangelho. Para estes a morte de Cristo é símbolo de todo o sofrimento.
A identificação com o Crucificado
leva o povo a plasmar em imagens, gestos, cantos e orações a sua
espiritualidade pascal.
O símbolo popular mais forte e
comovedor da Semana Santa é a CRUZ. Eis a mística da CRUZ: "Em tudo somos oprimidos, mas não
sucumbimos. Vivemos em completa penúria, mas não desesperamos. Somos
perseguidos, mas não ficamos desamparados”. (2Cor 4,8-9)
Para entendermos a espiritualidade da Semana Santa, centrada na Paixão de Jesus, convêm fixarmos nos 3 pontos principais:
1o Sacramental: que corresponde a celebração do Tríduo Pascal, segundo os livros litúrgicos, vivido pelas comunidades e paróquias;
2o Sinais: são as representações dos acontecimentos históricos, como a procissão de ramos e Domingo da paixão do Senhor; o lava-pés da Quinta feira santa; a adoração da cruz, da Sexta-feira santa; o lucernário pascal, da Vigília do sábado e na madrugada do Domingo da ressurreição com a procissão.
3o Religiosidade popular: constituído por diversos atos piedosos e devocionais populares, baseados uns na agonia de Jesus, como a hora santa e o sermão das sete palavras; outros descrevem a paixão inteira do Senhor, como a via sacra, as representações teatrais e as procissões de semana santa.
Essas devoções ajudam a professar a
fé, a descobrir o sentido do pecado, a familiarizar-se com a cruz de Cristo, a
encarar-se com as injustiças deste mundo.
Tudo converge
para o exemplo de Cristo e sua entrega como dom salvador.
"Em
Cristo, morto e ressuscitado, temos a esperança de que cada um de nós, de que
nosso povo, esmagado por grandes sofrimentos, alcançaremos a libertação
total".
SEMANA
SANTA - MEMÓRIA DE JESUS NO HOJE DA HISTÓRIA.
Para muitos a Semana Santa se iguala
a um "retiro". Param e querem pensar.
Neste período muitos fortalecem a fé,
o amor e a esperança. Pensa-se em
Deus. Para outros é a oportunidade de responder:
Qual o sentido da vida?
Como explicar tanto sofrimento?
Onde buscar esperanças?
No período da Semana Santa, refletindo sobre a Paixão de Cristo, fazemos nascer, cada dia, em nossos corações a luz e uma nova esperança que na grande vigília pascal brilhará para todo o mundo.
A Semana Santa celebra-se na
comunidade. A Semana Santa para os cristãos se reveste de um sentido todo
especial e é um marco importante no seguimento de Jesus Cristo. Neste tempo,
muitos procuram sair das cidades e abandonar as suas comunidades para fazer
alguns dias de descanso na praia ou no campo. Essa é uma prática imprópria e
que em nada condiz com o sentido espiritual da pastoral e da liturgia que se
celebra. Isso acarreta uma perda para a formação cristã e priva as pessoas da
oportunidade de crescerem espiritualmente e se integrarem mais profundamente na
vivência do Mistério Pascal de Cristo. O lugar para passar a Semana Santa é a
comunidade, participando de suas celebrações.
Tempo de Retiro. A Semana Santa é tempo privilegiado para a comunidade e os cristãos, no silêncio e na oração, fazerem o encontro com o Senhor, conviverem mais intensamente com Ele, avaliarem as suas práticas em busca da vida plena. É um tempo propício para acolher a misericórdia de Deus Pai, revelada na vida de Jesus, o Filho amado. Tempo para ler e escutar a Palavra de Deus e colocar a vida em dia diante do Senhor e dos irmãos. Tempo de ação de graças para bendizer o Senhor pela salvação que nos oferece.
Tempo de renovação. Nos dias da Semana Santa a graça e a bênção de Deus são mais palpáveis e mais intensamente sentidas na comunidade. A força pascal do Cristo invade o tempo, atinge o coração, ilumina as mentes, questiona as contradições humanas e provoca o novo. Transforma o ser humano e o introduz numa nova vida, despertando o gosto pelas coisas de Deus, alimentando o prazer de estar com Deus, a serviço do seu Reino. Participar das celebrações na Semana Santa significa entrar na força da Páscoa do Cristo que tudo renova e plenifica com seu Espírito.
Tempo de cultivar o novo. Durante oito dias, celebrando o mistério da morte e ressurreição do Senhor, aprendemos em que consiste a liturgia do Filho de Deus que disse: “o Filho do Homem veio, não para ser servido, mas para servir...” (Mt 20,28) e que afirmou: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos”. (Jo 15,13). Esse jeito de Jesus entender a vida como serviço, nós lembramos e celebramos na liturgia. E pela liturgia, o Espírito Santo imprime em nossas vidas esse jeito de Deus amar e servir. Fazer memória de Jesus na liturgia nada mais é do que permitir que a novidade do evangelho, essa liturgia de Jesus, a sua solidariedade humano-divina se instaurem em nossas vidas e nos façam pessoas novas e santas, provocadoras do Projeto de vida em abundância para todos (Jo 10,10). Nas celebrações da Semana Santa se descobre e se cultiva a novidade do Reino de Deus.
DOMINGO DE
RAMOS E DA PAIXÃO DO SENHOR: LEMBRA O PROJETO DE JESUS.
Na liturgia deste domingo, revivemos a entrada de Jesus na cidade de Jerusalém para celebrar a sua Páscoa. Unidos aos seus sentimentos, mergulhamos no seu projeto de obediência ao Pai e de serviço à humanidade. Lembrando Jesus reafirmamos nossa obediência e assumimos a solidariedade com os excluídos e marginalizados.
Três símbolos estão presentes na
liturgia: os ramos, a procissão com ramos e a proclamação do Evangelho da
Paixão.
Fazemos parte de um povo que sai às ruas, agitando ramos, cantando hinos ao Cristo, nosso Rei e Redentor. Aclamamos Jesus como Messias, o esperado das nações. Cremos que Ele vem realizar as promessas antigas e instaurar o Reino: Justiça para os pobres, participação na construção da sociedade solidária, convivência fraterna, paz entre os povos; diálogo entre as religiões e culturas e vida em abundância para todos.
Em cada celebração, o Senhor está presente para realizar as promessas e nós o acolhemos através da prece e da participação e nos unimos à sua missão de trazer a paz. No Domingo de Ramos isso acontece de modo especial. A liturgia dos ramos não é uma repetição apenas da cena evangélica, mas sacramento da nossa fé na vitória do Cristo na história, marcada por tantos conflitos e desigualdades.
É o Domingo da Paixão de Jesus, do seu sofrimento assumido como expressão de compaixão pela multidão de famintos e da nossa compaixão com todos os sofridos em sua busca de libertação.
A entrada triunfal em Jerusalém é o convite para que os cristãos entrem hoje nas cidades e proclamem o Projeto de vida. Em procissão, aclamando que Ele vem em nome de Deus, aderimos ao seu projeto e abraçamos a sua atitude de servidor fiel até a extrema entrega na cruz.
No Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor, a igreja entra
no mistério do seu Senhor crucificado, sepultado e ressuscitado, o qual, ao
entrar em Jerusalém, preanunciou a sua majestade. Os cristãos levam ramos e
sinal do régio triunfo, que, sucumbindo na cruz, Cristo alcançou. De acordo com
a palavra do Apóstolo: “Se com Ele padecemos, com Ele também seremos
glorificado” (Rm 8,17), deve-se na celebração e catequese deste dia, salientar
o duplo aspecto do mistério pascal.
A
Celebração
Paramentos vermelhos
Canto inicial.
Saudação: Em nome...
Em seguida, por breve exortação os fiéis são convidados a
participar ativa e conscientemente da celebração deste dia. Meus irmãos...
Bênção dos Ramos
Proclamação do Evangelho
Breve homilia
Procissão: Turiferário – cruz processional ornada – dois
acólitos com velas – sacerdote com seus ministros – povo.
Ministros beijam o altar.
Omitindo os ritos iniciais reza-se a oração do dia.
Leituras
Evangelho (sem velas, sem incenso, sem saudação, sem o
sinal da cruz sobre o texto).
Homilia...
“O povo
hebreu, levando ramos de oliveira, / foram
ao encontro do Senhor".
Canta assim a
antífona litúrgica, que acompanha a solene procissão com os ramos de oliveira e
de palmeira neste Domingo, chamado precisamente dos Ramos e da Paixão do Senhor.
Revivemos o que aconteceu naquele dia: eram muitas as pessoas que
exultavam à volta de Jesus, que montado num jumento entrava em Jerusalém. Alguns
fariseus gostariam que Jesus os fizesse calar, mas Ele respondeu-lhes que se
eles se calassem, gritariam as pedras (Lc 19,39-40).
A Cruz está no
centro da liturgia de hoje. Não temeis a
Cruz de Cristo. Ao contrário, sentis por ela amor e veneração, porque é o sinal
do Redentor morto e ressuscitado por nós. Quem crê em Jesus crucificado e ressuscitado
leva a Cruz como um triunfo, como prova evidente de que Deus é amor. Com a
doação total de si, precisamente com a Cruz, o nosso Salvador venceu
definitivamente o pecado e a morte. Por isso aclamamos com júbilo; "Glória
e louvor a ti, ó Cristo, que com a tua Cruz redimiste o mundo!".
"Por nós,
Cristo fez-Se obediente até à morte, / e morte de cruz. / Por isso Deus o
exaltou / e lhe deu o nome que está acima de qualquer outro" (Fl 2, 8-9).
Com estas palavras do apóstolo Paulo, elevamos a nossa aclamação antes do início
da Semana Santa. Elas exprimem a nossa fé: a fé da Igreja.
Mas a fé em
Cristo não é previsível. A leitura da sua Paixão põe-nos diante de Cristo, vivo
na Igreja. O mistério pascal, que reviveremos nos dias da Semana Santa, é
sempre atual. Nós somos hoje os contemporâneos do Senhor e, como o povo de
Jerusalém, como os discípulos e as mulheres, somos chamados a decidir se estar
com Ele, se fugir ou permanecer simples espectadores da sua morte.
Deparamos
todos os anos, na Semana Santa, com o grande cenário no qual se decide o drama
definitivo não só para uma geração, mas para toda a humanidade e para cada
pessoa individualmente.
A narração da
Paixão põe em relevo a fidelidade de Cristo, em contraste com a infidelidade
humana. No momento da prova, enquanto todos, também os discípulos e até Pedro,
abandonam Jesus (Mt 26,56), Ele permanece fiel, disposto a derramar o sangue
para cumprir plenamente a missão que o Pai lhe confiou. Permanece Maria ao seu
lado, silenciosa e sofredora.
Aprendamos de
Jesus e da sua e nossa Mãe. A verdadeira força do homem vê-se na fidelidade com
que ele é capaz de dar testemunho da verdade, resistindo a lisonjas e ameaças,
a incompreensões e chantagens, e até à perseguição dura e desumana. Eis o
caminho pelo qual o nosso Redentor nos chama a segui-Lo.
Só se
estivermos dispostos a fazer isto, nos tornamos o que Jesus espera de nós, isto
é, "sal da terra" e "luz do mundo" (Mt 5,13-14). A imagem
do sal "recorda-nos que, mediante o batismo, toda a nossa existência foi
profundamente transformada, porque foi "temperada" com a vida nova
que vem de Cristo (Rm 6,4).
Não percamos o
nosso sabor de cristãos, o sabor do Evangelho! Mantende-o vivo, meditando
constantemente o mistério pascal: a Cruz seja a nossa escola de
sabedoria. Não nos orgulhemos de mais nada, a não ser desta sublime cátedra de
verdade e de amor.
A liturgia
convida-nos a subir até Jerusalém com Jesus aclamado pelo povo hebreu. Daqui a
pouco Ele "deverá sofrer e ressuscitar dos mortos no terceiro dia"
(Lc 24,46). São Paulo recordou-nos que Jesus "se despojou a si mesmo,
assumindo a condição de servo" (Fl 2,7) para nos obter a graça da filiação
divina. É daqui que brota a verdadeira fonte da paz e da alegria para cada um
de nós! Encontra-se aqui o segredo da alegria pascal, que nasce do sofrimento
da Paixão.
Façamos votos
para que cada um de nós, queridos amigos, participemos desta alegria. Aquele
que escolhemos como Mestre não é um comerciante de ilusões, não é um poderoso
deste mundo, nem um astuto e hábil pensador. Nós sabemos quem escolhemos
seguir: é o Crucificado ressuscitado! Cristo morto por nós, Cristo
ressuscitado por nós.
E a Igreja
garante-nos que não ficamos desiludidos. De fato, mais ninguém a não ser Ele,
nos pode dar aquele amor, aquela paz e aquela vida eterna pela qual o nosso
coração aspira profundamente. Bem-aventurados seremos nós, irmãos, se
formos fiéis discípulos de Cristo! Bem-aventurados
seremos nós se, em todas as ocasiões, estivermos dispostos a testemunhar que
este homem é verdadeiramente Filho de Deus! (Mt 27,54).
PROCISSÃO DO ENCONTRO
Os
homens saem de uma igreja com a imagem de Nosso Senhor dos Passos e as mulheres
saem de outra igreja com Nossa Senhora das Dores. Acontece então o doloroso
encontro entre a Mãe e o Filho. O padre, então, proclama a homilia que pode ser
sobre as Sete Palavras, que na verdade
são sete frases:
1. Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem. (Lc 23,34a);
2. Hoje
estarás comigo no paraíso. (Lc 23,43);
3. Mulher eis
aí o teu filho; filho eis aí a tua mãe. (Jo 19,26-27);
4. Meu Deus,
Meu Deus, porque me abandonastes? (Mc 15,34);
5. Tenho sede.
(Jo 19,28b);
6. Tudo está
consumado. (Jo 19,30a);
7. Pai, em
tuas mãos entrego o meu espírito. (Lc 23,46b).
O sacerdote,
diante das imagens, faz uma reflexão com estas frases, chamando o povo à
conversão e à penitência. O silêncio é grande, já que a imagem de Nosso Senhor
dos Passos mostra-o com a cruz às costas.
A expressão
dos rostos das imagens é de dor e sofrimento. Algumas imagens de Nossa Senhora
das Dores mostram-na abraçada a uma espada, lembrando certamente a profecia de
Simeão: “Uma espada de dor te traspassará a alma” (Lc 2,35).
É tudo isso
que vivemos neste tempo de profunda reflexão. Nossa fé é pascal, passa pelo
sofrimento, morte e ressurreição do Senhor.
Sigamos os
passos de Jesus, sempre com Maria.
Em seguida
a procissão segue até a Igreja Matriz onde é celebrada a Santa Missa.
SEGUNDA, TERÇA E QUARTA-FEIRA
SANTA.
Esses três dias, que a Igreja
chama de grandes e santos, têm, dentro do desenrolar da semana santa, uma
finalidade bem definida. Eles situam as celebrações dentro da perspectiva do
Fim, eles nos relembram o sentido escatológico da Páscoa. Muito freqüentemente
a Semana Santa é considerada como uma "linda tradição," um
"costume," uma data importante do calendário. É o acontecimento anual
esperado e amado, a Festa "observada" desde a infância, durante a
qual a gente se encanta com a beleza das celebrações, com a profundidade dos
ritos, e na qual a gente se ocupa de preparar a ceia pascal, que não é de menor
importância. . .
Depois, uma
vez que tudo isto tenha acabado, nós retomamos a vida normal. Mas, teremos
mesmo consciência de que "a vida normal" não é mais possível depois
que o mundo rejeitou seu Salvador, depois que "Jesus ficou triste e
abatido.. .," que sua alma "ficou infinitamente triste até a morte. .
." e que ele morreu na cruz?
Foram mesmo homens "normais" que
gritaram: "Crucifica-o!" Homens normais que cuspiram nele e o
pregaram na cruz. . . Se eles o odiaram e o mataram, é precisamente porque ele
veio sacudir e desestabilizar sua vida normal. Foi mesmo um mundo perfeitamente
"normal" que preferiu as trevas e a morte, em lugar da vida e da luz.
. . pela morte de Jesus o mundo
"normal," a vida "normal" foram irrevogavelmente
condenados. Ou, mais exatamente, o mundo e a vida revelaram sua natureza
verdadeira e anormal, sua incapacidade de acolher a luz, o terrível poder que o
mal exerce sobre eles. "É agora o julgamento deste mundo; agora será
lançado fora o príncipe deste mundo." (Jo 12,31).
A Páscoa de Jesus significa o fim para
"este mundo" e, desde então, ele está "no seu fim." Este
fim pode se estender por centenas de séculos, mas isto não altera em nada a
natureza dos tempos em que vivemos, que é "o último tempo." "O
rosto deste mundo passa" (1Cor 7,31).
Durante esses
dias, Jesus e os discípulos preparam-se para celebrar a Páscoa, festa principal
dos judeus. Porém, Jesus sabia muito bem que eram os últimos dias de sua vida.
A Páscoa judaica converter-se-ia na
Páscoa de Jesus; usa passagem da morte para a vida. Por isso, o evangelho
desses dias fala da intimidade de Jesus com os discípulos e de tudo que ele fez
nos últimos dias. Visita os amigos de betânia, prepara a última ceia e sofre
horrivelmente com a traição de Judas.
SEGUNDA-FEIRA
SANTA.
Primeira
leitura: Isaías 42, 1-7
Ele
não clama nem levanta a voz, nem se faz ouvir pelas ruas (Primeiro canto do Servo do Senhor).
Salmo
responsorial: 26, 1-3.13-14
O
Senhor é minha luz e salvação.
Evangelho:
João 12, 1-11
Deixa-a;
ela fez isto em vista do dia de minha sepultura.
Nesta
Segunda-feira santa a liturgia nos propõe, em primeiro lugar, um texto do
Dêutero-Isaías, um profeta que pregou durante o exílio, como Ezequiel,
alimentando a esperança do povo, anunciando-lhe um novo êxodo do qual Deus
mesmo seria o guia e no qual se renovariam os prodígios do deserto. Trata-se de
oráculos de consolo para os deportados, oráculos entre os quais aparece a
figura misteriosa do Servo de Javé (Is 42,1-9; 49,1-6; 50,4-9; 52,13-53,12).
Atualmente os estudiosos da Bíblia se perguntam a quem estaria se referindo o
profeta quando falava desta figura misteriosa. Seria, quem sabe, uma
personalização de si mesmo ou de algum outro profeta conhecido (Jeremias)? Ou
simboliza o povo perdoado e agora destinado a testemunhar a grandeza e a
santidade de Deus em meio às nações? Estamos diante de uma nova figura
messiânica, mais complexa que as demais encontradas na Bíblia?
Nós, cristãos,
sempre vimos nele a mesma pessoa de Jesus. Na passagem que hoje lemos fala-se
da predileção de Deus por seu Servo, e de como o ungiu com a plenitude de seu
Espírito. Descreve-se-lhe como um ser bondoso, humilde, paciente. Atribuem-se a
ele dois atributos que foram apreciadíssimos ao longo dos séculos e nas mais
diversas culturas, e que em nosso tempo, nesta mudança de milênio, continuam
significando os anseios mais profundos da maior parte da humanidade: a justiça
e o direito. Ele recebe uma missão universal, não só a favor do povo eleito,
mas também “das nações”, “das ilhas”, que são expressões a indicar os povos
pagãos na linguagem do Antigo Testamento. O servo de Deus realizará, enfim, a
esperança de uma humanidade livre, plena de vida e feliz.
Na vida e na
obra de Jesus de Nazaré, especialmente em sua morte e ressurreição, os cristãos
viram cumprida a missão do Servo de Javé. Servo por sua humildade e paciência,
mas filho querido de Deus que o ressuscitou dentre os mortos como vamos
comemorar e celebrar nesta Semana Santa.
O evangelho de
João nos apresenta sua versão da unção de Jesus por parte de uma mulher. João a
ambienta em Betânia, na mesma casa de Lázaro e suas irmãs, e transforma a
anônima protagonista da homenagem a Jesus segundo as versões sinóticas, na
mesma Maria, irmã de Marta e do recém ressuscitado Lázaro. O gesto de Maria se
converte aqui em agradecimento pela vida do irmão, em manifestação de ternura
de amor feminino, que Jesus aceita plenamente. Ungiam-se com azeite perfumado
os reis, os sacerdotes e até alguns profetas. Ungiam-se também os mortos, que
eram banhados e perfumados antes de serem envolvidos pelo sudário com que
seriam levados à sepultura. Jesus interpreta assim o gesto de Maria: é a unção
antecipada de seu corpo que vai ser torturado, morto e sepultado. É a unção do Servo
de Deus, não para exercer despoticamente o poder, como os reis, nem para
oferecer o culto formalístico dos sacerdotes do templo de Jerusalém. É uma
unção para o serviço até a morte, para a entrega de amor à humanidade toda,
ápice do ministério de Jesus, de sua pregação e de seus milagres, sinais da
misericórdia de Deus.
João nos diz
que Judas se escandalizou com o desperdício, pois o perfume utilizado por Maria
para ungir a Jesus era de grande valor. Contrasta a generosidade da mulher como
a mesquinharia do discípulo, fruto da cobiça e da traição. Jesus anuncia aos
presentes que a igreja deverá lhe render homenagem ao longo dos séculos nos
pobres, que eles nunca serão pretexto para negar-lhe adoração e homenagem, pois
com eles se identifica indissoluvelmente. Dispostos já para as celebrações
pascais desta Semana Santa devemos nos perguntar: que homenagem vamos render a
Jesus nesta semana? Não será simplesmente o incenso ou as flores e ramos com
que solenizamos estes dias, os lindos cantos, as procissões acompanhadas de
velas e músicas marciais? Jesus quer Jesus que lhe prestemos homenagem pela sua
páscoa em nossos irmãos pobres e necessitados, nos compromissos de
solidariedade e de serviço. Sem isto, as solenidades litúrgicas serão mero
paganismo.
AS
DORES DE NOSSA SENHORA.
A invocação das ‘dores’ começou a
ser pública e específica desde que o Papa Benedito XIII, em 22 de agosto de
1727, mandou que se rezasse sobre as ‘dores de Nossa Senhora’.
Mulher eis
aí o teu filho; filho eis aí a tua mãe. (Jo 19,26-27).
Esses dois
versículos de São João, são conhecidos como o testamento de Jesus. Jesus
encontra-se já pregado na cruz, momento altíssimo da sua missão salvífica. Está
próximo o momento do seu retorno para a glória do Pai. Antes de voltar para o
seio do Pai, de onde Ele veio, Jesus deixa para nós, homens, a sua herança.
Entrega a João, o discípulo amado e fiel até a
cruz, a maternidade de Maria. João é figura de todos os discípulos fiéis e de
todos os tempos. Portanto, quando Jesus, do lenho da cruz, diz a João:
"Eis a tua Mãe"; na realidade está confiando toda a sua igreja à
guarda da proteção materna de Maria.
Daquele
momento em diante, por desejo e ordem do próprio Jesus, a maternidade
espiritual de Maria, estendeu-se sobre todos aqueles discípulos de Jesus, que
como João lhe são fiéis até o fim, até a cruz; em todos os tempos e lugares
onde estiver presente a sua igreja.
Também à Maria
Jesus diz: "Eis o teu filho", referindo-se a João. Pela sua fé
inquestionável, Maria teve coragem de oferecer seu único e amado Filho na cruz.
Provavelmente esse foi o momento mais doloroso da sua caminhada de fé.
Provavelmente, na cruz, foi a última e mais difícil renovação do seu
"sim" ao plano de Deus, pois humanamente tudo parecia obscuro,
incerto. Tudo parecia ter chegado ao fim e o seu sofrimento materno atingia o
grau máximo. Humanamente Maria não deveria ter mais forças e nem motivos para
continuar tendo esperanças. Porém, ela espera contra toda esperança.
Mais uma vez,
ela se abandona totalmente no mistério divino, confiando somente na fidelidade
de suas promessas. Quase que como recompensa ao seu total despojamento, que lhe
faz capaz de oferecer tudo, até mesmo seu único filho. Jesus entrega João à
Maria como filho e, através dele, entrega toda a sua igreja, todos os seus
discípulos fiéis de todos os tempos aos cuidados maternos de sua Mãe. Foi em
base a estas palavras de Jesus na cruz, que o Papa Paulo VI, disse que nenhuma
igreja pode ser verdadeiramente cristã, se não for Mariana. Nenhuma igreja que
se diz cristã, não honra o seu nome, se não ama, não respeita e não venera a
Virgem Maria, da qual nasceu Jesus, em quem se fundamenta toda igreja que
carrega o peso do nome "cristão".
Uma igreja cristã sem a Mãe de Jesus, seria
como uma bonita construção, com colunas e paredes resistentes, mas sem telhado
ou sem abertura.
Mas, a
intenção de São João ao narrar-nos as últimas palavras de Jesus na Cruz, não é
somente aquela de comprovar o desejo de Jesus sobre a maternidade espiritual de
Maria dentro da igreja. Nas palavras de Jesus e no fato da presença de Maria
aos pés da cruz, ele quer mostrar-nos também em que consiste essa maternidade
espiritual de Maria dentro da igreja. De fato, o que o evangelho quer nos
ensinar, é que a maternidade espiritual de Maria sobre toda a sua igreja, não é
somente um título de honra dado a Maria, mas é a justa recompensa pelo modo
como a Virgem Mãe colaborou ativamente na obra salvífica do seu Filho e nosso
Senhor Jesus.
A sua
maternidade espiritual é a justa recompensa de Deus, pela atitude de inteira
entrega e doação que Maria assumiu desde o momento em que deu o seu primeiro
"sim" ao plano de Deus. Por isso mesmo, a maternidade espiritual de
Maria, não é somente um privilégio, mas acima de tudo, uma nova missão que Deus
lhe confia. A cooperação de Maria no calvário é o prolongamento daquele seu
consenso ativo, irreversível e incondicionado dado na anunciação, mas que
persiste e culmina aos pés da cruz..
Através do
conceber a Jesus; gerá-lo em seu seio, nutri-lo, apresentá-lo ao Pai no templo
e do seu sofrer com o filho que morre na cruz, Maria coopera de modo muito
especial na obra da nossa salvação, com a sua obediência, sua fé, sua esperança
e sua ardente caridade, para restaurar a vida sobrenatural de todos as almas.
Se Jesus é o homem das dores, Maria é a mulher das dores. Ela, aos pés da cruz,
sofrendo com seu filho, é para todos os cristãos, modelo da perfeita união com
Cristo até as últimas conseqüências. Mais importante do que a presença física
de Maria entre os poucos discípulos fiéis a Cristo aos pés da cruz, é a sua
comunhão íntima com o Cristo crucificado. Maria juntamente com os poucos
discípulos fiéis (que representam dignamente o resto fiel de Israel), abraça
aquela cruz como se fosse sua, faz sua a mensagem contida naquele gesto de
Jesus.
Ela,
aos pés da cruz, torna-se o modelo perfeito do verdadeiro discípulo de Cristo,
que o segue até ás últimas conseqüências. Seguir a Cristo até a cruz, escândalo
para os judeus e loucura para os pagãos, é o verdadeiro teste de maturidade da
fé, pelo qual Maria passou e foi aprovada. Portanto, a celebração de hoje, deve
nos conduzir a uma reavaliação da nossa condição cristã. Ser cristão, não é
somente dizer-se tal, ter recebido o batismo, rezar ou freqüentar a igreja. Ser
cristão, é dar um sim a Deus e ser fiel a ele até as últimas conseqüências. É
abraçar a cruz de Cristo e fazê-la nossa. É não perder a fé e a esperança na
fidelidade de Deus, mesmo diante da dor, da incerteza e da crueldade da cruz. É
saber fazer nascer a vida a partir das situações de morte, pelas quais
passamos. Que a Virgem Mãe das Dores, nos ensine a abraçar com coragem nossas
cruzes, viver cristãmente nossas dores, sendo fiéis a Cristo até as últimas
conseqüências.
Como viver
esse dia?
Na
segunda-feira santa, em nossas famílias e comunidades, começamos a criar o
ambiente propício para a celebração do mistério pascal.
É
bom perguntar-nos a que altura estamos no nosso processo de conversão, como
estão nossas relações familiares, de grupo, como está nossa participação na
vida da comunidade.
A
leitura e da meditação do evangelho desse dia servirão para alimentar em nós os
sentimentos e atitudes que a participação nesses dias santos nos impõe: mudança
de vida, solidariedade, unidade.
Intensificamos,
por isso, o espírito de oração e de serviço e nos aproximamos do sacramento da
reconciliação.
TERÇA-FEIRA
SANTA.
Primeira
leitura: Isaías 49, 1-6
Eu
te farei luz das nações, para que minha salvação chegue até aos confins da
terra (Segundo canto do Servo do Senhor) .
Salmo
responsorial: 70, 1-4a.5-6ab.15.17
Minha
boca anunciará vossa justiça.
Evangelho:
João 13, 21-33.36-38
Um
de vós me entregará... O galo não cantará antes que me tenhas negado três
vezes.
Hoje também lemos um dos cantos do Servo de Javé presentes
no Dêutero-Isaías (Is 42,1-9; 49,1-6; 50,4-9; 52,13-53,12). Trata-se da 2ª
dessas quatro passagens que, como já dissemos em outras oportunidades,
apresentam uma figura misteriosa suscitada por Deus a favor de seu povo.
Esperava-se que ele fosse atuar no meio dos judeus deportados para a Babilônia
e que os conduziria até levá-los de regresso à terra de seus antepassados, onde
reconstruiriam o templo e a cidade santa.
O canto destaca as seguintes qualidades do Servo: 1ª) Foi
escolhido desde o seio materno, expressão que na Bíblia indica sempre uma
especial vocação em função da vida e da felicidade do povo, e uma especial
predileção de Deus por essa pessoa. 2ª) Foi-lhe confiada a Palavra de Deus,
como dão a entender as imagens da espada afiada e da flecha aguda que Deus
guarda em sua aljava. 3ª) É objeto de particulares cuidados divinos, como
assegura a imagem de que Deus o esconde na “sombra de sua mão”. 4ª) Enviado ao
povo de Israel, entendido como as doze tribos da época monárquica, não como a
única tribo de Judá, para reuni-lo depois da dispersão. 5ª) Mas também foi
destinado por Deus para ser “luz das nações”, isto é, dos pagãos; para uma
missão universal, ecumênica: “até aos confins da terra”. 6ª) Deve enfrentar
alguma forma de sofrimento ou contradição que aqui, no 2º canto, se expressam
na pergunta que o Servo faz pelo sentido de sua existência. 7ª) Finalmente, o
humilde e obediente Servo de Deus será glorificado por Deus. Nos cantos
posteriores, de Isaías 50 e 52, figuram mais detalhadamente os sofrimentos do
Servo.
Já dissemos também que apesar das possíveis explicações
históricas, os cristãos sempre viram no Servo de Isaías uma prefiguração de
Jesus Cristo. É por isso que a liturgia nos propõe as leituras destas passagens
precisamente no tempo da Quaresma e da Semana Santa.
Ontem, a propósito da leitura evangélica, perguntávamos
pela responsabilidade da condenação de Jesus à morte. Falávamos das autoridades
religiosas judaicas dessa época, do representante do poder imperial romano...
Hoje o evangelista João nos leva a perguntarmo-nos pela nossa própria
responsabilidade de cristãos na morte de Jesus. Acaso Judas não era um dos
discípulos ao qual foram confiados os fundos da comunidade? Ele já tinha
decidido entregar a Jesus por dinheiro. E o mesmo Pedro, líder do grupo, que ao
anoitecer faz alardes de ser capaz de seguir Jesus até à morte, já o terá
negado três vezes quando o galo cantar à meia-noite. As figuras patéticas dos
discípulos de Jesus que, antes da ressurreição, todavia são covardes e mesquinhos,
nos devem fazer cair na conta de nossa própria situação. Até onde seremos
verdadeiros discípulos do Mestre? Estamos seguros de que não o trocaríamos pelo
dinheiro? Seremos capazes de nos confessarmos seus humildes e alegres
seguidores diante de quem quiser perguntar pela nossa fé? Ou, quem sabe, a
covardia e o respeito humano nos levarão a negá-lo, se não de palavra, com
nossas atitudes? É bem fácil julgar os demais, ficarmos espantados com o
pavoroso destino de Judas que vendeu o seu mestre, com a covardia de Pedro que
o negou diante dos soldados e serventes, sem cairmos na conta de nossas muitas
traições e negações quando não somos capazes de assumir conseqüentemente as
exigências de nosso compromisso cristão.
Façamos hoje como o discípulo amado, esse misterioso
discípulo que reclina a cabeça com íntima familiaridade sobre o peito de Jesus
(Jo 13,23-26), que o acompanha até a cruz e recebe em sua casa a mãe
desamparada (Jo 19,25-27), que corre ao sepulcro para ser o primeiro a
manifestar a fé na ressurreição de seu mestre (Jo 20,1-10); que reconhece,
também ele por primeiro, a Jesus de Nazaré, o crucificado, na misteriosa
aparição às margens do lago (Jo 21,7) e sobre quem o Ressuscitado faz uma
estranha predição (Jo 21,20-23). Muito se tem especulado e discutido a respeito
da identidade e significado deste personagem. A tradição o identificava
automaticamente com João, o filho de Zebedeu, irmão de Tiago, considerado
também como o autor do 4º evangelho. A exegese atual nele um amigo de Jesus, um
autêntico discípulo, incapaz de traí-lo, incapaz de negá-lo, um cristão
autêntico, um modelo para os cristãos de todos os tempos e sobretudo para nós,
hoje, em nossas circunstâncias concretas
SACRAMENTO
DA RECONCILIAÇÃO (CONFISSÃO)
Celebra-se
em nossa Paróquia
o mutirão de Confissões – momento de festa pelo perdão de Deus. Momento de
participarmos deste sacramento com muita espiritualidade e exemplo de fé e paciência.
Como viver
esse dia?
Na
terça-feira santa, vemos como Jesus foi traído por Judas e negado por Pedro, um
dos seus mais íntimos amigos. É um convite para pensarmos em nossas relações
pessoas com Jesus. Como estamos correspondendo às manifestação de seu amor?
A
frase do evangelho segundo Mateus 25,40 pode ajudar-nos a encontrar a resposta
correta: “... em verdade, eu vos declaro: todas as vezes que fizerdes isto a um
destes meus irmãos mis pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes”.
Sim,
a resposta ao amor que Deus nos tem está no serviço e no amor que tivermos para
com os irmãos mais necessitados. Que nesse dia posamos compreender a fundo essa
verdade e nos decidimos a viver em consonância com ela.
É
também um dia em que podemos aproximar-nos da reconciliação e das pessoas de
quem estamos afastadas.
QUARTA-FEIRA
SANTA.
Primeira
leitura: Isaías 50, 4-9a
Não
desviei o rosto de bofetões e cusparadas (Terceiro
canto do Servo do Senhor) .
Salmo
responsorial: 68, 8-10.21bcd-22.31.33-34
Respondei-me
pelo vosso imenso amor, neste tempo favorável, Senhor Deus.
Evangelho:
Mateus 26, 14-25
O Filho
do Homem vai morrer, conforme diz a Escritura a respeito dele. Contudo, ai
daquele que o trair.
O relato da celebração pascal de Jesus com seus
discípulos está acompanhado do desmascaramento do traidor, presente no interior
da comunidade. É no interior da comunidade, sobretudo, onde se trama a paixão
de Jesus, já que em seu seio o Mestre é “entregado” (vv.15.16. 21.23.24.25).
Para explicar
esta traição incompreensível o evangelista recorre a Zc 11,12 onde os chefes do
povo dão ao profeta, enviado por Javé, um salário ridículo: trinta moedas de
prata, o preço de um escravo segundo o que se estabelecera em Ex 21,32.
A descrição da
traição em termos de “entrega” e o lugar da Escritura que se invoca, mostram
que a ação de Judas se inscreve no desígnio de Deus, pelo qual o Filho se
entrega à morte para a salvação dos homens.
Este sentido
domina o relato da Ceia pascal. A entrega marcará a sua celebração. Diante da
pergunta dos discípulos a respeito do lugar da celebração, Jesus ordena ir à
“casa de um certo homem”. A indeterminação quer indicar que se trata de todo
aquele que se sente implicado na História da Paixão. A ele, Jesus se dirige
para anunciar que vai celebrar a Páscoa... com seus discípulos.
A ceia se
realiza “ao cair da tarde” (v. 20) como na primeira multiplicação dos pães (Mt
14,15) e como na sepultura de Jesus (Mt 27,57). Jesus alimenta os homens
mediante sua entrega. Uma nova Páscoa na qual se realiza a instituição da
Eucaristia, e a morte de Jesus substitui a páscoa oficial judaica.
Mas no meio
deste oferecimento de vida para os discípulos, Jesus anuncia a presença das
sombras da traição que provoca em cada um deles tristeza e insegurança. O gesto
de amizade e intimidade de Jesus – “por a mão no mesmo prato” – não exime dessa
dolorosa possibilidade.
Desta forma a
amizade se transforma em oposição entre “este Homem” e “esse indivíduo”. A ação
deste último, motivada por seu amor ao dinheiro, elimina todos os valores
oferecidos pelo primeiro. Renuncia para sempre o caminho da própria realização
e sacrifica todo o seu ser no altar do dinheiro.
Desta forma se
fecha todo acesso que conduz a uma maturidade plena. Para Judas só lhe resta a
frustração e o fracasso pessoal “Seria melhor que nunca tivesse nascido!”,
(v.24). Após esta afirmação lapidar sobre a sorte do traidor produz-se
imediatamente a reação de Judas. Pouco a pouco Jesus foi centrando a pergunta
sobre a identidade do discípulo infiel e por isso Judas se vê obrigado a
reagir. À sua pergunta Jesus responde afirmativamente. Trata-se do último
intento para que o traidor repense o que havia planejado. Mas o intento
fracassa porque Judas tem o coração endurecido.
A figura de
Judas é um chamado à reflexão para todo discípulo de Jesus. A “entrega”, doação
absolutamente gratuita de Deus e de seu Filho se transforma em “entrega”, venda
que desvaloriza o dom por um preço irrisório. A ambição é o motor, capaz de
transformar a amizade em vontade oposta ao querer de Deus e em frustração e
fracasso da vida.
VIA-SACRA
Neste
dia fazemos a Via-Sacra nas ruas da nossa Paróquia. É um momento de
demonstramos publicamente a nossa fé no Cristo que morreu por nós, mas
ressuscitou no terceiro dia.
Como viver
esse dia?
Em
face da traição de Judas, Jesus responde com a entrega amorosa de sua vida.
Está firme e decidido. “A mim não me tiram a vida; eu a entrego”. Para nós é
também a hora da decisão. Com quem estamos? Com Cristo ou contra Cristo? Deus
não quer que respondamos com palavras, mas sim com atos, isto é, pela nossa
maneira de viver e de nos relacionarmos com o próximo. É essa a única resposta
verdadeira.
Estamos
sendo causa de vida, de alegria e de esperança para os que vivem perto de nós?
A
traição, a falsidade e a inconsciência de Judas terão algo a nos ensinar?
Somos
geradores de vida, de esperança e de união na comunidade?
A confissão sacramental que fizemos nessa semana, é uma
confirmação desse caminho de conversão que passamos a trilhar desde o início da
Quaremos; exprime nosso desejo de participar da paixão do Senhor, morrendo para
nossa vida de egoísmo e de pecado (Rm 6,1-14).
QUINTA-FEIRA SANTA: ENCONTRO DA QUARESMA COM A PÁSCOA
Unção dos Santos Óleos
Na manhã da Quinta-feira Santa a Igreja celebra
a Bênção dos Santos Óleos. Composto por óleo de oliva misturado com perfume
(bálsamo) é consagrado pelo Bispo Diocesano para ser usado nas celebrações do
Batismo, Crisma, Unção dos Enfermos e Ordenação. Além disso, sempre que houver
celebração com óleo, ele deve estar à disposição do ministro além de uma jarra
com água, bacia, sabonete e toalha para as mãos.
Não se sabe com precisão, como e quando teve
início a bênção conjunta dos três óleos litúrgicos. Fora de Roma, esta bênção
acontecia em outros dias, como no Domingo de Ramos ou no Sábado de Aleluia. O
motivo de se fixar a celebração na Quinta-feira Santa deve-se ao fato de ser
este o último dia em que se celebra a missa antes da Vigília Pascal.
Óleo do Crisma Uma mistura de óleo e bálsamo,
significando plenitude do Espírito Santo, revelando que o cristão deve irradiar
"o bom perfume de Cristo". É usado no sacramento da Confirmação
(Crisma) quando o cristão é confirmado na graça e no dom do Espírito Santo,
para viver como adulto na fé. Este óleo é usado também no sacramento da ordem,
(Sacerdotes) para ungir os "escolhidos" que irão trabalhar no anúncio
da Palavra de Deus, conduzindo o povo e santificando-o no ministério dos
sacramentos.
Óleo dos Catecúmenos. Catecúmenos são os que se
preparam para receber o Batismo, sejam adultos ou crianças, antes do rito da
água. Este óleo significa a libertação do mal, a força de Deus que penetra no
catecúmeno, o liberta e prepara para o nascimento pela água e pelo Espírito.
Óleo dos Enfermos É usado no sacramento dos
enfermos, conhecido erroneamente como "extrema-unção". Este óleo
significa a força do Espírito de Deus para a provação da doença, para o
fortalecimento da pessoa para enfrentar a dor e, inclusive a morte, se for
vontade de Deus.
Dessa santa
missa presidida pelo bispo da diocese, participam os sacerdotes de todas as
paróquias para expressar, de modo particular, a união da comunidade eclesial e
renovar o sacramento da ordem.
MISSA DA CEIA DO SENHOR
Primeira leitura: Êxodo
12,1-8.11-14
Ritual da ceia pascal.
Salmo responsorial: 115, 12-13.15-18
O cálice por nós abençoado é a nossa comunhão com o sangue do Senhor.
Segunda leitura: 1 Cor 11,23-26
Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, proclamais a morte do Senhor.
Evangelho: João 13,1-15
Amou-os até o fim.
Ritual da ceia pascal.
Salmo responsorial: 115, 12-13.15-18
O cálice por nós abençoado é a nossa comunhão com o sangue do Senhor.
Segunda leitura: 1 Cor 11,23-26
Todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, proclamais a morte do Senhor.
Evangelho: João 13,1-15
Amou-os até o fim.
O último dia
da Quaresma (até a hora das vésperas). Com a "Santa Missa da ceia do
Senhor", abre o tríduo pascal. O termo deriva do latim "tres
dies", ou seja, três dias dedicados a celebrações e orações especiais. É
também o "dia da entrega": Judas entrega Jesus aos seus inimigos,
Cristo se entrega para a Igreja na Eucaristia.
A liturgia da
Quinta-feira Santa é um convite a aprofundar concretamente no mistério da
Paixão de Cristo, já que quem deseja segui-lo deve sentar-se à sua mesa e, com
o máximo recolhimento, ser espectador de tudo o que aconteceu na noite em que
iam entregá-lo.
E por outro
lado, o mesmo Senhor Jesus nos dá um testemunho idôneo da vocação ao serviço do
mundo e da Igreja que temos todos os fiéis quando decide lavar os pés dos seus
discípulos.
Neste sentido,
o Evangelho de São João apresenta a Jesus 'sabendo que o Pai pôs tudo em suas
mãos, que vinha de Deus e a Deus retornava', mas que, ante cada homem, sente
tal amor que, igual como fez com os discípulos, se ajoelha e lava os seus pés,
como gesto inquietante de uma acolhida inalcançável.
São Paulo
completa a representação recordando a todas as comunidades cristãs o que ele
mesmo recebeu: que aquela memorável noite a entrega de Cristo chegou a fazer-se
sacramento permanente em um pão e em um vinho que convertem em alimento seu
Corpo e seu Sangue para todos os que queiram recordá-lo e esperar sua vinda no
final dos tempos, ficando assim instituída a Eucaristia.
A Santa Missa
é então a celebração da Ceia do Senhor na qual Jesus, um dia como hoje, na
véspera da sua paixão, "Durante a refeição, Jesus tomou o pão, benzeu-o,
partiu-o e o deu aos discípulos, dizendo: Tomai e comei, isto é meu corpo."
(Mt 26, 26).
Ele quis que,
como em sua última Ceia, seus discípulos nos reuníssemos e nos recordássemos
d'Ele abençoando o pão e o vinho: "Fazei isto em memória de mim" (Lc
22,19).
Antes de ser
entregue, Cristo se entrega como alimento. Entretanto, nesta Ceia, o Senhor
Jesus celebra sua morte: o que fez, o fez como anúncio profético e oferecimento
antecipado e real da sua morte antes da sua Paixão. Por isso "Assim, todas
as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice lembrais a morte do Senhor,
até que venha" (1Cor 11, 26).
Assim podemos
afirmar que a Eucaristia é o memorial não tanto da Última Ceia, e sim da Morte
de Cristo que é Senhor, e "Senhor da Morte", isto é, o Ressuscitado
cujo regresso esperamos de acordo com a promessa que Ele mesmo fez ao
despedir-se: "Ainda um pouco de tempo, e já me não vereis; e depois mais
um pouco de tempo, e me tornareis a ver, porque vou para junto do Pai."
(Jo 16, 16).
Como diz o
prefácio deste dia: "Cristo verdadeiro e único sacerdote, se ofereceu como
vítima de salvação e nos mandou perpetuar esta oferenda em sua
comemoração". Porém esta Eucaristia deve ser celebrada com características
próprias: como Missa "na Ceia do Senhor".
Nesta Missa,
de maneira distinta a todas as demais Eucaristias, não celebramos
"diretamente" nem a morte nem a ressurreição de Cristo. Não nos
adiantamos à Sexta-feira Santa nem à noite de Páscoa.
Hoje
celebramos a alegria de saber que esta morte do Senhor, que não terminou no
fracasso, mas no êxito, teve um por quê e um para quê: foi uma
"entrega", um "dar-se", foi "por algo"ou melhor
dizendo, "por alguém" e nada menos que por "nós e por nossa
salvação" (Credo). "Ninguém a tira de mim, (Jesus se refere à sua
vida) mas eu a dou livremente. Tenho poder de entregá-la e poder de
retomá-la." (Jo 10, 18), e hoje nos diz que foi para "remissão dos
pecados" (Mt 26, 28).
Por isso esta
Eucaristia deve ser celebrada o mais solenemente possível, porém, nos cantos,
na mensagem, nos símbolos, não deve ser nem tão festiva nem tão jubilosamente
explosiva como a Noite de Páscoa, noite em que celebramos o desfecho glorioso
desta entrega, sem a qual tivesse sido inútil; tivesse sido apenas a entrega de
alguém mais que morre pelos pobres e não os liberta. Porém não está repleta da
solene e contrita tristeza da Sexta-feira Santa, porque o que nos interessa
"sublinhar" neste momento, é que "o Pai entregou o Seu Filho
para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3,
16) e que o Filho entregou-se voluntariamente a nós apesar de que fosse através
da morte em uma cruz.
Hoje há
alegria e a Igreja rompe a austeridade quaresmal cantando o "glória":
é a alegria de quem se sabe amado por Deus; porém ao mesmo tempo é sóbria e
dolorida, porque conhecemos o preço que Cristo pagou por nós.
Poderíamos
dizer que a alegria é por nós e a dor por Ele. Entretanto predomina o gozo
porque no amor nunca podemos falar estritamente de tristeza, porque aquele que
dá e se entrega com amor e por amor, o faz com alegria e para dar alegria.
Podemos dizer
que hoje celebramos com a liturgia (1a. Leitura) a Páscoa. Porém a da Noite do
Êxodo (Ex 12) e não a da chegada à Terra Prometida (Js 5, 10).
Hoje inicia a
festa da "crise pascoal", isto é, da luta entre a morte e a vida, já
que a vida nunca foi absorvida pela morte, mas sim combatida por ela. A noite
do sábado de Glória é o canto à vitória, porém tingida de sangue, e hoje é o
hino à luta, mas de quem vence, porque sua arma é o amor.
A Celebração
Entrada: Solene
Ato Penitencial
Glória: tocam-se os sinos
Celebração da Palavra: refletir
sobre a Eucaristia – Sacerdócio – Caridade Fraterna
Lava-pés: após a homilia o
Sacerdote sem casula lava os pés de doze pessoas.
Oração dos fiéis
Omite-se o creio
Liturgia Eucarística
Comunhão: após a comunhão a
reserva eucarística é colocada sobre o altar. Conclui-se a missa com a oração
depois da comunhão.
Transladação
do Santíssimo Sacramento
O
sacerdote de pé ante o altar, põe incenso no turíbulo e, ajoelhando-se, incensa
o Santíssimo 3 vezes. Recebe o véu umeral, toma a âmbula e o recobre como o
véu. Em seguida organiza-se a Procissão e Transladação do Santíssimo Sacramento
para um lugar previamente organizado.
Chegando
ao local o sacerdote deposita a âmbula no tabernáculo. Colocando incenso no
turíbulo, ajoelha-se e incensa o Santíssimo Sacramento enquanto se canta Tão
Sublime Sacramento.
Após
alguns momentos de adoração silenciosa, o sacerdote e os ministros fazem
genuflexão e se retiram.
Os
fiéis sejam exortados a adorarem o Santíssimo Sacramento, durante a noite,
contudo após a meia-noite esta adoração seja feita sem nenhuma solenidade.
Como viver
esse dia?
A
quinta-feira santa é um dia cheio de calor humano, em que acolhemos as grandes
dádivas que o Senhor nos deixou como herança. Um dia inteiro para refazer os
vínculos que nos unem como irmãos na fé.
Enquanto
agradecemos os grandes dons do Senhor – eucaristia, sacerdócio e mandamento do
amor -, perdoando-nos uns aos outros, vivendo uma jornada de reconciliação e de
unidade.
Não
é necessário fazer coisas extraordinárias ou difíceis; basta abrir o coração e
realizar os pequenos gestos de amor e fraternidade que alegram tanto a alma e
são como bálsamo que cura as feridas.
Sejamos
generosos, hoje, e meticulosos no carinho e na gratidão. Que se consolidem hoje
nossos vínculos de comunhão com o Senhor e entre nós; que nossa comunidade
renasça na participação da eucaristia; que em nossas famílias seja construída a
unidade.
Em
nossa oração pessoal, diante do altar da reposição ou do altar do Santíssimo,
louvemos e agradeçamos ao Senhor pelo precioso dom da eucaristia, pelas pessoas
que nos prestam algum serviço, pelos sacerdotes que nos batizaram, que nos
absolveram de nossos pecados, em nome do Senhor. Roguemos pelos sacerdotes de
nossa paróquia que doam sua vida pela comunidade e por todos nós.
A
visita ao Santíssimo é uma expressão de
fé no sacramento da eucaristia; por isso é feito em espírito de oração, numa
atitude de respeito, amor e gratidão a Deus, e não simplesmente por hábito.
SEXTA-FEIRA SANTA
Nas matinas, a
oração dá o tema do dia: a oposição entre o amor do Cristo e o desejo
insaciável de Judas:
A Igreja nos
recorda a traição de Judas, a agonia no Monte das Oliveiras, a condenação de
Jesus; a sua crucifixão e o seu sepultamento na espera da Ressurreição ao
terceiro dia.
Na sexta-feira
santa, não há missa em nenhuma igreja. Neste dia não se celebra a Divina
Liturgia, em sinal de luto pela morte e sepultamento do Cristo Jesus. O ato
litúrgico principal é a celebração da paixão do Senhor
Da luz da
grande Quinta-feira passamos às trevas da Sexta-feira, o dia da Paixão do
Cristo, de sua morte e de sua sepultura. A Igreja primitiva chamava a este dia
"A Páscoa da Cruz," porque ele é de fato o começo desta Páscoa ou
Passagem cujo sentido nos será revelado progressivamente; primeiro na paz do
grande e santo Sabbat, depois na alegria do dia da Ressurreição.
Mas antes, as
trevas. Há dois mil anos, sim, homens "maus" mataram o Cristo, mas
hoje nós "o bom povo cristão" levantamos suntuosos túmulos em nossas
igrejas; não é esta a prova da nossa justiça? E no entanto, a Sexta-feira Santa
não concerne somente ao passado. É o dia do Pecado, o dia do Mal, o dia no qual
a Igreja nos ensina a aprender a terrível realidade do pecado e seu poder no
mundo. Pois o pecado e o mal não desapareceram: ao contrário, permanecem no
mundo e em nossa vida. Nós que nos dizemos cristãos não entramos freqüentemente
nesta lógica do mal que conduziu o Sinédrio e Pilatos, os soldados romanos e
toda a multidão a detestar, torturar e matar o Cristo? De que lado nós teríamos
ficado se tivéssemos vivido em Jerusalém no tempo de Pilatos?
Esta é a
pergunta que nos é feita por cada uma das palavras do ofício de Sexta-feira
Santa. É de fato "o dia deste mundo," de sua condenação real e não
somente simbólica, e do julgamento real e não somente ritual, de nossa vida. .
. É a revelação da verdadeira natureza do mundo que preferiu então e continua a
preferir as trevas à luz, o pecado ao bem, a morte à vida. E condenando o
Cristo à morte "este mundo" condenou-se a si mesmo à morte, e na
medida em que aceitamos seu espírito, seu pecado e sua traição a Deus, estamos
também condenados. . . Este é o primeiro significado, terrivelmente realista,
da Sexta-feira Santa: uma condenação à morte...
No entanto,
este dia do Mal cuja manifestação e triunfo estão em seu paroxismo, é também o
dia da Redenção. A morte do Cristo nos é revelada como uma morte salvífica para
nós e para nossa salvação. Ela é uma morte salvífica porque é o supremo e
perfeito sacrifício. O Cristo dá sua vida a seu Pai e no-la dá também por nós.
Ele a dá a seu Pai porque não há outro meio de destruí-la e libertar os homens
dela; ora, é a vontade do Pai que os homens sejam salvos da morte. O Cristo nos
dá sua vida porque na verdade é em nosso lugar que Ele morre. A morte é o fruto
natural do pecado, um castigo iminente. O homem escolheu não mais estar em
comunhão com Deus, porém como ele não tem a vida nele mesmo e por ele mesmo,
morre. Em Jesus Cristo ,
entretanto, não há pecado, logo não há morte. É somente por amor a nós que ele
aceita morrer; Ele quer assumir e compartilhar de nossa condição humana até o
fim. Ele aceita o castigo de nossa natureza, exatamente como assumiu o fardo
inerente à natureza humana.
Ele morre
porque se identifica verdadeiramente conosco, tomou sobre si a tragédia da vida
do homem. Sua morte é então a revelação suprema de sua compaixão e de seu amor.
E porque sua morte é amor, compaixão e co-sofrimento, nela a própria natureza
da morte foi mudada. Ela não é mais um castigo, mas um esplendoroso ato de amor
e de perdão, o termo de toda ausência de comunhão e de toda solidão. A
condenação é transformada em perdão.
Enfim, a morte
do Cristo é uma morte salvífica porque destrói a própria fonte da morte: o mal.
Aceitando-a por amor, entregando-se a seus carrascos e permitindo-lhes uma
vitória aparente, o Cristo manifesta que em realidade esta vitória é a derrota
decisiva e total do mal. Com efeito, para ser vitorioso, o pecado deve
aniquilar o bem, deve provar que ele é toda a realidade da vida, arruinar o bem
e, numa palavra, mostrar sua própria superioridade; mas ao longo de sua Paixão,
é o Cristo e somente ele que triunfa.
O mal nada
pode contra ele, pois que não pode levar o Cristo a aceitar o mal como verdade.
A hipocrisia se revela hipocrisia, o assassinato, assassinato, e o medo, medo.
E enquanto o Cristo avança silenciosamente para a Cruz e para seu fim, quando a
tragédia humana está em seu apogeu, seu triunfo, sua vitória sobre o mal e sua
glorificação aparecem progressivamente em luz plena. A cada passo esta vitória
é reconhecida, confessada, proclamada: pela mulher de Pilatos, por José, pelo
bom ladrão, pelo centurião. Quando ele morre na cruz, tendo aceito o supremo
horror da morte, a solidão absoluta (Meu Deus, meu Deus, por que me
abandonaste?)" não resta senão confessar: "Verdadeiramente este homem
era o filho de Deus!" Assim esta morte, este amor e esta obediência, esta
plenitude de vida destroem aquilo que faz da morte o destino universal. "E
os túmulos foram abertos" (Mt. 27,52). Já aparecem os primeiros clarões da
Ressurreição...
Este é o duplo
mistério desta grande Sexta-feira; os ofícios deste dia no-lo mostram e nos
fazem participar dele. De um lado, eles insistem constantemente sobre a Paixão
do Cristo enquanto pecado de todos os pecados, crime de todos os crimes.
A tarde de
Sexta-feira Santa apresenta o drama imenso da morte de Cristo no Calvário. A
cruz erguida sobre o mundo segue de pé como sinal de salvação e de esperança.
Com a Paixão de Jesus segundo o Evangelho de João contemplamos o mistério do
Crucificado, com o coração do discípulo Amado, da Mãe, do soldado que lhe
traspassou o lado.
São João,
teólogo e cronista da paixão nos leva a contemplar o mistério da cruz de Cristo
como uma solene liturgia. Tudo é digno, solene, simbólico em sua narração: cada
palavra, cada gesto. A densidade de seu Evangelho agora se faz mais eloqüente.
E os títulos de Jesus compõem uma formosa Cristologia. Jesus é Rei. O diz o
título da cruz, e o patíbulo é o trono onde ele reina. É de uma só vez,
sacerdote e templo, com a túnica sem costura com que os soldados tiram a sorte.
É novo Adão junto à Mãe, nova Eva, Filho de Maria e Esposo da Igreja. É o
sedento de Deus, o executor do testamento da Escritura. O Doador do Espírito. É
o Cordeiro imaculado e imolado, o que não lhe romperam os ossos. É o Exaltado
na cruz que tudo o atrai a si, quando os homens voltam a ele o olhar.
A Mãe estava
ali, junto à Cruz. Não chegou de repente no Gólgota, desde que o discípulo
amado a recordou em Caná, sem ter seguido passo a passo, com seu coração de Mãe
no caminho de Jesus. E agora está ali como mãe e discípula que seguiu em tudo a
sorte de seu Filho, sinal de contradição como Ele, totalmente ao seu lado. Mas
solene e majestosa como uma Mãe, a mãe de todos, a nova Eva, a mãe dos filhos
dispersos que ela reúne junto à cruz de seu Filho.
Maternidade do
coração, que infla com a espada de dor que a fecunda. A palavra de seu Filho
que prolonga sua maternidade até os confins infinitos de todos os homens. Mãe
dos discípulos, dos irmãos de seu Filho. A maternidade de Maria tem o mesmo
alcance da redenção de Jesus. Maria contempla e vive o mistério com a majestade
de uma Esposa, ainda que com a imensa dor de uma Mãe. São João a glorifica com
a lembrança dessa maternidade. Último testamento de Jesus. Última dádiva.
Segurança de uma presença materna em nossa vida, na de todos. Porque Maria é
fiel à palavra: Eis aí o teu filho.
O soldado que
traspassou o lado de Cristo no lado do coração, não se deu conta que cumpria
uma profecia realizava um último, estupendo gesto litúrgico. Do coração de
Cristo brota sangue e água. O sangue da redenção, a água da salvação. O sangue
é sinal daquele maior amor, a vida entregue por nós, a água é sinal do
Espírito, a própria vida de Jesus que agora, como em uma nova criação derrama
sobre nós.
A
Celebração
O altar é
iluminado com pouca luz, sem cruz, sem velas nem adornos. Recordamos a morte de
Jesus.
Entrada
A
impressionante celebração litúrgica da Sexta-feira começa com um rito de
entrada diferente de outros dias: os ministros entram em silêncio, sem canto,
vestidos de cor vermelha, a cor do sangue, do martírio, se prostram no chão,
enquanto a comunidade se ajoelha, e depois de um espaço de silêncio, reza a
oração do dia.
Celebração da Palavra
Primeira
leitura: Isaías 52,13 - 53,12
Espetacular realismo nesta
profecia feita 800 anos antes de Cristo, chamada por muitos o 5º Evangelho. Que
nos introduz a alma sofredora de Cristo, durante toda sua vida e agora na hora
real de sua morte. Disponhamo-nos a vivê-la com Ele.
Salmo
responsorial: 30, 2.6.12-13.15-17.25
Neste Salmo, recitado por Jesus
na cruz, entrecruzam-se a confiança, a dor, a solidão e a súplica: com o Homem
das dores, façamos nossa oração.
Segunda
leitura: Hebreus 4,14-16; 5,7-9
O Sacerdote é o que une Deus ao
homem e os homens a Deus… Por isso Cristo é o perfeito Sacerdote: Deus e Homem.
O Único e Sumo e Eterno Sacerdote. Do qual o Sacerdócio: o Papa, os Bispos, os
sacerdotes e dos Diáconos unidos a Ele, são ministros, servidores, ajudantes…
Evangelho:
João 18,1-19,42
Paixão
de Jesus Cristo.
Depois da
homilia conclui-se com uma ORAÇÃO UNIVERSAL, que hoje tem mais sentido do que
nunca: precisamente porque contemplamos a Cristo entregue na cruz como Redentor
da humanidade, pedimos a Deus a salvação de todos, crentes e não crentes.
Adoração da Cruz
Depois das
palavras passamos a um ato simbólico muito expressivo e próprio deste dia: a
veneração da santa cruz que fez na Semana Santa, não somente o sacerdote - como
até então - mas também os fiéis podem comungar com o Corpo de Cristo.
Ainda que hoje
não haja propriamente Eucaristia, mas comungando do Pão consagrado na
celebração de ontem, Quinta-feira Santa, expressamos nossa participação na
morte salvadora de Cristo, recebendo seu "Corpo entregue por nós".
Como viver
esse dia?
Enquanto nos
vemos mergulhados na lembrança da morte do Senhor, observamos à nossa volta
como Jesus continua, hoje, morrendo em tantos irmãos, vítimas de nosso egoísmo
e das estruturas injustas que maltratam ou destroem a vida. No entanto,
alimentamos a certeza de que a ressurreição e a vida triunfarão sobre a
violência e sobre a morte.
Enquanto Jesus
verte até a última gota de sangue para se solidarizar com nossa condição de
fragilidade e de pecado, nós, membros de seu Corpo Místico (que é a Igreja)
continuadores de seu projeto, não podemos permanecer indiferente, tranqüilos. A
morte do Senhor tira-nos do individualismo e nos faz passar de um coração
carnal para um coração sensível, humano e solidário.
Como poderemos
passar esse dia, tão grande no significado, desinteressados pelos sofrimentos
de nossos familiares, vizinhos. Amigos ou pessoas que necessitam até do mínimo
para viver? Hoje, a igreja convida-nos
ao jejum como expressão de penitência e solidariedade em relação à morte do
Senhor. Para que nosso jejum também seja expressão de solidariedade em relação
aos nossos irmãos, em cujas pessoas Cristo continua morrendo,saiamos a seu
encontro oferecendo-lhes nossa ajuda, nossa dedicação.
Seria
conveniente convidarmos à nossa mesa algumas pessoas ou famílias necessitadas,
ou alguém com quem pretendemos reatar nossa amizade. Nos grupos ou movimentos
paroquiais, pode-se organizar uma coleta de gêneros em favor das famílias mais
necessitadas.
Na celebração
vespertina da paixão, renunciemos por amor ao Senhor, a todas as sementes de
morte que existe em nosso coração, em nossa família, na comunidade e em nosso povo
e peçamos a ele que transforme tudo isso
em semente de vida e de esperança.
Quando checar
o momento da adoração da cruz, tenhamos presente que não estamos diante de um
simples madeiro, mas sim que osculamos e nos curvamos diante da cruz banhada
com o sangue do Redentor, o que constituiu uma só realidade, pois, sendo ele
quem deu a vida por nós, é a ele que adoramos e agradecemos.
Ao comungar,
unamo-nos a Jesus, que dá a vida por nós, comprometendo-nos a renunciar o nosso
egoísmo e ao mesmo tempo nos mostrando
solidários em relação às pessoas nas quais Cristo continua morrendo em
nossos dias: enfermos, pobres, esquecidos
da sociedade.
Nossa participação na tradicional procissão do Senhor Morto,
nesse dia, não representa uma procissão qualquer, ou a participação numa peça
teatral religiosa. Vamos à procissão para acompanhar Jesus – revivendo com
gratidão e amor sua paixão, descobrindo o sentido verdadeiro da cruz, se
sabemos carregá-la com amor – e ajudar o próximo, dando um pouco de “vida” aos
que estão à nossa volta.
SÁBADO SANTO
O Sábado Santo
não é um dia vazio em que "não acontece nada". Nem uma duplicação da
Sexta-feira Santa. A grande lição é esta: Cristo está no sepulcro, desceu à
mansão dos mortos, ao mais profundo em que pode ir uma pessoa. E junto a Ele,
como sua Mãe Maria, está a Igreja, a esposa. Calada, como ele. O Sábado está no
próprio coração do Tríduo Pascal. Entre a morte da Sexta-feira e a ressurreição
do Domingo nos detemos no sepulcro. Um dia ponte, mas com personalidade. São
três aspectos -não tanto momentos cronológicos- de um mesmo e único mistério, o
mesmo da Páscoa de Jesus: morto, sepultado, ressuscitado: "...se despojou de sua posição e tomou a
condição de escravo…se rebaixou até se submeter inclusive à morte, quer dizer,
conhecesse o estado de morte, o estado de separação entre sua alma e seu corpo,
durante o tempo compreendido entre o momento em que Ele expirou na cruz e
o momento em que ressuscitou. Este estado de Cristo morto é o mistério do
sepulcro e da descida à mansão dos mortos. É o mistério do Sábado Santo em que Cristo depositado
na tumba manifesta o grande repouso sabático de Deus depois de realizar a
salvação dos homens, que estabelece na paz o universo inteiro".
O próprio
Cristo está calado. Ele, que é Verbo, a Palavra, está calado. Depois de seu
último grito da cruz "por que me abandonaste?", agora ele cala no
sepulcro. Descansa: "tudo está consumado". Mas este silêncio pode ser
chamado de plenitude da palavra. O assombro é eloqüente, "resplandece o
mistério da Cruz".
É um dia de
meditação e silêncio. Algo parecido à cena que nos descreve o livro de Jó,
quando os amigos que foram visitá-lo, ao ver o seu estado, ficaram mudos,
atônitos frente à sua imensa dor: "Sentaram-se no chão ao lado dele, sete
dias e sete noites, sem dizer-lhe uma palavra, vendo como era atroz seu
sofrimento" (Jó. 2, 13).
Durante o
Sábado santo a Igreja permanece junto ao sepulcro do Senhor, meditando sua
paixão e sua morte, sua descida à mansão dos mortos e esperando na oração e no
jejum sua ressurreição.
Se a fé,
ungida de esperança, não visse no horizonte último desta realidade, cairíamos
no desalento: "nós o experimentávamos… ", diziam os discípulos de
Emaús.
Vigília
Pascal: "a mãe de todas as vigílias"
A celebração é
no sábado à noite, é uma Vigília em honra ao Senhor, (Ex 12, 42), de maneira
que os fiéis, seguindo a exortação do Evangelho (Lc 12, 35-36), tenham acesas
as lâmpadas como os que aguardam a seu Senhor quando chega, para que, ao
chegar, os encontre em vigília e os convide a sentar à sua mesa.
A Páscoa do
Senhor, nossa Páscoa
Todos os
elementos especiais da Vigília querem ressaltar o conteúdo fundamental da
Noite: a Páscoa do Senhor, a sua passagem da Morte à Vida.
Nesta noite,
com mais razão que em nenhum outro momento, a Igreja louva a Deus porque
"Cristo, nossa Páscoa, foi imolado" (Prefácio I de Páscoa).
Porém a Páscoa
de Cristo é também a nossa Páscoa: "na morte de Cristo nossa morte foi
vencida e em sua ressurreição ressuscitamos todos" (Prefácio II de
Páscoa).
A comunidade
cristã se sente integrada, "contemporânea da Passagem de Cristo através da
morte à vida". Ela mesma renasce e goza na "nova vida que nasce do
mistério pascal" (oração sobre as ofertas da Vigília): pelo Batismo se
submerge com Cristo em sua
Páscoa , pela Confirmação recebe também ela o Espírito da
Vida, e na Eucaristia participa do Corpo e Sangue de Cristo, como memorial de
sua morte e ressurreição.
Os textos,
orações, cantos todos apontam a esta gozosa experiência da Igreja unida ao seu
Senhor, centralizada nos sacramentos pascais. Esta é a melhor chave para a
espiritualidade cristã, que deve centralizar-se mais que na contemplação das
dores de Jesus (a espiritualidade da Sexta-feira Santa é a mais fácil de
assimilar), na comunhão com o Ressuscitado dentre os mortos.
Cristo, ressuscitando, venceu a morte.
Esta é na
verdade "o dia que o Senhor fez para nós". O fundamento de nossa fé.
A experiência decisiva de que a Igreja, como Esposa unida ao Esposo, recorda e
vive cada ano renovando sua comunhão com Ele, na Palavra e nos Sacramentos
desta Noite.
BÊNÇÃO DO FOGO
E PREPARAÇÃO DO CÍRIO
Fora da
Igreja, prepara-se a fogueira. Estando o povo reunido em volta o sacerdote
abençoa o fogo novo. Em seguida o círio pascal é apresentado ao sacerdote. Com
um estilete, o presidente faz nele uma cruz dizendo as palavras que falam da
eternidade de Cristo.
Cristo, ontem e hoje (faz a
incisão na haste vertical):
Princípio e Fim (faz a incisão na
haste horizontal);
Alfa (grava a letra alfa no alto
da haste vertical);
E Ômega (grava a letra ômega
embaixo na haste vertical);
A Ele o tempo (grava o primeiro
algarismo do ano em curso no ângulo esquerdo superior da cruz);
E a eternidade (grava o segundo
algarismo no ângulo direito superior);
A glória e o poder (grava o terceiro
algarismo no ângulo esquerdo inferior);
Pelos séculos sem fim. Amém
(grava o quarto algarismo no ângulo direito inferior)
Assim expressa
com gestos e palavras toda a doutrina do império de Cristo sobre o cosmos,
exposta em São Paulo.
Nada escapa da Redenção do Senhor, e tudo, homens, coisas e
tempo estão sob sua potestade.
Agora o
sacerdote aplica os grãos de incenso, que simbolizam as chagas de Jesus,
dizendo:
Por suas chagas (primeiro grão de
incenso na ponta superior da haste vertical da cruz);
Suas chagas gloriosas (segundo
grão de incenso no meio da cruz);
O Cristo Senhor (terceiro grão de
incenso no ponto inferior da haste vertical);
Nos proteja (quarto grão de
incenso na ponta esquerda da haste horizontal);
E nos guarde (quinto grão de
incenso na ponta direita da haste horizontal).
O sacerdote
acende o círio pascal com o fogo novo, dizendo:
A luz do
Cristo que ressuscita resplandecente dissipe as travas de nosso coração e nossa
mente.
PROCISSÃO DO
CÍRIO PASCAL
Após acender o
círio pascal que representa o Cristo Ressuscitado, a coluna de fogo e de luz
que nos guia através das trevas e nos indica o caminho à terra prometida,
avança em procissão.
Estas
experiências devem ser vividas com uma alma de criança, singela mas vibrante,
para estar em condições de entrar na mentalidade da Igreja neste momento de
júbilo. O mundo conhece demasiadamente bem as trevas que envolvem a sua terra
em desgraça e tormento. Porém, nesta hora, se pode dizer que sua desventura
atraiu a misericórdia e que o Senhor quer invadir a toda realidade com
torrentes de sua luz.
Já os profetas
haviam prometido a luz: "O Povo que caminha em meio às trevas viu uma
grande luz", escreve Isaías (Is 9,1; 42,7; 49,9). Esta luz que amanhecerá
sobre a Nova Jerusalém (Is 60,1-3) será o próprio Deus vivo, que iluminará o
seu povo e seu Servo será a luz das nações (Is 42,6; 49,6).
O catecúmeno
(se houver Batismo) que participa nesta
celebração da luz sabe por experiência própria que desde seu nascimento está em
meio às trevas; mas tem o conhecimento de que Deus “o chamou para sair das
trevas e a entrar em sua luz maravilhosa" (1 Pd 2,9). Dentro de uns
momentos, na pia batismal, "Cristo será sua luz" (Ef 5, 14). Passará
das trevas à "luz no Senhor" (Ef 5,8).
As luzes da
igreja devem permanecer apagadas. O diácono toma o círio e o ergue por algum
tempo proclamando:
Eis a luz de
Cristo!
Todos
respondem:
Demos graças a
Deus!
Todos se
dirigem para a igreja precedido pelo diácono com o cicio pascal. O turiferário
com o turíbulo vai à frente.
À porta da
igreja o diácono pára e, erguendo o círio proclama:
Eis a luz de
Cristo!
Todos
respondem:
Demos graças a
Deus!
Os fiéis
acendem suas velas no fogo do círio pascal e entram na igreja.
Ao chegar
diante do altar, o diácono volta-se para o povo e proclama pela terceira vez:
Eis a luz de
Cristo!
Todos
respondem:
Demos graças a
Deus!
PROCLAMAÇÃO DA
PÁSCOA
O povo
permanece em pé com as velas acesas. O presidente da celebração incensa o círio
pascal. Em seguida a Páscoa é proclamada.
Este hino de
louvor, em primeiro lugar, anuncia a todos a alegria da Páscoa, alegria do céu,
da terra, da Igreja, da assembléia dos cristãos. Esta alegria procede da
vitória de Cristo sobre as trevas. Terminada a proclamação apagam-se as velas.
LITURGIA DA
PALAVRA
Todos estando
sentados o sacerdote convida a ouvirem a Palavra de Deus.
Esta noite a
comunidade cristã se detém mais que o usual na proclamação da Palavra. Tanto o
Antigo como o Novo Testamento falam de Cristo e iluminam a História da Salvação
e o sentido dos sacramentos pascais. Há um diálogo entre Deus que se dirige ao
seu Povo (as leituras) e o Povo que Lhe responde (Salmos e orações).
As leituras da
Vigília têm uma coerência e um ritmo entre elas. A melhor chave é a que nos deu
o próprio Cristo: "E começando por Moisés, percorrendo todos os profetas,
explicava-lhes (aos discípulos de Emaús) o que dele se achava dito em todas as
Escrituras" (Lc 24, 27).
Após cada salmo o sacerdote reza a oração correspondente.
Primeira
leitura: Gênesis 1,1-2,2
Deus
viu tudo quanto havia feito e eis que tudo era muito bom.
Salmo
responsorial: 103
Enviai
o vosso Espírito, Senhor, e da terra toda a face renovai.
Segunda
leitura: Gênesis 22,1-18
O
sacrifício de nosso Pai Abraão.
Salmo
responsorial: 15
Guardai-me,
ó Deus, porque em vós me refugio!
Terceira
leitura: Êxodo 14,15-15,1
Os
filhos de Israel entraram pelo meio do mar a pé enxuto.
Salmo
responsorial: Êxodo 15
Cantemos
ao Senhor que fez brilhar a sua glória!
Quarta
leitura: Isaías 54, 5-14
Com
misericórdia eterna, eu o teu Senhor, compadeci-me de ti.
Salmo
responsorial: 29
Eu
vos exalto, ó Senhor, porque vós me livrastes!
Quinta
leitura: Isaías 55, 1-11
Vinde
a mim, ouvi e tereis vida; farei convosco um pacto eterno.
Salmo
responsorial: Isaías 12
Com
alegria bebereis do manancial da salvação.
Sexta
leitura: Baruc 3, 9-15.32-4,4
Marcha
para o esplendor do Senhor.
Salmo
responsorial: 18
Senhor,
tens palavras de vida eterna.
Sétima
leitura: Ezequiel 36,16-17a.18.28
Derramarei
sobre vós uma água pura e dar-vos-ei um coração novo.
Salmo
responsorial: 41
A
minh’alma tem sede de Deus.
Após o Salmo e a oração da última
leitura ao Antigo Testamento, acendem-se as velas do altar e canta-se
solenemente o Hino de Louvor. Onde for costume tocam-se os sinos.
Epístola:
Romanos 6, 3-11
Cristo
ressuscitado dos mortos não morre mais.
Salmo
responsorial: 117
Aleluia,
Aleluia, Aleluia.
Evangelho:
Lc 24.1-12 - Por que buscam entre os mortos ao que está vivo.
O último salmo
responsorial canta o amor do Senhor que, em sua atuação, colocou aquilo que foi
considerado sem importância como pedra angular de suas construções. A afirmação
que a tradição sinótica (Mt 21,42; Mc 12,10-11; Lc 20,17) utiliza em função da
explicação da parábola dos vinhateiros homicidas, oferece o sentido mais
profundo para a celebração pascal dos cristãos. Desde a milagrosa passagem pelo
Mar Vermelha, proposta pela leitura do Êxodo (de leitura obrigatória nesta
Vigília) até o significado do batismo para os membros da comunidade, ensinado
pela Carta aos Romanos, essa ação divina manifesta os traços de um Deus que
liberta de toda escravidão.
O ponto de
referência e o selo que autentica toda libertação não podem ser outro senão o
triunfo de Jesus sobre a morte, o relato de sua ressurreição, transmitido pela
passagem do evangelho.
Nele, adquire
relevância a amplitude cósmica do acontecimento que se expressa através da
indicação do tempo: “no primeiro dia da semana” e com a menção do tremor de
terra que acompanha a descida do anjo do Senhor. Trata-se do começo de uma nova
criação como em Gn 1,5 que inaugura a Parusia definitiva da Vinda do Filho do
homem que envia os seus anjos (Mt 24,30-31).
Aqui o anjo
aparece revestido da glória divina: “sua aparência era como um relâmpago e suas
vestes eram brancos como a neve”. Sua ação é descrita dizendo-se que “retirou a
pedra e sentou-se nela”. Através dele, Deus se faz presente para manifestar sua
vitória sobre a morte. A pedra que separava o mundo dos mortos do mundo dos
vivos foi retirada e dominada. A força irreversível da morte foi derrotada pela
ação de Deus realizada em Jesus, o primogênito dentre os mortos. O mundo novo
da linguagem apocalíptica do livro de Daniel que falava de um homem vestido de
linho com aspecto de relâmpago começou. “Levantando os olhos, vi um homem
vestido de linho. Cingia-lhe os rins um cinto de ouro de Ufaz. Seu corpo era
como o crisólito; seu rosto brilhava como o relâmpago, seus olhos, como tochas
ardentes, seus braços e pés tinham o aspecto do bronze polido e sua voz
ressoava como o rumor de uma multidão” (Dn 10,5-6).
Diante de uma
visão tão surpreendente a reação não pode ser outra senão a de temor ”Eu,
Daniel, era o único a ver essa aparição; meus companheiros não a viram, mas se
apoderou deles um tão grande pavor que fugiram para esconder-se. Fiquei
portanto sozinho a contemplar essa grandiosa aparição. As forças me
abandonaram: a tez do meu rosto tornou-se lívida e eu desfaleci” (Dn 10,7-8). O
temor é o sentimento comum que invade todos os presentes. O evangelista
registra este temor quando fala dos soldados, mas as palavras do anjo fazem
supor que as mulheres também estavam cheias de temor. Entretanto, os efeitos do
acontecimento são diferentes para os integrantes de ambos os grupos. Os guardas
“ficaram como mortos”, reação diferente daquela dos santos que, despertando no
momento da morte de Jesus, saíram de seus túmulos “Os sepulcros se abriram e os
corpos de muitos justos ressuscitaram. Saindo de suas sepulturas, entraram na
Cidade Santa depois da ressurreição de Jesus e apareceram a muitas pessoas” (Mt
27,52-53). Aqueles que quiseram manter morto a Jesus se encontram agora mortos
de medo.
Pelo
contrário, o temor suscitado pela alegria nas mulheres recebe do anjo uma
palavra de consolo e aprovação. A manifestação de Deus no tremor de terra opera
um discernimento no ânimo dos que a experimentam. Pode destruir e dar alegria,
segundo as disposições interiores de cada um. Descreve-se, desta forma, um
juízo para cada homem ou mulher que se enfrenta com este acontecimento decisivo
da história humana, no qual Deus, em Jesus, triunfou sobre o poder da morte.
Este
discernimento confere às mulheres um encargo que elas devem cumprir. Sua exata
percepção feminina dos acontecimentos, percepção presente em todo o relato da
Paixão-Ressurreição (mulher de Betânia, esposa de Pilatos, mulheres da Galiléia
no Calvário e no sepulcro) as torna mais sensíveis à compreensão do
acontecimento pascal. Por isso recebem do anjo a aprovação e o anúncio que
torna plena a sua intuição: “Sei que procurais Jesus, que foi crucificado. Ele
não está aqui! Ressuscitou como havia dito!” Junto a isso recebem uma missão:
devem transmitir uma palavra aos discípulos. Elas foram testemunhas de que a
pedra do sepulcro havia sido retirada e devem contar este fato aos discípulos.
Postas em movimento, devem, com essa palavra de vida, imprimir movimento aos
discípulos.
A referência
sobre a Galiléia dada por Jesus a seus discípulos na História da Paixão (Mt
26,32) é agora confirmada pelo anjo. Cumpre-se plenamente para toda a
comunidade eclesial a promessa feita em Isaías e inaugurada pela atividade
pública de Jesus: na “Galiléia dos pagãos, o povo que habitava nas trevas viu
uma grande luz; para os que habitavam em terra e sombra de morte brilhou uma
luz” (Mt 4,15-16; Is 8,23-9,1).
Exatamente nessa terra, paradigma da morte e das trevas causadas pela
exploração e opressão dos poderes imperiais, é possível desde agora o encontro
com Jesus. Ali se poderá contemplar o “Deus conosco” do começo (Mt 1,23) e do
final (Mt 28,20) deste evangelho.
À notícia
desta irrupção da vida, os integrantes da comunidade cristã reagem com temor e
alegria. Sentimentos entrelaçados que lhes ajudam a fazer o anúncio pascal
tomando distância do sepulcro e da morte que o rodeia, e correndo para o
encontro com o seu Senhor.
LITURGIA
BATISMAL
A noite de
Páscoa é o momento no qual tem mais sentido celebrar os sacramentos da
iniciação cristã.
Depois de um
caminho pelo catecumenato (pessoal, se é que se trata de adultos e da família,
para as crianças, e sempre no que diz respeito, da comunidade cristã inteira),
o símbolo da água -a imersão, o banho- busca ser a expressão sacramental de
como uma pessoa se incorpora a Cristo na sua passagem da morte à vida.
Como diz o
Missal, se é que se trata de adultos, esta noite é quando tem pleno sentido que
além do Batismo também se celebre a Confirmação, para que o neófito se integre
plenamente à comunidade eucarística. O sacerdote que preside nesta noite tem a
faculdade de conferir também a Confirmação, para fazer visível a unidade dos
sacramentos da iniciação.
Se houver
batismo, chamam-se os catecúmenos, que são apresentados pelos padrinhos à
Igreja reunida.
LADAINHA DE
TODOS OS SANTOS
Nós, Igreja
peregrina, em profunda comunhão com a Igreja do céu, reafirmamos nossa fé e pedimos a intercessão daqueles que
nos precederam na glória do Cristo ressuscitado. (Por ser tempo pascal, todos
ficam em pé).
BÊNÇÃO DA ÁGUA
BATISMAL
Durante a
oração o sacerdote mergulha op círio pascal na água uma ou três vezes. Se
houver batismo cada catecúmeno renuncia ao demônio, faz a profissão de fé e é
batizado.
A bênção da
água se trata sobretudo de bendizer a Deus por tudo o que fez por meio da água
ao longo da História da Salvação (desde a criação e a passagem pelo Mar
Vermelho até o Batismo de Jesus no Jordão), implorando-lhe que hoje também este
sinal atualize o Espírito de vida sobre os batizados; se não se realizou a
celebração do Batismo, (do contrário já a realizaram junto com os batizados e
seus padrinhos). Trata-se de que todos participem conscientemente tanto na
renúncia como na profissão de fé; o sinal da aspersão, com um canto batismal,
como recordação do próprio Batismo. Este sinal pode se repetir todos os
domingos do Tempo Pascoal, ao início da Eucaristia; a Oração universal ou
oração dos fiéis, que é o exercício, por parte da comunidade, do seu sacerdócio
batismal intercedendo perante Deus por toda a Humanidade.
RENOVAÇÃO DAS
PROMESSAS BATISMAIS
Após o rito do
batismo (se houver) ou da bênção da água, todos em pé e com as velas acesas,
renovam as promessas do batismo.
Terminada a
renovação das promessas do batismo, o sacerdote asperge o povo com a água
benta, enquanto todos cantam.
Em seguida o
sacerdote volta à cadeira, onde, omitindo o creio, preside a oração dos fiéis.
LITURGIA
EUCARÍSTICA
A celebração
Eucarística é o ápice da Noite Pascoal. É a Eucaristia central de todo o ano,
mais importante que a do Natal ou da Quinta-feira Santa. Cristo, o Senhor
Ressuscitado, nos faz participar do seu Corpo e do seu sangue, como memorial da
sua Páscoa. É o ponto mais importante da celebração.
Como viver esse dia?
Quem
participou, nos dias anteriores, da paixão e morte do Senhor poderá,
facilmente, penetrar no espírito desse grande dia.
Jesus foi como
o grão de trigo depositado no sepulcro. Porém, o gérmen da vida da ressurreição
está para eclodir na maior das vitórias.
Enquanto nos
preparamos para a solene e alegre vigília desta noite pascal, alimentamos nossa
esperança, lembrando-nos dos fatos e momentos em que o amor de Deus se tornou
mais presente em nossa vida pessoal, na vida de nossa família, na comunidade. A
lembrança do que Deus fez por nós reanima a certeza de que com ele venceremos
definitivamente toda divisão, toda expressão de morte que ainda houver entre
nós.
Nas famílias
em que se costuma fazer oração comunitária, nos grupos ou movimentos e na
comunidade, poder-se-ia organizar um encontro comunitário para descobrir as
sementes de vida e de esperança que existem em nossa realidade e dar graças ao Senhor,
pois sua vitória já é uma realidade.
A
vigília pascal dessa noite é o momento – ápice e ponto central de toda Semana
Santa. Participar dessa cerimônia significa encontrar o sentido pleno de tudo o
que vivemos; é ressuscitar com Cristo, participar de seu triunfo sobre a morte
e o mal, renascendo para uma vida nova. Por meio da luz do ressuscitado que
receberemos essa noite, conseguiremos iluminar nossas famílias, o ambiente de
trabalho tantas coisas obscuras que existem na sociedade atual.
Muitos cristãos costumam, nesse dia, reunir-se para rezar o
santo rosário e preparar-se, em companhia de Maria, para a vigília pascal.
DOMINGO DE PÁSCOA: A FESTA DA VITÓRIA DE JESUS
A ressurreição
é uma verdade fundamental do cristianismo. Cristo verdadeiramente ressuscitou
pelo poder de Deus. Não se trata de um fantasma, e nem de uma mera força de
energia, nem de um corpo revivido como o de Lázaro que voltou a morrer. A
presença de Jesus ressuscitado não é uma alucinação dos Apóstolos. Quando
dizemos "Cristo vive" não estamos usando um modo de falar, como
pensam alguns, para dizer que vive somente em nossa lembrança. A paixão, morte
e ressurreição de Cristo são fatos históricos que sacudiram o mundo de sua
época e transformaram a história de todos os séculos.
Cristo vive
para sempre com o mesmo corpo com que morreu, mas este corpo foi transformado e
glorificado (1Cor 15,35-45) de maneira que goza de uma nova ordem de vida como
jamais viveu um ser humano. A vida de Cristo a vivemos através da graça. Os que
são de Cristo já participam desta vida nova de Cristo desde o batismo. Esta
vida ativa em nós se chama graça.
Pode ser
perdida pelo pecado mortal, mas pode ser recuperada pelo perdão sacramental, e
devemos aumentá-la vivendo fielmente a nossa fé. A graça nos dá fortaleza,
esperança e a capacidade de um amor sobrenatural. Nos torna capazes de
compreender o sentido profundo da vida e das lutas porque nos comunica a
perspectiva de Deus. O cristão, movido pelo Espírito Santo vive em graça de
Deus, se preparando para a continuação de sua vida eterna após a morte. Esta
vida de Cristo foi vivida pelos santos (Rm 6,8) de maneira exemplar. Todos
deveram segui-los para sermos também santos. Sem a graça, os homens caem em um
grande vazio, em uma vida sem sentido. A morte, tanto espiritual quanto física,
é a conseqüência do pecado que entrou no mundo pela rebeldia de nossos
primeiros pais. Estamos sujeitos à morte física, mas o "aguilhão" do
pecado foi substituído pela esperança certa na ressurreição. Jesus Cristo pagou
o preço por nossos pecados com sua morte na cruz. Venceu assim todos os seus
inimigos. O último inimigo a ser destruído, no final dos tempos, será a morte.
Por isso, a morte não é o final, tampouco encerra um ciclo como pensam os
propositores da reencarnação. Vivemos e morremos uma só vez. Durante nossa vida
mortal decidimos nossa eternidade. Recebemos a graça e a misericórdia de Deus
que nos abre as portas do céu. Ao final dos tempos será estabelecido plenamente
o reino do Senhor.
Todos ressuscitaremos
Cristo ressuscitado
é o primeiro fruto (1Cor 15,20) da nova criação. Com sua cruz, Ele abriu as
portas para que nossos corpos também ressuscitem. Por isso nós, cristãos, não
somente cremos na ressurreição de Jesus como também na "ressurreição da
carne", como professamos no credo dos Apóstolos, quer dizer na
ressurreição de todos os homens.
São Paulo
escreve sobre isto: "Com efeito, se por um homem veio a morte, por um
homem vem a ressurreição dos mortos. Assim como em Adão todos morrem, assim em
Cristo todos reviverão” (1 Cor 15,21-22) e mais adiante: "Num momento, num
abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta (porque a trombeta soará).
Os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados” (1Cor
15,52).
O Ressuscitado é o Crucificado
Costuma-se
dizer em teologia que a ressurreição de Jesus não é um fato “histórico”, o que
não significa tratar-se de algo irreal, mas de uma realidade que transcende ao
físico. A ressurreição de Jesus não é um fato realmente registrável na
história; ninguém conseguiria, por exemplo, fotografar aquela ressurreição. A
ressurreição de Jesus, objeto de nossa fé, é mais que um fenômeno físico. De
fato, os evangelhos não nos narram a ressurreição, porque ninguém a viu. Os
testemunhos que nos deixaram são experiências de crentes que, depois da morte
de Jesus, “sentem vivo” o ressuscitado; não são testemunhas do fato mesmo da
ressurreição.
A ressurreição
de Jesus não se parece em nada com um “reviver” (a filha de Jairo). A de Jesus
não consistiu numa volta a esta vida, nem na reanimação de um cadáver (de fato,
teoricamente, não causaria espanto crer na ressurreição de Jesus mesmo que seu
cadáver tivesse ficado entre nós, porque o corpo ressuscitado é bem diferente
do corpo de um cadáver). A ressurreição (tanto a de Jesus como a nossa) não é
uma volta atrás, mas um passo à frente, um passo para a outra vida, a de
Deus. Importa recalcar este aspecto para
cairmos na conta de que nossa fé na ressurreição não é a adesão a um “mito”, como
ocorre em tantas religiões que têm mitos de ressurreição. Nossa afirmação da
ressurreição não tem por objeto um fato físico, mas uma verdade de fé com
sentido muito profundo, que queremos agora destrinchar.
A "boa notícia" da ressurreição foi conflitiva
Uma primeira
leitura dos Atos dos Apóstolos suscita uma certa estranheza: por que a notícia
da ressurreição suscitou a ira e a perseguição dos judeus? Notícias de
ressurreições eram, naquele mundo religioso, mais freqüentes e menos estranhas
que entre nós. Ninguém ficaria ofendido, em princípio, com a notícia de alguém
tivesse tido a sorte de ser ressuscitado por Deus. Entretanto, a ressurreição
de Jesus foi recebida com uma agressividade extrema pelas autoridades judaicas.
O contraste com a situação atual nos faz pensar: atualmente ninguém mais se
irrita ao ouvir tal notícia. O anúncio pascal da ressurreição de Jesus pode
agora suscitar indiferença. Por que então essa diferença de atitudes? Será que
anunciamos a mesma ressurreição ou, no anúncio da ressurreição estamos
anunciando outra coisa diferente?
Lendo mais
atentamente os Atos dos Apóstolos já nos damos conta de que o anúncio feito
pelos apóstolos tinha já em si mesmo um ar polêmico: anunciavam a ressurreição
“desse Jesus que vocês crucificaram”; ou seja, não anunciavam a ressurreição de
maneira abstrata, como se a ressurreição de Jesus fosse simplesmente a
afirmação do prolongamento da vida após a morte. Tampouco estavam anunciando a
ressurreição de uma pessoa qualquer, de qualquer ser humano que teria
transpassado as fronteiras da morte.
O crucificado é o ressuscitado
Os
apóstolos anunciavam uma ressurreição
bem concreta: a daquele homem chamado Jesus, a quem as autoridades civis e
religiosas desprezaram, excomungaram e condenaram.
Quando Jesus
foi atacado pelas autoridades, encontrou-se sozinho. Seus discípulos o
abandonaram, e até mesmo o próprio Deus guardou silêncio, como se o tivesse
também abandonado. Com sua morte de cruz, tudo parecer concluir. Seus
discípulos se dispersaram e quiseram esquecer tudo.
Mas aí
aconteceu algo de novo. Uma experiência nova e poderosa se lhes impôs: sentiram
que Jesus estava vivo. Invadiu-lhes uma estranha certeza: Que Deus havia tomado
as dores de Jesus e agora se empenhava por reivindicar seu nome e sua honra.
“Jesus está vivo”, a morte não pode vencê-lo. Deus o ressuscitou e o fez
assentar-se à sua direita, confirmando a veracidade e o valor de sua vida, de
sua palavra, de sua Causa. Jesus tinha razão e sem razão ficaram os que o
expulsaram deste mundo. Deus está do lado de Jesus; Deus respalda a Causa do
Crucificado. O Crucificado ressuscitou, está vivo!
Foi exatamente
isto que irritou as autoridades judaicas: Jesus lhes irritou quando ele estava
vivo e lhes irritou ainda mais quando ressuscitou entre seus discípulos. Não
era tanto o fato físico da ressurreição que irritava as autoridades, que um ser
humano estivesse vivo ou morto; o que não podiam tolerar era que aquele ser
humano concreto, Jesus de Nazaré, cuja Causa (seu projeto, sua utopia, sua boa
notícia) consideravam tão perigosa e que já a supunham descartada com a
crucifixão, se pusesse novamente de pé, ressuscitado.
Não podiam
aceitar que Deus estivesse defendendo aquele crucificado que fora condenado e
excomungado. Era impossível para eles que Deus se manifestasse a favor de
Jesus, que lhe desse seu aval. Eles acreditavam em outro Deus , não naquele
que os discípulos de Jesus acreditavam e experimentavam em Jesus ressuscitado.
Crer com a fé de Jesus
Entretanto, os
discípulos que redescobriram em Jesus o rosto de Deus (o Deus de Jesus),
compreenderam que ele era o Filho, o Senhor, a Verdade, o Caminho, a Vida, o
Alfa e o Ômega. A morte já não tinha nenhum poder sobre ele. Estava vivo. Havia
ressuscitado. E não podiam senão confessá-lo e “segui-lo”, “perseguindo sua
Causa”, obedecendo a Deus antes que os homens, mesmo que isto lhes custasse a
morte.
Crer na
ressurreição não era, pois, para eles, tanto a afirmação de um fato
físico-histórico, nem uma verdade teórica abstrata (a vida pós-mortal), mas a
afirmação contundente da validez suprema da Causa de Jesus (o Reino de Deus!),
à altura mesma de Deus (“à direita do Pai”, como valor absoluto), pela qual é
necessário viver e lutar “até dar a vida”.
Crer na
ressurreição de Jesus é, sobretudo, crer que sua palavra, seu projeto e sua
Causa (o Reino!) expressam o valor fundamental de nossa vida. E se nossa fé
reproduz realmente a fé de Jesus (sua visão da vida, sua opção frente à
história, sua atitude perante os pobres e também perante os poderosos...) será
tão conflitiva como foi a pregação dos apóstolos ou a vida mesma do nazareno.
Em troca, se a
ressurreição de Jesus for reduzida a um símbolo universal de vida pós-mortal
(como poderia ser no universo comum das religiões), ou à simples afirmação da
vida sobre a morte, ou a um fato físico-histórico que aconteceu vinte séculos
atrás... então essa ressurreição fica vazia do conteúdo que teve em Jesus e já
não tem mais nada a dizer a alguém, nem irritará os poderosos deste mundo ou
até poderá desviar o caminho da Causa de Jesus.
O importante é
crer como Jesus; ter a fé de Jesus: sua mesma atitude frente à história, sua
Causa, sua opção pelos pobres, sua proposta, sua luta decidida...
Crendo com
essa fé de Jesus, as “coisas do alto” e as da terra não são mais duas direções
opostas, nem mesmo diferentes. As “coisas do alto” são a Terra Nova que está
enxertada aqui em
baixo. Devemos fazê-la nascer no doloroso parto da História,
sabendo que nunca será o fruto adequado de nosso planejamento, mas dom gratuito
daquele que vem. Buscar “as coisas do alto” não significa ficar esperando
passivamente que chegue a hora escatológica (que já soou na ressurreição de
Jesus), mas tornar realidade em nosso mundo o Reino do Ressuscitado: Reino de
Vida, de Justiça, de Amor e de Paz.
Como será o
corpo ressuscitado?
Ninguém neste
mundo pode compreender completamente mas sabemos que será como o corpo
ressuscitado de Cristo. Similar em alguns aspectos a nosso corpo em sua forma
atual, mas, para os redimidos, um corpo transformado e glorificado. Jesus
Cristo ressuscitado já não morre, já não sofre as limitações do corpo mortal,
as paredes e as portas fechadas já não são obstáculos para Ele.
"Caríssimos, desde já somos filhos de Deus, mas o que nós seremos ainda
não se manifestou. Sabemos que por ocasião desta manifestação, seremos
semelhantes a ele, porque o veremos tal como ele é "(1Jo 3,2).
Como viver o domingo da ressurreição?
O Senhor
ressuscitou Aleluia! Alegremo-nos e regozijemo-nos nele. Sim, alegremo-nos e
contagiemos o mundo de esperança e de alegria. Se Cristo não tivesse
ressuscitado, então nossa fé e nossas esperanças não teriam sentido. Mas a
última palavra sobre nossa vida não é a morte, a dor, mas sim a vida, a
vitória.
As mulheres
foram as primeiras testemunhas da ressurreição e elas a anunciaram aos discípulos.
Entretanto, somente encontraram o Senhor, viram-no vivo, junto com a
comunidade, em companhia dos outros irmãos.
Eis nosso
compromisso: ser testemunhas da ressurreição, demonstrar com nosso exemplo de
vida que Cristo está vivo e continua amando e servindo através de nós.
A comunidade é
o lugar privilegiado da presença de Senhor, pois a participação, a
solidariedade e o compartilhar fraterno é uma das mais claras manifestações de
que ressuscitamos com ele. Participando
da vida do Ressuscitado, poderemos agora empreender um caminho novo que se
exprimirá, sobretudo em nossa forma de relacionamento com Deus e com os outros.
O capítulo quinto do evangelho de São Mateus, bem como o capítulo sexto do
evangelho segundo São Lucas, poderá ajudar-nos a fazer frutificar essa vida nova que tomou
conta dos nossos corações. Os relatos das aparições de Jesus ressuscitado aos
discípulos e a mudança que neles se operou são o testemunho vivo do que deveria
acontecer também conosco, se deixássemos tomar conta de nossas vidas. Todo o
tempo pascal que começa hoje e que culmina com a festividade de Pentecostes tem
esta finalidade: conduzir-nos a um processo de ressurreição e de vida nova. Que
nossa transformação pessoal desperte e promova a vida, contribuindo para o
crescimento do reino de Deus em nossa sociedade. È essa a tarefa recebida por
nós, na Semana Santa.
Fontes de
consulta
Bíblia - Ave
Maria e CNBB
Como viver a Semana Santa - Editora Ave-Maria
Quaresma, Páscoa e Pentecostes - Pe José Bortolini
Preparando a Páscoa - Ione Buyst
Semana Santa - Pe Luiz
Miguel Duarte
Missal Romano
Compêndio do Vaticano II
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