SACRAMENTOS
1. Os
sacramentos na História da Salvação. Deus criou o Homem, colocando-o no centro da
mesma, com os dons da inteligência, consciência e liberdade; assim, o
sobrenatural, faz parte do Homem, segundo o projecto de Deus. Porém, o Homem
rejeitou o projecto de Deus, seguindo o seu próprio projecto, surgindo a
desarmonia com os outros, com a natureza e com Deus. Deus dá ao Homem a
possibilidade de se reencontrar, entrando na História como Deus-redentor: na
Antiga Aliança, essa obra é prefigurada, é sinal de Aliança melhor; é realizada
em Cristo e por Cristo, pelo Seu mistério pascal; por fim, a redenção é
actualizada na Igreja, sobretudo mediante a Palavra e os Sacramentos, no
Espírito Santo. É sobretudo através dos sacramentos que o mistério de Cristo se
torna em presente salvífico.
2. A realidade
sacramental.
Ø
RITOS: O Homem utiliza
ritos na sua vida: o rito é uma operação social, programada, repetitiva e
simbólica que, por meios que põem em acção o domínio do supra-racional e do
sensível, visa estabelecer uma comunicação com o oculto. É uma transição que
serve de caminho ao Homem para passar de um estado a outro.
Ø
SINAIS: há vários tipos de
sinais, como os naturais (o fumo é sinal do fogo), os convencionais (foi
definido a priori o significado para aquele sinal, por exemplo um sinal de
trânsito) e os simbólicos (indicam algo para além dele).
Ø
SÍMBOLOS: tem duas partes,
uma sensível, que corporiza uma realidade imaterial que o Homem só pode apreender
com as partes que o unem, chama a atenção para outra realidade.
Ø
Sacramentos
ou o invisível tornado presente através de sinais. Sacramento = «sinal
sagrado».
Ø
Necessidade
antropológica dos sacramentos: são da necessidade do Homem e não de Deus, sendo
um dos grandes sinais do amor para connosco.
Ø
Cristo,
o «proto-sacramento» ou o «sacramento fontal». Cristo é o único sacramento
de Deus, Aquele que O revela plenamente: «Quem Me vê, vê o Pai» (Jo 14, 9). É
de Cristo que todos os sacramentos adquirem o seu sentido.
Ø
A
Igreja, sacramento principal de Cristo. Cristo ressuscitado e
glorificado prolonga-Se historicamente na Igreja, que deve viver de forma a
tornar visível a presença salvadora de Cristo.
Ø
O
cristão, sacramento de Cristo e da Igreja. O cristão deve ser sinal de
Cristo e da Igreja, porque deve manifestá-los, ser deles sinal clarividente e
torná-los presentes no mundo, com toda a sua vida que deve ser sacramental,
presença de Cristo e da Igreja.
Ø
Os
sete sacramentos, momentos privilegiados da sacramentalidade de Cristo, das
Igreja e do cristão. Os sete sacramentos são os momentos mais decisivos
da sacramentalidade de Cristo e da Igreja na vida dos homens, sob a acção do
Espírito. Tocam elementos essenciais da vida do Homem: incorporação na
comunidade eclesial, constituição da família, luta contra o pecado, etc.
3. Origem,
número e definição dos sacramentos.
Ø
Origem
e instituição dos sacramentos. Os sacramentos têm a origem na Trindade. A Escritura
fala-nos na intervenção directa de Jesus na instituição de alguns sacramentos,
sem descer a pormenores. Não há «declarações solenes» da sua instituição: mas
há a fundação da Igreja, fazendo-a sacramento do Seu Reino; os sacramentos são
prolongamentos dos gestos salvadores de Deus na História; os sacramentos procedem
de Cristo, porque de Cristo procede a Igreja.
Ø
O
termo «sacramento». Em latim, «sacramentum», tinha
dois significados: juramento militar que era o termo técnico que exprimia o
juramento da bandeira dos soldados romanos; ou também significava o depósito
por ocasião de um processo (caso se perdesse, ficava para esse lugar sagrado).
É o meio através do qual uma pessoa ou coisa se torna sagrada.
Ø
«Mysterion» e «sacramentum». O termo mysterion
é importante na economia sacramental. Mais tarde, sacramentum assimila o sentido bíblico de mysterion, citado 27 vezes no Novo Testamento e passou a
significar: «O projecto escondido e salvífico de Deus que se comunica e se
manifesta às pessoas, aos povos, especialmente por meio de Cristo e pela acção
da Igreja».
Ø
Os
sacramentos ao longo da História. A definição de sacramentos e o seu número
variaram ao longo da História. Durante muitos séculos, a palavra sacramento,
usada como sinónimo do símbolo do sagrado, aplicava-se a centenas de
sacramentos. Por exemplo, Stº Agostinho enumera 304! Ele define o conceito de
sacramento (estrito): «sinal sagrado ou palavra visível duma realidade
invisível». A partir do séc. XII começam a sobressair sete gestos da Igreja,
que são os 7 sacramentos actuais. Estes foram definidos no Concílio de Trento,
em 1547: «Os sacramentos das Nova lei são sete, nem mais nem menos». Após o
Concílio Vaticano II, o emprego da palavra «sacramento» recebeu um sentido mais
amplo.
Ø
E
porquê sete e só sete? Nos primeiros séculos o conceito de sacramento era amplo;
na Idade Média, com o pulular das heresias, houve necessidade de clarificar o
conceito, colocando-se o acento na eficácia sacramental. Mais do que um número
aritmético, o número 7 exprime a plenitude, a totalidade… Tratou-se de
clarificar o que era ou não sacramento e evitar que tudo fosse sacramento.
Eventualmente, a Graça de Deus pode chegar por outras formas, mas a Igreja
garante que chega pelos sete sacramentos.
Ø
Os
sete sacramentos: Baptismo, Confirmação (ou Crisma), Eucaristia, Reconciliação (ou
Penitência ou Confissão), Unção dos Doentes, Ordem e Matrimónio.
Ø
Definições
de «sacramento». Antes do Concílio Vaticano II, a mais corrente era: «sinal sensível
instituído por Cristo que comunica a Graça que santifica»; esta definição não
atende à sua relação com os gestos salvadores de Deus na História dos homens.
Actualmente, começa a privilegiar-se a noção de «encontro»: «acções de Cristo
glorificado nas quais Deus vem ao encontro do Homem»; as chaves de leitura são;
a História da Salvação, Cristo, a Igreja e o Homem. O sacramento encerra duas
realidades: aquilo que não conhecemos (o plano de Deus) e a sua manifestação (a
comunicação de Deus por meio dos sinais e símbolos do mundo humano). Os
sacramentos são memória (das intervenções de Deus na História), presente
(actualizam do mistério de salvação) e promessa (anúncio do que há-de vir).
Ø
Sacramentos
é diferente de sacramentais: sacramentais são sinais sagrados que, embora não
conferindo a graça do Espírito Santo, preparam para receber a graça e dispõem para
cooperar. As bênçãos ocupam lugar de destaque nos sacramentais.
4. Elementos dos
sacramentos. Têm quatro elementos: a matéria ou coisa sensível (elementos que se
utilizam, como água, óleo, etc.), forma ou palavras que o ministro utiliza com
a intenção de fazer o que a Igreja faz: administrar o sacramento de acordo com
a vontade de Cristo; ministro ou a pessoa que o executa (Cristo é o ministro
principal; só pode ser ministro o homem devidamente ordenado, ou o
legitimamente eleito com esta finalidade pela legítima autoridade), sujeito ou
pessoa que o recebe. O sacramento válido é aquele que, na sua confecção ou
recepção, se produziu verdadeiramente; sacramento lícito é o sacramento válido
que, além disso, foi confeccionado ou recebido de acordo com as condições
próprias dele e, portanto, produz todos os seus efeitos. Um exemplo de um
sacramento inválido seria o caso de o sacerdote, na Consagração, usasse água em
vez de vinho; um exemplo de um sacramento ilícito, seria o caso de um médico
que baptizasse uma criança que não estivesse em perigo de morte. Os sacramentos
devem ser negados aos sujeitos incapazes e a sujeitos indignos.
5. Efeitos dos
sacramentos. São três os efeitos principais: comunicam a graça santificante (dom
sobrenatural que nos faz participar da vida divina, apaga no homem o pecado e
comunica-lhe nova vida), comunicam a graça sacramental (comunica ao cristão, no
tempo oportuno, nas diversas situações da sua vida espiritual, as graças
necessárias ao cumprimento dos seus deveres) e alguns imprimem carácter (marca
espiritual indelével impressa na alma, o «selo do Espírito Santo», não podem
ser recebidos mais do que uma vez, nos seguintes sacramentos Baptismo,
Confirmação e a Ordem. Os sacramentos não produzem a graça se existir um
obstáculo (por exemplo, a falta do estado de graça para alguns sacramentos,
etc.), podem reviver os que só se podem receber uma vez ou poucas vezes (a
Eucaristia e a Reconciliação não revivem), quando se adquirir aquela disposição
necessária quando se recebeu mal o sacramento. Baptismo:
dá-nos a vida nova de filhos de Deus na Igreja. Confirmação: o Espírito Santo
fortalece-nos para que sejamos testemunhas de Cristo. Eucaristia: participamos
do Sacrifício de Cristo e comungamos o Seu Corpo e Sangue. Reconciliação:
Cristo perdoa-nos os pecados e reconcilia-nos com Deus e com a Igreja. Unção
dos Enfermos: Cristo fortalece o cristão perante a doença, velhice ou a morte. Ordem:
Cristo consagra sacerdotes para servir o Seu povo. Matrimónio: Cristo santifica
a união do homem e da mulher.
6. Classificações
dos sacramentos. Podem ser: de iniciação cristã (Baptismo, Confirmação e
Eucaristia), de cura (Reconciliação e Unção dos Enfermos) e de serviço à
comunidade (Ordem e Matrimónio).
7. Normas
actuais sobre os sacramentos. O Código de Direito canónico dedica nove cânones aos
sacramentos em geral.
8. Os
sacramentos na sociedade actual. Na sociedade actual, existem vários escolhos
e problemas, relativamente à vivência dos sacramentos: por vezes são vistos
como folclore, como magia, como mera tradição a cumprir; ou então, como
garantes da salvação, como mero produto de consumo, numa perspectiva
individualista, sem celebração comunitária… Ou então, aqueles que não
frequentam os sacramentos, porque não lhes encontram o sentido, embora até
possam ter fé.
9. Bibliografia recomendada: CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA; CÓDIGO DE DIREITO
CANÓNICO; BÉGUERIE, Ph; DUCHESNEAU, C. -
Para viver os sacramentos. Editorial perpétuo Socorro; RUIZ, A.; CALVO, A –
Para conhecer a Eclesiologia. Editorial Perpétuo Socorro, Porto, 1993; SESBOUÉ,
Bernard – Pensar e viver a Fé no Terceiro Milénio. Gráfica de Coimbra; VEIGA,
Américo – Porque sou cristão? Editorial Perpétuo Socorro; RUIZ, A.; CALVO, A –
Para conhecer a Eclesiologia. Editorial Perpétuo Socorro, Porto, 1993; COMBY,
Jean – Para ler a História da Igreja. Editorial perpétuo Socorro, 1989 (vols.
1, 2 e 3).
O Tratado dos
Sacramentos se relaciona intimamente com outros tratados teológicos, como a
Cristologia, a Eclesiologia, a Liturgia... Há em todos estes um denominador
comum, que é o conceito de SINAL (seméion,
em grego). Na verdade, a santíssima humanidade de Cristo é sinal eficiente ou
transmissor da graça; a Igreja, como Corpo de Cristo prolongado (Cl 1,24),
também é sinal; a Liturgia, com seus ritos sagrados continua essa função.
Em
conseqüência, pode-se dizer que o Cristianismo é essencialmente a religião dos
sinais.
E por que
isto? – Por duas razões:
a) o ser
humano é psicossomático: passa do visível ao invisível (prefácio da Missa de
Natal). “Nada há no intelecto que não tenha passado pelos sentidos”.
Aristóteles. (+ 322 a .C.);
b) o ser humano
é social, feito para se desabrochar e forma vendo e ouvindo dos seus
semelhantes as lições de que necessita. É pelos sentidos que ele aprende.
Deus se revela aos homens por palavras e
por feitos
É o que se lê
na Constituição Dei Verbum nº 2
“Este plano de
revelação se concretiza através de acontecimentos e palavras intimamente
conexos entre si, de forma que as obras realizadas por Deus na História da
Salvação manifestam e corroboram os ensinamentos e as realidades significadas
pelas palavras. Estas, por sua vez, proclamam as obras e elucidam o mistério
nelas contido. No entanto, o conteúdo profundo da verdade seja a respeito de
Deus, seja da salvação do homem, se nos manifesta por meio dessa revelação em
Cristo, que é ao mesmo tempo mediador e plenitude de toda a revelação.”
Em síntese,
Deus se revela por palavras e por feitos. As palavras proclamam a mensagem
divina, e os feitos corroboram as palavras; estas, por sua vez, elucidam o
significado dos dizeres, donde:
Palavras
Feitos
Palavras
Feitos
Assim o
anúncio salvífico penetra a história sagrada descrita nos livros do Antigo
Testamento; nela “se encarna”, fazendo da história um discurso. Os feitos do
Antigo Testamento são pontos que parecem isolados e insignificantes, mas que o
bom entendedor liga entre si, de modo a perceber aí o nome de Deus.
Contato com Cristo
O contato do
cristão com Cristo não é meramente psicológico ou afetivo. É, sim, um contato
ontológico: a vida de Cristo toca a do cristão mediante os sacramentos. Estes
são os canais comunicadores da graça divina.
SINAL
No plano Filosófico
Sinal é algo
que representa outra coisa em virtude de uma correspondência analógica.
Há dois tipos
de sinal:
a)
sinal natural:
é sinal por sua própria índole; assim a fumaça é sinal natural do fogo.
b) sinal convencional ou artificial: é sinal por livre decisão do ser humano; assim a
bandeira de um país.
Os vocábulos sinal e símbolo têm afinidade entre si. Símbolo vem do grego symbállo, que significa lançar com ou juntar. Um prato partido ao meio e as duas metades justapostas.
Em grego, o
correspondente a sinal é seméion,
que vem de sema, sama, indício, imagem. O corpo (soma)
humano é imagem da alma que o vivifica; por ele transparece o mistério da
pessoa humana.
O recurso a
imagens ou sinais é exigência da natureza psicossomática do ser humano. Mesmo
que exprime conceitos abstratos ou metafísicos, precisa de sinais sensíveis,
como são a palavra oral, a escrita, os números .... Tudo o que é invisível
tende a se traduzir por sinais ou símbolos.
A linguagem
dos símbolos supõe capacidade intuitiva (diversa do raciocínio). Põe em relevo
secretas modalidades que o discurso oral não dá a perceber. O símbolo assim é a
epifania de um mistério indizível. Valioso espécimen dessa função vêm a ser os
ícones orientais, que fascinam o bom entendedor. É preciso, pois, ter
disposições adequadas para compreender os símbolos.
Dado que as
realidades terrestres são polivalentes, é a mente do ser humano que, a partir
de sua cultura, sua situação ou seu inconsciente, determina as virtualidades
simbólicas de um mesmo objeto. Assim a palavra luz pode significar a luz física como também a luz da verdade. O
vocábulo pão pode designar tanto o
alimento corporal quanto o sustento da vida em geral ou o ganha-pão.
No plano Bíblico
Especialmente
no Evangelho segundo São João é freqüente o vocábulo seméion, designando milagre enquanto é aceno para as realidades
transcendentais:
Jo 2,23
”Enquanto Jesus celebrava em Jerusalém a festa da Páscoa, muitos creram no seu
nome, à vista dos milagres que fazia”.
Jo 3,2
“Nicodemos foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és um
Mestre vindo de Deus. Ninguém pode fazer esses milagres que fazes, se Deus não
estiver com ele”.
Jo 6,2 “Seguia-o
uma grande multidão, porque via os milagres que fazia em beneficio dos
enfermos”.
Jo 6,26
“Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: buscais-me, não porque
vistes os milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes fartos”.
Jo 9,16 “Diziam
alguns dos fariseus: Este homem não é o enviado de Deus, pois não guarda o
sábado. Outros replicavam: Como pode um pecador fazer tais milagres? E havia
desacordo entre eles”.
O sinal preenche diversas funções:
a)
identifica:
Lc 2,12 “Isto
vos servirá de sinal: achareis um recém-nascido envolto em faixas e posto numa
manjedoura”.
Mt 26,48 ‘”O
traidor combinara com eles este sinal: Aquele que eu beijar, é ele. Prendei-o!”
Mt 24,3 “Indo
ele assentar-se no monte das Oliveiras, achegaram-se os discípulos e, estando a
sós com ele, perguntaram-lhe: Quando acontecerá isto? E qual será o sinal de
tua volta e do fim do mundo?”
b)
assinala autoridade:
Mc 8,11
“Vieram os fariseus e puseram-se a disputar com ele e pediram-lhe um sinal do
céu, para pô-lo à prova”.
c)
é figura que antecipa:
Mt 12,39
“Respondeu-lhes Jesus: Esta geração adúltera e perversa pede um sinal, mas não
lhe será dado outro sinal do que aquele do profeta Jonas:”
d)
é milagre:
Rm 15,19 “pelo
poder dos milagres e prodígios, pela virtude do Espírito. De maneira que tenho
divulgado o Evangelho de Cristo desde Jerusalém e suas terras vizinhas até a
Ilíria”.
2 Cor 12,12
“Os sinais distintivos do verdadeiro apóstolo se realizaram em vosso meio
através de uma paciência a toda prova, de sinais, prodígios e milagres”.
Hb 2,3-4
“Como, então, escaparemos nós se agora desprezarmos a mensagem da salvação, tão
sublime, anunciada primeiramente pelo Senhor e depois confirmada pelos que a
ouviram, comprovando-a o próprio Deus por sinais, prodígios, milagres e pelos
dons do Espírito Santo, repartidos segundo a sua vontade”?
e)
Jesus é sinal de contradição:
Lc 2,34
“Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua mãe: Eis que este menino está
destinado a ser uma causa de queda e de soerguimento para muitos homens em
Israel, e a ser um sinal que provocará contradições”.
Polivalência dos sinais
Na Escritura
os diversos sinais ou símbolos podem ter diversos significados.
Purificação:
Mc 7,3-4
Vida:
Jo 4,10-14
Água
Tribulação:
Sl 123,4-5
Espírito
Santo: Jo 7,37-39
Casa
de pedras: Ag 2,6-7
Templo Corpo
de Jesus: Jo 2,19
Corpo do
cristão: 1 Cor 6,19
Física:
Jo 11,9-10
Luz Cristo:
Jo 1,9
Deus: 1 Jo
1,5
Alimento
corporal: Mc 6,35-44
Pão
Alimento
espiritual: Jo 6,32-55
Jesus é a
imagem do Pai (Jo 14,9-10) ou do Deus invisível (Cl 1,15)
Jesus é o
exegeta (explicador) do Pai: Jo 1,18. Precisamente o fato de que o Verbo se fez
carne assumindo a natureza humana como transparência da divindade, é o
fundamento mais profundo do amor de Deus; o mundo inteiro pode ser tomado como
um reflexo da sabedoria e do poder de Deus; é uma grande realidade da qual são
tiradas as parábolas e imagens do Novo Testamento.
MISTÉRIO E SACRAMENTO
MISTÉRIO
Mistério vem
do grego mystérion, que vem do verbo
myein, que significa “fechar a boca,
calar, silenciar”.
Os judeus
depuraram o vocábulo “mistério” do seu significado mitológico e foram-lhe
atribuindo um valor monoteísta. Assim, por exemplo, em Daniel “mistérios” são
os acontecimentos finais da história, que trarão salvação aos justos e cuja
notícia é revelada a quem Deus a quer comunicar:
Dn 2,28-29
“Mas no céu existe um Deus que desvenda os mistérios, o qual quis revelar ao
rei Nabucodonosor o que deve suceder no decorrer dos tempos. Eis, portanto, teu
sonho e as visões que se apresentaram a teu espírito quando estavas em teu
leito. Senhor, os pensamentos que vieram
ao teu espírito, enquanto estavas em teu leito, são previsões do futuro: aquele
que revela os mistérios mostrou-te o futuro”.
Dn 2,47
“Dirigindo-se a Daniel, disse o rei: Vosso Deus é verdadeiramente o Deus dos
deuses, o Senhor dos reis; é também o revelador dos mistérios, já que pudeste
revelar este”.
A palavra
mistério significa um desígnio de Deus, decretado desde todo o sempre e
destinado a se revelar no fim dos tempos para instaurar a ordem violada no
mundo pelos iníquos.
No Evangelho
Jesus diz em Mc 4,11: “A vós foi dado o mistério do Reino de Deus...”.
“Mistério do
Reino” é expressão para significar o desígnio de Deus que se deve realizar no
fim dos tempos e só pode ser conhecido mediante especial revelação, por
conseguinte, “conhecer os mistérios do Reino” quer dizer, no Evangelho, “ter os
olhos abertos à instauração ou aos inícios do reino do Messias” (Mt 13,16-17). O
mistério do Reino de Deus revelado aos Apóstolos é o próprio Jesus aparecendo
como Messias.
Nas epístolas
de São Paulo a palavra mistério aparece com significado bem definido:
- 1 Cor 2,7. É
o plano de salvação concebido por Deus Pai desde toda a eternidade;
- 1 Cor 2,8.
Ocultado a todas as criaturas, até mesmo aos anjos;
- Ef 3,3-5.
Revelado aos homens mediante a pregação dos Apóstolos e a história da Igreja;
- Cl 1,27.
Identificado com o próprio Cristo;
- Ef 1,9. A
progressiva revelação do mistério inaugura os últimos tempos ou marca a
plenitude dos tempos.
Nos escritos
paulinos mistério revela a ação
salvífica de Deus que vai sendo anunciada aos homens, tendo por centro a morte
e a ressurreição de Jesus.
Mistério veio
a ser, nos primeiros séculos do Cristianismo, 1) o plano salvífico concebido
por Deus desde toda a eternidade, 2) a ação salvífica de Cristo, que começou a
revelar este plano, 3) a celebração dessa obra salvífica no culto sagrado, 4)
os símbolos do Antigo Testamento que prefiguravam o Cristo Salvador, 5) as
verdades de fé ligadas a essa ação salvífica do Senhor.
A palavra
grega mystérion foi traduzida para o
latim pelo vocábulo sacramentum.
SACRAMENTO
Etimologicamente
falando, sacramento vem do latim sacramentum. A raiz sacra significa relação com o divino, o
verbo sacrare implica devotar à
Divindade. O sufixo mentum significa
o meio ou instrumento pelo qual se faz algo. Donde se vê que sacramentum é aquilo mediante o qual
algo se torna sagrado. Por extensão o vocábulo podia designar também a ação de
consagrar ou devotar e o objeto consagrado à Divindade.
Os
significados de sacramentum e mysterium se tornaram mais precisos.
Sacramentum ficou reservado para
designar os ritos sagrados e, de modo especial, os sete sacramentos: Batismo,
Eucaristia, Confirmação, Penitência, Unção dos Enfermos, Ordem e Matrimônio.
Por Sacramento entende-se um sinal sensível que comunica a graça divina.
Mysterium passou a indicar cada vez
mais as ações salvíficas de Jesus (dizemos: os mistérios do Rosário, para indicar a Anunciação do Anjo a Maria, o
Nascimento de Jesus, sua circuncisão, as fases da Paixão do Senhor...), como
também as grandes verdades da fé, que ultrapassam a compreensão dos homens (o
mistério da SSma. Trindade, o da Encarnação, o da Eucaristia...)
JESUS CRISTO É O PRIMEIRO SACRAMENTO
União Hipostática
A
vida do Pai (e da SSma. Trindade) se derramou sobre a humanidade de Jesus:
“Nele habita corporalmente poda a plenitude da Divindade”. Unindo em si a Divindade e a humanidade,
Jesus podia dizer: “Ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo 14,6).
Essa união do
Divino e do Humano em Jesus chama-se União
Hipostática, união numa só Pessoa: um só Eu (Divino), o Eu de Deus Filho,
dispõe de tudo o que é de Deus (poder, sabedoria, amor...) e de tudo o que é do
homem (corpo, alma, faculdades sensíveis... exceto o pecado). Em tudo Ele age como Deus
feito homem o de modo divino-humano, teândrico. A finalidade dessa união era
recriar o homem e dar um sentido novo, muito valioso, a todas as fases da
existência humana. Na linguagem de São Paulo, dir-se-ia: “recapitular todas as
coisas” (Ef 1,9-10), dando ao ser humano e à sua realidade de cada dia um valor
e um alcance santificados e santificantes. Por isto é que Deus feito Homem
quis:
- sofrer fome
no deserto: Mt 4,1-10;
- sentir sede
junto ao poço de Jacó: Jo 4,6-7;
- ter sede na
cruz: Jo 19,28;
- sofrer os
flagelos e os espinhos da Paixão: MC 15,15-17;
- orar ao Pai:
Lc 11,1;
- alegrar-se
por ver a fé da cananéia: Mt 9,20-22;
- estremecer
quando contemplou Lázaro morto: Jo 11,33;
- suar sangue
diante de perspectiva da Paixão: Lc 22,41-44;
- morrer na
cruz a morte de um escravo: Mc 15,37
Jesus, segunda
pessoa da SSma. Trindade agia mediante a sua humanidade. (O Concílio de
Calcedônia (451) o definiu afirmando que em Jesus havia uma só Pessoa (divina)
e duas naturezas (a divina e a humana). Tudo que Jesus fez de humano, Ele o fez
como Deus. Quando rezava, rezava como homem, mas a sua oração era a de Deus
Filho feito homem, cheio de reverência (Hb 5,7). Assim toda a vida humana de
Jesus, em cada qual dos seus gestos, foi salvífica. Por isto esses gestos se
chamam mistérios e perfazem o grande SACRAMENTO da humanidade de Jesus. Ele
viveu tudo o que nós vivemos para o transfigurar. Essa ação sacramental de Jesus não terminou com a Ascensão, mas se
prolonga na Igreja através dos séculos.
Ação e Eficácia dos Mistérios de Jesus
Todas as ações
da vida de Cristo tinham valor infinito por causa da Pessoa Divina que as
exercia. Converteram-se assim em fonte de santidade. Diz Santo Tomás de Aquino:
“Tudo o que Jesus fez e padeceu atua como
instrumento da Divindade para a salvação do homem”.
Essa ação
salvífica se prolonga no tempo e no espaço mediante os sinais sacramentais.
Estes são ministrados por Cristo Deus e Homem – o Cristo Sacerdote:
JESUS AÇÕES
DIVINO-HUMANAS SINAIS GRAÇA CRISTÃO
CRISTO DE SUA VIDA
MORTAL SACRAMENTAIS SANTIFICANTE
Os sacramentos são ministrados na
Liturgia e pela Liturgia da Igreja, de modo que a Liturgia é mais do que um
cerimonial ou ritual; ela é a continuação da obra salvífica de Cristo.
Já que os
sacramentos correspondem às ações teândricas (Divino-Humano) ou aos mistérios
da vida de Cristo, compreende-se que eles recobrem a vida inteira do cristão,
elevando-a a um plano mais elevado ou sobrenatural.
NASCER CRESCER ALIMENTAR-SE MEDICINA ESTADO DE VIDA LUTA FINAL
BATISMO
CONFIRMAÇÃO EUCARISTIA RECONCILIAÇÃO
ORDEM/MATRIMONIO UNÇÃO
Cristo continua a agir na santificação dos homens
mediante os sacramentos. A Igreja participa da sacramentalidade de Cristo; ela
é o âmbito através do qual Cristo exerce a sua ação e santifica os homens. É
São Leão Magno (+461) quem o diz: “Aquilo que era visível em Cristo, passou
para os sacramentos da Igreja”.
A Igreja é uma comunidade sacerdotal
porque participa do sacerdócio de Cristo. Os sacramentos fazem a Igreja; a
Igreja faz os sacramentos. (os ministros agem em nome de Cristo; os ministros
são as mãos estendidas de Cristo).
A
Igreja é chamada “Corpo Místico de Cristo” porque é um Corpo derivado do
mistério da Eucaristia e dos demais sacramentos. De modo especial, a Eucaristia
faz a Igreja, pois, proporcionando comunhão com Cristo Cabeça, propicia
comunhão com os membros de Cristo, reunindo-os num só Corpo, que é a Igreja.
Os
sacramentos foram por Cristo confiados à Igreja como Corpo de Cristo. É Jesus
Cristo, como Sumo Sacerdote, quem os ministra através da Igreja. Esta verdade é
expressa pela Tradição da Igreja, que Santo Tomás de Aquino reassume nos
seguintes termos:
“Do
lado de Cristo adormecido na Cruz jorraram os sacramentos com os quais a Igreja
foi construída”.
O
Concílio Vaticano II explicita a ação de Cristo e da Igreja na aplicação dos
sacramentos:
“Toda a
celebração litúrgica, como obra de Cristo Sacerdote e de seu Corpo, que é a
Igreja, é uma ação sagrada por excelência, cuja eficácia, no mesmo título e no
mesmo grau, não é igualada por alguma
outra ação da Igreja” (Sacrosanctum concilium nº 7).
“Em
tão grandiosa obra pela qual Deus é perfeitamente glorificado e os homens são
santificados, Cristo sempre associa a si a Igreja, sua Esposa diletíssima, que
invoca seu Senhor e por Ele presta culto
ao Eterno Pai”
“A
Liturgia é o cume para o qual tende a ação da Igreja e, ao mesmo tempo é a
fonte da qual emana toda a sua força. Pois os trabalhos apostólicos se ordenam
a esta finalidade: todos os fiéis, feitos pela fé e o Batismo filhos de Deus,
juntos se reúnam, ouvem a Deus na Igreja, participem do sacrifício e se
alimentem da ceia do Senhor”.
A
Igreja é o sacramento do Espírito Santo!
A Igreja é, a
um tempo, humana e divina, visível, mas ornada de dons invisíveis, operosa na
ação e devotada à contemplação, presente no mundo e, no entanto, peregrina; e
isso de tal maneira que nela o humano se ordene ao divino e a ele se subordine,
o visível ao invisível, a ação à contemplação e o presente à cidade futura que
buscamos.
MATÉRIA E FORMA
Já
Santo Agostinho (+430) distinguia dois componentes de cada sacramento: o
elemento material (água, óleo, pão, vinho...) e a palavra, que define
precisamente o sentido do elemento material.
O sacramento é
um básico sinal ou uma única causa, integrada por dois componentes – matéria e
forma.
O pleno
significado dos sacramentos exige que o sentido das coisas sensíveis seja
determinado por algumas palavras. “.... .. eu te batizo .....”
Das palavras e
das coisas faz-se nos sacramentos uma só realidade, sendo matéria e forma; as
palavras aperfeiçoam o significado das coisas.
As palavras
não pedem a infusão da graça, mas indicam a infusão da graça devida à eficácia
do sacramento. O sacerdote não pede a Deus que perdoe os pecados, mas diz: “Eu
te absolvo dos teus pecados”, pois o próprio sacramento devidamente aplicado
pelo ministro, é canal de graça.
O Caráter Sacramental
Os sacramentos
produzem um efeito intermediário entre o sinal sensível e a graça, efeito
chamado caráter.
Ef 4,30 “Não
contristeis o Espírito Santo de Deus, com o qual estais selados para o dia da
Redenção”.
Ef 1,13
“...fostes selados com o Espírito Santo que fora prometido”.
2 Cor 1,22
“Ele nos marcou com o seu selo e deu aos nossos corações o penhor do Espírito”.
Selar ou
marcar com um selo quer dizer tomar
posse, assumir em pertença. O cristão selado é marcado pelo
Espírito Santo com o selo, a marca ou a efígie de Cristo, isto se dá à
semelhança do que ocorria no Antigo Testamento, quando a pertença do povo
eleito era assinalada pela circuncisão.
Este é o
efeito produzido pelos três sacramentos consecratórios – Batismo, Crisma e
Ordem; é efeito indelével que permanece na alma do cristão, mesmo quando este
cai em pecado e perde a graça santificante.
Os demais
sacramentos produzem um quase caráter, isto é, um efeito objetivo, independente
da fidelidade do sujeito a Cristo. Caso típico é o da Eucaristia: quem a
recebe, recebe realmente o Corpo e o Sangue de Cristo independente das
disposições do sujeito (tal é o quase caráter), mas nem sempre recebe o efeito
último que é a graça santificante e a comunhão com o Corpo Místico de Cristo
que é a Igreja.
Os primeiros
seres humanos foram criados em estado de harmonia, ...harmonia com Deus e
consigo mesmos.
Quem lê
atentamente o texto bíblico, verifica que os primeiros seres humanos gozavam de
dons especiais constituídos de “justiça original”, ou seja, santidade original.
1) a filiação divina ou a graça
santificante, chamado a participar da vida e da felicidade do próprio Deus, é o
que diz o texto sagrado, o qual indica claramente que Adão vivia na amizade com
o Criador. Este dom é dito “sobrenatural”, isto é, ultrapassa todas as
exigências de qualquer criatura;
2)
Os dons preternaturais, isto é, que
ampliavam as perfeições da natureza;
a)
a imortalidade, pois em Gn 3,3-4.19 a morte é apresentada
como conseqüência do pecado; isto significa que, antes do pecado, o homem não
morreria dolorosa e tragicamente como hoje morre;
b)
a impassibilidade ou ausência de
sofrimento, pois estes decorrem da sentença condenatória de Gn 3,16;
c)
a integridade ou a imunidade de
concupiscência desregrada, visto que os primeiros pais, antes do pecado, não se
envergonhavam da sua nudez (Gn 2,25; 3,7-11); os seus instintos ou afetos
estavam em consonância com a razão e a fé; não havia neles tendências
contraditórias;
d)
a ciência moral infusa, que os
tornava aptos a assumirem suas responsabilidades diante de Deus.
Em
Gn 3,6-7 está escrito que os primeiros pais comeram da fruta proibida. Isto
quer dizer que desobedeceram a Deus ou não aceitaram o modelo de vida que o
Senhor lhes havia apontado. A raiz desse pecado foi a soberba.
As conseqüências do Pecado
Em
relação aos primeiros pais, o pecado acarretou a perda da justiça original, ou
seja, da filiação divina e dos dons que a acompanhavam. O pecado acarretou
também a desarmonia no mundo irracional que cerca o homem; este já não é o
ponto de convergência das criaturas inferiores; ao contrário, estas muitas
vezes prejudicam o homem e lhe negam a sua serventia; tendo se rebelado contra
Deus, o homem sente contra si a rebelião das criaturas.
Em
relação aos descendentes dos primeiros pais, o pecado original tornou-se algo
de hereditário. Dizemos que todos os homens nascem com a culpa original. Nos
descendentes o pecado original consiste na ausência dos dons originais (graça
santificante, dons preternaturais), que os primeiros pais deveriam ter
guardados e transmitido, mas não puderam transmitir porque perderam esses dons.
A criança que hoje nasce, devia nascer com a graça santificante, mas isto não
acontece; ela nasce destoando do modelo que o Senhor lhe tinha assinalado; essa
dissonância (que implica a concupiscência desordenada e a morte) é que se
chama, por analogia, “pecado original” nos pequeninos.
Toda
criança que vem ao mundo, nasce dentro de um contexto social, geográfico, do
qual é solidária. A solidariedade mais
fundamental que cada um de nós traz, é a solidariedade com os primeiros pais;
se estes perderam os dons originais, nós, sem culpa nossa, somos afetados por
essa perda – o que é muito lógico. Vê-se, pois, que a transmissão do pecado
original não se deve a intenção vingativa de Deus, mas é conseqüência da índole
mesma da natureza humana.
O BATISMO
FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA
Diversas
correntes religiosas praticavam e praticam a purificação ritual dos seus
seguidores mediante a água. Esta tem, antes do mais, a função de lavar ou
apagar manchas – o que sugere vida nova ou renascer.
O
Antigo Testamento conhece abluções rituais Ex 19,10; Lv 14,47. Não supunham
pecados, mas impurezas fisiológicas ou naturais. São João Batista praticou tal
rito em preparação do sacramento do Batismo, que Jesus havia de instituir; o
Batismo de João suscitava o arrependimento mediante o qual os judeus podiam obter
a remissão dos pecados. Era um sinal exterior com um desejo interior, mudança
de vida.
Jesus
quis submeter-se a tal rito não porque dele precisasse, mas porque assim quis
santificar a água, tornando-a canal da graça divina. São Lucas narra o episódio
nos seguintes termos:
“Quando
todo o povo ia sendo batizado, também Jesus o foi. E estando ele a orar, o céu
se abriu e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma corpórea, como uma pomba;
e veio do céu uma voz: Tu és o meu Filho bem-amado; em ti ponho minha afeição”.
Lc 3,21-22
Jesus,
solidário com os homens, cumpre toda a justiça (Mt 3,15), mas ao mesmo tempo é
revelado como Filho de Deus e apresentado como Messias. O Batismo de Jesus,
mergulhado nas águas, é figura da futura morte do Salvador, na qual será
mergulhado no sofrimento.
“Devo
receber um Batismo, e como me anseio até que ele se cumpra!” Lc 12,50
Juntamente
com a ordem de anunciar a Boa Nova os discípulos receberam a ordem de batizar.
O Cristianismo não é apenas escola; é inserção em Cristo, comunhão de vida com
o Senhor, que se faz mediante os sacramentos, cujo portal é o Batismo. São
Marcos associa Batismo e fé: “Quem
crer e for
batizado será salvo,
mas quem não
crer será condenado”. Mc 16,16. A fé implica a entrega total da pessoa a
Deus e a aceitação da sua graça; como tal, ela é condição para o Batismo.
Em
Mateus é explicitada a fórmula batismal: “Batizai em nome do Pai e do Filho e
do Espírito Santo” Mt 28,19. “Em nome de ....” significa “colocar sob o senhorio e a proteção de ...”,
significa, no caso, dar comunhão de vida com o Pai pelo Filho no Espírito
Santo.
Jesus
é o Cordeiro de Deus que toma sobre si o pecado do mundo para apagá-lo; além
disto, sobre Jesus paira o Espírito prometido pelos Profetas (Is 11,2; 42,1);
assim “Ele batiza no Espírito Santo” (Jo 1,29-34). É prometido, com estas
palavras, um Batismo diferente do de João: será um sacramento, que fará da água
o sinal transmissor da graça divina.
Em
Jo 3,1-13 é registrado o diálogo de Jesus com Nicodemos, que trata de um novo
nascimento a partir da água e do Espírito: “Quem não nascer da água e do
Espírito, não poderá entrar no Reino de Céus”. A Tradição cristã e o Concílio
de Trento (1545-1563) entenderam este texto como alusivo ao Batismo; este é apresentado
como algo mais do que a matrícula numa comunidade religiosa; é, sim, uma
regeneração da nova vida mediante a ação do Espírito, que nos faz filhos no
FILHO e nos leva ao Pai. (Rm 8,15-16).
São
João incute repetidamente este renascer ou esta comunhão com a vida trinitária:
1
Jo 2,29 “Se sabeis que ele é justo, sabei também que todo aquele que pratica a
justiça é nascido dele”.
1
Jo 3,9 “Todo o que é nascido de Deus não peca, porque o germe divino reside
nele; e não pode pecar, porque nasceu de Deus”.
A
semente portadora de nova vida, é o Cristo, (1 Jo 5,18), ou o Espírito (1 Jo
2,20.27), ou é a Palavra de Deus (1 Jo 2,7.24). Estas diversas acepções
convergem entre si.
Merece
atenção também o texto de Jo 7,37-39 “Se alguém tem sede, venha a mim. E beba
aquele que crê em mim. Como
diz a Escritura, do seio dele (Messias) jorrarão rios de água viva”.
Jesus
falava do Espírito que deveriam receber os que nele cressem, pois o Espírito
ainda não fora dado, já que Jesus ainda não fora glorificado.
Este
texto alude às promessas bíblicas do Espírito, que deveria ser dado como fruto
da vitória de Cristo (Jl 3,1-5) e que seria simbolizado pela água (Ez
36,25-29). O Espírito Santo, que é comunicado pelo Pai mediante a água do novo
nascimento, dá plena comunhão com Cristo ou leva até a fonte, que é Cristo. A
imagem da água viva e vivificante ocorre também em Jo 4,7-15 (diálogo com a
Samaritana), em Jo 5,1-9 (o paralítico curado na piscina de Betesda) e em Jo
9,1-11 (cura do cego que lava os olhos na piscina de Siloé).
Pendente
da cruz, Jesus teve seu lado transpassado pelo golpe de lança; donde jorraram
água e sangue (Jo 19,33-37). O evangelista dá muita importância a este fato,
porque vê nele o sinal de algo maior. Na verdade, a Tradição cristã é unânime
ao contemplar aí os símbolos do Batismo (água) e da Eucaristia (sangue).
De
acordo com a ordem do Senhor, logo após o batismo da Igreja pelo Espírito Santo
em Pentecostes, os Apóstolos começaram a pregar e batizar. O Batismo está
associado ao dom do Espírito Santo, que vem a ser o Dinamizador ou a alma da
comunidade que se vai formando:
At 2,37-38 “Ao
ouvirem essas coisas, ficaram compungidos no íntimo do coração e indagaram de
Pedro e dos demais apóstolos: Que devemos fazer, irmãos? Pedro lhes respondeu:
Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para
remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo”.
Em
cada cidade que os Apóstolos chegam, registram-se as seguintes etapas: anúncio
da Palavra, acolhida por parte dos ouvintes, fé, Batismo, dom do Espírito
Santo, fundação de uma nova comunidade, que comunga, pela fé os sacramentos,
com as comunidades já existentes.
-
o etíope batizado por Filipe em Samaria: At 8,26-40;
-
o Batismo de Paulo em Damasco por Ananias: At 9,18;
-
o Batismo de Cornélio com todos os seus em Cesaréia por
Pedro: At 10,1-48;
-
o Batismo de Lídia com sua família em Filipos: At
16,14-15;
-
o Batismo do carcereiro de Filipos com todos os seus:
At 16,29-33;
-
o Batismo de Crispo, chefe da sinagoga, com os seus e
outros concidadãos em Corinto: At 18,8.
Assim se
construiu “o novo Israel de Deus” Gl 6,15-16 “Porque a circuncisão e a
incircuncisão de nada valem, mas sim a nova criatura. A todos que seguirem esta regra, a paz e a
misericórdia, assim como ao Israel de Deus”.
O
Batismo é a participação na Páscoa de Cristo:
Rm
6,4-6 “Fomos, pois, sepultados com ele na sua morte (pecado) pelo batismo para
que, como Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai, assim nós também
vivamos uma vida nova. Se fomos feitos o mesmo ser com ele por uma morte
semelhante à sua, seremos igualmente por uma comum ressurreição. Sabemos que o nosso velho homem foi
crucificado com ele, para que fosse destruído este corpo de pecado, e assim não
sirvamos mais ao pecado”.
O
Batismo faz a pessoa entrar na morte de Cristo, que é, antes do mais, morte
para o pecado, inseparável da ressurreição para uma vida isenta de faltas. Esta
morte e ressurreição exigem um desdobramento na existência moral do cristão;
ele tem que realizar a morte ao pecado e a afirmação de uma vida nova através
de todos os seus atos.
Rm
6,8.11 “Ora, se morremos com Cristo, cremos que viveremos também com ele.
Portanto, vós também considerai-vos mortos ao pecado, porém vivos para Deus, em Cristo Jesus ”.
Rm
6, 12-13 “Não reine, pois, o pecado em vosso corpo mortal, de modo que
obedeçais aos seus apetites. Nem ofereçais os vossos membros ao pecado, como
instrumentos do mal. Oferecei-vos a Deus, como vivos, salvos da morte, para que
os vossos membros sejam instrumentos do bem ao seu serviço”.
Assim
o Batismo só terá atingido a sua consumação no indivíduo quando o corpo herdado
do primeiro Adão tiver sido, pela ressurreição, plenamente configurado ao corpo
glorioso do segundo Adão. (1 Cor 15,45-49).
A
vida cristã é comparada à militância num exército. Dois Generais em guerra se
apresentam ao homem: o Pecado e Deus. Ao cristão cabe escolher o
Chefe em cujas fileiras se alistará; feita a escolha, terá que arcar com as
conseqüências.
O cristão é capacitado a lutar
eficazmente contra o pecado, como bom soldado de Cristo, a fim de se santificar
e santificar o mundo.
O
“ser incorporado em Cristo” e “participar da vida de Cristo” é um revestimento:
“Todos vós que fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo”(Gl 3,27).
Revestir-se do Cristo significa “comungar com a vida de Cristo”, “prolongar a
vida, a morte e a ressurreição de Jesus na existência mesma do cristão”.
“Tornai-vos
aquilo que sois”
É necessário
que, na prática de cada dia, o cristão se comprometa a uma vida nova.
Cl
3,1-11 “Se, portanto, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas do alto, onde
Cristo está sentado à direita de Deus. Afeiçoai-vos às coisas de cima, e não às
da terra.
Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristoem Deus.
Quando Cristo , vossa vida, aparecer, então também vós
aparecereis com ele na glória.
Mortificai, pois, os vossos membros no que têm de terreno: a devassidão, a impureza, as paixões, os maus desejos, a cobiça, que é uma idolatria. Dessas coisas provém a ira de Deus sobre os descrentes. Assim também vós quando vivíeis entre eles. Agora, porém, deixai de lado todas estas coisas: ira, animosidade, maledicência, maldade, palavras torpes da vossa boca, nem vos enganeis uns aos outros. Vós vos despistes do homem velho com os seus vícios, e vos revestistes do novo, que se vai restaurando constantemente à imagem daquele que o criou, até atingir o perfeito conhecimento. Aí não haverá mais grego nem judeu, nem bárbaro nem cita, nem escravo nem livre, mas somente Cristo, que será tudo em todos”.
Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo
Quando Cristo
Mortificai, pois, os vossos membros no que têm de terreno: a devassidão, a impureza, as paixões, os maus desejos, a cobiça, que é uma idolatria. Dessas coisas provém a ira de Deus sobre os descrentes. Assim também vós quando vivíeis entre eles. Agora, porém, deixai de lado todas estas coisas: ira, animosidade, maledicência, maldade, palavras torpes da vossa boca, nem vos enganeis uns aos outros. Vós vos despistes do homem velho com os seus vícios, e vos revestistes do novo, que se vai restaurando constantemente à imagem daquele que o criou, até atingir o perfeito conhecimento. Aí não haverá mais grego nem judeu, nem bárbaro nem cita, nem escravo nem livre, mas somente Cristo, que será tudo em todos”.
O
Espírito Santo dinamizador
O
Espírito Santo é o dom do Cristo que batiza. O espírito santo é selo, penhor e
agente de vida nova:
2
Cor 1,22 “Ele nos marcou com o seu selo e deu aos nossos corações o penhor do
Espírito”.
Ef
1,13-14 “Nele também vós, depois de terdes ouvido a palavra da verdade, o
Evangelho de vossa salvação no qual tendes crido, fostes selados com o Espírito
Santo que fora prometido, que é o penhor da nossa herança, enquanto esperamos a
completa redenção”.
Ef
4,30 “Não contristeis o Espírito Santo de Deus, com o qual estais selados para
o dia da Redenção”.
Rm
8,11-17 “Se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dos mortos habita em vós,
ele, que ressuscitou Jesus Cristo dos mortos, também dará a vida aos vossos
corpos mortais, pelo seu Espírito que habita em vós. Portanto ,
irmãos, não somos devedores da carne, para que vivamos segundo a carne. De
fato, se viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito
mortificardes as obras da carne, vivereis, pois todos os que são conduzidos
pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Porquanto não recebestes um espírito
de escravidão para viverdes ainda no temor, mas recebestes o espírito de adoção
pelo qual clamamos: Aba! Pai!
O Espírito mesmo dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus.
E, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, contanto que soframos com ele, para que também com ele sejamos glorificados”.
O Espírito mesmo dá testemunho ao nosso espírito de que somos filhos de Deus.
E, se filhos, também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, contanto que soframos com ele, para que também com ele sejamos glorificados”.
Portanto,
somos devedores não à carne para vivermos segundo a carne. Pois se vivermos
segundo a carne, morreremos, mas, se vivermos pelo Espírito faremos morrer as
obras do corpo, e assim viveremos.
O
Espírito recebido no Batismo move o cristão, dá-lhe comunhão com a vida
trinitária e torna-se penhor da plena configuração a Cristo pela ressurreição.
A inserção no Corpo de Cristo, que é a Igreja
A ação do Espírito Santo visa não
somente à santificação de cada cristão, ms também à formação do Corpo de
Cristo, a Igreja.
1
Cor 12,13 “Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só
corpo, judeus ou gregos, escravos ou livres; e todos fomos impregnados do mesmo
Espírito”.
Por
causa dessa presença dinâmica do Espírito Santo, as diversas funções existentes
na Igreja se harmonizam entre si:
Ef
4,5-6 “Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo. Há um só Deus e Pai de todos,
que atua acima de todos, por todos e em todos”.
A
unidade na multiplicidade resulta do Espírito Santo. Pelo único Batismo, todos
os cristãos sabem estar unidos entre si no único corpo de Cristo, que á a
Igreja.
Purificação do Corpo Místico
A Igreja, Corpo de Cristo, é também “a Esposa de
Cristo”. No Oriente antigo a noiva era banhada e lavada; depois os amigos do
noivo a apresentavam ao noivo. No caso, porém, da Igreja, foi Cristo quem lavou
sua noiva, purificando-a de toda mancha mediante o Batismo para apresentá-la a
si mesmo:
Ef
5,25-27 “ ... Cristo amou a Igreja e se entregou por ela, para santificá-la,
purificando-a pela água do batismo com a palavra, para apresentá-la a si mesmo
toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro defeito semelhante, mas
santa e irrepreensível”.
1 Cor 6,11 “Ao menos alguns de vós
têm sido isso. Mas fostes lavados, mas fostes santificados, mas fostes
justificados, em nome do Senhor Jesus Cristo e pelo Espírito de nosso Deus”.
À idéia de purificação se associa a
de iluminação.
Ef 5,11-14
“Não sejais participantes nas obras infrutíferas das trevas; pelo contrário,
condenai-as abertamente. Porque as
coisas que tais homens fazem ocultamente é vergonhoso até falar delas. Mas tudo
isto, ao ser reprovado, torna-se manifesto pela luz. E tudo o que se manifesta
deste modo torna-se luz. Por isto (a Escritura) diz: Desperta, tu que dormes!
Levanta-te dentre os mortos e Cristo te iluminará”
Hb 6,4 “Porque aqueles que foram uma
vez iluminados saborearam o dom celestial, participaram dos dons do Espírito
Santo”.
Hb 10,32 “Lembrai-vos dos dias de
outrora, logo que fostes iluminados. Quão longas e dolorosas lutas
sustentastes”.
O Batismo fica
sendo sempre o referencial da vida do cristão: este deve fazer do sacramento
uma realidade vivenciada, morrendo ao pecado e ressuscitando para uma vida
nova.
A Sagrada
Escritura não se refere explicitamente ao Batismo de crianças. Todavia narra
que vários personagens pagãos professaram a fé cristã e se fizeram batizar “com
toda a sua casa”; o Batismo de Cornélio com todos os seus em Cesaréia por
Pedro: At 10,1-48; o Batismo de Lídia com sua família em Filipos: At 16,14-15;
o Batismo do carcereiro de Filipos com todos os seus: At 16,29-33; o Batismo de
Crispo, chefe da sinagoga, com os seus e outros concidadãos em Corinto: At
18,8., a família de Estéfanas AT 1,16. A expressão “casa” (domus, em latim;
oikos, em grego) tinha sentido amplo na antiguidade: designava o chefe de
família com todos os seus domésticos, inclusive as crianças (que geralmente não
faltavam). Indiretamente, pois, as Escrituras sugerem o Batismo de crianças.
Esta impressão se confirma desde que
consideremos que os judeus batizavam os filhos pequeninos dos pagãos que
abraçassem a fé de Israel. Ademais Orígenes de Alexandria (+250) e Santo
Agostinho (+430) atestam que “o costume de batizar crianças é tradição recebida
dos Apóstolos”. No próprio Evangelho, aliás, encontra-se a palavra incisiva do
Senhor: “Quem não renascer da água e do Espírito, não poderá entrar no Reino
dos Céus” (Jo 3,5). Estes dizeres sempre
foram entendidos em sentido estrito e aplicados tanto a crianças como a
adultos. Quando no século II aparecem os primeiros testemunhos diretos do
Batismo de crianças, nenhum deles o apresenta como inovação. Santo Irineu de
Lião (+202) considera óbvia, entre os batizados, a presença “das crianças e dos
pequeninos” ao lado dos jovens e dos adultos.
O Papa Paulo VI escreveu: “O Batismo
deve ser administrado também às criancinhas que não tenham podido ainda
tomar-se culpadas de qualquer pecado pessoal, a fim de que elas, tendo nascido
privadas da graça sobrenatural, renasçam pela água e o Espírito Santo para a
vida divina em Cristo
Jesus ”.
O fato de que
as crianças ainda não podem professar a fé pessoalmente, não é obstáculo, pois
a Igreja batiza os pequeninos na fé da própria Igreja, isto é, professando a fé
em nome dos pequeninos. Esta doutrina acha-se expressa no Ritual do Batismo,
quando o celebrante pede aos pais e padrinhos que professem “a fé da Igreja, na
qual as crianças são batizadas”.
É de notar
que, no plano natural, os pais fazem, em lugar de seus filhos, opções
indispensáveis ao futuro destes: a alimentação, a higiene, a educação, a
escola... Os pais que se omitissem a tal propósito sob o pretexto de
salvaguardar a liberdade da criança, prejudicariam seriamente a prole. Ora a
regeneração batismal vem a ser o bem por excelência que os pais católicos devem
proporcionar aos filhos; para quem tem fé, a filiação divina é o mais
importante de todos os valores.
Mesmo que a
criança, chegando à adolescência, rejeite os deveres decorrentes do seu Batismo, o mal é então
menor do que a omissão do sacramento. O fato de alguém rejeitar a boa educação
que recebeu, é dano menos grave do que a omissão de educação por parte dos
pais. Observemos ainda que, não obstante as aparências, a semente da fé
depositada na alma da criança poderá um dia germinar; os pais contribuirão para
isto mediante a sua oração e o seu autêntico testemunho de fé.
Caso não lhe
seja possível batizar, a Igreja confia a criança falecida sem batismo ao amor
de Deus, que é Pai e fonte de misericórdia.
A CONFIRMAÇÃO
O Batismo se acha estritamente associado
ao sacramento da Confirmação, pois este, como diz o nome, corrobora e leva à
plenitude o Batismo; é o sacramento da maturidade cristã. Também se chama
“sacramento da Crisma”. A expressão “o Crisma” fica reservada para designar o
próprio óleo.
O sacramento
da Crisma é a consolidação pentecostal do Batismo; é a consumação do Batismo.
Isto vem indicado pelo próprio Rito Batismal, pois no fim da cerimônia batismal
o batizado é ungido pelo óleo – unção esta que ainda não é o sacramento da
Crisma. Assim, embora seja um sacramento próprio, a Crisma fica intimamente
vinculada ao sacramento do Batismo, como também ao da Eucaristia, constituindo
a tríade dos sacramentos da iniciação cristã.
FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA
Desde os primeiros livros do Antigo
Testamento, o Espírito de Deus (Ruach – Elohim), embora não revelado como
pessoa as Ssma. Trindade aparece como Dom transformador, que permite aos homens
cumprir a missão para a qual são escolhidos:
Os juízes
são fortalecidos pelo Espírito para libertar o povo oprimido por invasores.
Jz 3,9-10 “Os israelitas clamaram ao Senhor, que lhes
suscitou um libertador para salvá-los: Otoniel, filho de Cenez, irmão mais novo
de Caleb. O Espírito do Senhor desceu sobre ele: ele julgou Israel e saiu para
a guerra. O Senhor entregou-lhe Cusã-Rasataim, rei da Mesopotâmia, e sua mão
triunfou sobre ele”.
Jz 6,34 “O Espírito do Senhor apoderou-se de
Gedeão, o qual, tocando a trombeta, convocou os filhos de Abieser para que o seguissem”.
Os
reis foram consagrados com uma unção para exercerem suas funções de governo.
1Sm 10,1 “Samuel tomou um pequeno frasco de óleo
e derramou-o na cabeça de Saul; beijou-o e disse: O Senhor te confere esta
unção para que sejas chefe da sua herança”.
1Sm 16,12 –13 “E Isaí mandou buscá-lo. Ele era
louro, de belos olhos e mui formosa aparência. O Senhor disse: Vamos, unge-o: é
ele. Samuel tomou o óleo e ungiu-o no meio dos seus irmãos. E, a partir daquele
momento, o Espírito do Senhor apoderou-se de Davi”.
1Rs 1,39 “Tomou o sacerdote Sadoc no tabernáculo o
chifre de óleo e ungiu com ele Salomão. A trombeta soou e todo o povo pôs-se a
gritar: Viva o rei Salomão”!
Os profetas falavam e atuavam guiados pelo Espírito do
Senhor.
1Sm 19,20 “Saul mandou homens para prendá-lo (Davi),
mas quando viram a comunidade dos profetas em delírio, tendo Samuel à sua
frente, o Espírito de Deus veio sobre os enviados de Saul que começaram, também
eles, a profetizar”.
Ez 8,3
“Estendeu uma espécie de mão, e me agarrou pelos cachos dos cabelos. O Espírito
levantou-me entre o céu e a terra, e me levou a Jerusalém, em visões divinas, à
entrada da porta interior que olha para o norte, lá onde se erige o ídolo que
provoca o ciúme (do Senhor)”.
Ez 11,1 “O
Espírito arrebatou-me e transportou-me à porta oriental do templo do Senhor, a
que olha para o Levante. Havia à entrada dessa porta vinte e cinco homens,
entre os quais distingui Jazanias, filho de Azur, e Feltias, filho de Banaías,
chefes do povo”.
Ez
37,9-10 “Profetiza ao Espírito, disse-me
o Senhor, profetiza, filho do homem, e dirige-te ao Espírito: eis o que diz o
Senhor Javé: vem, Espírito, dos quatro cantos do céu, sopra sobre esses mortos
para que revivam. Proferi o oráculo que
ele me havia ditado, e daí a pouco o Espírito penetrou neles. Retornando à
vida, eles se levantaram sobre seus pés: um grande, um imenso exército”.
Jesus (o
Messias) devia ser e foi o portador, por excelência, do Espírito de Deus, que
ele transmitiria aos fiéis da nova aliança.
Is 11,1-2 “Um renovo sairá do tronco de Jessé, e um
rebento brotará de suas raízes. Sobre ele repousará o Espírito do Senhor,
Espírito de sabedoria e de entendimento, Espírito de prudência e de coragem,
Espírito de ciência e de temor ao Senhor”.
Jl 3,1-2 “Depois disso, acontecerá que derramarei o
meu Espírito sobre todo ser vivo: vossos filhos e vossas filhas profetizarão;
vossos anciãos terão sonhos, e vossos jovens terão visões. Naqueles dias, derramarei também o meu
Espírito sobre os escravos e as escravas”.
Esta profecia
de Joel começou a se realizar em Pentecostes; se cumpre em plenitude na Igreja;
donde se pode dizer que o tempo da Igreja é o tempo do Espírito Santo.
At 2, 15-18
“Estes homens não estão embriagados, como vós pensais, visto não ser ainda a
hora terceira do dia. Mas cumpre-se o que foi dito pelo profeta Joel:
Acontecerá nos últimos dias - é Deus quem fala -, que derramarei do meu
Espírito sobre todo ser vivo: profetizarão os vossos filhos e as vossas filhas.
Os vossos jovens terão visões, e os vossos anciãos sonharão. Sobre os meus
servos e sobre as minhas servas derramarei naqueles dias do meu Espírito e
profetizarão”.
Jo
7,37-39 “No ultimo dia, que é o
principal dia de festa, estava Jesus de pé e clamava: Se alguém tiver sede, venha
a mim e beba. Quem crê em mim, como diz
a Escritura: Do seu interior manarão rios de água viva. Dizia isso, referindo-se ao Espírito que
haviam de receber os que cressem nele, pois ainda não fora dado o Espírito,
visto que Jesus ainda não tinha sido glorificado”.
O Sacramento
da Crisma é o sacramento da plenitude do Espírito Santo, que confirma o cristão
batizado e o habilita a dar claro testemunho do Evangelho para a edificação da
Igreja e do Reino de Deus no mundo.
At 8, 14-17
“Os apóstolos que se achavam em Jerusalém, tendo ouvido que a Samaria recebera
a palavra de Deus, enviaram-lhe Pedro e João. Estes, assim que chegaram,
fizeram oração pelos novos fiéis, a fim de receberem o Espírito Santo, visto
que não havia descido ainda sobre nenhum deles, mas tinham sido somente
batizados em nome do Senhor Jesus. Então
os dois Apóstolos lhes impuseram as mãos e receberam o Espírito Santo”.
Jo 14,26 “Mas
o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á
todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito”.
Jo 16,7
“Entretanto, digo-vos a verdade: convém a vós que eu vá! Porque, se eu não for,
o Paráclito não virá a vós; mas se eu for, vo-lo enviarei”.
O Espírito
santo desceu sobre eles e eles que eram homens medrosos se tornaram
pessoas corajosas.
Através do
Sacramento da Crisma o Espírito Santo atua com mais profundidade em nossa
vida. É a pessoa já adulta que realmente
quer participar ativamente da Igreja de Cristo.
O bispo unge a
pessoa com óleo santo. A Crisma é o selo
do Dom do Espírito Santo.
At 19,6 “E
quando Paulo lhes impôs as mãos, o Espírito Santo desceu sobre eles, e falavam
em línguas estranhas e profetizavam”.
Toda a
doutrina do Novo Testamento oferece a fundamentação do Sacramento da Crisma,
pois, referindo-se às promessas do Antigo Testamento, afirma a efusão do
Espírito Santo sobre Cristo (como homem), sobre a Igreja e sobre os cristãos.
Sobre
Cristo: Por ocasião do Batismo:
Mc 1,9-10
“Ora, naqueles dias veio Jesus de Nazaré, da Galiléia, e foi batizado por João
no Jordão. No momento em que
Jesus saía da água, João viu os céus abertos e descer o
Espírito em forma de pomba sobre ele”.
Sobre
a Igreja: No dia de Pentecostes:
At 2,1-4 “Chegando o dia de Pentecostes, estavam todos
reunidos no mesmo lugar. De repente, veio do céu um ruído, como se soprasse um
vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam sentados. Apareceu-lhes
então uma espécie de línguas de fogo que se repartiram e pousaram sobre cada um
deles. Ficaram todos cheios do Espírito Santo e começaram a falar em línguas,
conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem”.
Sobre
os cristãos:
2 Cor 1,21-22
“Ora, quem nos confirma a nós e a vós em Cristo, e nos consagrou, é Deus. Ele
nos marcou com o seu selo e deu aos nossos corações o penhor do Espírito”.
O Espírito
Santo é penhor por que é Deus que se dá ao cristão peregrino,
antecipando a plena doação que ocorre na vida eterna.
O Espírito
Santo é também unção (chrísma, em grego) porque, à semelhança do
óleo nos penetra interiormente e consagra como filhos configurados ao FILHO.
1 Jo 2,27 “Quanto a vós, a unção que dele recebestes
permanece em vós. E
não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos
ensina todas as coisas, assim é ela verdadeira e não mentira. Permanecei nele,
como ela vos ensinou”.
Deve
irradiar-se fazendo do cristão o bom odor de Cristo.
Este
sacramento nos une mais a missão de Jesus. Aumenta em nós os dons do Espírito
Santo, por este sacramento recebemos os dons:
SABEDORIA -
INTELIGENCIA - CIÊNCIA -
CONSELHO - FORTAQLEZA - PIEDADE
- TEMOR DE DEUS (Is 11,1-3)
APROFUNDAMENTO
TEOLÓGICO
A
Confirmação – como insinua o próprio nome – deve ser considerada à luz do
Batismo, como Pentecostes à luz da Páscoa.
Na Páscoa Jesus, vencedor da morte,
apresentou ao mundo a nova criatura (2 Cor 5,17) ou o novo Adão (1 Cor
15,45-47). A vitória de Páscoa devia estender-se a todas as criaturas humanas.
Por isto Jesus enviou o Espírito Santo – que reúne os fiéis na Igreja – Corpo
de Cristo vivificado pelo Espírito. A Igreja assim concebida foi fundada, e de
modo definitivo, em Pentecostes.
O
dom do Espírito não é outorgado apenas à Igreja como Corpo ou comunidade. Ele é
concedido a cada cristão pessoalmente em paralelo ao Pentecostes da Igreja
inteira. Com efeito, o cristão participa da Páscoa de Cristo pelo Batismo,
mergulhado na morte e ressurreição do Senhor; e participa do Pentecostes da
Igreja pelo Sacramento da Confirmação. Esta, comunicando a plenitude do
Espírito Santo, faz que toda a vida do cristão seja animada pelo Espírito
Santo.
1 Cor 12,3 “Ninguém pode dizer:
Jesus é o Senhor, a não ser pela ação Espírito Santo”.
Rm
8,14 “Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus, são filhos de Deus”
A
vida assim orientada pelo Espírito Santo frutifica em “amor, alegria, paz,
longanimidade, bondade, fidelidade, mansidão” Gl 5,22-23.
Portanto
é no Sacramento da Crisma que têm seu embasamento mais profundo todas as
expressões da vida cristã: a oração, o culto divino, a prática da ascese, o
cultivo das virtudes, o testemunho do Evangelho até o martírio. A vocação para
a santidade é decorrente do Batismo, e corroborada e sustentada pela graça
sacramental da Confirmação.
A
relação da Crisma com Pentecostes e Páscoa é expressa pelo Papa Paulo VI:
“No
dia da festa de Pentecostes, o Espírito Santo desceu de modo maravilhoso sobre
os apóstolos reunidos com Maria, Mãe de Jesus, e o grupo dos discípulos;
ficaram de tal modo repletos desse Espírito (At 2,4), que, inspirados pelo
sopro divino, começaram a anunciar as maravilhas de Deus. Pedro reconheceu
então que o Espírito que descera assim sobre os apóstolos era o dom da era
messiânica (At 2,17-18)”. (Constituição Apostólica 15/08/71).
O
Papa continua:
“A
participação na natureza divina, que é dada aos homens pela graça de Cristo,
apresenta certa analogia com a origem, o desenvolvimento e o sustento da vida
natural. Com efeito, os fiéis, renascidos no Batismo, são fortalecidos pelo
Sacramento da Confirmação e nutridos depois na Eucaristia com o alimento da
vida eterna. Assim, por esses sacramentos da iniciação cristã, recebem cada vez
mais os tesouros da vida divina e caminham para a perfeição da caridade”.
Pelo
exposto acima, vê-se a importância própria da Confirmação para a iniciação
sacramental, pela qual os fiéis, ‘como membros do Cristo vivo’, são
incorporados e configurados não só pelo Batismo, mas também pela Confirmação e
pela Eucaristia. No Batismo, os neófitos recebem o perdão dos pecados, a adoção
de filhos de Deus e o ‘caráter’ de Cristo, pelo qual são agregados à Igreja e
começam a participar do sacerdócio de seu Salvador. Pelo sacramento da
Confirmação, aqueles que nasceram no Batismo recebem o Dom inefável, o próprio
Espírito Santo. São enriquecidos por ele com uma força especial e marcados pelo
caráter desse sacramento, ‘ficam mais perfeitamente unidos à Igreja’ e mais
estritamente obrigados a difundir e defender a fé por palavras e atos, como
verdadeiras testemunhas de Cristo. A Confirmação está de tal modo ligado à
sagrada Eucaristia, que os fiéis, já marcados com o sinal do Batismo e o da
Confirmação, são inseridos plenamente no Corpo de Cristo pela participação na
Eucaristia.
Participação no Sacerdócio de Cristo
Assim como os Sacramentos do Batismo e da Ordem, o da
Crisma imprime caráter.
A
palavra caráter vem do grego charakter = imagem, efígie. Donde se
segue que a Crisma configura, de modo especial, o cristão a Cristo Sacerdote,
Profeta e Rei. Ela confirma assim o fiel na participação do sacerdócio de
Cristo, já outorgada pelo Batismo, habilitando-o a oferecer, sob a presidência
do ministro ordenado (Presbítero ou Bispo), o santo sacrifício da Missa e o
culto divino em geral.
“O
Senhor Jesus, a Quem o Pai santificou e enviou ao mundo (Jo 10,36), faz todo o
Seu Corpo místico participar da unção do Espírito pela qual ele foi ungido.
Pois n’Ele os fiéis todos tornam-se um sacerdócio santo e régio, oferecem a
Deus hóstias espirituais por Jesus Cristo, e anunciam as virtudes d’Aquele que
das trevas os chamou para sua luz admirável.
O mesmo Jesus,
porém, instituiu a alguns como ministros entre os fiéis, para que estes se
unissem num só corpo, em que ‘todos os membros não desempenham a mesma
atividade’ (Rm 12,4). “Tais ministros
devem assumir o poder sagrado da Ordem, na comunidade dos fiéis, para oferecer
o Sacrifício e perdoar os pecados, exercendo ainda publicamente o ofício
sacerdotal em favor dos homens e em nome de Cristo”. (Concílio Vaticano II –
sobre o Ministério e a Vida dos Presbíteros).
“O supremo e
eterno Sacerdote Jesus Cristo quer continuar seu testemunho e seu serviço
também através dos leigos. Vivifica-os por isso com seu Espírito e
incessantemente os impele para toda obra boa e perfeita”. (Lumen Gentium).
Participação
nas funções de Cristo Profeta
O Sacramento da Crisma confere o Espírito Santo muito
especialmente para que o cristão se lance no mundo como arauto da Palavra ou
como evangelizador ou ainda como Profeta não para predizer o futuro, mas para
apregoar a Boa Nova no tempo presente.
“Pelo
Sacramento da Confirmação são vinculados mais perfeitamente à Igreja,
enriquecidos de especial força do Espírito Santo, e assim mais estritamente
obrigados à fé que, como verdadeiras testemunhas de Cristo, devem difundir e
defender tanto por palavras como por obras” (Lumen Gentium).
“Tal
apostolado anuncia-se tanto mais urgente quanto a autonomia de muitos setores
da vida humana, como se esperava, se desenvolveu ao máximo, por vezes com
desvios de ordem ética e religiosa e com grave perigo para a vida cristã. Além
disso, em muitas regiões em que os sacerdotes são tão escassos ou, como também acontece, estão sendo cerceados
em sua liberdade de ministério, sem a ação dos leigos, a Igreja mal poderia
garantir sua presença e ação”. (Apostolado dos Leigos).
Participação na função régia de
Cristo
Participar na função régia de Cristo não significa
dominar nem conquistar, mas colaborar para organizar a Igreja e o mundo segundo
os desígnios de Deus. Todo fiel católico tem a obrigação de contribuir para
construção do Reino de Deus.
“Existe
na Igreja diversidade de serviços, mas unidade de missão. Aos Apóstolos e a
seus sucessores foi por Cristo conferido o empenho de, em nome e com o poder
d’Ele, ensinar, santificar e reger. Os leigos, por sua vez, participantes do
ofício sacerdotal, profético e régio de Cristo, compartilham a missão de todo o
povo de Deus na Igreja e no mundo. Realizam verdadeiramente apostolados quando
se dedicam a evangelizar e santificar os homens e animar e aperfeiçoar a ordem
temporal com o espírito do Evangelho, de maneira a dar com a sua ação neste
campo claro testemunho de Cristo e a ajudar à salvação dos homens”. (Apostolado
dos Leigos).
Exercem
o apostolado na fé, esperança e caridade, virtudes que o Espírito Santo derrama
nos corações de todos os membros da Igreja. Mais: pelo preceito da caridade,
que é o maior mandamento do Senhor, são instados os cristãos todos a promover a
glória de Deus pelo advento de seu Reino e a conseguir a vida eterna em favor
de todos os homens: para que conheçam o único Deus verdadeiro e aquele a quem
enviou, Jesus Cristo. (Jo 17,3)
Sede,
portanto, membros vivos dessa Igreja e, guiados pelo Espírito Santo, procurai
servir a todos, à semelhança do Cristo, que não veio para ser servido, mas para
servir.
EUCARISTIA
A Eucaristia é
o ápice da ordem sacramental. O Batismo é dirigido à Eucaristia, de modo que
esta é o centro de toda a vida da Igreja e de cada um dos fiéis. É a
perpetuação do sacrifício que Cristo ofereceu a sós no Calvário outrora e que
atualmente, através dos sinais sagrados, oferece com a sua Igreja.
Por isto a
Eucaristia apresenta dois aspectos: 1) é, antes do mais, sacrifício (o sacrifício do Calvário oferecido por Cristo e pela
Igreja); 2) em conseqüência, é sacramento, ou seja, alimento da vida
espiritual.
FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA
A promessa da Sagrada Eucaristia
A promessa
acha-se consignada em Jo 6. O quarto Evangelista, escrevendo bem depois dos
demais, não quis repetir a narrativa da instituição da Eucaristia, já
apresentada por Mateus, Marcos, Lucas e Paulo (1 Cor 11,23-24); procurou,
antes, desenvolver o profundo significado doutrinário do gesto de Jesus,
referindo a promessa que o Senhor fizera do Pão da Vida.
Qual seria
então o conteúdo de Jo 6?
Reúne três
episódios harmoniosamente concatenados a fim de incutir uma grande tese ou o
mistério da Eucaristia: a multiplicação dos pães (1-15), que revela o poder de
Jesus sobre o pão; o caminhar sobre as águas (16-21), que significa o poder de
Jesus sobre seu corpo e os elementos da natureza; o sermão sobre o Pão da Vida
(22-71), que, utilizando os ensinamentos dos dois quadros anteriores, anuncia
um pão que será o próprio Corpo de Cristo.
Observemos as
expressões bem concretas:
“Eu sou o pão
vivo que desceu do céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão, que
eu hei de dar, é a minha carne para a salvação do mundo. A essas palavras, os
judeus começaram a discutir, dizendo: Como pode este homem dar-nos de comer a
sua carne? Então Jesus lhes disse: Em verdade, em verdade vos digo: se não
comerdes a carne do Filho do Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a
vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida
eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente
uma comida e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida. Quem come a minha carne
e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele”.
A clareza e a
insistência destas palavras exigem que sejam entendidas em seu pleno realismo.
Notemos que os judeus perguntaram como Jesus lhes poderia dar a sua carne a
comer; então, procurando esclarecê-los, Jesus, longe de propor uma
interpretação alegorista, reafirmou o sentido literal das suas palavras,
utilizando uma expressão ainda mais forte, “se não comerdes a carne do Filho do
Homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós mesmos”.
Quem quisesse
interpretar metaforicamente as palavras de Jesus, deveria comprovar a sua tese
– o que seria difícil, pois o sentido metafórico que os dizeres de Jesus podiam
ter em linguagem semita, não combina com o contexto de Jo 6,
Muitos dos
seus discípulos, ouvindo-o, disseram: Isto é muito duro! Quem o pode admitir?
Ora, acontecia
que, quando os discípulos se enganavam a respeito das afirmações do Mestre, tomando
ao pé da letra expressões que deviam se entendidas metaforicamente, o Senhor
tratava de desfazer o equívoco. Assim por exemplo, em Jo 11,11-14 Jesus dissipa
o mal-entendido a respeito de “dormir” dizendo que se trata do sono da morte.
Em Jo 3,4-5 Jesus explica que o “nascer de novo” não significa “entrar de novo
no seio materno”, mas “nascer da água e do Espírito”. No caso, porém, de Jo 6,
Jesus não somente não atenuou o realismo de suas palavras mas, ao contrário, o
acentuou: “ Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu
o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é verdadeiramente uma comida
e o meu sangue, verdadeiramente uma bebida”. O Senhor manteve a sua posição,
embora soubesse que, em conseqüência, vários de sues ouvintes haveriam de O
abandonar; Cristo não hesitou mesmo em intimar os doze discípulos a definir a
sua atitude com toda a clareza: ou crer no realismo das palavras do Senhor e,
conseqüentemente, acompanhá-lo, ou negar a fé e, conseqüentemente, afastar-se.
“O espírito é
que vivifica, a carne de nada serve. As palavras que vos tenho dito são
espírito e vida”. Que tinha em vista o Senhor ao dizer isto?
Jesus apenas
visava a remover um entendimento grosseiro de suas afirmações: não se tratava
de comer carne enquanto tal (está claro que esta por si não santifica o homem)
nem de comer a carne do Senhor em suas condições terrestres (como se come a
carne do açougue), mas, sim, de receber a carne de Cristo glorificada,
emancipada das leis do espaço e do tempo. É a carne nessas circunstâncias novas
que Jesus chama “espírito”; é espírito porque está toda penetrada pela
Divindade (na verdade, á a Divindade de Cristo que, mediante a carne, vivifica
os fiéis na Eucaristia).
Acrescentou o
Senhor que as suas palavras são espírito, não como se tivessem de ser
entendidas em sentido figurado, mas pelo fato de terem um alcance espiritual e
exigirem um entendimento de fé; são vida também, porque nos revelam o meio de
termos a vida em nós.
A Instituição da Eucaristia
Os textos
básicos para se depreender o significado da Eucaristia são os quatro relatos da
sua Instituição que o Novo Testamento nos oferece: Mt 26,26-29; Mc 14,22-25; Lc
22,19-20; 1 Cor 11,23-26. Quanto à substância, são equivalentes entre si:
significam que. a) Jesus entrega aos discípulos sob o sinal de pão e vinho, o
seu Corpo e o seu Sangue. b) para a remissão dos pecados,
ou seja, como vítima expiatória. c)
tal gesto deveria ser repetido pelos discípulos à guisa de memorial.
Ao entregar o
Corpo e o Sangue “por vós” ou “para a remissão dos pecados”, Jesus quis assumir
o papel do Servidor de Javé anunciado por Isaías 53; aliás, por toda a sua vida
pública Jesus demonstrou que se identificava com o Servo de Javé e os primeiros
cristãos bem o compreenderam.
Poucas horas
antes de oferecer o seu sacrifício cruento no Calvário, sacrifício para o qual
tendia toda a sua vida terrestre, Jesus realizou uma ação profética, isto é,
antecipou em sinais e palavra a sua entrega ao Pai, instituindo o rito da
Eucaristia; esta tornaria presente o seu gesto a todas as gerações futuras,
chamadas a participar da mesma entrega.
O gesto
profético de Jesus se realizou dentro da moldura da Páscoa judaica, quando os
israelitas imolavam o Cordeiro da Páscoa. Jesus substituiu-se a este, fazendo
as vezes do verdadeiro Cordeiro, o único realmente capaz de trazer aos homens a
redenção prefigurada pela vítima do Antigo Testamento. Foi assim que os
cristãos entenderam a oblação feita por Jesus: 1 Cor 5,7 “Purificai-vos do
velho fermento, para que sejais massa nova, porque sois pães ázimos, porquanto
Cristo, nossa Páscoa, foi imolado”.
João Batista
apontava Jesus como “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Jesus é
também o Cordeiro cujo sangue sela a nova e definitiva Aliança de Deus com os
homens.
Ao dar aos
Apóstolos o pão e o vinho consagrados, Jesus lhes apresentava o seu corpo entregue e o seu sangue derramado pela remissão dos pecados. Ora,
no estilo bíblico, as duas expressões “entregar, dar o corpo (ou a alma)” e
“derramar o sangue (pelos pecados)” indicam a imolação de um sacrifício
propriamente dito. Com efeito, o sentido de “dar o corpo, a alma” depreende de
Is 53,12. O sentido sacrificial e expiatório de “derramar o sangue (pelos
pecados)” depreende de Rm 3,25.
Ao falar do
sangue da nova Aliança na ceia, Jesus aludia a Ex 24,8, Moisés tomou o sangue
para aspergir com ele o povo: “Eis, disse ele, o sangue da aliança que o Senhor
fez convosco, conforme tudo o que foi dito”. Cristo assim oferecia-se como
vítima para selar a definitiva Aliança, em lugar da vítima irracional cujo
sangue selava a primeira Aliança no Sinai; Jesus assim opunha sangue a sangue,
sacrifício a sacrifício, imolação realizada na última ceia à imolação realizada
outrora no deserto. A última ceia aparece como a nova Páscoa, que, mediante o
sangue do verdadeiro Cordeiro imolado pelos pecados do mundo, faz cessar os
numerosos e imperfeitos sacrifícios do Antigo Testamento.
Jesus mandou
aos Apóstolos que repetissem o rito da última ceia,... dessa última ceia à qual
Jesus atribuiu o significado de sacrifício. Desta ordem concluíram os Apóstolos
e as gerações subseqüentes que, todas as vezes que renovavam a Ceia do Senhor
(também chamada Eucaristia), realizavam a oblação de uma Vítima (Cristo) ou de
um sacrifício. Este, porém, não podia nem pode se a repetição do sacrifício da
cruz, pois Jesus se imolou uma vez por todas conforme a epístola aos Hebreus. A
Ceia, por conseguinte, não pode ser senão o ato de “tornar presente” (sem
multiplicar) através dos tempos, e de maneira incruenta, o único sacrifício de
Cristo oferecido cruentamente no Calvário.
Na
quinta-feira santa Jesus perante os discípulos tornou presente de modo real, mas incruento, o
sacrifício que Ele no dia seguinte devia
realizar cruentamente na cruz; tornou-o antecipadamente presente.
Atualmente em cada Santa Missa
Jesus torna presente de modo real, mas
incruento, esse mesmo e único sacrifício que Ele já realizou cruentamente na Cruz.
Justamente
este “tornar presente” a todos os tempos, sem implicar repetição nem
multiplicação, constitui o “mistério da fé”, título dado por excelência à
Sagrada Eucaristia.
A Santa Missa torna presente sobre os altares (sem o
multiplicar) o único sacrifício da Cruz. A Santa Missa renova a última Ceia de Cristo.
Quando os
Apóstolos repetiam o gesto de Jesus depois da Páscoa, o Senhor já havia sido
glorificado; a sua morte sacrificial já se revelara como passagem para a
ressurreição e a exaltação. Por isto não podiam deixar de associar à memória da
Paixão do Senhor e da sua vitória final: o Servidor de Javé sofredor tornara-se
o Kyrios ou o Senhor, ao qual todo
joelho se dobra no céu, na terra e debaixo da terra (Fl 239-10).
A Eucaristia é
posta em relação com a Igreja e sua unidade: “O cálice de bênção, que benzemos,
não é a comunhão do sangue de Cristo? E o pão, que partimos, não é a comunhão
do corpo de Cristo? Uma vez que há um único pão, nós, embora sendo muitos,
formamos um só corpo, porque todos nós comungamos do mesmo pão”. Deve-se, pois,
dizer que o Corpo de Cristo eucarístico se prolonga no Corpo de Cristo
eclesial.
Jesus quis
associar ao sacrifício da Cruz a sua Igreja. Com efeito, outrora no Calvário
Jesus, sumo Sacerdote, se ofereceu
ao Pai qual Vítima pelos pecados do
mundo. Atualmente na Santa Missa Jesus oferece com a Igreja, que participa do Sacerdócio de Cristo, e se oferece com
a Igreja, que participa na qualidade de Cristo
Hóstia.
RECONCILIAÇÃO
O cristão, portador de um tesouro em vaso de
argila (2 Cor 4,17), está sujeito a falhas durante a sua caminhada. Daí a
necessidade dos dois sacramentos de cura: a Reconciliação (para qualquer
situação de pecado) e Unção dos Enfermos (para os momentos de grave moléstia).
FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA
1. Lc
15,11-32.
O Evangelho,
mediante a conhecida parábola do filho pródigo, ensina que não há pecados que
não possam ser perdoados. O jovem que voltou à casa paterna depois de haver
esbanjado a sua porção de herança, foi recebido de braços abertos pelo Pai,
logo que reconheceu suas faltas. Bastou-lhe dizer, sinceramente arrependido:
“Pai, pequei contra o céu e contra ti”, para que o Pai lhe calasse a boca, sem
lhe perguntar onde estivera e o que fizera com a porção de sua herança;
imediatamente mandou colocá-lo no lugar que lhe competia antes que deixasse a
casa paterna; houve festa por ocasião do retorno do filho que se perdera e
voltara vivo.
“A parábola do
filho pródigo é, antes de mais, a história inefável do grande amor de um pai –
Deus que oferece ao filho que a ele retorna, o dom da reconciliação plena. E, o
evocar a figura do irmão mais velho o egoísmo que divide os irmãos entre si,
ela torna-se também a história da família humana; mostra a nossa situação e
indica o caminha a percorrer” (Papa João Paulo II )
São paralelas
a esta parábola as da ovelha perdida e da moeda perdida.
2. Jo 20,
21-23
Na noite de
Páscoa Jesus aparece aos Apóstolos reunidos e disse-lhes: “A paz esteja
convosco! Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio a vós.
Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: Recebei o Espírito Santo.
Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos”
Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: Recebei o Espírito Santo.
Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos”
O texto do
Evangelho significa que:
1) Os
Apóstolos, não por efeito de sua santidade própria, mas em conseqüência de um
Dom de Deus (“Recebei o Espírito Santo”), são habilitados a perdoar os pecados.
2) A sentença
proferida pelos Apóstolos é confirmada pelo próprio Deus.
3) Trata-se de
perdoar pecados propriamente ditos, faculdade esta que os israelitas atribuíam
somente a Deus. Jesus disse ao paralítico: “Os teus pecados te são perdoados”
(Lc 5,20). Declarou também à pecadora: ”Perdoados te são os teus pecados” (Lc
7,48). Em Jo 20, 23 diz o Senhor: “Àqueles a quem perdoardes os pecados, serão
perdoados”. São as mesmas palavras usadas nos três casos: perdoar e pecados. Donde
se vê que um poder próprio de Deus “perdoar pecados”, é concedido aos ministros
do Senhor. Aquilo que Jesus fazia por si quando peregrino na terra, Ele havia
de continuar a fazê-lo depois de glorificado mediante o serviço dos seus
ministros.
São Mateus
escrevendo no século I diz: ”Vendo isto, a multidão encheu-se de medo e
glorificou a Deus por ter dado tal poder aos homens”.(Mt 9,8). O plural aos homens parece ser o sinal de que
São Mateus pensava nos ministros da Igreja, que haviam recebido de Jesus tal
poder e o punham em prática.
4) O poder
assim concedido por Jesus não é dado à Igreja inteira, mas apenas aos seus
ministros. Com efeito, Jesus na noite da Páscoa soprou sobre a face dos Apóstolos
apenas, e somente a estes dirigiu as palavras dando lhes o poder de perdoar
pecados. É a estes mesmos que Jesus ordena consagrar o pão e o vinho em memória
dele: “Fazei isto em memória de mim” Lc 22,19). Trata-se, pois, de pessoas
especialmente chamadas por Jesus e, mais ainda, enriquecidas por um dom
especial, a fim de realizar um ministério singular dentro da Igreja.
A fim de
salvaguardar a pureza e a grandeza do Sacramento da Reconciliação, a Igreja
exige dos confessores estrito sigilo a respeito de tudo o que lhes seja
confiado no foro sacramental. Ao ministro não é lícito, em hipótese alguma,
fazer uso dos conhecimentos que lhe advêm pela confissão sacramental; esteja
disposto a sofrer os mais penosos danos para jamais violar o segredo do Sacramento.
“Cânon 1388 –
O confessor que violar diretamente o sigilo sacramental, incorre em excomunhão latae sententiae, reservada à
Sé Apostólica. Quem o faz só indiretamente, seja punido conforme a
gravidade do delito”.
A excomunhão
1 Cor 5,3-5.13
“Pois eu, em verdade, ainda que distante corporalmente, mas presente em
espírito, já julguei, como se estivesse presente, aquele que assim se
comportou.
Em nome do Senhor Jesus - reunidos vós e o meu espírito, com o poder de nosso Senhor Jesus -
seja esse homem entregue a Satanás, para mortificação do seu corpo, a fim de que a sua alma seja salva no dia do Senhor Jesus. Tirai o perverso do vosso meio”.
Em nome do Senhor Jesus - reunidos vós e o meu espírito, com o poder de nosso Senhor Jesus -
seja esse homem entregue a Satanás, para mortificação do seu corpo, a fim de que a sua alma seja salva no dia do Senhor Jesus. Tirai o perverso do vosso meio”.
O Apóstolo
quer que a comunidade de Corinto elimine o pecador escandaloso do seu seio. Por
isto comunica aos fiéis a sua sentença, que há de ser assumida por todos.
1 Tm 1,20 “É o
caso de Himeneu e Alexandre, que entreguei a Satanás, para que aprendam a não
blasfemar”.
Tem-se aqui
uma alusão à excomunhão dos que pecam gravemente, com finalidade medicinal ou
salvífica.
A faculdade de
perdoar pecados não tem limites, segundo o Senhor Jesus. Mt 18, 21-22 “Então
Pedro se aproximou dele e disse: Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu
irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? Respondeu Jesus: Não te
digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”.
Quanto ao
pecado contra o Espírito Santo (Lc 12,10), é a recusa direta de Deus e da sua
graça; não tem perdão simplesmente porque é a própria rejeição do perdão. Deus
não força o pecador ao arrependimento; contudo, desde que a criatura peça
sinceramente o perdão, nenhum pecado, por mais grave que seja, e
irremissível.
Os ministros
do Sacramento da Reconciliação são os Bispos e os Presbíteros.
Contrição
A contrição
supõe um exame de consciência sincero. O penitente procura considerar sua
conduta com toda a objetividade tal como
Deus a considera. Embora somente o pecado grave ou mortal seja matéria
obrigatória da confissão, muito se recomenda também o exame e a confissão de
pecados leves ou veniais, pois sobre eles também pode recair a absolvição
sacramental. Pode-se obter também o perdão dos pecados leves mediante um ato de
arrependimento ou uma obra de caridade.
Uma confissão perfeita é aquela que o
penitente se arrepende por ter ofendido a Deus. Na confissão imperfeita o
penitente só se arrepende por ter medo de ir para o inferno.
O arrependimento leva a confessar os pecados,
ou seja, reconhecê-los diante de Deus representado por seu ministro.
A satisfação
ou penitência imposta pelo confessor não é um castigo nem uma multa, mas
pretende ser uma ajuda medicinal para que o penitente elimine da sua alma todo
resquício de pecado.
A
reconciliação com Deus, embora seja dom da Sua misericórdia, implica um
processo em que o homem está envolvido no seu empenho pessoal, e a Igreja, na
sua missão sacramental. O caminho de reconciliação tem o seu centro no
Sacramento da Penitência, mas também depois do perdão do pecado, obtido
mediante esse Sacramento, o ser humano permanece marcado por aqueles
"resíduos" que não o tornam totalmente aberto à graça, e precisa de
purificação e daquela renovação total do homem em virtude da graça de Cristo,
para cuja obtenção o dom da indulgência lhe é de grande ajuda.
A Indulgência
é assim definida no Código de Direito Canônico (cân. 992) e no Catecismo da
Igreja Católica (n. 1471): "A indulgência é a remissão, perante
Deus, da pena temporal devida aos pecados cuja culpa já foi apagada; remissão
que o fiel devidamente disposto obtém em certas e determinadas condições pela
ação da Igreja que, enquanto dispensadora da redenção, distribui e aplica, por
sua autoridade, o tesouro das satisfações de Cristo e dos Santos".
O Catecismo
da Igreja Católica esclarece sobre as Indulgências que podem ser
alcançadas:
§1479 -
Uma vez que os fiéis defuntos em vias de purificação também são membros da
mesma comunhão dos santos, podemos ajudá-los obtendo para eles indulgências,
para libertação das penas temporais devidas por seus pecados.
§1498 -
Pelas indulgências, os fiéis podem obter para si mesmos e também para as almas
do Purgatório, a remissão das penas temporais, seqüelas dos pecados.
§1032 –
A Igreja recomenda também as esmolas, as indulgências e as obras de penitência
em favor dos defuntos... "Não hesitemos em socorrer os que partiram
e em oferecer nossas orações por eles." (S. João Crisóstomo)
§1471 –
A doutrina e a prática das indulgências na Igreja estão estreitamente ligadas
aos efeitos do Sacramento da Penitência.
"A
indulgência é parcial ou plenária, conforme libera parcial ou totalmente
da pena devida pelos pecados (Indulgentiarum Doctrina,2 ). Todos os fiéis podem
adquirir indulgências, para si mesmos ou para aplicá-las aos defuntos"
(CDC, cân 994).
§1472 -
As penas do pecado. Para compreender esta doutrina e esta prática da Igreja, é
preciso admitir que o pecado tem dupla conseqüência. O pecado grave
priva-nos da comunhão com Deus e, conseqüentemente, nos torna incapazes da vida
eterna; esta privação se chama pena eterna do pecado. Por outro lado, mesmo o
pecado venial, acarreta um apego prejudicial às criaturas que exige
purificação, quer aqui na terra quer depois da morte, no estado chamado
purgatório. Esta "purificação" liberta da chamada "pena
temporal" do pecado.
Condições
para a Indulgência plenária (uma vez ao dia):
1 -
Confessar-se e rejeitar todo pecado (uma Confissão para várias Indulgências)
2 –
Participar da Missa e Comungar com o desejo de receber a Indulgência (uma Missa
e Comunhão para cada indulgência).
3 -
Rezar pelo Papa ao menos: um Pai Nosso, Ave Maria e Glória.
4 –
Escolher uma das atividades:
- Via Sacra na
igreja diante dos quadros, ou
- Reza do
Terço em família diante de um oratório, ou
- Adoração do
Santíssimo diante do Sacrário, por meia hora, ou
- Leitura
meditada da Sagrada Escritura por meia hora.
As
indulgências se explicam pelo fato de que todo pecado, mesmo perdoado, deixa no
pecador uma tendência para o mal ou alimenta uma desordem interior. Esta
desordem deve ser extinta, para que o cristão possa ver Deus face-à-face na
outra vida. As indulgências surgiram na Idade Média.
Indulgência
parcial: A recitação do terço em particular. Leitura
da Sagrada Escritura, como alimento espiritual, durante menos de meia hora.
UNÇÃO DOS ENFERMOS
FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA
Jesus se
apresentou como o Restaurador do homem e da natureza, feridos pelo pecado, de
acordo com o anúncio dos Profetas. Is 61,1-2; Is 35,5-6; Jr 33,6. “Dirigiu-se a Nazaré, onde se
havia criado. Entrou na sinagoga em dia de sábado, segundo o seu costume, e
levantou-se para ler. Foi-lhe dado o livro do profeta Isaías. Desenrolando o
livro, escolheu a passagem onde está escrito. O Espírito do Senhor está sobre
mim, porque me ungiu; e enviou-me para anunciar a boa nova aos pobres, para
sarar os contritos de coração, para anunciar aos cativos a redenção, aos cegos
a restauração da vista, para pôr em liberdade os cativos, para publicar o ano
da graça do Senhor. E enrolando o livro, deu-o ao ministro e sentou-se; todos
quantos estavam na sinagoga tinham os olhos fixos nele. Ele começou a
dizer-lhes: Hoje se cumpriu este oráculo que vós acabais de ouvir. Todos lhe
davam testemunho e se admiravam das palavras de graça, que procediam da sua
boca, e diziam: Não é este o filho de José?” Lc 4,16-22
As curas
milagrosas realizados por Jesus são sinais de que o Reino de Deus já chegou e a
vitória sobre o pecado e suas conseqüências já foi iniciada. As curas efetuadas
por Jesus aparecem não raro associadas ao perdão dos pecados.
Embora pecado
e morte estejam conjugados entre si na Sagrada Escritura (Gn 2,17; 3,19; Rm
5,12), Jesus não aceita a tese segundo a qual toda doença é castigo de pecados
pessoais. “Nem este pecou nem seus pais, mas é necessário que nele se
manifestem as obras de Deus”. (Jo 9,3).
Jesus mesmo
quis compartilhar o sofrimento físico e moral dos homens, experimentando
cansaço, fome, sede, a agonia e a morte, a fim de transfigurar a dor humana (Mt
8,16-17; Mc 14,32-42; 15,21-41; Jo 4,6).
Quis ensinar-nos que o sofrimento, aceito com fé e confiança em Deus,
vem a ser salvífico; é participação na Cruz redentora de Cristo.
A igreja
continua a se interessar pelos enfermos e sofredores.
Cl 1,24 “Agora
me alegro nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de
Cristo, completo na minha carne, por seu corpo que é a Igreja”.
2 Cor 1,5 “Com
efeito, à medida que em nós crescem os sofrimentos de Cristo, crescem também
por Cristo as nossas consolações”.
Tg 5,14-16
“Está alguém enfermo? Chame os sacerdotes da Igreja, e estes façam oração sobre
ele, ungindo-o com óleo em nome do Senhor. A oração da fé salvará o enfermo e o
Senhor o restabelecerá. Se ele cometeu pecados, ser-lhe-ão perdoados. Confessai
os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros para serdes curados.
A oração do justo tem grande eficácia”.
São Tiago fala
de doentes que não podem procurar os Presbíteros na Igreja, mas chamam a estes.
Isto supõe doença grave. Isto significa que agiam em nome da Igreja.
A tarefa dos
Presbíteros é ungir com óleo em nome do Senhor. A unção parece ser conhecida
aos leitores de São Tiago (já é mencionada em Mc 6,7.12-13). “Orar sobre eles”
insinua imposição das mãos.
A unção é
praticada em nome do Senhor. Isto
significa que não tem eficácia própria, mas a recebe de Cristo.
Os efeitos do
rito são três:
1)
Salvar. Com
o sentido de benefício para o homem inteiro;
2)
Erguer. No
sentido físico e moral;
3)
Perdoar os
pecados, quando necessário.
Os
destinatários do Sacramento são os fiéis cujo estado de saúde esteja gravemente
comprometido por doença ou por velhice. Pode-se conferir a Unção antes de uma
intervenção cirúrgica, se a causa da operação é uma doença perigosa. Às
crianças seriamente enfermas é lícito ministra a Unção dos Enfermos desde que
tenham uso da razão e possam compreender o valor do Sacramento.
A Unção pode
ser reiterada durante a mesma doença, desde que se agrave o estado de saúde.
As partes do
corpo a serem ungidas são a fronte, que lembra o cérebro e o pensamento e as
mãos, que são os instrumentos da ação; assim a pessoa é atingida na totalidade
do seu ser.
A Sagrada
Unção pode ser dada aos doentes privados dos sentidos ou do uso da razão, desde
que se possa crer que provavelmente a pediriam se estivessem em pleno gozo das
suas faculdades. Contudo o Sacerdote chamado para assistir ao enfermo que já tenha
falecido, reze a Deus por ele, a fim de que o absolva de seus pecados e o
recebe misericordiosamente em
seu Reino ; não lhe administre, porém, a Sagrada Unção. Se
houver dúvidas quanto à morte, visto que existem diversos graus de coma, o
Sacerdote poderá administrar a Unção sob condição (“se estás vivo...”).
O costume de
adiar a Unção dos Enfermos para os últimos instantes da vida acabou cercando
este sacramento de um ambiente fúnebre, que por vezes se assemelha a cerimônia
de velório. Vem a ser o último adeus, com a presença obrigatória do
Sacerdote.
O Sacramento
da Unção dos Enfermos é um sacramento de cura: alívio da alma e do corpo, e não
a triste despedida de quem está prestes a deixar este mundo.
ORDEM
FUNDAMENTAÇÃO
BÍBLICA
É um sacramento
de serviço. É o sacramento dos bispos, presbíteros e diáconos.
O Antigo
Testamento conheceu o sacerdócio como função confiada à tribo de Levi; donde
chamar-se “sacerdócio levítico”. Aarão, irmão de Moisés, foi o primeiro grande
sacerdote levítico.
O papel desse
ministério sacerdotal era fazer a mediação entre Deus Santo e o povo pecador,
oferecendo sacrifícios de vítimas irracionais; estas representavam o homem
desejoso de se oferecer a Deus, mas, por serem irracionais, ficavam abaixo do
nível do homem e de Deus. Multiplicavam-se os sacrifícios porque nenhum deles
era cabal ou adequado para fazer a ponte entre o homem e Deus. Havia muitos
sacerdotes e muitos sacrifícios, regidos por minuciosa legislação. (Nm 3,11-39;
Lv 1,1-17).
Jesus Cristo
aboliu o sacerdócio levítico e fez-se Ele o único Sacerdote da nova e
definitiva aliança, de acordo com o modelo não de Levi, mas de Melquisedeque,
que era rei e sacerdote (Hb 7,1-28; 10,4-10). Cristo Sacerdote ofereceu um
único sacrifício, que é o holocausto de sua vontade e de sua vida entregues ao
Pai; como novo Adão, Ele disse um Sim inspirado por amor, apagando o Não
dito pelo primeiro Adão em desamor ao PaI. (Rm 5,12-21).
O Novo
Testamento apresenta Jesus como o Sacerdote novo e perfeito. O Servo que assume
sobre si os pecados alheios.
2 Cor 5,21 “Aquele
que não conheceu o pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos
tornássemos justiça de Deus”
Gl
3,12 “Cristo remiu-nos da maldição da lei, fazendo-se por nós maldição, pois
está escrito: Maldito todo aquele que é suspenso no madeiro (Dt 21,23)”.
A morte de
Cristo é descrita em linguagem de rito de sacrifício e, indiretamente, em
linguagem sacerdotal:
1
Cor 5,7 “Purificai-vos do velho fermento, para que sejais massa nova, porque
sois pães ázimos, porquanto Cristo, nossa Páscoa, foi imolado”.
Ap 5,9-10 “Cantavam
um cântico novo, dizendo: Tu és digno de receber o livro e de abrir-lhe os
selos, porque foste imolado e resgataste para Deus, ao preço de teu sangue,
homens de toda tribo, língua, povo e raça; e deles fizeste para nosso Deus um
reino de sacerdotes, que reinam sobre a terra”.
Ef
5,2 “Progredi na caridade, segundo o exemplo de Cristo, que nos amou e por nós
se entregou a Deus como oferenda e sacrifício de agradável odor”.
1
Jo 2,2 “Jesus é a vítima de expiação pelos nossos pecados, e não somente pelos
nossos, mas também pelos de todo o mundo”.
Jesus é o
Sacerdote que se oferece ao Pai como vítima pelos pecados. O próprio Cristo,
aliás, concebeu seu ministério como cumprimento das profecias relativas ao
Servo de Javé.
Na epístola
aos Hebreus é que Cristo vem apresentado formalmente como Sumo e Único
Sacerdote de uma Nova Aliança, “um Sumo Sacerdote que atravessou os céus”. “Temos,
portanto, um grande Sumo Sacerdote que penetrou nos céus, Jesus, Filho de Deus.
Conservemos firme a nossa fé”. (Hb 4,14). A doutrina respectiva é longamente
explanada em todo o decurso da epístola:
Hb 7,26-27
“Tal é, com efeito, o Pontífice que nos convinha: santo, inocente, imaculado,
separado dos pecadores e elevado além dos céus, que não tem necessidade, como
os outros sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro
pelos pecados próprios, depois pelos do povo; pois isto o fez de uma só vez
para sempre, oferecendo-se a si mesmo”.
Hb 9, 12-15 “Sem
levar consigo o sangue de carneiros ou novilhos, mas com seu próprio sangue,
Cristo entrou de uma vez por todas no santuário, adquirindo-nos uma redenção
eterna. Pois se o sangue de carneiros e de touros e a cinza de uma vaca, com
que se aspergem os impuros, santificam e purificam pelo menos os corpos, quanto
mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu como vítima sem
mácula a Deus, purificará a nossa consciência das obras mortas para o serviço
do Deus vivo? Por isso ele é mediador do novo testamento. Pela sua morte expiou
os pecados cometidos no decorrer do primeiro testamento, para que os eleitos
recebam a herança eterna que lhes foi prometida”.
Hb 10,12-14
“Cristo ofereceu pelos pecados um único sacrifício e logo em seguida tomou lugar
para sempre à direita de Deus, onde espera de ora em diante que os seus
inimigos sejam postos por escabelo dos seus pés (Sl 109,1). Por uma só oblação
ele realizou a perfeição definitiva daqueles que recebem a santificação”
Assim, no Novo
Testamento aparece Jesus Cristo Sacerdote que se oferece ao Pai como vítima ou
como hóstia em prol da humanidade.
Cristo quer
continuar o seu sacerdócio aplicando os frutos da Redenção aos homens, mediante
ministros que Ele escolhe. Estes não são sacerdotes ao lado de Jesus Sacerdote,
mas são participantes do único sacerdócio de Cristo e oferecem o único
sacrifício de Cristo na Cruz como se fossem a mão estendida do Senhor através
dos séculos.
Jesus quis
escolher os doze Apóstolos para serem seus íntimos colaboradores; Mc 3,13-14 “Depois,
subiu ao monte e chamou os que ele quis. E foram a ele. Designou doze dentre
eles para ficar em sua companhia Ele os
enviaria a pregar, com o poder de expulsar os demônios. Escolheu estes doze:
Simão, a quem pôs o nome de Pedro; Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão,
aos quais pôs o nome de Boanerges, que quer dizer Filhos do Trovão. Ele
escolheu também André, Filipe, Bartolomeu, Mateus, Tomé, Tiago, filho de Alfeu;
Tadeu, Simão, o Zelador; e Judas Iscariotes, que o entregou”. Eles agiriam como se fossem o próprio Cristo: “Quem vos
ouve, a mim ouve; e quem vos rejeita, a mim rejeita; e quem me rejeita, rejeita
aquele que me enviou” (Lc 10,16).
Jesus confiou
a 72 discípulos missão análoga à dos Apóstolos (Lc 10, 1-16). Os Apóstolos
foram desdobrando o ministério que receberam.
A Sagrada
Escritura e, mais ainda, a Tradição oferecem os dados necessários para se
reconstituir a evolução. Com efeito, as primeiras comunidades cristãs eram
governadas pelos Apóstolos, que tinham jurisdição universal, mas eram
itinerantes ou não residiam em sede fixa. Deixaram, pois, em cada Igreja , um
colegiado de presbyteros ou epískopos, que governavam de imediato
a comunidade, tendo abaixo de si os diákonos.
Fl 1,1 “Paulo
e Timóteo, servos de Jesus Cristo, a todos os santos em Jesus Cristo , que se
acham em Filipos, juntamente com os bispos e diáconos”.
At 20, 17.28 “Mas
de Mileto mandou a Éfeso chamar os presbíteros da igreja. Cuidai de vós
mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos,
para pastorear a Igreja de Deus, que ele adquiriu com o seu próprio sangue”.
O Sacramento
da Ordem consta, pois, de três graus. Em cada um se confere mais do que uma
função ou um título; há aí um dom de Deus na linha do ser (é uma transformação
interior) e não apenas na linha do agir, que torna o ministro participante do
sacerdócio de Cristo de modo essencialmente diverso do sacerdócio comum dos
fiéis.
O Sacramento
da Ordem é transmitido pela imposição das mãos.
Os primeiros
candidatos a diáconos foram apresentados aos Apóstolos. At 6,6
“Apresentaram-nos aos apóstolos, e estes, orando, impuseram-lhes as mãos”.
2 Tm 1,6-7
“Por esse motivo, eu te exorto a reavivar a chama do dom de Deus que recebeste
pela imposição das minhas mãos. Pois Deus não nos deu um espírito de timidez,
mas de fortaleza, de amor e de sabedoria”.
A plenitude do
sacerdócio de Cristo é conferida pela ordenação episcopal.
MATRIMÔNIO
FUNDAMENTAÇÃO BÍBLICA
Um dos textos
mais antigos é o de Gn 2,21-24. “Então o Senhor Deus mandou ao homem um
profundo sono; e enquanto ele dormia, tomou-lhe uma costela e fechou com carne
o seu lugar. E da costela que tinha tomado do homem, o Senhor Deus fez uma
mulher, e levou-a para junto do homem. “Eis agora aqui, disse o homem, o osso
de meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamará mulher, porque foi
tomada do homem.” Por isso o homem deixa
o seu pai e sua mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só
carne”.
Mostra que o
matrimônio é uma instituição natural, derivada da própria índole masculina e
feminina do ser humano. O texto incute a monogamia. A sexualidade aí aparece
como dom de Deus; por isto não é má; antes, é sagrada, porque oferece ao homem
e à mulher a oportunidade de colaborar com Deus, transmitindo a vida.
Em Gn 1,
27-28, além da monogamia e da dignidade dos cônjuges, é incutida a fecundidade.
Esta tem sua origem em Deus e pode ser ocasião de uma vocação especial dada
pelo Senhor ao homem:
“Deus criou o
homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher. Deus os
abençoou: "Frutificai, disse ele, e multiplicai-vos, enchei a terra e
submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre
todos os animais que se arrastam sobre a terra."
Em Gn 3, 1-24
aparece o aspecto difícil da vida conjugal, que exigirá sempre a grandeza de
alma da parte dos cônjuges, pois o matrimônio é missão (serviço). Com efeito; o
orgulho se apodera do homem e da mulher, que querem ser como Deus, árbitros do
bem e do mal, desobedecendo ao Senhor. Em conseqüência, afastam-se do Senhor e
desentendem-se entre si: o homem lança a culpa do pecado sobre a mulher, e esta
a lança sobre a serpente. Pode haver desunião entre marido e mulher em virtude
da perda de fidelidade ao Senhor Deus.
Nos livros dos
Profetas, a união matrimonial é frequentemente evocada como imagem da Aliança
de Deus com o seu povo.
Jr 31, 21-22
“Ergue sinais, coloca postes indicadores, olha bem o caminho, a senda que
percorres. Volta, virgem de Israel, volta para tuas cidades. Até quando andarás
vagando, filha rebelde? Eis que o Senhor criou uma coisa nova sobre a terra: É
a esposa que cerca (de cuidados) o esposo”.
Ml 2,15-16
“Porventura não fez ele um só ser com carne e sopro de vida? E para que pende
este ser único, senão para uma posteridade concedida por Deus? Tende, pois,
cuidado de vós mesmos, e que ninguém seja infiel à esposa de sua juventude.
Quando alguém, por aversão, repudia (a mulher) - diz o Senhor, Deus de Israel
-, cobre de injustiça as suas vestes - diz o Senhor dos exércitos. Tende, pois,
cuidado de vós mesmos e não sejais infiéis!”
O livro do
Cântico dos Cânticos descreve as fazes do amor, desde o seu primeiro despertar
até as núpcias, como figura do amor de Deus ao seu povo. O livro de Tobias apresenta
o matrimônio santificado pela oração e a bênção de Deus; é a vivência de um
casto amor, que sabe sofrer e vencer sob a proteção do Criador.
Em Mt 19, 1-9
Jesus diz que o Gênesis apresentou o matrimônio na sua forma ideal, que exclui
a dissolubilidade; repudiar a mulher e casar com outra é adultério. Jesus
observa que já um mau desejo, alimentado interiormente, é equivalente a um
adultério.
O contrato
natural do matrimônio, apresentado por Gênesis, é por Jesus Cristo elevado a
nova dignidade ou ao plano sacramental – o que quer dizer que, dentro dos
moldes da vida humana de um casal cristão, se processa uma realidade
transcendental; esta passa através do cotidiano do esposo e da esposa e o
ultrapassa, encarnando o amor fecundo de Cristo à Igreja e da Igreja a Cristo.
Ef 5,25
“Maridos, amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e se entregou por
ela, para santificá-la, purificando-a pela água do batismo com a palavra, para
apresentá-la a si mesmo toda gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem qualquer outro
defeito semelhante, mas santa e irrepreensível. Por isso, o homem deixará pai e
mãe e se unirá à sua mulher, e os dois constituirão uma só carne (Gn 2,24).
Este mistério é grande, quero dizer, com referência a Cristo e à Igreja”.
É isto que faz
a grandeza do matrimônio: “sacramento
grande em relação a Cristo e à Igreja” (Ef 5,32). Isto também quer dizer
que a união do matrimônio-sacramento é mais rica de conteúdo e significado do
que a união de vínculo natural; em conseqüência, o lar cristão é, com razão,
chamado “Igreja-doméstica”; por ele a vida eterna, conquistada por Cristo na
cruz para a humanidade, é transmitida a novas e novas gerações.
O Concílio de
Trento (1439) cita três bens do matrimônio:
- o bem da prole: o matrimônio é
destinado à perpetuação do gênero humano;
- o bem da fidelidade ou do apoio mútuo
e complementar existente entre os cônjuges;
- o bem do sacramento, entendendo-se
“sacramento” no sentido de indissolúvel.
“Como Cristo amou a Igreja...” Ele a
amou experimentando a cruz, o aparente fracasso, a aridez da solidão, a
aspereza da rejeição... Ora entre esposo e esposa pode haver fases de aparente
fracasso, de experiência de trauma e desânimo. Pois bem; considerem isso à luz
do mistério de co-redenção em que estão inseridos, cientes de que a cruz
suportada por amor a Deus e com tenacidade é o instrumento e santificação para
o casal e para a Igreja, da qual a família faz parte. Nada é perdido ou
destituído de sentido, para quem sabe vivenciar o sacramento do amor salvífico de
Deus.
“Dois numa só carne...” Isto significa
que os cônjuges devem tender à realização de certa unanimidade conquistada
através de renúncias feitas de parte a parte mediante concessões mútuas. A
solidariedade recíproca é necessária na saúde e na doença, na riqueza e na
pobreza, na alegria e na tristeza.
Comunhão aberta. Sem dúvida, os
cônjuges devem gozar de especial intimidade e privacidade. Evitem, porém, viver
no egoísmo ou numa solidão a dois. Ao contrário, abram-se para a sociedade
eclesial e civil. A consciência de ser Igreja em miniatura deve impeli-los a se
sentir presentes à grande Igreja e a doar-se aos outros.
INDISSOLUBILIDADE
A
indissolubilidade da união conjugal não se fundamenta apenas no Evangelho, mas
se deriva da própria lei natural. Com efeito; a união conjugal é tão íntima e
plena que ela não admite restrições; doar-se a alguém “para constituir uma só
carne” com reservas é incoerente, que o próprio bom senso rejeita. O que se
pode e deve desejar, é que a união matrimonial só seja contraída após a devida
preparação e com a possível maturidade.
Mt 5,31-32
“Foi também dito: Todo aquele que rejeitar sua mulher, dê-lhe carta de
divórcio. Eu, porém, vos digo: todo aquele que rejeita sua mulher, a faz
tornar-se adúltera, a não ser que se trate de matrimônio falso; e todo aquele
que desposa uma mulher rejeitada comete um adultério”.
1 Cor 7,10-11
“Aos casados mando (não eu, mas o Senhor) que a mulher não se separe do marido.
E, se ela estiver separada, que fique sem se casar, ou que se reconcilie com
seu marido. Igualmente, o marido não repudie sua mulher”.
Mc 10,11-12
"Quem repudia sua mulher e se casa com outra, comete adultério contra a
primeira. E se a mulher repudia o marido e se casa com outro, comete
adultério."
Lc 16,18 “Todo
o que abandonar sua mulher e casar com outra, comete adultério; e quem se casar
com a mulher rejeitada, comete adultério também”.
O matrimônio
por sua índole mesma é indissolúvel; quem o contrai, deve sabê-lo de antemão;
Jesus mesmo diz: “O que Deus uniu, o homem não o deve separar” (Mt 19,6).
Fontes
de consulta
Diácono Neves
Pastoral dos Sacramentos – Ed. Vozes
A Fé da Igreja – Ed. Vozes
Os Sacramentos da Igreja Católica – EDIPUCRS
A Fé do Cristão Católico Hoje – Ed. Vozes
Minha Igreja - Ed. Vozes
Bíblia - Ave Maria e CNBB
Curso sobre os Sacramentos - Escola “Mater Ecclesiae”
Concílio Vaticano II
SÍMBOLOS NOS SACRAMENTOS
O
que são símbolos?
Quando se
diz que algo é símbolo, pensamos o que é irreal, fantástico. Mas símbolo não é
isto. Símbolo é o encontro de duas realidades em outra forma. Assim, quando
vemos um bolo de aniversário, pensamos na festa, quando vemos uma aliança no
dedo de alguém, pensamos no casamento. Então, bolo representa festa, aliança
significa amor e fidelidade e assim por diante. Símbolo pode ser um objeto, um
elemento capaz de expressar de alguma maneira uma realidade que está presente,
que a gente não pode expressar totalmente, mas que é mais do que a gente pode
exprimir por palavras. Símbolo é um objeto, um gesto, um, elemento, um,
movimento, uma expressão corporal, onde que vale não é mais aquilo que é em si,
mas o que exprime o que significa.
Quando um rapaz leva uma rosa para a sua noiva o que importa não é o
valor da rosa em si, mas o que a rosa significa: algo de tão profundo que o
noivo não sabe definir e chama de amor. Rosa é amor. Rosa é símbolo porque
revela e oculta ao mesmo tempo o amor, o mistério do amor. Podemos dizer que o
símbolo é a linguagem do mistério. As realidades que Deus nos quer revelar e
comunicar na Liturgia são tão grandes, tão profundas e inefáveis que o homem
não consegue exprimi-las por palavras. Por isso, ele recorre a linguagem mais
profunda, aos sinais sagrados, aos símbolos. A Liturgia é um acontecer de
realidades sagradas e ocultas em forma terrena. É preciso, portanto, antes de
tudo, transformar em ação vivencial aquela ação mediante a qual o homem que tem
fé compreende a colhe e realiza os sinais visíveis e sagrados da graça
invisível. Deus se vela e se comunica não só pela linguagem falada. A água, o
fogo, o ar, as nuvens, o vento, as plantas, os animais, toda a natureza fala de
Deus e pode servir de linguagem para o homem. Por isso, todos estes elementos
também podem servir de sinais litúrgicos que significam e comunicam a graça. O
importante em tudo isso é que deixemos os sinais falarem, qu8e demos vida a
eles, pois podem falar de Deus, de Cristo, de nós mesmos e de nossos irmãos.
Mas não querem apenas falar destas realidades, e sim comunicar-nos com elas.
ÁGUA: Um símbolo
muito significativo e forte é a água. Ocorre no Batismo e na Eucaristia. Se
comerçamos a refletir sobre o sentido da água, veremos que ela está em íntima
relação com a vida do homem. Sabemos que o homem vive os primeiros nove meses
de sua existência mergulhados em água. O próprio corpo humano é constituído em
grande parte de água. Para que serve a água? Ela serve para purificar, para
embelezar, para tomar banho, para refrescar para reanimar. A água serve para
tomar, matar a sede. A tal ponto ela está ligada ao homem que não podemos nem
sequer viver sem a água. Sem a água não haveria nenhuma espécie de vida sobre a
terra. Daí se segue que ela é uma substância essencial pra a vida do homem.
Podemos dizer, então, que água é vida. Eis o que estamos no simbolismo as água.
A partir desta compreensão da água podemos entender melhor o sentido do Batismo
e principalmente da oração da benção da água batismal. Nesta benção a Igreja
comemora a ação de Deus na história da salvação através da água. Das águas do
inicio do mundo surge a vida. Assim surge a nova vida das águas do Batismo.
As águas do dilúvio foram à vida para os justos e morte
para os maus. A água pode ser vida e morte. Assim, no Batismo morremos para o
pecado e somos salvos como Noé na Igreja. Nas águas do Mar vermelho surgiu o
povo de Deus. Elas foram vida pra os israelitas e morte para os egípcios.
Também das águas do Batismo nasce um povo novo para Deus, a Igreja. No Batismo
morremos para o pecado e o mal e renascemos para uma nova vida. Eis por que são
Paulo compara a piscina batismal com o sepulcro. No Batismo morremos com Cristo
para o pecado e ressuscitamos com Ele para a nova vida. A pia batismal na
tradição da Igreja é comparada ainda ao seio materno e a Igreja à mãe que dá a
luz. Seria interessante refletir ainda sobre a água que jorrou do rochedo do
deserto, as águas do rio Jordão, o poço da Samaritana, a piscina de Siloé, a
água que jorra do lado aberto de Cristo: os rios de água viva que jorram para a
vida eterna da qual fala Cristo. A partir do sentido da água como símbolo de
vida compreendemos melhor o gesto do sacerdote na hora da preparação das
oferendas ao colocar gotas de água no vinho.
O povo de
Deus salvo das águas do Batismo pela fé no Sangue redentor, une-se a Cristo na
oferta de si mesmo ao Pai. Para este sacrifício devemos apresentar-se
purificados de todo pecado. Eis o sentido do gesto do sacerdote ao lavar as
mãos antes da Oração Eucarística. Lembramos ainda o símbolo da água no uso da
água benta. Ela lembra a quem usa com fé, a purificação e nova vida recebida no
Batismo. A aspersão com água abençoada no inicio da Missa dominical lembra à
assembléia que cada domingo constitui uma pequena Páscoa em comemoração a
Páscoa do Batismo. E para se viver em profundo mistério da Eucaristia será
necessário voltar sempre de novo à atitude de conversão vivida no Batismo. Por
isso, o rito do “Asperges”, conforme o Novo Missal pode substituir o ato
penitencial no inicio da Missa, rito que deveria ser muito mais valorizado Uma
vez que a água tem um sentido simbólico tão profundo na vida das pessoas seria
tão bom que em contato com a água do mar, dos rios, das fontes, da chuva, etc.,
refletíssemos sobre as realidades da fé que elas podem significar. Devemos ter os olhos abertos para os símbolos
que a natureza nos oferece, pois Deus e a Liturgia falam por meio deles.
A VELA: O uso
litúrgico da vela é muito freqüente, tornado-se por isso um símbolo bastante
presente na vida cristã. Assim, a apresentação do Senhor no Templo é uma festa
muito significativa entre nós. É chamada também festa da Purificação de Nossa
Senhora, ou festa de Nossa Senhora das Candeias, isto é, das velas. Isto porque
nesse dia são abençoadas as velas para a procissão, velas que depois são
levadas devotamente para casa dos fiéis. Celebra-se a festa 40 dias depois do
Natal, pois, segundo o Evangelho, neste dia, Maria e José apresentaram o Menino
Jesus no Templo por ser o primogênito e o resgataram pelo resgate dos pobres,
ou seja, um par de rolas. Esta festa quer antes de tudo comemorar e reviver o
mistério da manifestação de Jesus Cristo no Templo, proclamado pelo velho
Simeão como luz dos povos. Cristo se manifesta como a luz. Por isso, a
procissão das velas e o símbolo da vela de onde surgiu também o nome da Festa
de Nossa Senhora das Candeias.
A vela, símbolo da luz e da consagração, acompanha o
cristão em sua caminhada por este mundo até chegar ao reino da luz. No Batismo
ela significou a fé, a nova vida em Cristo, o Cristo que somos chamados a
testemunhar. Na Primeira Eucaristia assumimos o significado da vela,
professando pessoalmente nossa fé. Usamos a vela acesa quando anualmente
renovamos nossas promessas do Batismo na Vigília da Páscoa. Está presente em
quase todas as celebrações litúrgicas; de modo especial na Celebração
Eucarística; Na profissão religiosa ela quer significar a dedicação total a
Deus e aos homens na vida da perfeita caridade. Acendemo-la em expressão de
consagração ou agradecimento nos santuário. A vela está presente em nossos
encontros na intimidade, como na Ceia de Natal. Enfim, muitos se preocupam em
colocar a vela acesa na mão do moribundo. Pode ser um gesto de profundo
significado de fé e esperança no Cristo, luz eterna dos que morrem no Senhor e
de consagração de toda a vida a Deus. Infelizmente o gesto muitas vezes não
passa de pura supertição, como se fosse o auxilio espiritual mais importante na
hora da morte. A festa da apresentação de Jesus no Templo nos lembra que também nós nos devemos torna Templo de
Deus, acolhendo Jesus em nossa vida.Depois da vinda de Cristo que armou sua
tenda entre os homens, aboliram-se os templos de pedra para surgirem por toda a
terra os templos vivos. A liturgia desta festa ensina aos homens o acolhimento
que devem prestar ao Salvador Luz do Mundo e a sua Mãe, quando canta: “Adorna,
Sião, a tua câmara nupcial! Acolhe mo Cristo, teu Rei! Corre a Maria! Ela é a
porta do Céu, porque nos braços tem o Rei da Glória, a Luz nova. Gerada antes
da aurora”.
O ÓLEO: é usado com freqüência na Liturgia: duas
vezes no Batismo, na Confirmação, na Unção dos Enfermos, na Ordenação Sacerdotal,
bem como na consagração de altares, cálices e outros objetos ou lugares de
culto. Para melhor descobrirmos o alcance e o significado do gesto da unção na
Liturgia, precisamos recorrer ao significado do óleo no uso dos povos e na
História da Salvação. Esta compreensão é de máxima importância para melhor
compreendermos, sobretudo os Sacramentos da Confirmação e da Unção dos Enfermos
me que o óleo é considerado a matéria do Sacramento. Infelizmente a sociedade
moderna perdeu muito da compreensão do significado do óleo. É verdade quem faz
uso de loções, de fricções e massagens. A medicina popular usa ainda o azeite
para curar feridas aliviar a dor, mas, de modo geral, deixou de ser usado como
unção. Dai a dificuldade de compreensão do sentido do óleo na Liturgia. Os povos antigos viam no óleo da oliveira uma
substância de um poder particular. Por isso, usavam-no particularmente como
medicina. Na Babilônia o médico era chamado “o versado no óleo”. Nas
grandes culturas antigas as pessoas consagradas, entre as quais os governantes
eram investidos do seu ministério através da unção com o óleo.
Na História do povo de Israel vemos algo de semelhante.
Os lugares da especial presença de Deus são ungidos. Samuel unge a cabeça de
Saul, dizendo: “O Senhor te ungiu príncipe a sua herança (1Sm 10,1). A unção
com o óleo significa benção, consagração, reconhecimento da parte de Deus e
especial distinção diante dos homens. Os sacerdotes também precisam desta
unção. Assim Aarão e seus filhos. Quem fosse ungido como profeta era iluminado
pelo Espírito de Deus. O óleo torna-se símbolo do Espírito de Deus. Ora, o
Messias era ungido de Deus por excelência. Ele é totalmente pervadido do
Espírito de Deus, pois Ele veio de Deus e está totalmente voltado para Deus.
Quando inicia sua atividade messiânica, o Evangelista coloca em sua boca as palavras
de Isaias (Is 61,1-2): “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me
ungiu” (Lc 4,18). Cristo reuni em si as funções de rei, sacerdote e
profeta, pois o próprio Deus ungiu Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com
força (At 10,38). Cristo, o ungido, unge por sua vez os cristãos, tornando-os
participantes de sua santidade e de sua salvação. E Jesus transmitiu aos
apóstolos o poder de salvar e curar. Por isso, quando a Igreja usa o óleo nas
celebrações dos Sacramentos, ele se torna símbolo da graça e do dispensador da
graça, o Espírito Santo, como já dizia São Cirilo em suas catequeses: “O
corpo é ungido com uma unção terrena, enquanto a alma é santificada apelo
Espírito Santo e vivificador”. Com o óleo impregna o corpo ungido, a
presença do Espírito Santo pervade a pessoa com sua graça, que é vida e
salvação, tornado-a o seu templo.
Assim, no Batismo somos ungidos para, na força do
Espírito Santo, renunciarmos o mal e aderirmos ao bem, professando a fé em Cristo Jesus. Após
o Batismo, a unção no alto da fronte quer significar que nós pelo Batismo nos
tornamos, com Cristo, reis, sacerdotes e profetas pela força do Espírito Santo.
Na Confirmação ou Crismo, recebemos a virtude do Espírito Santo para vivermos
até a plenitude a vocação batismal de reis, sacerdotes e profetas. As mãos do
sacerdote são ungidas para significar que por elas age o Espírito Santo: são
mãos que abençoam, consagram, perdoam e servem no serviço da salvação. Os
enfermos recebem a força do Espírito Santo significada pela unção como remédio,
alívio, conforto e força para viverem sua vocação batismal durante a
enfermidade e apesar da enfermidade. Como vimos, o óleo tem profundo
significado na Liturgia e adquirirá uma significação maior para a
espiritualidade cristã, quando inserido na História da Salvação.
IMPOSIÇÃO DAS MÃOS:
Desde as religiões mais antigas a imposição das mãos constitui um símbolo de
benção. Profetas, sacerdotes e outras pessoas consagradas impunham as mãos para
abençoar, representando a própria divindade. Impõem-se ainda as mãos para a
cura de enfermidades. E nos antigos cultos mistéricos pagãos a imposição das
mãos fazia parte também dos ritos da iniciação. No AT a imposição das mãos
constitui uma expressão visível da transmissão de benção (cf. Gn 48,14). O
mesmo gesto expressa transmissão de um cargo ou missão (cf. Nm 27,18). O gesto
significa ainda a libertação de uma opressão com a impureza ou pecado (cf, Lv
16,21). Jesus impôs as mãos às crianças em sinal de benção (Mc 10,14). A
transmissão da benção pela imposição das mãos manifesta-se ainda nas numerosas
curas milagrosas de Jesus (cf. Lc 13,13; Mt 6,2). Em Samaria Pedro e João
transmite o dom do Espírito Santo pela imposição das mãos (At 8,17). Homens
carismáticos transmitem um carisma a outros pela imposição das mãos (cf. 2Tm
1,6; At 6,6). Assim na liturgia a imposição das mãos constitui fundamentalmente
um gesto de benção, significando a transmissão do Espírito Santo. O gesto da
imposição das mãos está presente com muita freqüência na Liturgia. No
Catecumenato, em preparação ao Batismo, à Crisma e à Primeira Eucaristia, temos
a imposição das mãos como expressão de exorcismo, de libertação do mal, de
acolhimento da parte de Deus e de benção; na benção da água batismal vemos
também a imposição das mãos na Invocação do Espírito Santo; no próprio rito
batismal, a unção pré-batismal pode ser substituída pela imposição das mãos com
a invocação da força do Espírito Santo.
Na Reconciliação dos penitentes, ao absolver o pecador, o
Sacerdote impõe as mãos ou ao menos a mão direita. É sinal de reconciliação, de
perdão, de acolhimento e ao mesmo tempo de transmissão do dom do Espírito
Santo, para que pelo dom da Penitencia o pecador possa evitar o pecado e vive
sempre em atitude der conversão. Na celebração Eucarística, a Consagração é
precedida pela imposição das mãos sobres à oferenda, acompanhada de uma fórmula
de invocação ao Espírito Santo. A unção dos Enfermos também e precedida da
imposição das mãos, sinal de benção, de cura, de alívio e de transmissão da
força do Espírito Santo para que o enfermo possa ser aliviado. Nas ordenações a
imposição das mãos é um dos gestos principais para significar a transmissão do
Espírito Santo a fim de que o eleito possa exercer seu cargo ou função
diaconal, presbiteral ou episcopal a serviço da Igreja. Também no Sacramento do
Matrimonio podemos perceber a imposição das mãos por parte do sacerdote na
benção nupcial e na solene benção final. O mesmo poderíamos dizer da Profissão
Religiosa e da benção das pessoas em geral. A Imposição
das mãos parece, portanto um símbolo importante na Sagrada Liturgia. Sua
linguagem é eloqüente. É de uma riqueza muito grande, significando, sobretudo,
como vimos proteção, defesa, reconciliação, perdão, consagração, transmissão da
força do Espírito Santo, transmissão de funções, em suma, uma benção de Deus.
A CRUZ: está
plantada em toda à parte. Encontramo-la nas igrejas, nas casas, nas praças, em
repartições públicas, a beira das estradas e nos cimos das montanhas, Com ela
deparamos desde o nascer até o por do sol; do nascimento até a morte. Caminha
conosco em horas de alegrias e de tristeza. Junto ao batistério por ela fomos
marcados. Encontramo-la na natureza e na arte. Não apenas a encontramos; ela
está e cresce em cada homem; ela nos reveste. Contudo, desde que Jesus Cristo
morreu suspenso a um madeiro, abraçando em seu imenso amor toda a humanidade,
as cruzes de todos os tempos e lugares foram iluminadas. Daquele momento a cruz
tornou-se esperança dos homens. A figura da serpente levantada no deserto transformou
em realidade.
Jesus Cristo venceu a antiga serpente, transformando a cruz
em troféu de vitória. Assim, aos poucos a cruz foi sendo tomada como sinal do
cristão. Os cristãos dos primeiros séculos começaram a identificar a cruz de
Cristo em toda a parte: no martelo, no machado, nas iniciais da palavra de
Cristo em Grego (XP), no X, no Y, na âncora, no báculo, no candelabro, na
palma, no T, nas plantas e na figura humana. Primeiramente se usava
simplesmente o símbolo da cruz, sem o corpo de Cristo afixado. Portanto, a cruz
e não o crucifico. Era natural que a cruz como sinal do cristão, de sua fé na
morte redentora de Cristo, muito cedo entrasse também no uso litúrgico. Assim
temos hoje uma presença muito freqüente da cruz nas diversas formas de expressão.
O SINAL DA CRUZ:
Não há quase reunião de assembléia litúrgica que não comece com o sinal da
cruz. Enquanto tocamos com a palma da mão direita a fronte, o peito, o ombro
esquerdo e o ombro direito, dizemos: “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito
Santo”. Declaramos que todo o nosso pensamento, nossa vontade e a nossa ação, representado pela fronte,
pelo peito e pelos braços, à luz da morte de Cristo, se desenvolvem em nome da
Santíssima Trindade. Todo o nosso ser está mergulhado no mistério da Trindade.
Todo o nosso ser está mergulhado no mistério da Trindade através da cruz
redentora de Cristo.
A PERSIGNAÇÃO: constitui
uma forma mais solene, ligada à proclamação do Santo Evangelho. O Sacerdote,
depois de saudar o povo, contínua: Evangelho de Jesus segundo N., fazendo com o
polegar o sinal da cruz sobre o livro e sobre si mesmo, na fronte, na boca e no
peito. Qual o sentido mais profundo desta forma de fazer o sinal da cruz?
Pedimos a Deus que a força da mensagem de Cristo penetre a nossa mente, a nossa
palavra e a nossa vida. Que Ele ilumine a nossa inteligência para
compreendermos bem a sua mensagem; que possamos professar a nossa fé, por
nossas palavras e agir de acordo com ela.
TRAÇAR O SINAL DA CRUZ:
é muito freqüente na Liturgia o gesto de traçar o sinal da cruz sobre as
pessoas, objetos e elementos. Muitas vezes o gesto vem acompanhado da invocação
das três pessoas da Santíssima Trindade. Outras vezes é acompanhada por
formulas especiais que dão sentido ao gesto; a ocasião em que é traçado em silêncio.
É sempre sinal de benção e consagração. Pensamos aqui na consagração das
oferendas durante a Missa, na benção final que encerra quase todas as
assembléias litúrgicas; na benção dada as pessoas, na benção de elementos como
a água benta, o sal, objetos de devoção; na benção de objetos como as alianças,
os paramentos, imagens, terços, etc. A faculdade de abençoar, traçando o sinal
da cruz sobre as pessoas e objetos, é reservada aos sacerdotes e ao diácono
quando ocorre dentro de sua função. Existem ainda dois outros modos de dar a
benção. A primeira consiste em traçar com a cruz ou crucifixo ou ainda com o
Santíssimo ou alguma relíquia o sinal da cruz sobre pessoas, abençoando-as.
Gesto que é realizado também com o incenso. Segundo, traçar o sinal da cruz com
o polegar sobre a fonte de uma pessoa ou objetos, assim temos no Batismo. Além
do sinal da cruz a própria cruz encontra-se freqüentemente nas celebrações
litúrgicas. É costume antigo a presença de uma cruz sobre o altar. A presença
tão freqüente da cruz nos faz lembrar continuamente que toda a Liturgia não é
outra coisa do que a evocação do mistério pascoal de Cristo, que por sua morte
e ressurreição nos traz a vida nova. É pela cruz que o povo de Deus, a exemplo
de Cristo, chega à ressurreição.
PÃO E VINHO: a
linguagem litúrgica é de um arrojo inaudito. Certas realidades, que não
ousaríamos expressar por palavras, nós as vivenciamos através de símbolos do
culto cristão. Um dos símbolos mais eloqüentes é o pão e o vinho, que no plano
da graça querem expressar o que significam no plano natural. Existe no homem o
intimo desejo de comunhão de vida com Deus. Gostaria de estar unido a Ele como
a comida e a bebida se tornam um com seu corpo. O homem tem fome e sede de
Deus. Não deseja apenas conhece-lo e ama-lo, mas apoderar-se dele, possuí-lo,
consumi-lo, comê-lo e bebê-lo, saciar-se plenamente nele. Para exprimir que
Deus veio ao seu encontro deste desejo do homem, Cristo, o pão da vida,
escolheu o símbolo do pão e do vinho, da comida e da bebida. Pão significa
união, alimento, vida. Como o alimento se torna um com o homem, Deus quer
unir-se ao homem. Vinho é bebida. Mas não bebida que apenas mata a sede. É
bebida que se alegra, inebria, faz transbordar de felicidade. Assim Deus
constitui a felicidade do homem, a sociedade do homem.
Cristo tornou-se para nós pão e vinho. Podemos comê-lo e
bebê-lo, isto é podemos tornar-se um com Ele na sociedade inebriante da vida
feliz. Este pão torna-se para nós garantia da imortalidade. No pão e no vinho
existe também muito de humano. O pão para ser pão passa por um longo processo.
Igualmente o vinho. Por isso podemos dizer que o pão e o vinho quando usados no
Sacramento da Eucaristia adquirem um tríplice sentido. Eles representam nossa
vida e todas as coisas criadas por Deus. Toda a criação constitui objeto de
ação de graça. E o homem a oferece a Deus como rei da criação. Em segundo
lugar, o pão e o vinho significam o trabalho, a capacidade de criar do homem,
sendo também nisto semelhante a Deus. Terceiro lugar – e isto é algo de
inaudito e nós a aceitamos porque Cristo no-lo revelou – o pão e o vinho
significam nossa comunhão de vida com Deus, onde Cristo se torna comida e
bebida no Banquete Eucarístico. Deus vem ao encontro do homem no seu desejo de
comunhão de vida com Ele.
Pão e vinho, símbolos de comida e bebida, exprimem, pois
a nossa vida, como também a nossa ação, a indústria do homem, seu domínio sobre
a natureza que ele trabalha e transforma. Significam, outrossim, o próprio
Cristo no mistério de sua Morte e Ressurreição. A preparação destas ofertas não
constitui ainda o sacrifício com tal. O pão e o vinho querem recordar, recolher
toda essa realidade humana em
Cristo. A serviço dessa preparação está toda a Liturgia da
palavra que quer dar maior sentido à nossa vida, aumentando o nosso amor. O
homem aparece na presença do seu Deus, que o agraciou com a existência e o
cumulou com a nova vida da graça. Toma daquilo que Deus lhe deu e que ele
realizou pelo trabalho para dizer que tudo lhe pertence, tornando-se, desta forma,
o pão e o vinho sinal do homem mesmo, daquilo que ele é e daquilo que ele faz.
Deus por sua vez aceita este dom, o homem mesmo, representado pelos símbolos do
pão e do vinho. Não só os aceita, mas os transforma, os assume pela ação de
graça. Em resposta à oferta de nossa existência, em conformidade com a
santíssima vontade, Deus mesmo se dá em alimento. Ali se
realiza aquele desejo do homem de participar da vida e da imortalidade de Deus,
não pelo orgulho como no caso de Adão e Eva, mas pela humildade, reconhecendo a
sua condição de criatura mortal.
AS GOTAS DE ÁGUA NO
VINHO: Um gesto simples e quase despercebido foi mantido no Ordinário
da Missa. Ao preparar as oferendas, o sacerdote deposita um pouco de água no
cálice com vinho. Sabemos que os hebreus usavam vinho misturado com água na
celebração da Páscoa. Consciente de que Cristo na última Ceia também usou vinho
misturado, os cristãos faziam o mesmo na Celebração Eucarística. E muito cedo
os Santos Padres, sobretudo São Cipriano, começaram a dar um significado a esta
mistura de água no vinho. Reagindo contra aqueles que celebravam a Eucaristia
com pão e água, diz São Cipriano que se deve colocar ao menos um pouco de vinho
na água. Se houver só água sem vinho, diz o santo, nós estamos sozinhos sem Cristo.
O que não possível. E se houver só vinho sem água, Cristo está sozinho sem nós.
De que nos adianta isto?, Pergunta São Cipriano. Com isso ele quer dizer que a
Eucaristia é o Sacrifício de Cristo e da Igreja, isto é, do Corpo Místico de
Cristo.
Ele então procura ilustrar pela Sagrada Escritura. O
vinho lembra a Redenção pelo sangue e de modo particular a Paixão de Cristo, ao
passo que a água traz a mente o povo de Deus salvo das águas do Batismo. Assim
como as gotas de água colocadas no vinho somem totalmente, são assumidas pelo
vinho, no Sacrifício da Missa, nós devemos entrar em Cristo, identificar-nos
com Ele, fazer-nos um com Ele. Nas oferendas da Missa encontramos um duplo
simbolismo. Por um lado, o pão e o vinho significam a vida, a existência do
homem unida a Cristo. Por outro lado, temos a água em relação ao vinho. Agora,
o vinho significa Cristo e a água o cristão que se oferece juntamente com
Cristo. Gesto singelo, mas tão significativo! O que importa não é o sinal em
si, mas o que ele significa; o que importa é a nossa atitude unida à de Cristo.
A partir desta ação do Sacerdote podemos valorizar o
momento da preparação das oferendas para dispor o nosso coração a participar
melhor do Sacrifício Eucarístico, tornando-o também nosso sacrifício. Água é
símbolo de vida em geral e da nova vida adquirida pela fé e pelo Batismo em particular. O povo
sacerdotal nascido das águas do Batismo manifesta sua presença na Eucaristia
pelas gotas de água colocadas no cálice com vinho.
A PARTÍCULA DE HÓSTIA NO
CÁLICE: Trata-se de um rito que muitas vezes pode passar despercebido.
Ou então se pergunta sobre o seu significado. Após a fração do pão que precede
o rito da Comunhão, o Celebrante coloca uma partícula da hóstia no cálice,
rezando em silencio: “Esta união do Corpo e do Sangue de Jesus, o Cristo e
Senhor nosso, que vamos receber, nos sirva para a vida eterna!”. O rito de
romper o pão para dividi-lo fraternalmente era usado entre os judeus. O próprio
Jesus na última Ceia tomou o pão partiu-o e deu aos discípulos. E mandou
repetir o gesto em sua memória. De tal modo o rito de partir o pão tornou-se
familiar entre os cristãos que “fração
do pão” se tornou sinônimo de Celebração Eucarística. Nos primeiros séculos
o partir o pão era uma ação normal exigida pela necessidade de reduzir os
pedaços de pão consagrados para a comunhão dos fieis. O rito da fração era
realizado com grande solenidade, enquanto o povo cantava o Cordeiro de Deus.
O rito perdeu sua importância com a confecção de hóstias pequenas para os fiéis.
Com o correr do tempo começou-se a ligar ao gesto da fração do pão um sentido
simbólico que levou a um rito de “mistura”
ou união das espécies do pão e do vinho. O pão partido representava o Corpo de
Cristo rompido em
sua Paixão. Cristo
é apresentado como aquele que cada dia na Santa Missa se imola pelos pecados
dos homens. Por que, então, a mistura do pão consagrado com o vinho? Sua origem
é bastante obscura. Algumas indicações históricas podem lançar luz a maior
compreensão. A Eucaristia foi sempre considerada como expressão da unidade do
Corpo Místico de Cristo. São Paulo diz: “Uma vez que há um único pão, nós
embora sendo muitos. Formamos um só corpo, porque todos nós comungamos de um
mesmo pão” (1Cor 10,17). A Igreja romana deu uma expressão visível a este
conceito através do uso do “fermento”. Fermento era chamado a particular
que o Papa destacava das próprias espécies consagradas em dias festivos e
enviava aos bispos das cidades vizinhas de Roma e aos presbíteros das outras
igrejas da cidade, que, por sua vez, a colocavam no cálice do Sacrifício, em
sinal de união com op Papa e a presidência hierárquica dele. Em Roma este uso
foi praticado até o século IX. Quando o rito do fermento caiu em desuso
continuou o costume de o próprio Celebrante colocar no cálice um pedaço da
própria hóstia. Este rito simboliza, sobretudo a união e a paz. Mas tarde,
outra idéia vinda do Oriente inspirou o gesto de colocar um pedaço de hóstia
consagrada no cálice imediatamente antes da Comunhão. Queria significar a
unidade das espécies consagradas. O pão e o vinho, embora separados, não são
algo mortos, como o sangue separado do corpo, formam uma unidade, o Corpo vivo
e glorioso de Cristo. Lembram o mistério da Ressurreição. A união dos elementos
separados pela memorial da Morte De Jesus Cristo é feita para simbolizar a sua
ressurreição. A Eucaristia celebra não o Cristo morto, mas o Cristo morto e
ressuscitado, pão vivo descido dos céus, garantia de imortalidade. A oração
fala de Cristo vivo que é Senhor nosso; um Cristo alimento; um Cristo alimento
para a vida eterna. Significativo é que durante a fração do pão e a mistura à
assembléia cante o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo. O canto é da
assembléia, entoado pela assembléia que está se preparando pra participar do
Banquete do Cordeiro de Deus que dá a vida. Hoje este rito passa muitas vezes
quase despercebido. Muitas vezes ele é abafado pela ruidosa e pouco ritual
saudação da paz. Para valorizá-lo importa compreender seu significado mais
profundo. Finalmente, importa realizar o rito com dignidade e vagar, depois de
concluída a saudação da paz e fazendo concluir a fração e a mistura com o canto
do Cordeiro de Deus.
AS VESTES: Também o uso das veste a arte está a serviço da
vivência litúrgica por ser um meio de comunicação. O homem faz uso de
vestimentas, sem dúvida, para defender-se do frio e do calor. Mas o sentido da
veste vai muito além deste uso utilitário. Perguntando, então, pelo sentido das
vestes em geral, perguntaremos depois sobre o porquê das vestes litúrgicas.
Pelo traje o homem procura comunicar-se no seu relacionamento social. Pelo fato
de o corpo constituir como que o sacramento do mistério do homem, ele o
recobre. Quer significar com isso que o homem não é apenas aquilo que se pode
perceber pelos sentidos. Vai muito além de sua corporeidade. Interessante notar
que o homem gosta de recobrir, velar aquilo que valoriza de modo especial.
Assim também o corpo humano. Assim surgiram através da história as diferentes
vestimentas usadas nos momentos importantes da vida e em determinadas funções
da sociedade humana. Temos, por exemplo, a veste batismal, de Primeira
Comunhão, a vestido da noiva, a veste do religioso, do sacerdote. Usamos roupas
diferentes para o trabalho. Elas são a expressão de um estado de alma com a
alegria, a festa ou o luto. Podem também exprimir também uma função. Em vista
da capacidade de a veste humana torna-se uma linguagem, uma comunicação, ela
pode demonstrar também uma realidade religiosa. Para significar que o homem
rompeu com o divino que o envolvia, o autor do Gênesis usa a imagem da veste.
Adão e Eva sentiram-se nus porque não estavam revestidos, envolvidos pelo
mistério de Deus (cf. Gn 3,7). São Paulo usa freqüentemente em seus escritos a
imagem do despir-se do homem velho e revestir-se de Cristo para traduzir a
realidade da nova vida em
Cristo. Como as demais vestes, também as litúrgicas possuem
dupla função, significando estados de alma e o mistério exercido. As vestes
litúrgicas, das mais simples às mais ricas, criam um clima de alegria, de
elevação, de festa, ajudando desta forma a assembléia a manifestar-se como um
povo em festa pela salvação em Cristo.
Quando falamos em vestes litúrgicas parece não devamos
pensar apenas nas vestes sacerdotais. Deveríamos pensar na veste que usa
qualquer cristão ao participar do culto. Por uma veste melhor ele procura criar
e expressar o ambiente de festa; a veste nova torna-se um convite para
revestir-se de Cristo. Claro que isto não constitui algo de essencial. O pobre
sem recursos não deixará de participar da Eucaristia por não possuir um traje
adequado, mas, quem sabe, procurará trazê-lo bem asseado e arrumado como ao
receber uma visita importante em sua casa. Haverá, pois, um traje para sair a
passeio, outro para a praia, o esporte e outro ainda para os momentos do culto,
o qual não será motivo de atenções que distraiam, mas que possa realmente
elevar sua mente e a dos demais participantes da assembléia. A veste quer
ajudar a comunicar-nos com Deus. Para o sacerdote e todos o que tiverem funções
especiais, o vestuário pretende ainda exprimir ou realçar sua função. A
vestimenta especial do sacerdote não constitui elemento essencial na Liturgia.
Mas se colocarmos a questão nestes termos, creio que não entendemos nada do
sentido dos sinais litúrgicos. Devo perguntar-me antes: “Senhor será que as vestes sacerdotais ajudam a mim e a toda a
assembléia a viver melhor o mistério celebrado?” Temos, portanto, na linha
do essencial, do necessário, mas daquilo que convém daquilo que tem sentido.
Mantendo seu sentido fundamental de comunicar com os mistérios celebrados, as
vestes poderão assumir as formas mais diversas. O feitio dos nossos paramentos
constitui uma das formas possíveis na procura de novas e mais apropriadas
formas ao nosso tempo. Uma coisa me parece certa. As formas variam através dos
séculos, mas a vestuário como tal será sempre um elemento valioso na expressão
religiosa do homem.
ANEL-ALIANÇA: Aqui o símbolo já é chamado pelo que
significa. O significado principal do anel é realmente a aliança. Sua forma
circular evoca a eternidade, a permanência, a fidelidade. O anel é, outrossim,
sinal de dignidade e de poder. O antigo costume dos romanos que trocarem anéis
por ocasião do casamento, como símbolo da mútua união, passou mais tarde pra o
rito do matrimonio cristão. Os anéis dos esposos, chamados também de alianças,
são sinal de amor e fidelidade, de amor total e sem fim. Estes anéis deverão
recordar sempre a aliança de amor e fidelidade para com a pessoa amada, para
com Deus e o testemunho de amor e fidelidade, diante da comunidade cristã. Como
já dissemos, o símbolo é a presença da mesma realidade em outra forma. Assim o
anel de casamento que um cônjuge traz em seu dedo evoca, oculta, significa,
constitui continuamente a presença do outro cônjuge em sua vida. Não somos mais
dois, somos um só, onde estou eu, está ela; onde estou eu, está ele. Em grande
sentido, portanto, o gesto de o viúvo ou a viúva passar para o próprio dedo o
anel do cônjuge já falecido.
O anel conferido às religiosas é símbolo das núpcias da
alma consagrada com Cristo, sendo, pois, um desafio à santidade da consagração
total a Deus. Diz a oração que acompanha o gesto: “Recebe esta aliança de esposa do Rei Eterno; sendo-lhe fiel, chegarás
à alegria das núpcias celestes” A anel do Bispo também não constitui mero
enfeite ou manifestação de sua função ou dignidade., Seu significado vai muito
além. Diz o Ritual da Ordenação e um Bispo: “Recebe este anel, símbolo da fidelidade; e com fidelidade invencível
guarda sem mancha a Igreja, esposa de Deus”. Portanto, usar ou não as
alianças como casados ou noivos não é questão de esnobismo ou de espírito de
contradição, mas brotará da compreensão ou não da linguagem simbólica na vida
do homem.
BIBLIOGRAFIA:
Símbolos Litúrgicos – Editora
Vozes – Frei Alberto Beckäuser, OFM
“Sendo conhecedores da verdade ela te libertará”.
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