Anjos, Diabo, demônios: o que a fé da Igreja ensina sobre eles?
Vivemos num mundo bastante contraditório, cheio de paradoxos: de um lado, a
tecnologia tão espetacularmente desenvolvida, lavando boa parte da humanidade à
miopia do materialismo e ao ateísmo. Há tantos e tantos, coitados, que pensam
que a ciência é tudo e que nada mais existe fora da matéria e deste mundo
físico: vale e é real somente aquilo que é palpável, mensurável, compreensível!
Mas (êta mundo doido!), de outro lado, constatamos o renascimento de um certo
misticismo, de um gosto pelo religioso, o misterioso e sobrenatural, só que de
um modo mítico, mágico, ingênuo. Isso mesmo: uma religiosidade muito parecida
com aquela das religiões pré-cristãs, cheia de anjos, demônios, duendes,
espíritos e toda esta parafernália mítica e mágica! E, infelizmente, tanto um
erro (o materialismo e o ateísmo) quanto o outro (a religiosidade mágica e
simplória, quase pagã) tentam os cristãos. Temos hoje discípulos de Cristo
extremamente racionalistas e outros, extremamente crédulos, com uma visão
ingênua e tola de Deus e de tudo aquilo que diz respeito à fé.
É neste contexto que decidi, por sugestão de um padre amigo, dedicar alguns
artigos àquilo que a fé católica, à luz da Palavra de Deus e da Tradição,
afirma sobre os anjos e os demônios. Não é um tema fácil de ser abordado. Vamos
seguir o Catecismo e o Magistério eclesial e aprofundá-los com aquilo que a
teologia tem de mais recente na sua reflexão sobre este tema.
A primeira coisa que deve ficar bem clara é que a doutrina sobre os anjos e
demônios não faz parte da essência, do núcleo do cristianismo. O centro da
nossa fé não é o Diabo ou os anjos, mas Jesus morto e ressuscitado. Se
tivéssemos de dizer que os anjos e os demônios não existem, em nada a fé cristã
seria afetada! No cristianismo a importância das várias afirmações de fé
depende do grau de ligação que tenham com o mistério do Senhor Jesus morto e
ressuscitado. Então, não se deve supervalorizar a doutrina sobre os anjos e os
demônios! Cada coisa no seu lugar e com a sua devida importância. São Paulo já
prevenia os Colossenses neste sentido: “Ninguém vos prive do prêmio, com
engodo de humildade, de culto dos anjos, indagando de coisas que viu...
ignorando a Cabeça, Cristo... (Cl 2,18s).
Ainda mais, há alguns pontos que devemos deixar logo assentados, para começar o
nosso tema: (1) Deve-se evitar todo antropomorfismo a respeito dos anjos, com
base na nossa realidade espácio-temporal. Em outras palavras: não se deve nem
se pode imaginar os anjos como os seres humanos. Eles não são humanos, não têm
aparência humana nem estão sujeitos ao tempo e ao espaço do modo que nós
estamos. Seu modo de existir é diverso do nosso! Quando a própria iconografia
mostra os anjos com asas, é para nos recordar isso: eles são de outra natureza,
diversa da nossa: não são humanos! (2) Também é indispensável recordar que
quando as Escrituras falam nos anjos ou nos demônios, é necessário levar em
conta os gêneros literários e o rico simbolismo que envolve tantas vezes a
figura destes seres. Então, cuidado para não se tomar tudo simplesmente ao pé
da letra! As conclusões seriam ridículas! Querem exemplos? Aquele demônio,
apaixonado por Sara e que foge com o cheiro da fumaça do fígado e do coração do
peixe (cf. Tb 2,8; 6,14-18); outro exemplo: os querubins com espadas de fogo,
que Deus coloca à porta do paraíso (cf. Gn 3,24). Nestes dois casos – e em
vários outros – tratam-se de símbolos. Demônio não se apaixona nem tem medo de
fumaça e querubim não tem espada, nem o paraíso tem porta. A Escritura usa,
aqui, uma belíssima linguagem poética e simbólica. (3) Os anjos devem ser
considerados sempre como espíritos criados, finitos, limitados, pessoais e
autoconscientes, pertencentes a este mundo criado por Deus, dele fazendo parte
e sendo parte dele. Os anjos não são divinos, não são pequenos deuses! São
criaturas e pertencem a este mundo criado por Deus. (4) Os anjos não são
autônomos, não podem ser pensados por si mesmos; segundo a Escritura, eles
somente podem ser compreendidos em relação com Deus: estão sempre a seu serviço
e só aparecem na Escritura em função do plano de salvação de Deus para a
humanidade e para toda a criação. Somente nos interessa a respeito dos anjos
aquilo que tem a ver com o plano de salvação de Deus. Saber mais que isso seria
vã curiosidade e fazer teologia da besteira! (5) Como criaturas, os anjos
existem através de Cristo e para Cristo e somente nele encontram o sentido de
sua existência e de sua missão. Também os anjos foram salvos por Cristo, pois
somente através de Cristo podem ter acesso à vida de Deus Pai na potência do
Espírito Santo. Cristo é Cabeça dos anjos e a graça na qual os anjos foram
criados é graça de Cristo, através de quem e para quem tudo foi criado no céu e
na terra (cf. Jo 1,3; Cl 1,15ss). Por extensão, é necessário também afirmar que
eles são e vivem somente no Espírito do Cristo ressuscitado e somente nele
podem encontrar sua plenitude como criaturas, que consiste na comunhão com Deus
e com toda a criação! (6) Assim sendo, o modo correto de pensar sobre os anjos
e demônios é ligando-os a este mundo criado, já que por sua essência os anjos
pertencem ao cosmo e compartilham com o homem a única e mesma história da
salvação em Cristo
Jesus. A angelologia mostra que o homem se encontra numa
comunidade de salvação e de perdição mais ampla que a própria humanidade; desta
mesma criação a ser salva em
Jesus Cristo , os anjos fazem parte. Se o homem é o cume do
mundo visível, nem por isso pode pensar que é o centro da criação ou seu ponto
mais alto.
Vamos adiante! Deixemos logo claro que “a existência de seres espirituais,
que a Sagrada Escritura chama habitualmente de anjos é uma verdade de fé”
(Catecismo da Igreja Católica, 328). Então, a Igreja crê firmemente que, além
dos seres humanos, Deus criou outros seres inteligentes e livres, invisíveis ao
nosso mundo, mas também chamados a amar e servir a Deus. Um católico não deve
negar a existência dos anjos! Mas, o que a Sagrada Escritura ensina sobre eles?
Apesar dos textos bíblicos não afirmarem explicitamente a criação dos anjos,
estes aparecem simplesmente na história da salvação como criaturas de Deus, de
modo particular como seus mensageiros (= malak, em hebraico e angelos,
em grego) e realizadores de sua vontade. Então, a palavra “anjo” não indica uma
natureza, não quer dizer o que estes seres são em si, mas sim a função que eles
têm em relação à humanidade: “são espíritos destinados a servi , enviados em
missão para o bem daqueles que devem herdar a salvação” (Hb 1,14). Para a
Bíblia, os anjos somente têm interesse enquanto estão a serviço da nossa
salvação. Aqui já fica de fora toda aquela especulação boba que a Nova Era faz
sobre os anjos! Tudo isso não passa de paganismo barato! Não confundamos os
anjos como os cristãos entendem com os espíritos das outras religiões ou os
orixás dos cultos afros! Nada a ver! Para nós, os anjos não têm uma ação
independente, não fazem simplesmente o que querem, mas estão debaixo das ordens
de Deus e como todas as criaturas eles foram criados para Cristo, de modo que
ele é seu Cabeça e Senhor (cf. Cl 1,16): Cristo está acima de todos os anjos
(cf. Hb 1,5).
No Antigo Testamento, o Senhor Deus é apresentado muitas vezes como se fosse um
soberano oriental com sua corte. É um modo simbólico de representar Deus
naquele tempo. Neste contexto, os anjos aparecem como servos (cf. Jó 4,18),
santos (cf. Jó 5,1; 15,15; Sl 89,6; Dn 4,10) ou filhos de Deus (cf. Sl 29,1;
89,7). São chamados, por sua missão, “mensageiros” (cf. Gn 19,1; 28,12; 32,2;
Sl 103, 20), por sua figura ou aparência, “homens” (cf. Gn 18,2.16; 19,12.16),
por sua relação com o Senhor Deus, “príncipes dos exércitos celestiais” (cf. Js
5,14) ou “senhores do céu” (cf. 1Rs 22,19). São todos títulos simbólicos, que
devemos usar com cuidado e não ao pé da letra! Há também referências aos
querubins (cf. Sl 80,2; 99,1; Ez 10,1s; Sl 18,11; Gn 3,24) e aos serafins –
cujo nome significa “ardentes” – que cantam a glória do Senhor (cf. Is 6,7). Os
querubins e serafins não são anjos no sentido originário da palavra; por isso
no início não recebiam o nome de “anjos”. Somente aos poucos, no judaísmo
tardio, foram incluídos no grupo de seres designados por anjos. Ao lado desses
enigmáticos mensageiros, os relatos bíblicos mais antigos falam no “Anjo do
Senhor” (cf. Gn 16,7; 22,11; Ex 3,2; Jz 2,1) que não é diverso do próprio
Senhor Deus, manifestado na terra de modo visível (cf. Gn 16,13; Ex 3,2).
Parece que esse “Anjo do Senhor” é um modo respeitoso que a Bíblia tem de falar
do próprio Deus, sobretudo nos textos mais antigos. À medida, porém, que a
revelação bíblica foi progredindo, o papel desse “Anjo do Senhor” vai sendo
sempre mais atribuído aos anjos, mensageiros de Deus. Os anjos são descritos de
modo geral pela Escritura Sagrada, como seres incorpóreos (cf. Tb 12,19; Gn
18,9; Sl 78,25; Sb 16,20), por isso não poderiam ser percebidos pelos seres
humanos. Além de mensageiros de Deus junto aos homens (cf. 1Cr 21,18; Jó 33,23;
Tb 3,17; Dn 14,33) e seu protetores (cf. Dn 3,49; 6,23), acreditava-se que os
anjos falassem a Deus em favor dos homens (cf. Jó 33,23s; Tb 12,15). Em resumo,
o Antigo Testamento afirma claramente a existência dos anjos, mas não apresenta
nenhuma reflexão teórica sobre eles. Seu número é muito grande e eles
constituem uma espécie de séquito de Deus, sujeitos ao seu domínio universal.
Executam os serviços que Deus lhes confia tanto em cada homem quanto na
totalidade do povo (cf. 1Cr 21,18; Tb 3,17; Dn 14,22). Mencionam-se somente os
nomes de Miguel, Gabriel e Rafael. Qualquer outro nome de anjo é fora da
revelação bíblica!
No Novo
Testamento também se fala dos anjos como mensageiros celestes, a serviço da
obra de Cristo: toda a obra dos anjos aparece, então, relacionada ao Senhor
Jesus e à realização da salvação por ele trazida. Eles transmitem aos homens as
incumbências divinas; quando aparecem, apresentam-se normalmente como jovens
com brilhantes vestes brancas (cf. Mc 16,5; Mt 28,3; Lc 24,4; Jo 20,12; At
1,10). Grande é seu número (cf. Mt 28,53; Hb 12,22; At 5,11; Mt 22,30; 26,53;
Lc 12,8s; 1Tm 5,21; Hb 12,22; 1Pd 3,22; Hb 12,22ss). Acompanham especialmente
os acontecimentos da vida de Cristo desde o seu início até sua consumação: o
Anjo do Senhor, que em Lucas se chama Gabriel, predisse o nascimento e a missão
de João Batista (cf. Lc 1,11-12); o mesmo anjo transmite a Maria a mensagem de
que há de ser Mãe de Deus (cf. Lc 1,26ss); o Anjo do Senhor tranqüiliza José a
respeito do que o Espírito Santo produziu em Maria (cf. Mt 1,20-25); também foi
um anjo quem anunciou aos pastores o nascimento de Jesus e uma multidão de
anjos louva a Deus por sua benevolência, às portas de Belém (cf. Lc 2,9-15). É
ainda o Anjo do Senhor quem aconselha a José a fuga para o Egito com Maria e o
menino e, passado o perigo, transmite-lhe a nova ordem de voltar (cf. Mt
2,13.19s). Anjos servem a Jesus quando este, levado pelo Espírito ao deserto,
permanece ali quarenta dias em jejum (cf. Mc 1,13; Mt 4,11). O Pai podia enviar
a Cristo mais de doze legiões de anjos, se o Filho lhe pedisse, para livrá-lo
do sofrimento que sobre ele caiu no Jardim das Oliveiras. Mas como se cumpriria
então a Escritura? (cf. Mt 26,53). Um anjo aparece a Cristo em sua angústia
mortal e o conforta (cf. Lc 22,43). Quando as mulheres, na manhã da Páscoa,
encontram o sepulcro vazio e ficam confusas, homens com vestes brilhantes
aparecem diante delas e lhes anunciam a ressurreição do Senhor (cf. Mc 14,5s;
Lc 24,1-7). A estes Mateus e João dão o nome de anjos (cf. Mt 28,2; Jo 20,12).
Todos os anjos acompanharão o Senhor quando vier para o julgamento do mundo
(cf. Mc 8,38; Mt 25,31; 26,27). O Filho do Homem enviará seus anjos com
estrépito de trombetas, e eles ajuntarão os eleitos dos quatro ventos, de extremo
a extremo do céu (cf. Mt 13,31.39ss.49; 24,31; Mc 13,27).
Segundo o
testemunho de Cristo, as crianças têm os seus anjos no céu (cf. Mt 18,10). O
próprio Cristo, como Filho de Deus, está acima de todos os seres angélicos,
tanto antes da encarnação como depois de sua exaltação à direita de Deus (cf.
Mc 13,27; Ef 1,20s; CI 1,16; 12.10; Hb 1,5-14; 2,1-9; 1Pd 3,22). Segundo o
desígnio divino, a Igreja criada por Cristo notificará aos anjos a salvação dos
homens (cf. Ef 3,10; 1Tm 3,16). Os anjos alegram-se de que os homens se
convertam a Deus (cf. 1Pd 1,12). O Apocalipse de João expõe o grande papel que
os anjos desempenham na história da salvação.
Já vimos o que o Antigo e o Novo Testamento dizem sobre os anjos. É certo que o
Novo Testamento acolheu do Antigo a convicção da existência dos anjos e, ao que
parece, o próprio Jesus compartilhou de tal convicção, que aliás, não era
unânime na sua época (cf. At 23,8). Isto é importante: os saduceus, por
exemplo, não aceitavam a existência deles; Jesus, no entanto, como os fariseus,
aceitava e ensinava sobre os seres angélicos. Não é possível, então, dizer que
Jesus estava simplesmente adaptando-se à mentalidade do seu tempo: nem todos
acreditavam em anjos... e, no entanto, Jesus afirmou a existência deles!
São Paulo, nos seus escritos, segue a convicção do Senhor, e cita também outros
grupos de seres celestes: virtudes (cf. Rm 8,38; 1Cor 15,24; Ef 1,21),
potestades (cf. 1Cor 15,24; Ef 1,21, Cl 1,16), principados (cf. Rm 8,38; 1Cor
15,24; Ef 1,21; Cl 1,16), dominações (cf. Ef 1,21; Cl 1,16) e tronos (cf. Cl
1,16). Não se estabelece a diferença entre eles; parece que Paulo simplesmente
aceita a crença corrente no mundo helênico e julga tais seres a partir de
Cristo: se existem, foram criados através de Cristo e para Cristo; se são
adorados e cultuados pelos pagãos, Paulo os trata como demônios e os reduz a
nada (cf. 1Cor 15,24; Ef 6,12; Cl 2,15). O importante é a primazia absoluta de
Cristo. Por isso mesmo, neste contexto, o culto dos anjos é reprovado (cf. Cl
2,18).
Concluindo o que diz respeito aos dados bíblicos, poderíamos afirmar o
seguinte:
(1) A
Escritura afirma a existência dos anjos. A revelação bíblica sobre eles tem
sempre uma preocupação com o homem: a Bíblia fala de Deus não primeiramente
para revelar quem ele é, mas o que faz em nosso favor: o quanto ele é para nós.
Ora, o envio dos anjos é apenas um momento deste voltar-se de Deus para o homem
e o nosso mundo: eles estão a serviço da salvação (cf. Hb 1,14). É unicamente deste
ponto de vista que a Escritura trata dos anjos: enquanto eles servem ao plano
de Deus para a nossa salvação. É totalmente ausente da Revelação qualquer tipo
de especulação sobre os seres celestes. Seria, então, ímpio e descabido, além
de pura perda de tempo, as especulações, como a de muitas seitas ou de
correntes de Nova Era.
(2) Servindo
ao plano de Deus, a Escritura mostra-nos sempre os anjos em relação à glória da
Deus: o Anjo de IHWH evoca a presença amável do Deus de Israel na história,
despertando adoração, louvor, ação de graças. Os querubins exprimem a grandeza
e onipresença de IHWH; os anjos na liturgia celeste são constante convite ao
louvor e à adoração. Assim a angelologia está em função da teologia: só a Deus
o louvor e a glória! É preciso, então, que a atenção aos anjos nem de longe
concorra com a centralidade de Cristo, o Filho de Deus, nosso único Senhor.
(3) Os nomes
dos anjos, mais que exprimirem uma individualidade deles próprios, comunicam
uma qualidade de Deus: sua força (Gabriel = força de Deus), sua unicidade
(Miguel = quem como Deus?) e seu cuidado compassivo (Rafael = cura de Deus). O
vulto dos anjos é análogo ao vulto dos mártires da Igreja: resplandecem da
glória que contemplam... que não é outra que a glória de Cristo, Senhor e
Salvador de tudo quanto foi criado, inclusive dos anjos!
(4) Todos os
textos do Novo Testamento sobre os anjos devem ser vistos num estreito vínculo
com o evento Cristo, em relação à sua encarnação, sua presença operante na
Igreja e sua vinda na glória: somente como servos de Cristo e de seus
discípulos é que os anjos aparece no Novo Testamento.
(5) O serviço
dos anjos a Cristo continua no serviço à Igreja e na Igreja (cf. At 5,20;
12,11; 8,26-29; 10,3; 1Cor 4,9). A sua colaboração no caminho histórico da
humanidade continuará até que venha a Parusia do Senhor.
Vejamos, agora, brevemente, o que a Igreja, guiada pelo Espírito Santo do
Senhor Jesus e refletindo sobre a Palavra de Deus, ensinou sobre os anjos.
Muitos dos antigos Santos Padres falaram sobre eles. Mas o documento mais
importante do magistério sobre o assunto é do IV Concílio do Latrão, em 1215: “(O
Deus uno e trino é) único princípio do universo, criador de todas as coisas
visíveis e invisíveis, espirituais e materiais, que com a sua força onipotente
desde o princípio do tempo criou do nada uma e outra ordem de criaturas: as
espirituais e as materiais, isto é, os anjos e o mundo terrestre, e depois o
homem, como participante de um e de outro, composto de alma e corpo”. O
Concílio Vaticano I reafirmou a doutrina do Concílio Lateranense, citando-o
textualmente. Outro texto significativo é o Credo do Povo de Deus, professado
pelo Papa Paulo VI em 1972, no encerramento do Ano da Fé: “Cremos em um só
Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, Criador das coisas visíveis, como este
mundo, onde se desenrola a nossa vida passageira; Criador das coisas
invisíveis, como os puros espíritos, que também denominamos Anjos...”
Depois de tudo quanto vimos até aqui, deve ficar claro que um católico não pode
duvidar da existência de seres inteligentes e livres criados por Deus, além do
homem. Isso seria uma temeridade, pois negaria a Escritura, a própria convicção
do Senhor Jesus e a constante Tradição da Igreja. Deve-se estar atento que a
existência dos anjos – ou a sua não-existência jamais poderiam ser demonstradas
cientificamente. Somente pela fé na Revelação sabemos que além de nós, humanos,
o Senhor criou um mundo invisível, no qual também seres inteligentes e livres
são chamados à comunhão de amor com Ele, o Deus Uno e Trino, e com toda a
criação. Por outro lado, é também contrária ao sentir da Igreja e a uma fé
madura, uma visão infantil dos anjos. A própria liturgia da Igreja nos dá a
justa medida do lugar e do culto desses seres criados por Deus. Na liturgia há
somente duas festas que os recordam: a solenidade dos arcanjos Miguel, Gabriel
e Rafael e a memória dos anjos da guarda. Além do mais, de modo discreto,
vários textos da Santa Missa citam os anjos, sobretudo os prefácios da Missa.
Para concluir, vejamos algumas
afirmações da teologia, com o intuito de refletir de modo mais detalhado sobre
os seres angélicos. Recordemos que são pontos da teologia, importantes, mas não
necessariamente obrigatórios para o católico.
Quanto à essência angélica, a doutrina mais antiga afirmava que eles tinham um
corpo sutil, diverso do nosso não somente no aspecto, como também no tipo, no
modo de ser dessa matéria, de tal forma que não poderíamos imaginar como é um
anjo. Hoje, a opinião mais comum entre os teólogos é a favor da pura
espiritualidade angélica, apesar de haver teólogos que ainda sustentam a
opinião em favor de uma corporeidade sutil. O magistério eclesial não tem
nenhum pronunciamento dogmático sobre este tema particular, podendo os fiéis
opinarem livremente sobre o tema.
Quanto à
personalidade dos anjos, pelo que se pode compreender da revelação bíblica,
eles possuem um “eu” pessoal, ou seja, têm uma vida consciente, autodomínio e
são capazes de relacionar-se com Deus, com os outros anjos e com a humanidade.
A tradição eclesial refuta reduzi-los a simples forças ou qualquer coisa do
gênero: eles são “eus” reais. Como nome de anjos devem ser usados somente os
três que ocorrem na Escritura: Miguel, Rafael e Gabriel. A Igreja também rejeita
que os anjos tenham responsabilidade de dirigir os fenômenos da natureza, como
os orixás dos cultos afros. Que todo homem tenha um anjo da guarda não é até
agora definido pelo Magistério, mas esta é opinião comum da Igreja desde os
tempos antigos. Portanto, é prudente afirmar a existência dos Anjos da Guarda.
No que concerne à questão se os anjos estão agrupados em ordens distintas, não
há nenhum pronunciamento normativos da Igreja sobre o tema e não se deveria
especular sobre isso.
Quanto à
questão do conhecimento angélico, sem querer entrar em especulação, podemos,
seguindo a Escritura, afirmar um modo de conhecimento superior ao nosso por
parte dos anjos. A Escritura exprime tal convicção ao descrevê-los cobertos de
inumeráveis olhos, como que afirmando que toda a sua essência é ver.
Entretanto, os anjos são limitados e, como tais, não penetram nem as
profundezas de Deus (cf. 1Cor 2,10) nem as profundezas do homem: este tem uma
esfera íntima escondida aos próprios anjos. Sendo finitos, podemos pensar que
os anjos podem crescer na sua ciência em relação à historiada salvação. Os
anjos não sabem tudo nem podem tudo!
Ligada a este
saber superior está também sua vontade: por ser muito mais penetrante que a
nossa e por sua força de conhecimento, eles tomam suas decisões de modo simples
e total, tendo consciência de todas as conseqüências de seus atos, de modo que
suas escolhas são irrevogáveis nas suas opções: um anjo não pode se arrepender
em suas decisões.
Finalmente,
quanto à oração aos anjos, os cristãos e toda a Igreja os invocam, já que eles,
como os santos, fazem parte da única comunidade de salvação, reunida e
vivificada no Espírito Santo do Cristo morto e ressuscitado. Os anjos rezam por
nós e nós podemos rezar para eles, como fazemos para os santos de Cristo.
Concluindo, não poderíamos deixar de salientar mais uma vez que as afirmações
dos cristãos sobre os anjos haverão de ser sempre fundamentadas e limitadas
pela Escritura Sagrada, sem se perder em especulações que a fariam descambar
para o mito, a crendice e o esoterismo. É necessária também certa reserva em
relação a algumas opiniões excessivas dos antigos Padres da Igreja e de alguns
teólogos, inclusive atuais. Ao se falar dos anjos é necessária modéstia:
somente podemos afirmar aquilo que a Escritura e a Tradição da Igreja
autorizam! Um cristão que deseje ter uma fé madura não mais pode atribuir aos
anjos fenômenos que são deste mundo e podem, com tranqüilidade, ter uma
explicação natural, o que não significa negar-lhes a ação neste mundo. Como
quer que seja, as ciências nunca poderão provar a existência dos anjos e nós
sabemos da sua existência somente pela fé.
Se é verdade que a doutrina sobre os anjos não faz parte das doutrinas centrais
da fé e não deve ser demasiadamente enfatizada na pregação, é também verdade
que tem seu sentido próprio, pois ilustra a vontade de Deus de se comunicar aos
homens em Jesus Cristo
já a partir da criação. A fé na existência e ação dos anjos leva-nos também a
confessar o quanto é limitada a realidade vista por nós e que o Reino de Deus é
mais amplo que a realidade que conhecemos. Seria triste se reduzíssemos a
realidade e a criação àquilo que nós vemos e tocamos.
Uma coisa é certa: tudo foi
criado através de Cristo e para Cristo e, como nós, somente nele tudo encontra
o sentido e a realização: “Jesus Cristo é a Imagem do Deus invisível, o
Primogênito de toda criatura, porque nele foram criadas todas as coisas, nos
céus e na terra, as visíveis e invisíveis: Tronos, Soberanias, Principados,
Autoridades, tudo foi criado por ele e para ele. Ele é antes de tudo e tudo
nele subsiste” (Cl 1,15-17).
+++++
Depois de ter apresentado a fé da Igreja sobre os anjos, vamos fazer o mesmo
para os demônios. Se não é fácil falar equilibradamente sobre os anjos, bem
mais difícil é apresentar nos dias atuais, de modo sério e teologicamente
consistente, o que a consciência da Igreja afirma sobre o Diabo e os demônios.
É importante, desde já, observar que, se a fé cristã crê na existência dos
anjos como criaturas livres, é plenamente compreensível a afirmação da Igreja
que alguns desses anjos tenham dito “não” ao chamado amoroso de Deus à
comunhão com ele. Mas, atenção: nós não devemos especular sobre o que teria
sido este “não” a Deus. A Igreja não faz nunca tal especulação! Uma coisa é
certa: se tudo foi criado através de Cristo e para Cristo (cf. Cl 1,16) e se
Cristo é Cabeça dos anjos e dos homens, então a comunhão dos anjos com Deus ou
a perda de comunhão com ele somente pode acontecer através de Cristo e em Cristo. O “sim” ou “não”
dos anjos a Deus somente pode se dar em Cristo! Como foi este “sim” e este
“não”, não sabemos. A Escritura não é um conjunto de livros para matar nossa
curiosidade, mas a revelação de Deus para a nossa salvação; nela é revelado
somente aquilo que é importante para o nosso “sim” a Deus. Uma coisa é certa:
não se deve pensar no Diabo e nos demônios como seres iguais a Deus em poder ou
como seus concorrentes poderosos. O Diabo somente existe porque Deus o criou e
permite que ele continue existindo. Os seres diabólicos são seres criados bons
e que usaram mal a sua liberdade; eles somente continuam existindo porque Deus
continua a amá-los, já que o Senhor é fiel ao seu amor e, uma vez tendo amado,
não deixa nunca de amar: o seu nome é Fidelidade, o seu nome é Amor! Então,
quando a fé e a teologia cristãs falam sobre o Diabo e seus anjos não é para
amedrontar ou fazer especulações fantasiosas mas, ao contrário, para
desmascarar o medo e a importância que o mal possa dar ao mal (cf. Jo 12,31).
Um cristão maduro e consciente não fica fascinado pelo diabólico, amedrontado,
vendo o Diabo em tudo, falando do Diabo o tempo todo, fazendo exorcismo a cada
momento! Isso seria superstição e desconhecimento do sentido do Cristo e de seu
senhorio! Em Cristo, o mal é desmascarado, perde seu segredo e sua aura
apavorante: Cristo é a luz que desmoraliza e desmascara o aparente poderio do
mal: “Morte, onde está a tua vitória? Morte, onde está o teu aguilhão?”
(1Cor 15,55). A Morte aqui é o Inferno, o Maligno, o Pecado! Somente Cristo
é Vencedor e Senhor! Mais uma vez: é proibido ao cristão pensar o demoníaco
como um poder contrário a Deus, do mesmo nível que ele e com faculdades de
entrar em luta ou em diálogo com ele. O Diabo não tem diálogo nem comunhão com
o Senhor Deus: somente a criatura que vive na graça tem tal possibilidade de
relação com Deus! Supervalorizar o Diabo é desconhecer o senhorio de Cristo
Jesus: ele não é um adversário do Diabo; ele, o Senhor, é o Vencedor!
No Antigo
Testamento os termos hebraicos “Satã” ou “Satanás” ou o grego “Diabo” (= aquele
que confunde, perturba, desconcerta, desorienta) indicam um ser espiritual
malvado, muitas vezes rodeado por muitos demônios que dele dependem e agem sob
seu comando. As idéias a respeito do Diabo e seus demônios foi evoluindo aos
poucos nas Escrituras Sagradas. Por exemplo, completamente subalterno a Deus,
Satã já é apresentado no livro de Jó como uma vontade hostil não ao próprio
Deus, mas ao homem: ele não acredita no amor desinteressado (cf. Jó 1-3). Em Zc
3,1-5 ele já é apresentado como verdadeiro adversário dos desígnios do amor de
Deus para com Israel. Em 2Cr 21,1, a peste, que na concepção mais antiga era
tida como obra do Senhor, é atribuída a esse instrumento da catástrofe e da destruição
que já possui um nome próprio - Satã. Em Sb 2,24 é dito claramente que a
entrada da morte no mundo deveu-se à inveja do Diabo! Mais tarde, nos escritos
do povo judeu e nos ensinamentos dos rabinos um pouco antes do nascimento de
Jesus, no período chamado judaísmo tardio, Satã era apresentado como inimigo e
sedutor do homem e se esperava a sua derrota no final dos tempos. Satã era
visto como alguém que age mal e tem ódio pelos homens; era considerado o
príncipe dos espíritos maus (os demônios), de modo que o homem deveria saber
distinguir entre os anjos do Senhor e os de Satã. No escrito apócrifo sobre a
vida de Adão e Eva, Satã aparece como o tentador que fala através da serpente
do Paraíso. Quando Adão pergunta o motivo de seu ódio pelos homens, ele responde
que Miguel o expulsou do céu porque se recusara a adorar o homem, imagem de
Deus.
O Novo
Testamento serve-se freqüentemente das idéias do judaísmo, muitas vezes numa
linguagem simbólica, para chamar atenção sobre a urgência de abrir-se para o
Reino de Deus trazido por Jesus, expulsando de nossa vida e da vida do mundo o
Reino de Satanás: ódio, morte, violência, prepotência e todo o poder do mal
moral no mundo.É muito importante compreender que a essência dos textos do Novo
Testamento é o anúncio da salvação; os textos que falam de Satanás, são uma
advertência para a necessidade e a urgência de decidir-se pelo Reino de Deus!
Então, os textos que falam sobre Satã e os demônios jamais podem ser
considerados como tendo a mesma importância dos textos que anunciam a salvação:
eles são simplesmente o contraponto que alerta para a responsabilidade humana e
a possibilidade concreta que temos de dizer um “não” a Deus! Nos evangelhos
sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas), o diabo é chamado “o Inimigo” (cf. Mt 13,36;
Lc 10,19) e “o Maligno” (cf. Mt 6,13; 13,19.38) e, nos escritos joaninos, ainda
mais intensamente, o Diabo é denominado “o Príncipe deste mundo” (cf. Jo 12,31;
14,30; 16,11; 17,15; 1Jo 2,13s; 5,18) e, portanto, o Adversário da obra da
redenção do Filho encarnado (cf. 1Jo 3,8; 3,10). A própria vida e missão de
Jesus são apresentadas como uma luta contra Satanás e seu reino: o objetivo de
Jesus é a vitória do homem sobre o Diabo, reduzindo-o à impotência.
A
Escritura fala em Diabo, Satanás, por um lado, e sempre no singular e, por
outro, refere-se aos demônios, também no plural. Que pensar desses demônios?
Quem são? Separemos o teológico do mitológico, próprio das culturas antigas!
Era
comum a crença em demônios nas culturas do antigo Oriente. Culturas
pré-científicas, davam uma feição pessoal a inúmeras forças obscuras que se
pensava presentes por trás dos males que assaltam o homem: as várias doenças,
sobretudo aquelas mentais, as forças da natureza, tudo isso era personificado,
sendo atribuído aos demônios. Praticavam-se, então, ritos mágicos, como parte
da medicina, para livrar as pessoas e controlar tais demônios: toda doença era
atribuída a um tipo de demônio.
No
Antigo Testamento fala-se em demônio do deserto (cf. Lv 16,8-26), da noite (cf.
Is 34,14),do meio-dia (cf. Sl 91,6) e outros tantos demônios nocivos (cf. 2Cr
11,15; Is 2,6; Sl 106,6), exprimindo-se, assim, uma clara relação com a
natureza. Observe-se que aqui a Escritura não deseja ensinar uma doutrina sobre
os demônios, mas simplesmente exprime as crenças populares daquela época. É
importante notar que a severa proibição da magia na Lei de Moisés tendia a
excluir a doutrina e a prática demonológicas em Israel. A crença nos
demônios, portanto, não se refletia de modo importante no Antigo Testamento,
salvo em algumas alusões presentes na linguagem popular e em algumas
referências à superstição entre os hebreus (cf. Dt 32,17; Sl 106,37; Is 13,21;
34,14). Os profetas protestaram energicamente contra uma visão pagã de tais
demônios, na qual eles eram tidos até mesmo como deuses. Além de não falar
quase nada sobre demônios, quando fala neles o Antigo Testamento afirma sempre
que são subordinados ao Senhor Deus. Nesta linha o judaísmo os vê como
espíritos maus, identificados com os ídolos estrangeiros, capazes de seduzir o
homem. A literatura dos judeus extra-bíblica demonstra uma crença forte nos
demônios e os via como anjos decaídos. Em muitos aspectos tais crenças eram
influenciadas pelos mitos da Mesopotâmia e da Grécia. Os demônios eram também
identificados com os filhos de Deus que casaram com as filhas dos homens (cf.
Gn 6,1-4), de cuja união teriam nascido os gigantes folclóricos da mitologia.
Acreditava-se que tais demônios são responsáveis pelas doenças e pelas desgraças.
Eles estariam organizados em um reino, sob um chefe chamado Mastema, Belial ou
Satanás! Note-se bem que tais crenças eram convicções populares e não doutrina
teológica da Escritura! O Novo Testamento adotou a linguagem do judaísmo da sua
época, mas purificou-a, adaptando-a à sua missão: os demônios são espíritos
impuros que se opõem ao advento do Reino de Deus instaurado por Jesus (cf. Mc
3,22-30); por isso ele os expulsa como sinal do Reino que começa a se fazer
presente (cf. Lc 11,20). O ensinamento teológico é importante: onde entra o
Reino de Deus que Jesus veio trazer, o reino de Satanás e tudo aquilo que
demoniza a vida do homem é expulso! A Páscoa de Jesus é vitória que destruiu
tais potências demoníacas (cf. 1Cor 15,23-28; Cl 2,15). Em outros textos
neotestamentários, as vítimas dos sacrifícios pagãos são imoladas aos demônios
(cf. 1Cor 10,20s) e os demônios são apresentados como espíritos sedutores,
responsáveis por falsas doutrinas (cf. 1Tm 4,1); eles chegam mesmo a fazer
maravilhas (cf. Ap 16,14), são chamados “anjos de Satanás” (cf. Mt 25,41) e
lhes está reservado o fogo eterno. Quanto aos principados, tronos, autoridades,
soberanias, dominações e autoridades (cf. Rm 8,38; 1Cor 15,24; Ef 1,21; 3,10;
6,12; 1,16; Cl 2,10) são de difícil compreensão. O importante é que o Novo
Testamento afirma diante deles o absoluto primado de Cristo: se são perversos,
foram subjugados por Cristo; se são bons, têm a Cristo como cabeça e estão a
seu serviço! Um cristão jamais valoriza os demônios ou se fixa neles, jamais
vive falando neles ou os teme: Cristo é o Senhor, Cristo é o centro de tudo e
tudo que existe é a ele submetido!
Aqui é necessário perguntar: até que ponto o Novo Testamento, ao falar em
Satanás e em demônios, utiliza uma linguagem simbólica da mitologia para
personificar o mal? Satanás e seus demônios são seres reais ou somente símbolos
do mal e dos males presentes no mundo? Vamos responder a isto mais adiante!
Antes, vejamos o que ensinaram os Padres da Igreja, aqueles santos doutores da
Igreja Antiga. O Diabo é chamado sobretudo Satanás, o Maligno, Lúcifer (o
portador da luz; isto com base numa exegese inexata de Is 14,12 e Jó 41,10).
Metódio chama-o “faraó”, Basílio o denomina “misantropo” (inimigo dos homens,
ser anti-social) e muitos outros identificam-no com a serpente de Gn 3 e 2Cor
11,3. No que diz respeito aos demônios, os Padre os consideram anjos decaídos,
vítimas do desejo de possuir as filhas dos homens. Quanto ao Magistério da
Igreja, impelido pelos erros dualistas dos hereges priscilianos, o Papa Leão I,
ensinou em 447, que o diabo não é uma substância originária saída de modo
autônomo do caos: ele é criatura de Deus, essencialmente boa, que fez mau uso
de sua liberdade. Em outras palavras: o Diabo é criatura de Deus,
essencialmente bom, mas que se perverteu pelo mau uso de sua liberdade. Assim,
ensinava Inocêncio III, o seu pecado é estruturalmente igual ao dos homens: um
ato de livre vontade: “Nós cremos que o Diabo tornou-se mau não por
predisposição, mas por livre escolha”. O Sínodo de Braga, em 561 já
ensinava igual doutrina e rejeitou a opinião segundo a qual o Diabo seria o
responsável pelos trovões, raios e temporais ou, ainda, pela formação do corpo
humano no seio materno! Declaração infalível da Igreja sobre o assunto é a do
IV Concílio Lateranense em 1215: “O Diabo e os outros demônios foram criados
por Deus naturalmente bons e tornaram-se maus por sua própria culpa. E o homem
pecou por sugestão do Diabo”. A intenção do Concílio era condenar a heresia
dualista dos cátaros e albigenses: estes afirmavam que a matéria não é obra de
Deus e que o Diabo e os demônios também não são criaturas de Deus: eram
perversos e incriados ou chamados à existência por um princípio do mal
anti-divino, independente de Deus. O ensinamento primário do concílio é muito
sóbrio: ele ensina que há um só princípio, um só criador de tudo quanto existe:
Deus, criador de todo o bem. O mal não vem de Deus, mas do mau uso da liberdade
por parte da criatura. Assim, afirma-se a qualidade positiva da criação: tudo
que existe vem de Deus e é radicalmente bom!. O concílio não diz nada sobre o
número dos demônios, sobre sua culpa ou a extensão de seu poder. Em outras
ocasiões o Magistério pronunciou-se sobre o Diabo, mas somente de passagem: ele
é o soberano do império da morte e de todo o mal moral presente no mundo; ele é
sujeito a uma condenação perpétua.
Quanto ao modo de ação do Diabo e seus anjos no mundo, a teologia clássica e o
Magistério ordinário afirmam três modos diversos: (1) a tentação, que se faz à
maneira de sugestão, que desperta normalmente uma inclinação para o mal. Mas só
há pecado quando a pessoa consente na tentação; (2) a obsessão, ação diabólica
apenas exterior, na qual a vítima é atormentada fisicamente, sem que perca o
domínio sobre os atos do seu corpo: um tipo de doença, de dor, de mal-estar,
que não apresenta causa natural, e (3) a possessão, na qual o demônio se serve
do corpo da pessoa, como esta mesma o faria: move-o, fala, atua, sem que o
possesso consiga resistir a isso, embora sua vontade permaneça inatingida.
Convém ressaltar que não há nenhuma declaração solene da Igreja sobre temas
como a possessão e a obsessão.
Diante de tudo
quanto já vimos nas Escrituras, nos Santos Padres e no Magistério da Igreja,
podemos perguntar: hoje em dia, com o desenvolvimento das ciências psíquicas,
com o desenvolvimento científico e tecnológico, tem sentido ainda pensar que o
Diabo e seus demônios sejam seres pessoais?
Alguns
teólogos e estudiosos da Bíblia mostram-se hoje propensos a negar a existência
individual do Diabo: ele seria apenas uma manifestação concreta e simbólica do
mal moral no mundo, expressa numa cultura e numa linguagem pré-científicas
pelos escritos do Novo Testamento; seria apenas um modo mitológico para
representar o mal presente no mundo, mal tão forte e atuante , que ultrapassa a
simples soma dos males individuais. Segundo esses estudiosos, na atual
sociedade científica pensar num ser não humano que é pervertido, perverso e
perversor, seria uma concepção ingênua, insustentável e desnecessária! Há
outros teólogos mais moderados que afirmam que ainda que o Diabo não exista
como indivíduo, é absolutamente necessário continuar falando nele, como símbolo
do mal que ultrapassa a mera soma das opções negativas das liberdades
individuais e das maldades dos homens: o mal desencadeado pelo mau uso da
liberdade humana teria uma tal força e dinamismo que já não está mais sob o
controle do homem, mas se constitui uma realidade como que autônoma,
independente de nossa vontade. Por isso seria importante dar a este mal
incontrolável, que ultrapassa as forças do homem, uma cara e um nome: Diabo!
Mas, que pensar de tais tentativas de compreender a questão do Diabo? São de
acordo com a Escritura e com o Magistério da Igreja?
Já vimos que,
segundo a maioria dos teólogos, a existência dos anjos é verdade de fé definida
pela Igreja. Então, torna-se muito difícil negar a existência individual de
Satã e seus anjos sem ferir a fé eclesial! Como já foi dito anteriormente, se
existem liberdades criadas além da humanidade e se estas liberdades, apesar de
superiores às do homem, são também limitadas, finitas, então é necessário
afirmar que tais liberdades são capazes de um “não” a Deus e é plenamente
lícito supor que algumas de tais liberdades tenham, efetivamente, respondido de
modo negativo a Deus, afastando-se dele de modo definitivo! É isto que de modo
constante a Escritura Sagrada e a Tradição da Igreja ensinam! O próprio
Catecismo da Igreja reflete tal convicção: ”Por trás da desobediência de
nossos pais, há uma voz sedutora que se opõe a Deus. A Escritura e a Tradição
da Igreja vêem neste ser um anjo caído chamado Satanás ou Diabo... O Diabo e os
outros demônios foram criados naturalmente bons por Deus, mas por si mesmos se
tornaram malvados” (Catecismo, 391 – aí o texto cita o Concílio Lateranense
IV). Assim, deve-se manter firmemente como sendo parte da fé católica a
afirmação da existência do Diabo e seus demônios. No entanto, é necessária a
moderação e um mais cuidadoso senso crítico nas afirmações que muitas vezes são
feitas sobre o Diabo e os demônios. Há grupos de cristãos que fazem tanta
propagando do Diabo, falam tanto em possessão e coisas do gênero, têm uma visão
tão infantil e tola sobre estes temas, que chegam perto da heresia! A fé não
nos deve fazer tolos e infantis!
Aproveitando o
pensamento de grandes teólogos da atualidade, gostaria de fazer algumas
observações sobre este tema. (1) Não se pode com tranqüilo desembaraço afirmar
que Jesus, no que diz respeito ao Diabo, simplesmente conformou-se à
mentalidade do seu tempo: quer dizer, ele falou no Diabo porque as pessoas
acreditavam no Diabo, mas o Diabo mesmo não existiria! Ora, nem todos na
cultura judaica do tempo de Jesus aceitavam a existência de Satã: é o caso dos
saduceus (cf. At 23,8). Então, se Jesus falou sobre Satã, é porque queria
realmente ensinar algo sobre ele e prevenir-nos de sua ação nociva! (2)
Comparando o Novo Testamento com o Antigo, podemos ver como que um aumento
enorme da ação do Diabo, sobretudo no ministério de Jesus! Por quê? Porque
quanto mais o homem está próximo a Deus, tanto mais torna-se realista, lúcido e
com mais clareza distingue e experimenta o que é santo; em contrapartida,
consegue desmascarar o engano do Diabo: ali, onde ninguém vê o mal porque o mal
está mascarado, ele consegue enxergá-lo e desmascará-lo. Ora, é precisamente
esta a realidade trazida por Cristo: ele é a Luz; com ele as Trevas são
desmascaradas e dissipadas! Por isso manifestam-se em toda a sua força: “É a
vossa hora e o poder das Trevas” (Lc 22,53). (3) Para avaliar se alguma
doutrina é mais ou menos importante para a fé cristã, é necessário sempre
perguntar que relação ela tem com a realização prática da vida de fé do crente.
Ou seja, uma verdade de fé que tenha um influxo mais direto no desenvolvimento
prático da existência cristã deve ser considerada como parte daquilo que é
essencialmente cristão. Ora, a luta de Jesus com as potências demoníacas
pertence ao específico caminho religioso do próprio Jesus: os estudiosos atuais
reconhecem que Jesus, na sua vida histórica, se considerava vindo ao mundo para
destruir o reino de Satanás e instaurar o Reino de Deus na força do Espírito
Santo (cf. Mc 3,20-30). É surpreendente que ele, que não aceitava ser um
Messias “milagreiro”, considerasse a luta contra o Diabo como parte central de
sua missão (cf. Mc 1,35-39) e dos poderes que ele concede aos discípulos (cf.
Mc 3,14s). É de tal modo importante como Jesus se refere a tais forças
demoníacas e sua luta contra elas, que se retirássemos este aspecto, a missão e
o caminho espiritual de Jesus teriam que ser interpretados de um modo
totalmente diferente! (4) É necessário também observar de que modo determinadas
realidades da Escritura foram acolhidas na fé da Igreja: a Igreja deu-lhes uma
importância central ou, mesmo sem negá-las, deu-lhes uma importância menor? No
nosso tema, pensemos no Batismo, que é experiência central do ser cristão e
sempre foi celebrado na Igreja num contexto de luta contra os demônios (basta
ver as orações de exorcismos que ainda hoje são feitas sobre os que vão ser
batizados!) e renúncia a Satanás, introduzindo o homem no modo de existência de
Cristo, na sua luta e na sua liberdade. Para o Novo Testamento e para a Igreja,
a partir do Batismo o cristão deverá apropriar-se do caminho do próprio Senhor,
vencendo Satanás como Jesus venceu. Portanto, negar a potência demoníaca
implicaria numa radical mudança do modo de conceber o Batismo e sua realização
na vida cristã! Neste sentido, é importante que a teologia esteja atenta à
experiência dos santos. A experiência deles é a mesma de Jesus: quanto maior é
a presença da santidade, menos o diabólico pode esconder-se. É sintomático que
o escondimento do demoníaco no mundo atual intensifica-se na mesma proporção do
desaparecimento do que é santo! Quanto menos santidade, menos consciência do
Diabo e de sua obra - o pecado!
Já afirmei que
não devemos negar a existência do Diabo e seus demônios, e expliquei o motivo.
É verdade que um sério problema atual é a questão de conciliar a fé com a visão
científica e até mesmo materialista do mundo atual. Ora, a fé deve ser
continuamente crítica daquilo que muitas vezes aparece para o mundo como
certeza absoluta simplesmente porque é moderno e novo. Se é verdade que a fé
deve respeitar a ciência e não pode contradizer um conhecimento científico
garantido e comprovado, não é menos verdadeiro que ela não pode se mover ao
sabor dos gostos e modas mentais de cada época e, particularmente, do mundo
atual.
Biblicamente
falando, é inegável a convicção da existência de forças demoníacas. Também é
inegável que tais forças são apresentadas e denominadas de modo muito variável
na Escritura. Ora, o problema de sua existência não pode ser resolvido com um
simples sopro de desmitização: não basta argumentar que o Diabo e seus demônios
são apenas frutos de uma linguagem própria de uma cultura pré-científica e
supersticiosa e apenas simbólica e que anjos e demônios não têm uma existência
individual concreta! O modo verdadeiro de o homem se libertar do Diabo não é
negando sua existência, mas sim colocando-se debaixo do senhorio do Cristo, que
vence o mal e as trevas! Por outro lado, é preciso superar aquela visão do
Diabo e dos demônios ligadas a um modo de ver o mundo naquela época, como, por
exemplo, responsabilizar os demônios pelas doenças, pelos males psíquicos e por
todos os problemas da vida ou falar em “potências dos ares” (cf. Ef 2,2). É
ridículo e vergonhoso o uso que as seitas pentecostais fazem do Diabo, com
prática de falsos exorcismos e outras bobagens! Que os grupos católicos tenham
cuidado para não colocarem o Diabo em tudo e verem o Diabo em tudo e em todos. A Igreja
não é uma seita nem curral de fanáticos ignorantes!
Uma questão muito interessante é a seguinte: o Diabo é um ser pessoal? O melhor
é responder assim: o Diabo é um ser individual, um ser com vontade e
inteligência, mas não é um ser pessoal. Por quê? Que significa isso? Vejamos!
Que é uma pessoa? É um ser capaz de profunda coerência interior e capacidade de
ter relação construtiva com os outros, numa autêntica dimensão de relação
eu-tu, no diálogo, na comunicação e na responsabilidade construtiva. Quem é
incapaz de amar, de doar-se e de fazer comunhão, vai se despersonalizando!
Assim, “pessoal” indica algo de exigência de amor, de construtivo, não sendo
uma realidade neutra, mas pressupondo um verdadeiro encontro. Como, então falar
do Diabo como pessoa? Ele é “homicida desde o princípio e não permaneceu na
verdade porque nele não há verdade: quando ele mente, fala do que lhe é
próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo 8,44). Então, podemos
fazer as seguintes observações:
(1) Satanás é
um ser dotado de capacidade de conhecimento e vontade que, porém, não lhe
servem para conhecer a verdade e desejar o bem, de modo que o seu agir é
profundamente condicionado pela vontade de destruição. Na sua essência
puramente espiritual aparece o quanto o mal não é somente privação do bem, mas
também um agir ativo contra o bem: o Diabo não é somente uma coisa má; ele é
malvado, “Maligno”, no dizer de Jesus, que nos ensinou a pedir: “Livra-nos
do Maligno” (Mt 6,13)! Portanto, o bem e o mal, do ponto de vista
teológico, só podem ser definidos em relação a Deus, isto é como uma falta
diante de Deus ou perversão da relação com ele. Malvada é aquela criatura
dotada de liberdade que não reconhece o sentido do seu ser de criatura e quer
ser ela mesma seu deus. Ora, o sentido do ser contra Deus somente pode ser
encontrado no ser Ninguém: Satanás é Ninguém, mas não é nada! Assim, o mal de
Satanás e seus anjos constitui-se na livre negação de Deus e do seu plano
salvífico em Jesus
Cristo. O mal, portanto, não é simples privação do bem, mas
privação de Deus até à perversão de si mesmo, do seu ser criatural: o Diabo é
dobrado sobre si mesmo, fechado, endurecido, não pelo seu próprio ser criado,
mas por livre decisão sua, de modo que ele subverte seu próprio ser e anula sua
própria liberdade como capacidade de bem, de resposta positiva ao Criador, de
tal sorte que ele é o Maligno, de um modo que não é possível encontrar nenhuma
comparação com tal situação na esfera criada. Dramaticamente, sua essência é o
não estar jamais contente consigo mesmo na sua obra de destruir, desejando
destruir sempre mais! Por tudo isso, o Maligno é contraditório, perverso,
esquizofrênico, totalmente alienante, absurdo, desorganizado, destrutivo e
caótico.
(2) O poder
das trevas se manifesta, mas jamais se revela: o Diabo esconde-se a qualquer
identificação: ele é o “Príncipe das Trevas”, agindo sempre no escuro... e aqui
reside a fonte da incompreensibilidade do Maligno: único na sua essência,
múltiplo no seu aparecer, nada e ao mesmo tempo extremamente destrutivo,
pessoal e ao mesmo tempo irreconhecível, transfigurado em anjo de luz! Por isso
mesmo, ele é a negação de pessoa e da personalidade: ele age de um modo que
dissolve a pessoa, deformando o homem em uma massa, uma multidão sem
personalidade, sem moral e sem forma, que pensa que se acha livre de toda a
responsabilidade pessoal. É o que se esconde por trás das modas do mundo, por
trás dos poderes anônimos dos meios de comunicação, dos mercados financeiros e
das potências políticas... O Diabo não tem cara, não tem identidade! É aqui que
aparece a característica do demoníaco: a sua ausência de fisionomia, o seu ser
anônimo, impessoal: ele é não-pessoa, a desagregação, a dissolução do ser
pessoa, o sem-face, de modo que sua irreconhecibilidade é sua verdadeira força.
Assim, ele é uma potência real, ou melhor, um concentrado de potências e não
uma simples soma de “eu” humanos. Daqui é possível compreender como a força
anti-demoníaca por excelência seja o Santo Espírito do Ressuscitado: ele é o
laço de Amor no qual Pai e Filho se constituem numa só coisa; nele o cristão
encontra a unidade com Deus em Cristo e, através de Cristo, com os irmãos;
nele, no Santo Espírito, somos muitos, mas formamos um só corpo; ele é unidade
que respeita a diversidade e diversidade que gera unidade! Por isso mesmo o
cristianismo terá sempre uma missão de exorcismo: não aqueles exorcismos ridículos
das seitas pentecostais, mas sim o verdadeiro exorcismo: desmascarar e expulsar
o demoníaco que se esconde no anonimato das modas e ideologias de cada época e
no nosso próprio coração. O primeiro e mais importante exorcismo é descobrir,
com a luz de Cristo, nossos demônios e expulsá-los em nome do Senhor
ressuscitado... expulsá-los também das realidades e estruturas pecaminosas do
mundo!
(3) Estas
reflexões mostram que o ser pessoal do Diabo revela aspectos coletivos, a
tendência de mascaramento, a intenção de enganar e o caráter de anonimato: “o
mundo é assim mesmo... se todo mundo faz assim, pensa assim, então o certo é
assim...” – pensar e viver deste modo é diabólico! O Diabo é não-pessoa,
manifestando-se em estruturas tipicamente a-pessoais, dissolvidas na massa. É
exatamente aqui que os cristãos receberam de Cristo a missão de exorcizar
Satanás e seus demônios: é dever dos discípulos de Cristo desmascarar e
denunciar o mal, exorcizando-o em nome do Ressuscitado: a “inocência” diabólica
da Xuxa, a “bondade” pagã do Gugu, a gracinha maléfica do Papai Noel, a “paz”
do carnaval, a “liberdade” que os sexólogos defendem e que não passa de vulgar
egoísmo e irresponsabilidade... Este exorcismo não se constitui simplesmente
numa renúncia ao mal, “humanamente correta”, mas numa invocação do poder
daquele Cristo Senhor, que recebeu toda autoridade no céu e na terra: somente
na sua graça e com sua força o homem poderá vencer e expulsar o Maligno do seu
coração e do coração do mundo!
Já vimos que é de fé da Igreja a convicção da existência dos anjos e,
conseqüentemente, dos demônios. Também vimos que não se deve ver o demônio em
tudo! O Pe. Oscar Quevedo, no seu livro “Antes que os demônios voltem” procura
exatamente acabar como esta mania de demônios que muita gente possui. No
entanto, o Pe. Quevedo exagera na direção contrária, afirmando que os demônios
não agem no mundo. Isso não é verdade e, para sermos bem francos, fere a fé
católica! Com prudência e bom senso, analisemos as três formas de ação dos
demônios no mundo:
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