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HOMILÉTICA
Introdução
A pregação é um milagre
duplo. O primeiro milagre é Deus usar um homem imperfeito, pecador e cheio de
defeitos para transmitir Sua perfeita e infalível Palavra. Trata-se de um Ser
perfeito usando um ser imperfeito como seu porta-voz. Só um milagre pode tornar
isso possível. O segundo milagre é Deus fazer com que os ouvintes aceitem o
porta-voz imperfeito, escutem a mensagem por intermédio do pecador e,
finalmente, sejam transformados por essa mensagem. Esse é o grande milagre da
pregação.
As técnicas são indispensáveis para uma boa pregação. Embora todas as técnicas
ajudem o pregador, porém, não fazem dele um pregador. Par ser um bom pregador é
preciso ter a técnica e algo mais. Esse algo mais é o milagre do Espírito
Santo. O pregador deve rezar, meditar e se colocar inteiramente nas mãos de
Deus, para então, depois disto, pregar.
A leitura é uma parte importante do sermão. Ela deve ser bem feita, observando
as pontuações estabelecidas, com suas pausas e mudança de personagem. O
pregador precisa manter o contato com o público através do olhar, se fazendo
próximo dos ouvintes.
1. Conceito geral de homilética;
O termo Homilética é derivado
do Grego “HOMILOS” o que significa, multidão assembléia do povo, derivando
assim outro termo, “HOMILIA” ou pequeno discurso do verbo “OMILEU” conversar.
O termo Grego “HOMILIA”
significa um discurso com a finalidade de Convencer e agradar. Portanto,
Homilética significa “A arte de pregar”.
A arte de falar em público
nasceu na Grécia antiga com o nome deRetórica. O cristianismo passou a usar esta arte
como meio da pregação, que no século 17 passou a ser chamada de Homilética.
Vejamos algumas definições que envolve
essa matéria:
Discurso
- Conjunto de frases ordenada faladas em
público.
Homilética - É a ciência ou a arte de elaborar e expor
o sermão.
Oratória - Arte de falar ao público.
Pregação - Ato de pregar, sermão, ato de anunciar
uma notícia.
Retórica - Conjunto de regras relativas a
eloquência; arte de falar bem.
Sermão - Discurso cristão falado no púlpito.
HOMILETIKE – (Grego) ensino em tom familiar
HOMILIA – (do verbo homileo ) Pregação
cristã, nos lares em forma de conversa.
PREGAÇÃO Ato de pregar a palavra de Deus.
Pregação é o
ato de pregar a palavra de Deus. Pregador (aquele que prega), vem do latim,
“prae” e
“dicare”
anunciar, publicar. Apalavra grega correspondente a pregador é “Keryx”, arauto,
isto é, aquele
que tem uma
mensagem (Kerygma) do reino de Deus, uma boa notícia, uma boa-nova – evangelho,
“evangelion”.
DEUS, A
PALAVRA E O MINISTRO
Deus/Pregador/ Ouvinte/comunidade
O pregador
dirigi-se a Deus e transmite ao ouvinte a mensagem levando-o a Deus.
Baseando-se em
três passagens da vida de Pedro o pregador deve ser:
1 – Aquele que
esteve com Jesus - Atos 4:13
2 – Aquele que
fala como Jesus – Mateus 26:73
3 – Aquele que
fala de Jesus – Atos 40:10
A proclamação do evangelho é
trazer as Boas Novas da Salvação. Apresentar ao público Jesus Cristo,
seus ensinamentos e seu propósito, para isso, é preciso que o mensageiro tenha
uma identificação completa com Cristo. Conhecer a Cristo de forma especial é
além de ser convertido Ter certeza de uma chamada (missão) específica para o
ministério da palavra o que só é possível a aquele que “esteve com Jesus”.
2.
Pespectiva histórica da homilética
Há três disciplinas
teológicas que estão direta e explicitamente relacionadas ao culto
público: a Liturgia, a Hinologia, e a Homilética. A presente abordagem
trata, especificamente, desta última: a Homilética, como um capítulo fundamental
da Teologia Pastoral (em estreita dependência à Teologia Bíblica e à
Sistemático-Histórica).
No texto de Lucas 24.15 — cujo
contexto é o do encontro de Jesus ressuscitado com dois de seus discípulos
no caminho de Jerusalém a Emaús —, o verbo grego homileo é empregado para descrever o diálogo
em tom familiar e afetivo dos dois discípulos que trocavam idéia entre
si a respeito dos últimos acontecimentos relativos à condenação e à
morte de Jesus. Homileo — da mesma raiz das palavras Homilia e Homilética — significa,
em princípio, “estar em companhia de”, e, por implicação, conversar,
comungar. Em português, o verbo conversar é resultado da composição com + versar,
o que pressupõe a interação mediada pela palavra entre duas ou mais pessoas.
O mesmo versículo diz ainda
que os discípulos “discutiam”, que em grego (suzeteo) significa
“investigar junto com”, isto é, controverter, disputar, inquirir, questionar
(com), arrazoar (junto). Os acontecimentos relacionados à fé e à vida
e morte de Jesus eram objeto não somente de diálogo informativo, mas de exercício
especulativo. Os acontecimentos não devem ser objetos de mera informação
e assimilação, mas devem ser problematizados com vistas à sua
superação.
Outro verbo importante nesse
verso é o que descreve a atitude de Jesus: enquanto os discípulos faziam
suas homilias e levantavam seus questionamentos críticos, “o próprio
Jesus se aproximou”. O
verbo eggizo empregado aqui enfatiza o ato de
“chegar perto”. estar “ao alcance da mão”.Por fim, o mesmo verso afirma
que Jesus “ia com eles”. O verbo sumporeuomai,
que pode ser traduzido por “caminhar junto”, significa também “assumir
uma estratégia ou curso de ação com vistas a resolver uma situação difícil”.
A narrativa parece sugerir que, quando a Igreja dialoga e reflete a respeito
do Evangelho, o próprio Cristo se aproxima para fazer parte desse encontro
dialógico: “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome,
ali estou no meio deles” (Mt 18.20). É isso que pretendemos promover
neste texto: um diálogo afetivo a respeito da
comunicação do Evangelho (Homilética); a problematização dialógica
a respeito das dificuldades no processo interpretativo (exegético e
hermenêutico); o que pressupõe uma aproximação da nossa vida com o seu
autor, o Verbo encarnado, num caminhar comum em busca da mesma experiência
de ressurreição (Teologia da Proclamação).
2.1
Pregação, Homilia, Sermão, Prédica, Parênese
Qual a diferença entre “pregação”
e “sermão”?
Devemos ter claro que a “pregação”
(do lat. predicatio e do gr. kerygma), em sentido lato é
muito mais ampla que aquela peça oratória pronunciada no contexto celebrativo
do culto. A “pregação” é tudo o que a igreja vive na prática como testemunha
do Evangelho. A proclamação do Evangelho é a grande tarefa missionária
da Igreja. Portanto, o “sermão”
é apenas uma das diferentes formas pelas quais a Igreja prega o Evangelho,
ao lado do testemunho pessoal, da solidariedade comunitária, dos
atos de piedade e das obras de misericórdia. A pregação acontece por
meio de gestos e palavras, de literatura e cânticos, da arte e dos símbolos, etc.
Mais especificamente
falando, a homilética é entendida como a disciplina que
se ocupa da ciência e da arte da pregação de sermões religiosos — ciência,
porque estuda criteriosamente os processos do discurso religioso e
arte porque aplica-se ao estudo das suas técnicas. A palavra tem origem no
termo grego homiletikos que, por sua vez deriva de homilos que significa “multidão”, “assembléia
do povo”.Pelo que se sabe, os primeiros cristãos empregavam o termo para
designar a “assembléia do culto”. O verbo grego, homileo, que se traduz por
“conversar”, passou a ser empregado para indicar os discursos em tom familiar
que eram feitos nessas reuniões ou assembléias. Do verbo homileo deriva-se o substantivo homilia, que passou a designar
as exposições instrutivas (exortativas) que se fazia das escrituras
no contexto litúrgico das primeiras comunidades cristãs. A homilia se
constituiria, assim, em uma das formas da pregação cristã.
Embora o produto homilético
receba, com freqüência, diferentes designações, tais como pregação,prédica, parênese, homilia e sermão,
em sentido restrito, tais expressões referem-se àquela peça oratória, discursiva
que se dá no contexto celebrativo da comunidade de fé. O caráter específico
da homilética se dá em virtude de sua vinculação litúrgica. É esse o
diferencial que distingue o “sermão” de outros discursos: o contexto
litúrgico.
Pode-se estabelecer o
seguinte roteiro histórico da práxis homilética: os antecedentes da
homilética cristã no período do Primeiro Testamento (Bíblia
Hebraica); a homilética no período do cristianismo primitivo; durante os
quatro primeiros séculos da era cristã; durante a Idade Média; no período
da Reforma Protestante; a partir da Reforma Protestante; durante o
período dos movimentos evangelísticos e missionários; e a pregação
recente e contemporânea.
2.2 A
homilética antes da homilética
A homilética cristã é
historicamente herdeira da tríplice hierarquia judaica: rei — sacerdote — profeta.
Pode-se dizer dos Sacerdotes que praticavam uma homilética da celebração do
cotidiano. O sermão
sacerdotal atua, em geral, como recapitulação da memória fundante de
Israel e convocação à prática dos preceitos dados por Deus e registrados
nos escritos sagrados — Torá (Lei), dos Nebiim (Profetas) e dos Ketubim (Escritos).
Quanto aos Reis-pregadores, tratava-se
de uma homilética da
sabedoria familiar. Na
Bíblia Hebraica, constata-se a responsabilidade homilética de chefes de
família, de clãs e de reis. É interessante notar que o mapeamento da sabedoria
semita, principalmente de Israel, mostra o trabalho dos sábios que coletam
as memórias (e demais produções sapienciais, tais como ditos, sentenças
e provérbios) das bases populares, submete-as à interpretação das escolas
sapienciais, organizando por fim coletâneas e antologias. A obra se
torna o espelho da consciência do povo. O papel de pregador não se restringia
aos reis. Também era responsabilidade dos “anciãos de Israel”, isto é,
dos chefes de família, explicar para os seus familiares e agregados o
sentido das festas e das cerimônias religiosas que, como povo, celebravam
anualmente. Por essa prática homilética as tradições e a cultura religiosa
eram transmitidas de geração a geração.
Quanto aos Profetas, sua homilética é a da contestação
e da esperança. A homilética profética judaica se manifestava
de duas maneiras: no anúncio das promessas divinas e nas denúncias de eventuais desvirtuamentos
em relação à vontade divina. Deve-se acrescentar, a respeito dos profetas,
que sua pregação não se restringia ao discurso oral. Muito de sua pregação
se efetivava por meio de atos simbólicos, do gestual, do vestuário (ou
ausência dele) e do seu próprio estilo de vida. Os profetas se comunicavam
verbalmente (alguns chegavam a gritar, cf. Is 40.6), alguns poucos escreviam
suas mensagens, mas, “falado ou escrito, o seu discurso, feito de palavras
e de frases, se desdobrava em outra linguagem, a dos sinais, dos gestos”.
Portanto “a palavra dos profetas era também ‘gestual’; as suas proclamações
oratórias eram pontilhadas de atos significativos”: rasgando mantos (1Rs 11.30 – 32),
brandindo chifres de ferro (1Rs 20.35 – 43), casando com prostitutas (Oséias),
dando nomes-mensagens aos filhos (Is 7.3; 8.3; 7.14; 8.3s), andando nus e descalços
(Is 20), lavando cintos no Eufrates (Jr 13.1 – 11),
quebrando jarros (Is 19), carregando cangas no pescoço (Jr 27),
trancando-se em casa, mudos e atados (Ez 3.24 – 64),
cortando fios da barba e do cabelo (Ez 5.1 – 3),
comendo alimento de miséria (Ez 12.17 – 20), para citarmos uns poucos exemplos.
Da profecia bíblica, a práxis
homilética herdou a solidariedade para com o povo oprimido e o engajamento
no serviço de uma Palavra que transcende o orador o discurso verbal, chegando
mesmo a expressar-se espetacularmente por meio de atos simbólicos significativos,
com vistas à transformação da realidade.
2.3 A
homilética cristã
A análise da práxis homilética
de Jesus, dos apóstolos e dos primeiros líderes cristãos, ajudará na compreensão
do conceito de pregação cristã. Jesus: uma homilética da
(con)vivência: Conforme
relato das comunidades dos evangelistas Lucas, e Marcos, principalmente,
o próprio Jesus teria afirmado que sua missão consistia numa tarefa
homilética (ver Lc 4.18 – 19 e Mc 1.38 – 39).
Em síntese, Jesus era um pregador itinerante.
Pelos registros evangélicos,
nota-se que Jesus pregava com simplicidade sobre uma grande variedade
de temas e que conquistava a simpatia dos seus interlocutores. Nas páginas
dos evangelhos, Jesus é sempre encontrado pregando: quer sejam pregações
formais nas sinagogas; pregações ocasionais nas praias, pelos caminhos,
sobre as montanhas e vales; ou pregações individualizadas dirigidas
a pessoas com quem se encontrava nas casas, nas praças, alhures e algures.
Note-se o uso que
Jesus fazia da linguagem imagética, do raciocínio analógico, das
figuras de linguagem, particularmente as metáforas, da cenografia,
das possibilidades acústicas, da linguagem corporal, etc. A maneira
como seus discursos surpreendem, despertam o interesse, apresentam o
contraponto ideológico e rendem o auditório são dignos de nota.A interpretação
mais notável que os evangelhos fazem do estilo homilético de Jesus é o registro do Sermão da Montanha (Mt 5). A homilética de
Jesus não seria tão notável, entretanto, se estivesse restrita somente
ao nível do discurso. A força persuasiva da sua pregação é reforçada
por seu modo de vida. A novidade da homilética de Jesus está, portanto,
na sua práxis, isto é, na maneira como ele combina palavra e ação: é, portanto,
uma homilética da vivência e da convivência.
Pedro e Paulo: uma homilética da
emoção e da persistência: o sermão de Pedro, no dia de Pentecostes
(At 2.14 – 36), se caracteriza pela ausência do
elemento subjetivo; pelo mérito conferido à obra do Espírito Santo; pelo
apelo à história e à profecia, como base da fé; pela citação abundante
das Escrituras; pela proclamação direta do evangelho (culpabilidade
humana e salvação mediante a morte e ressurreição, ascensão e glorificação
de Jesus). Pedro evoca os
escritos proféticos para fundamentar sua prédica. A seguir, interpreta
a palavra profética a partir da vida e dos ensinamentos de Jesus. Mais
do que re-interpretar o texto sagrado, o próprio Jesus é apresentado
como o Messias a respeito de quem os textos sagrados se referem.
Os “sermões” de Paulo, brevemente relatados
nas páginas do Novo Testamento são suficientes para deixar transparecer
o seu gênio homilético. Não obstante Paulo se considera um mau pregador
(ironia?) quando comparado a um certo Apolo, famoso por sua eloqüência (cf.
1Co 2 e 3). As características da pregação de Paulo podem ser percebidas
a partir do sermão proferido no Areópago, na cidade de Atenas, conforme
relatado por Lucas (At 17.16 – 31). Note-se, nos versículos 22 e 23, a sintonia do pregador
com a audiência e sua capacidade para apresentar novas idéias a diferentes
auditórios. Também a criatividade para tratar o assunto de tal maneira
que desperte a curiosidade dos ouvintes. Paulo demonstra familiaridade
com as Escrituras e com a literatura em geral, chegando a citar poetas
gregos. Nota-se, ainda, o cuidadoso preparo da pregação com abundantes
recursos lógicos e psicológicos.
A pregação apostólica demonstrou
ser emocionalmente contundente a ponto de enfrentar oposições de uma
religião estabelecida, por um lado, e, por outro, corajosa e persistente
o bastante para disseminar e propagar suas convicções por grande parte
do mundo conhecido nos primórdios da era cristã.
A pregação nos primeiros séculos: uma homilética
familiar e eloqüente: Ao longo de três séculos, a pregação
teria apresentado distinto progresso. O caráter menos técnico de pregações
como as de Pedro, deu lugar a uma forma mais sistematizada de discurso; o
ensino, que era principalmente expositivo, tornou-se lógico e claramente
demarcado; a homilia, que tinha caráter informal, foi substituída pelo
sermão, muito mais formal; os argumentos até então simples e suficientes,
baseados unicamente nas Escrituras, agora carecem da complementação
da opinião humana por causa do aumento da erudição do público; a essa
influência intelectual acrescente-se o efeito da cultura retórica. Nesse período, a prédica se
caracterizou definitivamente como parte integrante da expressão litúrgica
das comunidades cristãs.
Cultura geral, conhecimento
dos textos bíblicos e de autores clássicos, conhecimento dos princípios
da gramática e da retórica, bem como da exegese bíblica (com os limites
da época, naturalmente, pois a noção de exegese era diferente do que a
modernidade consagrou por meio do método histórico-crítico), traduzidas
num discurso acessível e apaixonado, proferido no contexto celebrativo
da comunidade cristã, fizeram de pregadores como Jerônimo, Ambrósio e
Agostinho, referência homilética para as futuras gerações de pregadores
cristãos.
2.4 A
homilética medieval
A
pregação na Idade Média: uma homilética mendicante: O período de nove séculos que formam a
Idade Média, que vai desde a queda do Império Romano (séc. V), até o nascimento
do mundo moderno (séc. XV), é marcado pela propagação do cristianismo
por toda a Europa. Nele se dá a transição do fim da Patrística e o começo da
Escolástica.
A Idade Média foi marcada
por um tipo de racionalidade muito peculiar, por um lado, e por uma mística
inusitada, por outro.A homilia — como discurso familiar, simples e
íntimo — foi substituído pelo discurso tópico
(temático), bem ao gosto dos melhores pregadores gregos, e nos moldes da
filosofia escolástica. Espacialmente falando, na arquitetura eclesiástica
oficial, procede-se a elevação suntuosa e chamativa do púlpito “por
sobre a cabeça da assistência”, o que demonstra, pelo menos no âmbito eclesiástico
oficial “o tom altamente retórico da pregação durante a Idade Média”.
Em contrapartida à Escolástica,
dissemina-se uma mística que contagia o povo e alarma a hierarquia, que
ficou conhecida como movimento das ordens mendicantes. Dentre seus maiores
expoentes está Francisco de Assis (1182 – 1226). Francisco de Assis preferia pregar
a céu aberto para as multidões que se ajuntavam ao seu redor, em lugar de
fazê-lo nas igrejas, mesmo aquelas que se ofereciam para acolhê-lo. Sua pregação
se distanciava do intelectualismo e do dogmatismo rígidos do seu
tempo e procurava apresentar Cristo “de todo o seu coração”, convidando
seus ouvintes para seguirem a Cristo como ele mesmo o fazia. Essa postura não
o protegia das superstições que grassavam nas camadas populares, a despeito
da ortodoxia do alto clero. Tais eram os pregadores místicos: faziam
votos de pobreza e de castidade, entusiásticos e dedicavam-se à pregação
em linguagem vernácula (enquanto o alto clero preferia o latim), e
freqüentemente buscavam inspiração na natureza e apelavam para o exemplo
de Jesus, enfatizando sua humildade e pobreza. “Se os Escolásticos eram
luz sem coração, os Místicos eram coração sem luz”.
2.5 A
homilética reformada
A
pregação na Reforma: uma homilética professoral: Para Whilhelm Pauck, “nada é mais característico
do Protestantismo do que a importância que ele dá à pregação”. Muito embora
a prédica sempre tenha sido importante na história do cristianismo,
ela nunca teve papel tão central como no período da Reforma Protestante do
século XVI.
Para os reformadores, particularmente
Martinho Lutero (1483 – 1546) e João Calvino (1509 – 1564),
a Igreja se encontra onde a Palavra de Deus é corretamente pregada e
ouvida e os sacramentos são corretamente administrados e recebidos.
Assim, surge uma nova concepção
do termo “ministro”, este é, agora, o minister
verbi divini (servo da Palavra
de Deus). Os reformadores se referiam costumeiramente ao “ministro”
ordenado como “pastor”, mas mais freqüentemente como “pregador” (Prediger ou Praedikant). O povo em geral,
se referia aos ministros como “pregadores”.
No tempo de Lutero, era prática
comum pregar-se um livro da Bíblia todo, domingo após domingo. Segundas e
terças-feiras pregava-se sobre uma parte do catecismo, do decálogo, do credo,
da oração do senhor ou sobre os sacramentos. O sermão de quarta-feira
centrava-se no evangelho de Mateus e nas quintas e sextas, expunham-se
as epístolas. O evangelho de João oferecia a base para o sermão dos
ofícios realizados aos sábados. Os reformadores se viram às voltas
com a ignorância do povo em geral e do clero em partirular. Para enfrentar
esse desafio, foram tomadas providências para que o púlpito se convertesse
em um meio de instrução. A ênfase da homilética reformada não era, portanto,
convercionista, nem pretendia provocar emoções ou sentimentos,
mas inspirava discursos cada vez mais catequéticos e doutrinários. O
tom da tarefa do ministro clérigo torna-se predominantemente didático,
mesmo a administração dos sacramentos é acompanhada por algum tipo de
instrução.
Se a arquitetura marcou a
identidade homilética medieval, com seus suntuosos e elevados púlpitos,
a homilética reformada ficou caracterizada pelo figurino, com a substituição
da indumentária sacerdotal pelos trajes acadêmicos. Os paramentos sacerdotais, típicos
da igreja romana, deram lugar à toga do acadêmico secular (chamada de schaube).
Uma possível síntese da doutrina da
prédica reformada pode assim ser expressa, no entendimento de Michael
Rose: (1) a primazia da palavra oral em relação aos outros meios de graça;
(2) a Palavra de Deus deve consolar e libertar a consciência moral do
ser humano por meio da prédica evangélica; (3) somente a Cristo se deve
pregar (solus Christus praedicandus); (4) a pregação da Palavra
se destina ao indivíduo; (5) integração ou nexo entre pregação, culto e
espaço público; e (6) troca do meio de pregação mais acentuadamente
visual para uma comunicação mais acentuadamente auditiva, lingüística.
2.6 A
homlética no Pós-Reforma
A
pregação no pós Reforma: uma homilética apologética e iluminada: Após a ruptura eclesiástica resultante
da excomunhão de Martinho Lutero do quadro sacerdotal da igreja
romana, a igreja cristã ocidental enfrentou os séculos subseqüentes dividida
e dividindo-se.
A homilética nos séculos do
pós-Reforma (XVII e XVIII) é marcada pelo Movimento Tridentino
(Contra-Reforma), o Pietismo e o Iluminismo. Esse também foi um
período que recebeu muita influência das reflexões místicas de Santa
Teresa D’Ávila (1515 – 1582) e de São João da Cruz (1542 – 1591).
A retomada da ortodoxia
romana, pelo movimento da Contra-Reforma, promoveu, em contrapartida, a
reafirmação da ortodoxia reformada. Nesse período a prédica ocupava-se
da reafirmação e da instrução da reta doutrina, em contraposição a
“outros conteúdos doutrinais, principalmente os católicos”, o que significa
dizer que “a edificação ou a nutrição da fé não tinham um papel tão decisivo”. Trata-se, portanto de uma pregação
apologética marcada por disputas teológicas e controvérsias doutrinárias,
tanto por parte da igreja romana como das protestantes — uma
enfática guerra de ortodoxias.
Outro movimento que influenciou
a práxis homilética a partir do século XVIII foi o avivamento religioso
inglês. Na primeira metade do século XVIII, teve início um movimento liderado
George Whitefield (1714 – 1770) e por John Wesley (1703 – 1791)
e que pretendia “reformar a nação e, em particular, a igreja; para espalhar
a santidade bíblica sobre toda a terra”.
Desprestigiada pela igreja
oficial, a prática homilética desse movimento se notabilizou pela realocação
dos púlpitos para as praças e outros lugares públicos fora das fronteiras
eclesiásticas. Também o auditório seleto dos templos foi substituído
pela massa excluída pela igreja oficial. A pregação passou a ser dirigida
aos pobres, aos trabalhadores das minas, aos escravos, aos prisioneiros,
aos desempregados, e à multidão que vagava pelas ruas em busca de esperança
e do pão cotidiano.
2.7 A homilética moderna
A pregação no
tempo das missões: uma homilética conversionista e estrangeira: Os séculos XIX e XX ficaram marcados,
pelo menos nas igrejas protestantes, pela obra missionária estrangeira
mundial. Tanto o movimento missionário como o filantrópico do princípio
do século XIX foram resultado do avivamento evangélico deflagrado pela
geração de John Wesley. Não obstante os prejuízos e preconceitos
culturais, políticos e econômicos, decorrentes das missões estrangeiras,
ouve interessantes atuações de missionários que, de alguma forma, se
converteram aos que pretendia converter, e passaram a lutar ao seu
lado para preservar-lhes a dignidade, como for a o caso de David Livingstone (1813 – 1873).
De todas as formas, o evangelho
chegava às regiões mais distantes do globo, pregado por missionários
que, além da Bíblia, traziam consigo toda uma bagagem cultural e ideológica
que se confundia com o próprio Evangelho. O resultado foi uma ação missionária
imperialista, cuja ênfase conversionista impunha a ideologia dos pregadores.
Muitos faziam isso convictos de que sua cultura de origem havia sido levantada
por Deus para dominar o mundo, outros, por sua vez, sequer tinham consciência
de que o evangelho que pregavam tinha muito mais do que sotaque
estrangeiro.
A
pregação no tempo das revoluções: uma homilética das libertações, dos
carismas e das mídias: As transformações iniciadas no
século XVIII se intensificaram de tal forma nos séculos XIX e XX que Hobsbawn passou a designar esse período como
a “era das revoluções”: políticas, econômicas, culturais, tecnológicas,
entre outras. Dentre esses acontecimentos, como observou Manuel Castells,
destacam-se, no final do século XX, o processo de globalização, que promove
a interdependência econômica global; o colapso do estatismo soviético,
que alterou significativamente a geopolítica global; mas, principalmente,
a “revolução tecnológica concentrada nas tecnologias da informação”,
que está “remodelando a base material da sociedade”.
A prática homilética experimentada
nesse período não ficou indiferente e engajou-se igualmente colocando seu
produto, isto é, suas prédicas, a serviço das revoluções ou das
contra-revoluções. Desse período, merecem ser destacadas, além da tradicional,
as propostas homiléticas dos setores progressistas da igreja, além da
dos movimentos carismático-pentecostais e, mais recentemente, dos neopentecostais
com suas incursões pela mídia. Podemos, assim, distinguir didaticamente
uma homilética das libertações,
uma homilética dos carismas e
uma homilética das mídias.
2.8 Homilética
contemporânea
Após esta breve revisão histórica,
conclui-se que não poderia haver uma definição única para a homilética,
porque não há de fato uma só homilética. O que se tem são homiléticas. Em
cada época, o discurso religioso procurou cumprir seu papel da
maneira que julgava ser a mais adequada, influenciando e sendo influenciado
por seu tempo. Naturalmente, as gerações homiléticas sucessoras ora se
sentiam herdeiras das anteriores, ora as rejeitavam como filhas rebeldes.
Mas de uma forma ou de outra, não puderam se livrar completamente de suas
influências e de suas raízes.
A práxis homilética é essencialmente
dependente de seu contexto histórico-temporal. Por isso, o pregador, ou o
teólogo, “deve percorrer um duplo caminho: o do pensamento ascendente e
o do pensamento descendente” — este serviço, o pregador o faz mediante
o que ele chamou de Ankündignung,
ou “anúncio de um acontecimento por vir” e Verkundung, ou “anúncio do
que está acontecendo”.
Karl Barth teria sido o primeiro
a se referir às três formas da Palavra de Deus: pregada (ou proclamada),escrita e revelada.
Na analogia trinitária de Barth, cada forma da Palavra se relaciona com
uma das pessoas da Trindade: Deus o Pai Criador com a Palavra revelada,
Deus o Filho Reconciliador com a Palavra escrita e o Espírito Santo Redentor
com a Palavra proclamada — essas três, no entanto, são uma única e
só Palavra de Deus. Portanto,
Karl Barth eleva a prédica à categoria de Palavra de Deus, no mesmo
nível da Palavra escrita e da Palavra revelada.
Um novo elemento é acrescentado
por Dietrich Ritschl, para quem o que há de especial com a prédica é que
esta “oferece o que o mundo não pode oferecer”, na medida em que “cada sermão
deve expressar a vontade graciosa de Deus em Cristo Jesus para
estar em solidariedade com os pecadores” . A novidade do pensamento de Ritschl
está na compreensão de que “nós [os pregadores] não convertemos os
outros, mas temos que nos converter aos outros”. Nesse sentido, a homilética, em
lugar de se ocupar da oratória, deveria se ocupar de um tipo de escutatória, para que a
prédica possa ser transformada pela cumplicidade com a experiência (o
“pecado”) da comunidade para a qual é pregada.
Pode-se, contudo, entender a
prédica como “meio pelo qual a revelação atua” e o homileta, como
sendo o mediador dessa atuação. Se, de fato, “a pregação é o meio que
Deus estabeleceu para comunicar aos homens seu plano salvífico”, e, como
afirmara Domenico Grasso, a Palavra de Deus acontece na relação revelação — homileta — congregação.
Note-se que, de uma forma ou de
outra, no acontecimento homilético, está sempre presente a relação
entre o pregador, a revelação e a vida das pessoas no seu contexto cultural
e cotidiano. Para a conceituação da homilética, portanto, é preciso
considerá-la em relação ao seu tempo e lugar.
Vivemos dias onde o papel da Igreja na
sociedade, quando questionado, provoca ponderações em diversas direções. Para
mim, entretanto, a Igreja está no mundo para fazer diferença nos lugares onde
sua influência chega - ela deve cuidar dos interesses de Deus na terra:
adorando-o, pregando o Evangelho, ensinando sua Palavra e atentando para os
"órfãos e viúvas". O cumprimento de todo este papel exige da Igreja
inconformismo (no sentido de Romanos 12:2) "não vos conformeis a este
mundo"). Ela não pode acomodar-se, aquietar-se, nem omitir-se; sua guerra
é contra o pecado, a injustiça e contra as "hostes espirituais da
iniqüidade" (Efésios 6:12) e, para tanto, necessita de santidade, oração e
dependência do Espírito.
A
sociedade continua tão sedenta de Deus quanto em qualquer outra época da
história. Cada vez maior é o número de pessoas desesperadas. Fala-se em 400 mil
suicídios por ano no mundo! As pessoas procuram sustentação espiritual, daí
tantas religiões que surgem e conquistam adeptos, o que confirma quão grande é
a carência do mundo. Se o mundo continua o mesmo em matéria de sede de Deus, a
Igreja, por sua vez, sobretudo os evangélicos chamados históricos, necessitam
de reflexão sobre seu papel. Penso que a crise de integridade que afeta o
evangelicalismo do primeiro mundo já alcança nosso país e tende a agravar-se.
A Igreja precisa, hoje, de um avivamento real. Avivamento é viver o
Cristianismo com integridade. O problema da Igreja em grande parte reside na
pobreza de vida cristã que se vive: são multidões de crentes nominativos, meros
freqüentadores semanais de cultos que, quando muito, contribuem financeiramente
com suas Igrejas. Há um descompromisso com a Palavra, com a ética e a moral
cristãs. A Igreja é um corpo que encarna Cristo e como tal não poderia passar
despercebida. Em suma, falta a consciência de discipulado cristão nos membros
de nossas Igrejas.
Concordo
com Juan Carlos Ortiz, que no seu livro "O Discípulo" fala da Igreja
como sendo um orfanato cheio de bebês e que nós, os pastores, passamos grande
parte de nosso tempo correndo atrás de "bebês" para dar-lhes
"leite". A Igreja somente pode cumprir seu papel em meio à sociedade
se prezar pela qualidade de vida cristã. Tenho certeza de que crentes verdadeiramente
avivamos são capazes de revolucionar uma sociedade, uma nação, um país inteiro.
Para
que a Igreja possa alcançar sua estatura ideal, nos termos de Efésios 4:12 e
13, o ministério da pregação é fundamental. Verdadeiramente a pregação é
prioridade na Igreja Cristã. Concordo com Lloyd-Jones, que no livro
"Pregação e Pregadores" relaciona o declínio da Igreja ao
empobrecimento e desprestígio do púlpito. O grande número de crentes
nominativos em nossas
Igrejas é conseqüência dos púlpitos insossos, sem unção,
vida, nem criatividade. Para que a Igreja cumpra seu papel no mundo é
imprescindível que os pregadores desempenhem seu ministério eficientemente e
façam com que a pregação da Palavra volte a ser o momento mais importante do
culto, depois do ritual eucarístico.
Para
que a pregação readquira seu grau de importância é imperativo que os pregadores
tenham um preparo adequado, tanto espiritual como intelectualmente. O pregador
deve ser vocacionado por Deus para a mais importante tarefa do mundo e,
consciente de sua excelente missão, dispor-se nas mãos de Deus buscando a
direção do Espírito em todas as áreas de sua vida. A vida do pregador precisa
referendar seus sermões. Ele deve viver o que prega, ser exemplo de vida, de
santidade, amor, oração, honestidade, chefe de família. O preparo intelectual é
igualmente importante. É mistér que o ministro seja homem dado aos estudos,
primeiramente das Escrituras, mas não somente conhecimento bíblico é
fundamental ao bom pregador. Ele precisa ter boa formação teológica, conhecimento
histórico, filosófico, psicológico, antropológico, dentre outras áreas, e isto
exigirá do pregador constante apego aos estudos e pesquisas.
Destaco
o preparo homilético do pregador. É fundamental que este se aperfeiçoe
homileticamente, que estude, que se aprofunde na homilética a fim de conhecer
técnicas, métodos e formas sermônicas que enriquecerão seu trabalho.
Sendo a HOMILÉTICA a “Arte de
Pregar”, deve ser considerada a mais nobre tarefa existente na terra. O próprio
Jesus Cristo em Lucas 16 : 16 disse: Ide pregai o evangelho…
Quando a Homilética é observada
e aplicada, proporciona-se ao ouvinte uma melhor compreensão do texto.
"Conjuro-te, pois, diante de Deus e de
Cristo Jesus, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e no seu
reino; prega a palavra, insta a tempo e fora de tempo, admoesta, repreende,
exorta, com toda a longanimidade e ensino. Porque virá tempo em que não
suportarão a sã doutrina; mas tendo coceira nos ouvidos, cercar-se-ão de mestres,
segundo as suas próprias cobiças; e se recusarão a dar ouvidos à verdade,
voltando às fábulas. Tu, porém, sê sóbrio em tudo, sofre as aflições, faze a
obra de um evangelista, cumpre bem o teu ministério" (2 Timóteo 4.1-5).
A observação da Homilética traz
orientação ao orador.
ELOQUÊNCIA é um termo derivado Latim Eloquentia que
significa: Elegância no falar, Falar bem,ou seja, garantir o sucesso de sua
comunicação, capacidade de convencer. É a soma das qualidades do pregador.
Não é gritaria, pularia ou pancadaria no
púlpito. A elocução é o meio mais comum para a comunicação; portanto deve
observar o seguinte:
1.
Voz – A voz, é o principal aspecto de um
discurso.
Audível Todos possam ouvir.
Entendível Todos possam entender. Pronunciar
claramente as palavras. Leitura incorreta, não observa as pontuações e
acentuações.
2.
Vocabulário –
Quantidade de palavras que conhecemos.
Fácil de falar – comum a todos, de fácil
compreensão – saber o significado
Evitar as gírias, Linguagem incorreta,
Ilustrações impróprias.
3.2
Aalgumas regras de eloquência
- Procurar ler o mais que puder sobre o
assunto a ser exposto.
- Conhecimento do publico ouvinte.
- Procurar saber o tipo de reunião e o nível dos ouvintes.
- Seriedade pois o orador não é um
animador de platéia.
- Ser objetivo, claro para não causar nos
ouvintes o desinteresse.
- Utilizar uma linguagem bíblica.
- Evitar usar o pronome EU e sim o
pronome NÓS.
É muito importante que o orador
saiba como comportar-se em um púlpito ou tribuna. A sua postura pode ajudar ou
atrapalhar sua exposição.
A fisionomia é muito importe pois
transmite os nossos sentimentos, Vejamos :
- Ficar em posição de nobre atitude.
- Olhar para os ouvintes.
- Não demonstrar rigidez e nervosismo.
- Evitar exageros nos gestos.
- Não demonstrar indisposição.
- Evitar as leituras prolongadas.
- Sempre preocupado com a indumentária. (
Cores, Gravata, Meias )
- Cabelos penteados melhora muito a
aparência.
- O assentar também é muito importante.
Lembre-se que existem muitos ouvintes, e
estão atentos, esperando receber alguma coisa boa da parte de Deus através de
você.
Concordo
com aquilo que ouvi, que o bom sermão é aquele que "conforta os abatidos e
incomoda os acomodados", pois creio que o sermão deve constituir-se num
instrumento de Deus para falar ao seu povo. Assim, quero destacar alguns
aspectos que creio serem importantes na preparação dos sermões:
a) Dependência do Espírito. O pregador deve
encher-se dele continuamente (Efésios 5:18), pois o Espírito foi quem o
escolheu e é quem o capacitará para a sua tarefa.
b) Oração. É fundamental a todo cristão,
principalmente ao pregador que, através da oração, poderá trilhar o caminho do
ministério da pregação com eficiência.
c) Estudo da Bíblia. Meditação e estudo são
imprescindíveis. O pregador precisa alimentar-se da Palavra, ouvir os conselhos
de Deus para sua vida antes de transmiti-los aos seus ouvintes.
d) Visão. O pastor precisa ter visão de onde
pretende chegar com seu rebanho. Como Igreja, temos uma Missão tremendamente
abrangente e a visão do pastor orientará o rebanho na parcela que lhe caberá
dentro dessa Missão. A partir da visão, de onde se quer chegar, e da
consciência de onde se está no momento, o pregador estabelecerá um programa de
pregação que vise alimentar e conclamar seu rebanho na direção certa. Este
programa deve ser previamente elaborado e dosado de criatividade e variedade,
haja visto que a monotonia prejudicará a comunicação.
e) Técnicas de comunicação e homilética. O
pregador precisa especializar-se a fim de eficientemente comunicar-se com seu
povo. Para isso, pode buscar reciclar-se através de leituras ou aperfeiçoar-se
com cursos de pós-graduação. Este aperfeiçoamento é importante para que consiga
transmitir idéias contidas nos sermões com clareza de modo a serem absorvidas
pelos ouvintes. Este cuidado levará o pregador a ter sempre um objetivo
específico em cada sermão e a saber como alcança-lo mediante a pregação.
f) Conhecimento da natureza humana. O pregador
que busca a eficiência em seu trabalho precisa conhecer seu povo e reconhecer
suas carências. Se o sermão não for relevante, também não será interessante ao
povo. A Bíblia não pode ser usada a pretexto, pois a pregação eficiente é bíblica
e contemporânea. Concordo com L. M. Perry e Charles Sell que no livro
"Pregando Sobre os Problemas da Vida" afirmam que de nada vale falar
de detalhes da vida do século I e nada dizer sobre a vida do século XX.
g) Boa administração do tempo. Em geral os
pregadores se envolvem com diversas atividades, mas o bom pregador é alguém que
reconhece a preciosidade da obra que tem a desempenhar e investe a parcela
necessária de tempo neste trabalho. Vale ressaltar que a preguiça é uma
terrível inimiga da eficiência do pregador.
h) O celeiro de idéias. É uma prática igualmente
importante. Uma simples agenda pode registrar idéias para sermões e ilustrações
que o pregador leu, ouviu ou mesmo viveu e que futuramente poderão lhe servir
para enriquecer seu trabalho.
i) Criatividade e variedade. O pastor nunca deve
ser tido como repetitivo e previsível em seu trabalho como pregador. Deve
surpreender sua congregação ao usar de inteligência e criatividade, podendo
alcançar isto variando as formas homiléticas de apresentar seus sermões.
Sermões narrativos, segmentados, monólogos, biográficos, dentre outros, poderão
compor o calendário de pregação.
j) Avaliação. Destaco a necessidade do pregador
avaliar-se e, para tanto, acredito que uma pessoa de confiança do pastor pode auxiliá-lo
(quase sempre a esposa é uma pessoa indicada). Sugiro também que todo pregador
vez por outra grave seus sermões e depois os ouça a fim de avaliar-se.
Os rumos que a Igreja deverá seguir daqui para a frente
dependerão dos seus púlpitos. Se os pregadores forem aptos a discernir a
vontade de Deus e dedicados a transmiti-la aos seus ouvintes, viveremos tempos
de colheita abundante.
4.
As característica de um pregador
É muito importante que o
pregador conquiste o público com a sua mensagem, e as pessoas vibrem com a sua
experiência e autoridade. Qual o motivo do fracasso de certos pregadores em
nossas igrejas? Por que pregam mensagens tão cansativas e desinteressantes?
Isto é algo simples de responder: Pregam ao pé da letra que não devemos nos
preocupar com o quê havemos de pregar, pois o Espírito Santo será com a nossa
boca, e ao chegarem ao púlpito entregam “qualquer coisa”. O pregador tem
que ter em mente que o público que se prontifica em ir a igreja ouvir a
mensagem de Deus, não merece ouvir coisa cansativa e desinteressante. O
pregador é o veículo chave do anúncio da Palavra de Deus, portanto, para ser
eficiente no ministério da Palavra, precisa estar envolvido com os seguintes
fatores:
a)
Consagrado à Oração
O pregador precisa ter uma vida de oração
para que possa transmitir o recado divino inspiradamente. O sucesso da pregação
depende da intensidade da inspiração e das palavras do pregador. O fracasso de
uma mensagem pode, entre muitos motivos, ser atribuído a falta de uma vida de
oração por parte do pregador. Se tiver uma vida vazia de oração, sua mensagem
também será vazia de vida. O requisito ORAÇÃO é o primeiro dos fatores
importantes que o pregador vai precisar para o êxito da sua mensagem.
b)
Consagrado à Igreja
Jamais
se deve dar oportunidade para usar da palavra àqueles Irmãos que quase nunca
vão a Igreja. Se tais irmãos se acham no direito de não ir sempre à igreja, a
igreja também tem o direito de não permiti-los ter o privilégio de pregar no
templo de Deus. O altar é santo e é necessário que todos os que vão usar da
Palavra estejam conscientes disto e tenham grande amor pela Igreja de Deus.
Para a segurança emocional do pregador é necessário que ele esteja bem
familiarizado com o tipo de ambiente que irá ouvi-lo.
Um pregador consagrado às atividades da
igreja tem melhor condição emocional e psicológica para estar diante do público
sem transparecer medo, nervosismo, insegurança, etc. Todo pregador consciente
de sua função não ignora este importante fator.
c)
Consagrado à Palavra
O pregador da Palavra de Deus
tem por finalidade anunciar as verdades divinas, e somente o poderá fazê-lo se
tiver conhecimento destas verdades. Quanto maior o conhecimento bíblico, mais
autoridade terá ao falar das coisas dos céus. O conhecimento profundo da
Palavra de Deus é uma segurança indispensável para se construir um excelente
sermão. O pregador tem que ter em mente que o público precisa ficar encantado
com o conteúdo da mensagem da Bíblia, e para isto, nada melhor do que
exposições profundas das Escrituras. Temos que anunciar a Cristo como único
salvador do mundo, temos por obrigação de conhecer sua vida, o que fez, o que
ainda faz, o que ele quer, quais são suas promessas, e a sua relação com a vida
e a morte. A Bíblia tem multas promessas para o homem, e, conhecer tais fatos é
dever obrigatório de todo àquele que se dedica a falar do plano de Deus para a
salvação do pecador.
4.1
Quanto ao conhecimento intelectual do pregador
“Quem lê mais tem sempre algo a falar a quem
lê menos”, diz um ditado popular. Na igreja encontramos pessoas de diversos
níveis de cultura. Algumas com uma grande capacidade intelectual, outras com um
conhecimento médio e outras com um nível intelectual pequeno. Portanto, eis a
razão pela qual todo pregador tem que estar à altura do nível intelectual
daqueles que irão ouvi-lo. Todo pregador precisa que seu público lhe dê crédito
como orador, e, quando o pregador demonstra ter uma excelente cultura, ele
obtém o respeito de seus ouvintes, e suas mensagens sempre serão interessantes.
Nunca é demais possuir conhecimento geral daquilo que vai pela ciência,
história, filosofia, etc. Um sermão para ser rico em conteúdo depende da
intelectualidade do pregador. Um pregador culto terá mais autoridade ao falar em público. Isto não
deve ser privilégio somente de alguns pastores, mas, de qualquer pregador
interessado em melhorar a qualidade de suas mensagens. Quanto maior o
conhecimento do pregador, maior será a bagagem para o Espírito Santo usar. A
segurança intelectual do pregador é evidenciada das seguintes fontes de
conhecimento:
a)
Conhecimento Bíblico
O estudo bíblico difere da mensagem quanto a
sua forma de preparo e entrega. Seu conteúdo é bem mais extenso do que o de uma
pregação. Na mensagem, o pregador tem um tempo muito limitado para expor
suas ideias, já num estudo o tempo é
determinado pela necessidade que o grupo tem de aprender. O estudo bíblico e
suas características
1 - Os participantes podem fazer perguntas
quando alguma coisa não fica bem
explicada;
2
- Terá sua duração de acordo com o seu propósito. Exemplo: O estudo
de
um livro da Bíblia pode levar até meses;
3
- No estudo bíblico se pode dar uma
pausa
para perguntas, comentários (aproveitáveis), lanche, afinal, é um estudo;
4
- É possível ditar os trechos importantes do seu estudo para serem anotados.
Alvo
geral e específico do esboço
Para a realização de um bom
trabalho se faz necessário o uso de técnicas. O pregador precisa conhecer bem estas
técnicas que envolvem o preparo e a entrega da mensagem, pois esse é o seu
trabalho. Se o estudante quiser ser um bom pregador terá que dominá-las. O
perfeito domínio dos elementos homiléticos dará ao expositor da Palavra de Deus
uma segurança maior na apresentação da mensagem. Conhecer a palavra de Deus é
dever do pregador. Ele não fará nenhum favor quando se esforçar na busca de
aperfeiçoar este conhecimento. Sua meta deve ser pregar ou ensinar de tal
maneira que não tenha do que se envergonhar. Na homilética o esboço se torna
indispensável. Não é necessário escrever toda a mensagem, uma vez que o
pregador vai pregá-la e não lê-la diante dos seus ouvintes. O esboço é uma
espécie de bússola, ele não é uma mensagem, mas por ele o pregador se orientará
para não se perder na hora da pregação. Ele é um esqueleto apenas, uma espécie
de planta que traça as linhas de uma perfeita construção.
b)
Conhecimento Histórico
É importante que o pregador saiba em que
data foram escritos os livros bíblicos, e para quem eram destinados,
situando-se também nos panoramas históricos, social, econômico e religioso da
época dos seus autores. É muito importante que o pregador conheça o
desenvolvimento da história através dos séculos e a sua relação com o
cristianismo. Mil e uma ilustrações podem ser adquiridas com os fatos
relacionados com a igreja e com os grandes cristãos da antigüidade. A história
está cheia de curiosidades que poderão ser contadas pelo pregador. Com tais
fatos, a mensagem cristã torna-se mais rica em conteúdo, despertando o
interesse e a admiração do público. Um fato incontestável é que um público
admirado com a pregação tende a ceder mais facilmente aos apelos do pregador.
c)
Conhecimento Cientifico
Conhecer algo da ciência, comparando sempre
com as verdades bíblicas, é algo muito bom, pois muitas das vezes, as
descobertas científicas vêm sustentar aquilo que a Bíblia vem afirmando há
milênios. Expor algo da ciência também torna uma mensagem bem interessante e
atrai muito, a atenção do público. Muitas pessoas têm chegado a conversão
através das verdades da Bíblia confrontadas com a ciência. Um bom pregador não
ignora este fato.
d)
Conhecimento Filosófico
O público vibra e considera interessante
quando o pregador sustenta uma verdade bíblica com uma citação de algum
importante Filósofo. Conhecer o pensamento dos muitos pensadores acerca da vida
e da morte; do bem e do mal, é algo fascinante. Muitas das vezes os absurdos e
as verdades da Filosofia ajudam a ilustrar de forma maravilhosa um sermão.
e)
Experiências Pessoais
A vida cristã é cheia de experiências
maravilhosas com Deus. Tais experiências ocorrem tanto conosco, como também com
algum outro irmão verdadeiramente servo de Deus. Assim, o testemunho destes
fatos faz com que sempre se tenha algo de edificante para uma boa mensagem. O
sentimento do público é ativado quando o pregador expõe suas vivências pessoais
ou de outrem. É multo importante tocar o instinto emocional dos ouvintes.
Quando isto ocorre, a mensagem será sempre lembrada. O pregador deve usar desta
arma poderosa para as mensagens principalmente evangelísticas. Entretanto, se a
mensagem é doutrinária, e o pregador tem algo de sua vida para ilustrar com
relação à fé cristã, deverá fazê-lo com toda a autoridade. Este recurso produz
um maior número de conversões ou de conserto de vida cristã ao final da
mensagem.
IICoríntios
5:20: “De sorte que somos embaixadores da parte de Cristo, como se Deus por nós
rogasse. Rogamo-vos pois da parte de Cristo que vos reconcilieis com Deus”
5.
- Ética no Púlpido
“A primeira impressão é a que fica”;
“Em meio ao desenvolvimento da reunião,
atravessa todo o corredor principal, aquele que será o preletor do encontro.
Toda atenção está voltada para ele, que observado é dos pés a cabeça.”
Seu comportamento, imagem e
exemplo são atributos influentes na transmissão da mensagem como um todo.
Devemos considerar que, quando existe uma indisposição do ouvinte para com o
mensageiro, maior será sua resistência ao conteúdo da mensagem.
Não existe uma forma correta de se
apresentar. Esteja de acordo com local e ocasião. Para os homens o uso do
“terno e gravata” é adequado a quase todos os locais e ocasiões.
Como são os membros da igreja
que visita? Quais são as características da denominação? Qual é o horário de
início e término do culto? Em que bairro se localiza?
É muito importante que o orador
saiba como comportar-se em um púlpito ou tribuna. A sua postura pode ajudar ou
atrapalhar sua exposição.
A fisionomia é muito importe
pois transmite os nossos sentimentos, Vejamos :
- Ficar em posição de nobre atitude.
- Olhar para os ouvintes.
- Não demonstrar rigidez e nervosismo.
- Evitar exageros nos gestos.
- Não demonstrar indisposição.
- Evitar as leituras prolongadas.
- Cabelos penteados melhora muito a
aparência.
- O assentar também é muito importante.
Observemos com atenção estes
aspectos errados que devem ser
considerados pelo pregador:
ë
Fazer
uma Segunda e auto-apresentação;
ë
Manter
a mão no bolso ou na cintura o tempo todo;
ë
Molhar
o dedo na língua para virar as páginas da bíblia;
ë
Limpar
as narinas, cocar-se, exibir lenços sujos, arrumar o cabelo ou a roupa;
ë
Usar
roupas extravagantes;
ë
Apertar
a mão de todos. (basta um leve aceno)
ë
Fazer
gestos impróprios;
ë
Usar
esboços de outros pregadores, principalmente sem fonte;
ë
Contar
gracejos, anedotas ou usar vocabulário vulgar.
ë
Não
fazer a leitura do texto ( Leitura deve ser de pé)
ë
Evitar
desculpas, você começa derrotado ( não confundir com humildade);
ë
Chegar
atrasado;
5.1 O pregador não precisa
aparecer.
Quando convidado para pregar em outras
igrejas, o pregador deve considerar as normas doutrinárias, litúrgicas e
teológicas da igreja em questão.
1 – Evite abordar questões teológicas
muito complexas;
2 – Não peça que a congregação faça algo
que não esteja de acordo com os preceitos;
3 – Procure estar dentro dos padrões da
denominação;
4 – Procure dar conotações evangelísticas
a mensagem;
5 – Respeite o horário ( mesmo que seja
pouco tempo );
6 – Converse sempre com o Pastor antes do
início do culto.
6.
As responsabilidades do Pregador
Afirma-se que a verdade e a
personalidade são coisas fundamentais na vida do Pregador. Uma verdade
aumentada é uma mentira, por isso muito cuidado porque uma mentira no púlpito é
pior do que em qualquer outro lugar. Em se tratando de personalidade, de
postura, Paulo faz recomendações especiais I Tm 4.12 e também Tt 2.7,8.
1º)
Entrega total: O
apóstolo Paulo nos deixou um grande exemplo neste sentido. Ele disse que não
tinha a sua vida por preciosa, contanto que cumprisse com alegria a sua
carreira At 20.24. Quem se entrega a esta santa tarefa tem que fazer uma
renuncia total, a fim de que possa agradar em tudo aquele que o chamou, mesmo
que lhe custe sofrimentos, pobreza ou lhe traga outras conseqüências. Como
soldado ele sofre as aflições, e com alegria cumpre o seu ministério II Tm
2.3,4.
2º)
Cuidados na Explanação
A pregação precisa ser não só
convincente e persuasiva, mas também eminentemente instrutiva. Muitas vezes
incentivamos os ouvintes com argumentos e apelos, quando a maior necessidade
deles é a explanação prática e simples, refletir o que devem fazer e como agir.
E, se muitas pessoas ouvintes presentes nos podem ouvir repetidamente explicar
certos assuntos importantes, devemos lembrar que estão no auditório, outras
mais, crianças ainda em desenvolvimento, pessoas estranhas ao Evangelho, neo-
convertidos, para quem tais explicações são coisa nova e altamente necessária.
O grande cuidado do pregador
deve ser não tentar explicar aquilo de que não tem a certeza absoluta. Às
vezes, a gente encontra grande dificuldade em explicar um fato ou princípio
suposto, porque na realidade ele não é verdadeiro. Não se põe a explicar aquilo
que você não entende. Na pregação, como nos demais setores, isso se dá a miúdo,
tornando-se coisa ridícula já não fosse lamentável. Torna-se importante, no
caso, explicar o que as Escrituras realmente ensinam buscando remover as incompreensões.
É extremamente perigoso entrar pelo caminho da discussão, infrutífera levando
os ouvintes a fortalecerem as suas dúvidas. O nosso dever principal é dizer ao
povo o que deve crer e porque se deve crer. II Tm 2.23,24.
3º)
Comportamento no púlpito
Quando o pregador ocupa o
púlpito da Igreja, não deve esquecer de que este lugar é sagrado. É dali que se
ministra a Palavra de Deus.
A primeira coisa que o pregador
deve ter no púlpito é o cuidado de postar-se com reverência, a fim de dar o
exemplo aos que ouvem e o observam.
7.
Substância do Sermão
No campo da homilética, são
vários os métodos ensinados. Devemos ter cuidado no método a adotar para não
cairmos no formalismo, entregando aos ouvintes ansiosos e famintos, apenas um
amontoado de palavras, às vezes bem
arrumadas mas sem unção; Sem a substancia que nutra a alma dos pecadores.
Muitas vezes a preocupação de se apresentar como manda o “cardápio” da homilética,
apresentado por teólogos modernos, pode desvirtuar o pregador do seu verdadeiro
objetivo que é levar o rebanho a pastagens para se alimentar e receber vida.
Quando olhamos para Mt 14.16, aí Jesus não disse aos seus discípulos: faça um
arranjo, convencei meu povo com palavras bonitas, justifique a falta de
alimentos. Não, Jesus disse para eles “Daí-lhes vos de comer”. E a necessidade
das multidões dos nossos dias não é diferente. As almas estão famintas, e o
lugar é deserto, e a hora é já avançada, mas o pregador tem a visão de Deus, vê
o terrível problema que tanto aflige o mundo sem Deus, e os leva aos pés de
Cristo. Então o pregador ao entregar a mensagem ele deve estar consciente de
que seu sermão satisfará a alma faminta.
8. Estruturas de um sermão
Qualquer explicação requer organização,
ordenação, lógica e clareza. Sendo o sermão uma explicação da palavra e vontade
de Deus esse deve ser didático. A prática de pregações através dos tempos levou
o estudiosos do assunto a relacionarem alguns elementos básicos que devem estar
presentes nos sermões, dando a eles uma estrutura que facilita o
desenvolvimento da mensagem. Esses elementos, Alvo, texto, tema, introdução, corpo, conclusão e
apelo compõem o que chamamos de estrutura
do sermão são imprescindíveis pois norteiam a linha de pensamento do
pregador direcionando o ouvinte para o conteúdo da mensagem.
"A estrutura propriamente dita é a
organização do sermão com suas divisões técnicas, que servem para orientar o
pregador na apresentação da mensagem."10
Um sermão precisa ter UNIDADE, ORDEM, SIMETRIA E PROGRESSÃO
1.
ALVO OU
OBJETIVO – Nesta etapa do sermão, o objetivo ou assunto , o pregador
deverá estar inspirado por Deus. É exatamente aqui que ele recebe a mensagem
que tem a pregar e a partir deste ponto
estruturá-la para levar a igreja. Se
você não tem nada para falar, não fale nada.
Se o Espírito Santo lhe der algo a falar, fale, mas fale direito.
2.
TEXTO
BÍBLICO – O assunto do
sermão deverá ser baseado em um texto bíblico.
3.
TEMA – Para que o ouvinte possa Ter uma idéia do
que você tem a falar é imprescindível o emprego de um tema. O ouvinte realmente
estará adentrando no seu sermão.
4.
INTRODUÇÃO – Começar bem é provocar interesse e despertar
atenção. Aproximar o ouvinte do sermão e dar a ele uma noção ou explicação do
que vai ser falado.
5. CORPO - Essa é a principal parte. Onde
deverá está o conteúdo de toda mensagem, ordenado de forma lógica e
precisa.Neste ponto também deverão ser abordadas algumas aplicações utilizadas
durante o sermão como, ILUSTRAÇÕES, FIGURAS DE LINGUAGEM,
MATERIAL DE PREPARAÇÃO.
6.
CONCLUSÃO – “Uma conclusão desanimada, deixará os
ouvintes desanimados”. Baseados no objetivo específico do sermão a conclusão é
uma síntese do mesmo e deve ser uma aplicação final à vida do ouvinte.
7.
APELO – Um esforço feito para alcançar a
consciência, o coração e a vontade do ouvinte. São os frutos do sermão.
8.1 Objetivo, alvo e
assunto
Todo sermão deve Ter inspiração divina.
Um sermão sem unção, ainda que tenha uma excelente estrutura, não apresentará
poder para conversão, consolação e edificação.
Devemos lembrar que ao transmitir um
sermão estamos não estamos transmitindo conhecimento humano mas a Palavra de
Deus e esta é a única que penetra até a divisão da Alma e Espírito, portanto é
fundamental a unção.
O objetivo da homilética, de
uma forma geral, é a conversão, a comunhão, a motivação e a santificação para vida cristã.
O assunto de uma mensagem é algo particular entre o
pregador e Deus.
Para
ter assunto é preciso viver em comunhão e oração para que o Espírito Santo
possa falar em seu coração.
A
grande questão é: como Deus fala conosco? A forma de Deus falar é individual e
peculiar.
Algumas
pessoas acreditam que Deus fala somente de forma sobrenatural. Entretanto, Deus
pode falar com você de todas as formas possíveis, fique atento, inclusive
aquelas que você menos imagina. No ônibus, em casa, no trabalho, no banho,
lendo a bíblia, olhando a paisagem, ouvindo uma mensagem, conversando,
pensando, através de pessoas ou coisas, em sonho, em revelação, no meio de uma
crise, ouvindo testemunhos, através de
crianças, ouvindo uma música, em seu lazer, em um acidente, uma lição de vida,
viajando, etc.
"Tanto a preparação quanto a exposição são enriquecidas com o grau
de conhecimento do pregador. Os conhecimentos não são a principal razão de um
sermão, mas são o esqueleto que lhe dá forma... O pregador não precisa deixar
de ser espiritual pelo fato de enriquecer seus sermões com conhecimentos
gerais. Se o sermão estiver cheio da graça de Deus, então os conhecimentos nele
inseridos resultarão em
benções. A homilética apresenta as regras técnicas, e ensina
como o pregador pode tirar proveito dos conhecimentos, ordenando os pensamentos
e dosando-os com a graça divina.
Todo pregador deve adotar um sistema de
estudo, para seu maior aproveitamento no ministério da Palavra..."1
"O que se vai dizer é resultado do
que sabemos, sentimos, pensamos, cremos e desejamos transmitir...
Cultura é aquilo que a gente sabe, resultado de nossa vivência, da
sedimentação do que somos, sabemos, das influências que sofremos e de tudo que
realmente nos estruturou. Ser um homem culto em nossos dias, isto é, capaz de
pensamento original e ter digerido as informações do mundo em que vivemos, é uma
equação diferente da que se apresentava no passado. Pouco a pouco a
"explicação" do mundo foi, cada vez mais, passando para a área
científica..."2 Por isso o importante é manter os "pés no chão".
Para falar de um tema qualquer é preciso dominar o assunto, a
ponto de torná-lo de uma simplicidade quase alarmante e dar a impressão
ao auditório de que o estamos desvendando juntos, realizando uma
agradável excursão intelectual ou humana, participando os dois, nós e o
ouvinte, do que vai surgir. O que vale mais é a gente ser a gente mesmo."3
Assim, a primeira e grande obrigação do
pregador é a LEITURA, constante, sistemática dos assuntos que ele
aborda em suas prédicas e de cultura geral.
8.3
Que fazer quando for convidado para pregar em :
a) Congresso e confraternizações
Neste
caso os assuntos são apresentados pelos organizadores do evento. Para o
pregador, o desafio está em desenvolvê-lo. Tenha intimidade com Deus para
transmitir exatamente o que Ele quer falar.
Quase toda pesquisa serve como base para sermões. Todavia, é verdade
incontestável que, quanto mais instrução tem uma pessoa, tanto mais condições
terá para preparar e apresentar sermões.
Embora exista um tema, normalmente este é
geral, podendo o pregador ser mais específico.
Exemplo: TEMA DO CONGRESSO: “A videira
verdadeira” João 15: 1 a
8
* Você pode falar sobre: “Como o cristão
pode Ter uma vida frutífera” , “Por que
o cristão deve Ter uma vida frutífera?”
ou até mesmo , “Os frutos da videira na vida do cristão”, utilizando outros textos e inserindo um
subtema.
b) Datas comemorativas/cultos especiais
Situações onde o assunto é uma explicação
do momento. São cultos realizados em virtude de acontecimentos específicos na
igreja local.
Dentre os cultos especiais podemos
destacar:
·
Casamento
·
Natal
·
Aniversariantes
·
Dízimos
·
Batismo
·
Consagração
·
Aniversário
da Igreja
·
Posse
·
Cultos
dos departamentos ( Juventude, irmãs, crianças, etc.)
·
Nascimento
e apresentação de bebês
·
Funeral
·
Doutrinário
·
Evangelístico
“Para pregar, o pregador leigo deve combinar ou casar o assunto do
sermão com um texto da palavra de Deus”.
Ler os sermões limita o contato dos olhos
do pregador com o auditório. Como afirmava Phillips Brooks, “a pregação é a
verdade através da personalidade”. Ora, os olhos transmitem a personalidade.
Assim, qualquer coisa que interfira com o contato dos olhos do pregador, impede
que a personalidade seja bem sucedida, e interfere com a pregação.
A maioria dos homiléticos concorda em que
a maneira ideal de pregar um sermão é fazer primeiro um manuscrito, e depois
preparar um esboço - quer o pregador use esse esboço no púlpito ou o decore.
Muitos pregadores levam um manuscrito ao
púlpito, mas lêem apenas partes dele, pregando o restante dele de improviso.
Por exemplo, as ilustrações e o apelo não se prestam bem para a elocução
ma-nuscrita e provavelmente devam ser pregados de improviso...
Nenhum método isolado serve para todos. E,
obviamente, tanto a pregação manuscrita como a improvisada possui vantagens e
desvantagens significativas... Descubra o que fica melhor para você...".
8.4
Assunto x tema
Assunto é o objetivo que você deseja alcançar por inspiração de Deus e o
tema é como você vai dizer para o público qual é o seu objetivo.
8.4.1 Texto bíblico
O texto bíblico é a passagem bíblica que
serve de base para o sermão.
Esse texto deverá fornecer a idéia ou verdade central do sermão. Nunca
se deve tomar um texto somente por pretexto, e logo se esquecer dele.
Segundo Jerry Stanley Key, existem algumas vantagens no
uso de um texto bíblico:
1 - O texto dá ao sermão a autoridade da palavra de
Deus.
2 - O texto constitui a base e alma do sermão;
3 - Através da pregação por texto o pregador ensina a
palavra de Deus;
4 - O uso do texto ajuda os ouvintes a reter a idéia
principal do sermão;
5 - O texto limita e unifica o sermão;
6 - Permite uma maior variedade nas mensagens;
7 - O texto é um meio para a atuação do Espírito Santo.
É imprescindível a escolha de um texto que se relacione com o tema do
sermão porém adequado. Vejamos o tipo de textos que devemos evitar:
Textos longo Cansam os ouvintes. ( Salmo 119 )
Textos obscuro Causam polêmicas no auditório. ( I Cor. 11:10 )
Textos difíceis Os ouvintes não entendem. ( Ef. 1:3
Predestinação )
Textos duvidosos " E Deus não ouve pecadores" (
João 9/;31 )
8.4.2 Exegese
Exegese é o trabalho de
exposição de um texto bíblico. Visto
que a Bíblia é um documento histórico e a igreja , a exegese é importante tanto
para compreender a mensagem bíblica como para determinar seu significado na
atualidade. Questões de data, significados lingüísticos, autoria, antecedentes
e circunstâncias são essenciais à tarefa de preparar sermões bíblicos. Quanto
mais conhecermos as condições político-religiosas e socio-econômicas sob as
quais foi escrito certo documento, tanto melhor poderemos compreender a
mensagem do autor e aplicá-la de acordo com isso.
8.4.3Dez
passos para uma boa exegese
1 - Leia o texto em
voz alta, comparando com versões diferentes para maior compreensão.
2 - Reproduza o
texto com suas próprias palavras. (Fale sozinho)
3 - Observe o texto
imediato e remoto.
4 - Verifique a
linguagem do texto ( história, milagre, ensino, parábola, profecia, etc.)
5 - Pesquise o
significado exato das principais palavras;
6 - Faça anotações;
7 - Pesquise o
contexto ( época, país, costumes, tradição, etc.)
8 - Pergunte sempre
onde? Quem? O que? Por que?
9 - Organize o
texto em seções principal e secundárias;
10 - Resuma com a
seguinte frase: “O assunto mais importante deste texto é...”
8.4.4
Tema
O tema do sermão contém a idéia principal e o objetivo da mensagem. Deve
ser estimulante e despertar o interesse, a curiosidade e a atenção do ouvinte.
Deve ser claro, simples e preciso bem como, oportuno e obedecer o texto.
Para se desenvolver um bom tema o
pregador precisa Ter criatividade, hábito de leitura, visão global do sermão e
ser sintético.
Deve-se atentar
para o fato de que assunto e tema não são a mesma coisa. O Assunto é algo mais
genérico, enquanto que o tema é mais específico. Um assunto, por exemplo,
poderia ser a "Esperança" , e vários temas poderiam ser derivados
deste assunto: "A Esperança do Crente", "A Esperança do
Mundo", etc...
O tema deve preferencialmente estar na
afirmativa. A frase "Devemos honrar a Cristo obedecendo aos seus
mandamentos" é melhor do que "Não devemos desonrar a Cristo
desobedecendo aos seus mandamentos".
A proposição difere da idéia exegética. A
idéia exegética é a afirmativa de uma única sentença; é a verdade principal da
passagem, enquanto que a proposição é a verdade espiritual ou princípio eterno,
transmitido por toda a passagem.
O tema deve ser formulado,
preferencialmente no tempo presente; não deve incluir referências geográficas
ou históricas; não deve fazer uso de nomes próprios, exceto os nomes divinos.
Uma tese com alguma dessas características ficaria muito embaraçosa. Veja: "Assim como o Senhor chamou a Abrão de
Ur dos Caldeus para ir para uma terra que desconhecida, da mesma forma Ele
chama alguns de nós para irmos pregar aos estrangeiros".
8.4.5
Tipos de temas:
Interrogativo: Uma pergunta, que deve ser respondida no sermão.
Ex.: Onde
estás? Que farei de Jesus? Tenho uma arma o que fazer com ela?
Lógico: Explicativo.
Ex.: O que o homem
semear, ceifará; Quem encontra Jesus
volta por outro caminho.
Imperativos: Mandamento, uma ordem; Caracteriza-se pelo verbo no
modo imperativo.
Ex.: Enchei-vos do espírito; Não seja incrédulo; Não adores a um Deus morto.
Enfáticos; Realçar um aspecto específico;
Ex.: Só Jesus
salva; Dois tipos de cristãos;
Geral: Abrangente, aborda um assunto de forma geral sem
especificá-lo.
Ex.: Amor; fé,
esperança
8.5 -
Ilustrações
São recursos usados para o enriquecimento, e o
esclarecimento de uma mensagem, quando devidamente aplicada.
O senhor Jesus sempre tinha uma boa história para iluminar as verdades
que ensinava ao povo.
O significado do termo ilustrar
é tornar claro, iluminar, esclarecer mediante um exemplo, ajudando o ouvinte a
compreender a mensagem proclamada. O bom uso da ilustração desperta o
interesse, enriquece, convence, comove, desafia e estimula o ouvinte, valoriza
e vivifica a mensagem, além de relaxar o pregador.
A ilustração não substitui o texto bíblico apenas tem uma função
psicológica e didática, para tornar mais claro aquilo que o texto revela.
As ilustrações devem ser simples, está correlacionada com a mensagem,
devem fornecer fatos de interesses humanos e devem Ter um ponto alto ou clímax.
A
ilustração é para o sermão o que são as janelas para uma casa.
Quais os motivos que nos devem levar a
usar ilustrações?
1º) Por causa do interesse humano.
2º) Clareza
3º) Beleza
4º) Complementação.
A ilustração nunca deve ser a parte
principal do sermão. É tão-somente uma janela. Esta nunca é mais importante do
que a casa.
Obs.: OS EXEMPLOS BÍBLICOS SÃO AS MELHORES ILUSTRAÇÕES.
8.5.1 As ilustrações podem
ser:
HISTÓRICA E
CONTEXTUAL: Quando se aplica um conhecimento histórico ou explicação
do contexto em que o texto está inserido. Exemplos:
a)
Fundo da agulha – Porta estreita
na cidade de Jerusalém onde, os mercadores tinham dificuldades de passar com os
camelos. Mateus 19:24.
b) CONHECIMENTO
INTELECTUAL: Envolve o conhecimento científico,
psicológico, técnico e cultural. Exemplos:
v Técnico científico
– A antena da TV recebe todas as frequências ao mesmo tempo entretanto, quando
escolhemos um canal, através da sintonia, estamos selecionando uma determinada
frequência.
c) METAFÓRICA OU
ALEGÓRICA: Quando são
empregadas figuras metafóricas como histórias e estórias. Exemplos
·
Ao se aproximar da cidade do Rio de Janeiro um indivíduo
reparou que o cristo redentor não era tão grande como pensava, parecia até
mesmo ser menor do que seu dedo. No centro da cidade observou que estátua teria
aumentado e já estava praticamente do seu tamanho, resolveu então ir até o
monumento. No pé do corcovado ficou admirado com as proporções maiores do
símbolo da cidade. Chegando então aos pés do cristo redentor ele pode perceber
, como lhe disseram, que aquele era bem
maior do que ele.
d) EXPERIÊNCIA
PESSOAL: Testemunhos. Exemplos
·
Neste tipo de ilustração o pregador relata fatos
verídicos que demonstram a atuação de Deus, através de milagres, em sua vida ou
de outras pessoas. Todos as respostas que Deus atendeu realizando curas,
transformações, salvação, livramentos, libertação, etc.
Use no
máximo duas ilustrações por sermão. Toda ilustração deve Ter uma aplicação e
devem ser comentadas com simplicidade e naturalidade.
8.5.2 Exemplos de
ilustrações
A LEI
DA GRAVIDADE
Quando entro
em um avião, estou livre da lei da gravidade. A lei mais alta que opera para
levantar o aparelho acima das nuvens me segura no colo e anula a outra lei (da
gravidade). A lei da gravidade não se destruiu mais foi tornada sem efeito.
BULGOGUE: FORÇA E DETERMINAÇÃO PARA ALCANÇAR O
OBJETIVO
Nas ruas, há quem mude de calçada para
evitar cruzar com um deles. Os músculos da boca são bastantes desenvolvidos,
quando o Buldogue Americano participa de caçadas e pega uma presa, às vezes é
necessário usar uma alavanca, feita com um pedaço de pau, para força-lo a abrir
a boca. Utilizado para guarda de propriedades, a caça de porcos selvagens e as
lutas com animais. "Combatiam touros e ursos, numa espécie de farra-do-boi
ou farra-do-urso, para divertir platéias". O Buldogue não se intimida,
parte para o ataque até a morte.
Uma história conhecida é atribuída ao
reverendo Bob Schuller e relata uqe um dia estava visiatndo os membros de sua
igreja quando viu um grande cachorro buldogue correndo na direção da calçada
por onde ele estava andando. Todos os cachorros menores latiram e rosnaram para
o buldogue por ele está invadindo território alheio. Mas o buldogue nunca
desviou do caminho que tinha determinado e continuou como se nada o estivesse
atrapalhando. Quando Schuller se aproximou do buldogue, ele se decidiu que não
ia se desviar do seu caminho por causa de um cachorro. No entanto, quando uma
colisão se tornou aparente, foi o pregador que acabou desviando. O velho
buldogue nem mesmo parou para olhar o homem, continuando seu caminho como se
não houvesse ninguém ao seu redor. Mas tarde, naquela noite, Schuller orou
pedindo ao senhor que lhe desse o que aquele buldogue tinha, determinação.
ABELHAS:
Mente cauterizada pelo veneno do pecado.
As abelhas operárias possuem glândulas
odoríferas, glândulas de veneno, ferrão, etc. Quando uma pessoa é picada várias
vezes pela abelha seu organismo se torna imune ao veneno que passa a não surtir
mais efeito.
Parece que quando estamos constantemente
se deixando picar por alguns venenos do nosso cotidiano, nos tornamos imunes ao
seu efeito achando-o normal.
MUDA DOS ARTRÓPODES: CRESCENDO DE DENTRO PARA FORA
Para crescer o artrópode (insetos,
aranhas, crustáceos etc) precisa se desfazer de
seu esqueleto exterior, que só permite o crescimento dentro dos limites
estreitos. Quando o animal abandona o esqueleto antigo cresce enquanto o nove
estiver mole.
Sabia que precisamos abandonar a capa para crescer mais?
BANDOS: União para vencer.
Nos bandos hibernais de alguns
pássaros ou de patos, a presença de muitos olhos e ouvidos contribui para
melhor proteção durante a alimentação e o sono.
Os lobos podem matar presas de
grandes tamanhos quando reunidos em bandos, ao passo que são incapazes de
fazê-lo quando isolados.
O PICA-PAU:
CONVIVER É RESPEITAR A INDIVIDUALIDADE
Para o homem, muitas vezes, coabitar
é um desafio.
Para três espécies de Pica-Paus do
gênero Dendrocopus coabitar é “respeitar” a individualidade. Essa espécies de
pica-paus convivem em uma mesma árvore e cada uma delas explora uma parte
diferente da árvore: uma procura o alimento nos troncos; outra procura o
alimento nos ramos grossos e a outro retira seu alimento dos raminhos finos, de
forma que todas podem obter alimento de uma mesma árvore sem competir.
Se você quer ser livre dê e aceite a
liberdade dos outros.
O TOURO E A FORÇA: Você não sabe a força que tem
Um homem foi a uma tourada. No
final da apresentação resolveu olhar os touros mais de perto, dirigiu-se então
para o local onde eles estavam presos. Ao se aproximar de um touro percebeu que
ele estava preso por uma corda muito fina e, que facilmente poderia ser rompida
pelo touro. Naquele momento, pensou o homem, se o touro arrebentar esta corda
com certeza ele irá me atacar, desesperado ele procurou se retirar do lugar.
Quando saía rapidamente encontrou um senhor que cuidava dos touros.
-
O que houve meu jovem? – Perguntou o senhor.
-
Este touro está preso por uma fina corda e se fugir irá
nos matar – Repondeu angustiado.
-
Calma meu jovem – disse o velho com um sorriso no rosto
– O touro não arrebenta a corda porque ele não sabe a força que tem.
RITUAL DE PASSAGEM:
Sozinho, mas acompanhado.
Lembre-se que Deus está com você em
todo momento, mesmo que não o veja.
Há uma história sobre um jovem índio
que teve que passar por um ritual antes que pudesse entrar na idade adulta. Ele
precisava provar à comunidade que era bravo e podia sobreviver aos perigos do
mundo. Para isso, ele teve que ir a floresta e passar uma noite sozinho. Não
pôde levar nada consigo a não ser uma faca para proteção. Durante toda a noite
ele ouviu ruídos estranhos e esperou pelo pior. Mais tarde, o jovem garoto
descobriu que seu pai estava bem perto dele a noite inteira, tomando conta
dele.
O
SÁBIO: É PRECISO EXPERIMENTAR
Um sábio
desafiava a qualquer uma pessoa a discutir com ele sobre o cristianismo.
Certo dia, enquanto falava a uma pequena
platéia um homem humilde e mal vestido se dispôs a argumentar com o sábio.
Neste momento o sábio lhe franqueou a palavra dizendo: Responda meus
argumentos! O humilde homem apanhou uma laranja, descascou com calma, chupou a
laranja e voltando-se para o orador disse: Estou pronto para falar. O sábio,
com um sorriso irônico foi dizendo: Até que enfim! Vamos lá! Fale, fale... que
tem a dizer em resposta aos meus argumentos contra o cristianismo?
Então, perguntou-lhe o homem! A laranja
que chupei estava doce ou azeda? O silêncio foi total, quebrado em seguida por
imensa gargalhada. Todos riam! Mas quem mais ria era o sábio que disse: Foi o
senhor que chupou a laranja... O senhor é que deve saber se elea estava doce ou
azeda!... Um momento vamos com calma...
Se que chupou a laranja fui eu, e só eu sei se ela estava doce ou azeda, isso
fala a meu favor e em favor de minha fé cristã. Antes de me tronar cristão
minha vida era de uma forma. Um dia conheci o evangelho e me transformei. Um
verdadeiro milagre! De modo que como o senhor vê, eu provei da laranja da
salvação e sei que ela é doce, muito doce. Na verdade é o senhor que está
fazendo o papel de maluco, falando de
assunto que o senhor não conhece. Se o senhor nunca experimentou a fé
cristão como pode saber o gosto que ela tem?
O sábio fora silenciado.
O JOVEM AGRICULTOR: COISAS CERTAS NA HORA ERRADA.
Era uma vez
um jovem agricultor que tinha uma namorada muito bonita. Ele tinha tudo para
ser feliz, no entanto, era triste. Isto chamou a atenção de um velho amigo da
família que, procurando ajudar, perguntou como ele procedia no seu dia a dia.
“De manhã bem cedo”, respondeu o rapaz,
“passo passo para ver minha namorada e depois vou ao campo fiscalizar as
atividades dos meus trabalhadores. Mas, ultimamente, a namorada não me parece
tão bonita como era e a plantação anda meio sem viço e sem verdor”. “Então faz
assim”, aconselhou o amigo experiente, “quando você levantar, primeiro visite
seus campos, e só então, na volta, passe para ver sua namorada”.
Algum tempo mais tarde os dois amigos
voltaram a se encontrar. Agora o rapaz estava alegre e satisfeito, e o amigo
notando, explicou: “Você não cometia nenhum engano, mas havia um problema.
Fazia a coisa certa na hora errada! Porque cedo, a namorada ainda estava sonolenta,
os olhos ainda estavam meio fechados e sem brilho, não havia se penteado como
devia, nem tinha tifo tempo de colocar um perfume. Da mesma forma, com o sol
alto as plantações ficam mesmo caídas, pois já perderam o frescor do orvalho da
madrugada que lhes fazem bonitas e viçosas”.
ALCOÓLATRA: QUANDO VOCÊ INTERPRETA DA MANEIRA ERRADA
Um médico fazia uma palestras a um grupo
de alcoólatras. Ao iniciar a apresentação disse: “Hoje vou realizar uma
experiência para mostrar a vocês o efeito do álcool”. Levantou um copo e
afirmou: “Aqui dentro há álcool”. Com uma pinça, pegou um verme, mostrou-o para
a platéia e o soltou dentro do copo. Imediatamente o verme se desfez, causando
impacto nos presentes. Em seguida, ele levantou outro copo e disse: “Aqui dentro
há água”. Novamente pegou outro verme e o soltou dentro do copo. O verme se
mexeu, mostrando sua energia. Nesse momento, no meio da platéia, um indivíduo
embriagado levantou a mão e, com voz pastosa, disse: “Entendi bem o que o
doutor quis dizer, e concordo inteiramente. Sua mensagem é sensacional”. Feliz,
o médico pediu: “Por favor, diga em voz alta, para que todos escutem, qual é a
minha mensagem”. Solícito, o indivíduo declarou: “Doutor, o senhor acabou de
mostrar com essa experiência que quem bebe não tem verme no organismo. O álcool
mata o verme”!
O homem sempre procura uma justificativa
para o seu erro, por isso interpreta de forma errada.
CASAL:
Diálogo
Um casal de velhinhos
apaixonados, casados há cinquenta anos, foi comprar dois jazigos no cemitério,
um ao lado do outro. Depois de fechar o negócio, o velhinho disse:
-
Querida,
quando eu morrer, quero ser enterrado do lado esquerdo.
Surpresa, ela respondeu:
-
Está
bem. Se você morrer antes, vou pedir para que o enterrem do lado esquerdo. Mas
estou curiosa para saber porque você quer ser enterrado do lado esquerdo se a
vida toda dormiu do lado direito da cama. Por acaso teria preferido dormir do
outro lado?
Ele olhou com ternura e afirmou:
-
É
verdade, eu sempre quis dormir do lado esquerdo da cama.
-
Espantada
ela perguntou:
-
E
por que nunca disse? Teria sido tão simples trocar de lado...
CEMITÉRIO
O lugar mais rico deste planeta não
são os campos de petróleo do Kuwait, do Iraque ou da Arábia Saudita. Nem tão
pouco, as minas de ouro e diamantes da África do Sul, as minas de Urânio da
União Soviética e as minas de prata da África. Embora isso seja surpreendente,
os depósitos mais ricos de nosso planeta podem ser encontrados a alguns
quarteirões da sua casa. Eles estão no cemitério local. Enterrados embaixo do
solo. Dentro das paredes daqueles túmulos sagrados estão sonhos que nunca se
realizaram, canções que nunca foram escritas, pinturas que nunca encheram uma
tela, idéias que nunca foram compartilhadas, visões que nunca se tornaram
realidade, invenções que nunca foram criadas, planos que nunca passaram da
“prancheta” mental e propósitos que
nunca foram realizados. Nossos cemitérios estão cheios de um potencial que
permaneceu inerte.
O DOENTE: Batendo na porta errada
Você já passou pela experiência de procurar a solução para o seu
problema no lugar errado?
Um homem foi ao médico. O doutor disse a ele: “Eu tenho certeza de que
tenho a resposta para o seu problema”. O homem respondeu: “Eu espero que sim,
doutor. Eu deveria Ter vindo me consultar com o senhor a muito tempo”. O médico perguntou: Äonde você foi primeiro?’
“Eu fui ao Farmacêutico”, replicou o homem. O médico comentou sarcasticamente:
“Que tipo de conselho ele te deu?” O homem disse: Ele mandou que eu viesse me
consultar com o senhor.
O
MISSIONÁRIO
Stanley Jones
da Índia, relata que uma noite, bem tarde, foi procurado por dois homens, mal
vestidos, sujos e que pediam por comida e abrigo. Aqueles homens
interrogaram-no a cerca do Cristianismo.
O missionário teve uma surpresa no outro
dia quando os dois homens retornaram com trajes de príncipes. O que vocês estão
fazendo com esta roupa? Vocês não são os mendigos de ontem? Eles disseram que
gostariam de Ter certeza de que tudo o que dizem de do Cristianismo era verdade.
8.6 Introdução do sermão
Começar é difícil.
Muitos escritores escrevem a introdução quando terminam o livro.
Alguém disse: “O
pregador começou por fazer um alicerce para um arranha-céu, mas acabou
construindo apenas um galinheiro”.
A introdução é tão importante
quanto a decolagem de um avião que, deve ser bem perfeita para um vôo
estabilizado. Ela, por certo, deve
envolver o ouvinte, despertar o interesse e curiosidade e, também, ser um meio de conduzir os ouvintes ao
assunto que está sendo tratado no sermão. Uma boa introdução dá ao pregador
segurança, tranquilidade, firmeza e liberdade na pregação.
Uma boa introdução deve ser:
1. Breve (em torno de 5 minutos)
2. Apropriada, de acordo com o tema do
sermão.
3. Interessante.
4. Simples. Sem arrogância, sem prometer
muito.
5. Cuidadosamente preparada.
8.6.1 - Tipos de introdução:
Uma
introdução bem estruturada, deve apresentar algumas características como,
clareza e simplicidade, deve ser um elo de ligação com o corpo do sermão e uma
ordenação de pensamentos de forma lógica e sistematizada e, não deve prometer
mais do que se pode dar. É preciso estar
atento para o tempo de duração da introdução que, deve ser breve e proporcional
ao sermão. Evitar desculpas que possam trazer uma má impressão. Você
pode usar um destes tipos para iniciar um sermão:
1 – ILUSTRATIVA – Uso de uma ilustração na
introdução. Imagine que o assunto que será abordado seja complexo e abstrato.
Então, comece com uma ilustração que
explique e esclareça o que pretende dizer.
2 – DEFINIÇÃO – Explicação detalha de um
determinado conceito. Explique para o
ouvinte o que tem a dizer. Dê a ele conceitos significados de símbolos, termos
e assuntos que ele provavelmente não conheça.
Em um sermão onde o assunto é a PAZ, o pregador explicou, na introdução,
o que é a paz, seus significados no
velho e novo testamento, evolução lingüística do termo paz e a aplicação termo
hoje.
3 – INTERROGAÇÃO – Uma pergunta (deverá
ser respondida no corpo do sermão).
Para sermões onde o tema é uma
pergunta é interessante que esta seja bem explorada na introdução. Observe que,
se estamos falando sobre morte ou salvação cabe aqui uma pergunta como “Para
onde iremos nós?”, que deve levar o ouvinte a uma reflexão profunda, e para
reforçar pode-se usar o texto de Lucas 12:20
“Mas Deus lhe disse: Insensato, esta noite te [pedirão] a tua alma; e o
que tens preparado, para quem será?”
As perguntas da introdução devem ser
respondidas no corpo do sermão.
4 – ALUSÃO HISTÓRICA – Explicar o contexto
histórico.
Explique o contexto do texto em que
será aplicada a mensagem ( época, país, costumes, tradição, etc.). Observe o texto de João 4: 1 a 19. Caso sua mensagem esteja baseada
neste texto, introduza com uma
explicação detalhada das relações entre os Judeus e os Samaritanos, as
relações entre os homens e as mulheres, a lei acerca do casamento, a origem do
poço de Jacó, etc.
8.6.2. Corpo do sermão
Esta
deve ser a principal parte do sermão.
Aqui o pregador irá
expor idéias e pensamentos que deseja passar para os ouvintes.
As divisões devem
ser desenvolvidas de acordo com a realidade de hoje.
As
divisões devem Ter significados para os ouvintes e, não devem se desviar da
mensagem principal que é a coluna do sermão, o objetivo será finalizado e
apresentado na conclusão.
O ouvinte precisa acompanhar o seu
desenvolvimento . “Cada divisão, subdivisão, e até ilustrações e explicação,
tem que apontar na direção do alvo e em ordem de interesse”. Cada ponto deve
discutir um aspecto diferente para que não haja repetição.
As frases devem ser breves e claras.
As divisões servem para indicar a linha de pensamento a serem seguidas ao
apresentar o sermão. Entretanto, deve-se fazer uma discussão que é a revelação das idéias contidas nas divisões.
Resumindo...
1.
Devem ter unidade de pensamento.
2.
Elas ajudam o pregador a lembrar-se dos pontos principais do sermão.
3.
Elas ajudam os ouvintes a recordarem-se dos aspectos principais do
sermão.
4.
Elas devem ser distintas umas das outras.
5.
Elas devem originar-se da proposição e desenvolvê-la progressivamente até o
clímax do sermão.
6.
Elas devem ser uniformes e simétricas.
7.
Cada divisão deve Ter apenas uma idéia ou ensino.
8. O número das divisões deve, sempre que puder, ser o menor possível.
9.
Deve girar em torno de uma única idéia principal da passagem, e as divisões
principais devem desenvolver essa idéia.
10.
As divisões podem consistir em verdades sugeridas pelo texto.
11.
As divisões devem, preferencialmente e quando possível, vir em seqüência lógica
e cronológica.
12.
As próprias palavras do texto podem formar as divisões principais do sermão,
desde que elas se refiram à idéia principal.
Exemplos de
divisões:
Ex.: 1
Tema: O Cristo que não muda
Texto: Hebreus 13:8 Jesus é o mesmo ontem,
hoje e eternamente.
Divisão I - O que não muda em Cristo ?
Divisão II - Por que não há mudança em
Cristo ?
|
Deve-se fazer a transição entre as divisões do sermão: Na proposição "A Vida Cristã é uma Vida
Vitoriosa" podemos incluir a seguinte interrogativa:
"Quais são os motivos que nos levam a
considerar que a Vida Cristã é uma Vida Vitoriosa?"
“
Como se faz da Vida Cristã uma Vida Vitoriosa?” Este tema poderia nos levar a uma resposta
baseada em Romanos: "Por que todas as coisas concorrem para o bem daqueles
que amam a Deus" ou "Por que em todas essas coisas somos mais do que
vencedores".
A transição para a interrogativa
acima, por exemplo, poderia ser: "Vejamos cinco motivos pelos
quais podemos afirmar que a Vida Cristã é uma Vida Vitoriosa". A
palavra motivo é a palavra-chave da transição.
Nas divisões pode-se apresentar a palavra motivo como:
Divisão
I – O primeiro MOTIVO é...
Divisão
II – O segundo MOTIVO é...
Divisão
III – O terceiro MOTIVO é...
Divisão
IV – O quarto MOTIVO é...
Divisão
v – O quinto MOTIVO é...
8.6.3 Conclusão
É o clímax da
aplicação do sermão
“Para terminar!” , “Concluindo”, “Só para encerrar”, “Já estamos terminando”.
Você já ouviu estas frases? Muitas pessoas
não sabem terminar uma conversa, ficam dando voltas ou se envolvem em outros
assuntos, sem ao menos perceber que o tempo está passando e o ouvinte já está
angustiado com a demora.
Assim, muitos pregadores não sabem ou não
conseguem concluir um sermão. Isso acontece por que estes não preparam um
esboço e suas idéias estão desordenadas, logo, não conseguem encontrar uma
linha condutora da conclusão do sermão.
COMO DEVE SER A CONCLUSÃO ?
1 – Apontar o objetivo específico da
mensagem;
2 – Clara e específica;
3 – Resumo do sermão (o sermão em poucas
palavras)
4 – Aplicação direta a vida dos ouvintes;
5 – Pequena;
6 – Faça um desfecho inesperado.
Logo, uma boa conclusão deve proporcionar
aos ouvintes satisfação, no sentido de haver esclarecido completamente o objetivo da mensagem. É preciso Ter um
ponto final para que o pregador não fique perdido.
OBS.: NÃO DEVE PREGAR UM SEGUNDO SERMÃO
8.6.4 Apelo
Um esforço feito para alcançar o coração, a consciência e a vontade do
ouvinte. Ao fazer o apelo, os pronomes se tornam muito importantes. Usem os
pronomes "vós" e "nós". Incluam-se nele.
Apelo não é apelação.
Dois
tipos de apelos:
·
CONVERSÃO/RECONCILIAÇÀO
– Aos ímpios e aos desviados.
·
RESTAURAÇÃO
– A igreja
COMO DEVE SER O APELO ?
1
– Convite
2
– Impactante e direto
3
– Não forçado ou prolongado
4
– Logo após a mensagem.
No
apelo você deve dizer ao ouvinte o que ele deve fazer para CONFIRMAR a
sua aceitação. Seja claro e mostre como ele deve agir.
·
Levantar
as mãos;
·
Ir a
frente;
·
Ficar
em pé;
·
Procurar
uma igreja próxima;
·
Conversar
com o pastor em momento oportuno.
9. Tipos de sermões
Tradicionalmente
encontramos, praticamente em todos as obras homiléticas, três tipos básicos de
sermões:
SERMÃO TEMÁTICO: Cujos argumentos (divisões) resultam
do tema independente do texto;
SERMÃO TEXTUAL: Cujos argumentos (divisões) são tiradas diretamente do
texto bíblico;
SERMÃO EXPOSITIVO: Cujos argumentos giram em torno da
exposição exegética completa do texto.
9.1 Sermão textual
É aquele em que toda a argumentação está
amarrada no texto principal que, será dividido em tópicos. No sermão
textual as idéias são retiradas de um texto escolhido pelo pregador.
O mais comum é o pregador usar a divisão
natural do texto, onde a distinção das idéias está no texto e apenas deve
ser posta em destaque.
Este tipo de divisão permite ao pregador usar as próprias
palavras do texto. Exemplo, I Cor. 13:13 apresenta três divisões naturais, cujo
tema tirado do texto, fica a critério do pregador.Também pode-se dividir por inferência, as orações
textuais são reduzidas a expressões sintéticas que encerra o conteúdo. E ainda,
otra divisão que pode ser usada é a textual analítica. Este tipo de
divisão baseia-se em perguntas: quem? que? quando? por que? como? e, onde?
O tema do sermão textual analítico é tirado da idéia geral do texto.
Exemplo: Lucas 19: 1-10:
a) foi uma visita inesperada;
b) foi uma visita transformadora;
c) foi uma visita salvadora.
COMO TIRAR PONTOS DO TEXTO
1 – Leia todo o
texto.
2 – Procure a idéia
principal do texto. (Observe o subtema, o contexto, e a situação)
3 – Procure os
principais verbos e seus complementos. Lembre-se verbo é ação.
4 – Procure os
sentidos expressos nas representações simbólicas, metáforas e figuras.
4 – Com base nos
verbos e significados retirados crie frases (divisões) que os complemente e
que, passem uma idéia ou estejam ligadas com a mensagem a ser pregada.
5 – Organize as
frases dentro da idéia principal.– Leia todo o texto. Ex.:
Observe o exemplo: Texto:
Salmo 40:1-4
Tema: Nem
antes, nem depois, no tempo de Deus.
Introdução:
Esperança significa
expectação em receber um bem. O mundo é imediatista.
Corpo: O que acontece quando você espera no
senhor?
Divisão I – Ele te retira da condição
atual. ( Qual é o seu lago terrível? )
Divisão II – Ele te coloca em segurança,
na rocha. ( Te dá visão para solucionar o problema )
Divisão III – Ele requer a sua adoração,
um novo cântico. ( Adorar em Espírito e verdade )
Divisão IV – Ele te faz testemunha,
muitos o verão. ( serme-eis testemunha )
Reparando que cada tópico (divisão) apresenta um termo ou uma passagem do texto.
De tal forma que o texto pode ser bem explorado pelo preletor. Deve-se evitar
divagações e generalizações vazias e inexpressivas.
O sermão textual exige do pregador
conhecimento do texto, contexto e cultura bíblica.
9.2 Sermão temático
É aquele em que toda a argumentação está
amarrada em um tema, divide-se o tema e não o texto, o que permite a utilização
de vários textos bíblicos.
A
divisão deriva-se do tema ou assunto apresentado e é independente do texto
bíblico escolhido. No sentido técnico, o sermão tópico é aquele que deve sua
estrutura e sobretudo divisões ao desenvolvimento da verdade que está em volta
do tema.
Observe o exemplo: Tema:
“A PAZ QUE SÓ JESUS PODE DAR...”
1 – ...ilumina nosso caminho Lucas 1:79
2 – ...liberta a nossa mente de
pensamento perturbador João 14:27
3 – ...retira sentimento de medo João 20:19 e 20
4 – ...salva João 3:16
Reparando que cada tópico (divisão)
apresenta uma característica da “Paz” proposta pelo tema, mas, para cada
ponto há um texto diferente, ou seja, a base do sermão é a “Paz de Jesus” que é
abordada em diversos textos bíblicos.
É
necessário aplicar um texto bíblico em cada divisão do tema para não
atrair muito a atenção para o pregador em detrimento da palavra de Deus.
Deve-se evitar divagações e generalizações vazias e inexpressivas.
O sermão temático exige do pregador mais
cultura geral e teológica, criatividade, estilo apurado, contudo, o sermão
temático conserva melhor a unidade.
COMO
RETIRAR IDÉIAS E ARGUMENTOS (DIVISÕES) DO TEMA
·
Escolher
o tema – (Criar frases, retirar de textos bíblicos ou de outras fontes);
·
Analisar
o tema – (repetir e refletir várias vezes);
·
Pergunte-se,
o que deve falar sobre o tema;
·
Extrair
a principal palavra ou frase do tema – (Ela pode se repetir nos argumentos);
·
Separe
no mínimo 3 argumentos ligados ao tema;
·
Pesquisar
passagens bíblicas que se refiram aos argumentos.;
·
As
divisões são explicação ou respostas do tema.
9.3 Sermão expositivo
É aquele que explora os argumentos principais da exegese, hermenêutica e
faz uma exposição completa de um trecho mais ou menos extenso. O sermão expositivo
é uma aula, uma análise pormenorizada e lógica do texto sagrado. Este tipo do
sermão requer do pregador cultura teológica e poder espiritual.
O sermão expositivo está diretamente ligado ao sermão textual, com a
diferença de que o seu desenvolvimento é feito sob as regras da exegese
bíblica, e não abrange um só versículo, mas uma passagem, um capítulo, vários
capítulos, ou mesmo um livro inteiro
O sermão expositivo é o método mais difícil, apreciado pelos que se
dedicam à leitura e ao estudo diário e contínuo da bíblia, deve ser feito uma
análise de línguas, interpretação, pesquisa arqueológica, e histórica, bem
como, comparação de textos.
CARACTERÍSTICAS DO SERMÃO
EXPOSITIVO
·
Planejamento
·
Poder
abordar um grande texto ou uma passagem curta;
·
Interpretação
mais fiel;
·
Análise
profunda do texto;
·
Unidade,
idéias subsidiárias devem ser agrupadas com base em uma idéia principal;
·
Não
é suficiente apresentar só tópicos ou divisões;
·
Tempo
de estudo dos pontos difíceis;
·
Pode
ser abordado em série.
É muito comum o uso do sermão
expositivo em pregações seriadas como conferências e estudo bíblico.
Exemplo:
O encontro com a vida
Lucas 7:11-17
Divisão I - A multidão que seguia a Jesus
A ) Pessoas desejosas
B ) Pessoas com esperanças
C ) Pessoas alegres
Divisão II - A multidão que seguia a
viúva
A ) Pessoas entristecidas
B ) Pessoas sem esperanças
C ) Pessoas inconformadas
Divisão III - O encontro da vida com a
morte
A ) A vida é uma autoridade
B ) A morte se curva ante a vida
Divisão IV - O resultado do encontro
A ) A ressurreição do jovem
B ) A alegria da multidão entristecida
C ) A edificação da multidão que seguia
Jesus
D ) A conversão de muitos
10. CONSELHOS PARA PREPARAR E PREGAR SERMÕES
*
Escrever e ler o sermão
*
Preparar um esboço e pregar
*
Estudos bíblicos para escolher uma idéia central e depois, através da Bíblia,
fazer um estudo das passagens que se relacionam com a idéia central. Para se
conseguir isso, geralmente se necessita de uma concordância.
*
Escolher e determinar os pensamentos que vão ser usado como divisões do tema.
*
Depois escolher, dentre os muitos textos relacionados com o assunto, quais vão
ser usados no desenvolvimento da exposição.
*
Geralmente se usa um ou dois textos, dos mais importantes e claros, no
desenvolvimento de cada divisão.
* Para
desenvolver de maneira contínua a mensagem, e não Ter que parar para procurar
as passagens na Bíblia, convém copiá-las em um pequeno esboço.
“Ouvindo alguém a palavra do Reino e não a
entendendo, vem o maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração; este é o
que foi semeado ao pé do caminho. ... Mas o que foi semeado em boa terra é o
que ouve
e compreende a palavra; e dá fruto, e um produz cem,
outro, sessenta, e
outro, trinta” (Mt. 13:19,23).
“E, chamando a si a multidão, disse-lhes: Ouvi e
entendei..” (Mt. 15:10).
“E, respondendo ele, disse: Amarás o Senhor teu Deus
de todo o
teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as
tuas forças, e de todo o
teu entendimento e ao teu próximo como a ti mesmo”
(Lc. 10:27).
Manual de Homilética
A pastoral da Palavra
Introdução
A pastoral da palavra corresponde à Igreja pela sua
própria constituição. Desde o Concílio Vaticano II a eclesiologia tem
aprofundado a dimensão sacramental do mistério da Igreja. O sacramento traz
consigo a conjunção do gesto com a palavra, do mesmo modo que na história da
salvação e em Cristo, seu acontecimento central, as palavras sempre estiveram
iluminando o sentido dos acontecimentos. A Const. Dei Verbum insistiu nesta conjunção do fato e da
palavra na progressiva auto-revelação de Deus. A ação
pastoral da Igreja, que continua na história sendo mediação da doação de Deus,
tem a palavra como um dos elementos que a constituem. Os gestos e as ações
podem ser ambíguos, sujeitos de diversas interpretações; a palavra oferece o
sentido exato da ação, interpreta-a, dá a sua autêntica intencionalidade.
Porém,
falar de palavra na Igreja não é possível à margem da Palavra com maiúscula que
sustenta e faz viver à própria Igreja. Antes que missão, a palavra na Igreja é
dom. Sua voz não quer ser senão o eco de outra palavra que foi pronunciada nela
e que ressoou no fundo do seu ser.
Para falar da palavra na Igreja é necessário fazer uma
primeira referência à revelação de Deus que foi acolhida na fé da Igreja e a cujo
serviço ela mesma vive. Por isso entre a Palavra e o ser
da Igreja há relações múltiplas e variadas. Mais ainda, devemos falar da Igreja
como o lugar onde hoje essa Palavra continua ainda ressoando para o mundo e
continua chamando e convidando o homem para participar do mistério divino. De
fato, a fé é resposta ao Deus que se nos revelou e a Igreja foi convocada e
cresce pelo anúncio do Evangelho.
Num
segundo momento temos que falar da Palavra situada na ação pastoral da Igreja.
A principal manifestação da Palavra na ação pastoral da Igreja é, sem dúvida,
aquela que acompanha o testemunho crente, explica-o e interpreta-o, e faz dele
chamada evangelizadora para os homens e o mundo. Para essa Palavra deve ir
dirigida toda esta pastoral. O restante das ações pastorais têm como objeto o
fato de que a Igreja continue sendo medianeira da salvação para o mundo,
continue sendo o lugar onde a Palavra se pronuncia, significa, dá sentido ao
mundo e produz nele os seus frutos.
Para
garantir essa Palavra que se identifica com sua missão, a Igreja também tem
seus meios e suas estruturas. Agora vamos deter-nos em dois que podem ser
origem de muitos outros: a formação permanente como palavra meditada e a
pregação homilética.
Aqui
repetiremos algumas noções básicas da teologia fundamental e da eclesiologia
para fundamentar nessa mútua relação os imperativos que devem acompanhar toda
pastoral da palavra.
a. As distintas presenças de Deus na Igreja
A palavra
de Deus na vida da Igreja se situa no seio de outras muitas presenças. Falamos
de Deus presente na criação e descoberto na contemplação de suas maravilhas,
falamos de Deus presente nos acontecimentos e descobrimos sua ação perscrutando
os sinais dos tempos, falamos de Deus presente no homem que é sua imagem e o
manifestamos respeitando-o e no comportamente fraterno; no interior mesmo
da Igreja falamos da presença de Deus na comunidade reunida em seu nome, de sua
vontade manifestada no serviço da hierarquia, de sua ação santificadora na
celeração sacramental e, de modo especial, falamos da presença real de Cristo
nas espécies eucarísticas.
Nenhuma
dessas presenças é alheia à presença em sua própria palavra, dada ao longo da
história; e mais ainda, foi esta mesma Palavra que nos levou a descobrir Deus em
outras realidades.
b. A revelação como fato dinâmico de autocomunicação de Deus
A
história da revelação é a história da autocomunicação de Deus ao homem e seu
resultado é a vida.
Ao longo
dos tempos, Deus saiu ao encontro do homem para oferecer-lhe sua comunhão. Sua
Palavra representou a oferta de uma comunhão na qual o homem pode encontrar sua
verdade última, o caminho de sua realização humana e da salvação integral à
qual ele aspira.
Conseqüentemente,
Deus ao revelar-se, doa-se. O que Ele comunica não é a sua compreensibilidade,
mas sua vida e sua comunhão como oferta ao homem. E o homem, mais que
compreender ao receber sua Palavra, encontrou novas possibilidades de vida,
encontrou a própria vida. A revelação de Deus não é alheia à revelação do
próprio mistério do homem. Na revelação, conhecemos também o ideal de homem que
desde sempre Deus tinha projetado.
A partir da Palavra de Deus pronunciada na criação que
faz surgir a vida até a Palavra definitiva dada na manhã da Páscoa que faz
surgir a vida nova, toda a história da Revelação está unida a uma vida que é
diferente se se aceita ou se se rejeita. Deus vai se revelando como
possibilidade para o homem de uma forma diferente de viver que leva à plenitude
do mesmo ser humano. Quem recebe sua palavra se encontra com a realidade de ser
filho de Deus.
c. Cristo, plenitude da Palavra e inesgotabilidade de sua Palavra
Por isso, o acontecimento de Cristo, por ser a
manifestação última do Filho e da Palavra, é a plenitude da revelação. O Deus
que se havia revelado de diversas formas e maneiras ao longo dos séculos, no
Filho se manifestou definitivamente.
A Palavra
de Cristo, revelando o rosto de Deus, foi assegurando as possibilidades de um
mundo novo no qual Deus, reconhecido como Pai, torna possível a fraternidade
entre os homens. A comunhão de Deus oferecida em sua Palavra faz surgir
a comunhão entre os homens como realidade e como vocação dos que o receberam.
d. A Palavra eternizada pelo mistério pascal
Se em Deus palavra e vida se mesclaram na história de sua
revelação, a vida do Ressuscitado é a última Palavra pronunciada por Ele.
Com ela,
começou o tempo definitivo. A Páscoa se converte no acontecimento da
autentificação do Filho, da aparição da Igreja e do futuro do mundo.
- A
pretensão do Jesus histórico foi selada com o selo da autenticidade na manhã da
Páscoa. Dando-lhe a vida, o Pai ratificou a sua Palavra como Palavra de vida. O
que dizia era verdade. Porém a vida do Ressuscitado tem como componente novo o
que está sentado à direita do Pai. A Palavra entrou na esfera de Deus e se
eternalizou no tempo. O mistério pascal converteu a palavra do tempo em Palavra
eterna, a palavra concreta em palavra universal, a palavra do amigo em palavra
do Senhor, a palavra do homem em palavra de Deus. Agora, o que disse Jesus,
converteu-se na palavra que Deus queria dizer a todos sempre e para sempre.
- O
mistério pascal é também inseparável do mistério de Pentecostes e do mistério
da Igreja. Mais ainda, eles são também componentes da Páscoa. Graças à
ação do Espírito, princípio de missão e testemunho apostólico, a palavra do
Ressuscitado aparece unida à missão de uma Igreja que a conserva íntegra, a
pronuncia no tempo, vive de sua escuta e meditação e a transmite de geração em
geração até que o seu Senhor volte. A Igreja surge, assim, como servidora da
Palavra e sua tarefa central é o anúncio do Evangelho com a integridade de seu
testemunho, cumprindo o mandato de Cristo.
- A
Palavra que a Igreja serve em sua ação pastoral tem como destinatário o mundo.
Ela é capaz de fazer novas todas as coisas. Com o acontecimento pascal o mundo
se abriu para um futuro de ressurreição para o qual vive a Igreja e que será
dom escatológico do Pai. A palavra que a Igreja anuncia não é alheia à
construção deste mundo, mas a implica e a compromete. A palavra da Igreja é
anúncio e denúncia, palavra profética que é pronunciada para que o Reino de
Deus seja semeado e fermente a complexidade das realidades mundanas. A pastoral
da Palavra está inseparavelmente unida à pastoral do compromisso e do
testemunho eclesial em meio às realidades temporais.
e. Palavra iluminadora da situação atual
O que nos foi dito em Cristo é luz que ilumina a todo
homem que vem a este mundo (cf. Jo 1,9).
A Igreja vive para que sua palavra seja luz que chega a todas as situações e
realidades humanas e as salve.
Sua função servidora da Palavra no aqui e agora da
história é possível graças à presença do Espírito que revela e leva ao
conhecimento total de Cristo (cf. Jo 15,12-15),
que faz d’Ele resposta à problemática e à situação de todos os homens.
A
história da Revelação foi uma revelação progressiva de Deus até chegar a
Cristo. Hoje a história da Igreja é aprofundamento progressivo naquilo que em
Cristo já nos foi dado para torná-lo vida e razão para viver de todos os
homens. A plenitude da Revelação nos supera e nos transcende; a tarefa da
Igreja é penetrar paulatinamente nela para ir descobrindo sua riqueza e para
fazer viver a partir dela todos os que recebem seu Evangelho.
f. Os diversos carismas e a palavra
Cada
ministério e cada carisma na Igreja serve à Palavra a partir de sua
especificidade.
A uns
corresponde o cuidado da Palavra, sua transmissão íntegra, sua proclamação
autorizada, sua atualização celebrativa; a outros o seu modo de pronunciá-la é
torná-la vida e testemunho no meio das mais variadas circunstâncias humanas,
mostrá-la como razão da própria esperança, como fonte do mais diverso
compromisso. Para todos a Palavra é fonte; em todos a Palavra ressoa; na
complementaridade e na comunhão das diversas tarefas Deus continua falando e
dizendo a palavra em Cristo para todos os homens e para toda a história.
2 – A Palavra de Deus na Igreja e para a Igreja
O estudo da função do anúncio tem seu ponto de partida
numa reflexão teológica sobre o significado da Palavra de Deus na Igreja
e para a Igreja, passando por uma análise do
conteúdo e das diversas formas do anúncio até chegar, finalmente, às questões
práticas sobre o desenvolvimento da pregação.
a. A teologia do anúncio
Esta afirmação bastante categórica chama a atenção sobre
a importância da Palavra de Deus na Igreja. O constitutivo essencial do
ministério profético é a Palavra de Deus, realidade primeira da economia da salvação. Com sua palavra Deus não só fala, mas
age, não só revela, mas se torna presente.
No que se refere ao papel que a pregação tem de levar ao
encontro da fé, já conhecemos as palavras de S. Paulo de que «a fé vem de ouvir
a pregação» (Rm 10).
Esta afirmação guarda todo seu valor, na medida que o caminho psicológico para
se alcançar a fé passa normalmente pela fé. No entanto, a pregação da Igreja
por si só não é o fundamento absoluto da certeza obtida pela fé.
O papel da pregação eclesiástica: ser um serviço em favor
da palavra (cf. At 6,4);
a pregação é só um intermediário dessa mesma palavra, que empresta sons à
Palavra de Deus e convita a pessoa humana a assumir uma posição. A parte que
lhe toca é a de estabelecer o encontro do homem com Deus, preparando o caminho
para a fé como instrumento que dispõe a ela; não lhe corresponde criar
a fé nem torná-la operativa. A causa da atuação da fé é, e continua sendo, em
primeiro lugar Deus e, em segundo lugar, o homem que, usando a própria
liberdade, acolhe o convite divino. Portanto, a pregação não é, nem mais nem
menos, que um serviço intermediário, a favor daquilo que, em última
instância, se realiza entre Deus e a alma do homem.
A Palavra
de Deus não é só uma ação, mas também uma revelação dirigida aos homens para
despertar neles um ato pessoal de obediência e para manifestar certos conteúdos
vitais de verdade. Dinamicamente a Palavra de Deus incomoda, interpela,
descobre, noeticamente ilumina, desenvolve e, por isso, podemos falar de
diversos tempos dialéticos da Palavra de Deus e do ministério profético.
b. Formas de anúncio
1. O anúncio missionário (o kerigma)
A primeira forma do anúncio é a «pregação missionária», o kerigma, que tem
como finalidade anunciar a fé e solicitar a conversão. No seu significado
pleno, o Kerigma é o anúncio atual e historicamente determinado da Palavra de
Deus na Igreja, por parte de quem, a partir de Deus, tem o poder de dar
testemunho. Temos uma confirmação recente desta verdade
na EncíclicaRedemptoris missio de
João Paulo II:
« A
tarefa fundamental da Igreja de todos os tempos e, particularmente, do nosso é
a de dirigir o olhar do homem e orientar a consciência e experiência da
humanidade inteira para o mistério de Cristo» (RM 4)
Característica do Kerigma é sua forma concreta e
histórica de «acontecimento» e «momento» presente: o anúncio se torna salvação
para quem o acolhe. Por meio do kerigma se proclama eficazmente a presença da
salvação na comunidade, com outras palavras, o kerigma torna Cristo presente na
comunidade e constrói assim a comunidade enquanto tal.
Da
natureza do kerigma derivam algumas exigências essenciais: a exigência de
expressar o núcleo e o fundamento da salvação; a exigência de um anúncio que
não utiliza palavras eruditas nem ideologias. Nesse sentido convém observar o
que fala a RM 44 (cf.).
A evangelização é
o ministério que apresenta a Palavra de Deus como uma palavra poderosa e que
salva, que suscita a fé e a adesão pessoal de forma nuclear e totalizante. A
evangelização anuncia o Evangelho de Jesus Cristo como kerigma, ou seja, como
boa notícia com a finalidade de fundamentar a comunidade cristã mediante a
conversão que conduz ao Batismo. Está dirigida aos batizados não praticantes
que deixaram de crer, aos praticantes adultos não iniciados e às crianças e aos
adolescentes batizados, que devem ratificar a sua fé adulta.
Entendido deste modo fica claro que o kerigma não se
dirige somente aos pagãos. A fé não é uma realidade que o homem conquista uma
vez por todas e logo a guarda como propriedade, mas um processo existencial,
isto significa que é preciso aprofundar sempre de forma renovada: a fé está
sempre in fieri. É preciso acrescentar que este anúncio
missionário não é só tarefa da hierarquia, mas toda a comunidade dos fiéis tem
a obrigação de tomar parte nesta função básica da Igreja.
A
mensagem fundamental do cristianismo deve ser anunciada de modo que o conteúdo
seja breve. No cristianismo primitivo existiam estas formulações breves e hoje
também nos esforçamos por formular novos símbolos de fé breves e compreensíveis
para o homem atual.
A finalidade que caracteriza a evangelização, tanto como
função específica quanto como dimensão que deveria estar presente em qualquer
uma das funções desempenhadas pela Igreja, permanece sempre a de «fundamentar
ou re-fundamentar a fé». Fundamenta-se a
fé quando ela alcança uma pessoa que escuta pela primeira vez o anúncio de
Cristo Salvador; re-fundamenta a
fé quando provoca uma vida cristã mais intensa numa pessoa que perdeu a fé, ou
que nunca chegou a uma fé consistente, responsável, viva.
Um tema que se discutiu muito nos últimos tempos é o da metodologia
e da linguagem da evangelização. A solução deste problema é intrinsecamente
teológica e espiritual mais que questão de táticas. Porém é preciso lembrar que
o problema da linguagem é
um dos mais graves. Dele se fala desde muito tempo, porém ainda não foi
resolvido. A dificuldade da linguagem da evangelização nasce por um lado, de
uma nova mentalidade cultural e, por outro, o famoso problema da inculturação.
O problema essencial que a evenagelização está chamada a
resolver diz respeito à alternativa entre a auto-salvação, ligada à imanência, e a heterosalvação,
expressão da transcendência. O homem moderno parece resistir à simples idéia de
uma salvação que proceda «de fora e do alto».
O sujeito da
evangelização é a Igreja inteira: «A missão compete a todos os cristãos» (RM 2),
isso quer dizer que todo cristão-bispo, sacerdote, leigo, religioso-tem a
obrigação de evangelizar. Esta obrigação não está ligada a um mandato jurídico,
mas brota diretamente da fé e dos sacramentos da iniciação cristã.
O ouvinte da
mensagem cristã é o homem que se pergunta sobre realidades que a mensagem
cristã tem as únicas respostas que podem satisfazer o coração inquieto do homem. A mensagem que é anunciada é
a graça de Deus que nos precedeu e que desse modo nos tornou capazes de sermos
ouvintes da sua Palavra. O conteúdo da pregação missionária é sempre o
acontecimento da redenção e não uma metafísica ou um sistema cognoscitivo
qualquer.
2. A pregação
comunitária
Quando a
pregação missionária alcança seu objetivo, ou seja, a conversão do indivíduo
mediante sua inserção na Igreja, entra em jogo a pregação dentro da comunidade
(didaché). Se a pregação missionária orienta a pessoa para Deus e para a
Igreja, a pregação comunitária a une com Deus e com a Igreja.
Durante a pregação a «Palavra de Deus interior» precede
logicamente a qualquer ação humana. Rahner a chama de «Palavra de Deus
transcendente». Esta graça ajuda a aceitação livre e pessoal da Palavra e da
própria fé na Igreja. Por isso, o primeiro que deve refletir em toda pregação é
a fé da Igreja e do pregador. No NT, especialmente em Paulo, a Palavra como
portadora da salvação ocupa o primeiro lugar (cf. At 6,4; 1Cor 1,17).
A Igreja é, em princípio, Igreja da Palavra.
Por outro
lado, a Palavra de Deus chega aos homens através de palavras humanas e pode ser
chamada «palavra de Deus categorial» .
O
anúncio, ou seja, a pregação, tem sua lógica interna. Um primeiro critério
pastoral poderia ser que a pregação cristã não é algo meramente objetivo, não é
uma coisa puramente estática e histórica mas algo antes de tudo existencial,
pessoal e atual. Esta dramaticidade da Palavra é o conteúdo da pregação: ela
não pode limitar-se, portanto, ao ensinamento doutrinal, aos mandamentos, às
proibições, mas deve ser em si mesma um acontecimento gozoso e feliz. Inclusive
na forma a pregação deve ser um acontecimento dinâmico. A pregação fala da
realidade, por isso deve partir dos fatos, de eventos, adotar parábolas e
exemplos, utilizar frases breves com tonalidade cálida e pessoal. O conteúdo e
o portador de toda palavra é uma Pessoa, Jesus Cristo ressuscitado, razão pela
qual toda pregação é um acontecimento pascal. Cristo não é uma pessoa do
passado, mas o ressuscitado que vive, e isto é algo que afeta todo tempo, isto
é, supõe uma palavra válida para todas as circunstâncias.
A
pregação comunitária tradicionalmente ganha corpo em várias expressões que
desde a antiguidade formam o estilo da pregação cristã:
a. Catequese ou «Didaché»
Tipo de
pregação originariamente destinada aos adultos que se preparavam para receber o
Batismo. Tratava-se, podemos dizer, de um aprofundamento do Kerygma, com o
objetivo de dar embasamento à fé do catecúmeno, despertada a partir do primeiro
anúncio.
b. Didascália
Consiste
num aprofundamento nas verdades de fé, buscando fundamentar e explicitar ainda
mais a fé, buscando aprofundar e explicitar ainda mais a fé brotada a partir do
kerygma e aprofundada pela catequese.
c. Parenese
Nome dado
à pregação cujo conteúdo está voltado para as exigências morais da vida cristã.
d. Homilia
Tipo de pregação com características próprias. É aquela
oratória (arte de falar persuasivamente) sagrada que surgiu ainda na Igreja
primitiva, a partir das celebrações litúrgicas. No sentido original supõe o
kerygma e a catequese, já no sentido habitual é a explanação que se faz,
durante a missa ou outra celebração litúrgica, a partir do texto escriturístico
(cf. SC 35) que tenha relação com o mistério
que se celebra e venha ao encontro das necessidades dos fiéis que a ouvem.
Falando do sentido litúrgico da homilia a Sacrosanctum Concilium determina que « as rubricas indiquem o
momento mais apto para a pregação, que é parte da ação litúrgica» (cf. n. 35).
Do ponto de vista técnico na
homilia se distinguem duas funções litúrgicas importantes:
1° – ser
aplicação da mensagem ao aqui e agora da vida humana, pois a mensagem da
Escrituraa tem uma atualidade;
2° – ser ponte entre a Liturgia da Palavra e a Liturgia
Eucarística. Ela não é um ato isolado, mas está inserida na celebração (cf. SC 35, 2).
3 – A Pregação desde o Início da Igreja até o Concílio Vaticano II
1° Período: Apostólico
Nesse período a pregação apostólica e a vida da Igreja
estão impregnadas pelo kerygma: cf. At2, 14-32; 3, 12-26; 4, 8-12; 7, 1-53; 10, 34-43; 13,
16-41; 17, 24-31.
Em grandes
linhas o kerygma se processa da seguinte forma:
a) O
mistério Pascal que acaba de se realizar, foi anunciado pelos profetas.
Portanto, os tempos messiânicos foram inaugurados.
b)
Através de sua Ressurreição, Cristo é exaltado à direita de Deus como Senhor.
c) Cristo
envia o Espírito Santo para continuar a sua obra através da Igreja.
d) Cristo
virá um dia como Juiz.
e) Diante
disso os ouvintes são convidados à conversão.
O Mistério Pascal, centro da História da Salvação e da
pregação querigmática, é apresentado como um fato que opera no hoje da Igreja,
e o ponto alto da celebração desse mistério é a Eucaristia, vivida na caridade
conforme nos falam At 2,
42-47; 4, 32-37.
Portanto
a vida cristã se fundamentava na fé, no culto e na caridade. A Palavra era anunciada,
celebrada na Eucaristia e vivida no dia a dia.
2° Período: Patrístico
A teologia patrística gira em torno do Mistério Pascal.
Ela vai desenvolver o kerygma apostólico, numa linha fundamentalmente bíblica.
Com o aparecimento das controvérsias cristológicas entram aos poucos na
pregação da Igreja as definições: pessoa, substância, natureza, etc. Surge
gradativamente um aspecto intelectualizante na pregação, o que diminui um pouco o
aspecto de pregação Boa-Nova em alguns teólogos pregadores.
Percebe-se
na leitura dos grandes Padres (S. João Crisóstomo, S. Ambrósio, S. Agostinho…)
a existência de um centro irradiador e também unificador: o Mistério de Cristo
que culmina na Paixão, Morte e Ressureição.
Um
exemplo interessante nesse sentido é o «De catechizandis rudibus» (S.
Agostinho, ano 400): fundamenta toda a catequese na História da Salvação,
ordenando-a para um grande centro, o Mistério Pascal.
Podemos perceber nos escritos dos Padres que, partindo do
kerygma apostólico, eles criaram aos poucos uma teologia eminentemente bíblica,
que pervade toda a vida cristã. Ao mesmo tempo têm uma visão bastante clara
sobre o sentido da Palavra de Deus no plano divino e acabam criando uma
teologia da Palavra de Deus, especialmente Santo Agostinho acentua com clareza
que Cristo-Pessoa é o Sujeito Principal e Objeto da Pregação.
3°Período: Do início da Escolástica até o Concílio de Trento
Nesse
período aparecem grandes luzeiros da História da Igreja na pregação: S.
Anselmo, S. Alberto Magno, S. Tomás, S. Boaventura, que foram homens que
marcaram enormemente sua época. Os escolásticos bebem ainda da fonte bíblica e
da patrística. Eram pregadores eminentemente bíblicos.
Esse período é marcado pelo interesse pela filosofia que pouco a pouco vai penetrando na
teologia acentuando, desse modo, o seu aspecto de
intelectualização-racionalização, ocorrendo assim um início de afastamento do
centro polarizador: mistério pascal. (teologia-ciência)
A
Teologia da Palavra de Deus torna-se mais tímida entre os teólogos do período
áureo da escolástica, embora seja bastante acentuada em Tomás e em Boaventura.
A
teologia aos poucos começa a desencarnar-se da vida, entra em cheio a
racionalização da teologia e o elán bíblico, tão marcante na patrística,
diminui consideravelmente. Vai-se apagando mais e mais a teologia da Palavra de
Deus.
4° Período: Do Concílio de Trento ao Concílio Vaticano II
O Concílio de Trento, marcaado pela controvérsia
protestante, vai favorecer a acentuação da radicalização. De um lado os Evangélicos propugnavam uma Igreja da Palavra, a
Igreja colocará em primeiro lugar o tema dos sacramentos e,
em segundo lugar, o da Palavra de Deus.
Haverá pouca preocupação com o problema teológico da
Palavra de Deus e, pouco a pouco, a Teologia da Pregação vai desaparecendo. A
pregação será identificada simplesmente com aarte (retórica). E, no campo da pastoral,
sobram da pregação apenas algumas normas práticas. E é essa a visão que vai
prevalecendo nesse campo: tudo vai ser visto desde o ponto de vista do direito, de normas e leis, a teologia da
Palavra de Deus se esvazia dando lugar aojurisdicismo. A
teologia se coloca mais no campo da auto-defesa, da auto-apologética. Faltava,
portanto, aquela visão bíblico-patrística da Teologia que é antes de tudo
Palavra de Deus, Palavra de Salvação.
Como
conseqüências práticas dessa postura podemos destacar:
- Catequese: perde-se de vista a genuína História da
Salvação cujo centro polarizador é o Mistério Pascal e se transforma
predominantemente num ensino racional. Hoje, no entanto, ocorre o risco
contrário que é o de não se acentuar suficientemente esse aspecto da catequese.
- Liturgia: perdendo o verdadeiro conteúdo teológico
transforma-se num frio rubricismo.
- Moral: é vista quase exclusivamente sob o ângulo
de preceitos que irrompem na mais complicada casuística. A moral parece
reduzir-se a teoremas de geometria. Isso ocorre por perca da visão bíblica da
moral: a boa nova que se acolhe, compromete e converte. Hoje o perigo é o de
uma moral subjetivista demais, uma moral quase sem pecado.
No ano de
1936 um escritor alemão, Jungmann, dá um passo importante rumo à renovação da
teologia da pregação com a publicação de uma obra cujas idéias principais
buscavam colocar as bases para uma volta ao essencial da teologia da pregação.
Constatou
que na pastoral (catequética, litúrgica, moral) faltava um centro polarizador:
muitas normas, preceitos, mas faltava uma visão unitária do cristianismo. Essa
falta tem sua raiz última na própria teologia que além de estar desvinculada da
Pastoral se ressentia da falta de um centro polarizador. Esse centro
canalizador é Cristo, Boa Nova de salvação; Cristo, Palavra da vida; Cristo,
Mistério Pascal. Em seus estudos patrísticos sobre a liturgia, Jungmann
verificou que precisamente na Patrística a vida cristã brotava da própria
teologia. E a liturgia celebrava a vida cristã como um encontro com o Mistério
Pascal, centro irradiador de toda a pregação.
A partir
daí podemos concluir:
A obra de Jungmann teve grande influência na renovação da
teologia, da catequética e da liturgia. E é sob essa influência que nasce em 1939 a Escola Querigmática
de Innsbruck (Áustria), fruto de uma tentativa de dar à teologia uma nova perspectiva (tirá-la da visão
intelectualista e apologética): a teologia é antes de tudo revelação salvífica,
Boa Nova da salvação. Desejo de reestruturar a teologia buscando redescobri-la
revelação, como palavra salvífica, como Boa Nova. Assim, depois de anos de
debates, a partir de 1950 inicia-se um processo lento, mas decidido de busca de
uma teologia viva, menos abstrata, mais voltada para a salvação.
Paralelamente
a esse movimento querigmático surgiu o movimento que estuda a Palavra de Deus.
Não basta apresentar a Palavra como mensagem, Boa Nova, como fez a teologia
querigmática. É preciso descobrir o sentido da Palavra de Deus. «Para renovar a
missa devemos renovar a ante-missa, ou seja, para renovar a liturgia eucarística,
devemos renovar a liturgia da Palavra» (slogan lançado pelo movimento bíblico).
É é
dentro desse contexto que vemos irromper nos anos 60 o Concílio Vaticano II.
5° Período : O Concílio Vaticano II e a Palavra de Deus
Ao entrar em contato com o Concílio Vaticano II já se
percebe de que fonte ele quis beber: a Palavra de Deus e a Patrística. Nesse
sentido traz uma grande variedade de textos bíblicos e patrísticos. Nenhum
concílio na história da Igreja deu tanta importância à Palavra de Deus como o
Vaticano II, basta começar pelo fato de uma Constituição dogmática sobre a
Revelação: Dei Verbum. E todos os seus documentos estão
impregnados desse espírito bíblico. Assim, na Constituição sobre a Liturgia
Cristo aparece como sujeito principal da pregação: «Presente está Cristo pela
sua Palavra, pois é Ele mesmo que fala quando se lêem as Sagradas Escrituras na
Igreja» (SC 7).
Falará também na mesma Constituição mais explicitamente:
«pois na Liturgia Deus fala a seu povo. Cristo anuncia o Evangelho» (SC 33).
No Decreto Presbiterorum Ordinis 4: «a pregação da Palavra se faz
necessária para o próprio ministério dos sacramentos, uma vez que são
sacramentos da fé, e esta nasce e se alimenta da fé».
Conclusão
1. Quando
um centro polarizador coordena toda a teologia, no caso o Mistério Pascal, toda
a vida da Igreja é impregnada por este centro. E o cristianismo, em todos os
setores de sua vida, vive, iluminado por esta visão unitária, que lhe empresta
luz e força. Quando se perde esse centro se abre caminho para abusos e desvios.
2. O
problema fundamental da pregação não é seu aspecto prático e sim seu sentido
teológico.
3. Quando
a teologia é estudada em primeiro lugar como Revelação da Palavra de Deus, que
culmina no Mistério Pascal, sempre operante na vida da Igreja e na História,
desaparece a dicotomia entre a Palavra e Sacramento.
«Pode já
considerar-se ultrapassado aquele tempo em que as pessoas se julgavam no
direito de opor uma Igreja da Palavra (protestante) e uma Igreja do Sacramento
(católica), ou então de atribuir a eficácia da graça, segundo a Escritura, à
Palavra, e segundo a Igreja, ao Sacramento. O movimento litúrgico dos
diferentes países, apoiado no movimento bíblico e muitas vezes acompanhado por
uma procura de renovação da pregação e da catequese, tinha aproximado
eficazmente, ao mesmo tempo que unira, a celebração dos sacramentos e a
pregação da Palavra» (Y. Congar).
4 – A Pregação: Ação Litúrgico-Celebrativa
1. No íntimo da liturgia
Com
relação à homilia existe hoje uma consciência bem clara: ela é a pregação que
ocorre dentro da liturgia e, de modo especialíssimo, na Santa Missa.
A noção
conciliar de homilética é reveladora dessa sua importante dimensão:
«Recomenda-se encarecidamente, como parte da própria
liturgia, a homilia, em que, durante o ciclo do ano litúrgico, se expõe, com
base nos textos sagrados, os mistérios da fé e as normas da vida cristã. E
mais: nas missas que se celebram aos domingos e festas de preceito, com
assistência do povo, nunca se omita a homilia, a não ser por causa grave» (SC 52).
Temos um exemplo desta doutrina conciliar num dos textos
mais antigos da Igreja apostólica, ao descrever a liturgia primitiva, a Apologia I de s. Justino, ao redor do ano 153,
onde lemos:
«E no dia chamado do sol, tem-se uma reunião num mesmo
local para todos os que moram nas cidades ou nos campos. E lêem-se as memórias
dos apóstolos ou as escrituras dos profetas, conforme o tempo o permita. Em
seguida, quando o leitor já terminou, quem preside faz um convite e uma
exortação no sentido de se imitarem estas coisas excelsas. Depois, todos nós
nos levantamos de uma só vez e recitamos orações. E [...], ao acabarmos de
orar, apresentamos pão, vinho e água, e quem preside eleva [...] ações de
graças [...] E o povo aclama dizendo: ‘Amém’»
O termo usado por Justino para aludir à homilia
(exortação ou proklésis) é variante do termo para descrever a
pregação de Paulo em Antioquia da Psídia (At 13,15ss) e de Pedro depois de
Pentecostes (At 2,41: paráklesis). Nesta
última passagem ele vem unido, como sinônimo, ao verbo dar testemunho, que
conhecemos como termo habitual para a pregação ou para o ministério
querigmático.
2. Pregão gozoso na pregação e na anáfora
Fica claro diante dos textos anteriores que a homilia faz
parte da liturgia. Agora nos interessa perguntar-nos sobre o como. Uma resposta
interessante nos vem da SC 52 ao
afirmar que a pregação deve estar relacionada tanto com o ano litúrgico quanto
com a missa; mais concretamente com seus textos sagrados.
No entanto este estar dentro ou formar parte não deve ser
entendido de modo extrínseco, exterior, como mera circunstância externa, mas
como algo interno e intrínseco. A homilia não pode ser um corpo estranho dentro
do conjunto litúrgico mas um elemento sintonizadointimamente com o conjunto
litúrgico.
Para isso
vamos agora analisar os passos que o pregador homilético deve dar a fim de
realizar essa tarefa.
Primeiramente mostrará as relações concretas que existem
entre a Palavra de Deus proclamada e o comentário do pregador sobre esta
palavra, de um lado, e a liturgia, de outro. Estas relações são
três: o anúncio gozoso ou pregão/proclamação, o memorial e o hoje.
Não só a pregação cristã é evangelização, ou seja,
anúncio e proclamação da boa nova. A liturgia também o é, e concretamente, a
liturgia eucarística. Assim é a compreensão de S. Paulo quando afirma: «Cada
vez que comeis deste pão e bebeis deste cálice anunciais a morte do Senhor até
que Ele volte» (1Cor 11,26). O verbo utilizado kataggelein,
sinônimo de ‘evangelizar’: “proclamar a boa nova”. Portanto, S. Paulo afirma
que a eucaristia é proclamação gozosa, da mesma forma que o é a pregação
cristã. O que se anuncia na eucaristia é o mistério pascal, a morte e
ressurreição do Senhor, conteúdo básico do querigma. Por conseguinte fica clara
a coincidência entre liturgia (eucarística) e pregação.
Como a
eucaristia realiza esta proclamação? Através de seus gestos, símbolos e textos
oracionais.
Fazendo
esta síntese entre palavra e liturgia, sob o aspecto da proclamação evangélica,
a homilia chegará a ser pregão e anúncio gozoso. É o que diz a SC:
«Por ser
o sermão parte da ação litúrgica, indicar-se-á também nas rubricas o lugar mais
apto[...]. As fontes principais serão a Sagrada Escritura e a liturgia, já que
esta pregação ‘r proclamação das maravilhas operadas por Deus na história da
salvação ou mistério de Cristo, que está sempre presente e atuante em nós,
particularmente na celebração da liturgia» (35,2)
3 – O memorial
Um segundo ponto de convergência entre a Palavra de Deus
e a liturgia que a homilia deve mostrar é o caráter de memorial. Não só a
pregação é memorial, como relato narrativo, a liturgia como anamnese também o
é.
No texto de 1Cor 11,25,
ao concluir o rito eucarístico, na Última Ceia Jesus diz: “Cada vez que bebeis
(deste cálice), fazei-o em memória de mim”. Antes, a propósito de comer o pão,
seu corpo, dissera o mesmo: “Fazei isto em memória de mim” (11,24).
Assim, a eucaristia, em seu núcleo ritual de comida e de
bebida sacramentais, é memorial,anamnese de Cristo que se entrega. Isso também
constatamos na oração central, a anáfora. Ela é uma grande oração doxológica,
que apóia seu louvor a Deus e a sua ação de graças ao Pai em um motivo
fundamental: as grandes ações de Deus realizadas ao longo da história
salvífica. Para isto, faz memória sempre desta história salvífica, quer em seu
conjunto, quer em suas etapas fundamentais, quer em alguma outra de suas
etapas. Assim se transforma em relato, narração. A anáfora é a hagadah cristã.
A hagadah tem
sua origem na liturgia judaica e se refere ao relato central que na celebração
da páscoa se lia, lembrando o que ocorrera naquela noite e em todas as noites
salvíficas da história de Israel. Nós cristãos temos também a nossa hagadah em que, mediante uma narração, fazemos
memória do ocorrido em nossa história como povo de Deus e, sobretudo, na noite
da última ceia, núcleo da história santa centralizada em Cristo e no seu
mistério pascal.
Na liturgia encontramos exemplos muito claros disto: IV
anáfora do Missal romano, os prefácios dos domingos da quaresma,
o prefácio do domingo de Ramos que alude diretamente ao relato da Paixão e o
pregão da vigília pascal que sob forma de prefácio, hino e proclamação, contém
uma síntese admirável da história sagrada.
Assim,
vemos que o relato feito na liturgia da Palavra reaparece na liturgia
sacramental eucarística. Ora a homilia deve relacionar esta semelhança, mostrar
este caráter comum de relato, memória ou anamnese e expô-los mediante os
elementos que lhe oferecem tanto as leituras quanto os prefácios.
4. O hoje litúrgico
O terceiro elemento que nos mostra com evidência a
relação entre a Palavra de Deus e a liturgia é o hoje.
A
liturgia gravita em torno do hoje, do presente, da atualidade. Quando chegam os
tempos litúrgicos, seus textos não se cansam de repetir esta hodiernidade. Por
exemplo na missa vespertina da vigília do Natal, canta o intróito ou antífona
do canto de entrada:
“Hoje sabereis que o Senhor virá e nos
salvará, e amanhã contemplareis a glória de Deus”(Ex16,6-7). Um outro
exemplo que ilustra esse assunto é o da vigília pascal: nela o pregão pascal se
encarrega de expressar o hoje, ou melhor, o “esta noite” como centro da
celebração e seu memorial.
Assim, perguntamo-nos: em que sentido a liturgia tem seu
centro de gravitação no hoje? Para entender isso é preciso saber que o
memorial litúrgico não é mera recordação, mas atualização. Torna presente o
recordado. Tem força e eficácia presencializadoras, dado que o distingue do
recordar meramente subjetivo, que só se desenvolve na mente do sujeito. Aqui,
ocorre algo que tem a ver com o hoje da vida do crente e da Igreja.
O fato salvífico se aproxima do presente, não com suas
circunstâncias históricas, mas em seu núcleo supra-histórico, graças à ação do
Espírito. O Espírito é invocado na epiclese para que com sua presença dinâmica
torne real e atual a ação de Cristo mediante o sacramento. Esta ação começa já
com a Palavra de Deus proclamada, que é eficaz (SC 7), mas culmina na liturgia
sacramental por meio de sinais, de sua assembléia e da força de concretização
que tem a ação sacramental. Daí poder-se predicar o hoje da palavra e do
sacramento. E, assim, a homilia pode e deve mostrar esta estreita relação de
convergência e semelhança. A SC expõe essa doutrina mediante categoria que
repete amiúde ao falar da ação litúrgica: o verbo exercere significa que a liturgia atualiza o
que celebra.
Como concretização e confirmação de tudo o que foi dito,
há uma dado importante da eucaristia que às vezes passa desapercebido, mas que
pode ajudar bastante quem prepara a homilia: é a communio ou antífona da comunhão, que possui
traço especial em quase todas as missas dos tempos do advento, natal, quaresma,
páscoa e pentecostes.
Nesta
antífona do rito da comunhão se toma um fragmento da leitura do evangelho ou de
alguma das outras leituras proclamadas e é cantado acompanhando o ato da
comunhão. O sentido é claro: no rito da comunhão se está realizando a palavra
proclamada. Assim, esta se presencializa, se converte em atual, hodierna, isto
é, pertencente ao hoje litúrgico. Por meio da celebração e na celebração,
cumpre-se o que anunciamos.
5 – A Pregação: Ação Comunicativa e Comunitária
A homilia
é ação comunicativa e, por isso, é radicalmente comunitária. E ato
decisivo de comunicação e, portanto, de comunhão. De um lado, faz que
quem preside e fala se comunique com os membros da assembléia; de outro,
também influi para que os fiéis se comuniquem entre si.
De um
lado, suscita e cria comunidade; mas, de outro, a comunidade influi, pode e
deve influir na homilia e no fazer a homilia: há, pois, circularidade no evento
da pregação homilética.
Além disso, este processo de comunicação possui dupla
vertente: é acontecimento pneumático, influenciado pelo Espírito;
e, concomitantemente, é ação psicológica, condicionada pelas leis
psicológicas próprias da pessoa e do grupo. Uma coisa não exclui a outra,
são diversas mediações de um único ato. Passamos agora a tratar dessas duas
vertentes: aspecto pneumático, e, em seguida, do psicológico na pregação.
Toda ação predicacional é envolvida pela ação do Espírito:
Ele é a principal força que a suscita e a inspira. Em primeiro lugar,
Jesus, conforme nos conta Marcos (1,9), é justamente depois de receber, por
meio do ministério de João, o batismo do Espírito, que começa a pregar. O
mesmo Espírito o leva ao deserto. Mas, imediatamente a seguir, dirige-se
para a Galiléia, a fim de que comece a anunciar a proximidade do Reino (Mc 1,12-14). Lucas diz isto explicitamente:
não só a ida para o deserto, após o batismo, mas ainda a viagem posterior para
a Galiléia e seu ir começando a ensinar pelas sinagogas, são resultado da ação
do Espírito (Lc 4,14-15). Por sua vez, João afirma
muito claramente esta dimensão pneumática da pregação de Jesus quando escreve:
«Aquele que Deus enviou (o Filho) diz as palavras de Deus, pois Deus lhe
conferiu seu Espírito sem medida» (Jo 3, 34).
Os
discípulos de Jesus recebem dele este dom do Espírito para prosseguir a
pregação agora explicitamente cristã (cristológica) e pascal. Na cena
introdutória dos Atos, o Ressuscitado anuncia aos discípulos o que vai ser
como que o programa dos tempos vindouros:
«Recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre
vós, para que sejais minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia, na
Samaria e até os confins da terra» (At 1,8).
Portanto, é bem claro que a tarefa predicacional na
Igreja vai ser resultado de ação do Espírito. Efetivamente, os próprios
Atos o confirmam: antes de Pentecostes, os discípulos, os apóstolos, estão
mudos; mas, a partir da efusão do Espírito, começam a pregar (At 2,4).
Novamente João confirma esta união entre Espírito e
testemunho quando escreve: «O Espírito da verdade, que procede do Pai, dará
testemunho de mim» (Jo 15,26).
O fato da comunicação na pregação eclesial é fato
carismático promovido pela ação do Espírito Santo na Igreja que suscita
diversos carismas ao redor do testemunho da Palavra tanto na hierarquia quanto
em todo o povo fiel, constituído como povo profético. No entanto não podemos
esquecer que a função dos Bispos, presbíteros e diáconos na Igreja, ao pregarem
a Palavra, é insubstituível. Eles têm responsabilidade própria na homilia e não
podem ceder a outros membros da comunidade não ordenados essa sua
responsabilidade. Por isso o Código de Direito Canônico estabelece
que a homilia pertença a eles.
2. Dimensões psicológicas na pregação
Além da sua dimensão carismática é preciso recordar que a
pregação é fundamentalmentecomunicação de pessoas:
Deus-pessoa com o ouvinte pessoa.
Precisamente nestes últimos anos, os homiletas, principalmente
de língua alemã, têm feito análises interessantes e aplicações de certos
estudos da psicologia ao campo da pregação, sobretudo da homilética.
a. O pregador
Uma
primeira observação a ter em conta é a seguinte: a homilia não só dá testemunho
do evangelho, mas também do pregador. O testemunho do evangelho é
testemunho de fé; e esta passa pela pessoa da testemunha exatamente porque
todo testemunho é algo pessoal. Toda pregação é encontro pessoal entre o
pregador e os fiéis que o escutam. Então o pregador deve questionar-se
sobre sua capacidade para este tipo de encontro, isto é, sobre sua capacidade
de se relacionar com as pessoas, de acordo com a diversidade de circunstâncias
em que se acha situado, o que supoe capacidade de escuta paciente,
receptividade e participação em verdadeiro intercâmbio de experiências.
Explicitamente, isto se faz fora, antes da homilia, porém, implicitamente, deve
ser feito e continuado durante a homilia.
A homilia
pressupõe estabelecer relação pessoal, criar situações em que o outro seja
tomado a sério como um tu, como o parceiro do diálogo.
O perigo
que ameaça esta comunicação é o de que o ministro esconda sua personalidade sob
a máscara de seu papel de pregador, de teólogo ou de especialista. Então
o testemunho deixa de ser pessoal ou desaparecem o tom e o pano de fundo
testemunhais, tão importantes. Quem prega, durante a homilia, não deve
silenciar sua experiência pessoal de fé, porque necessita partir de
experiências vitais, tanto próprias quanto alheias, até chegar a configurar
algumas imagens, expressões e linguagem também vitais. Do contrário,
deter-se-á em fazer paráfrase da Escritura ou em moralismo. E isso não
para o pregador cair em subjetivismos, nem psicologismos; porém, para encarnar
a Palavra na realidade pessoal tanto de quem ouve quanto de quem fala.
Se se
pedem à comunidade a experiência concreta e o compromisso em torno da Palavra,
o mesmo deve pedir o pregador a si mesmo. Deste modo, a homilia tem muito
de colocação em comum, por mais monologal que seja. A fé do ministro da
palavra é inseparável da fé da comunidade.
É legítimo, pois, que apareça o eu do ministro da palavra;
não só como quem confessa a fé na objetividade do credo, mas também na
densidade da vida quotidiana. O melhor antídoto contra o perigo de buscar
a si mesmo na pregação consiste em ter atitude eclesial e comunitária.
Concretamente isto quer dizer: sentir-se em união com a comunidade de fiéis e,
como conseqüência, esforçar-se para uma busca e escuta no âmbito da comunidade,
que é a «comunhão no Espírito» (2Cor 13,13).
Quanto à
experiência pessoal de quem preside certamente, a pregação do evangelho é
incompatível com o pregar-se a si mesmo. Não se pode reduzir o conteúdo
da pregação à comunicação de experiências subjetivas.
No
entanto, esta crítica não diz respeito a quem convida a participar da praxe
vital da fé cristã e, por causa disto, em certos contextos, não silencia sua
própria experiência pessoal. Alguns fogem e se defendem deste risco e compromisso
que supõem a comunicação, o tom e o testemunho pessoais refugiando-se em uma
objetividade que pode ser válida para uma aula ou atividade acadêmica, porém
não para o serviço da Palavra diante da comunidade. Supostamente, toda
personalidade possui suas limitações, principalmente neste campo tão difícil,
mas aceitar esta realidade com humildade já é um modo de superá-la. E
acima de tudo: a humildade é o melhor testemunho evangélico.
Além
disso, convém levar em consideração alguns outros elementos fundamentais na
pregação a partir de sua dimensão psicológica, pois ela é um fato humano
submetido às leis e condicionamentos psicológicos: o auditório diversificado, o
local da pregação e os fatores que influem para uma eficiente proclamação da
Palavra de Deus ou que prejudiquem à mesma.
a) O que se entende por psicossociologia do auditório
Por
psicossociologia do auditório entendemos tudo aquilo que revele as aspirações
do auditório, sua cultura, seu modo de pensar, suas preocupações, sua
religiosidade, as circunstâncias em que a Palavra de Deus é anunciada, o local,
o fator tempo, etc.
O auditório
Comecemos
o nosso tema dando uma rápida olhada ao auditório que temos diante de nós e
alguns elementos que nele se encontram:
1 – Grande sede da Palavra de Deus
As
pesquisas mostram cada vez mais que boa parte dos que participam em nossas
celebrações vão buscando ouvir uma mensagem de vida, de esperança e de
salvação.
Cf. Am 8,11
2 – Hipercríticos
Além dos que pertencem ao primeiro grupo é preciso contar
com a presença dos hipercríticos, que tudo criticam. Um conselho
interessante de um sacerdote vienense: «A estes hipercríticos levianos
dever-se-ia dar como penitência a preparação de um sermão dominical» (Joseph
Ernest Mayer).
3 – Indiferentes
Um terceiro grupo corresponde aos indiferentes, os
que freqüentam por mero formalismo. Falar-lhe não é fácil.
4 – Um outro elemento psicossociológico a mencionar
trata-se da maneira de captar a pregação da parte dos ouvintes,
especialmente o povo simples, maioria de nossos auditórios. Normalmente não
aceitam as homilias com longo raciocínio, de sabor intelectual. Preferem a
linguagem concreta, simples, existencial, transparente do evangelho.
5 – A heterogeneidade do auditório
Trata-se de um dos aspectos que mais dificulta a boa
apresentação da Palavra de Deus. Salvo algumas celebrações para grupos
homogêneos (casais, jovens, crianças…), normalmente o auditório é bastante heterogêneo:
pessoas idosas, crianças barulhentas, diversidade de cultura e formação
religiosa, ouvintes fechados, sedentos buscando crescimento na fé,
indiferentes, os atrasados que sempre atrapalham.
Encontramos
o ouvinte que vive numa sociedade pluralista que tem contato com outras
culturas, religiões, filosofias diversas, etc. Encontramos o ouvinte atento e
exigente que seleciona o que ouve e, nas cidades, onde for possível, escolhe o
pregador que mais o satisfaz. Compara o que ouviu com outras idéias (em
reflexão pessoal ou com amigos num processo de filtração daquilo que se ouve).
Também temos o ouvinte cômico: o bêbado, o louco, entram gritando,
gesticulando. Também está a figura do ouvinte ladrão, aquele que espera que as pessoas se
destraiam para roubá-las.
Nosso
auditório é verdadeiramente heterogêneo. Assim afirma um ex-deputado:
«Estou
habituado a enfrentar os mais variados auditórios em minhas campanhas políticas
e em outras circunstâncias. Tive também a feliz oportunidade de falar inúmeras
vezes como leigo cristão em várias igrejas. Pois bem, de todos os auditórios, o
mais difícil é, salvo exceções, o das igrejas, por ser o mais heterogêneo»
(Guido Moesch – RS).
Acústica-dicção
Há
igrejas com ótima, razoável ou péssima acústica; como também há pregadores com
ótima, razoável ou péssima dicção.
Para a
eficácia na pregação é preciso considerar a importância da boa acústica e da
boa dicção. Esses elementos são indispensáveis. Não se pode esquecer essa
verdade central: a pregação deve chegar primeiramente aos ouvidos, antes de
penetrar os corações dos ouvintes.
Local
Os locais
onde a Palavra de Deus é proclamada são diversos e variados. Assim, temos
igrejas de vários tamanhos: pequenas, médias, redondas, em forma de cruz, cheia
de colunas, igrejas que se assemelham a um campo de futebol, vários salões,
etc.
Igrejas
sujas, quentes, mal arejadas, sem bom gosto arquitetônico, frias e nada
acolhedoras. Igrejas cujos repetidos ecos tornam quase impossível o anúncio da
Palavra de Deus, Igrejas espaçosas onde o pregador se sente como que perdido
com muita dificuldade de se comunicar e dialogar com os ouvintes. Não se podem
esquecer também as celebrações e evangelização ao ar livre, em grandes e
pequenas romarias, concentrações e outros acontecimentos.
Isso
mostra que a pregação se por um lado sofre de limitações, por outro encontra
fácil e frutuosa acolhida. Não esqueçamos que um lugar de espaço médio,
arejado, com boa acústica, acolhedor, com boa iluminação, facilita muito a
comunicação com o auditório e, conseqüentemente, permite que haja mais
eficiência na evangelização.
Outras circunstâncias
O
pregador deve levar em conta e enfrentar também outras circunstâncias: assim,
existem os momentos de luto e de festa; momentos de alegre e ansiosa
expectativa bem como de indisposição tanto para os ouvintes quanto para o
pregador; momentos marcados pela pressa, cansaço, agitação; momentos que
favorecem o silêncio e a interiorização da Palavra de Deus e momentos
prejudicados pelo incessante barulho.
O que
dizer quando se sabe que alguém está deprimido? Como falar quando uma
tempestade parece desabar a Igreja? O que dizer ao ouvinte que acaba de
fracassar nos negócios, ou a quem aconteceu alguma tragédia?
Apesar de
toda a problemática do auditório, do local e de outras circunstâncias, não
podemos esquecer que também temos um auditório mais ou menos fiel! É um lado
importante e que deve ser valorizado
b) Como conhecer a psicossociologia do auditório
Há
diversos meios para conhecer a psicossociologia do auditório:
a)
Reuniões com dinâmica de grupo com jovens, casais, movimentos; são uma escola
sempre renovada para o pregador se inteirar da maneira de ver, sentir,
refletir, reagir dos ouvintes.
b)
Visitas informais à famílias, onde reina um clima franco e espontâneo, clima
que favorece troca de idéias sobre qualquer assunto; encontros com debates sobre
temas atuais, etc.
c)
Aproveitar estudos, pesquisas, levantamentos sobre a opinião que se tem sobre a
pregação realizada na Igreja.
c) O que o auditório mais censura nas pregações
Vamos
simplesmente ater-nos nas grandes linhas que nos parecem as mais questionadas
pelo auditório:
a) Pregação abstrata-aérea-vaga: pregações muito
generalizadas, aéreas, afastadas da realidade do dia-a-dia. Pregações
filosofizantes que seriam melhores para um ambiente selecionado (aulas,
congressos) que para os auditórios de nossas igrejas. Pregações vagas: que não
descem ao concreto, pregações que não atingem o alvo, não comprometem. É bom
lembrar que «toda pregação que não se transforma num chamado à conversão, corre
o perigo de deixar de ser Evangelho para tornar-se conferência» (J. Audusseau e
X. Leon Dufour).
b) Pregação confusa
Antigamente,
a maioria das pregações primavam pela busca de uma estrutura lógica, por vezes
até demasiado rígidas. Hoje, porém, certas pregações são totalmente confusas
que o ouvinte não sabe o que o pregador está querendo dizer. Pregações sem pé
nem cabeça! Muitas vezes isso acontece como fruto, em muitos seminários, da
falta de preparação para este ministério, falta de exercícios de preparação de
temas, desleixo na preparação da homilia, etc.
c) Pregação materializante
São aquelas em que o pregador se ocupa, de preferência,
em abordar o assunto dinheiro. A toda hora fala de campanhas de ordem
financeira, administrativa, construções, etc. Prestam-se mais para
administradores do que arautos da Palavra de Deus.
Aqui
convém recordar a importância da corresponsabilidade dos leigos, lembrando que
os Apóstolos preferiram dedicar-se à oração e à pregação da Palavra e os
diáconos cuidariam da administração.
d) Pregação vazia
Pregações cansativas pelo fato de não ter conteúdo. O vazio
na pregação é razão de tantas queixas. O pregador que habitualmente não estuda,
não medita, o que se pode esperar dele? Este é indiscutivelmente um dos grandes
escândalos de um número, não pequeno, de pregadores!!!
e) Pregação monótona
Pela
maneira de apresentar sermões com os mesmos gestos, com a mesma entonação de
voz. Monotonia pela falta de colorido em imagens, fatos, figuras que possam
prender a atenção do ouvinte. Monótona porque repete as mesmas idéias de
sempre…quanto sono!
f) Falta de boa acústica – de boa dicção
Aqui
convém recordar o de sempre: a base doutrinal dessa exigência é que a Palavra
primeiramente deve atingir os ouvidos. Um grande número de pregadores não se
faz ouvir suficientemente. Reparar a acústica de tantas igrejas e também a
dicção. É preciso encontrar soluções para o assunto.
g) Pregação contratestemunho
O pregador deve ser o primeiro a testemunhar o Evangelho.
É sua obrigação fundamental. Repercute mal ouvir falar
em união da comunidade, entre esposos, pais e filhos, quando na casa do pároco
reina a discórdia entre os que ali vivem, quando a funcionária da casa
paroquial recebe mal o povo, quando o vigário fala mal abertamente contra os
seus colegas.
h) Pregação agressivo-dominadora
Certos
pregadores usam um tom de voz muito agressivo e dominador. Tratam os ouvintes
como crianças que devem ser subjugadas à força. Parece que tais pregadores
projetam consciente ou inconscientemente seus problemas e descarregam sobre o
auditório.
É bom
lembrar que o púlpito-dizem dele “arma do pregador”-não foi feito para que o
arauto da Palavra de Deus exponha suas perguntas e dúvidas, nem extravase suas
angústias e seus problemas, mas para dar aos ouvintes as respostas de Deus.
i) Pregação socializante, psicologizante, ambígua
Tornou-se,
poder-se-ia dizer, uma verdadeira obsessão, acentuar em certas pregações a
idéia do social, do psicológico, como se Deus não existisse, como se o
cristianismo não fosse, em primeiro lugar, obra do amor de Deus e, portanto,
antes de tudo, dom de Deus, graça.
Não há dúvida de que a evangelização tenha de se valer
desses instrumentos da sociologia e da psicologia, que o cristão deva
engajar-se e comprometer-se com a ordem temporal, que a psicologia
esclareça-nos sobre a conduta do homem sob diversos aspectos; no entanto, não é
possível transformar o Evangelho em sociologia ou psicologia. Como também não é
possível apresentar um Evangelho que não engaje. É preciso começar a empreender
o caminho da evangelização que leve à simbiose entre o vertical e o horizontal,
o natural e o sobrenatural, o terreno e o celeste, lembrando-nos que ao lado de
todos os progressos, ao lado de todos os auxílios da ciência, o Evangelho é
acima de tudo palavra e ação de Deus: «Se o Senhor não constrói a casa, em vão trabalham
os construtores» (Sl 126, 1).
j) Pregação demasiado longa
É sabido
por todos que a homilia deve ser breve, não passando de 10 a 15 minutos. Tudo o que é
anunciado leva a cor do tempo, é limitado pelo tempo e deve ser situado no
devido tempo. É bem diferente falar numa missa com auditório mais ou menos
fixo, homogêneo, sedento da Palavra de Deus, que numa missa rezada ao meio-dia
com auditório apressado e inquieto.
É bem
diferente falar durante uma celebração em que o calor massacra os ouvintes, e
numa celebração festiva em dia de primavera. Portanto não é fácil dar uma
resposta uniforme ao problema do tempo da pregação. Cabe ao pregador,
valendo-se da opinião dos ouvintes e de suas reações no momento, saber quanto
tempo pode falar nesta ou naquela circunstância. Seja como for, o mais
importante é compor e apresentar bem o sermão!
Além disso há abusos em algumas igrejas: prolongar os avisos. Abusa-se da
paciência dos ouvintes. É preciso ter bom senso e bem apresentados.
d) O que o auditório mais espera e mais necessita da pregação
Pelo que
vimos anteriormente já podemos perceber algo da resposta a essa pergunta.
a) Anunciar a mensagem no momento oportuno
Já vimos que o ouvinte espera uma mensagem de vida. Cabe
ao pregador, para evitar uma pregação vazia ou confusa, escolher uma mensagem determinada e concreta, retirada
dos textos litúrgicos e do mistério que está sendo celebrado.
Descoberta
a mensagem é preciso que o pregador não se perca em considerações acessórias e
eruditas que facilmente desviam a atenção dos ouvintes. Renunciar a vários
assuntos para desenvolver de maneira normal um só, buscando aprofundar este
assunto e conduzi-lo até possibilitar a opção dos ouvintes, é preciso ser
asceta na pregação.
E para completar é preciso frisar que a mensagem deve ser
anunciada no momento oportuno. Ter discernimento da circunstância para
proclamar a Palavra de Deus. Em suma, “dizer a mensagem certa no momento
certo”. Isso supõe que o pregador seja, antes de tudo, acima de tudo e, em toda
a parte, um homem de profundo bom senso.
b) Que a pregação seja impregnada de esperança cristã
A pregação é proclamação do mistério da salvação, cujo
centro é o Mistério Pascal. Anunciar este mistério é colocar o homem sempre
diante da sua opção por Cristo e consequente exigência de contínua conversão.
Este processo de conversão, iluminado pelo Mistério Pascal, consiste
fundamentalmente numa caminhada de esperança. Caminhada que espera encontrar e
receber na evangelização: ânimo, apoio, luz, correção fraterna. A pregação deve
ser esse instrumento gerador e animador da esperança.
Portanto,
o ouvinte espera uma palavra edificante e existencial que ilumine os problemas
do dia a dia e o encoraje a assumir as responsabilidades quotidianas com
renovada esperança e realismo otimista.
c) Que a pregação seja profética
O pregador de uma maneira excelente exerce o munus profético que desde o Batismo participa em
Cristo.
O profeta no AT é aquele que prediz o futuro, profere
coisas ocultas e fala em nome de Deus. A sua missão fundamental é falar em nome de Deus.
Assim, o profeta é a boca de Deus (cf. Ez 2, 8; 3, 3). Ele é o porta-voz de Deus, chamado para cumprir uma
determinada missão (cf. Is 6,
1-9; Jr1,4s; Ez 1, 1s). Em particular o profeta tem a
missão de anunciar as maravilhas de Deus (cf. Os11,1; Is 49,15), denunciar o mal, o pecado,
principalmente a idolatria e as injustiças sociais (cf. Is 1,
11-17; Os 5,
1-7; 6, 6-7), enviado também para fazer um forte apelo à conversão (Jl 1,13-14; Is58, 6-7).
O
pregador não pode esquecer que, de um certo modo, ele é herdeiro da missão dos
profetas.
d) Que a pregação ilumine, purifique e aprofunde, gradativamente, a
religiosidade popular e não destrua os sentimentos e alma religiosa do nosso
povo
A
pregação deverá partir também da realidade religiosa do povo.
Cf. DAp
300
e) Que a pregação seja acima de tudo Palavra de Deus que brota de um
coração cheio de Deus
Nunca será demais insistir neste fato já conhecido. O
auditório tem que faro especial
para perceber se o pregador é ou não um homem de Deus. Em palavras de um grande
pregador: «O sacerdote deve dar aquilo que transborda do cálice e não daquilo
que está dentro. Assim, ele estará sempre “cheio”de Deus.»
Santo
Tomás, ao referir-se ao apostolado insiste em que no apostolado entrega-se o
que se contempla.
S. Paulo nos deixou uma página magnífica sobre o
pregador: cf. 1Cor 2,1-5.
Santo
Agostinho: «Sit orator antequam dictor», «Que o pregador seja um orante mais
que um falante».
Longe,
portanto, da pregação e do pregador os ares de sábio inflado, de improvisador
que se gaba de sua capacidade. Deve, antes de tudo, transmitir simplicidade,
convicção, confiança, alegria.
Como
conclusão deste capítulo sobre a psicossociologia do auditório poderíamos
sintetizar em três palavras-chaves aquilo que os ouvintes mais esperam e mais
necessitam da pregação: que os evangelizadores
1. Sejam luzeiros que
brilham num mundo cercado de toda espécie de trevas;
2.
Comuniquem amor, certeza, confiança e esperança aos ouvintes que não raramente
estão angustiados, saturados, confusos, desesperados;
3. Formem
os ouvintes para a vida cristã adulta e comunitária.
6 – A Homilia
1. Que é uma homilia
A homília é um tipo especial de pregação com características
próprias. Há muitos tipos de pregação. Assinalemos alguns deles: O panegírico, que
tende a ressaltar as virtudes de um santo e inculcar nos fiéis a sua imitação.
A homilia é aquele
tipo de oratória sagrada que convém mais à celebração litúrgica da eucaristia
e dos sacramentos. Ou melhor, as celebrações litúrgicas foram criando, a
partir da mais remota antiguidade, um gênero especial dentro da oratória – a
homilia -, espécie de comentário dos textos da celebração aplicado aos fiéis,
como participantes da celebração e como cristãos que devem viver o que
celebram.
Etimologicamente falando, homilia vem da palavra grega
“homilia” (reunião, conversa familiar) e esta por sua vez do verbo “homilein”
(reunir-se, conversar). Assim, pois, o termo grego homilia significa trato ou conversa familiar.
Retoricamente com a palavra
homilia se designa aquele gênero de oratória mais simples e familiar em
oposição ao ‘discurso”. Fócio nos diz que uma homilia se distingue de um
sermão pelo fato de que a primeira se expunha familiarmente pelos pastores e
era uma espécie de conversa entre eles e a assistência; o sermão, ao contrário,
era feito a partir do púlpito em forma mais solene. O sermão era composto
segundo as regras da retórica e da arte oratória, ao passo que a homilia é a
interpretação familiar da Sagrada Escritura, feita com um fim prático e
moral. A homilia, mais do que mover e excitar os ânimos, destina-se a
instruir e edificar os fiéis a propósito dos mistérios da fé.
Liturgicamente, a homilia é
uma parte integrante da liturgia da Palavra (cf. SC n. 52). Note-se
que até antes da reforma litúrgica conciliar dizia-se que, depois do Evangelho,
a liturgia era interrompida para que os fiéis ouvissem a homilia. O fato de que
atualmente a homilia seja parte integrante da liturgia nos obriga a precisar
muito mais seu sentido e função.
Tecnicamente,
na homilia distinguem-se duas funções litúrgicas importantes:
a) a de ser aplicação da
mensagem ao hoje e aqui de nossas vidas;
b) a de ser ponte entre a
liturgia da palavra e a liturgia eucarística ou sacramental.
Quanto à primeira função (a) antecipamos que a mensagem
da Escritura tem uma atualidade (e não simplesmente uma aplicação moral) que
foi sublinhada pela Constituição Sacrosanctum Concilium (cf. n.
33 e 7).
Quanto à segunda função (b) pode-se dizer que a homilia é
o elo entre a “liturgia verbi” e a “liturgia sacramenti”. É o que
liturgicamente se denomina “passagem para o rito”. A homilia (que nunca é
um sermão isolado, mas que está dentro de uma celebração) deve concatenar a
palavra ouvida com a celebração e mostrar sua atualidade precisamente na ação
sacramental, como logo comentaremos mais extensamente. Isso segundo a
melhor tradição patrística e segundo a Constituição Sacrosanctum Concilium (n.
35,2).
Ambas as funções coincidem, pois, no fato de conectar a Palavra de Deus com o hoje e o aqui de
nossa celebração ou de nossa vida.
A homilia
se distingue, pois, claramente de outros gêneros de oratória sagrada, como o
panegírico, o comentário bíblico-exegético, o clássico sermão piedoso, a oração
fúnebre. E com mais razão se distingue de uma classe de catequese ou de
teologia (embora a homilia possa e até deva aplicar certos princípios
empregados na catequese).
2. Origens e história da homilia
A homilia mergulha suas raízes no povo bíblico de
Israel. Sabemos que muito antes de Jesus e no tempo de Jesus, terminada a
leitura do texto bíblico na sinagoga, fazia-se a homilia que se encerrava com
o qaddis, oração aramaica da qual Jesus tomou,
ao que parece, as duas primeiras petições do Pai,-nosso. “Moisés – diz
Tiago em Atos 15,21 – tem em cada cidade os seus pregadores, que o lêem nas
sinagogas todos os sábados”. A mesma coisa é confirmada pelo historiador
judeu Flávio Josefo.
O próprio Evangelho nos oferece um exemplo eloqüente por
parte de Jesus deste comentário homilético das Escrituras, na passagem da
sinagoga de Nazaré (Lc 4,16-30).
Na verdade, trata-se da primeira homilia cristã que se conserva num resumo
escrito e na qual o próprio Jesus é o pregador e protagonista. É um claro comentário ao texto de Isaías e uma
claraaplicação do texto ao momento presente, assim como à situação concreta dos que estão reunidos na sinagoga,
incluindo o próprio Jesus (cf. v. 23s). Mais ainda: o texto de Lucas
deixa entrever que Jesus tinha o costume de ir à sinagoga no sábado e fazer a
leitura (v. 16) e também de ensinar nas sinagogas com louvor dos assistentes
(v. 15).
Sabemos também por João 6,59 que Jesus pronunciou o discurso do
pão de vida na sinagoga de Cafarnaum, provavelmente na festa de Páscoa (cf. Jo 6,4),festa
que naquele ano Jesus passou na Galiléia já que não podia ir à Judéia (cf.
7,1). Também em tal passagem há um longo comentário de diversos textos
do Antigo Testamento sobre a páscoa e sua aplicação ao momento presente dos
ouvintes (a presença de Jesus entre eles e a fé em sua palavra) e a situação
conjuntural (a celebração da páscoa judaica que antecipa a páscoa cristã).
Temos outro exemplo eloqüente de outra homilia de Jesus,
desta vez com os dois discípulos, na caminhada de Emaús (Lc 24,13-35). Trata-se de uma homilia no
sentido mais genuíno da palavra: “conversa familiar”. Jesus, ao longo da
rota que leva de Jerusalém a Emaús, vai interpretando o momento presente à luz
dos textos escriturísticos. Trata-se de uma verdadeira “liturgia verbi”
que prepara os corações dos discípulos para a “liturgia sacramenti”, para o calor da celebração,
para a profundidade do encontro eucarístico com Jesus na casinha de
Emaús. Na verdade, as palavras de Jesus atualizam os textos bíblicos (cf.
v. 27) e preparam os corações para a celebração eucarística (cf. v. 29 e 32).
A
recitação, ou melhor, a proclamação da Bíblia e sua interpretação nas
sinagogas, não pôde deixar de ter profundos vestígios entre os judeus-cristãos
presentes às reuniões sinagogais. É preciso levar em consideração que os
primeiros cristãos, antes de sua conversão e mesmo depois dela, estiveram em
contato com o templo, e aos sábados com a sinagoga.
Recordemos também que alguns textos neotestamentários
parecem ser textos homiléticos (p. ex. alguns fragmentos da primeira carta de
São Pedro). Sabemos também que os apóstolos praticaram o comentário
homilético (p. ex. a famosa “conversa” de Paulo em Trôade dentro de uma
reunião de caráter claramente litúrgico (At 20,7-12).
Entre os
escritos cristãos pós-bíblicos, o primeiro testemunho que faz referência clara
à homilia como parte da liturgia da Eucaristia encontra-se em Justino.
Assim diz em sua primeira Apologia (escrita pelo ano de 153) ao explicar a
Missa:
«… E no
dia chamado do sol, faz-se uma reunião num mesmo lugar de todos os que habitam
nas cidades ou nos campos, e lêem-se os comentários dos apóstolos ou as
escrituras dos profetas, na medida em que o tempo o permite. Depois,
quando o leitor acabou, quem preside exorta e incita pela palavra à imitação
dessas coisas excelsas. Depois nos levantamos todos ao mesmo tempo e
recitamos orações” (n. 67)
Trata-se
de uma homilia dominical (Justino fala do ‘dia chamado do sol’ e não do ‘dia do
Senhor’ para ser compreendido pelos leitores gentios, a quem dirigia sua
Apologia). A homilia dessa reunião dominical situa-se depois das
leituras e antes da oração universal que precede a apresentação das oferendas
para a Eucaristia. Trata-se, pois, de uma homilia eucarística tal como se
pratica em nossas igrejas hoje em dia.
São famosas
as homilias dos Santos Padres (séc. II-VIII) que em grande parte nos foram
transmitidas por escrito. São o comentário vivo da Bíblia por parte da
Igreja dos primeiros séculos. São também um testemunho de que a liturgia
nos conserva a melhor vivência da fé bíblica e a melhor “summa theologica” de
todos os tempos.
Nos
séculos posteriores, quando no Ocidente a ação litúrgica se torna arcana e
clerical e deixa de ser uma ação inteligível para o povo, a homilia de feição
patrística ou escriturística desaparece, ao menos de modo geral, e já não
figura nos livros litúrgicos. Entramos assim numa era de ausência de
comentários homiléticos que serão de alguma forma substituídos (mas não
convenientemente supridos) pela pregação extralitúrgica .
As Rubricas gerais do Missal de
São Pio V (1570) não falam da homilia: da proclamação do Evangelho passa-se ao
Credo. Contudo, o Rito que se deve observar na celebração da Missasupõe
a possibilidade de que haja uma pregação depois do Evangelho (cf. VI, 6).
Recordemos
também que na administração da maioria dos sacramentos, dos séculos que nos
precedem, não está prescrita nem prevista a leitura da Palavra de Deus nem,
conseqüentemente, seu comentário homilético. Podemos ver um resto da
homilia na catequese do Pontifical Romano que o bispo dirige aos
ordenandos. Quando os sacramentos, sobretudo o matrimônio, são celebrados
dentro da Missa, coisa freqüente nas últimas décadas que nos precedem, costumam
comportar um comentário homilético.
Em alguns
países, até não muito antes do Concílio Vaticano II, dar-se-á a estranha
superposição de uma pregação ao longo da missa dominical, que se celebra em voz
baixa e em latim. Embora chocante para nós, não o era tanto no ambiente
da época, se levarmos em conta que na missa se praticava todo gênero de
devoções. Na melhor das hipóteses, esta pregação desenvolvia o tema do
evangelho. Aqui está o que a este propósito prescreveram as Rubricas de
1960, promulgadas por João XXIII:
“Depois
do evangelho, sobretudo aos domingos e dias de festa de preceito, dirigir-se-á
ao povo, segundo as circunstâncias, uma breve homilia. Mas esta homilia,
no caso de ser feita por um sacerdote que não o celebrante, não deve
sobrepor-se à celebração da missa, impedindo a participação dos fiéis; também
então a celebração deve ser interrompida e não deve voltar a continuar enquanto
a homilia não tiver terminado”.
O Concílio Vaticano II encontra o terreno preparado para
uma reabilitação da homilia, graças à renovação litúrgica das últimas décadas
e, concretamente, graças ao documento que acabo de citar. Insiste no fato
de que a homilia deve partir do texto sagrado proclamado e estabelece que a
homilia é parte da própria liturgia. Depois de assinalar a importância da
Palavra de Deus (cf. SC n. 24 e 51), diz no n. 52 da Sacrosanctum Concilium:
«Recomenda-se
vivamente, como parte da própria Liturgia, a homilia sobre o texto sagrado, em
que, no decurso do ano litúrgico, se expõem os mistérios da fé e as normas da
vida cristã; não deve ser omitida sem grave causa nas missas dominicais e nas
festas de preceito, concorridas,pelo povo».
3. Elementos de que se compõe a homilia
Aqui não
nos referimos às partes de que consta uma homilia enquanto peça de oratória,
mas aos conteúdos teológicos ou temáticos que deve incluir. Por isso não
falo de partes, mas de elementos.
Dado que a homilia é uma atualização da
Palavra de Deus no hoje e no aqui da vida e dacelebração,
podemos deduzir que uma homilia bem preparada deve conter três elementos que
nunca faltarão:
a) Elemento exegético ou interpretação da mensagem da Sagrada
Escritura proclamada na liturgia da palavra.
b) Elemento vital ou aplicação da mensagem à vida da
comunidade e de cada um dos que a integram.
c) Elemento litúrgico ou aplicação da mensagem à celebração
litúrgica e à assembléia que celebra.
Passemos
ao desenvolvimento pormenorizado de cada um desses elementos.
a)
ELEMENTO EXEGÉTICO
O gênero homilético não tem por finalidade principal que
os fiéis cheguem a um conhecimento profundo e quase científico dos textos da
celebração, mas que celebrem a Palavra de Deus e vivam à luz dessa
Palavra.
Mesmo
assim, os conhecimentos exegéticos são muito necessários, especialmente em quem
prega a homilia e, em sentido mais amplo de conhecimento da mensagem, também
para todos os que a escutam.
Em teologia entende-se por exegese a arte
(e ciência!) de encontrar e propor o sentido verdadeiro de um texto
escriturístico. Fazer brilhar, através das palavras humanas, a plenitude da luz
e do pensamento divino ou plano histórico de salvação.
Na
preparação da homilia o emprego da exegese é absolutamente indispensável.
Quando o sacerdote a desconhece, quando se detém na pura história relatada ou
no puro texto escrito (caso dos primeiros capítulos do Gênesis), não pode desenvolver
a mensagem que o texto inspirado encerra para todos os tempos e, portanto, para
a nossa circunstância.
Por isso mesmo, na preparação de uma homilia, a primeira
coisa que alguém deve fazer é perguntar-se, depois de ter lido o texto: que quer dizer Deus através
deste texto? Não é
sempre fácil responder a esta pergunta…Para isso é necessário levar em
consideração uma série de normas e prestar atenção a elas:
1) É mister entender bem o texto, as palavras e conceitos nele
incluídos. E para isso é necessário estudá-lo demoradamente numa boa
tradução, se não for possível no original; nunca numa paráfrase popular, ainda
que depois esta seja usada na leitura. A fidelidade da tradução é
indispensável. Neste momento da preparação a ajuda de vocabulários e
dicionários bíblicos é importante. Demos um exemplo para ilustrar o que
estamos dizendo. A passagem da pecadora perdoada (Lc 7,36-50) não se entende, ou se entende de
maneira muito diferente, se o v. 47 for traduzido assim: «…são-lhe perdoados
seus muitos pecados, porque amou muito». O sentido exigido pelo contexto
é, ao contrário: «…se mostra muito amor, é porque lhe foram perdoados muitos
pecados». No primeiro caso, a causa do perdão é o grande amor da
mulher. No segundo caso, a causa do perdão éo amor gratuito de Deus (cf.
v. 42). O amor da mulher é um amor de agradecimento. Uma boa
tradução deste texto não esquece que o hebraico, o aramaico e o siríaco não têm
nenhum vocábulo para dizer «dar graças» e «agradecimento» e que o fazem
indiretamente através de outros vocábulos. É o contexto que deve decidir
isso. E a tradução não pode esquecê-lo.
2) Estudar o contexto da perícope: texto circundante,
circunstâncias de um fato, milagre, parábola; estudar o estilo de um livro, os
destinatários e os textos paralelos, especialmente nos evangelhos
sinóticos. Este estudo é mais necessário quando o texto oferece certas
dificuldades ou ambigüidades. Temos um exemplo gramatical na já
mencionada e comentada passagem da pecadora perdoada. Outro exemplo referente
à importância das circunstâncias de uma parábola podemos encontrá-lo no filho
pródigo (Lc 15,11-32). A intenção de Jesus, se
nos ativermos somente à parábola, poderá ser até certo ponto múltipla.
Mas se nos fixarmos no contexto em que foi pronunciada (cf. Lc 15,1-2) não há a menor dúvida: a intenção
principal é manifestar que Deus sente uma grande alegria ao reencontrar o
pecador e que Jesus é a encarnação dessa alegria. Outro exemplo, desta
vez referente a um livro: A carta aos hebreus se esclarece quando se conhecem
os destinatários (convertidos do judaísmo, sacerdotes hebreus, exilados, perseguidos,
tentados a voltar atrás, que sentem saudade do culto levítico). Toda uma
série de temas da carta esclarecem-se então (apostasia, peregrinação, Pátria
celeste, Cristo guia, superior a Moisés, Cristo sacerdote etc.).
3)
É preciso distinguir entre texto literário e mensagem que contém. Fazer
exegese não é somente nem principalmente traduzir o que está escrito.
Isto pode derivar perigosamente para uma interpretação fundamentalista da
Escritura. Quando o gênero literário não é corrente ou atual (alegoria,
mito, parábola), o trabalho éduplo. Um exemplo já clássico: Para captar a
mensagem revelada contida no relato da criação e queda do homem (Gn 2,4b-3,24),
é absolutamente necessário distinguir entre relato mítico e o que Deus quis
revelar-nos através dele. É preciso conhecer bem o texto literário e os relatos
míticos da época; mas, ao mesmo tempo, é preciso saber ler devidamente para não
tomar como revelação de Deus o que é apresentação externa e roupagem cultural
veiculante.
4)
É preciso levar em consideração que Deus, por meio do autor inspirado, quis
dizer algo então e quer dizer algo agora através da palavra (falada ou escrita)
ou através do fato narrado. Embora a circunstância talvez já tenha
passado e fique muito longe de nós, a mensagem ou o acontecimento continuam
sendo atuais e exemplares; hoje o Senhor os dirige a mim e a todos os
homens. Do contrário, a Bíblia seria uma bela história passada e nada
mais. Todos os relatos históricos de Jesus disseram algo em seu tempo e,
embora tenham passado, podem dizer e dizem algo para nós, em pleno século
XX. O nascimento de Jesus, por exemplo, tem uma grande ressonância cada
ano no Natal. É equívoco, para não dizer falso, dizer que Jesus nasce de
novo. Jesus não nasce de novo. O fato histórico não se
repete. Mas este nascimento foi um acontecimento histórico. Disse
algo então aos pastores (cf. Lc 2,10-12.14). E diz algo hoje: ressoa de
novo uma mensagem de alegria para o povo; hoje o nascimento do Messias nos
ajuda a superar todos os falsos messianismos de nosso tempo.
5)
É importante, uma vez descoberta a mensagem para além do que está escrito ou
para além do puro f ato, ver como se relaciona com a Mensagem geral da Bíblia e
com o Acontecimento da Salvação operada poi Deus em Cristo. Não para
reduzir a generalidades o texto e o sermão, mas para comprovar que a mensagem
falada é válida. Uma mensagem não pode estar em desacordo com o
Acontecimento salvífico. Mensagem e acontecimentõ devem sintonizar e
concordar com alguma das fibras gerais da História salvífica e ser sensíveis a
ela. Demos um exemplo: Se lendo a carta de Tiago chego à conclusão de que
o que justifica são as obras, tenho que começar a duvidar se realmente cheguei
a entender a~mensagem da carta, porque é evidente que a Bíblia nao coloca a
causa da justificação nas obras. E, pelo contrário, se lendo Paulo chego
à conclusão de que a única coisa importante na vida é a fé (sem que o cumprimento
da lei influa em minha vida cristã), posso começar a suspeitar que estou
entendendo erroneamente a mensagem. Aqui também há desacordo com a
Mensagem gerai da Bíblia.
6)
Em caso de dificuldade e mesmo sempre, é preciso ver o que me diz o texto na
fé, na oração e na meditação da Palavra. Apesar da distância, estou numa
onda de fé semelhante e próxima daquela do autor.
7)
É preciso também pensar no ouvinte ordinário da Palavra (a quem devo dirigir a
homilia) e prever o que pode obviamente dizer-lhe o texto ou, por oposição, o
que poderia dizer-lhe o texto e não lho dirá porque desconhece algo ou
interpreta mal algo (importante, este algo que talvez eu possa esclarecer-lhe;
esta chave que eu posso dar-lhe e que, depois, verei se é oportuno dar-lhe ou
simplesmente mencionar). Ternos o caso das bodas de Caná.
Esclarecer o significado da contraposição água-vinho é fundamental para
começar a entender algo do milagre e o que João quer dizer-nos. O ouvinte
ordinário desconhece a ampla simbologia da água na Bíblia; mas bastará uma
simples insinuação para que em cada caso possa ‘captar o significado.
8)
Para relativizar meus pontos de vista, para os enriquecer e sistematizá-los
convém recorrer sempre a um comentário exegético (na prática a um bom livro de
preparação homilética) depois de eu ter colocado minha parte, não antes.
Em exegese e em homilética a origina lidade e a criatividade são importantes e
se adquirem àforça de exercício e de estudo pessoal.
9)
É preciso também distinguir em certos textos entre a mensagem principal e
outras mensagens submensagens ou alusões vitais inseridas na riqueza do texto,
e que podem dar ocasião a diversas variantes homiléticas, mas que, ao menos em
princípio, não vão constituir o centro da homilia, pois não são o centro da
mensagem. Por exemplo, no caso do filho pródigo, a falsa liberdade, a
vida do pecador, os passos da conversão, o farisaísmo do irmão maior etc.
10)Por
fim, é preciso levar em consideração que, em última análise, o que interessa
não é a letra, mas o espírito; não a erudição e o aparato exegético, mas o
conteúdo da exegese; não a solução de tal ponto obscuro do texto (por mais
conveniente que seja esclarecê-lo), mas a interpretação da mensagem principal.
Inutilmente
o pregador tratará de fazer uma homilia correta, enquanto não souber o que o
texto quer dizer ou (mesmo correndo o perigo de sermos pesados) o que nos quer
dizer o Espírito Santo através do texto. Desde que o pregador o conheça
ou, ao menos, desde que a mensagem lhe seja mais clara, o pregador pode ver a
maneira de aplicá-la à vida dos ouvintes (B) e à celebração (C).
b)
ELEMENTO VITAL
É outro
elemento que se deve considerar. Outro, não o segundo necessariamente,
pois a ordem dos elementos (vida, liturgia) é secundária uma vez conhecido o
elemento fundamental da exegese.
O Decreto
sobre o ministério dos presbíteros do Concílio Vaticano II assim se exprime a
propósito da pregação no n. 4:
«…A
pregação sacerdotal – não raro dificílima, nas circunstâncias hodiernas do
mundo, se se deseja mover eficazmente as mentes dos ouvintes – não deve expor
apenas de modo geral e abstrato a palavra de Deus, mas sim aplicando às
circunstâncias concretas da vida a verdade perene do Evangelho».
Nem mais
nem menos.
A Bíblia
é luz da vida, mas não na forma em que o entendem alguns pregadores: não é uma
mensagem abstrata e nas nuvens para um público que, por obra de encantamento, é
desligado por alguns minutos de sua vida ordinária para viver sua “vida
espiritual”; a Sagrada Escritura também não é um manual de receitas morais nem
políticas; mais do que normas concretas e originais, o que a Bíblia apresenta é
uma atitude frente à vida. A ética cristã se distingue não tanto por suas
normas originais (são menos do que imaginamos, se nos aprofundarmos na história
das religiões), quanto por sua motivação. A ética cristã é uma ética de
resposta, de agradecimento, de ação de graças e de liberdade; é a ética dos
filhos de Deus, libertados do pecado e da lei e, por isso mesmo, escravos do
Espírito…
Tudo isso
deve levar o pregador a pensar antes de fazer aplicações práticas. Deve
sobretudo levá-lo a refletir para ver que estilo emprega em suas aplicações morais
(estilo moralizante, estilo fundamentalista, estilo casuísta, estilo
politizado ou antes estilo profético, estilo iluminador, estilo interrogante e
de busca).
A Palavra, corno espada de dois gumes, continua hoje
interpelando, iluminando, julgando, apresentando atitudes evangélicas
profundas (como o Sermão da Montanha), dizendo-nos o que é ser, hoje e aqui,
cristão. Pouco avançamos apresentando soluções para tudo, receitas para tudo,
visto que o quid da questão ou do problema não é a solução
ou a receita, mas a luz e a força necessárias para pôr hoje em prática o
evangelho. Pouco avançamos (e queira Deus que não retrocedamos), se não
conseguimos apresentar o evangelho como moral de filhos e não como pura lei, se
não conseguimos entusiasmar o público com a figura do Pai manifestada em
Cristo e por Cristo.
A Palavra
deve ressoar nas palavras do homiliasta com gozo e como juízo. Deve ser
dirigida não somente à vida individual, mas também à vida social; não somente
à vida social, mas também à pessoal. Deve ser crítica não só frente aos
males da sociedade, mas também frente aos males da Igreja, se não quiser pregar
uma conversão farisaica. Deve ter uma dimensão política como a própria
liturgia, mas sem fazer política e evitando converter o púlpito numa palestra
de demagogia. Em última análise, deve relativizar todo fato humano,
qualquer que ele seja, frente ao projeto de Deus que não é utopia ilusória, mas
promessa e esperança que a liturgia já nos permite celebrar e festejar.
A amargura, o pessimismo, o grito histórico, o ataque
desapiedado não só são frutos do desconhecimento da moral evangélica, mas
chegam até a mergulhar a assembléia, que celebra a libertação definitiva em
Cristo, num pessimismo alheio à liturgia que sempre (mesmo nas piores circunstâncias
políticas e sociais) celebra a libertação que vem de Deus.
Mas, como
se relaciona a exegese com a vida? Aqui estão algumas indicações que
podem ajudar:
1) Quem
prega deve procurar conhecer da melhor maneira o auditório (assembléia,
comunidade), seu estilo de vida, suas dificuldades na fé, sua vivência cristã,
seu mundo político e social, suas esperanças ou ideais e seu nível
cultural. O pregador que sem dificuldade prega diante de qualquer
público, por mais estranho e heterogêneo que seja, é um pregador que
dificilmente chega ao coração da assembléia e ao fundo dos problemas. Quando
por necessidade alguém deve pregar a fiéis que não conhece, irremediavelmente
deve fazê-lo no terreno do geral, e mesmo que possa causar impacto pela
novidade, pela proximidade com que fala e pelo apreço com que se dirige à
assembléia, deve ser também muito circunspecto naquilo que diz ou afirma.
2) O homiliasta deve ter como critério central, e
poderíamos dizer único, a Palavra revelada, sem convertê-la numa teoria e sem
levá-lo a exprimir as idéias do pregador nem os gostos do povo, ainda que isso
possa provocar a popularidade do pregador. Assim, uma situação ou solução
política concreta nunca deve ser deduzida de uma passagem
bíblica. É um abuso e um desprezo pelas legítimas divergências dentro da
assembléia. Por exemplo: por mais que o livro dos Atos apresente
nos capítulos 2 e 4 uma estrutura eclesial fortemente comunitária e
socializada, um pregador não pode aproveitar-se da passagem para inculcar o
socialismo político, sobretudo em suas formas concretas que, evidentemente,
distam muito do modelo eclesial e quase estilizado que o autor dos Atos, Lucas, quer
apresentar. Pode-se, em vez disso, recomendar um espírito mais
comunitário e socializado e menos individualista nos ouvintes. Mas se o
pregador não pode deduzir do texto bíblico uma aplicação política
muito concreta, pode sem dúvida deduzir do texto bíblico, em muitas ocasiões,
uma crítica concreta
a um projeto ou situação política menos cristã ou antievangélica. A
Bíblia não oferece modelos políticos, mas critica todo modelo político.
3) É preciso evitar o excessivo afã moralizante
(ataque aos costumes …) que nunca produziu grandes mudanças, sobretudo se
desce a detalhes. Às vezes convirá insistir mais nas conseqüências que derivam
da Escritura para a fé do que nas conseqüências que derivam para a moral.
Assim, por exemplo, tomar o martírio de João Batista (Mc 6,17-29)
para fazer uma crítica dos bailes de nossos dias, não pode produzir grandes
efeitos (além do mais, o pregador é um mau experimentador e conhecedor dos
bailes atuais e passados, de modo geral…). Faria melhor se apresentasse a
figura profética de João frente à venalidade e espírito antievangélico dos
mundanos.
4)
É preciso iluminar situações gerais, urgentes ou graves à luz do evangelho;
também atitudes concretas, mas suficientemente gerais da assembléia; sem descer
ao caso demasiadamente concreto, sem indicar com o dedo as pessoas, mas também
sem diluir a pregação profética em generalidades, componendas e
compromissos. O pregador não pode, por exemplo, esquecer que está
falando a um público com uma circunstância política concreta.
5)
Extrair deduções para a vida de detalhes insignificantes do texto
escriturístico é um erro. Não se devem confundir os detalhes de certas
parábolas, o ambiente social de certos textos etc., com os aspectos
fundamentais da passagem. Os detalhes, embora estejam dentro do contexto
inspirado, não têm por que ser parte da mensagem. Construir sobre
minúcias é construir sobre areia. Um pregador tirava da parábola do filho
pródigo o fato de que o filho pródigo não tinha mãe; se tivesse mãe… e daí
passava à importância das mães e da Virgem Maria. É simplesmente abusar do
texto e sair pura e simplesmente do comentário homilético e
escriturístico. Se um pregador quer falar das mães ou da Virgem Maria,
que o faça no momento devido, mas que escolha os textos adequados para tais
casos. O que acontece é que queremos que o texto escriturístico que
devemos comentar (poucas vezes se escolhe) diga o que nós queremos dizer ao
povo e não o que Deus nos quer dizer.
6) É completamente legítimo aproveitar o paralelismo
entre as situações vitais que encontramos na Bíblia e as que a sociedade
moderna e a Igreja atual nos oferecem, por exemplo, farisaísmo, culto vazio,
atitude diante da pobreza e riqueza, perigo do poder, descompasso entre culto e
vida, legalismo etc. A legitimidade vem do fato de que o homem é sempre o mesmo e
porque o juízo de Deus é para todos os tempos e não somente para determinada
época. Um exemplo: é um erro de muitos pregadores falar do farisaísmo,
detendo-se na atitude de alguns senhores de uns dois mil anos atrás. Sim,
aconteceu naquele tempo; mas continua acontecendo hoje (e de que maneira!) na
sociedade e na Igreja. Textos como a crítica de Jesus aos escribas e fariseus
(as sete maldiçoes de Mt 23,13-32) deveriam ser comentados com aplicações
próprias do dia de hoje e com uma autocrítica sincera, respeitosa e
sadia. Porque estes textos, se foram escritos, para nós o foram.
c)
ELEMENTO LITÚRGICO
A este terceiro elemento (a ordem de apresentação é
secundária) damos o nome de «litúrgico», mas poderíamos também chamá-lo
«elemento celebrativo». Com efeito, a homilia está num contexto de
celebração ou, melhor, em função e dentro de uma celebração litúrgica.
Não se faz uma homilia a propósito de uma celebração ou aproveitando o fato de termos
os fiéis reunidos para
a liturgia (embora seja a única oportunidade em que os temos!), mas com vistas
à celebração e para dar maior sentido à celebração litúrgica.
Assim, pois, a homilia não está acima da
liturgia, mas ao serviço da liturgia. A homilia é uma“ancilla” da
celebração. Aqui poderíamos deter-nos a refletir sobre um ponto
sintomático: o pregador (já que não o bom homiliasta) considera consciente ou
subconscientemente que sua parte (a que lhe permite maior criatividade pessoal
na liturgia) é a mais importante dentro da liturgia, e assim não se importa nem
se preocupa muito com prolongamentos excessivos, despachando o resto (especialmente
a liturgia eucarística) a toda velocidade e de forma mecânica ou mais ou menos
prosaica.
Outro
ponto: a única arte da liturgia que o sacerdote costuma preparar (se é que
prepara alguma coisa) é a homilia; e por isso mesmo ao resto da celebração não
dá, conseqüentemente, nenhum realce, nenhuma variedade, criatividade nem
beleza (como poderia ser a do santo apropriado, preparado, bem
executado). Ele sabe que os fiéis têm dificuldades em penetrar na
liturgia da Palavra e em viver com intensidade a ação sacramental; e soluciona
o problema esquivando-o: relegando o mais importante da liturgia para um
segundo plano. Com isso só consegue aumentar a dificuldade e fazer com
que a mesma homilia seja cada vez mais inútil como homilia e que passe a ser um
colóquio subjetivado, racionalizado ou, quando muito, um bom tipo de catequese
alitúrgica.
Da mesma
forma, os fiéis perdem a riqueza da celebração, afastam-se cada vez mais dos
mistérios litúrgicos e freqüentemente também do sermão. Assim, se a atual
liturgia peca talvez por excesso de cerebralismo, de falta de sentimento, de
simbolismo e de ação, o pregador acaba levando isso tudo às suas últimas
conseqüências.
Não, a homilia tem uma função mistagógica, isto é,
deve conduzir aos mistérios da fé (sacramentos, sacrifício eucarístico), a
partir da Palavra dada e acolhida até a ação sacramental, sinal e cumprimento
de tal Palavra hoje e aqui nesta assembléia concreta.
A esta função mistagógica se deu o nome de passagem ao rito, isto é,
passagem da palavra ao rito, passagem do profetizado ao cumprido no sacramento
ou, segundo os casos, passagem do acontecido ao celebrado
sacramentalmente. Palavra e rito não são duas coisas totalmente diferentes
nem contrapostas, como alguns superficialmente quiseram ainda hoje fazer-nos
crer. São os momentos de um mesmo acontecimento salvífico. O que a
Palavra anuncia, o rito o realiza (além disso, numa análise profunda
chegaríamos à conclusão de que também o rito é palavra e anúncio, e a palavra
é ação).
Mas, como
fazer com que a homilia seja GONZO, DOBRADIÇA, ENTRONCAMENTO? Como
conseguir que realize dentro da estrutura litúrgica sua função CONJUNTIVA?
Aqui estão algumas indicações:
1) Quem prepara ou pronuncia a homilia deve levar em
consideração que sua homilia não pode limitar-se a explicar o texto ou os
textos proclamados anteriormente nem sequer a fazer uma conjunção com a vida, e
isso porque a palavra se aplica à celebração sacramental e isso comocumprimento. Mais ainda, deve ter presente que a
própria liturgia da Palavra já é celebração da Aliança, mensagem atual e gozosa
de Deus a seu povo e resposta deste povo a Deus pela fé, pela aclamação e pelo
canto (cf. Ne 8,1-12). Demos um exemplo simples. Estamos
lendo no evangelho a parábola do banquete nupcial e dos convidados ao banquete
(Mt 22,1-14). É aberrante comentar esta parábola esquecendo de relacioná-la
com a celebração. Se exegeticamente falando o banquete é figura da
felicidade messiânica e os que são chamados dos caminhos são os pecadores e os
pagãos (nós!), a reunião eucarística é, ao mesmo tempo, cumprimento e
antecipação desta felicidade e deste chamado. Como não vão soar com
acento eucarístico frases como “vejam, meu banquete está preparado”, ou “amigo, como entraste aqui sem
traje nupcial?” Em
outras palavras, Deus não só anuncia coisas, mas também as realiza e essa
realização já é realidade e promessa ou penhor no sacramento.
2) Quem prepara a homilia deve ter presente que o texto é
por si mesmo algumas vezes (mais do que à primeira vista parece)
litúrgico-sacramental-alegorizante. Por exemplo, muitos dos textos do
evangelho de São João têm uma estrutura típica de profecia, acontecimento e
sacramento. Em outras palavras, alguns acontecimentos, discursos e
milagres foram escritos a partir de uma reflexão sacramental (sem por isso
deixar de serem históricos). Um exemplo: O relato do discurso dos pães (Jo 6,22-71) pode ser lido a partir de três
perspectivas: como anúncio da eucaristia, como acontecimento histórico da
presença de Jesus pão de vida (recorde-se o relato da multiplicação dos pães) e
como reflexão sacramental feita por João e a partir da Igreja (tomando as
palavras de Jesus). O mesmo se diga da cura do cego de nascimento, onde se
encontra uma reflexão eclesial sobre o batismo.
3) Os
textos bíblicos podem ressoar de diferente maneira segundo a celebração
litúrgica, festa ou tempo do ano litúrgico. O texto contém em muitos
casos diferentes virtualidades já que, além de sua riqueza, não é somente
texto escrito, mas também Palavra viva, acontecimento sempre novo.
Assim, o texto como o das Bodas de Caná permite diferentes aplicações
litúrgicas, segundo seja lido num domingo ordinário, na Páscoa, num casamento
ou numa festividade da Virgem Maria. O mesmo se diga da parábola do filho
pródigo, dependendo de ser lida e comentada numa celebração eucarística ou numa
celebração da penitência. Em cada caso o acento variará e as aplicações
litúrgicas (e vitais) terão um colorido e matiz diferentes.
4) Convém
estarmos atentos para a possível relação entre o texto lido e as atitudes, os
gestos e as palavras da mesma celebração litúrgica (p. ex. esperança e
aclamação “Vem, Senhor Jesus”; atitude de louvor e prefácio eucarístico;
reconciliação e abraço de paz; generosidade e oferenda eucarística etc.). Esta
conexão pode ser aplicada especialmente quando há dificuldade de encontrar uma
relação mais apropriada; tem a qualidade de dar novidade e sentido a elementos
litúrgicos pouco explicados, assim como de libertar a assembléia litúrgica de
um certo automatismo ou rotina impossíveis de eliminar completamente.
Quando a homilia emprega este recurso, uma admoestação em seu lugar adequado
poderá recordar que tal gesto ou oração litúrgica estão relacionados com a
Palavra de Deus.
Tomemos o
caso em que no Advento se leia um texto referente à escatologia e, por qualquer
motivo, aquele que prepara a homilia sinta dificuldade em encontrar a
aplicação à liturgia. Ainda é possível que na leitura descubra uma
palavra ou frase de esperança (p. ex., “vigiai, pois o Senhor vem”). Um
olhar atento para o ordinário da missa lhe recordará que cada dia dizemos na
aclamação eucarística: “Vem, Senhor Jesus”; que na comunhão Jesus vem; um olhar
atento lhe recordará que o presidente sempre saúda com um desejo: “O Senhor
esteja convosco”. Nesta homilia pode-se sublinhar se esperamos o Senhor;
se ao recebê-lo suspiramos com o desejo de contemplá-lo na glória; se nos
preocupamos em estar com o Senhor ou se cremos que o possuímos, que o
controlamos, que o podemos dominar… Em tal missa será necessário sublinhar o
texto ou ação que tivermos escolhido e comentado na homilia.
5) É relativamente fácil ou ao menos não tão difícil
encontrar conexões entre a Escritura proclamada e a celebração litúrgica nas
homilias de sacramentos: os textos escolhidos em tais casos costumam ter uma
relação mais ou menos explícita e direta com o sacramento. Mais difícil
é, de modo geral, encontrar estas conexões no caso da eucaristia: os textos
bíblicos do lecionário da mesma não podem, cada vez, estar relacionados
explícita e diretamente com a eucaristia em seu sentido restrito (nem têm por
que estar). Mas estão relacionados com a história da salvação da qual a
eucaristia é o núcleo central e o centro sacramental.
Para isso (para encontrar essa relação), é necessário
ampliar e refrescar nossa compreensão bíblico-dogmática da eucaristia, a fim de
encontrar a conexão. A eucaristia não tem uma só dimensão. Refere-se,
por exemplo, ao êxodo pascal, à terra prometida, à libertação, à aliança, à
pátria, à autodoação de Cristo, ao sacrifício pelo pecado, ao perdão dos
pecados, à transformação do cosmos, à ação do Espírito Santo que une,
transforma e santifica. Eucaristia é louvor perfeito, ação de graças pelas “mirabilia Dei”,
memorial de Cristo e de sua páscoa, alimento sacramental, banquete dos pecadores
remidos, presença do Ressuscitado na comunidade eclesial, unidade do Corpo de
Cristo, viático, penhor e antecipação do Banquete do Reino, confissão de fé no
Senhor, anúncio e denúncia diante do mundo etc.
São os
textos que não têm relação com a eucaristiaou somos nós que não descobrimos a
relação?
6)
Quando, apesar de tudo o que ficou dito, nos parecer desnecessária esta relação
dos textos escriturísticos com a celebração eucarística, façamos a seguinte
reflexão: Que diríamos de um pregador que, depois das leituras próprias de uma
celebração sacramental (p. ex., batismo, confirmação, matrimônio) omitisse na
homilia toda referência ao sacramento que vai ser celebrado? Sem dúvida
não veríamos isso com bons olhos e consideraríamos que há um menosprezo pela
ação sacramental. O mesmo acontece na eucaristia, embora sejamos
incapazes de perceber a omissão pela rotina.
4. Como se prepara a homilia
Uma boa homilia e, a fortiori, a pregação homilética de cada domingo não
se improvisa. Poder-se-ia logicamente falar de uma preparação gradual:
geral, remota e próxima.
A preparação geral não pode ser outra senão o estudo e o
aprofundamento da Sagrada Escritura, da Sagrada Liturgia, dos Santos Padres, da
teologia, dos documentos da Igreja, dos problemas sociais etc. O fato de
não estar em dia é um obstáculo sério na hora de pregar. Há quem pregue
com uma bagagem cultural e teológica que cheira a ranço e os fiéis, mesmo os de
cultura simples, são os primeiros a se darem conta.
A preparação remota deveria ser feita alguns dias antes.
O bom homiliasta não espera a última hora para preparar sua homilia. Ele
a vai ruminando. Fá-la germinar ao contato com o travesseiro. Esta
preparação difusa, ao longo da semana, engloba vários pontos: a leitura do
texto ou dos textos escriturísticos, a meditação dos mesmos durante a oração, o
esboço geral dos elementos exegéticos, litúrgicos e vitais, a consulta
tendente a eliminar certas dúvidas e dificuldades em dicionários bíblicos, como
de passagem e entre uma ocupação e outra. Esta preparação é mais
importante do que parece e tem a vantagem de quase não tomar tempo.
Pode-se fazer isso nos momentos livres.
A preparação próxima (tempo dedicado a preparar a homilia)
inclui vários pontos que, embora variem de pessoa para pessoa, poderiam
resumir-se assim:
1) Concretizar bem os pontos ou idéias mais importantes que foram surgindo na
exegese, liturgia e vida, independentemente do que se aproveitará de tudo isso
no final e independentemente da maneira como se exporá. Preocupar-se
primordialmente com a maneira como se proporá uma homilia, da forma, etc.; sem
ter idéias claras é um grave erro, muito típico de principiantes. Aquele
que tem algo a dizer, o diz. Quem nada tem a comunicar, aborrece por mais
que use belas palavras. Isso não quer dizer que não se deva preparar a forma,
como logo veremos.
2) Escolher uma das três leituras como núcleo referencial da
pregação. Não querer comentar as três (embora se possa e convenha fazer
alusão às três). Geralmente se deverá comentar o Evangelho ou – por que
não? – a leitura do Apóstolo. Conviria ter um plano para vários domingos,
sobretudo se se comenta a segunda leitura, a do Apóstolo. Isso é muito
frutuoso, mas supõe uma assembléia relativamente estável e, é
claro, um mesmo pregador. Quem escolhe sempre o mais fácil (com a
desculpa da falta de tempo ou da simplicidade de seus ouvintes) é aquele que
nunca diz nada de novo e aborrece seus ouvintes. O povo é mais capaz do
que pensamos, desde que lhe preparemos bem o manjar, sem provocar
indigestões.
3) Das várias mensagens, idéias ou temas encontrados na
exegese convém escolher UMA E SOMENTE UMA. Não se deve sair deste ponto
escolhido, mas sim desenvolvê-lo. O público não suporta mais do que um ponto e, além
disso, querer dar vários pontos complica a homilia e prolonga-se indevidamente.
4) Uma vez escolhido e desenvolvido um ponto exegético,
busca-se uma aplicação à vida e umaaplicação à liturgia. O pregador deve poder
sintetizar isso em três frases. (Por exemplo, nas bodas de Caná comentadas
para o sacramento do matrimônio, os três pontos poderiam ser os seguintes:
Cristo esteve presente numa festa; agora está presente também aqui; e estará
presente ao longo de nossa vida. Com isso temos o esqueleto da homilia;
será necessário revesti-lo de carne; mas o esqueleto é o que dá consistência.
Conheço
pregadores que em lugar de ter um esquema claro daquilo que vão dizer, começam
a divagar de tal modo que, mais do que uma exposição, sua homilia se assemelha
a um exercício de associação de idéias (de Jesus se passa a Maria, de
Maria ao mês do rosário, mês de outubro ao mês de novembro em que se inicia um
plano de pastoral, do plano de pastoral se passa a uma crítica dos sacerdotes
que não o porão em prática; continua-se falando da obediência e da obediência
passa-se aos teólogos desobedientes; este último ponto dá pé a que se fale da
limitação da inteligência humana frente à imensidade do universo e grandeza das
estrelas…). É algo deplorável que condena uma homilia e uma celebração ao
tédio e à rejeição dos ouvintes.
5) Em princípio é melhor que não apareça o esquema
tripartido da exegese, liturgia e vida; em todo caso, o público não
deve notá-lo. Já vimos que se trata de elementos e não de partes da
homilia. Seguir sempre este esquema eliminaria a originalidade e
converteria a homilia numa peça oratória excessivamente racional e fria.
A homilia, não o esqueçamos, é mistagógica e é simples quanto à sua construção
e exposição.
6) Quanto à forma de apresentação, o mais importante é encontrar um ponto sugestivo,
estruturante e aglutinador que centralize a exposição. É possível
encontrá-lo em:
- uma palavra chave (a “totalidade” na oferenda a Deus, no
evangelho da esmola da viúva: não o muito nem o pouco, mas o todo, frente à parte, frente ao que
sobra etc.);
- uma frase (“não têm vinho”; “somente entre os seus é
desprezado um profeta”; “queremos ver Jesus” etc.);
- um exemplo atual (insensibilidade de muitos motoristas e
transeuntes diante de uma pessoa atropelada, no caso do Bom Samaritano);
- uma pergunta feita aos ouvintes (“que
pretendia Zaqueu ao subir na árvore?”, especialmente no caso de um grupo
infantil);
- uma atitude de vida (fé, desconfiança, agradecimento,
conversão);
- uma interrogação (somos cristãos de nome? que é ser cristão
hoje? será que somos inimigos da cruz de Cristo? Note-se que esta
interrogação não tem por que ser respondida e que pode ser repetida em forma de leitmotiv ao
longo da homilia);
- uma preocupação do pastor (real,
mas sem cair em subjetivismo: “Muitas vezes me perguntei e poderíamos
perguntar-nos…”)
Estes são alguns exemplos. Ao longo da homilia é
preciso ser coerente com este ponto central, sem
sair dele.
7) Alguns gostam de ter um resumo escrito com
esquema geral daquilo que vão dizer. É uma ajuda para a memória. Deve ser
simples e legível à primeira vista. Levar um sermão escrito em longos
parágrafos se não se vai ler a homilia-coisa desaconselhável na maioria dos
ambientes-não costuma ser prático nem eficaz no terreno real. A experiência
indica que somente o escrito em forma esquemática e pela própria pessoa tem
real utilidade no momento da pregação.
5. Como se expõe uma homilia
Ainda que
a maneira de pregar uma homilia só se aprenda na prática oratória, algumas
indicações podem ajudar:
1) Por tratar-se de uma conversa familiar, espiritual,
comentadora e exortativa, deve primar pela simplicidade, sinceridade, clareza, comunicação
e certa unção. Em nossos dias, dificilmente se aceita o
pregador que diz coisas esotéricas à massa ou numa linguagem rebuscada ou num
tom grandiloqüente. O pregador deve buscar e encontrar um estilo mais pastoral e
funcionaldentro de um modo de ser e de expressar-se. Por isso
mesmo também deve colocar-se perto das pessoas e
procurar que o emprego do microfone (ou, em sua ausência, a elevação da voz)
não rompa o estilo simples e coloquial.
2) É preciso tratar de pregar não a um público, mas a si mesmo dentro de um
público, ou melhor, dentro de uma assembléia da
qual alguém faz parte. É mister falar com as pessoas e não diantedas
pessoas. Não basta a “simpatia”, mas é necessária também a
“empatia”. O tom que se adota é de grande importância; deve
ser moderado, íntimo.
Ninguém diz a si mesmo coisas aos gritos ou autoritariamente. Quando, por
um motivo ou por outro, é preciso gritar, é difícil dar a impressão de
empatia. O microfone bem usado é de grande importância. Deve-se
evitar o tom clerical, doutoral e conseguir um tom de discípulo (discípulo
da Palavra), de amigo, de irmão(ainda que alguém ocupe uma posição
eclesiástica importante ou talvez por isso mesmo).
3) Falar com o público não significa necessariamente introduzir um
diálogo ou intervenções que em certos ambientes, especialmente
grandes ou de gente não acostumada a isso, podem até parecer forçados.
Certamente, deve haver comunicação, mas não necessariamente por palavras de
ambos os lados (embora não se exclua de todo esta reciprocidade, como logo
diremos). Consegue-se a comunicação quando não se dá a impressão de
falar “ex cathedra”, mas coloquialmente com irmãos e amigos. Em termos de
comunicação poder-se-ia exprimir assim: “É preciso falar em público, a partir do
público e fazendo parte do público e de seu mundo”.
4) Não se
deve renunciar, apesar do que foi dito anteriormente, a ser original, novo,
atraente, impactante, questionador e interrogador. Estas qualidades
oratórias podem fazer com que nossas maçantes homilias despertem mais
interesse para o povo. E por isso mesmo o pregador deve cultivá-las, sem
fazer delas o centro, pois o central é o que se comunica. Não é fácil a
originalidade e a novidade. Parecemos cansados ao pregar e pregamos uma
mensagem velha, por mais que preguemos a Boa Notícia e a Novidade radical que
é Cristo. Saber encontrar a novidade do fundo nos ajudará a encontrar a
originalidade na forma.
5) É preciso fazer-se ouvir e entender (é
necessário dizê-lo? Parece que sim). Uma elevada porcentagem de pregadores não
se deixam entender. Suas palavras se perdem no ruído de uma sonorização
deficiente, pelo mau uso do microfone, pela má vocalização, pela afluência de
crianças em tenra idade ou pelo ruído da rua (não há motivo para que as portas
fiquem abertas a não ser antes e depois da celebração litúrgica). É preciso ter
presente tudo isso na hora de pregar, do contrário podemos estar pregando em
vão. Por outro lado, o lugar da pregação sera aquele onde o pregador for
visto melhor. Mas é preciso procurar que a sede da palavra, o púlpito, tenha
estas características.
6) A homilia não deve ser longa. Não deve cansar o auditório
e, por isso mesmo, nunca deveria passar de dez minutos aproximadamente, embora
sendo mais curta, desde que substanciosa, os fiéis até agradecerão. É claro que
nisto a norma não pode ser taxativa: há pregadores que cansam o auditório já no
primeiro minuto, ao passo que outros conseguem manter a assembléia atenta por
uns bons 15 minutos. Mas mesmo assim é preciso lembrar que a homilia é
parte de um todo e que é melhor deixar tempo abundante para a liturgia da palavra
e a liturgia eucarística (ambas exigem tempo para os cânticos, as monições, a
oração e os silêncios). Na prática vemos que a introdução do princípio da
missa (onde se acumulam muitos cânticos) e a homilia ocupam uma parte excessiva
do tempo com prejuízo das partes principais da celebração.
7) Uma
forma de comprovar a atenção dos fiéis é dar-se conta se durante as pausas da
pregação há silêncio na Igreja. Para isso é preciso olhar para todo o
auditório e não pregar somente para os que estão na primeira fila, aos que
estão de um lado ou simplesmente sem olhar. Se não há silêncio
provavelmente é porque o sermão não interessa… é preciso corrigir rapidamente o
rumo e , não persistir na forma começada. Se o sermão tiver sido interessante
para a assembléia, esta será capaz de guardar alguns minutos de silêncio
reflexivo depois da homilia. Em nossa liturgia da palavra e em nossa
liturgia eucarística faltam momentos de silêncio, não porque não estejam
indicados nas rubricas, mas porque na prática não são observados.
8) O pregador deve produzir o sermão à medida que vai
falando: modifica-o, constrói-o, reflete com o auditório, comporta-se como se
fosse um deles, pergunta como pastor, compreende, admoesta, coloca-se na
posição do estranho (o homem da rua, o não-crente), questiona-se como um
simples cristão. Evita falar “tamquam auctoritatem habens” por mais que a tenha… Tudo isso exige uma
atitude especial, indizível, que só a presença do auditório e a compenetração
com ele pode criar.
9) O princípio e sobretudo o fim da homilia devem ser bem preparados.
É preciso evitar os inícios demasiadamente batidos (frases estereotipadas,
benzer-se cada vez: por que fazer o sinal da cruz se já foi feito no início da
missa? Não dá a impressão de que se vai começar um sermão clássico de
missões, destes que não tinham outro jeito de deslanchar por ser o princípio da
reunião?) Quanto ao final, uma aterrissagem segura, sem ir divagando ou, para
continuar a metáfora, sem andar planando durante vários minutos em busca da
pista (coisa bastante desagradável para todos), é de grande impacto. Às vezes
uma interrogação sem resposta, urna pergunta que convide à reflexão é melhor do
que algumas frases demasiadamente arredondadas.
_____________________________
Cf. Durrwell, F.X., La presencia de Jesucristo en
la predicación, em Rahner, K – Häring, B., Palabra en el mundo (Salamanca
1972), 31-46.
Cf. R. Bohren, Predigtlehre, Munique,
1980,p. 82; A. Schwarz, Praxis und Predigtlehre, Viena, 1986, p. 50.
Cf.
J. Rothermundt, Der Heiliege Geist und die Rhetorik, Güterslh,
1985, p. 45. L . Maldonado, La comunidad cristiana,
p.15-40.
Para esta parte: MOESCH,O., O anúncio da Palavra de Deus.
Reflexões sobre a teologia pastoral da pregação. Petrópolis: Vozes,
1980.
Para toda esta parte estaremos
utilizando as reflexões do Departamento de Liturgia do CELAM,Homilia, São Paulo: Paulinas, 1983, p. 13-55.
Sobre o lugar onde
se deve proferir a homilia assim diz a Instr. Geral do Missal Romano no n.136:
«O sacerdote, de pé junto à cadeira ou no próprio ambão, ou ainda, se for
oportuno, em outro lugar adequado, profere a homilia; ao terminar, pode-se
observar um tempo de silêncio».
11. Conclusão
Por tratar-se de uma conversa
familiar, espiritual, comentadora e exortativa, deve primar pela simplicidade,
sinceridade, clareza, comunicação e certa unção. Em nossos
dias, dificilmente se aceita o pregador que diz coisas esotéricas à massa ou
numa linguagem rebuscada ou num tom grandiloqüente. O pregador deve
buscar e encontrar um estilo mais pastoral e funcionaldentro de um modo de
ser e de expressar-se. Por isso mesmo também deve colocar-se perto das
pessoas e
procurar que o emprego do microfone (ou, em sua ausência, a elevação da voz)
não rompa o estilo simples e coloquial.
É preciso tratar de pregar não a um público, mas a si mesmo dentro de um
público, ou
melhor, dentro de uma assembléia da qual alguém faz parte. É mister falar com as
pessoas e não diantedas pessoas. Não basta a “simpatia”,
mas é necessária também a “empatia”. O tom que se adota é de
grande importância; deve ser moderado, íntimo. Ninguém diz a si mesmo coisas
aos gritos ou autoritariamente. Quando, por um motivo ou por outro, é
preciso gritar, é difícil dar a impressão de empatia. O microfone bem
usado é de grande importância. Deve-se evitar o tom clerical, doutoral e
conseguir um tom de discípulo (discípulo da
Palavra), de amigo, de irmão(ainda que alguém ocupe uma posição
eclesiástica importante ou talvez por isso mesmo).
Falar com o público não
significa necessariamente introduzir um diálogo ou intervenções que
em certos ambientes, especialmente grandes ou de gente não acostumada a isso,
podem até parecer forçados. Certamente, deve haver comunicação, mas não
necessariamente por palavras de ambos os lados (embora não se exclua de todo
esta reciprocidade, como logo diremos). Consegue-se a comunicação quando
não se dá a impressão de falar “ex cathedra”, mas coloquialmente com irmãos e
amigos. Em termos de comunicação poder-se-ia exprimir assim: “É preciso
falar em público, a partir do público e fazendo parte do
público e de seu mundo”.
Não se
deve renunciar, apesar do que foi dito anteriormente, a ser original, novo,
atraente, impactante, questionador e interrogador. Estas qualidades
oratórias podem fazer com que nossas maçantes homilias despertem mais interesse
para o povo. E por isso mesmo o pregador deve cultivá-las, sem fazer
delas o centro, pois o central é o que se comunica. Não é fácil a
originalidade e a novidade. Parecemos cansados ao pregar e pregamos uma
mensagem velha, por mais que preguemos a Boa Notícia e a Novidade radical que
é Cristo. Saber encontrar a novidade do fundo nos ajudará a encontrar a
originalidade na forma.
É preciso fazer-se ouvir e entender (é
necessário dizê-lo? Parece que sim). Uma elevada porcentagem de pregadores não
se deixam entender. Suas palavras se perdem no ruído de uma sonorização
deficiente, pelo mau uso do microfone, pela má vocalização, pela afluência de
crianças em tenra idade ou pelo ruído da rua (não há motivo para que as portas
fiquem abertas a não ser antes e depois da celebração litúrgica). É preciso ter
presente tudo isso na hora de pregar, do contrário podemos estar pregando em
vão. Por outro lado, o lugar da pregação sera aquele onde o pregador for
visto melhor. Mas é preciso procurar que a sede da palavra, o púlpito, tenha
estas características.
A homilia não deve ser longa.
Não deve cansar o auditório e, por isso mesmo, nunca deveria passar de dez
minutos aproximadamente, embora sendo mais curta, desde que substanciosa, os
fiéis até agradecerão. É claro que nisto a norma não pode ser taxativa: há
pregadores que cansam o auditório já no primeiro minuto, ao passo que outros
conseguem manter a assembléia atenta por uns bons 15 minutos. Mas mesmo
assim é preciso lembrar que a homilia é parte de um todo e que é melhor deixar
tempo abundante para a liturgia da palavra e a liturgia eucarística (ambas
exigem tempo para os cânticos, as monições, a oração e os silêncios). Na
prática vemos que a introdução do princípio da missa (onde se acumulam muitos
cânticos) e a homilia ocupam uma parte excessiva do tempo com prejuízo das
partes principais da celebração.
Uma forma de comprovar a atenção
dos fiéis é dar-se conta se durante as pausas da pregação há silêncio na
Igreja. Para isso é preciso olhar para todo o auditório e não pregar
somente para os que estão na primeira fila, aos que estão de um lado ou
simplesmente sem olhar. Se não há silêncio provavelmente é porque o
sermão não interessa… é preciso corrigir rapidamente o rumo e , não persistir
na forma começada. Se o sermão tiver sido interessante para a
assembléia, esta será capaz de guardar alguns minutos de silêncio reflexivo
depois da homilia. Em nossa liturgia da palavra e em nossa liturgia eucarística
faltam momentos de silêncio, não porque não estejam indicados nas rubricas, mas
porque na prática não são observados.
O pregador deve produzir o
sermão à medida que vai falando: modifica-o, constrói-o, reflete com o
auditório, comporta-se como se fosse um deles, pergunta como pastor,
compreende, admoesta, coloca-se na posição do estranho (o homem da rua, o
não-crente), questiona-se como um simples cristão. Evita falar “tamquam auctoritatem habens” por
mais que a tenha… Tudo isso exige uma atitude especial, indizível, que só a
presença do auditório e a compenetração com ele pode criar.
O princípio e sobretudo o fim
da homilia devem ser bem preparados. É preciso evitar os inícios
demasiadamente batidos (frases estereotipadas, benzer-se cada vez: por que
fazer o sinal da cruz se já foi feito no início da missa? Não dá a
impressão de que se vai começar um sermão clássico de missões, destes que não
tinham outro jeito de deslanchar por ser o princípio da reunião?) Quanto ao
final, uma aterrissagem segura, sem ir divagando ou, para continuar a metáfora,
sem andar planando durante vários minutos em busca da pista (coisa bastante
desagradável para todos), é de grande impacto. Às vezes uma interrogação sem
resposta, urna pergunta que convide à reflexão é melhor do que algumas frases
demasiadamente arredondadas.
Para concluir, pode-se dizer,
então, que a homilética é o
exercício que cada homileta faz na tentativa de comunicar e atualizar
a Palavra de Deus para o seu tempo e a sua gente, convertendo-se à Palavra,
ao seu tempo e à sua gente, permanentemente.
12. - biografia
1 Jerry Stanley Key
2 FATA
3 Vd. KIRST, Nelson. Rudimentos de homilética.
3 ed. São Leopoldo: Iepg; Sinodal, 1996. p. 17 – 18.
4 BURT, G. Manual
de homilética. Trad. De Luiz de Lacerda. 3 ed. São Paulo: Imprensa Metodista,
1954. p. 7.
5
Cf. descrição da celebração eucarística feita por Justino Mártir, na
primeira metade do séc. II, in GOMES, C. Folch. Antologia dos Santos Padres:
páginas seletas dos antigos escritores eclesiásticos.São
Paulo: Edições Paulinas, 1979, p. 65 – 67.
6
Id., ibid, p. 17 – 18.
7
A expressão “Primeiro Testamento” ou “Bíblia Hebraica” substituirá, sempre
que possível, a expressão “Antigo Testamento”, bem como a expressão “veterotestamentário”,
por se entender que estas últimas carregam uma conotação pejorativa em
relação aos escritos do cânon judaico. O autor encontrou
a mesma postura em HOLBERT, John C. Preaching
Old Testament: proclamation
& narrative in the Hebrew Bible. Nashville :
Abingdon Press, 1991. 128
p. Cf. nota 1 da introdução. Esta nomenclatura vem sendo observada amiúde
pelos mais destacados biblistas contemporâneos.
8
MONLUBOU, Louis. Os profetas
do Antigo Testamento. São Paulo: Edições Paulinas, 1986. p. 36.
(Cadernos bíblicos 39). Ver também AMSLER, S. et.al. Os profetas e os livros proféticos. Trad. Benôni Lemos. São Paulo:
Paulinas, 1992, 463 p. Biblioteca de ciências bíblicas.
9 Cf. KERR, John. History of preaching. 2
ed. London: Hodder And Stoughton. 1938. p. 34 – 38
(407 p).
10
Sobre o tema dos “logia” de Jesus, há um texto que pode ajudar oferecendo
outras leituras, a saber, CERFAUX, Lucien. Jesus
nas origens da tradição. São Paulo: Ed. Paulinas, 1972. p.
55 ss.
11 Cf. PATTISON, T.
Harwood. The history of cristian
preaching. Philadelphia :
American Baptist Publication Society, 1903. p. 35 – 37
(411 p.).
12 Cf. Id. Ibid., p. 48.
13
Cf. JUNGMANN, J. A. Herencia
litúrgica y actualidade pastoral apud
BOROBIO, 1990, p. 84 – 85.
14
BOROBIO, Dionisio (org.). A
celebração na Igreja. São
Paulo: Edições Loyola, 1990. p. 101. (474 p.) (V. 1, Liturgia
e sacramentologia fundamental).
15 Cf. GARVIE, Alfred
Ernest. The christian preacher.
New York: Charles
Scribner’s Sons, 1921. International Theological Library. p. 107
(490 p.).
16
Cf. Id., ibid., p. 107 – 108.
17
KERR, 1938, p. 126 (tradução nossa).
18 Vd. In NIEBHUR, Richard;
WILLIAMS, Daniel D. (eds.) The
ministry in historical perspectives. New York : Harper & Brothers Publishers,
1956. p. 110. [trad. nossa].
19 Cf. id., ibid., 1956,
p. 110.
20 Cf. id., ibid., p. 110 – 116.
21
Cf. id., ibid., 1956, p. 133.
22
Para uma discussão mais aprofundada dos usos e desusos das vestes litúrgicas,
ver TESCHE, Silvio. Vestes
litúrgicas: elementos de
prodigalidade ou dominação? São
Leopoldo: Sinodal, Iepg, 1995. p. 63 e 110.
23
Vd. tb. TILLICH, Paul apud TESCHE, Silvio. Vestes
litúrgicas: elementos de
prodigalidade ou dominação? São
Leopoldo: Sinodal, Iepg, 1995. p. 112.
24
Cf. ROSE, Michael in SCHNEIDER-HARPPRECHT, Cristoph. Teologia prática no contexto da
América Latina. São
Leopoldo: Sinodal, ASTE, 1998. p.
149 – 150 (p. 146 – 157).
25
Ver JOÃO DA CRUZ, São. Poesias completas. Tradução
de Maria Salete Bento Cicaroni; prefácio de Felipe B. Pedraza Jimenez. São
Paulo: Nerman : Embajada de Espana / Consejeria de Educación, 1991. 123
p., il. Colecao orellana, 3. Ver também AVILA, Teresa. Interior castle. New York:
Image Books, 1944.
26
Cf. ROSE, 1998, p. 151.
27
HEITZENRATER, Richard P. Wesley e
o povo chamado metodista. São Bernardo do Campo: Editeo; Rio de
Janeiro: Pastral Bennett, 1996. p. 214. Ver também RAMOS, Luiz Carlos. A
prática homilética de John Wesley. Caminhando.
Ano IX, n. 13, 1 semestre 2004. São Bernardo do Campo: Editeo. p. 133 – 152.
28
Sobre Isso, ver RAMOS, Luiz Carlos. A prática homilética de John Wesley. Caminhando, v. 9, n. 13, primeiro
semestre 2004. São Bernardo do Campo: Editeo, 2004. p. 133 – 152.
29
Cf. Id., ibid., p. 240.
30
Tornou-se muito popular entre os estadunidenses a doutrina pela qual o
povo dos Estados Unidos foi eleito por Deus para comandar o mundo. Tal doutrina
justificaria o projeto expansionista norte-americano. A doutrina ficou
conhecida pela expressão Destino
Manifesto, cunhada pelo jornalista novaiorquino John O’Sullivan, na
publicação intitulada Democratic
Review, por volta de 1840.
31
A expressão “era das revoluções” foi cunhada por HOBSBAWN, Eric J. A era das revoluções:Europa
1789 – 1848 (The
Age of Revolution: Europe 1789 – 1848). 16 e. Trad.
Maria Tereza Lopes Teixeira e Marcos Penchel. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
528 p.
32
CASTELLS, Manuel. A sociedade
em rede. Trad.
Roneide Venâncio Majer. São Paulo: Paz e Terra, 1999.
p. 21.
33
Cf. BARTH, Karl. A proclamação
do Evangelho: homilética. Trad. Daniel Sotelo e Daniel Costa. 2 ed.
São Paulo: Novo Século, 2003. p. 15 – 16.
34 Cf. RITSCHL, Dietrich. A theology of proclamation. Rchmond: John Knox Press, 1960.
p. 29.
35 Id. , ibid., p. 13 – 23.
36
Id., ibid., p. 13 – 23.
37
GRASSO, Domenico. Teologia
de la predicación. Salamanca: Ediciones Sígueme, 1968. p. 97 – 98.
39 Plenitude;
Almeida; Apologética; Pentecostal
40 Apostilas Estudo da Homilética: ITQ e
Faculdade teológica FACETHEOS
41 Livro: O pregador eficaz - Elineai Cabral
|
42 Concordância Bíblica - Editora Vida |
43 Dicionário Bíblico -Nova didática |
44 Aulas práticas ministradas pelo Prof. e Dr.
Reginaldo Faria (ITQ -
ano
2000).
45 Ev. José Ferraz
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