"Ó
Deus, vós tendes compaixão de todos e nada do que criastes desprezais: perdoais
nossos pecados pela penitência porque sois o Senhor nosso Deus." (Sb 11,
24s.27)
Iniciamos com a Quarta-Feira de
Cinzas um tempo muito especial na vida da Igreja Católica. A Igreja quer
santificar o tempo e neste sentido nos convida a viver um momento de retiro
espiritual: a SANTA QUARESMA.
Na Santa Quaresma tudo nos leva a pensar no tripé de conduta de vida: a
penitência, percorrendo estes quarenta dias preparando-nos para a Páscoa,
quando então celebraremos o mistério da morte e ressurreição de Nosso Senhor,
centro da nossa fé, dedicando maior atenção para a ORAÇÃO, AO JEJUM e à
RECONCILIAÇÃO com Deus e com os nossos semelhantes.
Meus irmãos,
As cinzas que serão impostas no dia de hoje são o principal símbolo litúrgico
do início da Santa Quaresma, tanto que dão o nome ao dia e ao sagrado ofício
litúrgico. As cinzas representam a pequenez do homem. Abraão ao falar com o
Senhor, no Antigo Testamento, intercedendo por Sodoma, considera-se uma
nulidade diante de Deus e, por isso mesmo, considera uma ousadia fazer um
pedido: “Sou bem atrevido em falar a meu Senhor, eu que sou pó e cinza” (Gn
18,27). Por isso, ao recebermos as cinzas na Liturgia hodierna vamos pensar em
duas atitudes fundamentais da vida cristã: ARREPENDIMENTO e PENITÊNCIA,
PURIFICAÇÃO e RESSURREIÇÃO.
Receber as cinzas é um compromisso de conversão: o abandono do pecado, de
penitência pública, pedindo perdão a Deus pelos nossos pecados, purificando de
nossas faltas e ressurgindo para uma vida nova, a vida da graça e da amizade
com Deus, para viver nos quarenta dias do tempo quaresmal uma permanente e
contínua vontade de retorno à vida da graça e mudança de vida, atendendo a própria
oração de imposição de cinzas: “Convertei-vos e credes no Evangelho”.
Irmãos caríssimos,
Quaresma é tempo de oração, de penitência, de jejum e de abstinência de carne,
tudo isso em função de ser a morte e a ressurreição de Jesus o centro da
celebração de nossa fé. Por isso, para fazer penitência e se converter, é
preciso muita humildade, muita disposição de mudança e muita persistência.
A penitência começa conosco mesmos, dentro de nossas pequenas e grandes
limitações, procurando corrigir nossos desvios e pecados e buscando lucrar a
graça santificante de Deus. O orgulhoso é incapaz de fazer penitência, pois ela
pressupõe humildade, o reconhecimento da pequenez de nossa natureza humana
diante do Criador, diante do próprio mistério da criação.
Irmãos e Irmãs,
A Sagrada Liturgia insiste na autenticidade da penitência: rasgar o coração,
não apenas as vestes. “Agora - diz o Senhor -, voltai para mim com todo o vosso
coração com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes, e
voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio
de misericórdia, inclinado a perdoar do castigo” (Joel 2,12-13). Além disso, a
Liturgia insiste no caráter interior do jejum, juntamente com as outras “boas
obras”, a esmola e a oração.
A Primeira Leitura de hoje é uma exortação à penitência, ao jejum e a súplica.
Penitência significa volta para Deus, por isso nós somos convocados pelo
escritor sagrado: “rasgai o coração, e não as vestes; e voltai para o Senhor,
vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia,
inclinado a perdoar o castigo”(cf. Jl 2,13). Esta nota sagrada nos convida a
entrar em espírito penitencial, de mudança de vida, de hábitos, para a procura
da via ordinária da santidade.
Na Segunda carta de São Paulo aos Coríntios(2Cor 5,20-6,2), o Apóstolo proclama
o novo tempo de reconciliação com Deus, com vistas à iminência da Parusia: “Em
nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus. Aquele que
não cometeu nenhum pecado, Deus o fez pecado por nós, para que nele nós nos
tornemos justiça de Deus” (2Cor 5, 20b-21). São Paulo nos exorta a
valorizar a reconciliação, aproveitando o sacramento da penitencia oferecido
por Cristo, que assumiu o nosso pecado, e a não deixar passar a oportunidade,
já que este é o tempo oportuno e favorável, para a mudança de vida e a busca do
rosto de Deus.
Caros irmãos,
O Evangelho deste dia(Mt 6,1-6.16-18) nos apresenta a esmola, o jejum e a
oração como o triple fundamental para se viver bem o tempo favorável da
Quaresma. Jesus nos apresenta estas três boas obras, que devem ser feitas em
seu valor intrínseco, que só Deus vê, e não para serem vistos pelos homens e
pelas mulheres.
O verme da vaidade, que incita o orgulho e à hipocrisia, tira à justiça cristã
da generosidade, da gratuidade, a sua pureza virginal que busca a Deus
unicamente. O olhar do homem deturpa tudo o que toca; é de um ardil sutil e
fatal; pode haver uma tendência a praticar a justiça “só para ser visto pelos
homens”.
As pessoas que fazem o pela de dar esmola, apenas para aparecer, que reza, que
jejua, no palco de nossa ilimitada vaidade apenas e, secretamente não procura a
justiça, mas ao egoísmo é réu da sua própria condenação.
Jesus é claro no dia de hoje: o jejum, a esmola e a oração são agradáveis a
Deus somente quando Ele vê: “Ao contrário, quando tu orares, entra no teu
quarto, fecha a porta, e reza ao teu Pai que está oculto. E o teu Pai, que vê o
que está escondido, te dará a recompensa”(cf. Mt 6,6)
Caros irmãos,
Na Quaresma somos chamados a contemplação do rosto do Senhor: rosto
que na Quaresma se apresenta como "rosto sofredor". Na Liturgia, nas Stationes quaresmais, e também na piedosa
prática daVia Crucis, a
oração contemplativa leva a unir-nos ao mistério d'Aquele que, mesmo não tendo
conhecido o pecado, Deus identificou-O com o pecado em nosso favor (cf. 2 Cor 5, 21). Na escola dos Santos, cada batizado é chamado a
seguir cada vez mais de perto Jesus que, subindo a Jerusalém e prevendo a sua
paixão, confia aos discípulos: "Tenho
de receber um batismo" (Lc 12,
50). O caminho quaresmal torna-se para nós, desta forma, seguimento dócil do
Filho de Deus, que se fez Servo obediente.
O caminho para o qual a Quaresma nos convida realiza-se, em primeiro lugar, na oração: as comunidades cristãs devem
tornar-se, nestas semanas, autênticas "escolas de oração". Depois,
outro objetivo privilegiado é a aproximação dos fiéis ao Sacramento da reconciliação, para que cada um possa voltar a
"descobrir Cristo como mysterium
pietatis, no qual
Deus nos mostra o seu coração compassivo e nos reconcilia plenamente
Consigo" (Novo millennio
ineunte, 37). A
experiência da misericórdia de Deus, além disso, não pode deixar de suscitar o
empenho da caridade, estimulando a comunidade cristã
a "apostar na caridade" (cf. Novo
millennio ineunte, IV).
Na escola de Cristo, ela compreende melhor a exigente opção preferencial pelos
pobres, opção que se for vivida "é dado testemunho do estilo do amor de
Deus, da sua providência, da sua misericórdia" (ibid.).Meus Irmãos,
A celebração de hoje tem outro significado muito importante: louvar e agradecer
ao Senhor pela sua abundante misericórdia: “Lembra-te de que és pó e ao pó
tornarás”. Perante a grandiosidade de Deus nós somos um “verme”, o menor, o
mais ínfimo de todos os servidores. Por isso, Deus nos ama com profundidade e
derrama sobre nós a sua misericórdia e a sua paz. Mesmo sendo pó, Deus sempre
se lembrará de nós e cumprirá a Sua promessa de conceder o Reino das
Bem-aventuranças.
Fazer penitência não é ficar triste, mas, pelo contrário, é ficar alegre e
feliz. “Misericórdia, ó Senhor, pois pecamos” (Sl 50), rezamos no Salmo
Responsorial desta celebração. É o canto da humildade clamando a misericórdia
do Deus da Vida, sempre pronto a nos acolher, santos pela sua graça e pobres
pecadores pelas nossas misérias, e nos coloca dentro da economia de sua
Salvação. Nesse contexto de penitência e conversão, devemos perceber a
misericórdia de Deus que confia com abundância na capacidade do homem de
assimilar o Reino de Deus.
Desta forma, a Liturgia de hoje nos ensina que penitência é um reflexo de
reparação depois de uma falta. Sentimos a insuficiência do homem natural que
somos. Tratamos de reparar isso, mas sabemos que o único que pode reparar mesmo
é Deus. Por isso, a melhor penitência é: abrir espaço para Deus.
Abrindo espaço para Deus, caminharemos quarenta dias, para vê-lo em toda a sua
majestade, o SENHOR RESSUSCITADO QUE NA CRUZ MORREU PARA QUE
RESSUSCITEMOS COM ELE. AMÉM!
História da Quarta-feira
de cinzas da Quaresma
Com a Quarta-Feira de Cinzas, começa oficialmente o tempo da Quaresma e o Ciclo
Pascal.
Quaresma, uma vez mais. Tempo forte na caminhada do ano eclesiástico. Convite e
apelo para o silêncio, a prece, a conversão.
E quando se fala em quaresma, geralmente a gente tem uma idéia de uma coisa
negativa, como antigamente.
Tempo de medo, de cachorro zangado, de mula sem cabeça e outras coisas
mais.Para outros a quaresma parece superada pelo modernismo e é hoje apenas uma
recordação negativa do passado ou um retrato na parede, simplesmente.
Penso, para nós cristãos é o tempo de conversão, de mudança de vida, de acolher
com mais amor a misericórdia de Deus que nos quer perdoar.
E é também o tempo onde as comunidades se preparam para viver o mistério da
páscoa. Isto é, tempo da hora de Jesus Cristo do seu seguimento em que ele
caminha em direção da sua hora que é a entrega total da sua vida a Deus pelos
homens, seus irmãos.A quaresma é para cada um de nós um tempo de oração e de
conversão.
Tempo de crescer em comunhão com todos os homens, principalmente com os mais
pobres e necessitados.
Eles nos lembram o rosto sofrido de Jesus e nos convidam a viver com mais
fidelidade a caridade, o amor fraterno, que o Evangelho exige de nós.:
A quaresma se inicia com a Quarta-feira de cinzas. Por que?
A Bíblia nos conta que, certa vez, o general Holofernes, com um grande
exército, marchou contra a cidade de Betúlia. O povo da cidade, aterrorizado,
reuniu-se para rezar a Deus. E todos cobriram de cinzas as suas cabeças,
pedindo o perdão e a misericórdia de Deus. E Deus salvou o povo pelas mãos de
Judite. A cinza, por sua leveza, é figura das coisas que se acabam e
desaparecem. É usada como um sinal de penitência e de luto. Nós a usamos hoje,
neste Quarta-feira de cinzas, o primeiro dia da quaresma, reconhecendo que
somos pecadores e pedindo perdão de Deus, desejosos de mudarmos de vida.
Quarta-feira de cinzas tempo de jejum e abstinêcia!
Certa vez, numa exposição de pinturas em Londres, um artista apresentou um quadro
que ficou famoso. Quem olhasse para aquela pintura, à primeira vista tinha a
impressão de estar vendo um homem piedoso em atitude de oração: ajoelhado, de
mãos postas, cabeça baixa, possuído de grande paz interior. Aproximando-se,
porém, da tela e vendo com mais atenção, percebia-se que a coisa era bem
diferente: via-se um homem espremendo um limão num copo, tendo o rosto tomado
de ira. O genial pintor quis retratar ali um homem hipócrita. De fato, olhando
superficialmente, o hipócrita parece um homem piedoso. Mas é só aparência. Na
realidade, até quando está rezando, está muitas vezes tramando alguma coisa
contra alguém. O grande pecado do hipócrita é esse: Ele não serve a Deus. Pelo
contrário: serve-se de Deus. É um falso santo. Tem mãos postas, a cabeça
inclinada e olhar de piedade, mas não está orando. Ao contrário: está apenas
tirando proveito da religião em benefício de seu egoísmo. Esse tipo de gente só
faz mal à Igreja tanto é que, quando a televisão quer ridicularizar a religião,
focaliza esses piedosos hipócritas. Mostra tais beatas rezando na igreja, com
véu na cabeça, rosário na mão e olhares piedosos... Depois mostra os mesmos
fazendo o contrário fora da Igreja.
Jesus era chamado de o bom mestre. Como de fato Ele o era. Perdoou a Maria Madalena,
a pecadora, perdoou a Pedro que o traiu, perdoou o ladrão no alto da cruz, mas
se existia uma classe de gente que ele não engolia eram os escribas e os
fariseus. Para eles Jesus lançou as palavras mais duras: "Ai de vós
escribas e fariseus hipócritas... vós pareceis com os sepulcros caiados , que é
pintado por fora, mais lá dentro existe toda a espécie de podridão".
Gostavam de se mostrar ao fazer o jejum, ao dar esmolas, pagar o dízimo, etc.O
jejum, a esmola e a oração são expressões de nossa gratidão a Deus por tudo o
que ele nos concede, por isso não há motivo para exaltar nossas ações caridosas
perante os homens.
Com a imposição das cinzas,
inicia-se uma estação espiritual particularmente relevante para todo cristão
que quer se preparar dignamente para viver o Mistério Pascal, quer dizer, a
Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor Jesus.
Este tempo vigoroso do Ano litúrgico se caracteriza pela mensagem bíblica que
pode ser resumida em uma palavra: " matanoeiete", que quer dizer
"Convertei-vos". Este imperativo é proposto à mente dos fiéis
mediante o austero rito da imposição das cinzas, o qual, com as palavras
"Convertei-vos e crede no Evangelho" e com a expressão
"Lembra-te de que és pó e para o pó voltarás", convida a todos a refletir
sobre o dever da conversão, recordando a inexorável caducidade e efêmera
fragilidade da vida humana, sujeita à morte.
A sugestiva cerimônia das cinzas eleva nossas mentes à realidade eterna que não
passa jamais, a Deus; princípio e fim, alfa e ômega de nossa existência. A
conversão não é, com efeito, nada mais que um voltar a Deus, valorizando as
realidades terrenas sob a luz indefectível de sua verdade. Uma valorização que
implica uma consciência cada vez mais diáfana do fato de que estamos de
passagem neste fadigoso itinerário sobre a terra, e que nos impulsiona e
estimula a trabalhar até o final, a fim de que o Reino de Deus se instaure
dentro de nós e triunfe em sua justiça.
Sinônimo de "conversão", é também a palavra "penitência" …
Penitência como mudança de mentalidade. Penitência como expressão de livre
positivo esforço no seguimento de Cristo.
Tradição
Na Igreja primitiva, variava a duração da Quaresma, mas eventualmente começava
seis semanas (42 dias) antes da Páscoa.
Isto só dava por resultado 36 dias de jejum (já que se excluem os domingos). No
século VII foram acrescentados quatro dias antes do primeiro domingo da
Quaresma estabelecendo os quarenta dias de jejum, para imitar o jejum de Cristo
no deserto.
Era prática comum em Roma que os penitentes começassem sua penitênica pública
no primeiro dia de Quaresma. Eles eram salpicados de cinzas, vestidos com saial
e obrigados a manter-se longe até que se reoconciliassem com a Igreja na
Quinta-feira Santa ou a Quinta-feira antes da Páscoa. Quando estas práticas
caíram em desuso (do século VIII ao X) o início da temporada penitencial da
Quaresma foi simbolizada colocando cinzas nas cabeças de toda a congregação.
Hoje em dia na Igreja, na Quarta-feira de Cinzas, o cristão recebe uma cruz na
fronte com as cinzas obtidas da queima das palmas usadas no Domingo de Ramos do
ano anterior. Esta tradição da Igreja ficou como um simples serviço em algumas Igrejas
protestantes como a anglicana e a luterana. A Igreja Ortodoxa começa a quaresma
a partir da segunda-feira anterior e não celebra a Quarta-feira de Cinzas.
Origem, história e espiritualidade da Quaresma
Pode-se entender melhor o
significado da Quaresma, decidida pelo Vaticano II,conhecendo a história deste
tempo litúrgico.A celebração da Páscoa, nos três primeiros séculos da Igreja,
não tinha um período de preparação. Limitava-se a um jejum realizado nos dois
dias anteriores. A comunidade cristã vivia tão intensamente o empenho cristão,
até o testemunho do martírio , que não sentia a necessidade de um período de tempo
para renovar a conversão já acontecida com o batismo.
Ela prolongava, porém, a alegria da celebração pascal por cinqüenta dias (
Pentecostes). Após a Paz de Constantino, quando a tensão diminuiu no empenho da
vida cristã, começou-se a perceber a necessidade de um período de tempo para
admoestar os fiéis sobre uma maior coerência com o batismo.Nascem assim as
prescrições sobre um período de preparação à Páscoa.
No Oriente, encontramos os primeiros sinais de um período
pré-pascal, como preparação espiritual à celebração do grande mistério, no
princípio do século IV. Santo Atanásio nas "Cartas pascais" (entre os
anos 330 e 347), São Cirilo de Jerusalém nas Protocatequeses e nas Catequeses
mistagógicas (347), fala desse período como realidade conhecida. Eusébio (+340)
em De solemnitate paschali fala do "quadragesimo exercitium......santos
Moyses e Eliam imitantes" (Cf. PG 24,697).
No Ocidente, temos testemunhos diretos somente no fim do
século IV. Falam desse período Etéria (385) em seu Itinerarium
(27,1) pela Espanha e Aquitânia; Santo Agostinho para a África; Santo Ambrosio
(+ 396) para Milão. Não sabemos com certeza onde, por meio de quem e como
surgiu a Quaresma, sobretudo em Roma; apenas sabemos que ela foi se formando
progressivamente. Ela tem uma pré-história , ligada a uma praxe penitencial
preparatória à Páscoa, que começou a firmar-se desde a metade do século II. Até
o século IV, a única semana de jejum era aquela que precedia a Páscoa . Na
metade do século IV, já vemos acrescentadas a esta semana outras três,
compreendendo assim quatro semanas.A partir do fim do século IV, a estrutura da
Quaresma é aquela dos "quarentas dias", considerados à luz do
simbolismo bíblico, que dá a este tempo um valor salvífico-redentor, cujo sinal
é a denominação "sacramentum".
Celebrar a Quaresma é portanto, reconhecer a presença de Deus na caminhada, no
trabalho, na luta, no sofrimento e na dor da vida do povo.Como o povo de
Israel, que andou 40 anos no deserto antes de chegar à terra prometida, terra
da promessa onde corre leite e mel. Como Jesus, que passou quarenta dias de
retiro no deserto antes de anunciar a vinda do Reino.Que subiu a Jerusalém para
cumprir a missão que o Pai lhe confiou: dar a sua vida e ser glorificado.A
Quaresma, e isso é bem evidenciado na sua história, é um tempo forte de
conversão e de mudança interior, tempo de deixar tudo o que é velho em nós,
tempo de assumir tudo o que traz vida para a gente.Tempo de graça e salvação,
em que nos preparamos para viver, de maneira intensa, livre e amorosa, o
momento mais importante do ano litúrgico, da história da salvação, a Páscoa,
aliança definitiva, vitória sobre o pecado, a escravidão e a morte. A
espiritualidade da quaresma é caracterizada também por uma atenta, profunda e
prolongada escuta da Palavra de Deus. É esta Palavra que ilumina a vida e chama
à conversão, infundindo confiança na misericórdia de Deus.O confronto com o
Evangelho ajuda a perceber o mal, o pecado, na perspectiva da Aliança, isto é,
a misteriosa relação nupcial de amor entre deus e o seu povo. Motiva para
atitudes de partilha do amor misericordioso e da alegria do Pai com os irmãos
que voltam convertidos. Fazer da Quaresma um tempo favorável de avaliação de
nossas opções de vida e linha de trabalho, para corrigir os erros e aprofundar
a vivencia da fé, abrindo-nos a Deus, aos outros e realizando ações concretas
de fraternidade, de solidariedade.
Conheça o signifícado dos
símbolos da Quaresma.
INCENSO
O incenso vem de "incendere", "incender", é uma das resinas
que produz um agradável aroma ao arder. Esta palavra latina dá também origem ao
termo "incensário" (instrumento metálico para incensar), enquanto a
raíz grega "tus", que também significa incenso, explica a palavra
"turíbulo" (incensário) e "turiferário"(o que carrega o
turíbulo).
O incenso é encontrado principalmente no Oriente, e desde antigamente no Egito,
antes de os israelitas chegarem era usado em cerimônias religiosas, por seu
fácil simbolismo de perfume e festa, de sinal de honra e respeito ou de
sacrifício aos deuses. Já antes em torno da Arca da Aliança, mas sobretudo no
templo de Jerusalém era clássico o rito do incenso (Ex. 30). A rainha de Sabá
trouxe entre outros presentes grande quantidade de aromas a Salomão (1Rs.10).
Os cristãos no século IV introduziram o incenso na linguagem simbólica de suas
celebrações, quando se considerou superado o perigo anterior de confusão com os
ritos idolátricos do culto romano.
Atualmente, o incenso é usado na missa, quando se quer ressaltar a festividade
do dia, o altar, as imagens da Cruz ou da Virgem, o livro do evangelho, as
oferendas sobre o altar, os ministros e o povo cristão no ofertório, o
Santíssimo depois da consagração ou nas celebrações de culto eucarístico. Com
isso quer significar às vezes um gesto de honra (ao Santíssimo, ao corpo do
defunto nas exéquias), ou símbolo de oferenda sacrificial (no ofertório, tanto
o pão e o vinho como as pessoas).
JEJUM
Chamamos "jejum" (latim "ieunium") à privação voluntária de
comida durante algum tempo por motivo religioso, como ato de culto perante
Deus.
Na Bíblia no jejum pode ser sinal de penitênica, expiação dos pecados, oração
intensa ou vontade firme de conseguir algo.
Outras vezes, como nos quarenta dias de Moisés no monte ou de Elias no deserto
ou de Jesus antes de começar sua missão, marca a preparação intensa para um
acontecimento importante.
O jejum Eucarístico tem uma tradição milenar; como preparação para este
sacramento, o cristão se abstém antes de outros alimentos.
É na Quaresma, desde o século IV, que sempre teve mais sentido aos cristãos o
jejum como privação voluntária da que existem em outras culturas religiosas ou
por motivos religiosos.
O jejum junto com a oração e a caridade, tem sido desde muito tempo uma
"prática quaresmal" como sinal de conversão interior aos valores
fundamentais do evangelho de Cristo. Atualmente nos abstemos de carne todas as
sextas-feiras de Quaresma que não coincidem com alguma solenidade; fazemos
abstinência e além do jejum (uma só refeição ao dia) na quarta-feira de Cinzas
e a Sexta-feira Santa.
A esmola
Esmola: a palavra
“esmola” soa mal. Dá idéia de resto, de poder de uns sobre o nada de outros.
O termo “esmola” deriva do grego “eleéo”, “ter
piedade”, cuja forma imperativa “eleéson” figura no “kyrie” do ato penitencial
da celebração eucarística. Antes que possamos ter piedade dos outros é Deus
quem teve piedade de nós. Precisamente porque brota da piedade divina e se
modela sobre ela, a esmola não se reduz a um gesto de ordem apenas material:
ela manifesta um ato que indica o fazer-se companheiro de viagem de quantos se
encontram em dificuldade, participando na sua situação, com ternura.
é o sentido da
caridade. Quando alguém pede esmola, está com as mãos estendidas, necessitado
de ajuda. E ajudar o outro é amá-lo. Não importa o nome, se é gordo ou magro,
se é barbudo ou cabeludo, mas alguém com a mão estendida está precisando de auxílio.
É assim também que nós fazemos com Deus: levantamos nossas mãos para o alto e
pedimos ajuda a Ele. Na nossa pobreza, na nossa limitação, precisamos do
socorro do Senhor.
Esmola não é apenas
no sentido de dar coisas, mas também de se dar para o outro, seja por meio de
um sorriso ou um abraço. Quantas pessoas carentes de um abraço, porque estão
feridas na sua afetividade paternal e maternal, que se sentem carentes do amor do
pai e da mãe!
A penitência é a
mortificação, é morrer para si por causa do Senhor. Jesus se sacrificou, morreu
por nós e penitenciou-se em nosso favor. A penitência nos leva a morrer um
pouco no "eu", na vontade própria, no egoísmo; principalmente no mundo
de hoje, no qual o "eu" tem gritado muito e já não temos o sentido do
"nosso". Quando nós rezamos a oração que o Senhor nos ensinou, sempre
dizemos "Pai nosso" e não "Pai meu", porque Deus partilha
tudo o que Ele tem com todos os filhos d'Ele. A penitência nos ajuda a ter uma
profunda conversão, por meio da qual nos colocamos na presença de Deus e isso
nos leva a uma disciplina de equilíbrio no comer, no beber, no vestir, no modo
de ser, de falar, de agir e nos impulsos.
Oração: oração em
tempos de tecnologia e de rapidez parece algo sem sentido.
No entanto, a oração nos ajuda a buscar sentido em
todas as experiências, pois ela nos aproxima da simplicidade e da ternura. Ou
seja, a oração torna o coração mais dócil, fazendo-nos mais humanos e, por
isso, mais próximos de Deus. A oração é uma mão estendida para o divino; não é
dobrar a vontade de Deus a nosso favor; pelo contrário, é colocar-nos em
sintonia com Deus, para entendermos o que é melhor para nosso verdadeiro bem. É
deixar Deus ser Deus, ou seja, revelar sua paternidade e maternidade com cada
um de nós.
Orar é sentir-nos participantes da riqueza divina
e de seus dons. É sentir-nos agraciados e plenos de sentido do infinito,
tirando-nos da mesmice e do vazio. Orar nos molda o coração de acordo com o
coração de Deus, nos ajuda a sermos mais irmãos uns dos outros e reforça a
certeza de que somos filhos e filhas amados(as) de Deus.
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