TEOLOGIA PRATICA
I. Introdução.
- A reflexão teológica sobre a
ação da Igreja, tradicionalmente chamada de teologia pastoral, se desenvolveu
ampla e densamente depois do Concílio Vaticano II.
- No período pós-conciliar
cresceram os estudos práticos da teologia e ganharam novo impulso as ações
eclesiais, devido a uma nova compreensão da Igreja como Povo de Deus e a uma
valorização positiva do mundo.
É teologia indutiva.
- A teologia prática se move no
universo do que acontece, articula sua reflexão em diálogo com o dado revelado,
teologicamente entendido, formula objetivos, tem em conta o magistério e
aterriza no campo dos imperativos cristãos mediante propostas operativas.
É interdisciplinar.
- Sem as ciências humanas
dificilmente podem ser examinados os mecanismos que se dão nas práticas
pastorais.
- Em cada momento histórico, é
preciso relacionar dialeticamente a prática eclesial com a teologia e as
ciências humanas.
Da teologia pastoral à teologia prática.
- Primeiramente, chamava-se
teologia pastoral, pois era concebida como um conjunto de conselhos práticos
(morais e canônicos) dirigidos aos sacerdotes, aos pastores.
- Posteriormente, se denominou
teologia prática. Assim, se evita o clericalismo e se inclui mais bem os leigos
no campo da reflexão e se recolhe, tanto o espírito adquirido pela prática como
a fascinação que sugere a práxis. Portanto, a teologia prática é ciência
teológica em relação à práxis.
O lugar do pastoralista.
- Encontra-se entre o teólogo e o
pastor. Os agentes de pastoral não são meros executores do que dizem os
teólogos, mas exercem, por sua missão, sua responsabilidade cristã, ao mesmo
tempo em que refletem.
O círculo hermenêutico.
- A elaboração de um projeto
pastoral ou de uma teologia prática faz-se necessário auscultar a prática
pastoral (a vida cristã em seu desenvolvimento), e confrontar seus resultados
com a Palavra de Deus e com a reflexão teológica, para voltar ao terreno da
prática. O círculo hermenêutico gira em torno do binômio teoria/práxis,
dialeticamente entendido.
Práxis de Jesus.
- Existe uma práxis referida nos
relatos evangélicos, a de Jesus o Cristo, fundamento de toda prática eclesial.
Portanto, a teologia prática é cristológica em suas raízes e eclesial em sua expansão. Isso ,
levando-se em conta a realidade histórica e social.
A práxis eclesial numa sociedade secularizada.
- A realidade de uma sociedade
autônoma e secularizada, hoje, y necessitada de evangelização, é uma nova razão
acrescentada à necessidade de elaborar estudos de pastoral. Isto se torna mais
evidente se considerarmos que a ação da Igreja na sociedade ocidental foi
deslocada e que a teologia não tem mais a função diretora que teve em outros
momentos históricos. Daí, não cabe uma teologia pastoral perene.
A SITUAÇÃO TEOLÓGICA DA TEOLOGIA
PASTORAL
– A
presença da teologia pastoral entre as disciplinas teológicas não é um fato
pacífico;
– A
teologia acadêmica impede até de tomar em consideração a possibilidade de
reconhecer a natureza teológica da reflexão sobre a ação pastoral;
– Trata-se
de uma disciplina ausente em muitos currículos de teologia;
– Nos
seminários, a reflexão pastoral é considerada momento posterior ao estudo
teológico propriamente dito;
– Os
debates e as tendências mais recentes se orientam no sentido de atribuir um
caráter ou uma dimensão pastoral a toda a teologia;
– Outros
preferem orientar a reflexão pastoral a partir da experiência;
– A
própria falta de um estatuto científico suficientemente sólido para a TP é
outro obstáculo.
II. A pastoral em alguns
momentos da história da Igreja
2.1. Fundamento: Jesus e
sua práxis, relatada nos Evangelhos. A pastoral é cristológica em sua raiz e
eclesiológica em
sua expansão. Porém , esses dois elementos não podem ser
considerados sem se levar em conta a realidade histórica e social. Perigos:
fundamentalismo e cristomonismo.
2.1.1 Imaginário popular cristão
sobre Jesus (leitura literal da Bíblia; Jesus que é só Deus; Jesus que padece
para dar-nos exemplo; um Salvador que expia os nossos pecados e nos dá a
salvação).
2.1.2. Modelos de Jesus em sua
práxis pastoral (o que Jesus não foi – sacerdote e escriba; e o que foi:
profeta e taumaturgo).
2.1.3. Dimensões da práxis de
Jesus (Reinado de Deus, seus discípulos, Deus; milagres, perdão, comunidade,
refeições, relações...).
2.1.4. Níveis da práxis: fé
(ideológico), esperança (social/político) e caridade (econômico)
2.2. Pastoral da Igreja
primitiva: Pastoral da Igreja Primitiva
Fonte: Novo Testamento – Atos dos
Apóstolos, Cartas Apostólicas, Paulinas.
Levar em conta: o judaísmo
palestinense do primeiro século, ambientes religiosos e sociais helenísticos e
romanos.
2.2.1. Situação da Igreja
primitiva
a) Momento histórico:
dividido em três etapas: 1) Jesus de Nazaré 6 a .C – 30 d.C; 2) as comunidades (30-70 d.C.);
redação dos escritos 70-100 d.C.
- Lembrar: ano 50 Concílio de
Jerusalém; Cartas Paulinas de 51
a 63; a partir de 70, data da destruição de Jerusalém,
começam a ser redigidos os Evangelhos e as cartas apostólicas não paulinas.
- Em 135, os romanos dizimam a
população judia por causa de uma nova sublevação; os cristãos já se tinham
espalhado por todo o mediterrâneo.
b) Espaço social: assim como a ação de
Jesus se circunscreveu à Palestina; o cristianismo nascente se estendeu por
todo o Mediterrâneo, sobretudo sua parte oriental, nas margens e no interior
dos países que o rodeavam. Dois são os meios sociais nos quais se desenvolveu o
cristianismo primitivo: o judaico e o helenístico-romano.
- Lembrar que os primeiros judeus
eram de língua aramaica e cultura semítica e os novos eram de cultura
helenística e de língua grega. Fundaram Igrejas nos núcleos urbanos
correspondentes aos centros econômicos e culturais: Antioquia, Éfeso, Corinto e
Roma.
- Quando da expansão do
cristianismo, o Império Romano ocupava todo o Mediterrâneo e se estendia por
muitas regiões no interior da Europa, África e Ásia.
- Muitas correntes filosóficas,
muitos movimentos, sociedade piramidal, escravidão, plebe, senadores, impostos
aos povos submetidos e conquistas de novas terras.
- Cultos diversos, sacrifícios de
animais, muitas festas, lugares sagrados e santuários.
- Terra de Israel: século I era
Judéia; depois do ano 135 se chamou Síria palestina e finalmente Palestina
(formada por Judéia, Samaria, Galiléia e Pereia).
- Desde 63 a .C., dominação romana,
governada pela família de Herodes, justiça reservada ao sinédrio (com exceção
da pena de morte); impostos a cargo dos publicanos. A lei judaica foi
respeitada pelos romanos.
- Palestina: país pequeno,
agrícola, pobre, super-povoado e mestiço. Ocupava um lugar estratégico entre os
três continentes (Europa, África e Ásia).
- Na base, três partidos:
fariseus (legalistas, ala liberal da classe média), saduceus (conservadores no
aspecto religioso e cultural e conviviam bem com o invasor e com os costumes
helênicos) e essênios (movimento profético, que se opunha ao templo, pregava a
conversão, puristas e messiânicos).
- Movimentos messiânicos:
zelotas, batistas e outros.
- de 70 a 135: grande homogeneidade
no judaísmo – fundamentalmente rabínico e talmúdico (conjunto de lei oral judia
posta por escrito). Depois da destruição do Templo, força das sinagogas
(desaparecem sacerdotes e ganham força anciãos e escribas).
- Culto sinagogal: liturgia da
palavra; ano litúrgico: de sábado a
sábado; três festas: páscoa, pentecostes e tabernáculo; três práticas: oração,
esmola e jejum; rito de iniciação: circuncisão.
- Neste espaço, se deu o
desenvolvimento do cristianismo...
2.2.2. A missão evangélica
(serviço da palavra)
a) O kerigma cristão:
depois da morte de Jesus: experiência dos primeiros os converte em crentes do
ressuscitado e missionários. Kerigma primitivo: “Cristo morreu por nossos
pecados, cumprindo as Escrituras, foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia,
apareceu a Cefas e mais tarde aos doze” (1Cor 15,3-5). Sua formulação anterior
aos relatos da páscoa; ao estar unido a história de Jesus de Nazaré, Marcos
chama a seu relato de evangelho; significa então que a mensagem cristã não
procede só da páscoa, mas da história total de Jesus de Nazaré. Mas seu núcleo
central é a ressurreição de Jesus.
b) A pregação da mensagem:
o kerigma se expressa como uma confissão de fé: Jesus de Nazaré, o crucificado,
foi ressuscitado por Deus. Jesus anuncia o Reino e seus discípulos pregam a
morte e ressurreição de Jesus, onde se revela a salvação de Deus.
- Convencidos dessa boa nova, os
discípulos se tornam missionários. Os Atos relatam a expansão em três etapas:
1) Jerusalém (3-7); Judéia e Samaria (8-12) e os confins da terra ( 13-28).
Pedro se destaca na primeira e na segunda etapas e Paulo na terceira.
- o termo missão deriva do verbo
apostellein (enviar) ou do substantivo apostollos (apóstolo, enviado).
2.2.3. A celebração litúrgica
(serviço sacramental)
a) O culto como reunião:
estar juntos em
apertada assembléia. Daí que usamos mais a palavra reunião
litúrgica e evitemos tanto os termos culto, sacrifício e sacerdócio. O gesto
cristão principal se dá em forma de reunião doméstica com uma refeição
fraterna. A terminologia culto é descartada no N.T. por sua origem pagã ou
judia.
- Liturgia: importância fundante
na Igreja primitiva; batismo e eucaristia.
b) A ceia eucarística:
título primitivo: ceia do Senhor (Paulo) ou fração do pão (Lucas). Momento de
fraternidade, solidariedade com os pobres, refeição que torna real a comunhão
em Cristo.
- Depois da expulsão do judaísmo,
os cristãos incorporaram a suas assembléias leituras da lei e dos profetas, às
quais se seguiram os relatos de Jesus, que dariam corpo aos evangelhos.
Cantavam salmos, hinos e cânticos e a oração de ação de graças era ampliada com
súplicas e orações, petições e ações de graças e com a memória da última ceia
de Jesus.
- Paulo escreve em 55 sobre a
tradição que recebeu do Senhor (1Cor 11,23) sobre a Eucaristia.
- Com o tempo, a ceia do Senhor e
a comida fraternal se separaram sem que saibamos com exatidão por quais
motivos. Possíveis três causas: para os pagãos a refeição não tinha o mesmo
significado que para os judeus; a dificuldade de comerem juntos os ricos e os
pobres; o crescimento do número dos comensais.
- Síntese do rito eucarístico
primitivo: nunca se separava da palavra e do serviço aos pobres.
c) O batismo cristão: os
convertidos pela pregação apostólica que aceitavam a palavra são agregados à
comunidade por um banho de imersão chamado de batismo (At 2,41). A evangelização
terminava com o batismo, rito de ingresso na comunidade dos crentes.
- Não foi uma prática comum de
Jesus, que se dedicou mais a proclamação do Reino do Pai. Paulo também não dá a
primeira importância ao Batismo, e diz que veio para anunciar o Evangelho (1Cor
1,14-17).
- Batismo: é um acontecimento
espiritual que transforma a personalidade do batizado, ao realizar-se na morte
e ressurreição de Cristo; precedido sempre do anúncio da palavra, que provoca
adesão – agregar-se a comunidade (At 2,47) ou adesão ao Senhor (At 5,14).
- No princípio, se dava somente
no nome do Senhor (At 2,38); mais tarde se usa a fórmula trinitária.
- Entre a conversão e o batismo,
se antepõe a Palavra.
- A imposição das mãos: ato de
conferir o Espírito, que se unifica com o gesto do batismo.
- Batismo e efusão do Espírito:
Rm 6,3-5; 1Cor 12,13; Gl 3,26-28; Cl 3,9-11).
d) O perdão dos pecados: o
batismo o confere, mas na Igreja primitiva não se o reduz ao batismo. A
metanoia, a conversão é central na mensagem de Jesus e em todo o N.T .
- Pecados confessados nas
reuniões comunitárias; faltas leves: arrependimento geral sem confissão pessoal
detalhada; faltas graves, afastamento da comunidade; reconciliação: retorno à
comunidade.
e) A unção dos enfermos:
Jesus rompe a nefasta dependência entre pecado e enfermidade. Os discípulos
desenvolvem o dom das curas (1Cor 12,9), com difícil precisão. Ministério dos
enfermos é importante (Tg 5,13-16). Era associado ao perdão dos pecados por
causa da ligação que se fazia entre enfermidade e pecado. A eficácia vem mais
da oração que da unção.
2.2.4. A comunidade eclesial
(serviço de comunhão)
a) A Igreja do Senhor:
para o povo de Israel - qahal de Javé: assembléia de Deus reunida para celebrar
o culto e decidir seu destino. Os setenta traduziram por ekklesia (convocação
santa) do povo de Deus.
Ekklesia e seus três
significados: 1) a assembléia litúrgica convocada para celebrar a palavra de
Deus e o culto da nova aliança; 2) a comunidade local dos cristãos que vivem em
um determinado lugar; 3) Igreja universal de todos os crentes espalhados em
comunidades por todo o mundo.
- Radicalmente: nasce a Igreja da
fé pascal ou se congrega depois da páscoa como comunidade, graças à
ressurreição de Jesus e a efusão do Espírito.
b) A primeira comunidade cristã:
A Igreja é antes de tudo uma realidade local, nasce e existe aí, onde os homens
e as mulheres acolhem o evangelho como boa nova da salvação para eles, o
celebram, o partilham e dão testemunho dele.
- Temos os sumários dos Atos
(2,42-47; 4,32-35 e 5,12-14): palavra apostólica, comunhão fraterna, fração do
pão e orações.
- O ensinamento (didaqué) era
feito, sobretudo, nas casas.
- A koinonia diz respeito ao por
em comum os bens materiais, à união mútua da fé e a unanimidade de sentimentos.
Uma comunidade cristã se reconhece enquanto não haja indigentes em seu meio.
- A fração do pão: costume entre
os judeus, o pai benzia o pão e o repartia.
- Orações: orações litúrgicas, os
salmos, o pai nosso.
2.2.5. Os cristãos na
sociedade (serviço de transformação): bom lembrar os vários significados da
palavra mundo.
a) Primeira inculturação da fé:
a missão apostólica se dirigiu primeiramente aos judeus de Jerusalém, judeus de
fala grega e pagãos simpatizantes do judaísmo.
- Vários grupos na Igreja
primitiva:
1) judeu-cristãos rigorosos ou
legalistas, de língua aramaica ou hebréia, oriundos da Palestina, conscientes
da ideologia do povo eleito e fiéis a certos aspectos do judaísmo (ritmos de
oração judia, calendário de festas, prescrições sobre a comida e o jejum,
liturgia sinagogal e circuncisão) – representante: Tiago, o justo.
2) Os judeu-cristãos adaptados,
oriundos da diáspora, que suavizavam as exigências da lei entre os batizados,
não exigindo a circuncisão e somente algumas prescrições alimentares e medidas
disciplinares – Pedro, antes do Concílio.
3) Os pagão-cristãos, judeus de
procedência, mas com mentalidade helenística e atitude aberta, que criticavam a
lei e o templo. Os sete e em especial Estevão.
4) Os pagão-cristãos ou gentios
de extração, que não tinham nenhuma vinculação com as tradições judias. Paulo
os defendia.
- Tensões: helenistas e hebreus; desaparecimento dos
primeiros testemunhos e a demorada parusia; o gnosticismo (gnose=conhecimento),
prega um caminho de salvação reduzido à própria experiência pessoal, como
aceitação do conhecimento de um mundo exterior e superior e desprezo pelo mundo
real, inferior, negativo, hostil e desgraçado. Anula-se a história e se
despreza a história.
Seqüela do gnosticismo foi o
docetismo (dokein=semelhar-se ou parecer), segundo o qual Jesus não se encarnou
de verdade, nem teve um corpo semelhante ao nosso, senão que era aparente. Não
sofreu, não morreu, não ressuscitou. Somente baixou a esse mundo para nos
libertar da matéria.
b) Primeiras perseguições:
a primeira no ano 34, Estevão; 43: morte de Tiago, por Herodes; 62, o outro
Tiago, o irmão do Senhor; 66-70... Domiciano em 81/96; Nero em 64... foi assim
até o séc. IV.
c) A Igreja primitiva e a
realidade política: paz romana até virar guetos.
2.2.6. Traços do movimento
comunitário primitivo
a) É movimento popular profético em relação a Jesus
b) Adota uma estrutura doméstica
e fraternal
c) Acolhe a todas as classes de
convertidos, principalmente os pobres
d) Sofre tensões e conflitos:
ricos e pobres, judeus e pagãos, gregos e bárbaros, escravos e livres, fortes e
fracos, sábios e ignorantes, homens e mulheres.
2.3. Época primeira: a
Igreja no império romano (séc. II-III): a Igreja se edifica no mundo mediante o
Espírito de Deus e o exercício dos diferentes serviços e carismas da comunidade
de fiéis. Sendo assim, como povo de Deus, a Igreja é a congregação dos crentes
em Jesus ressuscitado, que recebe a missão do Espírito de Deus em função da
evangelização, para a conversão de judeus e gentios. É ma comunidade de vida e
não jurídica. Da concepção de igreja local vai emergindo aos poucos a
consciência da universalidade.
AÇÃO PASTORAL: proclamação da fé
em Jesus, no testemunho de vida e no ensinamento da palavra de Deus. Depois, a
conversão leva ao batismo e a eucaristia. O catecumenato ganha toda a força. Em
seguida, a reconciliação: capacidade de perdão. Os mais radicais opinam que os
cristãos devem rechaçar o serviço militar, o serviço relacionado ao circo e
também cargos públicos. Sem falar da abolição da escravidão, humaniza as
relações, por meio de uma caridade efetiva. A maior adesão se dá entre os
humildes, os simples.
2.4. Época patrística: a
Igreja do império cristão (séc. IV-VII): da Igreja de perseguição violenta
(Dioclesiano 284-305) à paz com Constantino (306-338). Deixa de ser Igreja dos
pobres, com forte adesão de magistrados, filósofos e governadores de
províncias. Ganha força a classe sacerdotal. Com o edito de Milão (313) ganha
liberdade de atuação, e com Teodósio, em 380, se transforma em religião do Estado.
Estrutura de paróquia,m por necessidade rural; dioceses e
províncias eclesiásticas. Conversões em massa. Decai o catecumenato e aumenta a
luta contra as heresias. Liturgia fica vinculada ao latim, distanciando-se do
povo. As insígnias imperiais são atribuídas aos bispos e ao papa. Os leigos
continuam com o catecumenato familiar.
2.5. Época medieval: a
Igreja da cristandade (séc. VIII-XV): passagem drástica de separação enorme do
povo, que não sabe latim, batismos de crianças se alastram, missas privadas,
individualização da penitência. Ruptura com o Oriente (1054). Cristandade: não
separação do poder temporal do poder sacral – um se mete no outro. Com Gregório
VII (1073-1085), deu-se um avanço paradoxal: por um lado, a sociedade ganhou
sua autonomia; por outro, a Igreja voltou a ser comunidade autônoma,
espiritual. Porém, Gregório VII reivindica um poder sobre a comunidade humana.
Queria ordenar a sociedade segundo as leis da Igreja. Duas fortes preocupações
da Igreja: organização sistemática de todo o material legislativo cristão e a
recepção do direito romano no direito canônico. Desta forma, a Igreja passa a
ser a sociedade cristã submetida ao poder do Papa. Centralização máxima do
poder. Decaem a liturgia, o catecumenato, a evangelização: tudo se romaniza
cada vez mais. As epidemias, fomes e guerras contribuem a situar a morte como
centro obsessivo da vida. Artes de bem morrer e danças macabras ganham espaço.
A angústia da morte, a preocupação com a salvação e a perda da confiança na
instituição eclesial transforma a existência cristã. Conseqüência: cresce a
superstição e a espiritualidade individualista: devotio moderna.
2.6. Época moderna: a
Igreja da Reforma e Contra-reforma (séc. XVI-XVII): antes de Lutero, a divisão
já se configurava com fortes gritos contra o curialismo e o clericalismo
romano. Lutero capitaliza essa mensagem e provoca a reforma. Trento (1545-1563) será a contra-reforma e a
proposta da Igreja. Igreja instituição.
2.6.1. Importância do Concílio
de Trento (1545-1563) para a pastoral:
a) Justificativa de sua
convocação: a Igreja vinha de crise em crise, vivei o cisma do oriente
(1054); o cisma do ocidente até 1417; a
mundanização dos papas: Alexandre VI (1492-1503), Julio II (1503-1513), Leão X
(1513-1521); a ignorância e relaxamento do baixo clero, que constituiu uma
espécie de proletariado espiritual e a mundanização do alto clero, quase sempre
da nobreza e muitas vezes nomeado mais
por critérios políticos e econômicos que pastorais, com práticas simoníacas e
preocupação pelas prebendas. Com tudo isso, a teologia estava em decadência:
escolástica estéril, o nominalismo de Ockam, a rotina, o afastamento da Bíblia
etc. Espiritualidade reduzida a devocionismo. Nesse contexto, a Igreja católica
tinha perdido a sua própria identidade, e a busca desta se constituirá no
grande objetivo de Trento.
b) Objetivo do Concílio de
Trento: Construção da identidade católica.
c) Metodologia: Trento
estruturou sua metodologia em três pilares:
1.
Criação de um novo imaginário sócio-religioso;
2.
Enquadramento do clero;
3.
Enquadramento do fiel.
d) Estratégia: Para
atingir o seu objetivo, por meio dos três pilares, Trento articulou quatro
forças principais:
1.
O exemplo de santidade de muitos de seus membros
(místicos, Ordens Religiosas renovadas e recém-criadas, missionários, a própria
cidade de Roma);
2.
O medo;
3.
O poder econômico, político, moral, cultural da Igreja
mesma em articulação com o poder civil;
4.
O princípio moderno da eficácia.
e) Criação de um novo
imaginário social:
– O
mundo sobrenatural envolvia os homens como uma capa protetora, mas cuja
proteção se conquistava com ritos, cultos, sacrifícios, flagelações,
procissões, deprecações (orações de súplica);
– Desloca-se
o acento do corpo para a alma;
– O
horror do inferno povoará a fantasia dos fiéis;
– Visões
do juízo final e do purgatório;
– Imaginário
da fé: recebido como mensagem de Deus e criado pela fantasia humana, que pensa
criando, recebe interpretando;
– Imaginário
carregado de força amedrontadora;
– Quem
faz a mediação entre a realidade concreta e essa transcendental de medo: o
clero;
– Mundo:
palco de luta do homem entre forças sobrenaturais opostas em vista da realidade
definitiva além da terra e da vida.
f) Enquadramento do agente
ministerial – clero
–
Clero em situação lamentável: intelectual, moral e
espiritualmente;
–
Urgência na reforma do clero;
–
A pregação é decisiva na formação do povo e portanto da
identidade católica;
–
A reforma do clero reforçava cada vez mais a autoridade
do bispo.
F1. Seminário: habitat
natural para a formação do clero, afastando os rapazinhos dos prazeres do
mundo, dos vícios; fomentando a piedade e disciplina eclesiástica; prioridade
para os pobres, os ricos devem se auto-sustentar. Implementação que vai desde
Carlos Borromeu logo em seguida ao término do Concílio de Trento até Paris com
seu primeiro seminário somente em 1696.
F2. Critério de escolha do
padre: cuidado no vestir, no falar, no modo de andar, nas conversas, sem
mácula alguma, sem vícios, não freqüentar as festas, as danças, aos jogos de
azar; não se envolver em negócios seculares, sem concubina. Capaz de suscitar
veneração. Deve ter residência fixa onde trabalha; saber pregar. Evitar o
“cléricus vagabundus” (bóias frias ou proletários clericais), ordenando somente
quem tenha condições econômicas de se sustentar e não pessoas que estejam
procurando emprego. Ninguém seja ordenado a não ser que seja útil ou necessário
para as igrejas a juízo do bispo. Este não pode ordenar ninguém além dos
limites de sua diocese. Exame: condições intelectuais, conhecimento da família,
idade, educação, costumes, doutrina e fé do candidato. Daí a necessidade do
Seminário.
F3. Critério de escolha do
bispo: preocupação com a nova imagem do bispo. Deve ter nascido de
casamento legítimo, ser de idade madura, de bons costumes, dotado da ciência
das letras sagradas. Promover somente aqueles que sejam os mais dignos e úteis
à Igreja, olhando unicamente o mérito das pessoas sem outros interesses
(afastar a avareza, a simonia e o nepotismo).
Carlos
Borromeu (Arona, Novara, 1538 - Milão, 1584) como filho da nobreza
teve a chance de cursar a universidade, doutorando-se em direito canônico e
civil. Sobrinho do papa Giovanni Angelo de Médici - Pio IV, que o nomeou
cardeal diácono e arcebispo de Milão e presidente da Consulta (órgão preposto
à administração civil dos Estados pontifícios, e à secretaria de Estado), em
1560. Carlos Borromeu convenceu o papa a reconvocar e terminar o Concílio de
Trento, cujo programa definiu, juntamente com Pio IV. Nessa última fase, o
Concílio deliberou reformas do clero e das ordens religiosas, construções
dogmáticas e litúrgicas, codificando-as no "Catechismus Romanus ad
Parochos" (1566, Catecismo romano para os párocos). Com a morte de Pio
IV (1565), Carlos Borromeu transferiu-se definitivamente para Milão, onde
permaneceu até a sua morte, dedicando-se por quase vinte anos à atividade
pastoral. Foi o primeiro hierarca a fundar seminários para a formação de
padres. É considerado o grande reformador na perspectiva de Trento e morreu
com apenas 46 anos de idade no dia 04 de novembro de 1584. Foi canonizado em
01de novembro de 1610 por Paulo V.
|
g) Reflorescimento Espiritual:
–
Do Seminário Tridentino surgem os padres com uma áurea
de mistério, pois desde novos são afastados da família e dos colegas de sua
idade.
–
Fortalecimento do clero diocesano e renovação dos
religiosos: Trapa, beneditinos, carmelitas, trinitários, servitas, descalços,
dominicanos, franciscanos...
–
Crescimento dos jesuítas: Ignácio morre em 1556; Xavier
nas Índias em 1543; 1548 no Congo e em Mauritânia; em 1549 no Brasil; 1552 no
Japão e China – Xavier...
–
Reforço espiritual na Europa, expansão missionária no
mundo...
–
Vida religiosa feminina também cresce: carmelitas
pós-reforma (Santa Tereza 1515-1582), ursulinas, visitandinas, irmãs da
caridade...
–
Florescimento da mística: luta contra satanás, vida
austera, renúncias...
–
Ideal de vida para as damas da caridade de Vicente de
Paulo: “Elas terão por convento as casas dos doentes e onde reside a superiora;
por cela, um quarto de aluguel; por capela, a Igreja paroquial; por claustro,
as ruas da cidade; por clausura, a obediência; por grade, o temor de Deus; por
véu, a santa modéstia; por profissão, a confiança contínua na providência, a
oferta de tudo que são”;
–
Enfim: clero reformado na cúpula e nas bases; novo
clero que nasce dos seminários; religiosos que encontram nova seiva; novas
congregações; santos e místicos que se multiplicam...
h) Enquadramento do fiel.
–
Fim da idade média: cristão ignorante de tudo;
–
Finalidade do enquadramento do fiel em dois campos:
h1.
Doutrinal: elevar-lhes o imaginário religioso do nível de uma religião de
necessidades, ligada a um espírito animista, fetichista, mágico para uma
religião sobrenatural da salvação eterna;
h2. Prática
sacramental: levá-los a uma prática religiosa.
–
Método: Missões Populares – costumavam deixar o local
somente depois que o último homem se confessasse. Leão e Cordeiro, no púlpito e
no confessionário.
–
Visavam a continuidade por meio das paróquias
–
Batismo de crianças, confissão e comunhão sob fortes controles
dos párocos
–
Mais sucesso na zona rural; na área urbana o controle
era mais frouxo
–
Importância das paróquias: missas dominicais e nos dias
de festas; enquadramento litúrgico; catecismo para as crianças e para adultos;
ensino religioso.
i) A literatura pastoral da
época pós-tridentina
–
Abundante produção literária;
–
Reforma da Igreja: pedra angular o pastor;
–
Literatura: tarefas e obrigações dos párocos;
–
Roteiros para preparar os exames dos párocos.
–
Sacramentalista. Breviarum romanum (1568),
–
Missale romanum (1570),
–
Caerimoniale episcoporum (1600)
–
Rituale romanum (1600).
Roberto Belarmino (Montepulciano 1542 – Roma 1621). Sobrinho do Papa
Marcelo II, ingressou em 1560 na Companhia de Jesus. Estudou teologia
|
2.7. Época do Iluminismo e do
liberalismo: a Igreja pós-tridentina e vaticana (séc. XVIII e XIX): frente
à eclesiologia protestante, a postridentina enfatiza a Igreja como instrumento
eficaz de salvação em virtude dos poderes sagrados recebidos de Cristo, poderes
que se vinculam aos sacramentos, cuja celebração assegura e revela sempre uma
presença pública, oficial e especificamente religiosa da Igreja frente à
sociedade humana. Confrontação polêmica com o protestantismo. Oposição entre
Igreja e mundo. Pastoral administrativa e burocrática.
2.8. Época pré-Vaticano II:
a Igreja em mudança (primeira metade do séc. XX).
a) Renovação nos primórdios do
século XX: a renovação da teologia e da ação pastoral começa timidamente nas
duas últimas décadas do século XX. Entre 1880 e 1900 começam as renovações
bíblica, litúrgica, patrística, tomista, laical e social. Os teólogos
renovadores têm sensibilidade pastoral por seu contato mais íntimo com a
palavra de Deus e uma adaptação mais plena do pensamento cristão com as
exigências do mundo moderno social.
Passado o forte impacto do
subjetivismo e racionalismo do séc IXI, o mundo se abre em certa medida às
realidades espirituais. Porém, no inicio do séc. XX ainda está forte a crítica racionalista,
que produz crises na Igreja, sobretudo em ambiente católicos fechados. Exemplo
claro disso é a encíclica de Pio X (Pascendi 1907), onde ele faz dura
condenação do modernismo, acusando-o de agnosticismo e de imanentismo. Qualquer
renovação é vista com suspeitas, tais como o método exegético
histórico-crítico, desenvolvido pelos protestantes. No ensinamento dogmático
não se admite nenhum relativismo.
Ainda assim, destacam-se três
teólogos renovadores: J.A. Möhler (
1838),
M.J.Scheeben (
1888) e J. H. Newman (
1890).
Embora o papa Leão XIII
(1878-1903) tenha impulsionado a renovação do pensamento cristão social e a
filosofia e teologia escolásticas com o retorno a Santo Tomás, os teólogos não
acompanharam esse impulso, não aprofundaram o dado revelado, e o supunham
conhecido. Teologia especulativa, nada de prática.
Alemanha e França se destacam,
nos começos do séc. XX, como renovadores da teologia no campo protestante e
católico.
Em 1903, em Lê Saulchoir (Bégica) foi
criado o Studium teológico, por franceses expulsos da França, tais como A.
Gardeil, que dirigiu esse centro de estudos até 1991; P. Lemonnyer até 1932, M .D.Chenu até 1942,
quando foi obrigado a deixar o ensino, porque um livro seu entrou no índice dos
proibidos. Com esse último, o Studium se abriu à teologia, à pastoral e ao
social.
b) Mudanças entre as duas grandes
guerras (1920-1940). Novas abordagens de uma consciência comunitária eclesial,
volta a um contato vital com a palavra de Deus, participação dos leigos no
apostolado, indagação rigorosa da história da Igreja, desejo de uma liturgia
mais autêntica, exigência de uma dogmática mais bíblica, crescimento da
cristologia evangélica e aproximação da Igreja católica ao ecumenismo.
Pastoralmente, o desafio está na
descristianização ou não cristianização: as massas operárias, em virtude da
industrialização, urbanização e emigração nascem fora da Igreja.
Paróquia: lugar do resto ativo,
um gueto cultual. Cresce a consciência missionária. Os intelectuais também não
se encontram mais na Igreja.
c) Os movimentos de renovação
(cf. UR 6): características dos movimentos: volta às fontes, centralidade da
Palavra de Deus, mais participação do povo na liturgia, reflexão sobre a missão
da Igreja, tentativa de restaurar a unidade da Igreja. Surgem as teologias da
história, teologia do laicato, teologia das realidades terrestres. Temas:
trabalho, cultura, política, progresso, ciência, técnica etc. História e
antropologia ganham relevo.
Surge a nouvelle théologie –
dominicanos com a Revue Thomiste e jesuítas com a faculdade de Fourvière. J.
Daniélou propõe essa nova teologia baseada na voltas às fontes: bíblicas,
patrísticas e litúrgicas). Influência do pensamento contemporâneo: marxismo e
filosofia existencial. Destaque: H. De Lubac e H. Bouillard.
Papa Pio XII tenta frear o avanço
por meio de uma encíclica condenatória dessa nova teologia: Humani generis
(12.8.1950).
2.9. Época do Vaticano II:
a Igreja e a crise de identidade (segunda metade do séc. XX e princípios do
séc. XXI).
__________________________________________________________________________
III. A instituição da Teologia
Pastoral como disciplina universitária
3.1. Franz Steplan
Raustenstrauch, monge beneditino que tenta colocar a TP como nova
disciplina teológica, a mando da imperatriz da Áustria, Maria Teresa, em 1774.
- Superar o escolasticismo
(perdido em minúcias – sexo dos anjos e outros), pensando a teologia como dado
da Revelação e finalidade de formação do pastor de almas;
- Correlação da teologia com a
cura de almas, com uma pedagogia influenciada pelo iluminismo e pela educação
do homem e felicidade do Estado: bons cristãos, bons cidadãos; (conjuntura:
iluminismo e regalismo).
O esquema de RAUTENSTRAUCH
1. preparação: disciplinas
bíblicas e históricas;
2. teoria da teologia: dogmática,
moral, direito canônico;
3. aplicação da teologia à
prática da vida humana – cura dos fiéis e combate aos infiéis
Obs. Ordem cronológica: é
preciso uma para se ter a outra.
|
Definição da TP: é o
ensinamento orgânico dos deveres do ministério pastoral e de sua atuação.
Divisão da matéria:
1. dever do ensino;
2. dever da administração e
dispensação dos sacramentos;
3. dever da edificação.
Rejeição: medo de que a
teologia ficasse submetida ao Estado e medo de redução do espaço da dogmática e
da moral.
3.2. A TP e os manuais de teologia
–
Nos manuais, desaparece a proposta de RAUTENSTRAUCH;
–
Prevalece uma abordagem prática com as tendências da
época: jansenismo, elementos iluministas, condicionamentos da política
eclesiástica do Estado;
–
Elementos comuns: o conceito básico é o de religião –
pastor = servidor da religião e do Estado. Religião: moralidade e exercícios de
virtude;
–
A matéria segue o esquema tripartite de RAUTENSTRAUCH,
com fortes alterações no terceiro elemento – a edificação, que se transforma de
exigências de bom exemplo do pastor, para a direção da comunidade ou cura das
almas ou ofício pastoral.
–
Evita-se falar em TP e se usa os termos: indicações,
ensinamento, doutrina pastoral...
3.3. Salto qualitativo: contribuição de A. GRAF
–
Fim do período dos manuais: a TP como ciência é, até
hoje, algo que em grande medida está sendo ainda procurado (teologia prática);
–
Assume como central a noção de Igreja: conjunto
orgânico e sujeito ativo do seu ser e do seu desenvolvimento, responsável pelo
seu crescimento – tarefa = auto-edificação.
–
A teologia é autoconsciência cientifica da Igreja;
–
Objeto da teologia: Igreja em três dimensões = 1.
realidade que possui uma história; 2. que apresenta uma essência divina
imutável; 3. que se constrói no futuro.
Esquema de A. GRAF (a
teologia deve estudar):
1. o aspecto histórico da
Igreja, nas ciências bíblicas e na história da Igreja;
2. o aspecto essencial na
dogmática e na moral e, na sistemática;
3. o aspecto dinâmico na
teologia prática.
|
–
TP: integrante e necessária à teologia. É uma ciência
unitária e sistemática, superando a abordagem meramente fragmentária e empírica
das experiências pastorais.
–
A TP deve ser um conjunto coerente e rigoroso, não para
impor esquemas à realidade, mas para compreender racionalmente os dados.
–
A TP deve manter unidos: 1. o interesse científico da
procura do saber e da compreensão da realidade e 2. o interesse prático de ser
ativos na Igreja.
–
A TP não existe porque há um interesse prático
prevalecendo na teologia, mas aquela e este estão presentes porque a Igreja é
uma realidade que edifica a si mesma.
Definição de A.GRAF:
Como a Teologia é o saber
através da Igreja e acerca da Igreja, a TP é a ciência que se forma, move-se,
construí-se no futuro; ou ciência das atividades eclesiais divino-humanas,
mediante pessoas oficialmente encarregadas na Igreja, de preferência do
estado clerical, para a edificação da Igreja.
|
3.4. Segunda fase dos Manuais
teológicos no século XX
–
Os manuais não levam em conta a contribuição de A.GRAF
e retomam a visão da Igreja a-histórica;
–
TP: ciência das atividades divino-humanas da Igreja
para a construção e o desenvolvimento do reino de Deus na terra (J. Amberger).
–
A concepção de uma Igreja acima da história e da terra
é estendida também ao padre, colocado no espaço entre Deus e a comunidade.
–
Dedução cristológica: TP é limitada ao tema do pastor;
esquema: pastor-rebanho;
–
A assistência do Espírito Santo faz considerar
supérflua toda reflexão cientifico-teológica;
–
Origem sobrenatural do poder do pastor: Cristo deu o
tríplice ofício à Igreja e daí se aplica também ao pastor por meio da ordenação
sacerdotal e da missão canônica;
–
Tria munera: profético, sacerdotal e régio: a
autocompreensão do pastor se afirma como critério interpretativo da realização
da Igreja: pastoral subordinada à canonística.
3.5. Concepção da TP atualmente dominante
–
A TP com os manuais se enfraqueceu muito;
–
Nem RAUTENSTRAUCH e nem A. GRAF;
–
TP: moldura externa das disciplinas teológicas;
–
Hegemonia da dogmática na teologia; a TP é mera ciência
aplicada com relação à dogmática (agere sequitur esse);
–
Entre as duas guerras mundiais, Surgem dois
pastoralistas L. Bopp e C. Noppel, que centram a TP no terceiro oficio
pastoral.
–
Bopp percebeu que a concepção pastoral de seu tempo se
havia separado da visão eclesiológica, a cura das almas era individualista e se
havia reduzido a antiga teologia pastoral ou prática a uma mera odegética.
Definição de Bopp:
“A TP é o ensinamento do governo pastoral, isto é, da
direção e cuidado da Igreja como comunidade de crentes ou como povo de Deus
(1Pd 2,10), através dos órgãos mediatos ou imediatos estabelecidos pelo
Cristo, sua cabeça invisível”. Considera a homilética e a liturgia como
ciências auxiliares da TP e estabelece como terceira parte desta disciplina,
como solicitude pastoral estritamente dita, a reflexão sobre a missão, a
caridade e a ação católica.
|
- Noppel reage à forte clericalização da ação pastoral.
Introduz o fiel como membro ativo na edificação do corpo místico, mas através
de sua participação no apostolado hierárquico. A comunidade cristã não é, pois,
meramente passiva frente a atividade do pastor, mas possui a missão de edificar
o corpo de Cristo.
- Nem Bopp nem Noppel foram levados a sério. Houve mais
preocupação com o estatuto epistemológico da TP, na base aristotélico-tomista.
Assim, a TP ficou como uma doutrina dos princípios.
3.6. A contribuição de ARNOLD: o principio teândrico na
ação pastoral
–
F. X. Arnold (1898-1969), confere a TP a categoria
teológica de mediação de salvação, assinalando a natureza apenas
instrumental da ação pastoral, evitando a identificação da pastoral com a
própria obra da salvação.
–
Define a atividade salvífica de Deus como um processo,
que se realiza num movimento e na comunhão entre Deus e a pessoa, marcado pela
fé que é simultaneamente dom de Deus e resposta livre do ser humano. Assim, a
ação pastoral não esgota a o processo de salvação.
–
O problema decisivo da pastoral (que funciona como
mediação) é o equilíbrio entre o fator divino e o fator humano.
–
Neste esquema, a referência fundamental da TP é Jesus
Cristo: a ação pastoral e a doutrina ficam assim ancoradas à cristologia.
–
Jesus: homem-Deus inspira a reflexão teológico-pastoral
em duas linhas: 1. uma essencial (permanente) e 2. e uma relacionada com o
tempo: Deus e sua revelação X pessoa humana em sua situação concreta.
–
Conseqüências para a TP: os problemas
teológico-pastorais não têm solução definitiva, mas sempre e só limitada no
tempo; essa problemática se propõe sempre novamente em formas inéditas, com a
mudança das situações humanas.
No esquema segundo ARNOLD, a TP pressupõe:
1. uma teologia bíblica que investiga o conteúdo e a
forma da revelação divina;
2. uma teologia histórica que estuda a evolução e os
percalços da revelação e a Igreja no ir e vir da história
3. e uma teologia sistemática que aprofunda o dogma e o
etos, o espírito e a essência do cristianismo.
|
–
A TP é a doutrina teológica sobre as formas de
ação da Igreja ou teologia das ações eclesiais. Igreja como congregação de
todos os batizados. Estes são fundamentalmente sujeitos da atividade da Igreja
e portadores responsáveis de suas formas de ação.
–
A Igreja se constrói de cima por meio de Cristo e de
baixo pela fé e o amor de seus membros.
–
A meta da TP é tanto de natureza científica como prática;
compreende teologicamente a Igreja agindo pastoralmente e suas formas de ação
na palavra, no sacramento e na cura de almas.
Definição de Liégé (1921-1979): A TP é a
reflexão sistemática sobre o conjunto do mistério da Igreja no ato vivido
durante o tempo de seu crescimento; ou, a reflexão sistemática sobre as
diversas mediações que a Igreja realiza para a edificação do Corpo de Cristo.
Em suma: a TP é a ciência teológica da ação eclesial. A prática é um
constitutivo de toda a teologia.
|
3.7. A contribuição de Karl Rahner
–
A reflexão sobre a TP se enquadra no pensamento de
Rahner, especialmente de sua compreensão transcendental da historicidade. Aí a
pastoral não é mera administração da cristandade, mas como percepção e assunção
das possibilidades históricas da Igreja em relação à retomada e continuação do
anúncio cristão na história.
–
a pastoral nasce da consciência de que a situação
histórica é significativa para a vida da Igreja e do cristão.
–
A visão teológica da situação histórica é ligada à concepção
de revelação como autocomunicação de Deus.
–
Ligação entre Igreja e história é pensada
dialeticamente: por um lado, há uma ampla incompetência da Igreja e do cristão
com relação ao mundo, porque há uma diferença insuperável entre fé cristã e
realidade histórica; por outro lado, a ação eclesial e cristã no mundo é
pertinente e significativa exatamente nas formas do processo histórico.
–
Isto implica: não se podem deduzir da fé princípios
para decidir questões históricas concretas; mas a ação eclesial e cristã deve
ter incidência na história concreta não por meio de uma proclamação de
princípios, mas por um programa concreto de ação.
–
A elaboração de um programa de ação é a tarefa pastoral
da Igreja.
–
O valor da decisão no agir da Igreja e do cristão. Esta
não pode ser deduzida só por meio de princípios, mesmo que se parta deles; terá
sempre um aspecto de contingência e de risco, que derivam da escolha de uma
entre muitas possibilidades.
–
A decisão conta com o concurso do Espírito Santo, mas
seu horizonte não é puramente natural.
–
Tarefa teológica: elaborar criticamente o projeto da
vivência eclesial e cristã, abrindo horizontes... Não se trata de aplicar
princípios à realidade concreta.
–
A natureza teológica da tarefa pastoral comporta duas
condições: 1. preservar a natureza teológica do discurso, porque a elaboração
dos imperativos se dá dentro do horizonte da fé cristã; 2. realizar um
conhecimento efetivo da situação histórica particular, porque a ela se refere a
pastoral.
–
Não basta assim uma metodologia baseada exclusivamente
sobre a Escritura, Tradição e o Magistério (reflexão especulativa); exige-se
uma análise teológica da situação.
–
Para Rahner, não há TP sem análise teológica da
realidade!
- Definição de Rahner: “A TP é a ciência
teológica (isto é, que provém das fontes da revelação, é ‘normada’ pelo
magistério, possui um procedimento metódico, com finalidade sistemática e
utiliza os conhecimentos profanos como fazem as outras disciplinas teológicas)
que, com base numa análise científica, verdadeiramente teológica, da situação
concreta atual da Igreja (e ainda não adequadamente definida pelo direito),
desenvolve os princípios (e, quanto possível, os concretiza em imperativos)
segundo os quais a Igreja atua a própria essência nesta determinada (=atual)
situação e de tal modo realiza a própria ação salvífica”.
|
–
“reflexão teológica sobre o conjunto das atividades com
que a Igreja atua a si mesma, a fim de precisar como tais atividades deveriam
ser realizadas, levando em conta a natureza da Igreja e a situação concreta,
atual, da Igreja e do mundo”.
–
a TP é concebida por Rahner como ciência da
auto-realização da Igreja (objeto material), à luz teológica de cada situação
atual da Igreja e do mundo (objeto formal).
–
Objeto material da TP: a auto-realização da Igreja;
–
Objeto formal da TP: o presente da Igreja
–
A realidade histórica atual é o único horizonte no qual
o ser humano pode acolher livremente a autocomunicação de Deus.
O modelo teológico prevê:
1. uma reflexão eclesiológica e dogmática, que oferece
os princípios sempre válidos e que constituem como que ‘estruturas formais’
da realização da Igreja;
2. uma análise sócio-teológica da situação (pensada de
fato, sociologicamente, segundo métodos das ciências sociais, mas com a
ressalva que o resultado da análise sociológica deve ser interpretado
teologicamente).
|
3.8. Condições para um reconhecimento teológico da TP
ou T. Prática.
–
É preciso que a Teologia não reduza a pastoral ao
pré-científico ou que a teologia não se considere a única portadora de verdades
doutrinais.
–
É preciso reconhecer que na pastoral existe uma procura
da verdade: une a exigência da verdade e do rigor científico com a experiência
vivida, histórica.
–
A TP é incompatível com 1. a concepção da teologia
como conjunto de princípios que podem ser aplicados à pastoral e 2. com a
concepção de pastoral como mera regulamentação das atividades eclesiais ou do
pastor.
–
TP nasce da natureza da ação da Igreja presente na
história; é resultado de uma decisão, que distingue evangelho de forma
histórica do anúncio do evangelho; tem como questão o concretizar em situações
históricas determinadas o apelo absoluto do evangelho.
–
A TP tem a responsabilidade de refletir sobre os modos
de expressar a palavra de Deus em palavras humanas.
–
A TP tem o limite da provisoriedade; o sujeito deve
assumir sua própria subjetividade.
–
Em suma, é uma forma de distinguir o que o Espírito
fala à Igreja na história.
3.9. ESQUEMA ATUAL PARA
TEOLOGIA PRÁTICA
1. Missão (kerigma)
2. Catequese (didaskalia)
3. Liturgia (leitourgia)
|
4. Comunidade (koinonia)
5. Serviço (diakonia)
6. Diálogo (diálogo)
7. Testemunho (martyria)
|
Pe. Manoel Godoy
Síntese realizada no
dia 02/03/04, revista em 20/03/2006 e em 22/04/2007