3º semana da quaresma
Liturgia da Segunda Feira
III
SEMANA DA QUARESMA
(ROXO –
OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Minha alma anseia, até desfalecer, pelos átrios do
Senhor; meu coração e minha carne exultam pelo Deus vivo! (Sl 83,3)
Primeira Leitura (2 Reis
5,1-15)
Leitura do segundo livro dos Reis.
5 1 Naamã, general do exército
do rei da Síria, gozava de grande prestígio diante de seu amo, e era muito
considerado, porque, por meio dele, o Senhor salvou a Síria; era um homem
valente, mas leproso.
2 Ora, tendo os sírios feito uma incursão no território de Israel, levaram
consigo uma jovem, a qual ficou a serviço da mulher de Naamã.
3 Ela disse à sua senhora: "Ah, se meu amo fosse ter com o profeta que
reside em Samaria, ele o curaria da lepra!"
4 Ouvindo isso, Naamã foi e contou ao seu soberano o que dissera a jovem
israelita.
5 O rei da Síria respondeu-lhe: "Vai, que eu enviarei uma carta ao rei
de Israel". Naamã partiu com dez talentos de prata, seis mil siclos de
ouro e dez vestes de festa.
6 Levou ao rei de Israel uma carta concebida nestes termos: "Ao
receberes esta carta, saberás que te mando Naamã, meu servo, para que o cures
da lepra".
7 Tendo lido a missiva, o rei de Israel rasgou as vestes e exclamou:
"Sou eu porventura um deus, que possa dar a morte ou a vida, para que
esse me mande dizer que cure um homem da lepra? Vede bem que ele anda buscando
pretextos contra mim".
8 Quando Eliseu, o homem de Deus, soube que o rei tinha rasgado as vestes,
mandou-lhe dizer: "Por que rasgaste as tuas vestes? Que ele venha a mim,
e saberá que há um profeta em Israel".
9 Naamã veio com seu carro e seus cavalos e parou à porta de Eliseu.
10 Este mandou-lhe dizer por um mensageiro: "Vai, lava-te sete vezes no
Jordão e tua carne ficará limpa".
11 Naamã se foi, despeitado, dizendo: "Eu pensava que ele viria em
pessoa, e, diante de mim, invocaria o Senhor, seu Deus, poria a mão no lugar
infetado e me curaria da lepra.
12 Porventura os rios de Damasco, o Abana e o Farfar, não são melhores que
todas as águas de Israel? Não me poderia eu lavar neles e ficar limpo?"
E, voltando-se, retirou-se encolerizado.
13 Mas seus servos, aproximando-se dele, disseram-lhe: "Meu pai, mesmo
que o profeta te tivesse ordenado algo difícil, não o deverias fazer? Quanto
mais agora que ele te disse: Lava-te e serás curado".
14 Naamã desceu ao Jordão e banhou-se ali sete vezes, como lhe ordenara o
homem de Deus, e sua carne tornou-se tenra como a de uma criança.
15 Voltando então para o homem de Deus, com toda a sua comitiva, entrou,
apresentou-se diante dele e disse: "Reconheço que não há outro Deus em
toda a terra, senão o de Israel. Aceita este presente do teu servo".
Salmo responsorial 41/42
Minha alma tem sede de Deus, do
Deus vivo:
e quando verei a face de Deus?
Assim como a corça suspira pelas
águas correntes,
suspira igualmente minha alma
por vós, ó meu Deus!
A minha alma tem sede de Deus
e deseja o Deus vivo.
Quando terei a alegria de ver
a face de Deus?
Enviai vossa luz, vossa verdade:
elas serão o meu guia;
que me levem ao vosso monte santo,
até a vossa morada!
Então irei aos altares do
Senhor,
Deus da minha alegria.
Vosso louvor cantarei ao som da harpa,
meu Senhor e meu Deus!
Aclamação do Evangelho
Jesus Cristo, sois bendito, sois
o ungido de Deus Pai!
No Senhor ponho a minha esperança, espero em sua palavra. Pois no Senhor se
encontra toda graça e copiosa redenção (Sl 129,5.7).
Evangelho (Lucas 4,24-30)
4 24 Disse Jesus: "Em
verdade vos digo: nenhum profeta é bem aceito na sua pátria.
25 Em verdade vos digo: muitas viúvas havia em Israel, no tempo de Elias,
quando se fechou o céu por três anos e meio e houve grande fome por toda a
terra;
26 mas a nenhuma delas foi mandado Elias, senão a uma viúva em Sarepta, na
Sidônia.
27 Igualmente havia muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu;
mas nenhum deles foi limpo, senão o sírio Naamã".
28 A estas palavras, encheram-se todos de cólera na sinagoga.
29 Levantaram-se e lançaram-no fora da cidade; e conduziram-no até o alto do
monte sobre o qual estava construída a sua cidade, e queriam precipitá-lo
dali abaixo.
30 Ele, porém, passou por entre eles e retirou-se.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "Quando o
exemplo vem de fora..."
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito pelo Diácono José da Cruz )
Nos meus tempos de repórter,
certa ocasião fui á Delegacia fazer uma matéria sobre um ancião que havia
matado um jovem a marretadas, um crime brutal que revoltou a população. O
criminoso tinha mais de 70 anos e ficou detido alguns dias já que seu estado
de saúde era meio grave. Conversei com ele na sala do Delegado onde estava
depondo e me pediu para interceder por ele, para que o soltassem, pois
precisa tomar remédios para seu problema cardíaco. Na conversa, o ancião
disse que na cela onde estava, os demais presos o estavam ajudando, e como a
sua prisão não era ainda definitiva, naquela semana não vinha comida para
ele, e um dos detentos, cedia a marmita para ele na hora do almoço, se
alimentando com um pedaço de pão.
História que o carcereiro
confirmou-me mais tarde, dizendo que o rapagão que cedia a comida, ficava com
a barriga roncando de fome, e quando os outros comentavam ele dizia "A
danada da fome eu tenho e muita, mas me corta o coração ver o velhinho
doente, preso aqui com a gente, e ainda com fome". Um outro cedia o
cobertor quando percebia que de noite ele estava com frio.
Não procurei saber sobre a ficha
criminal dos dois companheiros solidários ao ancião, que ficou detido apenas
uma semana e depois saiu, para responder processo em liberdade. Mas é
interessante e até estranho notar que um marginal, que está pagando sua culpa
com a justiça, consiga sentir compaixão de alguém que sofre ao seu lado.
Longe de mim dizer que os dois são bonzinhos e que são um exemplo a serem
seguidos, mas neste gesto de bondade para com o companheiro de infortúnio, há
sem dúvida alguma uma abertura de coração para a GRAÇA e daí acontece algo de
bom: Deus se revela...
Qual era o problema da
comunidade de Lucas, e da comunidade judaica de sua cidade Nazaré? Exatamente
esse, o de não admitir que fora da comunidade houvesse revelações de Deus e
as pessoas o experimentassem. Um erro terrível que nós todos podemos cometer,
quando nos recusamos a ver as maravilhas de Deus acontecendo na vida de
outras pessoas, que não são da nossa Igreja e não professam a mesma Fé que
nós. O Sírio Naamã, curado da lepra pelo Profeta Elias, a viúva de Sarepta,
favorecida por um milagre do profeta Eliseu, são dois ótimos exemplos
lembrados por Jesus, e que causa ira nos da sua comunidade, uma ira tão
grande que pretendiam matá-lo... ainda mais quando Jesus afirma , que é o
próprio Deus que envia seus profetas a essas pessoas que não pertencem a
religião oficial.
Foi para eles que Jesus veio, e
com esses, portanto, deve ser o nosso compromisso maior enquanto Igreja de
Cristo, se sairmos dos limites da nossa comunidade iremos nos surpreender ao
encontrar pessoas exemplares, fiéis observadoras dos valores do evangelho, e
que dão um testemunho bastante convincente, estando sempre abertas para
acolher a Palavra de Deus e a colocá-la em prática, ao manifestar amor,
respeito e carinho com a vida dos irmãos e irmãs.
2. Fé na Palavra
Profética
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito por José Raimundo Oliva )
Dirigindo-se aos moradores de
Nazaré, Jesus evoca a memória dos dois profetas populares do antigo reino de
Israel, Elias e Eliseu. Elias entrou em confronto direto com o rei Acab e
Eliseu em confronto com Jorão, filho de Acab, articulando o fim de sua
dinastia.
Elias e Eliseu são a expressão
da defesa dos interesses dos pobres e excluídos diante dos poderosos, reis e
sacerdotes, que submetiam o povo através de ídolos e ideologias. A viúva de
Sarepta, que teve seu filho ressuscitado por Elias, e o sírio Naamã, que foi
curado da lepra por Eliseu, são dois gentios, estranhos ao povo de Israel,
que tiveram fé nos profetas. Em sua própria terra, Jesus defronta-se com o
povo cativo à doutrina dos fariseus difundida através das sinagogas. Como os
profetas, Jesus se empenha em libertar aqueles possuídos por este espírito
doutrinário, porém é incompreendido e rejeitado.
Oração
Pai, que eu saiba acolher Jesus e reconhecê-lo como de Filho de Deus, de modo
a tornar-me beneficiário de seu ministério messiânico.
3. A DUREZA DE CORAÇÃO
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório ).
A reação dos habitantes de
Nazaré, diante da pregação de Jesus, foi de aberta rejeição. Foi tal o
desprezo pelas palavras do Mestre, que eles decidiram eliminá-lo lançando-o
de um precipício.
É possível imaginar a decepção
de Jesus, diante da rejeição de seus conterrâneos. Ele tentou compreender a
situação, rememorando as experiências de profetas do passado que, rejeitados
por seu povo, foram bem acolhidos pelos estrangeiros. Assim aconteceu com
Elias: num tempo de seca e fome, beneficiou uma mulher estrangeira, da terra
dos sidônios. O mesmo sucedeu com Eliseu: curou da lepra um general sírio, ao
passo que, em Israel, essa doença vitimava muitas pessoas.
A conclusão de Jesus foi clara:
já que o povo de sua cidade insistia em não lhe dar atenção, ele sentiu-se
obrigado a ir em busca de quem estivesse disposto a acolhê-lo. Aos duros de
coração, no entanto, só restava o castigo.
Longe de nós seguirmos o exemplo
do povo de Nazaré. Jesus quer encontrar, em nós, abertura para acolhê-lo e
disponibilidade para converter-nos. Ninguém é obrigado a aceitar este
convite. Entretanto, fechar-se para Jesus significa recusar a proposta de
salvação que ele, em nome do Pai, veio nos trazer.
Oração
Espírito de docilidade, abre meu
coração para aceitar o convite à conversão, que Jesus me dirige, em nome do
Pai.
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Liturgia da Terça-Feira
III
SEMANA DA QUARESMA
(ROXO –
OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Eu vos chamo, meu Deus, porque me atendeis; inclinai
vosso ouvido e escutai-me. Guardai-me como a pupila dos olhos, à sombra das
vossas asas abrigai-me (Sl 16,6.8).
Primeira Leitura (Daniel
3,25.34-43)
Leitura da profecia de Daniel.
3 25 Azarias, em pé bem no meio
do fogo, fez a seguinte oração:
34 "Pelo amor de vosso nome, não nos abandoneis para sempre; não
destruais de modo algum vossa aliança.
35 Não nos retireis vossa misericórdia em consideração a Abraão, vosso amigo,
Isaac, vosso servo, Israel, vosso santo,
36 aos quais prometestes multiplicar sua descendência como as estrelas do céu
e a areia que se encontra à beira do mar.
37 Senhor, fomos reduzidos a nada diante das nações, fomos humilhados diante
de toda a terra: tudo, devido a nossos pecados!
38 Hoje, já não há príncipe, nem profeta, nem chefe, nem holocausto, nem
sacrifício, nem oblação, nem incenso, nem mesmo um lugar para vos oferecer
nossas primícias e encontrar misericórdia.
39 Entretanto, que a contrição de nosso coração e a humilhação de nosso
espírito nos permita achar bom acolhimento junto a vós, Senhor,
40 como (se nós nos apresentássemos) com um holocausto de carneiros, de
touros e milhares de gordos cordeiros! Que assim possa ser hoje o nosso
sacrifício em vossa presença! Que possa (reconciliar-nos) convosco, porque
nenhuma confusão existe para aqueles que põem em vós sua confiança.
41 É de todo nosso coração que nós vos seguimos agora, que nós vos
reverenciamos, que buscamos vossa face.
42 Não nos confundais; tratai-nos com vossa habitual doçura e com todas as
riquezas de vossa misericórdia.
43 Ponde em execução vossos prodígios para nos salvar, Senhor, e cobri vosso
nome de glória".
Salmo responsorial 24/25
Recordai, Senhor, a vossa
compaixão!
Mostrai-me, ó Senhor, vossos
caminhos
e fazei-me conhecer a vossa estrada!
Vossa verdade me oriente e me conduza,
porque sois o Deus da minha salvação.
Recordai, Senhor meu Deus, vossa
ternura
e a vossa compaixão, que são eternas!
De mim lembrai-vos, porque sois misericórdia
e sois bondade sem limites, ó Senhor!
O Senhor é piedade e retidão
e reconduz ao bom caminho os pecadores.
Ele dirige os humildes na justiça
e aos pobres ele ensina o seu caminho.
Aclamação do Evangelho
Jesus Cristo, sois bendito, sois
o ungido de Deus Pai!
Voltai ao Senhor, vosso Deus, ele é bom, compassivo e clemente (Jl 2,12s).
Evangelho (Mateus 18,21-35)
18 21 Então Pedro se aproximou
dele e disse: "Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando
ele pecar contra mim? Até sete vezes?"
22 Respondeu Jesus: "Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes
sete.
23 Por isso, o Reino dos céus é comparado a um rei que quis ajustar contas
com seus servos.
24 Quando começou a ajustá-las, trouxeram-lhe um que lhe devia dez mil
talentos.
25 Como ele não tinha com que pagar, seu senhor ordenou que fosse vendido,
ele, sua mulher, seus filhos e todos os seus bens para pagar a dívida.
26 Este servo, então, prostrou-se por terra diante dele e suplicava-lhe:
'Dá-me um prazo, e eu te pagarei tudo!'
27 Cheio de compaixão, o senhor o deixou ir embora e perdoou-lhe a dívida.
28 Apenas saiu dali, encontrou um de seus companheiros de serviço que lhe
devia cem denários. Agarrou-o na garganta e quase o estrangulou, dizendo:
'Paga o que me deves!'
29 O outro caiu-lhe aos pés e pediu-lhe: 'Dá-me um prazo e eu te pagarei!'
30 Mas, sem nada querer ouvir, este homem o fez lançar na prisão, até que
tivesse pago sua dívida.
31 Vendo isto, os outros servos, profundamente tristes, vieram contar a seu
senhor o que se tinha passado.
32 Então o senhor o chamou e lhe disse: 'Servo mau, eu te perdoei toda a
dívida porque me suplicaste.
33 Não devias também tu compadecer-te de teu companheiro de serviço, como eu
tive piedade de ti?'
34 E o senhor, encolerizado, entregou-o aos algozes, até que pagasse toda a
sua dívida.
35 Assim vos tratará meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu
irmão, de todo seu coração".
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "O coração não
pode estar preso a números..."
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito pelo Diácono José da Cruz )
Em seu coração, o apóstolo
Pedro, que sempre falava em nome do grupo, encontrou uma matemática com a
qual pensava surpreender Jesus. Sete, além de ser um número que simboliza a
plenitude, era o dobro de três, mais um. Três vezes era o número de vezes que
o Judeu Piedoso perdoava. Pedro dobra esse número e acrescenta mais um,
esperando, quem sabe, que o Mestre lhe moderasse aquele ímpeto de perdoar
além do que era estabelecido.
Entretanto, a Matemática de
Jesus é infinita e plena de misericórdia quando se trata de perdão, e Jesus
simplesmente multiplica setenta vezes o número apresentado, mostrando que se
deve perdoar sempre, em um amor gratuito, incondicional e sem medidas e
ilustra o seu ensinamento com a parábola do Rei que perdoou uma fortuna que
um servo lhe devia, pois naquele tempo, quando não se tinha recursos para o
pagamento de uma dívida, simplesmente o devedor sem tornava escravo
juntamente com toda sua família.
Nossa dívida para com Deus era
impagável, mas em vez de nos fazer seus escravos por toda a vida, Ele nos fez
Filhos e Filhas, em
Jesus Cristo que assumindo a natureza humana, pagou toda a
dívida por nós e por isso, pertencemos a Cristo, que abrindo mão desse
Domínio e soberania, nos fez seus irmãos. Sabedor disso, o cristão deve
manifestar exatamente esse amor sem medidas, com os irmãos e irmãs, e aqui
podemos trazer a reflexão em nível de comunidade onde jamais deve nos faltar
o perdão que decorre do amor, que é a nossa identidade de discípulos do
Senhor. "Nisso reconhecereis que sois meus discípulos, se vos amardes
uns aos outros como eu vos amei".
O problema é que, embora nosso
coração pertença a Cristo, nossa cabeça pensa como Pedro, amamos mais a uns,
aos quais somos até capazes de perdoar, em um gesto heróico, mas a outros nem
tanto... E até na comunidade fazemos sempre uma seleção das pessoas que nos
são queridas, quanto aos outros, usamos uma calculadora, porque não
conseguimos passar dos limites como Jesus nos ensina... Nosso coração se
quiser ser manso e humilde como o de Jesus, não pode estar atrelado a números
e quantidades, quando se trata do amor...
2. O perdão é fonte de
misericórdia
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito por José Raimundo Oliva )
Esta parábola exclusiva de
Mateus caberia também em Lucas, que é o evangelista que mais acentua o amor
misericordioso de Deus, revelado em Jesus. A parábola exprime que a fonte da
misericórdia é o perdão de Deus, concedido a quem a Ele recorre. Cabe àqueles
que foram libertados por este perdão comunicá-lo a outros. Isto é próprio de
um coração generoso e agradecido. O perdão é desejado por Jesus não só como
reconciliação entre duas pessoas, mas como a prática que consolida a
comunidade, tornando-a um espaço de alegria e paz.
Oração
Pai, é meu desejo imitar teu modo de agir, no tocante ao perdão. Faze-me ser
pródigo e misericordioso em relação ao próximo que precisa do meu perdão.
3. ATÉ QUANDO PERDOAR?
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório ).
Conviver é uma arte. Não basta
boa vontade e paciência para que o relacionamento interpessoal seja perfeito.
Embora com todas as precauções, é grande a possibilidade de desentendimento
entre pessoas amigas, e até mesmo entre cristãos convictos.
Entretanto, a questão não reside
na ruptura, e sim, na disposição a refazer os laços de amizade rompidos.
Ninguém pode garantir que uma única reconciliação seja suficiente para
cimentá-los, para sempre. É possível que outras rupturas aconteçam, pelo
mesmo motivo. A tendência humana é impor limites bem definidos a esta
situação. "A paciência tem limite" - assim justificamos a ruptura
definitiva.
O discípulo de Jesus defronta-se
com a lição de perdoar, toda vez que for ofendido. É exortado a fazer frente
a uma tendência humana muito forte, a de não perdoar. O motivo apresentado
pelo Mestre é inquestionável: é assim que somos perdoados pelo Pai. Quem se
julga tão fiel a Deus a ponto de estar seguro de jamais correr o risco de
pecar? Só um insensato poderá ter tal pretensão.
Todos somos pecadores e
precisamos do perdão de Deus. Da mesma forma, quando alguém precisar do nosso
perdão, por respeito a Deus somos obrigados a concedê-lo. Trata-se de dar o
que também recebemos.
Oração
Espírito de perdão, liberta-me da
tendência a colocar limites ao perdão. Pelo contrário, que eu esteja sempre
pronto a perdoar a quem me ofendeu.
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Liturgia da
Quarta-Feira
III
SEMANA DA QUARESMA
(ROXO –
OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Orientai meus passos, Senhor, segundo a vossa palavra,
e que o mal não domine sobre mim! (Sl 118,133)
Primeira Leitura
(Deuteronômio 4,1.5-9)
Leitura do livro do Deuteronômio.
4 1 "E agora, ó Israel,
ouve as leis e os preceitos que hoje vou ensinar-vos. Ponde-os em prática
para que vivais e entreis na posse da terra que o Senhor, Deus de vossos
pais, vos dá.
5 Vede: ensinei-vos leis e ordenações, conforme o Senhor, meu Deus, me
ordenou, a fim de as praticardes na terra que ides possuir.
6 Observai-as, praticai-as, porque isto vos tornará sábios e inteligentes aos
olhos dos povos, que, ouvindo todas essas prescrições, dirão: 'eis uma grande
nação, um povo sábio e inteligente'.
7 Haverá, com efeito, nação tão grande, cujos deuses estejam tão próximos de
si como está de nós o Senhor, nosso Deus, cada vez que o invocamos?
8 Qual é a grande nação que tem mandamentos e preceitos tão justos como esta
lei que vos apresento hoje?
9 Guarda-te, pois, a ti mesmo: cuida de nunca esquecer o que viste com os
teus olhos, e toma cuidado para que isso não saia jamais de teu coração,
enquanto viveres; e ensina-o aos teus filhos, e aos filhos de teus
filhos".
Salmo responsorial
147/147B
Glorifica o Senhor, Jerusalém!
Glorifica o Senhor, Jerusalém!
Ó Sião, canta louvores ao teu Deus!
Pois reforçou com segurança as atuas portas
e os teus filhos em teu seio abençoou.
Ele envia suas ordens para a
terra,
e a palavra que ele diz corre veloz.
Ele faz cair a neve como lã
e espalha a geada como cinza.
Anuncia a Jacó sua palavra,
seus preceitos e suas leis a Israel.
Nenhum povo recebeu tanto carinho,
a nenhum outro revelou os seus preceitos.
Aclamação do Evangelho
Glória a Cristo, palavra eterna
do Pai, que é amor!
Senhor, tuas palavras são espírito, são vida; só tu tens palavras de vida
eterna! (Jo 6,63.68)
Evangelho (Mateus 5,17-19)
5 17 Naquele tempo, disse Jesus
aos seus discípulos: "Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas.
Não vim para os abolir, mas sim para levá-los à perfeição.
18 Pois em verdade vos digo: passará o céu e a terra, antes que desapareça um
jota, um traço da lei.
19 Aquele que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar
assim aos homens, será declarado o menor no Reino dos céus. Mas aquele que os
guardar e os ensinar será declarado grande no Reino dos céus".
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "Santos
Mandamentos de Deus"
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito pelo Diácono José da Cruz )
Confesso que no método de
catequese da "Decoreba", nunca consegui tirar dez quando a
catequista perguntava sobre os mandamentos de Deus e depois sobre os cinco da
Igreja e não tenho vergonha de dizer que, se for responder ali na
"lata", ainda vou me enroscar. Entretanto é bom que se diga que o
problema estava no método e não no conteúdo, claro que nos anos 60 esse
método servia. Hoje é quase impossível continuar-se com essa catequese
conceitual e formulativa.
Quando a Igreja se preocupa hoje
em rever e modificar o método de catequese, adequando-o ao nosso contexto,
ela não está "jogando fora" todo o ensinamento doutrinal da
Tradição, o conteúdo doutrinal, que, aliás, é riquíssimo, continua o mesmo, a
mudança está apenas no método, como apresentar tudo isso as crianças e aos
catecúmenos nesses tempos da pós modernidade.
O mesmo acontecia no tempo da
vida pública de Jesus, quando os seus opositores o acusavam de não seguir e
obedecer a Sagrada Lei de Moisés e de querer acabar com ela. No evangelho de
hoje o evangelista Mateus coloca na boca de Jesus a afirmação que quer
recolocar as coisas nos seus devidos lugares "Não vim para abolir a Lei
e os Profetas, mas para levá-los á sua perfeição".
Ninguém tem autoridade para
alterar a lei, ou manipulá-la de acordo com suas conveniências; possivelmente
na comunidade de Mateus onde esse evangelho foi refletido, haviam pessoas
zelosas e bastante preocupadas com a tradição apostólica que trazia em si a
Tradição de Israel, a Lei e os Profetas. O Cristianismo a princípio era uma
seita dentro do Judaísmo e as coisas não aconteceram da noite para o dia,
foram muitos anos até que o Cristianismo tivesse uma identidade própria. Com
toda certeza a comunidade vivia esse dilema: abrir-se totalmente para a
Plenitude que é Jesus ressuscitado e a novidade do evangelho, ou manter a
raiz em Israel, seguindo a Lei de Moisés?
Hoje entendemos a importância e
o valor do Antigo Testamento, caminho seguro percorrido pelos Santos Homens e
pelo Povo de Deus, para se chegar a Jesus Cristo, desta forma nada se pode
acrescentar e nem diminuir neste legado de Fé da Antiga Aliança, o Novo
Testamento ilumina o Antigo e o Antigo ilumina o Novo, pensar que a História
da Salvação tem o seu início na Encarnação do Verbo, e desprezar a
experiência de Fé de todos os que nos antecederam, seria o mesmo que destruir
o alicerce, as vigas mestras de uma construção, onde o Edifício virá
abaixo...
2. A novidade do Reino
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito por José Raimundo Oliva )
Após a proclamação das
bem-aventuranças, Mateus, no Sermão da Montanha, apresenta o ensinamento de
Jesus sobre a novidade do Reino dos Céus. O ingresso no Reino implica novas
práticas que superam as tradições que refletem puros interesses humanos, tanto
gentílicas como judaicas.
Neste texto de hoje, Mateus
relaciona a Lei e os Profetas com os mandamentos das Bem-aventuranças. Dessa
maneira ele prepara as seis contraposições entre a Lei e o Reino dos Céus,
que virão a seguir, introduzidas por: "Ouvistes o que foi dito aos
antigos... eu, porém, vos digo". Com sua redação, Mateus procura mostrar
às suas comunidades originárias do judaísmo que suas esperanças estão se
realizando na novidade do Reino dos Céus. Jesus vem para cumprir a Lei e os
profetas. Contudo, este cumprimento se dá por uma conversão radical às novas
práticas das bem-aventuranças proclamadas por Jesus.
Estas são os novos mandamentos a
serem vivenciados na humildade e no amor. A prática e o ensinamento destes
mandamentos correspondem à nova justiça, muito superior do que a dos escribas
e fariseus, e significam a entrada no Reino dos Céus.
Oração
Pai, livra-me do perigo de reduzir minha obediência aos teus mandamentos à
execução mecânica de gestos exteriores. Revela-me, cada vez mais profundamente,
a tua vontade.
3. GRANDE E PEQUENO NO REINO
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório ).
A liberdade de Jesus, frente à
Lei de Moisés, dava a falsa impressão de que os discípulos estivessem
liberados para agir a seu bel-prazer. Os adversários do Mestre, que esperavam
dele submissão absoluta à tradição legal, ficavam decepcionados quando o viam
agir de uma forma inusitada, em pleno desacordo com o costume da época. No
parecer deles, o agir de Jesus beirava a impiedade.
O Mestre tenta corrigir esta
distorção, afirmando não ter vindo para abolir a Lei e os Profetas, e sim,
para dar-lhes pleno cumprimento. Pelo contrário, ele exorta os discípulos a
não transgredirem os mandamentos, por menor que sejam, para não serem
considerados menores no Reino dos Céus. Estaria Jesus confessando-se
legalista, e levando seus discípulos a competirem com o legalismo dos
escribas e fariseus?
A exortação do Mestre deve ser
entendida no contexto global de sua pregação. Quando se refere ao respeito à
Lei e aos Profetas, está pensando na Lei como ele a entende: o desígnio
original do Pai para nortear a vida humana, e não o amontoado de prescrições às
quais os legalistas se submetiam. Jesus supera a letra da Lei, para
atingir-lhe o espírito. Neste sentido, é grande quem se atém ao espírito da
Lei e a cumpre com radicalidade; é pequeno quem a despreza, pois estará
desprezando o próprio Deus.
Jesus foi grande, porque toda
sua vida consistiu em cumprir a vontade de seu Pai, mesmo tendo de padecer a
morte de cruz.
Oração
Espírito de obediência, guia-me a uma
submissão sempre maior ao querer do Pai, de modo que eu possa ser considerado
grande no Reino dos Céus.
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Liturgia da
Quinta-Feira — 15.03.2012
III
SEMANA DA QUARESMA
(ROXO –
OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Eu sou a salvação do povo, diz o Senhor: quando, em
qualquer aflição, clamarem por mim, eu os ouvirei e serei seu Deus para sempre.
Primeira Leitura (Jeremias
7,23-28)
Leitura do livro do profeta Jeremias.
Assim fala o Senhor: 7 23
"Foi esta a única ordem que lhes dei: escutai minha voz: serei vosso
Deus e vós sereis o meu povo; segui sempre a senda que vos indicar, a fim de
que sejais felizes.
24 Eles, porém, não escutaram, nem prestaram ouvidos, seguindo os maus
conselhos de seus corações empedernidos; voltaram-me as costas em lugar de me
apresentarem seus rostos.
25 Desde o dia em que vossos pais deixaram o Egito até agora, enviei-vos
todos os meus servos, os profetas. Todos os dias sem cessar os mandei.
26 Eles, porém, não os escutaram, nem lhes deram atenção; endureceram a
cerviz e procederam pior que os pais.
27 Quando tudo isso lhes transmitires, também a ti não escutarão.
Chamá-los-ás e não obterás resposta.
28 Dir-lhes-ás então: 'Esta é a nação que não escuta a voz do Senhor, seu
Deus, e não aceita suas advertências. A lealdade desapareceu, tendo sido
banida de sua boca'".
Salmo responsorial 94/95
Oxalá ouvísseis hoje a voz do
Senhor:
não fecheis os vossos corações.
Vinda, exultemos de alegria no
Senhor,
aclamemos o rochedo que nos salva!
Ao seu encontro caminhemos com louvores
e, com cantos de alegria, o celebremos!
Vinde, adoremos e prostremo-nos
por terra,
e ajoelhemos ante o Deus que nos criou!
Porque ele é o nosso Deus, nosso pastor,
e nós somos o seu povo e seu rebanho,
as ovelhas que conduz com sua mão.
Oxalá ouvísseis hoje a sua voz:
"Não fecheis os corações como em Meriba,
como em Massa, no deserto, aquele dia,
em que outrora vossos pais me provocaram,
apesar de terem visto as minhas obras".
Aclamação do Evangelho
Jesus Cristo, sois bendito, sois
o ungido de Deus Pai!
Voltai ao Senhor, vosso Deus, ele é bom, compassivo e clemente (Jl 2,12s).
EVANGELHO (Lucas 11,14-23)
Naquele tempo, 11 14 Jesus
expelia um demônio que era mudo. Tendo o demônio saído, o mudo pôs-se a falar
e a multidão ficou admirada.
15 Mas alguns deles disseram: "Ele expele os demônios por Beelzebul,
príncipe dos demônios".
16 E para pô-lo à prova, outros lhe pediam um sinal do céu.
17 Penetrando nos seus pensamentos, disse-lhes Jesus: "Todo o reino
dividido contra si mesmo será destruído e seus edifícios cairão uns sobre os
outros.
18 Se, pois, Satanás está dividido contra si mesmo, como subsistirá o seu
reino? Pois dizeis que expulso os demônios por Beelzebul.
19 Ora, se é por Beelzebul que expulso os demônios, por quem o expulsam
vossos filhos? Por isso, eles mesmos serão os vossos juízes!
20 Mas se expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente é chegado a vós o
Reino de Deus.
21 Quando um homem forte guarda armado a sua casa, estão em segurança os bens
que possui.
22 Mas se sobrevier outro mais forte do que ele e o vencer, este lhe tirará
todas as armas em que confiava, e repartirá os seus despojos.
23 Quem não está comigo, está contra mim; quem não recolhe comigo,
espalha".
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "Quando o Mal se
camufla de Bem..."
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito pelo Diácono José da Cruz )
Lembrando meus tempos de
repórter, tinha um conhecido que traficava drogas, gente boa, não bebia e nem
fumava, mas de vez em quando era pego com a boca na botija e permanecia 5 a 10 anos
"engaiolado". Certa ocasião, em respeito a nossa amizade ele quis
ajudar-me e me falou "Olha, se algum malandro entrar na sua casa ou
tentar te assaltar ou fazer algum mal a alguém da sua família, diga pro
sujeito que você é meu amigo e ele vai se borrar de medo deixando você em
paz..."
Alguém que me dá segurança e
proteção, só pode estar do lado do Bem, nada disso! É impossível navegar com
o pé em duas canoas, ou eu pratico o Bem ou então o Mal. Não tem como fazer
os dois ao mesmo tempo. Nesse caso do meu amigo "Vida Torta" a
segurança que ele me oferecia era fruto da violência que ele cometia contra
as Vidas dos Viciados e quem destrói a Vida do outro em benefício próprio
está comprometido com o Mal e não com o Bem.
As ações de Jesus todas elas são
libertadoras, resgatando ao ser humano a sua dignidade, ele tem poder sobre
todas as forças que oprimem e escravizam o homem e por isso as multidões
ficam admiradas quando vêem a total transformação de quem foi por ele liberto
e curado. Mas há um grupo de pessoas que Jesus não consegue convencer, elas
estão sempre por perto, prontas para o acusar, buscando argumentos para
condená-lo á morte e chegam ao absurdo de desvirtuarem a ação libertadora,
vendo nela uma força opressora, pois o demônio jamais liberta, ele só oprime
e escraviza.
A ação libertadora de Jesus é a
prova incontestável de que o Reino chegou e nele devem engajar-se todos os que
desejam a salvação e a libertação de tudo quanto oprime e escraviza. Afirmar
que se está do lado de Jesus, mas não mover uma agulha para que a ação
libertadora aconteça na vida do outro, é certamente uma grande incoerência.
Cristão que não busca a valorização da Vida, a preservação da dignidade
humana, e o respeito pelo ser humano, pode até participar comunidade, mas
pertence ao outro "time". Nesta lista entram também todos os que se
omitem e até na comunidade ficam de boca calada, preferindo não dar sua opinião,
para não ser criticado. Estes também estão possessos do demônio que os torna
mudos e omissos.
Na comunidade, no mundo do
trabalho, na política, nas instituições governamentais, está "assim
ó" de mudos e mudas, omissos e omissas, que em fins de semana, da boca
prá fora dizem o seu amém ao receberem uma Eucaristia que não vivem...
2. Sinais de libertação
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito por José Raimundo Oliva )
Os sinais libertadores (curas e
exorcismos) operados por Jesus suscitam a admiração de muitos nas multidões.
Mas também suscitam o ódio de alguns que têm o poder religioso e econômico
nas mãos e temem a libertação do povo.
Assim, pretendem difamar Jesus
diante do povo acusando-o de estar sob o poder de Beelzebu. Jesus responde
que suas ações são feitas pelo dedo de Deus, libertando os possuídos pelo
sistema opressor do Templo e das sinagogas, revelando a chegada do Reino de
Deus.
Somos libertados por Deus, em
Jesus, para sermos agentes da transformação deste mundo em um mundo novo em
que a ambição do dinheiro que promove o horror da guerra ceda lugar à
fraternidade, à partilha e à paz.
Oração
Pai, transforma-me em instrumento de teu amor misericordioso, a exemplo de
Jesus. Por onde eu passar, possa ser testemunha de que teu Reino já chegou
para nós.
3. ADMIRAÇÃO E SUSPEITA
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório ).
Embora agisse com absoluta
boa-fé, a ação de Jesus foi alvo de interpretações desencontradas. As
multidões ficavam maravilhadas diante de seus gestos poderosos. O caso da
libertação de um homem mantido escravo pelo demônio, que o impedia de falar,
era um, entre tantos. O povo começava a perceber algo de extraordinário,
presente na ação de Jesus. Sem dúvida, a mão de Deus estava agindo por meio
dele. Esta percepção constituia o primeiro passo para a fé.
Outros, porém, viam as coisas de
modo diferente, e acusavam o Mestre de estar agindo em conluio com Belzebu.
Por isso, colocavam-no sob suspeita. Na visão deles, os milagres de Jesus
eram só aparentes; quem acreditava neles, corria o risco de afastar-se de
Deus. A beleza desses milagres era como que uma capa que impedia as pessoas
de se darem conta das reais intenções do Mestre. Por trás dessa capa bonita,
ocultava-se um inimigo de Deus, que só buscava fazer adeptos.
Jesus não ficava indiferente,
quando seu ministério era objeto de falsas interpretações. Afinal, os que o
colocavam sob suspeita, estavam questionando o núcleo de sua ação: a
obediência e a submissão ao Pai. Sem elas, toda a vida de Mestre não teria
mais sentido, e sua condição de Messias, Filho de Deus, não passaria de uma
impostura.
Ao maravilhar-se da ação de
Jesus, o discípulo reconhece Deus agindo por meio dele, e se abre para
acolhê-lo na fé.
Oração
Espírito de compreensão, coloca-me,
cava vez mais, em sintonia com Jesus, para eu poder perceber o verdadeiro
sentido do seu agir.
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Liturgia da Sexta-Feira
III
SEMANA DA QUARESMA
(ROXO –
OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Senhor, não há entre os deuses nenhum que se vos
compare, porque sois grande e fazeis maravilhas: só vós, Senhor, sois Deus
(Sl 85,8.10).
Primeira Leitura (Oséias
14,2-10)
Leitura da profecia de Oseias.
Assim fala o Senhor: 14 2
"Muni-vos de palavras (de súplicas) e voltai ao Senhor. Dizei-lhe:
'Perdoai todos os nossos pecados, acolhei-nos favoravelmente. Queremos
oferecer em sacrifício a homenagem de nossos lábios.
3 O assírio não nos salvará, não mais montaremos nossos cavalos, e não mais
teremos como Deus obra alguma de nossas mãos, porque só junto de vós encontra
o órfão compaixão.
4 Curarei a sua infidelidade, amá-los-ei de todo o coração, (porque minha
cólera apartou-se deles)'.
5 Serei para Israel como o orvalho; ele florescerá como o lírio, e lançará
raízes como o álamo.
6 Seus galhos estender-se-ão ao longe, sua opulência igualará à da oliveira e
seu perfume será como o odor do Líbano.
7 (Os de Efraim) virão sentar-se à sua sombra. Cultivarão o trigo. Crescerão
com a vinha. E serão famosos como o vinho do Líbano.
8 Que terá ainda Efraim de comum com os ídolos? Eu mesmo, que o afligi,
torná-lo-ei feliz. Eu sou como o cipreste sempre verde: graças a mim é que
produzes fruto.
9 Quem é sábio atenda a estas coisas! Que o homem inteligente reflita nelas,
porque os caminhos do Senhor são retos. Os justos andam por eles, mas os
pecadores neles tropeçam".
Salmo responsorial 80/81
Ouve, meu povo, porque eu sou o
teu Deus!
Eis que ouço uma voz que não
conheço:
"Aliviei as tuas costas de seu fardo,
cestos pesados eu tirei de tuas mãos.
Na angústia a mim clamaste, e te salvei.
De uma nuvem trovejante te falei
e junto às águas de Meriba te provei.
Ouve, meu povo, porque vou te advertir!
Israel, ah! se quisesses me escutar.
Em teu meio não exista um deus
estranho,
nem adores a um deus desconhecido!
Porque eu sou o teu Deus e teu Senhor,
que da terra do Egito te arranquei.
Quem me dera que meu povo me
escutasse!
Que Israel andasse sempre em meus caminhos.
Eu lhe daria de comer a flor do trigo
e com o mel que sai da rocha o fartaria".
Aclamação do Evangelho
Glória a vós, Senhor Jesus,
primogênito dentre os mortos!
Convertei-vos, nos diz o Senhor, está próximo o reino de Deus! (Mt 4,17)
EVANGELHO (Marcos 12,28-34)
Naquele tempo, 12 28 achegou-se
de Jesus um dos escribas que os ouvira discutir e, vendo que lhes respondera
bem, indagou dele: "Qual é o primeiro de todos os mandamentos?"
29 Jesus respondeu-lhe: "O primeiro de todos os mandamentos é este:
Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor;
30 amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de
todo o teu espírito e de todas as tuas forças.
31 Eis aqui o segundo: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Outro mandamento
maior do que estes não existe".
32 Disse-lhe o escriba: "Perfeitamente, Mestre, disseste bem que Deus é
um só e que não há outro além dele.
33 E amá-lo de todo o coração, de todo o pensamento, de toda a alma e de
todas as forças, e amar o próximo como a si mesmo, excede a todos os
holocaustos e sacrifícios".
34 Vendo Jesus que ele falara sabiamente, disse-lhe: "Não estás longe do
Reino de Deus". E já ninguém ousava fazer-lhe perguntas.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "Um Escriba
Fiel..."
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito pelo
Diácono José da Cruz )
Nem todos os Escribas, Fariseus
e Doutores da Lei eram cabeças duras e não aceitavam os ensinamentos de
Jesus, alguns tinham o coração mais aberto e nutriam pelo Mestre grande
admiração e carinho. Assim, não se pode generalizar, em todas as classes e
categorias de pessoas há as sensatas e as insensatas, os que crêem e os que
são indiferentes, os que buscam algo novo e vislumbram isso em Deus, e os que
se prendem simplesmente a matéria, rejeitando qualquer experiência mística.
O escriba que hoje Marcos
apresenta no evangelho é alguém bem intencionado, embora a pergunta seja um
tanto capciosa. A Lei de Moisés tinha 613 mandamentos, sendo 365 negativos e
248 positivos, que eram as obrigações de um Israelita. Entre os 613 qual era
o primeiro em termos de importância, é o que quer saber aquele Homem das
Letras...
Jesus não revoga 611
mandamentos, ao contrário, de forma magistral apresenta uma belíssima síntese
de todo conteúdo Mosaico. "Ouve, Israel, o Senhor, Nosso Deus, é o único
Senhor: amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma,
de todo o teu Espírito e de todas as tuas forças. Eis aqui o segundo: Amarás
o teu próximo como a ti mesmo. Outro mandamento maior que estes não existe.
O Escriba não só concorda com a
afirmativa de Jesus, como vai repeti-la e fazer uma hermenêutica: se estes
dois mandamentos não forem praticados, inútil será diante de Deus qualquer
sacrifício ou holocausto! Por esta razão Jesus vai dizer a ele "Não
estás longe do Reino de Deus".
Ficamos longe do Reino de Deus,
quando deturpamos os ensinamentos do evangelho a nosso bel prazer, ficamos
longe do Reino de Deus quando fazemos uma interpretação equivocada sobre a
Lei do amor, imaginando que são dois amores ou duas formas de amar, em
momentos diferentes e circunstâncias diferentes. Ficamos longe do Reino de
Deus quando pensamos que nossas práticas piedosas e nossas celebrações são
manifestações do nosso amor a Deus, achando que isso é mais que suficiente.
Enfim, ficamos longe de Deus
quando deixamos de amar o próximo, mas nos iludimos com nossa prática
religiosa, achando que estamos amando a Deus. Quando assim agimos, som os
mentirosos e enganadores, segundo São João! Quanto mais perto do próximo,
mais perto de Deus e do seu Reino.
2. Amor em ações a favor
dos irmãos
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva )
Jesus encontra-se em Jerusalém. Os
últimos embates com os chefes religiosos do judaísmo são encerrados com este
diálogo. O diálogo é aparentemente harmonioso, mas pode encobrir uma
simulação da parte do escriba. Jesus, percebendo certo interesse do escriba,
lhe dirige uma palavra de estímulo na busca do Reino. Com a sábia resposta de
Jesus ninguém mais tinha coragem de fazer-lhe perguntas.
Jesus, em sua resposta, reúne um mandamento do Deuteronômio (6,4-5), o amor a
Deus, e um mandamento do Levítico (19,18), o amor ao próximo. Ambos são
equivalentes. O amor a Deus só é verdadeiro quando concretizado em ações a
favor dos irmãos, particularmente os mais necessitados.
Oração
Senhor Jesus, que o Reino aconteça sempre mais em minha vida, pela vivência
radical do amor a Deus e ao próximo.
3. A PRIMAZIA DO AMOR
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório ).
É de se admirar que um escriba -
mestre da Lei - tenha-se colocado diante de Jesus, na posição de discípulo.
Os escribas eram reconhecidos como pessoas sábias. Por conseguinte, capazes
de interpretar a Lei e descobrir-lhe sentidos novos. O povo consultava-os
quando tinham dúvidas. Por sua vez, os escribas tinham consciência de sua
posição elevada.
O escriba, que sabia dar
respostas a tantas questões complicadas, tinha, agora, sérias dúvidas a
respeito de uma questão fundamental: qual ação humana mais agrada a Deus, e
coloca o ser humano em comunhão com o Pai?
A resposta de Jesus é como que o
resumo de toda a Escritura: amar a Deus, consagrando-se totalmente a ele, e
amar ao próximo como a si mesmo. Estes são os dois eixos da religião que
agrada a Deus. Tudo o mais será complemento e terá valor relativo. É preciso
dar primazia ao amor!
A preocupação do mestre da Lei
tinha sua razão de ser. Com muita facilidade, no caminho para Deus, o ser
humano embrenha-se por atalhos, abandonando a estrada principal. Deixando de
lado o caminho do amor a Deus e ao próximo, por mais que alguém se esforce,
jamais alcançará a meta almejada. Só o caminho do amor pode levar-nos ao
destino esperado: o Pai.
Oração
Espírito de conhecimento, conduze-me sempre pelo caminho do amor, o único que
pode me levar até o Pai.
|
III
SEMANA DA QUARESMA *
(ROXO –
OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Bendize, ó minha alma, ao Senhor, não esqueças nenhum
dos seus benefícios: é ele quem te perdoa todas as ofensas (Sl 102,2s).
Primeira Leitura (Oséias
6,1-6)
Leitura da profecia de Oséias.
6 1 "Vinde, voltemos ao
Senhor, ele feriu-nos, ele nos curará; ele causou a ferida, ele a pensará.
2 Dar-nos-á de novo a vida em dois dias; ao terceiro dia levantar-nos-á, e
viveremos em sua presença.
3 Apliquemo-nos a conhecer o Senhor; sua vinda é certa como a da aurora; ele
virá a nós como a chuva, como a chuva da primavera que irriga a terra".
4 Que te farei, Efraim? Que te farei, Judá? Vosso amor é como a nuvem da
manhã, como o orvalho que logo se dissipa.
5 Por isso é que os castiguei pelos profetas, e os matei pelas palavras de
minha boca, e meu juízo resplandece como o relâmpago,
6 porque eu quero o amor mais que os sacrifícios, e o conhecimento de Deus
mais que os holocaustos.
Salmo responsorial 50/51
Eu quis misericórdia e não o
sacrifício!
Tende piedade, ó meu Deus,
misericórdia!
Na imensidão de vosso amor, purificai-me!
Lavai-me todo inteiro do pecado
e apagai completamente a minha culpa!
Pois não são de vosso agrado os
sacrifícios,
e, se oferto um holocausto, o rejeitais.
Meu sacrifício é minha lama penitente,
não desprezeis um coração arrependido!
Sede benigno com Sião, por vossa
graça,
reconstruí Jerusalém e os seus muros!
E aceitareis o verdadeiro sacrifício,
os holocaustos e oblações em vosso altar!
Aclamação do Evangelho
Honra, glória poder e louvor a
Jesus, nosso Deus e Senhor!
Oxalá ouvísseis hoje a sua voz: não fecheis os corações como em Meriba! (Sl
94,8)
Evangelho (Lucas 18,9-14)
9 Jesus lhes disse ainda esta
parábola a respeito de alguns que se vangloriavam como se fossem justos, e
desprezavam os outros:
10 Subiram dois homens ao templo para orar. Um era fariseu; o outro,
publicano.
11 O fariseu, em pé, orava no seu interior desta forma: Graças te dou, ó
Deus, que não sou como os demais homens: ladrões, injustos e adúlteros; nem
como o publicano que está ali.
12 Jejuo duas vezes na semana e pago o dízimo de todos os meus lucros.
13 O publicano, porém, mantendo-se à distância, não ousava sequer levantar os
olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem piedade de mim, que
sou pecador!
14 Digo-vos: este voltou para casa justificado, e não o outro. Pois todo o
que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "Uma oração que
não chega ao coração de Deus"
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito pelo Diácono José da Cruz )
Usemos o nosso imaginário: se
nossas orações fossem e-mails enviados para Deus, as orações do tipo desse
Fariseu não teriam a menor chance, ou voltariam por estar com a caixa de
correio lotada, ou simplesmente seria deletada e iria parar na lixeira.
Não é que Deus se chateie
ouvindo tais orações, acontece que não há o que atender, simplesmente porque
não há nenhum pedido, podem notar. E não se trata de uma bela oração de ação
de graças como aparenta ser, mas é uma oração arrogante e soberba, de quem se
considera perfeito e melhor do que todos os outros homens. Às vezes corremos
o risco de fazer operações desse tipo, quando no comparamos aos outros: que
não são casados na igreja, que não são batizados, que não freqüentam a comunidade,
que não ofertam o dízimo, que não receberam os sacramentos, ou quando
exaltamos o nosso trabalho e achamos que, se cruzarmos os braços a comunidade
ou a pastoral vai fechar as portas. Isso também é oração de arrogância!
Não sei se o Publicano ia ao
tempo orar, mas Jesus certamente conhecia muitos publicanos, pois até jantava
com eles, e via em alguns deles o desejo sincero de buscar a Deus, a partir
do reconhecimento de que eram pecadores. Ficar no último lugar é sentir-se
pequeno e sem valor, é não ter com o que ou com quem contar a não ser com a
misericórdia de Deus.
Esta deve ser a autêntica
postura de um cristão em oração, e não precisa se perder a auto-estima, basta
apenas compreender e crer de coração, que sem Deus e a sua Graça Santificante
e Operante, nada somos... Em nossa fraqueza somos fortalecidos pela Graça de
Deus que nos socorre em sua misericórdia, porque simplesmente nos ama do
jeito que somos...
2. Atitude necessária
para a oração
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva )
Nesta parábola de sua
exclusividade, Lucas faz um confronto entre duas atitudes fundamentais. De um
lado estão aqueles que se julgam justos, puros, e ensoberbecidos desprezam os
outros. São autossuficientes e, se invocam a Deus, é mais para se exibirem do
que por um ato de humildade.
Do outro lado estão os simples e
humildes. Estes são conscientes de sua fragilidade e reconhecem em Deus seu
amparo e proteção. Estas duas atitudes são caracterizadas por Lucas a partir
de um momento de oração, em duas personagens: um fariseu e um publicano. O
fariseu, em posição ostensiva, orava em seu íntimo, com toda convicção de sua
própria justiça e superioridade, desprezando o publicano que jazia prostrado
a distância. Por outro lado, o publicano, em sua humildade e abandono, tinha
o coração todo voltado para Deus. Contudo, o justo a seus próprios olhos está
longe de Deus, enquanto o pequeno e humilde está em comunhão com Deus.
Oração
Pai, faze-me consciente de minha condição de pecador, livrando-me da soberba
que me dá a falsa ilusão de ser superior a meu próximo e mais digno de me
dirigir a ti.
3. SOBERBA E HUMILDADE
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório ).
Jesus não suportava a soberba de
quem se gabava de ser justo, olhando os outros com desdém. Este comportamento
o irritava por revelar uma falsa imagem de Deus, completamente contrária
àquela ensinada por ele. O deus dos soberbos e orgulhosos é preconceituoso,
deixa-se impressionar por exterioridades, é injusto para com os fracos, é
facilmente enganável. A um deus assim, dirige-se o fariseu da parábola
contada por Jesus. Assumindo uma postura de evidente arrogância, dirige-se a
seu deus, prestando-lhe contas de suas práticas religiosas, como que a exigir
uma recompensa generosa.
O Deus anunciado por Jesus é,
radicalmente, diferente: é o Pai atento a seus filhos, de modo especial, aos
fracos e pequeninos. Valoriza qualquer esforço humano de superar o pecado,
para colocar-se, com humildade, no caminho da conversão. Vê o mais íntimo do
ser humano, onde percebe seus sentimentos e intenções. Portanto, não é um
Deus a quem se possa enganar.
Diante da atitude dos soberbos,
Jesus não tinha dúvidas quanto ao fim que os esperava. Eles serão humilhados
ao se encontrarem na presença do Pai. Recomenda-lhes, então, a humildade,
porque só ela é capaz de sensibilizar a Deus, para a pessoa obter dele a justificação.
Portanto, quem se vanglória de ser justo, está preparando sua própria
condenação.
Oração
Espírito de humildade, liberta-me da soberba, porque ela me afasta do Pai. E
faze-me reconhecer, com humildade, minhas próprias limitações.
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