2º Domingo da
Quaresma — ANO B
(ROXO,
CREIO, PREFÁCIO PRÓPRIO – II SEMANA DO SALTÉRIO)
"Deus não poupou seu único
Filho..."
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! Acolhemos
com alegria a revelação que o Pai nos faz de sermos, em Jesus, seus f i lhos
amados. Conscientes desta dignidade, somos encorajados a permanecer firmes em
seu caminho, obedientes ao mandamento de escutar atentos sua Palavra. É
preciso perceber que se Deus é por nós, ninguém será contra nós. Por isso,
queremos nesta celebração, aprender a escutar o que o Filho amado do Pai tem
a nos dizer. Participamos do mistério de sua morte e ressurreição, recebemos
seu corpo glorioso e somos motivados a transfigurar com Ele nossa realidade
ainda tão desfigurada. Sintamos
o júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina
entoemos cânticos jubilosos ao Senhor!
LITURGIA DA PALAVRA
Comentário: A Palavra de Deus define o caminho que o verdadeiro
discípulo deve seguir para chegar à vida nova: é o caminho da escuta atenta
de Deus e dos seus projetos, o caminho da obediência total e radical aos
planos do Pai.
PRIMEIRA LEITURA Gn
22,1-2.9a.10-13.15-18
LEITURA DO LIVRO DO GÊNESIS
Naqueles dias, Deus pôs Abraão à
prova. Chamando-o, disse: "Abraão!" E ele respondeu: "Aqui
estou". E Deus disse: "Toma teu filho único, Isaac, a quem tanto
amas, dirige-te à terra de Moriá e oferece-o aí em holocausto sobre um monte
que eu te indicar". Chegados ao lugar indicado por Deus, Abraão ergueu
um altar, colocou a lenha em cima, amarrou o filho e o pôs sobre a lenha, em
cima do altar. Depois, estendeu a mão, empunhando a faca para sacrificar o
filho. E eis que o anjo do Senhor gritou do céu, dizendo: "Abraão!
Abraão!" Ele respondeu: "Aqui estou". E o anjo lhe disse:
"Não estendas a mão contra teu filho e não lhe faças nenhum mal! Agora
sei que temes a Deus, pois não me recusaste teu filho único". Abraão,
erguendo os olhos, viu um carneiro preso num espinheiro pelos chifres; foi
buscá-lo e ofereceu-o em holocausto no lugar do seu filho. O anjo do Senhor
chamou Abraão, pela segunda vez, do céu, e lhe disse: "Juro por mim
mesmo – oráculo do Senhor – , uma vez que agiste deste modo e não me
recusaste teu filho único, eu te abençoarei e tornarei tão numerosa tua
descendência como as estrelas do céu e como as areias da praia do mar. Teus
descendentes conquistarão as cidades dos inimigos. Por tua descendência serão
abençoadas todas as nações da terra, porque me obedeceste".
— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus.
SALMO RESPONSORIAL – Sl
116(115)
Ref.: Andarei junto a
Deus na terra dos vivos.
1. Guardei a minha fé, mesmo dizendo: "É demais o sofrimento em minha
vida!" É sentida por demais pelo Senhor a morte de seus santos, seus
amigos.
2. Eis que sou o vosso servo, ó Senhor, vosso servo que nasceu de vossa
serva, mas me quebrastes os grilhões da escravidão! Por isso oferto um
sacrifício de louvor, invocando o nome santo do Senhor.
3. Vou cumprir minhas promessas ao Senhor na presença de seu povo reunido;
nos átrios da casa do Senhor, em teu meio, ó cidade de Sião!
SEGUNDA LEITURA Rm
8,31b–34
LEITURA DA CARTA DE SÃO PAULO AOS ROMANOS
Irmãos: Se Deus é por nós, quem
será contra nós? Deus que não poupou seu próprio filho, mas o entregou por
todos nós, como não nos daria tudo junto com ele? Quem acusará os escolhidos
de Deus? Deus, que os declara justos? Quem condenará? Jesus Cristo, que
morreu, mais ainda, que ressuscitou, e está à direita de Deus, intercedendo
por nós?
— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus.
EVANGELHO Mc 9, 2-10
ACLAMAÇÃO AO EVANGELHO
Ref.: Louvor e glória a ti, Senhor, Cristo, Palavra de Deus! Cristo,
Palavra de Deus!
1. Numa nuvem resplendente fez-se ouvir a voz do Pai: "Eis meu Filho
muito amado, escutai-o, todos vós!"
Naquele tempo, Jesus tomou
consigo Pedro, Tiago e João, e os levou sozinhos a um lugar à parte, sobre
uma alta montanha. E transfigurou-se diante deles. Suas roupas ficaram
brilhantes e tão brancas como nenhuma lavadeira sobre a terra poderia
alvejar. Apareceram-lhe Elias e Moisés, e estavam conversando com Jesus.
Então Pedro tomou a palavra e disse a Jesus: "Mestre, é bom ficarmos
aqui. Vamos fazer três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias".
Pedro não sabia o que dizer, pois estavam todos com muito medo. Então desceu
uma nuvem e os encobriu com sua sombra. E da nuvem saiu uma voz: "Este é
o meu Filho amado. Escutai o que ele diz!" E, de repente, olhando em
volta, não viram mais ninguém, a não ser somente Jesus com eles. Ao descerem
da montanha, Jesus ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto,
até que o Filho do homem tivesse ressuscitado dos mortos. Eles observaram
esta ordem, mas comentavam entre si o que queria dizer "ressuscitar dos
mortos".
Formação Litúrgica –
Procissão de Entrada
Inicia-se a missa com a
procissão de entrada. O documento 43 da CNBB, sobre a animação da vida
litúrgica no Brasil, lembra que "há possibilidade de uma grande
variedade nesta procissão". Se oportuno, o uso de cruz processional
acompanhada de velas acesas, turíbulo já aceso, Bíblia. Outras circunstâncias
poderão sugerir novos elementos, como círio pascal, água benta e outros. Nos
primórdios da Igreja, a procissão de entrada era muito solene. Era feita,
quase sempre, de uma igreja para outra. Com o tempo, o presidente da
celebração passou a se paramentar diante do altar. Hoje, com a reforma
litúrgica prescrita pelo Concílio Vaticano II, recuperou-se o valor desta
procissão. Em alguns lugares, voltou-se a fazer, inclusive, a procissão de
uma igreja para a outra, principalmente no período da Quaresma. O sentido
desta procissão deve ser buscado no contexto mais amplo da caminhada que as
pessoas fazem de suas casas até a igreja. Ela lembra que somos peregrinos
neste mundo a caminho da casa do Pai. O grande liturgista, cardeal Giacomo
Lercaro, orientava que esta procissão devia ser feita com muita consci- ência
e cuidado, pois não é um simples símbolo, mas contém uma realidade muito
profunda. "Caminhando para o altar, dirigimo-nos para o Cordeiro, que no
altar está vivo e triunfante (Ap 5,6). É a Igreja particularmente que se
torna comunidade peregrina, desejando finalizar-se em Deus". Para a
celebração da Eucaristia, a procissão sinaliza de forma clara o povo de Deus
peregrino que, constituído e guiado por Cristo-Pastor, se dirige ao Pai,
centro de toda a celebração litúrgica.
TEXTOS BÍBLICOS PARA A
SEMANA:
2ª Rx - Dn 9,4b-10;Sl 78; Lc 6,36-38
3ª Rx - Is 1,10.16-20; Sl 49; Mt 23,1-12
4ª Rx - Jr 18,18-20; Sl 30; Mt 20,17-28
5ª Rx - Jr 17,5-10; Sl 1; Lc 16,19-31
6ª Rx - Gn 37,3-4.12-13a.17b-28; Sl 104; Mt 21,33-43.45-46
Sab Rx - Mq 7,14-15.18-20; Sl 102; Lc 15,1-3.11-3
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "O AMOR QUE
TRANSFIGURA..."
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito pelo Diácono José da Cruz)
Tivemos um jovem em nosso grupo,
que acabou se tornando médico, recordo-me que após a formatura, a sua turma,
vinda de famílias abastadas, como recompensa e merecido descanso, decidiu
participar de um cruzeiro internacional, em um navio luxuosíssimo, com
hospedagens em hotéis 5 estrelas, mas esse jovem, já formado, retomou contato
com a humilde comunidade onde tivera a sua experiência pastoral e ao saber
que a mesma fazia atendimento a uma área paupérrima do bairro, se dispôs a
conhecer esse trabalho.
Observando uma carência total na
área da saúde, ele não teve dúvidas, juntou-se a Pastoral da Saúde e elaborou
um cuidadoso plano de ação, e quando seus amigos vieram procurá-lo, para
surpresa geral o jovem Doutor abriu mão da fantástica aventura, para
dedicar-se nas férias, à comunidade pobre que fazia parte da sua antiga
paróquia.
Parece história da “Carochinha”,
mas se prestarmos atenção ao nosso redor, vamos encontrar pessoas como esse
jovem, que nem sempre saem nos jornais, e que a gente se pergunta, como é que
podem existir pessoas assim, que no anonimato abrem mão daquilo que têm, em
favor de quem precisa, fazendo um sacrifício, palavra estranha e sem sentido
para o homem deste milênio, rodeado de conforto, facilidades, tecnologia,
comodidade e bem estar.
Não há nenhuma razão lógica para
alguém sacrificar-se assim por um ser humano, aquele jovem poderia primeiro
curtir a sua merecida viagem com os amigos e depois, quem sabe, dar um pouco
do seu tempo à comunidade pobre, mas aí é que está a diferença, o amor quando
é autêntico, nunca se satisfaz em dar apenas um “pouco”.
Entre os jovens ainda é comum a
palavra “FICAR”, que significa uma relação sem compromisso, um amorzinho bem
vagabundo, desses de quinta categoria, mas quando dois jovens resolvem migrar
do simplesmente Eros para o Ágape, daí vamos ter o amor em toda sua beleza e
esplendor, amor de primeiríssima qualidade, indestrutível, inseparável, como
nos ensina a segunda leitura desse domingo, sempre tolerante, compassivo,
disposto a perdoar e a recomeçar, amor que sabe sonhar e construir juntos, na
partilha e comunhão de vida, casamento na Igreja supõe tudo isso...
É assim que Deus se revela em Jesus Cristo, é
assim que Cristo se revela em quem é capaz (e não precisa ser médico) de
renunciar algo valioso, para doar-se aos irmãos, não existe outra forma de
amar que não seja o serviço, feito com grande sacrifício, e isso parece algo
tão simples e ao mesmo tempo tão complicado, difícil de ser compreendido pelo
coração humano, que hoje é educado para buscar grandezas e ambições,
prestígio, fama, sucesso e poder, em um egocentrismo exacerbado.
Como podemos entender o
sacrifício de Abraão, que abre mão do Filho da Promessa, tão esperado e
sonhado, e que veio em sua velhice, brotado como semente tardia, dom de Deus,
da esterilidade de Sara, sua esposa? O Patriarca, ícone das três maiores
religiões do planeta, sente em seu coração que o amor á Divindade em quem
crê, só se concretiza ofertando algo valiosíssimo,e aqui retomamos o sentido
do amor, que não é dar um pouquinho, mas o “tudo”, ou seja, aceitar perder
algo, que não se vai mais recuperar...
Na religião da recompensa
divina, sempre marcada pela mediocridade, ou nas relações mercantilizadas com
as pessoas, se faz na verdade uma barganha, é muito complicado chegarmos a
compreensão dessa gratuidade, pois pensamos que somos muito bons e nos doamos
até um certo ponto, mas não se pode também exagerar e sair no prejuízo, é
esse o grande problema, colocamos sempre um limite no nosso modo de amar,
abrimos mão de ganhar alguma coisa, mas ter que perder, aí já é um pouco
demais... Amar como Jesus amou, é sempre assumir o risco de uma perda.
Entretanto, quando desenvolvemos
em nós essa virtude do evangelho, e aceitamos até perder tudo, estamos nos
unindo Aquele que se deu por inteiro, e que para salvar a todos aceitou
perder tudo, pois o Cristo na cruz é um homem derrotado e humilhado, diante
doa amigos que acreditaram em sua proposta, é alguém que perdeu tudo,
prestígio, família, amigos, dignidade, honra, considerado na visão profética
um homem maldito diante de Deus, abandonado e esquecido, incompreendido e
rejeitado, homem esmagado pelas dores, como nos lembra Hebreus, e se o Pai
não o tivesse glorificado quem seria Jesus para o mundo de hoje?
Talvez ninguém, pois enquanto
homem aceitou correr esse risco, não sabia bem no que ia dar tudo aquilo, e
podia ser que nem a comunidade reconhecesse o seu gesto de amor.
Somos hoje convidados a
contemplar exatamente essa glória, pois no Cristo transfigurado, está a
humanidade, sonhada, planejada e criada por Deus, está aquele jovem, cuja
história contei no início, está cada cristão, que tem essa disposição
interior de doar-se por inteiro, e que ninguém tenha medo, Deus nunca exigirá
de nós o mesmo sacrifício da cruz, mas que nossas pequenas ações possam pelo
menos refletir um pouco, do Amor de Jesus de Nazaré, para isso é necessário
buscá-lo e escutá-lo, pois somente ele e mais ninguém, nos ensina com tanta
autoridade, como é que se ama de verdade...
José da Cruz é Diácono
2. Revelação do Deus de
amor
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva)
O "alto de uma montanha, a
sós" é o interior do coração onde se dá a comunicação divina. É aí que
Jesus procura entrar e revelar-se, vencendo as barreiras das ideologias
tradicionais. E é lentamente que os discípulos vão compreendendo a novidade
de Jesus. O simbolismo da sua figura "muito brilhante e tão branca"
indica a condição divina presente em Jesus, não percebida aos olhos vulgares.
"Filho de Deus" era o
título usado pelos poderosos, reis e faraós, que legitimavam seu abuso de
poder e a opressão sobre o povo em nome de Deus, como seu representante ou
seu próprio filho na terra. Nesse sentido foi elaborada a tradição davídica
que originou as expectativas messiânicas sob várias formas. Contudo, Jesus,
"o meu Filho amado", não tem este caráter messiânico. Ele é a
revelação do Deus amor, misericórdia e serviço. É a base do projeto de um
mundo novo possível, onde a fraternidade e a partilha sejam os laços
fundamentais de relacionamento social. Sem esquecer que a natureza, a
montanha, as nuvens, os campos, vales e rios participam harmoniosamente deste
projeto. A transfiguração não é uma "ida e volta" à glória futura,
mas uma transparência do caráter divino e glorioso de Jesus humano, manso e
humilde de coração. A questão é a percepção da realidade atual da humanidade
revestida da divindade, mesmo que vulnerável ao sofrimento e à morte. Jesus
já é portador da glória do Pai e da vida eterna, e esta glória é comunicada a
todos que o seguem.
Na primeira leitura, Abraão, por
obediência religiosa, se dispõe a sacrificar seu filho único, Isaac. Abraão é
apresentado como modelo da obediência cega à Lei que exprime a vontade da
divindade, pelo que é premiado. Esta concepção é prenhe de violência,
particularmente quando a premiação é a conquista das cidades daqueles que
eram considerados inimigos, passados ao fio da espada, e a supremacia do
poder e da riqueza sobre todas as nações da terra. Na segunda leitura, Paulo
interpreta a cruz de Jesus sob este modelo de Abraão: Deus entrega seu filho
unigênito em sacrifício por nós. Hoje, a teologia interpreta que o dom do
Filho de Deus é a encarnação, com a plenitude de amor revelada e comunicada
por Jesus no convívio com os discípulos e as multidões.
Jesus, nascido de Maria, humano
e divino, é portador da imortalidade e da glória. Somos convidados a ter a
experiência, já, da glória de Deus, no amor fraterno. "Nós vimos a sua
glória, glória que ele tem junto ao Pai como Filho único" (Jo 1,14b).
Oração
Pai, faze-me contemplar o brilho de tua glória em cada discípulo de teu Filho
que se entrega ao serviço do Reino, com total generosidade, mesmo devendo
enfrentar a morte.
3. TRANSFIGURAÇÃO
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica).
A cena da transfiguração
contrasta com a perspectiva de sofrimento e morte que aguarda Jesus em
Jerusalém, da parte dos chefes religiosos locais.
A narrativa, em estilo
apocalíptico, caracterizada por fenômenos espantosos, abalos da natureza,
nuvens e voz celestial, que indicam a presença e comunicação de Deus,
confirma a fi liação divina de Jesus e seu caráter de enviado para anunciar e
instruir a todos. Moisés, representante da Lei, e Elias, representante do
profetismo, haviam subido à montanha ao encontro de Deus.
Agora, estando Jesus a orar no
alto da montanha, Moisés e Elias vêm a ele. O ponto alto é a voz que
proclama: "Este é o meu Filho amado. Escutai-o!"
Do ponto de vista de uma
interpretação messiânica escatológica, a transfiguração seria o prenúncio da
ressurreição, como coroação dos sofrimentos de Jesus em sua Paixão (segunda
leitura).
A obediência cega à Lei, que
exprime a vontade de Javé, é premiada, conforme o modelo de Abraão. Esta
concepção é prenhe de violência, particularmente quando a premiação é a
conquista das cidades dos inimigos e a supremacia sobre todas as nações da
terra (primeira leitura).
Sob outro ponto de vista,
pode-se ver na transfiguração a revelação da condição divina de Jesus de
Nazaré, filho de Maria e de José, na simplicidade de seu convívio entre nós.
Os discípulos devem perceber em Jesus a nova condição humana glorificada pela
encarnação do Filho de Deus.
Não se trata de esperar um messias poderoso, mas, sim, de
reencontrar a dignidade e a grandeza da condição humana, em tudo que ela tem
de justo, bom, verdadeiro e belo. Ao entrarmos em comunhão de amor com Jesus
e com o próximo, Deus é glorificado e nos é comunicada sua vida divina e
eterna.
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Liturgia da Segunda
Feira — 05.03.2012
II
SEMANA DA QUARESMA
(ROXO –
OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Tende compaixão de mim, ó Deus, e libertai-me! Meus pés
estão firmes no caminho reto, nas assembléias bendirei ao Senhor (Sl 25,11s).
Primeira Leitura (Daniel
9,4-10)
Leitura da profecia da Daniel.
9 4 "Supliquei ao Senhor,
meu Deus, e fiz-lhe minha confissão nestes termos: Ah! Senhor, Deus grande e
temível, que sois fiel à aliança e que conservais vossa misericórdia àqueles
que vos amam e guardam vossos mandamentos:
5 nós pecamos, prevaricamos, cometemos maldade, fomos recalcitrantes,
desviamo-nos de vossos mandamentos e de vossas leis.
6 Não escutamos vossos servos, os profetas, que falaram em vosso nome a
nossos reis, a nossos chefes, a nossos antepassados e a todo o povo da terra.
7 A vós, Senhor, a justiça, e para nós a vergonha, como hoje acontece ao povo
de Judá e de Jerusalém, a todo o Israel, àqueles que estão perto e àqueles
que estão longe, em todos os países aonde os haveis dispersado por causa das
iniqüidades que cometeram contra vós.
8 Sim, Senhor, para nós a vergonha, para nosso rei, nossos chefes e nossos
antepassados, porque pecamos contra vós.
9 Ao Senhor, nosso Deus, as misericórdias e o perdão, porque nós nos rebelamos
contra ele.
10 Recusamos ouvir a voz do Senhor, nosso Deus; não seguimos as leis que ele
nos oferecia pela boca de seus servos, os profetas".
— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus.
Salmo responsorial 78/79
O Senhor não nos trata como
exigem nossas faltas.
Não lembreis as nossas culpas do
passado,
mas venha logo sobre nós vossa bondade,
pois estamos humilhados em extremo.
Ajudai-nos, nosso Deus e
salvador!
Por vosso nome e vossa glória, libertai-nos!
Por vosso nome, perdoai nossos pecados!
Até vós chegue o gemido dos
cativos:
libertai com vosso braço poderoso
os que foram condenados a morrer!
Quanto a nós, vosso rebanho e vosso povo,
celebraremos vosso nome para sempre,
de geração em geração vos louvaremos.
Aclamação do Evangelho
Glória a Cristo, palavra eterna
do Pai, que é amor!
Senhor, tuas palavras são espírito, são vida; só tu tens palavras de vida
eterna! (Jo 6,63.68)
Evangelho (Lucas 6,36-38)
— O Senhor esteja convosco.
— Ele está no meio de nós.
— Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo + segundo Lucas.
— Glória a vós, Senhor!
Naquele tempo, disse Jesus aos
seus discípulos 6 36 "Sede misericordiosos, como também vosso Pai é
misericordioso.
37 Não julgueis, e não sereis julgados; não condeneis, e não sereis
condenados; perdoai, e sereis perdoados;
38 dai, e dar-se-vos-á. Colocar-vos-ão no regaço medida boa, cheia, recalcada
e transbordante, porque, com a mesma medida com que medirdes, sereis medidos
vós também".
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "A nossa medida
para com os outros"
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito pelo Diácono José da Cruz )
Um lugar onde podemos ver e
comprovar como nós não somos Misericordiosos como o Pai, é no trânsito. Não
adianta fingir que não é com a gente, todos somos assim, olhamos para os
outros condutores de veículos com extremo rigorismo, mas quando nos olhamos
ao volante, sempre amenizamos ao máximo nossas falhas. Sempre vamos ter
razões de sobra para justificar o nosso erro, cometido em uma ultrapassagem
perigosa, em um excesso de velocidade, em uma fechada que demos no outro, ou
em qualquer norma de segurança que quebramos, nós temos necessidade e
justificativa para falar ao celular no volante, mas se flagramos o outro,
dirigindo desatentamente por estar falando ao celular, rapidamente o
condenamos.
O trânsito é só um exemplo bem
concreto de que, a nossa medida com o próximo é bem pequena e miserável. O
que nos falta é exatamente aquilo que em Deus é sempre abundantes eterna: a
Misericórdia! Mas esse comportamento anticristão não é só pessoal, mas tudo e
todos que nos rodeiam na Família e na comunidade, amenizamos os erros e
pecados, abrandamos o impacto da ação ou do escândalo, se o fato ocorreu com
um filho ou filha, ou um irmão da nossa igreja, mas se for com o Filho ou a
Filha do outro, que não é parente e nem membro do nosso grupo da Igreja, ah
meu irmão, olhamos com uma lupa de aumento e apregoamos aos quatro cantos o
pecado escabroso que tal pessoa cometeu.
Misericórdia é acolher o outro
em nosso coração, e o Judeu tem um significado ainda mais bonito, é acolher o
outro em nosso útero, para dar-lhe uma vida nova com o nosso amor, é também
sermos solidários com a miséria do outro, caminhar junto, sorrir e
chorar junto e foi essa misericórdia do PAI , que Jesus manifestou por todos
nós.
Não julgar, não condenar,
perdoar, dar e acolher, são palavras chaves do evangelho, colocadas como
prática cristã em nossa relação com o próximo no dia a dia. E o próximo são
todas aquelas pessoas que passam por nós na rua, no Banco, na Feira Livre, no
ônibus, na escola, no trabalho, na política, no futebol, na torcida. Na
comunidade somos capazes de disfarçar a nossa raiva, impaciência e
intolerância com o outro, mas fora da Igreja somos quem somos, e é exatamente
nesses lugares e ambientes que nos relacionamos com as pessoas.
O evangelho traz uma exortação
final muito séria, se a nossa medida com o próximo ( com todas as pessoas com
quem cruzamos em nosso dia a dia, não é só com o irmãozinho da comunidade...)
não for larga, cheia e generosa, Deus também nos olhará com rigorismo e não
vamos poder contar com a sua bondade e misericórdia sem limites. Isso porque
estamos deturpando a imagem, de Deus para o irmão.
E fica aqui, no final da
reflexão uma boa pergunta: as pessoas com quem convivemos, acreditam em um Deus amoroso e
misericordioso, ou em um
Deus intolerante e implacável? Se a resposta for
negativa, é bom não nos esquecer que essas pessoa simplesmente refletem a
imagem de Deus que a ela passamos com a nossa conduta...
2. Não julgar, mas
perdoar
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito por José Raimundo)
Enquanto Mateus qualifica Deus
como perfeito ("Sede perfeitos como vosso Pai celeste é perfeito" -
Mt 5,48), Lucas qualifica Deus como misericordioso ("Sede
misericordiosos como vosso Pai é misericordioso"). A perfeição tem um
sentido muito amplo, e pode significar até autossuficiência e poder. A
misericórdia, por sua vez, significa relação amorosa e humilde com o próximo.
Em Jesus, Deus revela-se como sendo amor e misericórdia.
O "julgar" no texto de
Lucas é empregado com o sentido de "condenar". O exercício do
julgamento crítico dos fatos para melhor compreensão da realidade é saudável.
A distorção está em condenar as pessoas, pois todas são filhas de Deus e
objeto do seu amor misericordioso.
Na oração do Pai-Nosso, em
Mateus, pedimos que sejamos perdoados, assim como nós perdoamos. Mantendo
esta mesma estrutura, podemos orar: não nos condeneis, como nós não
condenamos, dai-nos, como nós damos...
A medida boa recebida em
recompensa é uma forma de expressão para a compreensão de que a felicidade e
a alegria que almejamos estão em viver em comunhão de vida com os irmãos.
Perdoando, não condenando, partilhando, removendo as estruturas que geram
pobres e ricos, é assim que descobrimos nossa vida em Deus, já neste mundo.
Oração
Pai, dispõe meu coração para o perdão, pois este é o caminho pelo qual
estabeleço minha comunhão contigo.
3. O AGIR CRISTÃO
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica,
Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal Dom Total a cada mês).
O cristão tem consciência de que
suas ações superam os limites das relações humanas, para desembocar no Pai.
Por isso, todo gesto humano, sem exceção, tem algo a ver com Deus: deve
inspirar-se nele, de quem receberá o prêmio ou o castigo.
O eixo fundamental da vida
cristã deve ser a misericórdia. O motivo é simples: a misericórdia é o eixo
fundamental do agir do Pai. E, pela misericórdia, o cristão reproduz um modo
de ser característico de Deus.
Jesus indicou-nos algumas
maneiras de expressar a misericórdia: não nos tornar juízes do próximo, e por
conseguinte, abster-nos de condená-lo; perdoar sempre, e sermos capazes de
doar nossos bens, com generosidade. A misericórdia, portanto, consiste em
colocar-se diante do próximo com a humildade de quem se sabe servidor, e com
a consciência de não ter o direito de julgá-lo e condená-lo. Isto compete ao
Pai. A pessoa misericordiosa está sempre disposta a reatar, mediante o
perdão, os laços rompidos pela inimizade.
A contrapartida da misericórdia
humana é a misericórdia divina. O Pai não julga nem condena a quem foi capaz
de ser misericordioso. Perdoa a quem foi capaz de perdoar. E a quem soube
doar, dá com superabundância.
O cristão não pode perder de
vista esta dimensão de seu agir. A falta de misericórdia resultará fatal, no
momento de seu encontro com o Pai.
Oração
Espírito de misericórdia, reveste todas as minhas ações com a misericórdia,
característica do Pai, levando-me a ser, para o meu próximo, a revelação da
bondade divina.
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Liturgia da Terça-Feira
— 06.03.2012
II
SEMANA DA QUARESMA
(ROXO –
OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Iluminai meus olhos, Senhor, guardai-me do sono da
morte. Que meu inimigo não possa dizer: triunfei sobre ele (Sl 12,4s).
Primeira Leitura (Isaías
1,10.16-20)
Leitura do livro do profeta Isaías.
10 Ouvi a palavra do Senhor,
príncipes de Sodoma; escuta a lição de nosso Deus, povo de Gomorra:
16 lavai-vos, purificai-vos. Tirai vossas más ações de diante de meus olhos.
17 Cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem. Respeitai o direito,
protegei o oprimido; fazei justiça ao órfão, defendei a viúva.
18 Pois bem, justifiquemo-nos, diz o Senhor. Se vossos pecados forem
escarlates, tornar-se-ão brancos como a neve! Se forem vermelhos como a
púrpura, ficarão brancos como a lã!
19 Se fordes dóceis e obedientes, provareis os melhores frutos da terra;
20 se recusardes e vos revoltardes, provareis a espada. É a boca do Senhor
que o declara.
— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus.
Salmo responsorial 49/50
A todos que procedem retamente,
eu mostrarei a salvação que vem de Deus.
"Eu não venho censurar teus
sacrifícios,
pois sempre estão perante mim teus holocaustos;
não preciso dos novilhos de tua casa
nem dos carneiros que estão nos teus rebanhos.
Como ousar repetir os meus
preceitos
e trazer minha aliança em tua boca?
Tu que odiaste minhas leis e meus conselhos
e deste as costas às palavras dos meus lábios!
Diante disso que fizeste, eu
calarei?
É disso que te acuso e repreendo,
e manifesto essas coisas aos teus olhos.
Quem me oferece um sacrifício de
louvor,
este, sim, é que me honra de verdade.
A todo homem que procede retamente,
eu mostrarei a salvação que vem de Deus."
Aclamação do Evangelho
Salve, ó Cristo, imagem do Pai,
a plena verdade nos comunicai!
Lançai para bem longe toda a vossa iniqüidade! Criai em vós um novo espírito
e um novo coração! (Ez 18,31).
Evangelho (Mateus 23,1-12)
23 1 Dirigindo-se, então, Jesus
à multidão e aos seus discípulos,disse:
2 "Os escribas e os fariseus sentaram-se na cadeira de Moisés.
3 Observai e fazei tudo o que eles dizem, mas não façais como eles, pois
dizem e não fazem.
4 Atam fardos pesados e esmagadores e com eles sobrecarregam os ombros dos
homens, mas não querem movê-los sequer com o dedo.
5 Fazem todas as suas ações para serem vistos pelos homens, por isso trazem
largas faixas e longas franjas nos seus mantos.
6 Gostam dos primeiros lugares nos banquetes e das primeiras cadeiras nas
sinagogas.
7 Gostam de ser saudados nas praças públicas e de ser chamados rabi pelos
homens.
8 Mas vós não vos façais chamar rabi, porque um só é o vosso preceptor, e vós
sois todos irmãos.
9 E a ninguém chameis de pai sobre a terra, porque um só é vosso Pai, aquele
que está nos céus.
10 Nem vos façais chamar de mestres, porque só tendes um Mestre, o Cristo.
11 O maior dentre vós será vosso servo.
12 Aquele que se exaltar será humilhado, e aquele que se humilhar será exaltado".
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "A cadeira do
Padre"
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito pelo Diácono José da Cruz )
Já vi muitas discussões inúteis
sobre a questão do uso da cadeira chamada presidencial, utilizada nas
celebrações, e que só podem ser ocupadas pelos Ministros Ordenados. Em
primeiro lugar precisamos saber o que significa a tal cadeira do Padre,
embora se pareça com um trono, pois o layout dos nossos presbitérios lembram
uma reunião da corte, onde havia a cadeira do trono ladeada por outras
cadeiras, reservadas aos ministros do primeiro escalão, ou seja, aqueles que,
de certa forma "mandavam" junto com o rei.
Embora não seja a nossa
realidade atual, a verdade é que as cadeiras aveludadas e de grande tamanho,
colocadas no centro do presbitério, enchem a cabeça de muitos leigos de
grandes fantasias, onde o ego se enche de soberba e a pessoa começa a se
achar muito importante porque no exercício do seu ministério ocupa uma das
cadeiras durante a Santa Missa ou a Celebração da palavra, e se for Ministro
da Palavra, irá sentar-se na cadeira do padre e daí a sede de poder é ainda
mais forte. Não é qualquer um que pode sentar-se na cadeira do padre e nas
igrejas das grandes metrópoles a concorrência é ainda muito maior...
Claro que não é disso que fala a
reflexão do evangelho, mas poderíamos usar a expressão "Sentar-se na
cadeira do padre", para entender a crítica de Jesus contra os Escribas e
Fariseus naquele tempo...
Sentar-se na cadeira de Moisés
(expressão colocada pelo evangelista) ou sentar-se na cadeira do padre,
significa serem os Donos da Verdade e os detentores de todas as informações
importantes da comunidade. É fácil saber se isso está acontecendo na sua
comunidade, se lá você tem ouvido muito essa expressão: "Pergunte para
FULANO porque isso é só ele quem sabe", pronto! A comunidade é
igualzinha a de Mateus, tem gente que sabe ou pensa saber demais, e sem eles
nenhuma decisão poderá ser tomada. Eis aí aqueles sobre os quais os
corneteiros de plantão dizem jocosamente "Este quer mandar mais que o
padre".
Os que se sentam na cadeira do
padre, criam regras e mil norminhas na pastoral, no movimento e na liturgia,
quando "apertados" por alguém que os enfrentam, terminam com a
conhecida frase "Ah... são ordens do nosso padre... Isso é colocar
fardos pesados nas costas dos irmãos e irmãs.
Claro que estes, que gostam de
sentarem-se na cadeira do padre, automaticamente procuram os primeiros
lugares em tudo, na Festa do Padroeiro, equipe de eventos, conselhos
paroquiais ou pastorais, CAAE, etc. Qualquer decisão para ser tomada tem que
passar pelo crivo deles. Conheci alguém que exercia um ministério há muitos
anos e ninguém tinha coragem de tirá-lo do cargo, nem o padre que achava
melhor não criar caso com o idoso Senhor, que entre outras coisas era quem
escalava os ministros da Eucaristia, e ainda indicava para o padre quem
poderia ser ministro.
São críticas severas para nossas
comunidades? Sem dúvida alguma. Nas comunidades cristãs há muita riqueza e
santidade autêntica de tantos irmãos e irmãs, mas não podemos nos iludir
achando que Escribas e Fariseus só havia no tempo de Jesus, ou em uma DIOCESE lá da
Patagônia. A conclusão do evangelho nos aponta quem é o único e Verdadeiro
Centro das atenções em
nossa Igreja: Jesus Cristo, tudo é nele, com ele e por ele.
Exatamente por isso que Jesus se apresenta como sendo ele o único Mestre, o
único que tem autoridade, o único que é o centro de todas as atenções, sem
ele, todo e qualquer ministério não tem nem razão de ser.
E o que fez esse Mestre Supremo?
Rebaixou-se à condição de um escravo, sendo ele o maior de todos os maiorais,
se fez Servo e ao se humilhar com a morte vergonhosa da cruz, foi exaltado
pelo Pai. O Lava-Pés consolida a ação servidora de Jesus.
2. A hipocrisia na prática da lei
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito por José Raimundo)
Mateus, inserindo este discurso
de Jesus em seu evangelho, chama a atenção para a hipocrisia dos escribas e
fariseus e reforça as advertências às suas comunidades para que não se deixem
seduzir por suas doutrinas. Eles impõem pesados e insuportáveis fardos aos
outros, porém, eles mesmos não os tocam, nem sequer com o dedo.
Pedro, diante da Igreja de
Jerusalém, defendeu a liberdade da fé dos gentios, sem a imposição da Lei,
afirmando: "Por que tentais a Deus, impondo ao pescoço dos discípulos um
jugo que nem nossos pais, nem mesmo nós pudemos suportar?" (At 15,10).
Porém, o jugo de Jesus é leve e
suave: é a humildade e o serviço, na alegria da comunhão de vida com o
próximo e com Deus.
Oração
Pai, que os maus exemplos jamais me influenciem, fazendo-me desviar de teu
caminho. Seja teu Filho Jesus meu único modelo de vida.
3. A FALTA DE MISERICÓRDIA
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese).
A sensibilidade de Jesus para a
falta de misericórdia, no trato mútuo, era evidente. A menor atitude de
menosprezo ou insensibilidade, em relação ao próximo, chamava-lhe a atenção.
Por isso, aproveitava estas ocasiões para advertir os discípulos.
Os escribas e fariseus estavam,
constantemente, na mira de Jesus. Eles tinham certos comportamentos com os
quais o Mestre não podia compactuar, por não serem movidos pela misericórdia.
Assim, impunham, às pessoas de boa-fé, um acúmulo de prescrições, ao passo que
eles mesmos não se sentiam obrigados a cumpri-las. Igualmente, com ar de
importância, exigiam que as pessoas lhes deixassem os primeiros lugares nos
banquetes, nas sinagogas e nas praças, e que as chamassem com o título
honroso de "rabi". E muitas coisas mais! Toda essa maneira de se
comportar é que os discípulos deveriam evitar. O Mestre foi explícito:
"Não imiteis suas ações!", pois não primam pela misericórdia.
O discípulo espelha-se no modo
de agir de Jesus. Contrariamente aos escribas e fariseus, o Mestre não se
prevaleceu dos pequenos e fracos, antes, procurou agir com extrema humildade
e discrição, jamais buscando grandezas e honrarias mundanas. Seu agir
misericordioso desmascarava a arrogância de seus adversários.
Oração
Espírito de misericórdia, livra-me de seguir o mau exemplo de quem, no trato
com o próximo, prima pela arrogância e pela insensibilidade.
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Liturgia
da Quinta-Feira — 08.03.2012
II
SEMANA DA QUARESMA *
(ROXO –
OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Provai-me, ó Deus, e conhecei meus pensamentos: vede se
ando pela vereda do mal e conduzi-me no caminho da eternidade (Sl 138,23s).
Primeira Leitura
(Jeremias 17,5-10)
Leitura do livro do profeta Jeremais.
17 5 Eis o que diz o Senhor:
"Maldito o homem que confia em outro homem, que da carne faz o seu apoio
e cujo coração vive distante do Senhor!
6 Assemelha-se ao cardo da charneca e nem percebe a chegada do bom tempo,
habitando o solo calcinado do deserto, terra salobra em que ninguém reside.
7 Bendito o homem que deposita a confiança no Senhor, e cuja esperança é o
Senhor.
8 Assemelha-se à árvore plantada perto da água, que estende as raízes para o
arroio; se vier o calor, ela não temerá, e sua folhagem continuará
verdejante; não a inquieta a seca de um ano, pois ela continua a produzir
frutos.
9 Nada mais ardiloso e irremediavelmente mau que o coração. Quem o poderá
compreender?
10 Eu, porém, que sou o Senhor, sondo os corações e escruto os rins, a fim de
recompensar a cada um segundo o seu comportamento e os frutos de suas
ações".
Salmo responsorial 1
É feliz quem a Deus se confia!
Feliz é todo aquele que não anda
conforme os conselhos dos perversos;
que não entra no caminho dos malvados
nem junto aos zombadores vai sentar-se;
mas encontra seu prazer na lei de Deus
e a medita, dia e noite, sem cessar.
Eis que ele é semelhante a uma
árvore
que à beira da torrente está plantada;
ela sempre dá seus frutos a seu tempo
e jamais as suas folhas vão murchar.
Eis que tudo o que ele faz vai prosperar.
Mas bem outra é a sorte dos
perversos.
Ao contrário, são iguais Palha seca
espalhada e dispersada pelo vento.
Pois Deus vigia o caminho dos eleitos,
mas a estrada dos malvados leva à morte.
Aclamação do Evangelho
Glória a Cristo, palavra eterna
do Pai, que é amor!
Felizes o que observam a palavra do Senhor de reto coração; e que produzem
muitos frutos, até o fim perseverantes! (Lc 8,15)
EVANGELHO (Lucas 16,19-31)
Naquele tempo, disse Jesus aos
fariseus: 16 19 "Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho
finíssimo, e que todos os dias se banqueteava e se regalava.
20 Havia também um mendigo, por nome Lázaro, todo coberto de chagas, que
estava deitado à porta do rico.
21 Ele avidamente desejava matar a fome com as migalhas que caíam da mesa do
rico. Até os cães iam lamber-lhe as chagas.
22 Ora, aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos ao seio de
Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado.
23 E estando ele nos tormentos do inferno, levantou os olhos e viu, ao longe,
Abraão e Lázaro no seu seio.
24 Gritou, então: 'Pai Abraão, compadece-te de mim e manda Lázaro que molhe
em água a ponta de seu dedo, a fim de me refrescar a língua, pois sou
cruelmente atormentado nestas chamas'.
25 Abraão, porém, replicou: 'Filho, lembra-te de que recebeste teus bens em
vida, mas Lázaro, males; por isso ele agora aqui é consolado, mas tu estás em
tormento.
26 Além de tudo, há entre nós e vós um grande abismo, de maneira que, os que
querem passar daqui para vós, não o podem, nem os de lá passar para cá'.
27 O rico disse: 'Rogo-te então, pai, que mandes Lázaro à casa de meu pai,
pois tenho cinco irmãos,
28 para lhes testemunhar, que não aconteça virem também eles parar neste
lugar de tormentos'.
29 Abraão respondeu: 'Eles lá têm Moisés e os profetas; ouçam-nos!'
30 O rico replicou: 'Não, pai Abraão; mas se for a eles algum dos mortos,
arrepender-se-ão'.
31 Abraão respondeu-lhe: 'Se não ouvirem a Moisés e aos profetas, tampouco se
deixarão convencer, ainda que ressuscite algum dos mortos'.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1."Pai Abraão
compadece-te de mim..."
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito pelo Diácono José da Cruz)
Parece que Lucas pegou pesado
contra o tal do Homem rico nesse evangelho, a súplica do mesmo pedindo
compaixão do Pai Abraão, é algo inconcebível.
Quem já viu rico pedir
compaixão? Jamais, pois o dinheiro compra tudo e o rico não tem necessidade
de nada... Mas vamos para mais um exagero de Lucas, "Manda Lázaro que
molhe em água a ponta do seu dedo, afim de refrescar-me a língua, pois sou
cruelmente atormentado nessas chamas"
O que? Um rico precisando do
favor de um pobre, e que favor! Molhar o dedo e tocar em sua língua. Bom,
rico pedindo por compaixão já é coisa esquisita, e ainda por cima, depender
do favor de um pobre mendigo, que em vida ficava esmolando no portão de sua
mansão...
Acho que os ricos que leram essa
reflexão de São Lucas, não deixaram de dar boas risadas. Mas por que Lucas
inverte a ordem social estabelecida? Quer se vingar dos ricos miseráveis,
lembrando que na outra vida tudo vai ser diferente, eles vão sofrer e os
pobres irão gozar? Isso também está descartado, o Céu não é lugar para o
pobre se vingar do rico, isso não tem cabimento. Este evangelho também não é
revolucionário para mostrar a diferença social entre uma e outra classe.
Prestemos atenção em alguns
detalhes importantes: o pobre tem um nome, e ao morrer foi carregado pelos
anjos ao seio de Abraão. O rico nem tinha nome, e ao morrer foi enterrado
como qualquer ser mortal, talvez em algum mausoléu, mas foi enterrado, isto
é, tudo acabou ali para ele. Por quê? Porque toda a sua expectativa de
felicidade e realização humana estava em sua riqueza.
Quanto ao abismo existente entre
o rico e o pobre, não foi Deus quem cavou, mas ele foi construído ao longo da
vida pela atitude egoísta do rico, que não permitiu que o pobre fizesse parte
de sua vida. Provavelmente até lhe dava esmolas de vez em quando, ou alguma
comida que sobrou do almoço, ou um pedaço de pão duro, um sapato velho, uma
roupa usada. Mas essas "boas ações" não foram suficientes para
garantir o passaporte para o céu, na comunhão com Deus.
De fato, o evangelho não fala
que o Rico era má pessoa, e nem que o mendigo fosse um sujeito cristão e que
tinha fé. Mas a questão é que, a riqueza o distanciou de Deus e das pessoas,
a riqueza de fato dá ao homem a sensação ilusória de que tudo tem e que agora
de nada mais precisa. Quando pensa deste modo, o Ser humano se fecha a
Salvação trazida por Jesus, e a participação no seu Reino, que se destina
principalmente aos mais pobres e necessitados.
Não é pecado ser rico e ter bens
materiais, claro, desde que não seja riqueza iníqua, fruto de corrupção e
roubalheira. O mal é recusar a salvação Divina, e fecharem-se às demais
pessoas, principalmente os mais pobres, que sempre foram e serão os
preferidos de Deus. Ser pobre ou rico não vai salvar e nem perder a ninguém,
o que importa é Crer em
Jesus Cristo, no seu reino de Justiça, Paz e igualdade,
viver os valores do evangelho e buscar somente Nele a Salvação com uma
conversão sincera.
Porque se cavarmos o abismo
entre nós e o próximo, principalmente os mais pobres, estaremos cavando um
abismo intransponível entre nós e Deus, e esta solidão devassadora e eterna
chama-se Inferno... É para lá que foi o nosso Rico sem nome...
2. Desigualdade injusta
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito por José Raimundo Oliva)
Nesta contundente parábola
podemos ver uma das características fundamentais de Lucas: a denúncia da
injusta divisão riqueza x pobreza na sociedade. Esta divisão fere
frontalmente a proposta de Jesus para o Reino de Deus.
O contraste entre a fartura do
rico e a situação extremamente precária do pobre é apresentado de maneira bem
realista. Na situação pós-morte de ambos, de imediato o rico está entre
tormentos e o pobre é levado pelos anjos para a glória de Deus. É a expressão
da morte no apego à riqueza e aos bens e o gozo da vida nos valores do Reino
de Deus.
É pela conversão que se elimina
o abismo que separa os ricos dos pobres, a partir do seguimento de Jesus,
Filho de Deus, doador da vida eterna.
Oração
Pai, não permitas que nada neste mundo me impeça de ver o sofrimento de meu
próximo e fazer-me solidário com ele.
3. O EGOÍSMO PUNIDO
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório – Jesuíta, Doutor em Exegese Bíblica).
A visão estreita da pessoa
egoísta não lhe permite ir muito além do limitado círculo de seus interesses.
Vive fechada em seu pequeno mundo, cultivando seus projetos mesquinhos. O
sofrimento e as necessidades dos outros são, para ela, coisa sem nenhuma
importância. O "outro" não existe!
A desventura dos egoístas
consiste em não perceber que estão construindo sua própria condenação. Recusar-se
a viver em comunhão com o próximo revela uma recusa mais fundamental: a de
viver em comunhão com Deus. Idolatrando os bens deste mundo, acreditam ser
supérflua a presença de Deus em suas vidas. Na raiz da incapacidade de
fazer-se servidor, numa atitude de generosidade e desprendimento, está a
perigosa pretensão de ocupar o lugar reservado unicamente a Deus. Sua
auto-suficiência leva-os a prescindir do Criador, e a recusar-se a recorrer a
ele. Em suma, fecham as portas para a sua salvação. Engana-se quem conta com
uma segunda possibilidade de alcançar a salvação.
Quando o rico da parábola,
naquele lugar de tormento dá-se conta de sua insensatez, pretende que Deus
mande alguém para advertir seus cinco irmãos, a fim de que não tenham sorte
semelhante. Seu pedido, porém, não é aceito.
A história humana está repleta
de apelos ao amor e ao serviço. Basta um pouco de atenção e disponibilidade
para escolhermos este caminho exigente. Caso contrário, só nos restará um
castigo inadiável.
Oração
Espírito de inteligência, dá-me a graça de compreender que o caminho da
salvação passa pelo amor desinteressado ao próximo.
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Liturgia da Sexta-Feira
— 09.03.2012
II
SEMANA DA QUARESMA *
(ROXO –
OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Senhor, a vós recorro, que eu não seja confundido para
sempre. Vós me tirais do laço que me armaram, vós sois meu protetor (Sl
30,2.5).
Primeira Leitura
(Gênesis 37,3-4.12-13.17-28)
Leitura do livro do Gênesis.
37 3 Israel amava José mais do
que todos os outros filhos, porque ele era o filho de sua velhice; e
mandara-lhe fazer uma túnica de várias cores.
4 Seus irmãos, vendo que seu pai o preferia a eles, conceberam ódio contra
ele e não podiam mais tratá-lo com bons modos.
12 Os irmãos de José foram apascentar os rebanhos de seu pai em Siquém.
13 Israel disse a José: "Teus irmãos guardam os rebanhos em Siquém. Vem: vou
mandar-te a eles." "Eis-me aqui", respondeu José.
17 E o homem respondeu: "Partiram daqui e ouvi-os dizer: Vamos a
Dotain." Partiu então José em busca dos seus irmãos e encontrou-os em
Dotain.
18 Eles o viram de longe. Antes que José se aproximasse, combinaram entre si
como o haveriam de matar;
19 e disseram: "Eis o sonhador que chega.
20 Vamos, matemo-lo e atiremo-lo numa cisterna; diremos depois que uma fera o
devorou; e então veremos de que lhe aproveitaram os seus sonhos."
21 Ouvindo-o, porém, Rubem, quis livra-lo de suas mãos: "Não lhe tiremos
a vida, disse ele.
22 Não derrameis sangue. Jogai-o naquela cisterna, no deserto, mas não
levanteis vossa mão contra ele." Pois Rubem pensava livrá-lo de suas
mãos para o reconduzir ao pai.
23 Quando José se aproximou de seus irmãos, eles o despojaram de sua túnica,
daquela bela túnica de várias cores que trazia,
24 e jogaram-no numa cisterna velha, que não tinha água.
25 E, sentando-se para comer, eis que, levantando os olhos, viram surgir no
horizonte uma caravana de ismaelitas vinda de Galaad. Seus camelos estavam
carregados de resina, de bálsamo e de ládano, que transportavam para o Egito.
26 Então Judá disse aos seus irmãos: "Que nos aproveita matar nosso
irmão e ocultar o seu sangue?
27 Vinde e vendamo-lo aos ismaelitas. Não levantemos nossas mãos contra ele,
pois, afinal, é nosso irmão, nossa carne." Seus irmãos concordaram.
28 E, quando passaram os negociantes madianitas, tiraram José da cisterna e
venderam-no por vinte moedas de prata aos ismaelitas, que o levaram para o
Egito.
— Palavra do Senhor.
— Graças a Deus.
Salmo responsorial
104/105
Lembrai sempre as maravilhas do
Senhor!
Mandou vir, então, a fome sobre
a terra
e os privou de todo pão que os sustentava;
um homem enviara à sua frente,
José, que foi vendido como escravo.
Apertaram os seus pés entre
grilhões
e amarraram seu pescoço com correntes,
até que se cumprisse o que previra,
e a palavra do Senhor lhe deu razão.
Ordenou, então, o rei que o
libertassem,
o soberano das nações mandou soltá-lo;
fez dele o senhor de sua casa,
e de todos os seus bens o despenseiro.
Aclamação do Evangelho
Jesus Cristo, sois bendito, sois
o ungido de Deus Pai!
Deus o mundo tanto amou, que lhe deu seu próprio Filho, para que todo o que
nele crer encontre vida eterna (Jo 3,16).
EVANGELHO (Mateus 21,33-43.45-46)
Naquele tempo, dirigindo-se
Jesus aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo, disse-lhes: 21 33
"Ouvi outra parábola: havia um pai de família que plantou uma vinha.
Cercou-a com uma sebe, cavou um lagar e edificou uma torre. E, tendo-a
arrendado a lavradores, deixou o país.
34 Vindo o tempo da colheita, enviou seus servos aos lavradores para recolher
o produto de sua vinha.
35 Mas os lavradores agarraram os servos, feriram um, mataram outro e
apedrejaram o terceiro.
36 Enviou outros servos em maior número que os primeiros, e fizeram-lhes o
mesmo.
37 Enfim, enviou seu próprio filho, dizendo: 'Hão de respeitar meu filho'.
38 Os lavradores, porém, vendo o filho, disseram uns aos outros: 'Eis o
herdeiro! Matemo-lo e teremos a sua herança!'
39 Lançaram-lhe as mãos, conduziram-no para fora da vinha e o assassinaram.
40 Pois bem: quando voltar o senhor da vinha, que fará ele àqueles
lavradores?"
41 Responderam-lhe: "Mandará matar sem piedade aqueles miseráveis e
arrendará sua vinha a outros lavradores que lhe pagarão o produto em seu
tempo".
42 Jesus acrescentou: "Nunca lestes nas Escrituras: 'A pedra rejeitada
pelos construtores tornou-se a pedra angular; isto é obra do Senhor, e é
admirável aos nossos olhos'?
43 Por isso vos digo: ser-vos-á tirado o Reino de Deus, e será dado a um povo
que produzirá os frutos dele".
45 Ouvindo isto, os príncipes dos sacerdotes e os fariseus compreenderam que
era deles que Jesus falava.
46 E procuravam prendê-lo; mas temeram o povo, que o tinha por um profeta.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "Apropriação
Indébita..."
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito pelo
Diácono José da Cruz)
O Termo apropriação indébita se
refere à posse ilegal de algo que não nos pertence. Deus edificou o seu Reino
no meio dos homens, mas não se trata de uma parreira qualquer, abandonada á
beira da estrada, dessas que parece que não tem dono. Ela foi cercada com uma
sebe, cavada um lagar onde se pisoteia a uva para produção do vinho, e
construída uma torre para vigiar, afastando intrusos ou animais silvestres
que irão danificar a parreira.
No meio da humanidade Deus
escolheu o povo de Israel, estabelecendo com ele uma vida de comunhão,
dando-lhes todas as condições necessárias para viverem bem, sempre na amizade
e proteção do Deus da ALIANÇA. Deus esperava desse povo uma vida íntegra,
pautada pela justiça e igualdade, solidariedade, para assim ser um sinal
entre todas as Nações, sinal visível de um Deus que ama e que caminha junto.
Não podemos dizer que Deus antes
fez um rascunho do que seria o Reino Ideal e depois passou a limpo, o Antigo
Testamento já é o início da edificação do Reino de Deus, claro que de maneira
prefigurada, mas os Santos Homens que por aqueles tempos ajudaram nessa
obram, têm os seus méritos e nem precisaram ser canonizados, a própria
História da Salvação os canonizou.
O que o evangelho nos mostra é
que Deus confia a administração do seu Reino aos Homens, que se tornam seus
colaboradores ou arrendatários, a Igreja está a serviço do Reino, mas ela não
é o Reino, apenas um sinal visível dele. O Reino é maior e está acima de
qualquer instituição humana. Evidentemente que, exatamente como o
Proprietário da Vinha, Deus espera sempre colher os frutos da sua obra, mas
não pensemos que Deus é um explorador como os Latifundiários da Galiléia, os
frutos aqui mencionados, e que Ele sempre cobra daqueles a quem confiou o
Reino, são frutos que beneficiam os irmãos e irmãs, é na relação com as
pessoas que o cristão produz os frutos da Parreira do Senhor: uvas doces da
Justiça, igualdade, solidariedade, fraternidade e misericórdia.
Interessante porque o evangelho
traz uma crítica duríssima contra os arrendatários do Reino de ontem e de
hoje: além de serem péssimos administradores, porque só ocupam espaço e não
produzem nenhum fruto, ainda por cima se apossam do que não lhes pertence
tornando-se os detentores da Salvação Divina, porque mataram o Herdeiro, isto
é, aquele que é o verdadeiro Dono do Reino, o Filho de Deus, ou seja, Jesus
deixa de ser uma referência para esses trapaceiros da Religião de Israel, e
eles próprios tornam-se a referência como Zeladores da Lei antiga e Fiscais
da Salvação, determinando quem vai se salvar...
É claro que Deus Pai abandonou
esse projeto inadequado, pois o seu Reino de Santidade e perfeição tornou-se
uma grotesca caricatura, e a partir da morte e ressurreição Daquele que os
homens pensaram haver destruído definitivamente, o Reino se refez e tornou-se
definitivo, e de propriedade exclusiva de Deus, manifestado em Jesus de
Nazaré. E assim, a pedra que os construtores de araque rejeitaram , tornou-se
a pedra angular.
Longe de ficarmos olhando para o
passado e condenando os que rejeitaram a Pedra Angular que é o Cristo, e se
apossaram da Vinha do Senhor, é melhor olharmos o presente onde temos
enquanto cristãos essa responsabilidade confiada pelo Senhor, de trabalharmos
em sua Vinha
que é a Igreja, a serviço do mundo. Também nós, se não correspondermos á
Vontade de Deus, iremos perder nosso lugar nessa obra, porque o Dono da Vinha
chama quem ele quiser para vir tomar conta de sua Vinha...
2. Jesus promove a vida
(O comentário do Evangelho abaixo é feito por José Raimundo Oliva)
No dia seguinte ao da expulsão
dos vendedores do Templo de Jerusalém, Jesus volta aí e, em clima de conflito
com os chefes religiosos, lhes dirige uma parábola.
Nesta, temos imagens de um
latifúndio, não como um modelo, mas como uma linguagem para ser compreendida
pelos poderosos. É uma crítica ao governo teocrático da Judeia, que, em nome
de Deus, discriminava e oprimia o povo, em vez de promover-lhe a vida. Os chefes
religiosos entendem a parábola e procuram prender Jesus, para matá-lo,
conforme já haviam decidido (Mt 12,14; Mc 11,18).
Oração
Pai, no teu imenso amor, jamais perdes a esperança de ver realizado o teu
projeto de salvação. Que eu me deixe tocar por teus apelos e me converta
sinceramente para ti.
3. DEUS NÃO SE DEIXA VENCER
(O comentário do Evangelho abaixo
é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório).
A história de Israel, que se
desenrolou como uma espécie de luta entre Deus e o povo eleito, é como que a
parábola de toda história humana. Enquanto Deus se empenha em salvar a
humanidade, esta insiste em caminhar para a condenação. Ele vai lhe
apresentando os meios necessários para que se salve, mas o ser humano
continua destruindo a obra divina. Deus confia na conversão do coração
humano; este, no entanto, frustra, continuamente, a confiança divina.
Apesar disto, o Pai mostra-se
sobremaneira paciente. O primeiro gesto de rebeldia do ser humano seria
suficiente para merecer a punição. Afinal, ele é quem tem uma dívida de
gratidão para com Deus. Criado com todo o carinho, fora-lhe dadas as
condições para viver em comunhão com o Criador e com os demais seres humanos.
Dele se esperava frutos de amor e de justiça. No entanto, seu coração
perverteu-se, levando-a a se rebelar contra Deus. Até mesmo Jesus, que
representa o gesto supremo da boa-vontade divina de salvar o ser humano,
acabou sendo crucificado.
Ao ressuscitar seu Filho, o Pai
estabeleceu-o como sinal de seu amor pela humanidade. Sempre que o ser humano
quiser voltar-se para Deus, pode contar com Jesus. Aquele que fora rejeitado
pelo ser humano, o Pai constituiu-o como "pedra angular" da
salvação.
Oração
Espírito de sensatez, não permitas jamais que eu me rebele contra o amor do
Pai, que quer a minha salvação e espera de mim docilidade a seus apelos de
conversão.
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