2º Domingo de
Páscoa - Domingo da Divina Misericórdia — ANO B
(BRANCO,
GLÓRIA, CREIO, PREFÁCIO DA PÁSCOA I – OFÍCIO PRÓPRIO)
"Reunidos pela fé"
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados irmãos e irmãs! Jesus
ressuscitado está presente na comunidade, dando início à nova criação.
Agradecemos ao Pai pela vitória de Cristo sobre nossa morte, pecados e
incredulidades. Acolhemos a presença do Ressuscitado na comunidade unida e
suplicamos o sopro de seu Espírito para vencer nossos medos, animar nossa fé
ainda tão frágil e nos fortalecer na missão de testemunhas da ressurreição.
Nesta semana inicia-se a 50ª Assembleia Geral dos Bispos do Brasil. Queremos
rezar por todos os bispos, pedindo sempre a presença do ressuscitado entre
eles. Sintamos o
júbilo real de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos
cânticos jubilosos ao Senhor!
Antífona da entrada: Como crianças recém-nascidas, desejai o puro leite
espiritual para crescerdes na salvação, aleluia! (1Pd 2,2)
Comentário: As leituras nos apresentam uma comunidade de Pessoas
Novas que nasce da cruz e da ressurreição de Jesus: a Igreja. A sua missão
consiste em revelar aos homens a vida nova que brota da ressurreição. Às
vezes nossas descren- ças nos assemelham a Tomé, mas é preciso ter a coragem
de fazer a experiência de reconhecer em Cristo o "meu Senhor e meu
Deus".
Primeira Leitura (Atos
4,32-35)
Leitura dos Atos dos Apóstolos.
4 32 A multidão dos fiéis era
um só coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas que
possuía, mas tudo entre eles era comum.
33 Com grande coragem os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor
Jesus. Em todos eles era grande a graça.
34 Nem havia entre eles nenhum necessitado, porque todos os que possuíam
terras e casas vendiam-nas,
35 e traziam o preço do que tinham vendido e depositavam-no aos pés dos
apóstolos. Repartia-se então a cada um deles conforme a sua necessidade.
Salmo responsorial 117/118
Dai graças ao Senhor, porque ele
é bom; "Eterna é a sua misericórdia!"
A casa de Israel agora o diga:
"Eterna é a sua misericórdia!"
A casa de Aarão agora o diga:
"Eterna é a sua misericórdia!"
Os que temem o Senhor agora o digam:
"Eterna é a sua misericórdia!"
Empurraram-me, tentando
derrubar,
mas veio o Senhor em meu socorro.
O Senhor é minha força e o meu canto
e tornou-se para mim o salvador.
"Clamores de alegria e de vitória
Ressoem pelas tendas dos fiéis".
"A pedra que os pedreiros
rejeitaram
tornou-se agora a pedra angular".
Pelo Senhor é que foi feito tudo isso:
que maravilhas ele fez a nossos olhos!
Este é o dia que o Senhor fez para nós,
alegremo-nos e nele exultemos!
Segunda Leitura (1 João
5,1-6)
Leitura da primeira carta de são João.
5 1 Todo o que crê que Jesus é o
Cristo, nasceu de Deus; e todo o que ama aquele que o gerou, ama também
aquele que dele foi gerado.
2 Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus: se amamos a Deus e guardamos
os seus mandamentos.
3 Eis o amor de Deus: que guardemos seus mandamentos. E seus mandamentos não
são penosos,
4 porque todo o que nasceu de Deus vence o mundo. E esta é a vitória que
vence o mundo: a nossa fé.
5 Quem é o vencedor do mundo senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?
6 Ei-lo, Jesus Cristo, aquele que veio pela água e pelo sangue; não só pela
água, mas pela água e pelo sangue. E o Espírito é quem dá testemunho dele,
porque o Espírito é a verdade.
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Acreditaste, Tomé, porque me viste. Felizes os que creram sem ter visto! (Jo
20,29).
EVANGELHO (João
20,19-31)
20 19 Na tarde do mesmo dia, que
era o primeiro da semana, os discípulos tinham fechado as portas do lugar
onde se achavam, por medo dos judeus. Jesus veio e pôs-se no meio deles.
Disse-lhes ele: "A paz esteja convosco"!
20 Dito isso, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos alegraram-se ao
ver o Senhor.
21 Disse-lhes outra vez: "A paz esteja convosco! Como o Pai me enviou,
assim também eu vos envio a vós".
22 Depois dessas palavras, soprou sobre eles dizendo-lhes: "Recebei o
Espírito Santo.
23 Àqueles a quem perdoardes os pecados, ser-lhes-ão perdoados; àqueles a
quem os retiverdes, ser-lhes-ão retidos".
24 Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus.
25 Os outros discípulos disseram-lhe: "Vimos o Senhor". Mas ele
replicou-lhes: "Se não vir nas suas mãos o sinal dos pregos, e não puser
o meu dedo no lugar dos pregos, e não introduzir a minha mão no seu lado, não
acreditarei"!
26 Oito dias depois, estavam os seus discípulos outra vez no mesmo lugar e
Tomé com eles. Estando trancadas as portas, veio Jesus, pôs-se no meio deles
e disse: "A paz esteja convosco"!
27 Depois disse a Tomé: "Introduz aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos.
Põe a tua mão no meu lado. Não sejas incrédulo, mas homem de fé".
28 Respondeu-lhe Tomé: "Meu Senhor e meu Deus!"
29 Disse-lhe Jesus: "Creste, porque me viste. Felizes aqueles que crêem
sem ter visto!"
30 Fez Jesus, na presença dos seus discípulos, ainda muitos outros milagres
que não estão escritos neste livro.
31 Mas estes foram escritos, para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho
de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome.
FORMAÇÃO LITÚRGICA
Oração do Dia
Encerram-se os Ritos Iniciais da
Missa com a "Oração do Dia", também chamada "Coleta" . A expressão "coleta" vem do tempo em que os cristãos
iniciavam a celebração da Eucaristia numa igreja e a continuavam em outra. A primeira
chamava-se "igreja da reunião", em latim, "ecclesia
collecta". Antes de sair em procissão para a segunda igreja, o que
presidia a celebração fazia "a coleta", ou seja, oração da
"comunidade reunida". Hoje, prefere-se a expressão "Oração do
Dia", pois, conforme a orientação do Missal, esta oração "exprime a
índole da celebração" daquele dia . Esta, portanto, não é a
hora de colocar as intenções pessoais. Não é coleta de intenções, mas momento
de os fiéis, a convite (oremos) do que preside, se "conectarem", se
"reunirem" ao redor do que está sendo celebrado na festa do dia.
Para que isto aconteça, solicita-se um breve silêncio depois do convite:
"oremos". Como se pode ver, a oração se compõe de quatro elementos:
o convite, o silêncio, a oração e o amém. O convite à oração: é uma herança
do judaísmo. Os grandes momentos de oração comum da assembléia litúrgica eram
precedidos de um convite. Este convite é um apelo que contém em si o que vai
acontecer. Realiza o que diz, ou seja, coloca em oração. O silêncio:
não é um detalhe facultativo. Está prescrito na . Tem duas funções:
permite aos fiéis tomarem consciência de que estão na presença de Deus e dá
tempo para que cada um exprima para si mesmo o sentido da festa que se está
celebrando. A oração: é composta pela invocação, do pedido (motivo
fundamental da súplica) e da conclusão. O amém: é como se o povo dissesse ao
que preside: "esta é também a nossa prece".
TEXTOS BÍBLICOS PARA A SEMANA:
2ª Br - At 4,23-31; Sl 2(3); Jo 3,1-8
3ª Br - At 4,32-37; Sl 92(93); Jo 3,7b-15
4ª Br - At 5,17-26; Sl 33(34); Jo 3,16-21
5ª Br - At 5,27-33; Sl 33(34); Jo 3,31-36
6ª Br - At 5,34.42; Sl 26(27); Jo 6,1-15
Sb Vm - At 6,1-7; Sl 32(33); Jo 6,16-21
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "ELE ESTÁ NO
MEIO DE NÓS!"
Provavelmente um dos maiores equívocos
que alguns cristãos cometem nos dias de hoje, é o de ausentar-se das
celebrações dominicais por verem nelas a repetição monótona de um rito, que
já sabem de cor e salteado. Uma partida de futebol também nunca sai da
mesmice, em todo jogo nada muda, mas vá dizer a um torcedor que o futebol é
monótono e cansativo, imediatamente ele irá afirmar que cada partida é uma
história e uma emoção diferente, indescritível. O mesmo se diga de uma peça
de teatro que se vê mais de uma vez, ou de um bom livro, eu mesmo perdi a conta
de quantas vezes li “Éramos Seis...”, em cada leitura há algo de novo nos
personagens ou no enredo, nunca é a mesma coisa. Então por que alguns
cristãos acham a celebração tão chata e repetitiva?
Naqueles primeiros tempos do
cristianismo, a pessoa de Jesus, seus ensinamentos e sua história ainda
estava muito viva no coração dos seus seguidores, os apóstolos. Eles falavam
com entusiasmo de Jesus, não como um herói nacional a ser reverenciado, mas
como alguém presente, que caminha com a comunidade tomada pelo seu Espírito
que a anima e lhe faz sentir esta vida nova que ele deu a todos.
Muita gente não entendia,
admiravam Jesus, falavam muito dele, mas como alguém que foi um exemplo, um
idealista, um líder nato, um grande profeta, um mestre sem igual em Israel,
há até mesmo uma corrente de teólogos que reduzem a ressurreição a uma
lembrança muito forte de Jesus no coração das pessoas que o conheceram e que
o amaram profundamente, perpetuando sua memória entre eles nos encontros da
comunidade. A verdade é que, a vida em comunidade só é possível quando a
gente faz uma experiência pessoal com Jesus Cristo, quando o seu anúncio toca
no fundo do coração e começamos a senti-lo a cada instante de nossa vida,
quando o seu evangelho nos encanta e supera qualquer ideologia de felicidade
que este mundo possa nos oferecer, quando descobrimos que ele nos conhece
profundamente, e tem por nós um amor imenso, grandioso, que não hesita em
dar-nos a própria vida. Quando percebemos que a salvação por ele oferecida
não é algo misterioso, que só iremos ter após a nossa morte, mas que nessa
vida a sentimos nas profundezas do nosso ser, quando conseguimos harmonizar
todas as nossas virtudes e carismas, com o projeto que o Filho de Deus
inaugurou em nosso meio.
Então o nosso coração quer estar
junto de outros irmãos e irmãs, que fizeram essa mesma descoberta, para
comemorar e celebrar essa presença misteriosa do Senhor em nossa vida, que se
torna mais forte na vida de igreja. Para Tomé não faltou este testemunho dos
seus irmãos apóstolos “Vimos o Senhor!”, não se trata apenas de um VER com os
olhos, mas de um sentir com o coração, capaz de perceber nas marcas da paixão
a evidência mais forte de um amor sem medida pelos seus.
A comunidade recebe o dom da
Paz, nascida da vitória definitiva sobre as forças do mal, o discípulo que
recebeu a Paz do Senhor, não pode nunca colocar em dúvida, em sua vida e na
vida do mundo, o triunfo do Bem supremo sobre o mal, viver nessa paz, longe
de permanecer de braços cruzados, é antes ir a luta pelo reino em que se crê,
na certeza de que ele um dia se tornará visível em toda sua plenitude.
Comunidade, portanto, é lugar de se receber o sopro de vida e renovação em
cada momento celebrativo, é lugar onde a gente se reveste desse Espírito
Santo, lugar onde somos recriados, restaurados, tornando-nos novas criaturas
em Cristo.
Para se fazer essa experiência
profunda, não é necessário uma celebração especial, deste ou daquele grupo,
nem tão pouco um padrão “X” ou “Y” de espiritualidade, nem precisa
identificar-se como conservador ou progressista, adeptos desta ou daquela
eclesiologia, nem é preciso buscar revelações espetaculares, e ser agraciado
com grandioso milagre, também não precisa tornar-se um místico, nem um
alienado das realidades que nos cercam, é preciso apenas ser testemunha do
amor, vivido e celebrado não de maneira egoísta, mas com os irmãos e irmãs da
comunidade, em torno da Eucaristia, amor que nos alimenta.
Diante do testemunho recebido,
Tomé limita-se no VER de enxergar, com os olhos da carne, para ele, naquele
momento, e também para muitos nos dias de hoje, a celebração tem que ser um
“arraso”, um show inesquecível, onde os ministros, como grandes estrelas,
conseguem nos fazer VER Jesus, tem que valer o ingresso e o esforço de estar
lá, é a celebração como espetáculo, mexendo com razão de ser, e com o
emocional.
A Fé no Senhor ressuscitado que
caminha com a sua igreja, não precisa de sinais ou provas, Cristo Jesus não
precisa provar mais nada, nós é que precisamos provar a nossa fé, aceitando
viver e celebrar em uma comunidade, onde nada ocorre de excepcional, mas onde
cada encontro é diferente, porque fazemos essa experiência do Cristo vivo,
que caminha conosco, podemos vê-lo e tocá-lo nos sacramentos, podemos
ouvi-lo, e de fato o ouvimos na santa palavra, podemos percebê-lo na vida dos
irmãos, razão pela qual não cansamos de repetir com a alma em júbilo, a cada
saudação de quem preside “Ele está no meio de nós!”.
Se tivermos convicção desta
afirmativa, o nosso testemunho será tão vivo e autêntico como o dos
apóstolos, e o nosso coração baterá mais forte cada vez que chegar o DOMINGO,
dia do Senhor.
2. A paz de Jesus Nesta aparição aos discípulos
reunidos, por três vezes Jesus dá a paz aos discípulos. Durante a última ceia
Jesus já lhes concedera, de maneira expressiva, a paz (Jo 14,27); e agora, na
condição de Ressuscitado, a renova. A paz do mundo se perde na ilusão das
disputas de poder e riqueza, e os discípulos, de sua parte, vivem a
perturbação de momentos de perseguição. A paz de Jesus, que se faz presente
entre seus discípulos, fortalece os corações firmando-os no amor e na vida
eterna de Deus.
Jesus também, na última ceia,
anunciara o envio do Espírito que procede do Pai, o Consolador na ausência
sensível de Jesus (Jo 15,26). Espírito Santo, ou Consolador, é a expressão da
personalização do Amor de Deus. É o amor que move os discípulos à missão
libertadora e promotora da vida. O pecado consiste na colaboração com a ordem
injusta que impera na sociedade ou em qualquer outro atentado contra a vida.
Gerados por Deus, os discípulos com sua fé vencem o mundo (segunda leitura).
Com seu testemunho da partilha (primeira leitura), da justiça e do amor
removem o pecado do mundo.
A narrativa da experiência de
Tomé com o ressuscitado é bem expressiva quanto à questão da necessidade das
aparições, e até do toque, para confirmar a fé. Ele é o tipo do "ver
para crer", ao qual Jesus contrapõe a bem-aventurança dos que creram sem
ver.
Entre as primeiras comunidades
vinculadas à comunidade de Jerusalém surgiu a tradição do ver o ressuscitado
como condição para ser incluído entre as lideranças. A partir daí, surge a
tradição da fé no testemunho destas lideranças, sem ver. Este episódio do
evangelho de hoje relativiza as narrativas de visões do ressuscitado. Assim
acontece, também, com o episódio em que o discípulo que Jesus amava, diante
do túmulo vazio, creu sem ver o ressuscitado (Jo 20,8; cf. 12 abr.). Para
crer não é necessário ver. A fé brota da experiência de amor que os
discípulos tiveram no convívio com Jesus, e da mesma experiência de amor que
se pode ter, hoje, nas relações fraternas de acolhimento, de doação e
serviço, de misericórdia e compaixão, na fidelidade às palavras de Jesus.
A bem-aventurança conferida
àqueles que creem sem ver é bem convincente no sentido da desnecessidade de
aparições para que se possa perceber, na fé, a presença do Jesus eterno em
nossas vidas, nas nossas comunidades e no mundo.
Oração
Pai, abre todas as portas que me mantém fechado no medo e na insegurança,
para que eu vá ao encontro do mundo a ser evangelizado.
3. BEM-AVENTURANÇA: CRER SEM VER Durante a última ceia, Jesus já
comunicara aos discípulos, de maneira expressiva, a sua paz (Jo 14,27); e
agora, na condição de ressuscitado, a renova. Jesus aparece entre os
discípulos reunidos, anuncia-lhes a paz e mostra-lhes as chagas. Os
discípulos estão com as portas trancadas com medo dos judeus. Este detalhe
exprime a situação da comunidade de João, excluída pelos judeus, os quais,
inclusive, denunciavam os cristãos aos romanos. Porém, a presença do
ressuscitado liberta a comunidade do medo e lhes traz a alegria. O mostrar as
chagas das mãos e a do lado é a confirmação de identificação do ressuscitado
com Jesus de Nazaré, que foi crucificado. Agora, conforme anunciara nos
discursos de despedida, Jesus comunica aos discípulos o Espírito, soprando
sobre eles. Os discípulos são enviados em missão, com o conforto do Espírito.
Suas comunidades, que vivem na comunhão e partilha (primeira leitura),
movidas pela fé em Jesus (segunda leitura), são responsáveis pela prática da
misericórdia no acolhimento dos excluídos como pecadores e de todos aqueles
que se sentem atraídos por Jesus. A partir da experiência de Tomé, Jesus
proclama a bem-aventurança da fé. Começa o tempo dos bem-aventurados que não
viram e creram.
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Liturgia da Segunda
Feira
II
SEMANA DA PÁSCOA
(BRANCO – OFÍCIO DA
MEMÓRIA)
Antífona da entrada: O Cristo, ressuscitado dos mortos, já não morre; a
morte não tem mais poder sobre ele, aleluia! (Rm 6,9)
Leitura (Atos 4,23-31)
Leitura dos Atos dos Apóstolos.
4 23 Naqueles dias, postos em
liberdade, voltaram aos seus irmãos e referiram tudo quanto lhes tinham dito
os sumos sacerdotes e os anciãos.
24 Ao ouvirem isso, levantaram unânimes a voz a Deus e disseram:
"Senhor, vós que fizestes o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há.
25 Vós que, pelo Espírito Santo, pela boca de nosso pai Davi, vosso servo,
dissestes: ´Por que se agitam as nações, e imaginam os povos coisas vãs?
26 Levantam-se os reis da terra, e os príncipes se reúnem em conselho contra
o Senhor e contra o seu Cristo.´
27 Pois na verdade se uniram nesta cidade contra o vosso santo servo Jesus,
que ungistes, Herodes e Pôncio Pilatos com as nações e com o povo de Israel,
28 para executarem o que a vossa mão e o vosso conselho predeterminaram que
se fizesse.
29 Agora, pois, Senhor, olhai para as suas ameaças e concedei aos vossos
servos que com todo o desassombro anunciem a vossa palavra.
30 Estendei a vossa mão para que se realizem curas, milagres e prodígios pelo
nome de Jesus, vosso santo servo!"
31 Mal acabavam de rezar, tremeu o lugar onde estavam reunidos. E todos
ficaram cheios do Espírito Santo e anunciaram com intrepidez a palavra de
Deus.
Salmo responsorial 2
Felizes hão de ser todos aqueles
que põem sua esperança no Senhor.
Por que os povos agitados se
revoltam?
Por que tramam as nações projetos vãos?
Por que os reis de toda a terra se reúnem,
e conspiram os governos todos juntos
contra o Deus onipotente e seu ungido?
"Vamos quebrar suas correntes", dizem eles,
"e lançar longe de nós o seu domínio!"
Ri-se deles o que mora lá nos
céus;
zomba deles o Senhor onipotente.
Ele, então, em sua ira os ameaça
e em seu furor faz tremer, quando lhes diz:
"Fui eu mesmo que escolhi este meu rei
e em Sião, meu monte santo, o consagrei!"
O decreto do Senhor promulgarei,
foi assim que me falou o Senhor Deus:
"Tu és meu filho, e eu hoje te gerei!
Podes pedir-me, e em resposta eu te darei,
por tua herança, os povos todos e as nações,
e há de ser a terra inteira o teu domínio.
Com cetro férreo haverás de dominá-los
e quebrá-los como um vaso de argila!"
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Se com cristo ressurgistes, procurai o que é do alto, onde Cristo está
sentado à direita de Deus Pai (Cl 3,1).
Evangelho (João 3,1-8)
3 1 Havia um homem entre os fariseus, chamado Nicodemos, príncipe dos judeus.
2 Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: "Rabi, sabemos que és
um Mestre vindo de Deus. Ninguém pode fazer esses milagres que fazes, se Deus
não estiver com ele".
3 Jesus replicou-lhe: "Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer
de novo não poderá ver o Reino de Deus".
4 Nicodemos perguntou-lhe: "Como pode um homem renascer, sendo velho?
Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e nascer pela segunda
vez?"
5 Respondeu Jesus: "Em verdade, em verdade te digo: quem não renascer da
água e do Espírito não poderá entrar no Reino de Deus.
6 O que nasceu da carne é carne, e o que nasceu do Espírito é espírito.
7 Não te maravilhes de que eu te tenha dito: ´Necessário vos é nascer de
novo´.
8 O vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem
para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito".
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "Nicodemos entrou na Catequese..."
Gosto de Nicodemos pois ele era um
homem de grande importância entre os Judeus, pessoa da mais alta reputação,
que representava toda a tradição de Israel. Sentiu-se atraído por Jesus,
ouvia falar de seus milagres, de suas palavras e ensinamentos e começou a
admirá-lo, quis entrar na catequese para aprender mais e foi á noite, porque
receava ser descoberto pelos irmãos do Judaísmo, afinal tinha um nome a
zelar...
Está certo que só isso já é
razão para criticá-lo e dizer que hoje em dia tem muitos cristãos como ele,
que têm medo e vergonha de professar a sua Fé. Mas temos que olhar o outro
lado da questão, com medo ou não, Nicodemos começou naquela noite a abrir a
sua vida e o seu coração para que Jesus entrasse.
Começou a aula dizendo que sabia
quem era Jesus, mas demonstrava claramente o desejo de saber ainda mais, olha
que bonita confissão de Fé "Rabi sabemos que és um Mestre vindo de Deus,
pois ninguém pode fazer esses milagres que fazes se Deus não estiver com
ele". Jesus como um bom catequista aproveita o entusiasmo e a abertura
do novo catequizando e aprofunda a lição explicando que quem quiser entrar no
Reino de Deus precisa nascer de novo...
Nicodemos era um aluno novo,
recém, iniciado na Fé e não compreendendo o ensinamento não teve vergonha de
colocar a sua dúvida. A verdadeira catequese é sempre dialogante, e quer
levar o catequizando a fazer uma experiência profunda com Jesus. E Jesus
retoma pacientemente a lição afirmando que se trata de um nascimento
espiritual e não carnal, trata-se de uma Vida Nova que vem com o Batismo,
dado pelo Espírito Santo que é a Força de Deus e, portanto, não dá para se
manipular. Vem e vai, sopra onde quer, como vento, e o homem sente a sua
ação, mas não consegue detê-lo ou controlá-lo. A iniciativa é totalmente de
Deus.
Jesus na verdade está dizendo
que, aquele que se abre á graça de Deus, permite que nele tenha início o
processo de algo novo que ninguém conseguirá impedir que aconteça.
Nicodemos tinha tudo para ser
como os outros e odiar a Jesus de Nazaré rejeitando sua pessoa, seu ensinamento
e suas obras para condená-lo á morte, entretanto, naquela noite na primeira
aula de catequese algo mudou dentro dele.
Vamos encontrá-lo no enterro de
Jesus, junto com José de Arimatéia, agora na qualidade de discípulo porque
mantendo a abertura para a Graça de Deus dada em Jesus, ele encontrara
finalmente a Verdade e ela o libertou... Mas este processo não foi da noite
para o dia, Nicodemos foi um bom catequizando...
2. Nascer de novo
Em João, este diálogo com Nicodemos
acontece durante a primeira visita de Jesus a Jerusalém, depois da expulsão
dos comerciantes do Templo. Os sinais feitos por Jesus despertaram a fé em muitos. Jesus
percebia que era uma fé superficial, misto de curiosidade e sinceridade.
Nicodemos representa o grupo dos
fariseus. Encontra-se com Jesus, furtivamente, à noite. Reconhece que Deus
está com Jesus, mas está apegado à expectativa do messias glorioso. Sua
formação legalista não lhe permite entender a mensagem de Jesus, em sua
linguagem simbólica. Não compreende o que é nascer do alto, nascer da água e
do Espírito. Em lugar da rigidez da Lei carnal, é o Espírito que a todos
conduz.
O nascimento do alto, a acolhida
e a docilidade ao Espírito de amor completam a criação do homem e da mulher.
Oração
Pai, faze-me nascer de novo e renovar minha condição de discípulo de Jesus,
totalmente confiado em ti, a serviço da construção do teu Reino.
3. NASCER DE NOVO Várias eram as interpretações
sobre a identidade de Jesus. Este chefe dos judeus, Nicodemos, o considera um
"rabi". Os rabis eram mestres da Lei que ensinavam a sua estrita
observância, pela qual se antecipariam os tempos apocalípticos da
manifestação da glória de Israel. Diante do engano de Nicodemos, Jesus, com
sutileza, lhe apresenta o caminho da conversão: o nascer do alto. É a
proposta da substituição da Lei pelo Espírito. Nicodemos, que representa a
doutrina judaica, não o entende. O nascer do Espírito é a perfeição da
criação, confere à carne o dom da eternidade e aos homens e mulheres, a
filiação divina. A ação vivificante do Espírito não está atrelada a nenhum
sistema religioso ou legal. O Espírito é livre, sopra onde quer, e assim
também quem nasce do Espírito.
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Liturgia da Terça-Feira
II
SEMANA DA PÁSCOA
(BRANCO – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Alegremo-nos, exultemos e demos glória a Deus, porque o
Senhor todo-poderoso tomou posse do seu reino, aleluia! (Ap 19,7.6)
Leitura (Atos 4,32-37)
Leitura dos Atos dos Apóstolos.
32 A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma.
Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuía, mas tudo entre eles era
comum.
33 Com grande coragem os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor
Jesus. Em todos eles era grande a graça.
34 Nem havia entre eles nenhum necessitado, porque todos os que possuíam
terras e casas vendiam-nas,
35 e traziam o preço do que tinham vendido e depositavam-no aos pés dos
apóstolos. Repartia-se então a cada um deles conforme a sua necessidade.
36 Assim José (a quem os apóstolos deram o sobrenome de Barnabé que quer
dizer Filho da Consolação), levita natural de Chipre, possuía um campo.
37 Vendeu-o e trouxe o valor dele e depositou aos pés dos apóstolos.
Salmo responsorial 92/93
Reina o Senhor, revestiu-se de
esplendor.
Deus é rei e se vestiu de
majestade,
revestiu-se de poder e de esplendor!
Vós firmastes o universo
inabalável,
vós firmastes vosso trono desde a origem,
desde sempre, ó Senhor, vós existis!
Verdadeiros são os vossos
testemunhos,
refulge a santidade em vossa casa
pelos séculos dos séculos, Senhor!
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
O Filho do homem há de ser levantado, para que quem crer possua a vida eterna
(Jo 3,14s).
Evangelho (João 3,7-15)
7 Disse Jesus a Nicodemos: Não
te maravilhes de que eu te tenha dito: Necessário vos é nascer de novo.
8 O vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem, nem
para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito.
9 Replicou Nicodemos: Como se pode fazer isso?
10 Disse Jesus: És doutor em Israel e ignoras estas coisas!...
11 Em verdade, em verdade te digo: dizemos o que sabemos e damos testemunho
do que vimos, mas não recebeis o nosso testemunho.
12 Se vos tenho falado das coisas terrenas e não me credes, como crereis se
vos falar das celestiais?
13 Ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu, o Filho do Homem que
está no céu.
14 Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim deve ser levantado o
Filho do Homem,
15 para que todo homem que nele crer tenha a vida eterna.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "Ainda sobre
Nicodemos, um catequizando persistente..."
Muitos catequizandos e catequizandas
desistem no meio do caminho, porque descobrem que a catequese não é um
amontoado de conceitos religiosos e doutrinais, no decorrer dos encontros e
com o passar dos dias percebem que a Palavra de Deus ali ensinada os obriga a
rever sua vida e a abrir-se para um modo novo de viver, mudando algumas
coisas. Daí muitos acabam desistindo, às vezes frequentam até o fim, mas logo
após a Crisma somem das Comunidades...
Nicodemos não é desses, percebeu
que a coisa era mais séria do que pensava, ele era um Doutor em Israel, como
disse o próprio Jesus, mas não teve medo de demonstrar sua falta de
conhecimento em relação às coisas profundas que Jesus lhe dizia. Acostumado a
pensar e a se relacionar com o Deus da Aliança, através dos ritos,
holocaustos no templo e o seguimento da Lei de Moisés, Nicodemos aprende que
o importante é a Fé no Filho do Homem que é Jesus.
Jesus por seu lado, não foi
arrogante, mas paciencioso, de maneira sábia e prudente, como deve ser um
catequista, entrou no mundo de Nicodemos, tomando como exemplo alguém que ele
admirava e lhe era de extrema importância em sua crença Judaica. Acho que foi
naquele momento que Jesus conquistou o coração de Nicodemos, quando falou de
Moisés, que levantou a serpente de bronze no deserto, bastando que quem
tivesse sido picado pelas serpentes venenosas, olhasse para ela e já estaria
salvo. Basta um olhar de Fé para Jesus e a salvação acontecerá na vida dá
passos e ela passará a ter a Vida Eterna...
Com isso Jesus não fica só na
teoria, mas esclarece que a Salvação é um processo dinâmico, todos os dias,
nas mais diferentes situações, movidos pelo Espírito Santo, em nossas ações
manifestamos nossa Fé e adesão a Jesus Cristo e vamos sendo curados de nossas
dores e pecados, vamos morrendo com ele mas também ressuscitando...
É isso que significa nascer de
novo, um fato que agora já era luz e certeza no coração daquele
catequizando...
2. Traços de uma
catequese batismal
Neste texto do evangelho temos a
continuidade do diálogo de Jesus com Nicodemos. Pode-se pensar que o
evangelista João, ao fazer sua narrativa, com as expressões: "nascer da
água", "nascer do alto" e "nascer do espírito", faz
uma alusão ao batismo. Percebem-se aí traços de uma catequese batismal. É o
batismo de João, na água, assumido pelo Espírito, em Jesus. O Espírito
sopra onde quer e as comunidades cristãs vão surgindo livres de critérios de
raça ou tradição.
Nicodemos só entende a letra nas
Escrituras e manifesta incompreensão do testemunho de Jesus, que fala do que
conhece e do que viu "no céu". Não se abre à inspiração do
Espírito. Jesus dá por encerrado o diálogo.
Na parte final do texto, com uma
construção literária diferente do diálogo, João passa a esclarecer o caráter
celestial de Jesus. Quem olhasse a serpente de bronze levantada por Moisés,
não morreria das picadas venenosas. Assim, pela fé em Jesus, que vivendo a
plenitude do amor foi levantado na cruz, alcança-se a vida eterna.
Oração
Pai, lança-me, cada dia, na aventura do Espírito, que me tira do comodismo e
do abatimento e me faz superar meus próprios limites.
3. ALUSÃO AO BATISMO
Continua o diálogo de Jesus com
Nicodemos, o qual exprime o impasse entre a incredulidade da sinagoga e a fé
das comunidades cristãs no tempo de João. O nascer da água e do espírito é
uma alusão ao batismo. Podemos ver aí traços de uma catequese batismal. É o
batismo de João, na água, assumido pelo Espírito, em Jesus. O Espírito
sopra onde quer e as comunidades cristãs vão surgindo livres de critérios de
raça ou tradição.
Nicodemos só entende a letra nas
Escrituras. Não se abre à inspiração do Espírito e não aceita o testemunho de
Jesus, que fala do que conhece e viu "no céu". Com uma construção
literária diferente do diálogo, o Evangelho de João passa a esclarecer o
caráter celestial de Jesus. Quem olhasse a serpente de bronze levantada por
Moisés não morreria das picadas das serpentes. Assim a fé no Filho do Homem
exaltado na cruz leva à vida eterna.
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Liturgia da
Quarta-Feira
II
SEMANA DA PÁSCOA
(BRANCO – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Senhor, eu vos louvarei entre os povos, anunciarei
vosso nome aos meus irmãos, aleluia! (Sl 17,50;21,23)
Leitura (Atos 5,17-26)
Leitura dos Atos dos Apóstolos.
5 17 Levantaram-se então os
sumos sacerdotes e seus partidários (isto é, a seita dos saduceus) cheios de
inveja,
18 e deitaram as mãos nos apóstolos e meteram-nos na cadeia pública.
19 Mas um anjo do Senhor abriu de noite as portas do cárcere e, conduzindo-os
para fora, disse-lhes:
20 "Ide e apresentai-vos no templo e pregai ao povo as palavras desta
vida".
21 Obedecendo a essa ordem, eles entraram ao amanhecer, no templo, e
puseram-se a ensinar. Enquanto isso, o sumo sacerdote e os seus partidários
reuniram-se e convocaram o Grande Conselho e todos os anciãos de Israel, e
mandaram trazer os apóstolos do cárcere.
22 Dirigiram-se para lá os guardas, mas ao abrirem o cárcere, não os
encontraram, e voltaram a informar:
23 "Achamos o cárcere fechado com toda segurança e os guardas de pé
diante das portas, e, no entanto, abrindo-as, não achamos ninguém lá
dentro".
24 A essa notícia, os sumos sacerdotes e o chefe do templo ficaram perplexos
e indagaram entre si sobre o que significava isso.
25 Mas, nesse momento, alguém transmitiu-lhes esta notícia: "Aqueles
homens que metestes no cárcere estão no templo ensinando o povo!"
26 Foi então o comandante do templo com seus guardas e trouxe-os sem violência,
porque temiam ser apedrejados pelo povo.
Salmo responsorial 33/34
Este infeliz gritou a Deus e foi
ouvido.
Bendirei o Senhor Deus em todo o
tempo,
seu louvor estará sempre em minha boca.
Minha alma se gloria no Senhor;
que ouçam os humildes e se alegrem!
Comigo engrandecei ao Senhor
Deus,
exaltemos todos juntos o seu nome!
Todas as vezes que o busquei, ele me ouviu
e de todos os temores me livrou.
Contemplai a sua face e
alegrai-vos,
e vosso rosto não se cubra de vergonha!
Este infeliz gritou a Deus e foi ouvido,
e o Senhor o libertou de toda angústia.
O anjo do Senhor vem acampar
ao redor dos que o temem e os salva.
Provai e vede quão suave é o Senhor!
Feliz o homem que tem nele o seu refúgio!
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Deus o mundo tanto amou, que lhe deu seu próprio Filho, para que todo o que
nele crer encontre vida eterna (Jo 3,16).
Evangelho (João 3,16-21)
3 16 Com efeito, de tal modo
Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer
não pereça, mas tenha a vida eterna.
17 Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o
mundo seja salvo por ele.
18 Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado; por que
não crê no nome do Filho único de Deus.
19 Ora, este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais
as trevas do que a luz, pois as suas obras eram más.
20 Porquanto todo aquele que faz o mal odeia a luz e não vem para a luz, para
que as suas obras não sejam reprovadas.
21 Mas aquele que pratica a verdade, vem para a luz. Torna-se assim claro que
as suas obras são feitas em Deus.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "A Vocação para
o amor... Essência da Vida Humana"
Todo Ser humano deve abrir-se para
esta vocação comum a que foi chamado por Deus para essa existência. O sentido
da Vida do homem está no amor. Portanto, Jesus, o Filho de Deus não veio para
"forçar a barra" obrigando o homem a reconhecer a Deus. O ato de
amor supremo que Deus manifestou no seu Filho Jesus é um convite para o homem
olhar para si mesmo, sua vocação a viver um amor da plenitude, olhando para
Jesus e o conhecendo melhor, o Ser humano olha para si mesmo e se reconhece
como imagem e semelhança de Deus, com uma vocação natural para o amor. Crer em
Jesus não é um projetar-se para fora, mas para dentro, não o aceitá-lo, não
acreditar Nele é contrariar a própria natureza humana, é tirar de si mesmo a
Dignidade própria de ser também Filhos de Deus e portanto, irmãos no Senhor.
O homem está inserido dentro de
Deus, Ele é a realidade que nos envolve, estamos no útero de Deus, sendo
gestados nesta vida para a Plenitude a que Deus nos criou e nos predestinou e
que não é um mundo estranho, pois Jesus, que tem em si esses dois mundos e as
duas naturezas, a Humana e a Divina, veio até nós e está entre nós. Jesus,
Nosso Deus e Senhor, é o Elo com tudo o que somos realmente, segundo o
Desígnio Divino.
Por esta razão no evangelho de
hoje Jesus nos é apresentado como o Fiel da Balança, o sentido da Vida, a
nossa realização como pessoa, depende da nossa Crença Nele, e quem não crer
em Jesus já está condenado, a viver uma existência sem nenhuma perspectiva,
onde é proibido sonhar com algo de promissor em uma outra Vida, quem não crer
em Jesus está negando a Vocação natural para o amor que impulsiona a Vida.
E a Vida de quem não crê, perde
então o seu sentido verdadeiro, as dúvidas e incertezas são constantes,
muda-se a todo o momento de caminho e no final da jornada descobre-se
horrorizado que todos os caminhos percorridos pela mera razão, não conduziram
a lugar nenhum. Por isso João contrapõe Luz e Trevas, pois quem descobriu o
sentido da Vida que está em Cristo, encontrou respostas para mil perguntas
sobre a existência humana, encontrou, portanto a Luz da Verdade que iluminará
suas decisões e irá requalificar todas suas obras tornando-as obras da Luz.
Cada dia, cada hora e cada
momento desta vida, é uma oportunidade valiosa que Deus nos concede para
fazermos essa descoberta. Essa possibilidade termina com a morte biológica,
quando devemos estar prontos para plenificar a nossa existência e seguir em
frente...
2. Em Jesus o Pai
manisfesta seu amor
A revelação de Jesus, na continuidade
do diálogo com Nicodemos, atinge seu auge nesta sua conclusão. Deus amou
tanto o mundo que deu seu Filho, enviando-o pela sua concepção no ventre de
Maria, na encarnação. O novo Adão, Jesus, já é a realidade da nova
humanidade: é o homem que, na condição de Filho de Deus, já é divino e
eterno.
O fruto do amor não é a
condenação, mas a salvação, que é realizada por Deus, com o dom gratuito da
vida eterna, e alcançada pela fé. Jesus, a luz do mundo, vem como dom e prova
do amor de Deus. Sua glória, que é a glória do Pai, é a comunicação deste
amor.
Contudo, afastam-se da luz
aqueles que amam as trevas. Estes, escravos da riqueza e do poder, praticam a
injustiça e a violência, promovem a guerra, semeando a miséria e a morte.
Entram em comunhão de vida
eterna com Jesus todos aqueles que praticam a verdade e a justiça, empenhados
na promoção da vida plena para todos.
Oração
Senhor Jesus, conduze-me sempre pelos caminhos da vida. E ensina-me a ser
grato ao Pai por seu grande amor à humanidade.
3. CRER EM JESUS
João, ao longo de seu Evangelho, retoma e aprofunda os
temas anunciados no Prólogo (1,1-18). A encarnação é fruto do amor de Deus ao
mundo. E este amor consiste em conceder a vida eterna a quem crer em Jesus. Em oposição à
Lei que fixa o pecado e condena, Jesus vem para libertar e dar vida. Crer
nele é converter-se. A adesão de fé a Jesus e a conversão resultam do acolher
o seu testemunho e as suas palavras. Ele é a luz do mundo. Após anunciar a
luz no Prólogo, João o repete com insistência em seu Evangelho. A
luz é a transparência, a compreensão, a verdade e o bem que geram a vida. As
trevas são as ambigüidades, o engodo, a mentira e o mal que procuram sufocar
a vida. Quem se recusa a sair das trevas para caminhar na luz vai tendo sua
própria vida sufocada. Porém, a luz tem o poder de invadir as trevas. Assim
também Jesus, com seu amor, invade os corações e os atrai para si.
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Liturgia da
Quinta-Feira
II
SEMANA DA PÁSCOA
(BRANCO – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Ó Deus, quando saístes à frente do vosso povo,
abrindo-lhe o caminho e habitando entre eles, a terra estremeceu, fundiram-se
os céus, aleluia! (Sl 67,8s.20)
Leitura (Atos 5,27-33)
Leitura dos Atos dos Apóstolos.
Naqueles dias, 5 27
trouxeram-nos e os introduziram no Grande Conselho, onde o sumo sacerdote os
interrogou, dizendo:
28 "Expressamente vos ordenamos que não ensinásseis nesse nome. Não
obstante isso, tendes enchido Jerusalém de vossa doutrina! Quereis fazer
recair sobre nós o sangue deste homem!"
29 Pedro e os apóstolos replicaram: "Importa obedecer antes a Deus do
que aos homens.
30 O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, que vós matastes, suspendendo-o
num madeiro.
31 Deus elevou-o pela mão direita como Príncipe e Salvador, a fim de dar a
Israel o arrependimento e a remissão dos pecados.
32 Deste fato nós somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus deu a
todos aqueles que lhe obedecem".
33 Ao ouvirem essas palavras, enfureceram-se e resolveram matá-los.
Salmo responsorial 33/34
Este infeliz gritou a Deus e foi
ouvido.
Bendirei o Senhor Deus em todo o
tempo,
seu louvor estará sempre em minha boca.
Provai e vede quão suave é o Senhor!
Feliz o homem que tem nele o seu refúgio!
Ma ele volta a sua face contra
os maus
para da terra apagar sua lembrança.
Clamam os justos, e o Senhor bondoso escuta
e de todas as angústias os liberta.
Do coração atribulado ele está
perto
e conforta os de espírito abatido.
Muitos males se abatem sobre os justos,
mas o Senhor de todos eles os liberta.
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Acreditaste, Tomé, porque me viste. Felizes os que crêem sem ter visto (Jo
20,29).
EVANGELHO (Lucas
24,35-48)
3 31 "Aquele que vem de
cima é superior a todos. Aquele que vem da terra é terreno e fala de coisas
terrenas. Aquele que vem do céu é superior a todos.
32 Ele testemunha as coisas que viu e ouviu, mas ninguém recebe o seu
testemunho.
33 Aquele que recebe o seu testemunho confirma que Deus é verdadeiro.
34 Com efeito, aquele que Deus enviou fala a linguagem de Deus, porque ele
concede o Espírito sem medidas.
35 O Pai ama o Filho e confiou-lhe todas as coisas.
36 Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; quem não crê no Filho não verá
a vida, mas sobre ele pesa a ira de Deus".
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "Fé, um Elo com
aquilo que somos de fato..."
Há pessoas que acham que esse negócio
de Fé, é apenas mais uma opção de vida, uma questão de opinião, e nesse caso
trata-se de algo que não é essencial e ter ou não ter, não faz nenhuma
diferença. Na verdade quem pensa dessa forma comete um equívoco terrível e
que no final da história será desastroso. Não porque Deus irá castigar quem
não têm Fé, mas porque a Fé é esse Elo com aquilo que realmente nós somos e
não tê-la assume-se o risco de viver a esmo sem saber para onde estamos
caminhando...
Faltando-lhe a Fé o homem tenta
se apoiar em ideologias humanas, Filosofias de Vida, racionalismo e tudo mais
que lhe apresente um sentido para o existir. Acontece que todas essas coisas
até ajudam, mas haverá um momento em nossa vida, que nenhuma delas dará
resposta aos nossos anseios.
Tudo que o homem vai desvendando
á Luz da ciência vai também perdendo seu encanto e nada há neste mundo que
não possa ser explicado, entretanto, a Fé implica no Mistério de Deus e esse
será sempre inacessível a quem não crê. Neste evangelho Jesus fala em coisas
opostas para explicar que realmente são coisas diferentes, porém interligadas
pela Fé. Aquele que vem da Terra e aquele que vem do Céu... Falam de coisas
diferentes, e o conhecimento humano nunca conseguirá abarcar a Fé, mas esta
consegue envolver o conhecimento humano, aprimorá-lo e conduzi-lo além, pois
quando há da parte do homem essa abertura necessária, Deus se permite
encontrar e se Revela.
Jesus Cristo seu Filho foi quem
iniciou essa experiência, Ele é de fato Aquele que veio do Céu, que nos
trouxe as coisas do céu falando abertamente sobre elas, mas por outro lado se
encarnou entre nós tornando-se, portanto, um de nós, e sendo também aquele
que veio da terra e por isso o seu testemunho é autêntico e verdadeiro,
porque veio de cima, mas fala a nossa linguagem, sendo um de nós.
Na verdade a chave da Vida está em Jesus Cristo, só
Nele chegaremos a compreensão de quem somos, de onde viemos e para onde
caminhamos, pois o Pai confiou-lhe todas as coisas, inclusive a Vida de cada
homem e cada mulher. Por isso quem Nele crer se apossará dessa chave que
permitirá abrir a porta que se abre para um Novo Horizonte, nunca dantes
imaginado pelo Homem. Mas todo ato de Fé deve sempre partir da Liberdade
humana, prova de que Deus nos ama, porque nos permite escolher e tomar
decisões, ainda que sejam contrárias ao seu desígnio, claro que daí o homem
tem de arcar com as consequências, se decidir descartar definitivamente a Fé
de sua Vida.
2. Originalidade e a
autenticidade do testemunho de Jesus
Embora o evangelho de João tenha,
aproximadamente, a mesma extensão que o de Mateus e de Lucas, o seu
vocabulário é bem menor do que o destes dois evangelhos. Isto porque João
costuma repetir as palavras-chave, com retomadas dos temas fundamentais. João
o faz com didática e harmonia, a fim de aprofundar estes temas.
No evangelho de hoje, João, a partir das oposições céu e terra, crer e não
crer, afirma a originalidade e a autenticidade do testemunho de Jesus em
revelar a Boa-Nova de Deus. Aquele que vem do céu, Jesus, foi enviado para
anunciar as palavras de Deus e dar o espírito sem medida. Ele está acima de
todos. Quem é da terra, sejam profetas, discípulos ou adversários, só entende
segundo suas tradições terrenas. Jesus, enviado por Deus, fala das coisas do
céu. Porém, ele dá o espírito sem medida, que inspira a fé e a compreensão
das coisas do alto. O auge da revelação é o dom da vida eterna a todo aquele
que crê em Jesus, Filho de Deus. E a vida eterna é conhecer a Deus (Jo 17,3),
no amor fraterno vivido na comunidade acolhedora e aberta ao mundo.
Oração
Pai, faze-me dócil e acolhedor diante do testemunho de Jesus que nos revela a
tua Palavra, empenhando-me a levar cada ser humano a entrar em profunda
comunhão contigo.
3. A BOA NOVA DE DEUS
O Evangelho de João, de maneira
admirável, une a didática, a poética e o simbolismo. Recorrendo freqüentemente
à repetição dos temas e palavras-chave principais da revelação de Jesus, seu
Evangelho apresenta um vocabulário bem mais reduzido do que os Evangelhos
sinóticos.
Neste texto de hoje, a partir
das oposições céu e terra, crer e não crer, são afirmadas a originalidade e a
autenticidade do testemunho de Jesus em revelar a Boa-Nova de Deus. Aquele
que vem do céu, Jesus, foi enviado para anunciar as palavras de Deus e dar o
espírito sem medida. Ele está acima de todos. Quem é da terra, sejam
profetas, discípulos ou adversários, só entende segundo suas tradições
terrenas.
Jesus, enviado por Deus, fala das coisas do céu. Porém, ele
dá o espírito sem medida, que inspira a fé e a compreensão das coisas do
alto. O auge da revelação é o dom da vida eterna a todo aquele que crê em
Jesus, Filho de Deus. E a vida eterna é conhecer a Deus (17,3), no amor
fraterno vivido em comunidade, na missão de resgatar a vida e a dignidade
humana no mundo.
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Liturgia da Sexta-Feira
II
SEMANA DA PÁSCOA
(BRANCO – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Vós nos resgatastes, Senhor, pelo vosso sangue, de
todas as raças, línguas, povos e nações e fizestes de nós um reino e
sacerdotes para o nosso Deus, aleluia! (Ap 5,9s)
Leitura (Atos 5,34-42)
Leitura dos Atos dos Apóstolos.
Naqueles dias, 34 levantou-se,
porém, um membro do Grande Conselho. Era Gamaliel, um fariseu, doutor da lei,
respeitado por todo o povo.
35 Mandou que se retirassem aqueles homens por um momento, e então lhes
disse: "Homens de Israel, considerai bem o que ides fazer com estes
homens.
36 Faz algum tempo apareceu um certo Teudas, que se considerava um grande
homem. A ele se associaram cerca de quatrocentos homens: foi morto e todos os
seus partidários foram dispersados e reduzidos a nada.
37 Depois deste, levantou-se Judas, o galileu, nos dias do recenseamento, e
arrastou o povo consigo, mas também ele pereceu e todos quantos o seguiam
foram dispersados.
38 Agora, pois, eu vos aconselho: não vos metais com estes homens. Deixai-os!
Se o seu projeto ou a sua obra provém de homens, por si mesma se destruirá;
39 mas se provier de Deus, não podereis desfazê-la. Vós vos arriscaríeis a
entrar em luta contra o próprio Deus". Aceitaram o seu conselho.
40 Chamaram os apóstolos e mandaram açoitá-los. Ordenaram-lhes então que não
pregassem mais em nome de Jesus, e os soltaram.
41 Eles saíram da sala do Grande Conselho, cheios de alegria, por terem sido
achados dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus.
42 E todos os dias não cessavam de ensinar e de pregar o Evangelho de Jesus
Cristo no templo e pelas casas. .
Salmo responsorial 26/27
Ao Senhor eu peço apenas uma
coisa:
habitar no santuário do Senhor.
O Senhor é minha luz e salvação;
de quem eu terei medo?
O Senhor é a proteção da minha vida;
perante quem eu tremerei?
Ao Senhor eu peço apenas uma
coisa
e é só isto que eu desejo:
habitar no santuário do Senhor
por toda a minha vida;
saborear a suavidade do Senhor
e contemplá-lo no seu templo.
Sei que a bondade do Senhor eu
hei de ver
na terra dos viventes.
Espera no Senhor e tem coragem,
espera no Senhor!
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
O homem não vive somente de pão, mas de toda palavra da boca de Deus (Mt 4,4)
EVANGELHO (João 6,1-15)
6 1 Depois disso, atravessou
Jesus o lago da Galiléia (que é o de Tiberíades.)
2 Seguia-o uma grande multidão, porque via os milagres que fazia em beneficio
dos enfermos.
3 Jesus subiu a um monte e ali se sentou com seus discípulos.
4 Aproximava-se a Páscoa, festa dos judeus.
5 Jesus levantou os olhos sobre aquela grande multidão que vinha ter com ele
e disse a Filipe: "Onde compraremos pão para que todos estes tenham o
que comer?"
6 Falava assim para o experimentar, pois bem sabia o que havia de fazer.
7 Filipe respondeu-lhe: "Duzentos denários de pão não lhes bastam, para
que cada um receba um pedaço".
8 Um dos seus discípulos, chamado André, irmão de Simão Pedro, disse-lhe:
9 "Está aqui um menino que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas
que é isto para tanta gente?"
10 Disse Jesus: "Fazei-os assentar". Ora, havia naquele lugar muita
relva. Sentaram-se aqueles homens em número de uns cinco mil.
11 Jesus tomou os pães e rendeu graças. Em seguida, distribuiu-os às pessoas
que estavam sentadas, e igualmente dos peixes lhes deu quanto queriam.
12 Estando eles saciados, disse aos discípulos: "Recolhei os pedaços que
sobraram, para que nada se perca".
13 Eles os recolheram e, dos pedaços dos cinco pães de cevada que sobraram,
encheram doze cestos.
14 À vista desse milagre de Jesus, aquela gente dizia: "Este é
verdadeiramente o profeta que há de vir ao mundo".
15 Jesus, percebendo que queriam arrebatá-lo e fazê-lo rei, tornou a
retirar-se sozinho para o monte.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "UM MENINO, CINCO PÃES E DOIS PEIXES..."
Se reescrevêssemos esse evangelho na
pós-modernidade, iríamos dizer que a comunidade estava em um retiro e
precisava providenciar alimentação para todos, e daí alguém ligou para um
comerciante católico muito rico e ele mandou um caminhão Baú com alimentação para
todos e ainda sobrou um monte que foi dado às instituições assistenciais. Os
grandes encontros e os grandes empreendimentos humanos requerem grande
quantidade para suprir a necessidade do evento.
Claro que nesta versão moderna
da multiplicação dos pães, deve-se louvar e agradecer a Deus por pessoas
ricas, porém generosas, e são muitas, que ajudam de todas as formas nossas
comunidades levando o sentido da partilha ao pé da letra. Mas a lógica do
evangelho, fundamentada na Eucaristia não é essa. Os pobres são bem
aventurados justamente porque eles também têm algo a dar para o Reino, ainda
que seja pouco e até insignificante, como os cinco pães e dois peixinhos do
evangelho.
João relata algo diferente, uma
grande multidão com fome, os organizadores do encontro preocupadíssimos com o
lanche, e de repente um menino cede o seu lanche (tenho minhas dúvidas, não
sei se o menino cedeu ou se um dos discípulos o "requisitou"), o
fato é, que era uma quantidade irrisória perto da necessidade da multidão. Voltemos
ao menino anônimo para uma observação importante, digamos que ele não queria
ceder, não porque fosse egoísta, mas porque sabia que o seu pouquinho não
iria resolver a situação. Eis aí o grande problema de se viver em comunidade,
quem não acredita no pouco é porque não confia em Deus e prefere a lógica do
mundo onde, só quem tem muito pode e deve dar alguma coisa.
Lembro-me de minha primeira
comunidade em um Bairro
pobre, lá pelos idos de 70, quando era ministro da Palavra itinerante. Uma
semana antes o padre me apresentou à comunidade em uma Festa do Padroeiro
e tinha gente que não acabava mais, a capelinha parecia caixa de fósforo
perto da multidão que estava na quermesse, a missa teve de ser campal...
Esfreguei as mãos de contentamento...
No domingo seguinte, faltando
dez minutos para as 17 horas lá estava eu e mais quatro pessoas a espera do
início da celebração. Deu-me um desânimo tão grande que quase desisti. Daí
chegou mais duas pessoas, uma delas a Dona Maria, uma Senhora Negra, bem
simplezinha e pobrezinha, mas a quem devo a minha perseverança naquela
comunidade. Começamos a celebração e o vento apagou as velas do altar, foi
três ou quatro vezes e em todas elas a Dona Maria levantava, saía do seu
lugarzinho e vinha acender as velas...
No final da celebração ela disse
que naquela semana iria de casa em casa convidar as pessoas a vir participar
da celebração no domingo seguinte. Fiquei depois sabendo que ela era
analfabeta e que tinha um filho alcoólatra de quem levava uma surra de vez em quando. O que poderia
se esperar de uma mulher com esse perfil, em uma comunidade pobre de um
bairro distante? Nada ou quase nada, nos diz o espírito capitalista, de fato
ela não tinha nada a oferecer, tinha sim, mas um pouquinho só: cinco pães e
dois peixinhos... Para encurtar a história, Dona Maria foi quem incendiou a
comunidade com seu testemunho autêntico, com seu cristianismo devocional. Que
mulher de garra e de fibra que eu tive o prazer de tê-la como irmã de
caminhada!
Hoje é uma grande comunidade com
uma linda igreja no meio do Bairro, sempre lotada e bem participada, mas
naqueles primeiros tempos, somente a Dona Maria teve coragem de profetizar
"Olha minha gente, um dia seremos uma grande igreja aqui no Bairro, pois
a comunidade está começando hoje...". E de fato começou com aquele gesto
marcado pela simplicidade, de acender as velas do altar e de convidar as
pessoas para a celebração. Naquele momento o seu gesto talvez tenha sido
visto como uma ingenuidade, entretanto ali tudo começou a acontecer naquela
comunidade.
Jesus ergueu os olhos para o céu
e abençoou o lanchinho que o menino ofereceu; como também abençoou a atitude
da Dona Maria... E a fome de cinco mil pessoas foi saciada e ainda sobrou...
Eis o grande milagre da Eucaristia: em comunhão com Jesus damos o nosso
pouquinho, aquele carisma que parece não ser tão importante, ofereça-o à
comunidade, e ajude Jesus a fazer o grande milagre que mata a fome do povo,
sem precisar de um Patrocinador que banque tudo.
Não tenhamos preconceito com o
nosso "pouquinho", pois sem ele não tem como Deus fazer o
milagre...
2. Jesus comunica a vida
Por três vezes, em seu evangelho, João menciona "a Páscoa dos
judeus". Assim coloca a si próprio e a Jesus fora deste tipo de
celebração no Templo de Jerusalém. A Páscoa era a celebração da morte dos
egípcios oprimidos pelo faraó e da saída do Egito do povo de Israel, que se
considera eleito, para a invasão e o extermínio dos povos de Canaã.
Jesus revela o Deus da vida e do
amor. Sempre no meio da multidão, Jesus comunica a vida. João, em seu
evangelho, não menciona a partilha do pão por Jesus na última ceia. Este
gesto de partilha se realiza neste momento de encontro com a grande multidão
na montanha.
A comunhão com Jesus se faz na
promoção da vida, com gestos concretos de partilha com os pobres e excluídos:
"Eu tive fome e me destes de comer" (Mt 25,35).
Oração
Senhor Jesus, ensina-me a lição da partilha e faze-me pensar sempre em meus
irmãos mais necessitados, cuja sobrevivência depende do meu amor.
3. MANDAMENTO DA
PARTILHA
No Evangelho de João, na narrativa da última ceia de Jesus em Jerusalém,
não há menção à partilha eucarística do pão. A grande ação de Jesus nesta
ceia é a de lavar os pés dos discípulos, como exemplo de serviço. O
evangelista João apresenta a eucaristia neste episódio da partilha do pão.
Ele promove o "pão" da refeição, na "montanha", onde Deus
dá os dez mandamentos a Moisés. É o seu novo mandamento, mandamento da
partilha, do amor. O personagem central é um menino (paidárion, jovem
escravo), com cinco pães de cevada e dois peixes. Jesus dá graças
(eukharistésas) pela partilha, e ela acontece a partir dos mais humildes.
Somos convidados a viver a eucaristia como partilha concreta da vida.
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II
SEMANA DA PÁSCOA *
(BRANCO – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Povo resgatado por Deus, proclamai suas maravilhas: ele
vos chamou das trevas á sua luz admirável, aleluia! (1Pd 2,9).
Leitura (Atos 6,1-7)
Leitura do livro dos Atos dos Apóstolos.
6 1 Naqueles dias, como
crescesse o número dos discípulos, houve queixas dos gregos contra os
hebreus, porque as suas viúvas teriam sido negligenciadas na distribuição
diária.
2 Por isso, os Doze convocaram uma reunião dos discípulos e disseram:
"Não é razoável que abandonemos a palavra de Deus, para administrar.
3 Portanto, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação, cheios
do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais encarregaremos este ofício.
4 Nós atenderemos sem cessar à oração e ao ministério da palavra".
5 Este parecer agradou a toda a reunião. Escolheram Estêvão, homem cheio de
fé e do Espírito Santo; Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e Nicolau,
prosélito de Antioquia.
6 Apresentaram-nos aos apóstolos, e estes, orando, impuseram-lhes as mãos.
7 Divulgou-se sempre mais a palavra de Deus. Multiplicava-se
consideravelmente o número dos discípulos em Jerusalém. Também
grande número de sacerdotes aderia à fé.
Salmo responsorial 32/33
Sobre nós, Senhor, a vossa
graça,
da mesma forma que em vós nós esperamos!
Ó justos, alegrai-vos no Senhor!
Aos retos fica bem glorificá-lo.
Daí graças ao Senhor ao som da harpa,
na lira de dez cordas celebrai-o!
Pois reta é a palavra do Senhor,
e tudo o que ele faz merece fé.
Deus ama o direito e a justiça,
transborda em toda a terra a sua graça.
O Senhor pousa o olhar sobre os
que o temem
e que confiam, esperando em seu amor,
para da morte libertar as suas vidas
e alimentá-los quando é tempo de penúria.
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Ressurgiu Cristo, o Senhor, que criou tudo; ele teve compaixão da humanidade.
Evangelho (João 6,16-21)
6 16 Chegada a tarde, os seus
discípulos desceram à margem do lago.
17 Subindo a uma barca, atravessaram o lago rumo a Cafarnaum. Era já escuro,
e Jesus ainda não se tinha reunido a eles.
18 O mar, entretanto, se agitava, porque soprava um vento rijo.
19 Tendo eles remado uns vinte e cinco ou trinta estádios, viram Jesus que se
aproximava da barca, andando sobre as águas, e ficaram atemorizados.
20 Mas ele lhes disse: "Sou eu, não temais".
21 Quiseram recebê-lo na barca, mas pouco depois a barca chegou ao seu
destino.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. "O medo de um novo fracasso"
O evangelho tem como contexto a
situação das comunidades no primeiro século do cristianismo e que refletem
também os primeiros tempos dos discípulos após a ascensão do Senhor. O medo e
a insegurança deles era por causa do acontecimento que desencadeou toda
aquela caminhada, a vida de Jesus de Nazaré, seus ensinamentos, suas obras
prodigiosas, mas que no final resultaram em fracasso com a morte na cruz. Se
antes, caminhando com ele, a história acabou tão mal, agora o risco de um
novo fracasso era ainda maior, pois Jesus não estava mais com eles...
Os cristãos do primeiro século
olhavam á sua volta e não viam nenhuma perspectiva de que o cristianismo
fosse dar certo, de um lado o Império Romano, a cultura grega que exaltava o
conhecimento, de outro o Judaísmo e suas raízes. Que futuro teria a
comunidade dos seguidores de Jesus de Nazaré?
Hoje se sabe que o cristianismo
está entre as maiores religiões do mundo, mas a sociedade não reflete essa
realidade, ao contrário, parece que tudo contraria o evangelho e os cristãos
veem as forças do mal se fazerem presentes até nas comunidades. Divisões,
discórdias, escândalos, cristãos que desistem de viver a Fé e fracassam em
sua caminhada. A impressão é que as forças do mal imperam na humanidade e
querem engolir a Igreja.
O que pode um frágil barquinho a
mercê de ventos fortes e ondas gigantes? O que pode a Igreja de Cristo fazer
para mudar os rumos da humanidade? O Evangelho terá poder e força suficiente
para reverter esse quadro de tenebrosa escuridão que nossos olhos contemplam?
São inquietações que afligem o
coração de todos os discípulos. Entretanto, quando parece que a barca vai à
deriva, os homens e mulheres de Fé vislumbram, nos momentos mais críticos,
algo que supera todo mal, Jesus acompanha a barca, e tem sob os pés as Forças
do Mal, isso é, há bem lá na frente um porto seguro onde a Barca vai chegar.
Quando pensamos nessa realidade nova, perceptível à luz da Fé, sentimos medo,
mas o Senhor nos tranquiliza "Coragem, sou eu, não temais".
Jesus é o Senhor da História,
não é alguém que influenciou a história no passado e que agora deve ser
sempre lembrado por seu exemplo, como fazemos com nossos homens ilustres.
Jesus está vivo, está vivendo com a Igreja cada momento de sua história, está
atento e atuante nas comunidades cristãs, aponta novos rumos e direção a ser
seguido, para se chegar à outra margem...
E as comunidades de João, com
sua Fé e testemunho de Vida, passaram incólume pelas Forças Tenebrosas do Mal
e chegaram até nós, com o mesmo evangelho, o mesmo anúncio. Essa é a prova
inequívoca da presença de Jesus em nossa Igreja, são dois milênios de caminhada. O
mar não é sereno, nem nunca será, mas as ondas revoltas e a ventania nada
podem contra a Igreja, porque Jesus navega conosco...
2. Jesus traz paz
Após a partilha dos pães, Jesus retirou-se sozinho para a montanha. Ele o faz
para evitar a euforia do povo que queria fazê-lo rei. Ao anoitecer, os
discípulos, por sua vez, descem para a beira-mar. Entram no barco e vão para
a direção de Cafarnaum, atravessando de novo o mar.
A barca com os discípulos, no
escuro e no mar agitado pelo vento, simboliza a insegurança deles em face da
ausência de Jesus. Estão de volta às trevas e à agitação do sistema opressor
do qual Jesus procura libertá-los. Até então "Jesus não tinha vindo a eles".
Mas Jesus não os abandona no perigo.
Andando sobre as águas,
aproxima-se. Jesus vem como o Espírito de Deus que pairava sobre as águas, na
criação. Os discípulos, sem entender, temem diante da visão. A identificação
de Jesus lhes traz paz. "Sou eu. Não tenhais medo!" Agora,
confiantes, querem receber Jesus no barco. Mas, com a simples aproximação de
Jesus, eles estão libertados da agitação e do medo, pois o barco atinge a
terra firme.
Esta narrativa, em sua
simbologia, revela-nos Jesus como aquele que traz a paz e a segurança na
comunidade e na missão.
Oração
Pai, em meio às tempestades, faze-me compreender que o Ressuscitado caminha
comigo, incentivando-me a não temer e a permanecer firme no rumo traçado por
ele.
3. RECONHECENDO O SENHOR
O processo de reconhecimento de Jesus
Ressuscitado foi acontecendo em meio a fadigas e dificuldades que a
comunidade encontrava em seu caminho de fé. Ao professar a fé no
Ressuscitado, os cristãos viam-se questionados de várias formas. O fato mesmo
de fazer a salvação depender de quem fora crucificado deixara-os em crise.
Segundo a mentalidade da época, quem
morria na cruz, era tido como um amaldiçoado por Deus. Com Jesus teria sido
diferente? Ou será que, de fato, Deus o resgatara da morte, restituindo-lhe a
vida, de modo a estar sempre junto dos seus? Essas e outras dúvidas
persistiam na comunidade de fé, exigindo uma resposta.
A experiência no lago, por
ocasião de uma travessia, revela a situação da comunidade. A escuridão da
noite, a força do vento e a agitação do mar impediam os discípulos de
perceber Jesus se aproximando. Sua figura perdia-se na nebulosidade. Os
discípulos tiveram certa dificuldade para superar a situação. Por sua vez, o
Mestre os exortou a não temer, pois ele mesmo estava ali, junto deles.
"Sou eu; não tenham medo!"- assegurou-lhes, chamando-os à
realidade. A certeza desta presença descortinou-lhes um novo horizonte de
segurança e de tranqüilidade.
A comunidade de fé reconhece o
Ressuscitado, em meio às adversidades da vida. Importa não se deixar abater,
pois ele está no meio de nós.
Oração
Espírito de lucidez dissipa as trevas que me impedem de reconhecer a presença
do Ressuscitado, junto de mim e da comunidade.
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