Liturgia da Segunda Feira — 17.09.2012
XXIV
SEMANA DO TEMPO COMUM *
(VERDE – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Ouvi, Senhor, as preces do vosso servo e do vosso povo
eleito: dai a paz àqueles que esperam em vós, para que os vossos profetas sejam
verdadeiros (Eco 36,18).
Leitura (1 Coríntios
11,17-26.33)
Leitura da primeira carta de são Paulo aos Coríntios.
11 17 Fazendo-vos essas
advertências, não vos posso louvar a respeito de vossas assembléias que
causam mais prejuízo que proveito.
18 Em primeiro lugar, ouço dizer que, quando se reúne a vossa assembléia, há
desarmonias entre vós. (E em parte eu acredito.
19 É necessário que entre vós haja partidos para que possam manifestar-se os
que são realmente virtuosos.)
20 Desse modo, quando vos reunis, já não é para comer a ceia do Senhor,
21 porquanto, mal vos pondes à mesa, cada um se apressa a tomar sua própria
refeição; e enquanto uns têm fome, outros se fartam.
22 Porventura não tendes casa onde comer e beber? Ou menosprezais a Igreja de
Deus, e quereis envergonhar aqueles que nada têm? Que vos direi? Devo
louvar-vos? Não! Nisto não vos louvo.
23 Eu recebi do Senhor o que vos transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em
que foi traído, tomou o pão
24 e, depois de ter dado graças, partiu-o e disse: "Isto é o meu corpo,
que é entregue por vós; fazei isto em memória de mim".
25 Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo:
"Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que o
beberdes, fazei-o em memória de mim".
26 Assim, todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice lembrais
a morte do Senhor, até que venha.
33 Portanto, irmãos meus, quando vos reunis para a ceia, esperai uns pelos
outros.
Salmo responsorial 39/40
Irmãos, anunciai a morte do
Senhor, até que ele venha!
Sacrifício e oblação não
quisestes,
mas abristes, Senhor, meus ouvidos;
não pedistes ofertas nem vítimas,
holocaustos por nossos pecados,
e então eu vos disse: "Eis que venho!"
Sobre mim está escrito no livro:
"Com prazer faço a vossa vontade,
guardo em meu coração vossa lei!"
Boas-novas de vossa justiça
anunciei numa grande assembleia;
vós sabeis: não fechei os meus lábios!
Mas se alegre e em vós rejubile
todo ser que vos busca, Senhor!
Digam sempre: "É grande o Senhor!"
os que buscam em vós seu auxílio.
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Deus o mundo tanto amou, que lhe deu seu próprio Filho, para que todo o que
nele crer encontre a vida eterna (Jo 3,16).
Evangelho (Lucas 7,1-10)
Naquele tempo, 7 1 Tendo Jesus
concluído todos os seus discursos ao povo que o escutava, entrou em
Cafarnaum.
2 Havia lá um centurião que tinha um servo a quem muito estimava e que estava
à morte.
3 Tendo ouvido falar de Jesus, enviou-lhe alguns anciãos dos judeus,
rogando-lhe que o viesse curar.
4 Aproximando-se eles de Jesus, rogavam-lhe encarecidamente: "Ele bem
merece que lhe faças este favor,
5 pois é amigo da nossa nação e foi ele mesmo quem nos edificou uma
sinagoga".
6 Jesus então foi com eles. E já não estava longe da casa, quando o centurião
lhe mandou dizer por amigos seus: "Senhor, não te incomodes tanto assim,
porque não sou digno de que entres em minha casa;
7 por isso nem me achei digno de chegar-me a ti, mas dize somente uma palavra
e o meu servo será curado.
8 Pois também eu, simples subalterno, tenho soldados às minhas ordens; e digo
a um: 'Vai ali!' E ele vai; e a outro: 'Vem cá!' E ele vem; e ao meu servo:
'Faze isto!'" E ele o faz.
9 Ouvindo estas palavras, Jesus ficou admirado. E, voltando-se para o povo
que o ia seguindo, disse: "Em verdade vos digo: nem mesmo em Israel
encontrei tamanha fé".
10 Voltando para a casa do centurião os que haviam sido enviados, encontraram
o servo curado.
COMENTÁRIOS DO
EVANGELHO
1. Sinal de Fé
Ninguém melhor do que o próprio
Centurião para dar seu testemunho nesta reflexão:
___Por que vocês, de fora de Israel, tidos como pagãos, acreditam em Jesus de
Nazaré demonstrando uma Fé muito maior do que a de um Israelita?
___Primeiro porque o conhecia e ouvia falar muito dele, era um Judeu
diferente, se dava com todas as pessoas, conversava com elas, ia a suas
casas, fosse quem fossem não tinha tanto preconceito como o restante da
comunidade de Israel.
___E como foi o seu encontro com ele em Cafarnaum?
___Eu estava muito triste e desesperado com o meu servo enfermo e acamado, os
médicos do Império Romano já tinham o desenganado, eu o estimava muito e por
isto estava triste.
___Escuta Centurião, mas um servo é tão importante assim em sua vida?
___Talvez para os demais oficiais um servo seja apenas um escravo, uma peça
que se substitui quando não serve mais para o trabalho, mas eu não penso
desta forma e sabia que Jesus de Nazaré concordava com esse meu jeito de ser.
Afinal, meu servo é um ser humano e não um animal, respira como eu, tem
sentimentos, dores, necessidades, devo tratá-lo como meu semelhante...
___O Senhor pediu a cura do servo?
___Na verdade não, mas queria muito que Jesus fizesse algo por ele, pois seu
sofrimento era muito grande e me comovia... Quando Jesus falou que iria até
lá para curá-lo, me senti pequeno para receber tão grande graça...
___Mas o Senhor é um centurião, comanda cem homens, é respeitado e dá ordens
a todos...
___Pois é, mas o poder de Jesus é maior que o meu, não há nada nesta vida e
nem no império romano que seja superior a ele, e ao perceber a sua grandeza
senti que estava diante de Deus e confessei a minha pequenez dizendo
"Senhor, não sou digno de que entreis em minha casa, mas dizei uma
palavra e meu servo ficará curado”.
___O Senhor sabe que ficou famoso? Sua frase é repetida até hoje na missa, na
apresentação do Cordeiro. Poderia nos explicar o por que dessa frase?...
___Sim, senti que Jesus queria fazer parte da minha vida, e que eu fizesse
parte da vida dele, mas pobre de mim, imperfeito, pecador, nem ao povo
escolhido eu pertencia.
___E como terminou essa bela história?
___Bom, meu servo foi curado e eu também... Algo novo começou em minha vida,
continuei a ser um Centurião Romano, mas agora seguidor de Jesus. A verdade é
que, eu é que fui curado, pois quem nesta vida não conhecer a Jesus e não
experimentá-lo, permanecerá sempre enfermo...
___E sobre o elogio que Jesus fez a você publicamente, enaltecendo a sua
grande Fé?
___Olha, a Fé é apenas uma resposta que damos a Deus quando ele nos toca
através de Jesus, mas é preciso abrir-se e se deixar ser tocado por ele, os
Israelitas não faziam isso, iludidos com suas tradições religiosas e suas
leis rigorosas e moralistas. Nós de fora, aderimos sem reservas a Jesus e o
aceitamos... E espero que vocês, cristãos aí do terceiro milênio, não se
acomodem na religião do formalismo religioso, do trabalho pastoral e do
sacramentalismo, mas façam uma experiência íntima com Jesus, a Vida da gente
nunca mais é a mesma.... Eu garanto!
2. O poder da fé
Enquanto no evangelho de Mateus
o centurião romano vai, pessoalmente, encontrar-se com Jesus, na narrativa de
Lucas ele envia alguns anciãos para pedir a Jesus por seu servo. Lucas realça
a ação à distância de Jesus, mantendo-o afastado do centurião e do servo
doente. Mesmo quando Jesus se dirige à casa do centurião, este, através de
emissários, humildemente dispensa a entrada de Jesus em sua casa, pedindo
apenas por uma palavra sua. A fé do centurião foi tão grande, sem igual em
Israel.
A narrativa inspira a
universalidade da missão. A presença do amor vivificante faz germinar a fé em
qualquer povo ou nação, em qualquer época.
Oração
Pai, dá-me um coração misericordioso e humildade que me leve a compadecer-me
do meu semelhante.
3. UM EXEMPLO DE
BONDADE
A atitude do oficial romano de
Cafarnaum é um modelo de bondade. Apesar de ser estrangeiro, portanto, um
pagão e de estar a serviço dos opressores, era amado pelo povo. Sua bondade
manifestava-se na forma caridosa como tratava seus empregados, preocupando-se
com a sua saúde deles. Mas expressava-se, também, no trato gentil com o povo
da cidade, pois até mandou construir para estes a sinagoga local. Longe de
ser uma pessoa arrogante e prepotente, sabia cativar as pessoas e
manifestar-lhes apreço.
Sua relação com Jesus foi
igualmente exemplar. Apesar do cargo que ocupava e ter muita gente sob seu
comando, sentia-se indigno de encontrar-se com Jesus e acolhê-lo em sua casa.
Por isso, mandou-lhe mensageiros. Bastaria que o Mestre, mesmo de longe,
ordenasse a cura de seu servo, pois acreditava no poder de Jesus.
A reação do Mestre foi de
profunda admiração. Entre os judeus, ele não havia encontrado tamanha fé como
a daquele pagão. Fé que se manifestava num amor entranhado ao próximo. Por
isso, fez exatamente como o oficial romano havia sugerido. Os enviados
voltaram para casa e encontraram o servo em perfeita saúde.
A bondade do oficial romano,
para com seus súditos e o povo da Galiléia, teve como contrapartida a
misericórdia de Jesus.
Oração
Senhor Jesus, dá-me um coração amável e bondoso que saiba compadecer-se e ser
solidário com o sofrimento e as necessidades dos outros.
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XXIV
SEMANA DO TEMPO COMUM
(VERDE – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Ouvi, Senhor, as preces do vosso servo e do vosso povo
eleito: dai a paz àqueles que esperam em vós, para que os vossos profetas
sejam verdadeiros (Eco 36,18).
Leitura (1 Coríntios
12,12-14.27-31)
Leitura da primeira carta de são Paulo aos Coríntios.
12 12 Porque, como o corpo é um
todo tendo muitos membros, e todos os membros do corpo, embora muitos, formam
um só corpo, assim também é Cristo.
13 Em um só Espírito fomos batizados todos nós, para formar um só corpo,
judeus ou gregos, escravos ou livres; e todos fomos impregnados do mesmo
Espírito.
14 Assim o corpo não consiste em um só membro, mas em muitos.
27 Ora, vós sois o corpo de Cristo e cada um, de sua parte, é um dos seus
membros.
28 Na Igreja, Deus constituiu primeiramente os apóstolos, em segundo lugar os
profetas, em terceiro lugar os doutores, depois os que têm o dom dos
milagres, o dom de curar, de socorrer, de governar, de falar diversas
línguas.
29 São todos apóstolos? São todos profetas? São todos doutores?
30 Fazem todos milagres? Têm todos a graça de curar? Falam todos em diversas
línguas? Interpretam todos?
31 Aspirai aos dons superiores. E agora, ainda vou indicar-vos o caminho mais
excelente de todos.
Salmo responsorial
99/100
Nós somos o seu povo e seu
rebanho.
Aclamai o Senhor, ó terra
inteira,
servi ao Senhor com alegria,
ide a ele, cantando jubilosos!
Sabei que o Senhor, só ele, é
Deus,
ele mesmo nos fez, e somos seus,
nós somos seu povo e seu rebanho.
Entrai por suas portas dando
graças
e em seus átrios com hinos de louvor;
dai-lhe graças, seu nome bendizei!
Sim, é bom o Senhor e nosso
Deus,
sua bondade perdura para sempre,
seu amor é fiel eternamente!
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Um grande profeta surgiu entre nós, e Deus visitou o seu povo (Lc 7,16).
Evangelho (Lucas 7,11-17)
Naquele tempo, 7 11 dirigiu-se
Jesus a uma cidade chamada Naim. Iam com ele diversos discípulos e muito
povo.
12 Ao chegar perto da porta da cidade, eis que levavam um defunto a ser
sepultado, filho único de uma viúva; acompanhava-a muita gente da cidade.
13 Vendo-a o Senhor, movido de compaixão para com ela, disse-lhe: "Não
chores!"
14 E aproximando-se, tocou no esquife, e os que o levavam pararam. Disse
Jesus: "Moço, eu te ordeno, levanta-te".
15 Sentou-se o que estivera morto e começou a falar, e Jesus entregou-o à sua
mãe.
16 Apoderou-se de todos o temor, e glorificavam a Deus, dizendo: "Um
grande profeta surgiu entre nós: Deus voltou os olhos para o seu povo".
17 A notícia deste fato correu por toda a Judéia e por toda a
circunvizinhança.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. O SENHOR DA VIDA
Jesus não ressuscitou muita
gente naquele tempo, os evangelhos mencionam apenas três: Lázaro de Bethânia,
irmão de Marta e Maria, a filhinha de Jairo, Chefe da Sinagoga, e o filho da
viúva de Naim, que Lucas narra no evangelho de hoje.
Conclui-se, portanto, que não
era propósito de Jesus libertar e salvar os homens da morte biológica, pois
se fosse assim, sua missão teria sido um fracasso já que ressuscitou apenas
esses três e nem José, seu pai adotivo, ele teria conseguido livrar da morte.
Há ainda outra questão importante a ser considerada: que vantagem teria se
ressuscitar fosse apenas retornar a esta vida, com todas as suas limitações e
aprendizado, suas angústias e tribulações? Por acaso não iríamos morrer
novamente, como o próprio Lázaro, a filha de Jairo e o moço que Jesus
ressuscita nesse evangelho? Não, não valeria a pena, com toda certeza!
Essa vida nova que Cristo nos
dá, através de sua paixão, morte e ressurreição, é infinitamente melhor e
superior a esta existência terrena, a ponto do apóstolo Paulo afirmar em uma
de suas cartas “os sofrimentos do tempo presente nem se comparam àquilo que
Deus irá nos revelar”, ou ainda “o que vemos hoje é como se fosse em um
espelho, mas depois nos veremos como de fato o somos”.
A chave que decifra esse
mistério da Vida e da morte está precisamente em Cristo, nele o Pai não só se
revela, mas revela também quem é o homem. A graça de Deus que em Cristo
recebemos nos faz criaturas novas onde o mistério é iluminado pela luz da Fé.
Essa grande e feliz Verdade
chegou até nós por causa do evangelho, anunciado pelo próprio Cristo – filho
de Deus feito homem, que ao trazer-nos a Boa Nova permitiu-nos conhecer a
Deus, descobrindo o sentido da nossa vida na Vida de Cristo, onde todos os
limites humanos foram superados, ao dar-nos acesso a Deus, rompendo para
sempre a barreira do pecado.
Sem este anúncio e esta graça, a
nossa esperança por uma Vida Nova, seria vã, não passaria de uma grande
utopia, uma fantasia e ilusão que um belo dia chegaria ao seu final, mas o
homem que vive pela fé, a comunhão com Cristo, sabe em seu coração que não
caminha para o fracasso da morte e esta esperança viva é que dá a esta vida
terrena um sentido novo.
Portanto, nossa Vida está em
Cristo porque nele nos movemos e somos, sem ele, nossa caminhada terrena não
passa de um cortejo fúnebre, onde somos como um morto vivo, caminhando para a
ruína da morte biológica, para ser devorado pela terra.
A vida do homem que tomou a
decisão de viver sem Deus, ignorando esta Salvação e Libertação oferecida por
Jesus, é muito triste, porque ele se ilude com toda pompa que esta vida
oferece, satisfazendo seus desejos egoístas, colocando toda sua esperança nas
coisas que passam, e no final, descobre que foi enganado, quando percebe que
caminha para a morte. Mas nunca é tarde para reverter esse quadro doloroso,
pois, para quem caminha assim, como se fosse um corpo sem vida, irradiando
tristeza e dor aos que o acompanham, o evangelho desse domingo anuncia algo
maravilhoso: no sentido contrário, vem chegando Cristo Jesus, Senhor da Vida,
aquele que movido de compaixão, como na entrada da cidade de Naim, irá dizer
a viúva e aos que a seguiam no enterro de seu filho: não chores!
Hoje há tantas mães caminhando
tristes, levando seus filhos para a sepultura, há tanta gente caminhando
cabisbaixa, sem uma perspectiva de vida e sem esperança no coração. Não
chores mais – diz o Senhor, que ao tocar no esquife, que são as misérias do
homem, dirá com firmeza “Moço, eu te ordeno, levanta-te!”.
E diante de sua palavra
libertadora e restauradora, o homem renasce e se torna uma nova criatura, só
Cristo é a nossa vida, só ele tem a palavra de ordem, capaz de nos levantar
de todos os nossos pecados que querem nos arrastar inexoravelmente para a
morte. Longe de Deus e da sua Salvação oferecida por Jesus, iremos fatalmente
morrer, mas com ele teremos a Vida Eterna, que extrapola os nossos limites e
nos reconduz ao paraíso da plenitude, resgatando a nossa imagem e semelhança
com que fomos criados por Deus.
É missão nossa como Igreja
anunciar a toda criatura esta vida que vem de Jesus, mas isso só será
possível se como ele, tivermos no coração essa compaixão, que nos leve a
sofrer e chorar com quem sofre e chora, onde um sorriso, um abraço, uma
palavra de consolo ou um gesto de caridade, sempre feito em nome de Jesus,
terá a mesma força de sua palavra libertadora, capaz de levantar quem se
julga morto. O cristão, como qualquer ser humano, também pranteia seus
mortos, mas a diferença está naquilo que ele espera: a plenitude da Vida,
reservada aos que crêem que esta vida é uma peregrinação para a casa do Pai,
predestinados que fomos desde toda a eternidade.
2. Os gestos de Jesus
Jesus dirige-se a Naim, com os
discípulos e uma grande multidão. Quando chegam à porta da cidade cercada com
muralhas, por coincidência encontram uma outra grande multidão que saía,
acompanhando uma viúva, carregando seu filho morto para o enterro. Era o
filho único de uma viúva, o que torna o fato mais dramático. Jesus, comovido,
se faz próximo daquela viúva.
Nos detalhes, Lucas associa
Jesus ao profeta Elias que, em cena bem semelhante, ressuscitara o filho de
uma viúva em
Sarepta. Contudo, com o dom da vida eterna, Jesus supera o
taumaturgo Elias. O "levantar-se" é a superação da morte. Depois de
colocado no túmulo, Jesus "levantou-se", em todas as narrativas dos
evangelistas. O "levantar-se" de Jesus é traduzido por
"ressuscitar".
Os gestos de Jesus encontram seu
pleno sentido à luz de sua palavra. Ele veio para "levantar" a
todos, libertando de toda escravidão e de toda humilhação, dando novo sentido
à vida, na solidariedade fraterna e na comunhão com Deus.
Oração
Pai, torna-me sensível ao sofrimento e à dor de cada pessoa que encontro no
meu caminho. Que a minha compaixão se demonstre com gestos concretos.
3. MOVIDO DE
COMPAIXÃO
Jesus era altamente sensível ao
sofrimento humano. Não lhe passava despercebida nenhuma só situação de dor e
angústia. Sua sensibilidade era ainda mais aguçada quando se tratava de
pessoas cuja condição social as tornava vulneráveis, vítimas da exploração e
da marginalização.
Todo o seu ministério foi
pontilhado de experiências de compaixão. O episódio às portas da cidadezinha
de Naim é um bom exemplo disto. Aí ele se deparou com uma cena dramática: o
enterro do filho único de uma viúva. A situação daquela mulher era de total
desamparo: viúva e sem outros filhos para ampará-la. Via-se abandonada à
própria sorte. Seu futuro, pois, era incerto.
Sem esperar ser solicitado,
Jesus tomou a iniciativa de devolver a esperança ao coração daquela mulher,
pois teve compaixão dela. Não se limitou, porém, a simples palavras de
consolação. Ressuscitou-lhe o filho que era levado para a sepultura.
Assim, ela, bem como seu filho,
passaram por um processo de revivificação. Marcada pela morte do esposo e do
filho único, sem dúvida, ela já não tinha mais motivos para viver. Sua vida
teria sido uma contínua espera da morte. O gesto misericordioso de Jesus
reacendeu-lhe a chama da vida. Valia a pena continuar viver!
Oração
Senhor Jesus, que eu seja sensível à angústia e aos sofrimentos do meu
próximo, e ajuda-me a devolver-lhe a alegria de viver.
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XXIV
SEMANA DO TEMPO COMUM *
(VERDE – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Ouvi, Senhor, as preces do vosso servo e do vosso povo
eleito: dai a paz àqueles que esperam em vós, para que os vossos profetas
sejam verdadeiros (Eco 36,18).
Leitura (1 Coríntios
12,31-13,13)
Leitura da primeira carta de são Paulo aos Coríntios.
12 31 Aspirai aos dons
superiores. E agora, ainda vou indicar-vos o caminho mais excelente de todos.
13 1 Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver
caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.
2 Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os mistérios e
toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar
montanhas, se não tiver caridade, não sou nada.
3 Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda
que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver caridade, de nada
valeria!
4 A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não
é orgulhosa. Não é arrogante.
5 Nem escandalosa. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda
rancor.
6 Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade.
7 Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
8 A caridade jamais acabará. As profecias desaparecerão, o dom das línguas
cessará, o dom da ciência findará.
9 A nossa ciência é parcial, a nossa profecia é imperfeita.
10 Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá.
11 Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança,
raciocinava como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de
criança.
12 Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face a
face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente, como eu sou
conhecido.
13 Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade - as três. Porém, a maior
delas é a caridade.
Salmo responsorial 32/33
Feliz o povo que o Senhor
escolheu por sua herança!
Dai graças ao Senhor ao som da
harpa,
Na lira de dez cordas celebrai-o!
Cantai para o Senhor um canto novo,
Com arte sustentai a louvação!
Pois reta é a palavra do Senhor,
E tudo o que ele faz merece fé.
Deus ama o direito e a justiça,
Transborda em toda a terra a sua graça.
Feliz o povo cujo Deus é o
Senhor,
E a nação que escolheu por sua herança!
Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça,
Da mesma forma que em vós nós esperamos!
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Senhor, tuas palavras são espírito, são vida; só tu tens palavras de vida
eterna (Jo 6,63.68).
Evangelho (Lucas 7,31-35)
7 31 "A quem compararei
os homens desta geração? Com quem se assemelham?
32 São semelhantes a meninos que, sentados na praça, falam uns com os outros,
dizendo: Tocamos a flauta e não dançastes; entoamos lamentações e não
chorastes.
33 Pois veio João Batista, que nem comia pão nem bebia vinho, e dizeis: Ele
está possuído do demônio.
34 Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizeis: 'Eis um comilão e
beberrão, amigo dos publicanos e libertinos'.
35 Mas a sabedoria foi justificada por todos os seus filhos".
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. Convertei-vos e
Celebrai
Meninos sentados na praça e que
gritam aos outros "Tocamos flauta e não cantais, cantamos uma lamentação
e não chorais..." Com essa expressão talvez estranha para nós, Jesus diz
uma grande verdade: queremos sempre que as pessoas dancem conforme a nossa
música, isto é, que pensem e ajam como nós, e se for uma religião ou até
mesmo aspecto cultural, que não mudem nada e nem venham com coisas novas.
João Batista, o Precursor de
Jesus, tinha algo novo a anunciar, mas como vivia de um jeito meio estranho e
não se alimentava, diziam que ele estava possesso de um demônio. (Qualquer
fenômeno que não conseguimos definir, atribui-se ao demônio).
Jesus de Nazaré é diferente de
João Batista, aliás, não se encaixa no perfil de Messias anunciado, em vez de
acabar com os pecadores e homens maus, tem amizade com eles, senta-se para
tomar refeição com eles, e come e bebe com eles. Por isso o rotularam de
comilão e beberrão.
E assim, o Novo que se encarnou
em meio a humanidade, acabou rejeitado justamente porque era humano demais.
Esse evangelho traz um forte apelo á conversão neste tempo do advento, mas o
que é a conversão? Justamente purificar o olhar e o coração, para ver e
sentir a presença de Jesus e do seu Reino nas pessoas e nos acontecimentos da
história e da nossa vida. Mas tenhamos cautela, Jesus não está formatado do
jeito que nós queremos e o imaginamos, a conversão interior é primeiramente
dom de Deus, que vem com a Graça oferecida em Jesus.
Quando olhamos o mundo e as
pessoas com os olhos de Jesus, não exigimos que as pessoas "dancem só
conforme a nossa música", pois o Reino a todos renova e se refaz nas
virtudes e nos valores que cada um tem e disponibiliza para os irmãos e
irmãs.
2. Em Jesus a plenitude
do humano
Ao mencionar "as pessoas
desta geração", Jesus está se referindo à classe dirigente judaica. O
termo "geração" (geneá), no Antigo Testamento, é aplicado com
frequência ao povo hebreu, em um determinado momento histórico, de maneira recriminatória
(por ex.: "Certamente, nenhum dos homens desta maligna geração verá a
boa terra que jurei dar a vossos pais" - Dt 1,35).
Os chefes religiosos do Templo e
das sinagogas difamam João (tem demônio) e Jesus (comilão e beberrão). Assim
fazem porque rejeitam em João o anúncio da libertação do pecado pela prática
da justiça, pois isto esvazia e rompe com o Templo. Rejeitam em Jesus o amor
misericordioso que acolhe a todos, com o que são descartados os preceitos
excludentes da Lei.
João retirava-se para o deserto
em protesto à vida corrompida na cidade e no Templo de Jerusalém. Porém,
Jesus retorna às comunidades rurais e urbanas da periférica e gentílica
Galileia, onde anuncia o Reino de Deus. O Filho do Homem é a plenitude do
humano. O humano para ser realizado, ser pleno, é necessariamente solidário;
é o viver em comunhão com todos para que não haja nenhum excluído e todos
tenham vida plena. Esta é a verdadeira obra de sabedoria.
Oração
Pai, purifica-me de toda forma de orgulho que me leva a desprezar meu
semelhante e a julgar-me superior a ele. Como Jesus, desejo estar próximo de
quem se afastou de ti.
3. ATITUDES
CONTRADITÓRIAS
O modo como era tratado por seus
contemporâneos deixava Jesus irritado. A má vontade deles levava-os a
interpretar mal tudo o que o Mestre fazia. De forma alguma, deixavam-se
convencer pelo messianismo de Jesus, mesmo vendo seus milagres e prodígios.
Uma das atitudes de Jesus,
censurada por eles, era sua solidariedade com os pecadores e as pessoas
marginalizadas pela sociedade. Jesus não se envergonhava de ser visto na
companhia desse tipo de gente, nem de sentar-se à mesa com ela. Sua atitude
fundava-se numa profunda consciência de ter sido enviado para trazer a
salvação, mormente aos pecadores. Sendo assim, seu tempo deveria ser gasto
com estes e não com quem pensava ter assegurada sua própria salvação. Jesus
estava com quem o Pai queria que ele estivesse. Ele não haveria de mudar de
comportamento por causa das críticas e das maledicências alheias.
Entretanto, o Mestre percebia na
reação de seus críticos uma raiz viciada: no fundo, não queriam mesmo era se
converter. Qualquer quer fosse a atitude de Jesus, teriam motivos para
rejeitá-lo.
João, em sua austeridade de
vida, fora chamado de possesso. Jesus, que vivia sem preconceitos, era
chamado de glutão e beberrão.
A condenação desses inimigos do
Mestre seria conseqüência de sua má vontade, que os levava a fechar-se à
salvação oferecida por Deus.
Oração
Senhor Jesus, ensina-me a ser solidário com os pecadores e marginalizados, de
modo a manifestar-lhes a misericórdia de Deus.
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SANTOS
ANDRÉ E PAULO - MÁRTIRES COREANOS
(VERMELHO,
PREFÁCIO COMUM OU DOS MÁRTIRES – OFÍCIO DA MEMÓRIA)
Antífona da entrada: Alegremo-nos todos no Senhor, celebrando este dia
festivo em honra dos santos mártires. Conosco alegram-se os anjos e
glorificam o Filho de Deus.
Oração do dia
Ó Deus, criador e salvador de todas as raças, pro vossa bondade, chamastes à
fé a muitos irmãos na região da Coréia e os fizestes crescer pelo testemunho
glorioso dos mártires André, Paulo e seus companheiros. Concedei que, pelo
exemplo e intercessão deles, possamos perseverar até a morte na observância
de vossos mandamentos. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade
do Espírito Santo.
Leitura (1 Coríntios
15,1-11)
Leitura da Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios.
15 1 Eu vos lembro, irmãos, o
Evangelho que vos preguei, e que tendes acolhido, no qual estais firmes.
2 Por ele sereis salvos, se o conservardes como vo-lo preguei. De outra
forma, em vão teríeis abraçado a fé.
3 Eu vos transmiti primeiramente o que eu mesmo havia recebido: que Cristo
morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras;
4 foi sepultado, e ressurgiu ao terceiro dia, segundo as Escrituras;
5 apareceu a Cefas, e em seguida aos Doze.
6 Depois apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, dos quais a maior
parte ainda vive (e alguns já são mortos);
7 depois apareceu a Tiago, em seguida a todos os apóstolos.
8 E, por último de todos, apareceu também a mim, como a um abortivo.
9 Porque eu sou o menor dos apóstolos, e não sou digno de ser chamado
apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus.
10 Mas, pela graça de Deus, sou o que sou, e a graça que ele me deu não tem
sido inútil. Ao contrário, tenho trabalhado mais do que todos eles; não eu,
mas a graça de Deus que está comigo.
11 Portanto, seja eu ou sejam eles, assim pregamos, e assim crestes.
Salmo responsorial
117/118
Dai graças ao Senhor, porque ele
é bom!
Dai graças ao Senhor, porque ele
é bom!
"Eterna é a sua misericórdia!"
A casa de Israel agora o diga:
"Eterna é a sua misericórdia!"
A mão direito do Senhor fez
maravilhas,
A mão direita do Senhor me levantou,
A mão direito do Senhor fez maravilhas!
Não morrerei, mas, ao contrário, viverei
Para cantar as grandes obras do Senhor!
Vós sois meu Deus, eu vos
bendigo e agradeço!
Vós sois meu Deus, eu vos exalto com louvores.
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Vinde a mim, todos vós que estais cansados e descanso eu vos darei, diz o
Senhor (Mt 11,28).
EVANGELHO (Lucas 7,36-50)
Naquele tempo, 7 36 um fariseu
convidou Jesus a ir comer com ele. Jesus entrou na casa dele e pôs-se à mesa.
37 Uma mulher pecadora da cidade, quando soube que estava à mesa em casa do
fariseu, trouxe um vaso de alabastro cheio de perfume;
38 e, estando a seus pés, por detrás dele, começou a chorar. Pouco depois
suas lágrimas banhavam os pés do Senhor e ela os enxugava com os cabelos,
beijava-os e os ungia com o perfume.
39 Ao presenciar isto, o fariseu, que o tinha convidado, dizia consigo mesmo:
"Se este homem fosse profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que o
toca, pois é pecadora".
40 Então Jesus lhe disse: "Simão, tenho uma coisa a dizer-te".
"Fala, Mestre", disse ele.
41 "Um credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários e o
outro, cinqüenta.
42 Não tendo eles com que pagar, perdoou a ambos a sua dívida. Qual deles o
amará mais?"
43 Simão respondeu: "A meu ver, aquele a quem ele mais perdoou".
Jesus replicou-lhe: "Julgaste bem".
44 E voltando-se para a mulher, disse a Simão: "Vês esta mulher? Entrei
em tua casa e não me deste água para lavar os pés; mas esta, com as suas
lágrimas, regou-me os pés e enxugou-os com os seus cabelos.
45 Não me deste o ósculo; mas esta, desde que entrou, não cessou de beijar-me
os pés.
46 Não me ungiste a cabeça com óleo; mas esta, com perfume, ungiu-me os pés.
47 Por isso te digo: seus numerosos pecados lhe foram perdoados, porque ela
tem demonstrado muito amor. Mas ao que pouco se perdoa, pouco ama".
48 E disse a ela: "Perdoados te são os pecados".
49 Os que estavam com ele à mesa começaram a dizer, então: "Quem é este
homem que até perdoa pecados?"
50 Mas Jesus, dirigindo-se à mulher, disse-lhe: "Tua fé te salvou; vai
em paz".
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. A CONSCIÊNCIA DO PECADO
Na sociedade globalizante e
consumista da qual fazemos parte, onde vale tudo para ser feliz, seduzido
pelas facilidades da vida moderna, na medida em que o homem avança em ritmo
acelerado na tecnologia e na ciência, experimenta uma evolução rápida e
espantosa. Porém, por outro lado todo esse sucesso da comunidade científica
aumenta no ser humano a prepotência e a auto suficiência, assumindo o lugar
de Deus, quando se apresenta como senhor de sua vida e de seus atos,
conhecedor do bem e do mal, e arrogando-se o direito de decidir sua própria
vida.
Temos visto recentemente em uma
emissora de TV uma campanha publicitária onde determinada corrente ideológica
defende abertamente o aborto e uma mulher elegante e liberada convence o
telespectador de que o aborto está entre as demais conquistas da mulher
moderna, que por isso têm todo direito de decidir o que fazer com seu corpo,
sem dar satisfação a ninguém, muito menos a Deus, cuja lei é considerada
retrógrada.
E assim, nessa sociedade mais do
que nunca antropocêntrica, o homem arrogante vai dando o seu grito de
independência, decretando a morte de Deus e o fim do pecado, como se Deus
atrapalhasse os planos de ser feliz, da humanidade.
Mas e os discípulos de Jesus,
membros de tantas igrejas cristãs, como se posicionam diante dessa sociedade
que “liberou geral” em uma verdadeira maratona do “vale tudo” na busca do
prazer, sucesso e felicidade?
A voz profética de Natã na
primeira leitura despertou no rei Davi a consciência do seu delito, do seu
procedimento totalmente contrário à palavra de Deus, pois colocou Urias na
frente de batalha para que este morresse e assim ele pudesse possuir a sua
esposa. Essa atitude penitente permitiu ao rei experimentar a alegria do amor
de Deus.
Precisamos admitir que estamos
enfermos, para sermos curados pela misericórdia divina. O salmo 51 é um dos
mais belos da sagrada escritura, com seu caráter profundamente penitencial
mostra-nos o rei Davi humilde e penitente, que reconhece o seu pecado “Pequei
contra o Senhor”.
Mas o pior enfermo é aquele que
não admite a sua enfermidade, procurando esconde-la com práticas religiosas e
uma aparência piedosa diante dos irmãos. O Fariseu Simão, que convidara Jesus
para jantar em sua casa, não é má pessoa ao contrário, sua conduta é irrepreensível
já que cumpre todos os deveres para com Deus e o próximo e como bom teólogo,
conhece a Palavra de Deus, suas promessas e suas leis dadas a Moisés.
Já a mulher tem má fama, é
conhecida como pecadora sendo moralmente desqualificada, e por sua conduta
está excluída da comunidade porque é considerada impura, mas há algo em sua
vida que a difere do fariseu piedoso: conheceu Jesus e descobriu-se amada e
querida por ele, apesar dos seus inúmeros pecados e a experiência desse amor
a leva a reconhecer-se pecadora, sentindo no coração não um remorso doloroso,
mas sim uma incontida alegria que procurou manifestar na casa do fariseu,
lavando e ungindo os pés daquele que a fez descobrir o verdadeiro amor.
O fariseu mantinha com Deus uma
relação sem dúvida piedosa, mas como se sentia justificado pelas suas obras,
dava-se o direito de julgar os que estavam em pecado, excluindo-os de sua
companhia, e sentindo-se merecedor do amor de Deus e sua salvação.
Note-se que Jesus não condena a
conduta e o modo de viver do fariseu, e nem tão pouco aprova a vida
pecaminosa da mulher, apenas realça o modo como ambos se relacionam com Deus.
Certamente essa experiência com o Mestre Jesus mudou para sempre a vida
daquela mulher mostrando-nos que a iniciativa é sempre de Deus e que somente
quando descobrimos o seu amor em nossa vida, é que percebemos o quanto somos
pecadores por não correspondermos a esse amor.
Simão admirava Jesus, mas não
via nele nada de especial, porque a lei, tradição, o rito e suas boas obras
não o deixavam sentir o quanto Deus o amava, manifestando este amor em Jesus. A religião do
perfeccionismo e do moralismo é sempre muito triste porque nela, o homem
mantém com Deus não uma relação de filho, amado e querido, mas apenas de um
empregado, que cumpre seu dever junto ao patrão, merecendo deste o justo
salário.
A verdadeira autêntica e única
religião têm como base um amor que não se prende a qualquer lei moral ou
norma de conduta, mas sim ao encanto e fascínio de Cristo Jesus, cujo olhar,
gesto e palavras tem o poder de tocar nosso coração, fazendo-nos renascer e
recuperar nossa dignidade de filhos de Deus, despertando-nos esse desejo
incontido de estar a seus pés, como essa mulher, naquela noite imemorável na
casa de Simão. Que o formalismo religioso não mate em nós a alegria desse
amor grandioso!
2. O amor
libertador
Pode-se perceber nesta narrativa
de Lucas uma adaptação das narrativas semelhantes de Marcos (14,3-9), Mateus
(26,6-13) e João (cf. 2 abr.), onde se trata de uma refeição em Betânia, na
casa de Lázaro, Maria e Marta. A refeição em casa de fariseu é uma
peculiaridade de Lucas. Com sua narrativa, na qual quem unge Jesus com o
perfume é uma mulher pecadora, Lucas, apresentando a parábola dos dois
devedores ao fariseu que o convidara, destaca cada vez mais o amor
misericordioso de Jesus, e a dimensão libertadora e vivificante da fé que
traz a paz.
Oração
Pai, faze-me nutrir um amor tão entranhado a Jesus a ponto de não ter
vergonha de manifestá-lo em nenhuma circunstância, mesmo correndo o risco de
ser mal-compreendido.
3. UM GESTO DE AMOR
Embora vivendo numa sociedade
cheia de preconceitos, Jesus não se deixava levar por eles. Sua ação
norteava-se pelas exigências do Reino; sua liberdade não dependia da opinião
alheia. Por isso, não deixava de fazer o bem, quando necessário, mesmo
correndo o risco de ser mal interpretado.
O fariseu, que convidara Jesus
para uma refeição, tinha uma série de preconceitos. Olhava para as mulheres
com desprezo. No caso das prostitutas, este desprezo transformava-se em
verdadeiro asco e repúdio. Na sua opinião, os mestres deveriam guardar
distância dessas mulheres e não se deixar tocar por elas. Também esse fariseu
confundia ser profeta com ser capaz de conhecer as intenções dos outros.
Embora fosse o convidado, Jesus
censurou seu anfitrião. Este observou, com malícia, o gesto amoroso de uma
pecadora da cidade que entrara em sua casa, pondo-se a banhar os pés do
Mestre com suas lágrimas, a enxugá-los com seus cabelos e a cobri-los de
perfume. Para Jesus isto era uma manifestação de amor, para o fariseu, não
passava de um gesto sensual. Além disso, a ação da mulher substituíra a falta
de delicadeza do fariseu, que não realizou os gestos de praxe, quando da
chegada de um hóspede. Enfim, aquela mulher, apesar de pecadora, tinha mais
nobreza do que o anfitrião mal-educado e preconceituoso.
Oração
Senhor Jesus, tira de mim toda malícia e todo preconceito que me levam a
interpretar, de forma equivocada, o que é gesto de amor.
|
SÃO
MATEUS - APÓSTOLO E EVANGELISTA
(VERMELHO,
GLÓRIA, PREFÁCIO DOS APÓSTOLOS – OFÍCIO DA FESTA)
Antífona da entrada: Ide e de todas as nações fazei discípulos, diz o
Senhor, batizando-os e ensinando-os a observar todos os mandamentos que vos
dei (Mt 18,19s).
Leitura (Efésios
4,1-7.11-13)
Leitura da carta de são Paulo aos Efésios.
4 1 Exorto-vos, pois, -
prisioneiro que sou pela causa do Senhor -, que leveis uma vida digna da
vocação à qual fostes chamados,
2 com toda a humildade e amabilidade, com grandeza de alma, suportando-vos
mutuamente com caridade.
3 Sede solícitos em conservar a unidade do Espírito no vínculo da paz.
4 Sede um só corpo e um só espírito, assim como fostes chamados pela vossa
vocação a uma só esperança.
5 Há um só Senhor, uma só fé, um só batismo.
6 Há um só Deus e Pai de todos, que atua acima de todos, por todos e em
todos.
7 Mas a cada um de nós foi dada a graça, segundo a medida do dom de Cristo,
11 A uns ele constituiu apóstolos; a outros, profetas; a outros,
evangelistas, pastores, doutores,
12 para o aperfeiçoamento dos cristãos, para o desempenho da tarefa que visa
à construção do corpo de Cristo,
13 até que todos tenhamos chegado à unidade da fé e do conhecimento do Filho
de Deus, até atingirmos o estado de homem feito, a estatura da maturidade de
Cristo.
Salmo responsorial
18/19A
Seu som ressoa e se espalha em
toda a terra.
Os céus proclamam a glória do
Senhor,
e o firmamento, a obra de suas mãos;
o dia ao dia transmite essa mensagem,
a noite à noite publica essa notícia.
Não são discursos nem frases ou
palavras,
nem são vozes que possam ser ouvidas;
seu som ressoa e se espalha em toda a terra,
chega aos confins do universo a sua voz.
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
A vós, ó Deus, louvamos, a vós, Senhor, cantamos, vos louva, ó Senhor, o coro
dos apóstolos.
EVANGELHO (Mateus 9,9-13)
9 9 Partindo dali, Jesus viu
um homem chamado Mateus, que estava sentado no posto do pagamento das taxas.
Disse-lhe: "Segue-me. O homem levantou-se e o seguiu".
10 Como Jesus estivesse à mesa na casa desse homem, numerosos publicanos e
pecadores vieram e sentaram-se com ele e seus discípulos.
11 Vendo isto, os fariseus disseram aos discípulos: "Por que come vosso
mestre com os publicanos e com os pecadores?"
12 Jesus, ouvindo isto, respondeu-lhes: "Não são os que estão bem que
precisam de médico, mas sim os doentes.
13 Ide e aprendei o que significam estas palavras: Eu quero a misericórdia e
não o sacrifício. Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores."
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. São Mateus
Olha São Mateus, primeiramente
parabéns pelo seu dia que é hoje, o Senhor poderia nos falar sobre aquele dia
que o Mestre passou na sua banca e o chamou para ser discípulo?
___Bom, foi um dia inesquecível, eu pensei que o Galileu fosse pagar algum
imposto, mas de repente vi o seu olhar sobre mim, não era um olhar acusador
como o da maioria do povo, mas era um olhar firme, que me deixou encantado,
suas palavras apenas expressaram o que os seus olhos já me haviam dito...
___É Verdade que o Farisaísmo entrou em polvorosa?
___Nossa, e como! Eles consideravam muito o Mestre e tinham grande admiração
e respeito por ele, mas certas atitudes os desconcertavam, e esse chamado que
ele me fez, ali diante deles, foi realmente muito desconcertante, imagine eu,
um Cobrador de impostos, explorador do povo e a serviço do poder romano, ser
chamado por Jesus. E o que é pior, ele foi jantar em minha casa naquela
noite... Deu o maior "buchicho"
___Pois é, percebe-se no seu relato, eles começaram a "apertar" os
discípulos, o porquê de esse jantar em sua casa...
___Sim, mas não só isso, meus amigos cobradores de impostos também vieram, eu
achei que o Mestre iria nos fazer um discurso moralista, prá gente mudar de
vida e....
___Ué, mas então ele não pregou a palavra, não fez ameaças para vocês se
converterem? Pensei que ele tivesse dado uma "dura" no seu grupo de
pecadores...
___Pois é, eu também pensei assim, e até achava que aquele jantar seria bem
chato, pelo clima que o Mestre iria criar. Mas... Surpreendeu-me o fato dele
ter ficado á vontade em minha casa, sabe, parecia um de nós, comia, bebia,
falava, ria de coisas gozadas que a gente falava, e uma hora até ameaçou uma
dança, como era nosso costume... Foi uma festa imemorável, descobri que ele
nos queria muito bem, apesar de sermos uns "casos perdidos".
___Então não foi o discurso ou ensinamento que te levou a mudar de vida e
segui-lo?
___Não, de modo algum! Foi a sua atitude e o modo como se relacionou comigo e
com os outros, Jesus é simplesmente encantador, é impossível não segui-lo,
quando se experimenta o quanto ele nos ama... Daí sim é que vem a
conversão...
___Conclusão: daí o Império Romano perdeu um excelente cobrador, e o Mestre
ganhou um novo discípulo, e nós, enquanto Igreja, ganhamos um grande Santo e
Apóstolo...
2. O amor misericordioso
de Deus
O chamado de Mateus é feito no
estilo tradicional da vocação profética. Uma breve exortação imperativa ao
seguimento é seguida de uma adesão imediata. Na realidade, o processo de
conversão decorre de um certo tempo de relacionamento com Jesus. O simples
levantar-se e seguir indica uma mudança na vida daquele coletor de impostos.
Para comemorar sua decisão de
acompanhar Jesus, Mateus oferece um banquete aos amigos. Era um círculo de
amizade formado por excluídos pelo sistema religioso e, por isso,
considerados pecadores. Os fariseus e os escribas vêm censurar os discípulos
de Jesus pelo seu convívio à mesa com estes pecadores. Jesus ouve e intervém
com certa ironia, insinuando a hipocrisia destes que o censuravam. Faz uma
comparação entre os que têm saúde e os doentes, por um lado, e os justos e os
pecadores, por outro lado. Com uma frase do profeta Oseias (6,3-6), rejeita a
prática dos sacrifícios e observâncias do Templo e revela o amor
misericordioso de Deus que vem para libertar e dar vida aos excluídos, tidos
como pecadores.
Oração
Pai, coloca-me sempre junto àqueles que mais carecem de tua salvação, e
liberta-me de toda espécie de preconceitos que contaminam o meu coração.
3. A PREFERÊNCIA PELOS PECADORES
Os preconceituosos fariseus
julgaram insuportável a decisão de Jesus de sentar-se à mesa com os odiados
cobradores de impostos e com os pecadores. Atitude reprovável e irresponsável
para um Mestre diante de seus discípulos. Os fariseus censuraram-no
baseando-se numa concepção tradicional de mestre, na qual Jesus recusava a se
enquadrar.
O Filho de Deus ia ao encontro
dos mais carentes da misericórdia do Pai, exatamente os marginalizados pelas
estruturas religiosas. Sua iniciativa de comer com os pecadores, longe de ser
um gesto impensado, era expressão de algo fundamental no seu ministério:
demonstrar profunda comunhão com os que se afastaram do Pai e precisavam
reconciliar-se com ele. Jesus agia como um médico que se ocupa com quem está
doente, e não com quem goza de boa saúde. Era uma questão de lógica!
O contato com os pecadores, na
mentalidade da época, provocava impureza ritual, de forma a impedir a
participação no culto. Era preciso afastar-se dos pecadores, como se fossem
empestados, para estar em condições de se aproximar de Deus.
Os discípulos de Jesus foram
orientados de maneira diversa: se quisessem estar em comunhão com o Pai,
deveriam, em primeiro lugar, estar em comunhão com as vítimas do desprezo da
sociedade puritana daquele tempo. A falta de misericórdia tornaria vazio e
desagradável a Deus o culto que lhe era prestado.
Oração
Pai, inspirado em Jesus, quero manifestar minha comunhão contigo sendo
misericordioso com as vítimas dos preconceitos humanos.
|
XXIV
SEMANA DO TEMPO COMUM
(VERDE – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Ouvi, Senhor, as preces do vosso servo e do vosso povo
eleito: dai a paz àqueles que esperam em vós, para que os vossos profetas
sejam verdadeiros (Eco 36,18).
Leitura (1 Coríntios
15,35-37.42-49)
Leitura da primeira carta de são Paulo aos Coríntios.
15 35 Mas, dirá alguém, como
ressuscitam os mortos? E com que corpo vêm?
36 Insensato! O que semeias não recobra vida, sem antes morrer.
37 E, quando semeias, não semeias o corpo da planta que há de nascer, mas o
simples grão, como, por exemplo, de trigo ou de alguma outra planta.
42 Assim também é a ressurreição dos mortos. Semeado na corrupção, o corpo
ressuscita incorruptível;
43 semeado no desprezo, ressuscita glorioso; semeado na fraqueza, ressuscita
vigoroso;
44 semeado corpo animal, ressuscita corpo espiritual. Se há um corpo animal,
também há um espiritual.
45 Como está escrito: "O primeiro homem, Adão, foi feito alma
vivente"; o segundo Adão é espírito vivificante.
46 Mas não é o espiritual que vem primeiro, e sim o animal; o espiritual vem
depois.
47 O primeiro homem, tirado da terra, é terreno; o segundo veio do céu.
48 Qual o homem terreno, tais os homens terrenos; e qual o homem celestial,
tais os homens celestiais.
49 Assim como reproduzimos em nós as feições do homem terreno, precisamos
reproduzir as feições do homem celestial.
Salmo responsorial 55/56
Na presença do Senhor, andarei
na luz da vida.
Meus inimigos haverão de recuar
em qualquer dia em que eu vos invocar;
tenho certeza: o Senhor está comigo!
Confio em Deus e louvarei sua
promessa;
é no Senhor que eu confio e nada temo:
que poderia contra mim um ser mortal?
Devo cumprir, ó Deus, os votos
que vos fiz,
e vos oferto um sacrifício de louvor,
porque da morte arrancastes minha vida
e não deixastes os meus pés escorregarem,
para que eu anda na presença do Senhor,
na presença do Senhor na luz da vida.
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Felizes os que observam a palavra do Senhor de reto coração e que produzem
muitos frutos, até o fim perseverantes!
Evangelho (Lucas 8,4-15)
Naquele tempo, 8 4 havia se
reunido uma grande multidão: eram pessoas vindas de várias cidades para junto
dele. Jesus lhes disse esta parábola:
5 "Saiu o semeador a semear a sua semente. E ao semear, parte da semente
caiu à beira do caminho; foi pisada, e as aves do céu a comeram.
6 Outra caiu no pedregulho; e, tendo nascido, secou, por falta de umidade.
7 Outra caiu entre os espinhos; cresceram com ela os espinhos, e
sufocaram-na.
8 Outra, porém, caiu em terra boa; tendo crescido, produziu fruto cem por
um". Dito isto, Jesus acrescentou alteando a voz: "Quem tem ouvidos
para ouvir, ouça!"
9 Os seus discípulos perguntaram-lhe a significação desta parábola.
10 Ele respondeu: "A vós é concedido conhecer os mistérios do Reino de
Deus, mas aos outros se lhes fala por parábolas; de forma que vendo não
vejam, e ouvindo não entendam. 11 Eis o que significa esta parábola: a
semente é a palavra de Deus.
12 Os que estão à beira do caminho são aqueles que ouvem; mas depois vem o
demônio e lhes tira a palavra do coração, para que não creiam nem se salvem.
13 Aqueles que a recebem em solo pedregoso são os ouvintes da palavra de Deus
que a acolhem com alegria; mas não têm raiz, porque crêem até certo tempo, e
na hora da provação a abandonam.
14 A que caiu entre os espinhos, estes são os que ouvem a palavra, mas
prosseguindo o caminho, são sufocados pelos cuidados, riquezas e prazeres da
vida, e assim os seus frutos não amadurecem.
15 A que caiu na terra boa são os que ouvem a palavra com coração reto e bom,
retêm-na e dão fruto pela perseverança".
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. A semente em cada um
Escute Lucas, porque o Senhor,
quando escreveu esse evangelho, já deu a homilia prontinha? A gente não tem
muito que refletir, o Senhor explicou sobre cada um dos três tipos de solos,
que a semente caiu, e as consequências de cada um deles...
Lucas - Sim, isso eu fiz, porque as comunidades do meu tempo,
bem depois de Jesus, tinham dificuldade em compreender essa parábola, eu
lembrei que o Mestre tinha uma explicação mais detalhada para o grupo dos
discípulos...
E por que esse privilégio? Para
o povão contava a parábola e depois em casa explicava para os discípulos...
Lucas - Era preciso que se fizesse dessa maneira, o grupo teria
que ser muito bem preparado porque mais á frente eles iriam assumir a missão
de Jesus e tinham que fazer bonito nos ensinamentos...
Está certo, da mesma forma que
hoje, todos quantos têm a responsabilidade de pregarem a Palavra, sejam
leigos ou ministros ordenados, têm que ser bem preparados. Mas da parábola em
si, o que dá prá gente pensar nos dias de hoje...
Lucas- Vocês do Terceiro Milênio do Cristianismo, não devem
ficar olhando em redor, julgando as pessoas para saber quem é Terra boa e
quem é Terra ruim e improdutiva, ou terra com pedregulho, ou cheia de
espinhos... Ou aquela terra dura á beira do caminho...
Mas Lucas, não é importante a
gente conhecer bem as pessoas e saber com quem a gente pode contar
Lucas - Não! Isso é julgar as pessoas e só Deus pode julgar.
Esses tipos de terra que a parábola menciona, está dentro do coração do
homem, tudo misturado, pode reparar, às vezes tem terra dura no coração, ou
tem pedregulho, ou tem espinho que sufoca a semente, quantas coisas há no
coração humano que impede a Palavra de frutificar... Inconstância,
indiferença, desprezo, ou mesmo quando a Palavra produz frutos, tem vez que
dá cem por cento, outras vezes sessenta ou trinta por cento... Esse solo
imprevisível é o coração do homem... Que tem que ser transformado pela
Palavra, mas quanta resistência... Nosso Mestre sabia disso e por isso contou
essa parábola...
2. A palavra que produz frutos
Lucas apresenta esta parábola de
Jesus, elaborada a partir de imagens tiradas da experiência de vida dos
camponeses da Galileia. Após apresentação da parábola, segue-se a explicação
aos discípulos.
No ato da semeadura, as várias
sementes lançadas pelo semeador cairão em terrenos diferentes. Embora nos
primeiros terrenos não vinguem, na terra boa dará abundantes frutos.
A palavra que é falada e ouvida
produz frutos. Contudo, é necessária a paciência de tempo e lugar. Há o lugar
certo e o tempo certo. Embora sejam grandes as adversidades, sempre haverá
aqueles que se deixarão tocar pela palavra. E, no tempo certo, através deles
dará seus frutos em abundância, na compaixão, na solidariedade, na justiça e
no amor.
Oração
Pai, reconhecendo o quanto me custa ser fiel ao projeto do Reino, peço-lhe a
graça de ser fiel até o fim, perseverando no compromisso assumido contigo.
3. NÃO TER MEDO DE
PERDER
A parábola do semeador tinha em
vista levar os discípulos a serem realistas no seu serviço ao Reino.
Ingenuamente, eles imaginavam a Palavra sendo acolhida e vivida por todos.
Anteviam o Reino lançando raízes no coração de toda gente, gerando conversão.
Contavam com ele, tendo a primazia na vida das pessoas, de modo que estas não
cederiam às solicitações de mais ninguém. Em suma, os discípulos não contavam
com a perda.
As coisas, na verdade, não se
passavam assim, e a tentação de desanimar era forte. O fracasso deixava-os
bloqueados, pois desconheciam a dinâmica do Reino. Jesus tentou fazê-los
superar este horizonte equivocado e seguir adiante sem ter medo de perder.
O semeador deu-se por satisfeito
e recompensado pela quarta parte da semente que produzira frutos. Ele sabia
que as sementes caídas à beira do caminho seriam comidas pelos passarinhos.
As caídas em terreno pedregoso haveriam de secar logo, por faltar-lhes
umidade. As lançadas em meio aos espinhos seriam sufocadas por eles. E mais:
mesmo as que caíram em terra fértil, não frutificariam do mesmo modo. Mas,
nem por isso ele se recusou a semear. Estava certo de que os frutos viriam
com certeza, embora contando com perdas inevitáveis.
De igual modo, o discípulo,
servidor do Reino, tem consciência de dever seguir semeando a Palavra, mesmo
que a colheita não tenha o sucesso com que contava.
Oração
Senhor Jesus, não me deixes desanimar diante das derrotas e dos fracassos, no
serviço do Reino; antes, faze-me ficar satisfeito com os frutos produzidos.
|
Liturgia do Domingo —
23.09.2012
25º Domingo do Tempo Comum — ANO B
(VERDE, GLÓRIA, CREIO – I
SEMANA DO SALTÉRIO)
TEMPO DE AMAR E LER A BÍBLIA - SETEMBRO: MÊS DA BÍBLIA
__ "Acolhimento: condição para servir" __
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados
irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO
DOMINICAL PULSANDINHO: Motivados
pela celebração do mês da Bíblia, na qual encontramos a palavra por
excelência, que se diferencia das que normalmente ouvimos, queremos orientar
nosso agir tentando entender, a cada domingo, o que Deus nos fala. Neste
sentido, a liturgia de hoje apresenta a palavra como luz para nossa vida e
nos coloca diante de duas realidades: a "palavra do mundo" e a
"palavra de Deus". Denunciando, e ao mesmo tempo pedindo para que
tenhamos cuidado com as tentativas de domínio sobre os outros, Jesus nos
convida a uma opção de vida que manifeste o que ele mesmo é, tendo nos
deixado como testamento: um coração simples e humilde, capaz de amar e
acolher a todos, em especial os excluídos, sem necessidade de retribuição e
reconhecimento público. Peçamos nessa celebração a graça da fortaleza para
não desanimarmos diante dos desafios e provações.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO
DOMINICAL O POVO DE DEUS: No
próximo domingo celebramos o "Dia Nacional da Bíblia". Por isso,
queremos, mais uma vez, despertar a comunidade para o conhecimento e o amor à
Palavra de Deus, revelada nas Sagradas Escrituras. Elas nos dão conta daquilo
que Jesus fala aos discípulos: "O Filho do Homem vai ser entregue nas
mãos dos homens, e eles o matarão. Mas, três dias após sua morte, ele
ressuscitará". A fé no Ressuscitado leva-nos a colocar nossas vidas a
serviço dos irmãos e irmãs, sobretudo, dos mais necessitados. Cantando,
iniciemos nossa celebração.
INTRODUÇÃO DO
WEBMASTER: A
primeira leitura trata do drama do justo odiado e cercado de morte pelos
ímpios e malvados. Mas ele se considera seguro sob a proteção da mão de Deus.
Seus perseguidores zombam dele e querem colocá-lo à prova. No Evangelho,
Jesus revela que é ele o justo perseguido, revela também que irá morrer mas
que, ao terceiro dia, irá ressuscitar. Ensina que no Reino dos Céus é fácil
ocupar o primeiro lugar, basta que aqui, na terra, a gente se coloque em
último lugar, servindo a todos, assim como ele mesmo fez, a ponto de dar a
própria vida para salvar até quem o estava torturando.
Sintamos o júbilo real
de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos alegres
cânticos ao Senhor!
XXV DOMINGO DO TEMPO
COMUM
Antífona da entrada: Eu sou a salvação do povo, diz o Senhor. Se clamar por
mim em qualquer provação, eu o ouvirei e serei seu Deus para sempre.
Oração do dia
Ó Pai, que resumistes toda a lei no amor a Deus e ao próximo, fazei que,
observando o vosso mandamento, consigamos chegar um dia à vida eterna. Por
Nosso Senhor Jesus Cristo, Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Primeira Leitura
(Sabedoria 2,12.17-20)
Leitura do livro da Sabedoria.
2 12 Cerquemos o justo, porque
ele nos incomoda; é contrário às nossas ações; ele nos censura por violar a
lei e nos acusa de contrariar a nossa educação.
17 Vejamos, pois, se suas palavras são verdadeiras, e experimentemos o que
acontecerá quando da sua morte,
18 porque, se o justo é filho de Deus, Deus o defenderá, e o tirará das mãos
dos seus adversários.
19 Provemo-lo por ultrajes e torturas, a fim de conhecer a sua doçura e
estarmos cientes de sua paciência.
20 Condenemo-lo a uma morte infame. Porque, conforme ele, Deus deve intervir.
Salmo responsorial 53/54
É o Senhor quem sustenta minha
vida!
Por vosso nome, salvai-me,
Senhor;
e dai-me a vossa justiça!
Ó meu Deus, atendei minha prece
e escutai as palavras que eu digo!
Pois contra mim orgulhosos se
insurgem,
e violentos perseguem-me a vida:
não há lugar para Deus aos seus olhos.
Quem me protege e me ampara é meu Deus;
é o Senhor quem sustenta minha vida!
Quero ofertar-vos o meu
sacrifício
de coração e com muita alegria;
quero louvar, ó Senhor, vosso nome,
quero cantar vosso nome que é bom!
Segunda Leitura (Tiago
3,16-4,3)
Leitura da carta de são Tiago.
3 16 Onde houver ciúme e
contenda, ali há também perturbação e toda espécie de vícios.
17 A sabedoria, porém, que vem de cima, é primeiramente pura, depois
pacífica, condescendente, conciliadora, cheia de misericórdia e de bons
frutos, sem parcialidade, nem fingimento.
18 O fruto da justiça semeia-se na paz para aqueles que praticam a paz.
1 Donde vêm as lutas e as contendas entre vós? Não vêm elas de vossas
paixões, que combatem em vossos membros?
2 Cobiçais, e não recebeis; sois invejosos e ciumentos, e não conseguis o que
desejais; litigais e fazeis guerra. Não obtendes, porque não pedis.
3 Pedis e não recebeis, porque pedis mal, com o fim de satisfazerdes as
vossas paixões.
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Pelo Evangelho o Pai nos chamou, a fim de alcançarmos a glória de nosso
Senhor Jesus Cristo (2Ts 2,14).
EVANGELHO (Marcos
9,30-37)
9 30 Tendo partido dali, Jesus e
seus discípulos atravessaram a Galiléia. Não queria, porém, que ninguém o
soubesse.
31 E ensinava os seus discípulos: "O Filho do homem será entregue nas
mãos dos homens, e matá-lo-ão; e ressuscitará três dias depois de sua
morte".
32 Mas não entendiam estas palavras; e tinham medo de lho perguntar.
33 Em seguida, voltaram para Cafarnaum. Quando já estava em casa, Jesus
perguntou-lhes: "De que faláveis pelo caminho?"
34 Mas eles calaram-se, porque pelo caminho haviam discutido entre si qual
deles seria o maior.
35 Sentando-se, chamou os Doze e disse-lhes: "Se alguém quer ser o primeiro,
seja o último de todos e o servo de todos".
36 E tomando um menino, colocou-o no meio deles; abraçou-o e disse-lhes:
37 "Todo o que recebe um destes meninos em meu nome, a mim é que recebe;
e todo o que recebe a mim, não me recebe, mas aquele que me enviou".
FORMAÇÃO
LITÚRGICA
Narração da Instituição e
aclamação do povo
Na narração da instituição, como
o próprio nome indica, repetem-se aquelas mesmas palavras que, conforme as
Escrituras, Jesus Cristo usou na sua última ceia, quando, abençoando o pão e
o vinho, instituiu a Eucaristia. Recordemos tais palavras, conforme a Oração
Eucarística II: Estando para ser entregue e abraçando livremente a paixão,
ele tomou o pão, deu graças, e o partiu e deu a seus discípulos, dizendo:
"Tomai, todos, e comei: isto é o meu corpo, que será entregue por
vós". Do mesmo modo, ao fim da ceia, ele tomou o cálice em suas mãos,
deu graças novamente, e deu a seus discípulos, dizendo: "Tomai, todos, e
bebei: este é o cálice do meu sangue, o sangue da nova e terna aliança, que
será derramado por vós e por todos para a remissão dos pecados. Fazei isto em
memória de mim!". A narração da instituição é o coração e o centro de
qualquer Oração Eucarística. A Igreja dignifica esse momento com suma atenção
e grande respeito. Nessa hora, os fiéis, geralmente ajoelhados e em profundo
silêncio, adoram o seu Senhor que misticamente se faz presente sobre o altar.
Após apresentar o corpo e o
sangue de Jesus para a adoração do povo, quem preside suscita a aclamação de
fé dos fiéis, dizendo: "Eis o mistério da fé". A essas palavras
todos respondem, dirigindo-se, porém, não a Deus Pai, como se faz ao longo de
toda a Oração Eucarística, mas diretamente a Jesus Cristo. Para isso se
utiliza uma das três fórmulas previstas no Missal Romano, cuja primeira é:
Anunciamos, Senhor, a vossa
morte e proclamamos a vossa ressurreição. Vinde, Senhor, Jesus!
TEXTOS BÍBLICOS PARA A
SEMANA:
2ª Vd – Pr 3,27-34; Sl 14 (15); Lc 8,16-18
3ª Vd – Pr 21,1-6.10-13; Sl 188 (119); Lc 8,19-21
4ª Vd – Pr 30,5-9; Sl 118 (119); Lc 9,1-6
5ª Br – Ecl 1,2-11; Sl 89 (90); Lc 9,1-7
6ª Vd – Ecl 3,1-11; Sl 143 (144); Lc 9,18-22
Sb Br – Dn 7, 9-10.13-14; Sl 137 (138); Jo1, 47-51
26º DTC-: Nm 11,25-29; Sl 18 (19),8.10.12-13.14 (R/. 8a e 9b); Tg 5,1-6; Mc
9,38-43.45.47-48 (Ensinamentos)
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. SERVIR E ACOLHER
No mundo de hoje são servidas e
acolhidas apenas as pessoas muito importantes, que detêm algum poder no
âmbito social, econômico – político, e até religioso. Jesus inverte este
quadro quando coloca no meio dos seus discípulos uma criança que é por ele
acolhida e abraçada, para exemplificar o ensinamento de que “quem quiser ser
o primeiro, que seja o último e o servo de todos”.
Essa lição, precedida de um exemplo, foi necessária porque os discípulos não
compreendem o ensinamento da lógica do Reino, que se fundamenta em uma
relação diferente das demais e pelo caminho se questionam quem será entre
eles o maior, pensando em uma relação a partir do poder e domínio sobre o
grupo.
Podemos nos relacionar com as
pessoas segundo a lei, as normas ou o formalismo, tratando-as como cada uma
merece ser tratada, mas não é este o modo do justo se relacionar, porque ele
pauta suas relações a partir da justiça de Deus, que nunca nos tratou segundo
nossas faltas, pois a sua misericórdia e o seu amor são sempre sem medida.
Essa relação justa que sempre
compreende e aceita o outro em suas necessidades, desmascara o amor da
mediocridade, que não é gratuito e nem incondicional, põe em evidência a
frieza das relações formais, marcadas pela aparência e farisaísmo. É um modo
de viver que acaba pondo a descoberto toda a maldade que o ímpio traz
escondido dentro de si “Eis que este menino foi posto para se revelar os
pensamentos íntimos de muitos corações” – dirá o velho Simeão aos pais de
Jesus, na apresentação no templo.
Por isso vemos, na primeira
leitura, que a presença do justo incomoda porque o seu modo de viver e de se
relacionar com as pessoas não segue os padrões normais estabelecidos pelo
interesse e conveniência, mas sim segundo a Justiça de Deus. O justo não
precisa de nenhuma garantia prévia para agir assim, ele confia totalmente em
Deus, que o libertará das mãos dos seus inimigos. Enquanto os homens
constroem seus projetos a partir da firmeza das relações com os outros, o
justo só precisa e tem necessidade de uma coisa: Deus!
O tema do sofrimento, no segundo
anúncio da paixão nos introduz no evangelho desse domingo onde os discípulos
não compreendem e têm medo de perguntar.
Jesus, o Mestre de Israel, só
fez o bem a todos que o buscaram. Os discípulos esperam talvez por um
reconhecimento público o que poderia então dar início a uma “virada” na
história. Mas as palavras de Jesus causam um certo desconforto e mal estar
entre eles.
A Fé coerente com o evangelho, diante da qual precisamos mudar nossa
mentalidade e nosso agir, não é de fácil compreensão. Temos medo de pensar no
sofrimento e no transtorno que isso nos irá trazer. Podemos ser alvo de
perseguições e incompreensões. A conversão não é um bom negócio para quem
colocou sua expectativa de felicidade nos valores do mundo, na fama, no
prestígio e no poder.
No tempo de Jesus crianças e
mulheres nem eram contados no censo, e ao abraçar uma criança, Jesus está
mostrando que os pequenos e sem valor, sem vez e nem voz, são os mais
importantes diante de Deus, invertendo a ordem estabelecida, pois estes que
nunca são lembrados, que nunca são servidos e acolhidos, são sempre os
primeiros no Reino de Deus e quem quiser ser discípulo fiel do Senhor deverá
adotar a linha do serviço aos pequenos, para que o seu seguimento seja
autêntico.
Para isso temos de contar com a
sabedoria que vem de cima que é pura, pacífica, condescendente, cheia de
misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade ou fingimento, como nos
ensina Tiago na segunda leitura. Que a nossa Igreja – Assembléia dos que
crêem – seja para toda essa massa de excluídos de nossa sociedade, uma porta
aberta para acolher e os servir. Assim seja!
2. Jesus se identifica
com os pequenos
Jesus, com seus discípulos,
havia ampliado sua missão aos territórios gentílicos vizinhos da Galileia,
tendo chegado bem ao norte, próximo a Cesareia de Filipe. A partir daí,
decide dirigir-se a Jerusalém, ao sul, para proclamar a sua Boa-Nova aos
peregrinos que ali chegavam em vista de participar da festa judaica da
Páscoa, que se aproximava. Com este propósito Jesus e os discípulos
atravessam novamente a Galileia.
Neste contexto, as narrativas de
Marcos marcarão o contraste entre a mentalidade dos discípulos e a novidade
de Jesus. Os discípulos esperavam de Jesus ações de poder e glória terrena, o
que chocava com a proposta do próprio Jesus de humildade e serviço, com a
doação da própria vida.
Jesus pressente a repressão e o
fim que o esperam em Jerusalém, onde será posto à prova pelos chefes
religiosos do Templo. No caminho para a cidade, prepara os discípulos para
suportarem o possível desfecho trágico. Assim, fala a eles sobre o Filho do
Homem, referindo-se a si mesmo, que será entregue e o matarão. Jesus já havia
advertido os discípulos sobre tal expectativa quando tentava desfazer a
compreensão de Pedro de que ele seria um messias poderoso e glorioso
(primeiro "anúncio da Paixão", cf. 16 set.). E, ainda, repetirá,
novamente, sua advertência quando já se aproximavam de Jerusalém (terceiro
"anúncio da Paixão", cf. 21 out.).
Com isto Jesus expressa sua
fragilidade diante dos poderosos deste mundo, descartando qualquer competição
pelo poder. Completa com a menção da ressurreição, aludindo ao dom da vida de
amor que não se extingue, porém os discípulos não compreendem e têm medo de
perguntar.
Os discípulos estão fixados na
ideologia do messias poderoso, um novo Davi que restauraria o reino de
Israel, e, esperando de Jesus a ascensão ao poder, disputam qual seria,
então, o maior, isto é, quem ocuparia os cargos mais importantes. São os
anseios antagônicos à proposta de Jesus que provocam conflitos na comunidade
e, de maneira mais ampla, no mundo, onde os ímpios ambiciosos da riqueza e do
poder fazem a guerra e semeiam a morte (cf. segunda leitura), tornando-se
loucos e frustrados. A vida do ímpio, o qual reprime e mata o justo, pelo
qual se sente ameaçado, é bem retratada no capítulo 2 do livro da Sabedoria,
de onde foi extraída a primeira leitura da liturgia de hoje.
Jesus chama os Doze e,
invertendo os critérios de competição, reafirma a característica essencial do
Reino: a humildade e o serviço como concretização do amor. É neste amor que
está a realização e a grandeza de cada um. Ao tomar uma criança e abraçá-la,
com carinho, Jesus está se identificando com ela. A criança, do ponto de
vista de uma sociedade de eficiência e produção, é considerada inútil e
marginalizada. Jesus convida a todos a se tornarem crianças, na humildade, na
simplicidade, na fraternidade e na abertura para o novo, com esperança e
alegria, e, com esta opção, estão acolhendo Jesus e entrando em comunhão com
Deus.
Oração
Pai, tira do meu coração os ideais mundanos de glória, e coloca-me no
verdadeiro caminho para ser glorificado por ti, fazendo-me servidor de todos.
3. O SERVIDOR DE TODOS
O testemunho de vida de Jesus,
baseado na humildade e no espírito de serviço, não foi suficiente para
conscientizar os discípulos a respeito do modo de proceder que lhes estava
sendo proposto. Nem mesmo a alusão à sua morte violenta e à sua ressurreição
bastou para abrir-lhes os olhos. Entre eles, permanecia um espírito mesquinho
de competição. Sua preocupação era saber qual deles seria o maior.
Jesus enunciou, com clareza, uma
norma de conduta válida para regular as relações entre eles: quem quisesse
ser considerado o primeiro e mais importante de todos, deveria ser capaz de
se colocar no último lugar e assumir a condição de servo dos demais. O
colocar-se em último lugar deveria resultar de um ato livre, sem nenhum
complexo de inferioridade. O fazer-se servidor seria conseqüência da
superação do próprio egoísmo, não uma atitude resignada de quem não sabe
fazer valer seus direitos. Quebra-se, assim, o ciclo da ambição e fica banida
do seio da comunidade a tentação da tirania. O Reino, portanto, tem uma
escala de valores que não corresponde àquela do mundo.
A orientação de Jesus exigiu dos
discípulos uma reformulação de seus esquemas mentais. Não dava para aplicar
ao Reino a visão mundana com que estavam contaminados.
Oração
Senhor Jesus, tira do meu coração todo ideal humano de grandeza, e faze-me
compreender que ela consiste em fazer-me servidor.
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