Liturgia da Segunda Feira — 30.07.2012
XVII
SEMANA DO TEMPO COMUM *
(VERDE – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Deus habita em seu templo santo, reúne seus filhos em
sua casa; é ele que dá força e poder a seu povo (Sl 67,6s.36)
Leitura (Jeremias
13,1-11)
Leitura do livro do profeta Jeremias.
13 1 Disse-me o Senhor:
"Vai e compra um cinto de linho e coloca-o sobre os rins, sem contudo
mergulhá-lo na água".
2 Comprei-o, conforme ordenara o Senhor, e com ele me cingi. 3 Pela segunda vez, assim me falou o Senhor: 4 "Toma o cinto que compraste e que trazes contigo e encaminha-te para as margens do Eufrates. Lá ocultarás esse cinto na cavidade de um rochedo". 5 Fui assim escondê-lo, junto do Eufrates, como me havia dito o Senhor. 6 Tempos depois, voltou o Senhor a dizer-me: "Põe-te a caminho em demanda das margens do Eufrates, a fim de buscar o cinto que, conforme minhas ordens, lá escondeste". 7 Dirigi-me, então, ao rio e, tendo cavado, retirei o cinto do local onde o escondera. O cinto, porém, apodrecera, e para nada mais servia. 8 Então, nestes termos, foi-me dirigida a palavra do Senhor: 9 "Eis o que diz o Senhor: assim também destruirei a soberba de Judá, e o orgulho imenso de Jerusalém. 10 Esse povo perverso que recusa executar-me as ordens, que segue os pendores do coração empedernido, que corre aos deuses estranhos para render-lhes homenagens e prostrar-se ante eles, tornar-se-á semelhante a esse cinto sem mais serventia alguma. 11 À semelhança de um cinto que se prende aos rins de um homem, assim uni a mim toda a casa de Israel e toda a casa de Judá - oráculo do Senhor -, a fim de que constituíssem meu povo, minha honra, glória e ufania. Elas, porém, não obedeceram".
Salmo responsorial Dt 32
Esqueceram o Deus que os gerou.
Da rocha que te deu à luz, te
esqueceste,
Do Deus que te gerou, não te lembraste. Vendo isso, o Senhor os desprezou, Aborrecido com seus filhos e suas filhas.
E disse: Esconderei deles meu
rosto
E verei, então, o fim que eles terão, Pois tornaram-se um povo pervertido, São filhos que não têm fidelidade.
Com deuses falsos provocaram
minha ira,
Com ídolos vazios me irritaram; Vou provocá-los por aqueles que nem povo são, Através de gente louca hei de irritá-los.
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Deus nos gerou pela palavra da verdade como as primícias de suas criaturas! (Tg 1,18) Evangelho (Mateus 13,31-35)
13 31 Em seguida, propôs-lhes
outra parábola: "O Reino dos céus é comparado a um grão de mostarda que
um homem toma e semeia em seu campo.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO32 É esta a menor de todas as sementes, mas, quando cresce, torna-se um arbusto maior que todas as hortaliças, de sorte que os pássaros vêm aninhar-se em seus ramos". 33 Disse-lhes, por fim, esta outra parábola. "O Reino dos céus é comparado ao fermento que uma mulher toma e mistura em três medidas de farinha e que faz fermentar toda a massa". 34 Tudo isto disse Jesus à multidão em forma de parábola. De outro modo não lhe falava, 35 para que se cumprisse a profecia: "Abrirei a boca para ensinar em parábolas; revelarei coisas ocultas desde a criação".
1. O Reino que quase não aparece...
Um empreendimento humano, nos
dias de hoje é monitorado, tem os seus resultados constantemente analisados,
suas estatísticas verificadas, hoje em dia, com tanta tecnologia a
serviço do homem, um grande empreendimento deixou e ser um risco, pois é
feito todo um estudo para prever o quadro do início até o seu final,
mostrando ao investidor se compensa levar o negócio adiante.
Mas o Reino de Deus não tem como
ser monitorado, pois é sempre uma semente, uma possibilidade real, uma pitada
de fermento pronta para ser usada, em todas as circunstâncias e situações. A
semente está pronta em si mesmo, traz o potencial do crescimento, dos ramos,
folhas e frutos. Está tudo ali, ao alcance do homem que crê. Basta o homem
querer e nesse caso ele deve entrar com o que o seu carisma dispõe, para
alguns uma terra fértil sempre a espera da semente viçosa, para outros
algumas porões de farinha, ou seja, as dimensões de sua vida, que precisam
ser requalificadas, aprimoradas, para crescer e tornar-se pão saboroso,
partilhado com todos.
É enganosa a impressão de que o
empreendimento do Reino de Deus é uma obra com dois sócios e duas
quotas iguais, Deus dá a semente e o homem entra com a terra, a mão de obra e
os implementos agrícolas, ou Deus dá o fermento e o homem entra com a farinha
e a mistura dessa com o Fermento. Não!
Deus dá tudo pronto, a semente e
o fermento, pois se um projeto dessa magnitude dependesse do ser humano, essa
obra estaria reduzida a ruínas há dois milênios. Ao contrário, o Reino está
aí, acontecendo na surdina e sem alardes, as sementes vão sendo plantadas
aqui, ali e acolá, o fermento vai sendo misturado á farinha do ser humano,
seu existir, seu pensar, seu agir, tudo vai sendo levitado e transformado.
Pois este reino que é semente e
fermento, Jesus o plantou bem dentro do ser humano, no centro da sua vida e
do seu coração, está por tanto, dentro do homem e não fora dele, de modo que
é quase impossível impedi-lo de crescer, germinar e frutificar. O homem que
deseja, facilita e permite que dentro dele cresça e se desenvolva essa
semente, ou que vive a comunhão na Vida de Deus , Fermento puro e santo, que
se mistura com a Farinha da nossa humanidade, torna-se pão saboroso, que
alimenta ao faminto, dá esperança ao desesperado, dá luz e alegria ao que
caminha na treva e na tristeza, são as aves que procuram abrigo nos ramos e o
encontram.
Olhemos ao nosso redor e
encontraremos pessoas assim, dentro e fora de nossas igrejas, basta olhar com
muita atenção e sobre tudo Fé, pois ao nosso redor a cada momento o Reino
está acontecendo...
2. O Reino de Deus é como o fermento
O Reino dos Céus é comparado
como algo que, de início, pouco se percebe, mas, depois, produz efeitos
evidentes. A pregação de João Batista e a de Jesus mobilizaram as multidões
que vinham a eles, com uma evidência que chamava a atenção das autoridades
políticas e religiosas. Contudo, continuava pouco perceptível o sentido
último do Reino, muitos tendo confundido Jesus com um messias em busca do
poder e da glória.
A exuberância das instituições
religiosas ao longo do tempo também destoa da discrição da semente de
mostarda. O país mais rico e poderoso do mundo fala em nome da civilização
cristã, porém no seu culto ao dinheiro e em suas ações bélicas não se
vislumbra o Reino de Deus.
Compreender o grão de mostarda
da parábola significa contemplar já a árvore que abriga as aves dos céus.
Significa perceber a presença do Reino nas multidões dos empobrecidos e
excluídos, onde o amor, como um fermento na massa, está presente em milhões
de lares humildes e sofridos.
Oração
Pai, livra-me de desprezar os pequeninos e declará-los. Livra-me, também, do perigo de me subestimar. Faze-me compreender que o Reino se constrói pela ação dos pequenos.
3. DA PEQUENEZ À
GRANDEZA
A parábola do grão de mostarda
semeado no campo, vindo a tornar-se uma árvore frondosa, revela um aspecto
importante na dinâmica do Reino. Este aparece pequeno e frágil ao despontar
na história humana. Entretanto, seu destino é tornar-se grande na sua
definitiva manifestação. A precariedade e a imperfeição do momento presente
são etapas necessárias de um processo mais amplo. Só na escatologia
despontará o Reino em sua real grandeza.
O discípulo sabe conjugar
pequenez e grandeza, sem se deixar iludir por imagens destorcidas do Reino. E
não correrá o risco de se enganar, identificando com o Reino certas
manifestações retumbantes de religiosidade, nem ficará iludido quando for
incapaz de perceber o Reino lançando suas raízes, tamanha é sua pequenez. No
primeiro caso, terá suficiente senso crítico para perceber a incompatibilidade
de certos fenômenos com o projeto do Reino; no segundo, será capaz de
detectar, ali onde parece que nada acontece, sinais evidentes do Reino,
fermentando a existência humana.
Historicamente, o Reino tende a
manifestar-se em sua fragilidade. Caso contrário, correria o risco de
impor-se aos seres humanos, prescindindo de uma opção livre. Quem for capaz
de reconhecer a presença ativa de Deus no que há de mais fraco e pequenino,
terá compreendido por que caminhos o Reino atua na História.
Oração
Espírito que se manifesta na pequenez e na fragilidade, dá-me inteligência para compreender os caminhos pelos quais o Reino se faz presente em nossa história. |
SANTO
INÁCIO DE LOYOLA
(BRANCO, PREFÁCIO COMUM OU DOS PASTORES – OFÍCIO DA MEMÓRIA)
Antífona da entrada: Ao nome de Jesus, todo joelho se dobre no céu, na terra
e nos abismos; e toda língua proclame, para glória de Deus Pai, que Jesus
Cristo é Senhor (Fl 2,10s).
Leitura (Jeremias
14,17-22)
Leitura do livro do profeta Jeremias.
14 17 E tu lhes dirás: Que se me
fundam em lágrimas os olhos, noite e dia sem descanso, porquanto de um golpe
horrível foi ferida a virgem, filha de meu povo, e sua chaga não tem cura!
18 Se saio pelos campos, encontro homens atravessados pela espada; e se regresso à cidade, eu vejo outros passando pelo tormento da fome. Até o profeta e o sacerdote perambulam sem rumo pela terra. 19 Repelistes Judá, de verdade, e vossa alma se desgostou de Sião? Por que nos feristes de mal incurável? Esperamos a salvação; nada, porém, existe de bom; aguardamos a era de soerguimento, mas só vemos o terror! 20 Senhor! Conhecemos nossa malícia e a iniqüidade de nossos pais. (Bem sabemos) que pecamos contra vós. 21 Pela honra, porém, de vosso nome, não nos abandoneis, nem desonreis o vosso trono de glória. Lembrai-vos! E não rompais o pacto que conosco firmastes. 22 Haverá, entre os vãos ídolos dos pagãos, algum que provoque a chuva? Ou é o céu que proporciona os aguaceiros? Não! Sois vós, Senhor, nosso Deus, vós, em quem depositamos nossa esperança; vós, que todas essas coisas haveis criado.
Salmo responsorial 78/79
Por vosso nome e vossa glória,
libertai-nos!
Não lembreis as nossas culpas do
passado,
mas venha logo sobre nós vossa bondade, pois estamos humilhados em extremo.
Ajudai-nos, nosso Deus e
salvador!
Por vosso nome e vossa glória, libertai-nos! Por vosso nome, perdoai nossos pecados!
Até vós chegue o gemido dos
cativos:
libertai com vosso braço poderoso os que foram condenados a morrer! Quanto a nós, vosso rebanho e vosso povo, celebramos vosso nome para sempre, de geração em geração vos louvaremos.
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
A semente é de Deus a palavra, o Cristo é o semeador; todo aquele que o encontra, vida eterna encontrou. Evangelho (Mateus 13,36-43)
13 36 Então, Jesus despediu a
multidão. Em seguida, entrou de novo na casa e seus discípulos agruparam-se
ao redor dele para perguntar-lhe: Explica-nos a parábola do joio no campo.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO37 Jesus respondeu: O que semeia a boa semente é o Filho do Homem. 38 O campo é o mundo. A boa semente são os filhos do Reino. O joio são os filhos do Maligno. 39 O inimigo, que o semeia, é o demônio. A colheita é o fim do mundo. Os ceifadores são os anjos. 40 E assim como se recolhe o joio para jogá-lo no fogo, assim será no fim do mundo. 41 O Filho do Homem enviará seus anjos, que retirarão de seu Reino todos os escândalos e todos os que fazem o mal 42 e os lançarão na fornalha ardente, onde haverá choro e ranger de dentes. 43 Então, no Reino de seu Pai, os justos resplandecerão como o sol. Aquele que tem ouvidos, ouça.
1. “Casa, lugar do conhecimento...”
A palavra “Casa” que aparece no
início do evangelho, não é apenas um advérbio de lugar, mas é uma referência
importante tratando-se de um lugar especial onde os discípulos estão
sequiosos por um conhecimento mais aprofundado da Palavra anunciada por
Jesus, que agora, deixando de lado a linguagem comparativa das parábolas,
fala as claras sobre o significado do ensinamento, poderíamos dizer que,
depois de dar “mingau” ou “papinha” à multidão, vai dar aos seus discípulos
um alimento mais sólido.
A nossa Igreja só recentemente é
que vem valorizando a formação dos leigos, em cursos organizados pela
arquidiocese, ou nas próprias paróquias, e assim, comunidade é essa “Casa”
onde na nossa experiência com o Senhor, vamos aprofundando o seu ensinamento
nas verdades reveladas por Deus. Comunidade não deve ser só o lugar do
SENTIR, mas também do PENSAR, para que se tenha o discernimento mais preciso
sobre o Reino de Deus, que em forma de semente foi plantado por Jesus no
coração do homem.
Quando não se aprofunda esse
rico ensinamento, e se prefere ficar só na “papinha ou mingau”, a nossa Fé
não é tão consistente e acabamos confundindo joio com o trigo e este Joio,
plantado em nós pelo Maligno, nos desfigura totalmente, tornando-nos imagem
do Maligno e não de Deus e quanto menos conhecimento tem,os da palavra, mais
vamos perdendo a capacidade de discernir, e mais vamos cultivando o joio em
nosso coração, confundindo-o com o trigo.
Daí que um belo dia seremos
surpreendidos, no dia da colheita, quando o Senhor mandar recolher o trigo em
seus celeiros, quando descobrirmos que perdemos tempo em nossa vida,
cultivando joio, iremos então sentir um ódio mortal por termos sido enganados
pelo Mal, mas aí será muito tarde e só nos restará remoer o nosso ódio, com
um choro amargo e o ranger de dentes.
Que tal começar agora, a fazer
uma limpeza no jardinzinho do nosso coração, arrancando sem piedade o joio, e
cultivando com alegrias o trigo bom? Para isso é preciso buscar o
conhecimento da Palavra, nessa casa que é a nossa comunidade, onde o Senhor
nos fala direto ao coração.
2. O sentido das parábolas.
Na sua coleção de sete
parábolas, reunidas no capítulo 13 de seu evangelho, Mateus apresenta a
parábola do joio semeado entre o trigo. A seguir, no texto de evangelho de
hoje, ele apresenta a sua explicação, como já havia feito para a parábola das
sementes lançadas em diferentes tipos de terreno (cf. Mt 13,18-23). A
explicação é feita de modo alegórico, isto é, a cada imagem da parábola é
dada uma interpretação.
Nesta interpretação alegórica de
Mateus, a parábola tem um sentido escatológico, de julgamento no fim dos
tempos com a trágica condenação dos que praticam o mal e a salvação dos
justos. O dualismo discriminatório na parábola e as imagens cruéis deste
julgamento são muito características de Mateus, com o que fica obscurecida a
mensagem e o testemunho de amor e misericórdia de Jesus.
Contudo, na parábola podemos
encontrar um sentido atual, na medida em que remove as pretensões de se
julgar e condenar alguém.
Oração
Pai, que as pressões dos filhos do Maligno jamais sejam suficientemente fortes para me levar a renunciar à minha condição de filho do Reino. Quero estar sempre a teu serviço.
3. DUAS SORTES DISTINTAS
A explicação da parábola do joio
e do trigo ofereceu a Jesus a ocasião para explicitar o destino final de quem
se identifica com a má semente, e de quem se identifica com a boa semente.
Os primeiros são chamados de
escandalosos, pois praticam a iniqüidade, ou seja, recusam-se a pautar suas
vidas pelos parâmetros do Reino. São indivíduos sem lei, e só fazem o que
mais lhes convém. Como só lhes convém a maldade, seu destino será a
condenação eterna.
Os segundos são chamados de
justos. Sua justiça corresponde, exatamente, em optarem pelo Reino como
projeto de vida, sem se desviarem do caminho certo. Os justos norteiam suas
vidas pelo amor, e acreditam na força do bem e da verdade. Jamais pactuam com
a injustiça, nem empregam a violência para fazer valer seus direitos. Eis por
que fulgirão como o Sol, no Reino do Pai.
A exortação de Jesus -
"Quem tem ouvidos para ouvir, ouça" - soa como uma espécie de
advertência para os discípulos em vista de uma escolha a ser feita. A sorte
de cada opção já está traçada. Cabe ao discípulo agir com inteligência.
Oração
Espírito de eqüidade, conduze-me pelos caminhos da justiça, que são os caminhos do Reino, sem me deixar desviar do rumo certo. |
SANTO
AFONSO DE LIGÓRIO - BISPO E DOUTOR
(BRANCO, PREFÁCIO COMUM OU DOS PASTORES – OFÍCIO DA MEMÓRIA)
Antífona da entrada: Velarei sobre as minhas ovelhas, diz o Senhor; chamarei
um pastor que as conduza e serei o seu Deus (Ez 34,11.23s).
Leitura (Jeremias
15,10.16-21)
Leitura do livro do profeta Jeremias.
15 10 "Ai de mim, ó minha
mãe, que me geraste, para tornar-se objeto de disputa e de discórdia em toda
a terra! Não sou credor nem devedor, e, no entanto, todos me maldizem.
16 Vede: é por vós que sofro ultrajes da parte daqueles que desprezam vossas palavras. Aniquilai-os. Vossa palavra constitui minha alegria e as delícias do meu coração, porque trago o vosso nome, ó Senhor, Deus dos exércitos! 17 Não me assentei entre os escarnecedores, para entre eles encontrar o meu prazer. Apoiado em vossa mão, assentei-me à parte, porque me havíeis enchido de indignação. 18 Por que não tem fim a minha dor, e não cicatriza a minha chaga, rebelde ao tratamento? Ai! Sereis para mim qual riacho enganador, fonte de água com que não se pode contar?" 19 Eis a razão pela qual diz o Senhor: "Se voltares, farei de ti o servo que está a meu serviço. Se apartares o precioso do que é vil serás como a minha boca. Serão eles, então, que virão a ti, e não tu que irás a eles. 20 Então, erguerei ante esse povo sólida muralha como o bronze. Será atacada, mas não conseguirão vencê-la, pois estarei a teu lado para proteger-te e te livrar - oráculo do Senhor. 21 Arrebatar-te-ei da mão dos maus e te libertarei do poder dos violentos".
Salmo responsorial 58/59
Sois meu refúgio no dia da
aflição.
Libertai-me do inimigo, ó meu
Deus,
e protegei-me contra os meus perseguidores! Libertai-me dos obreiros da maldade, defendei-me desses homens sanguinários!
Eis que ficam espreitando a
minha vida,
poderosos armam tramas contra mim. Mas eu, Senhor, não cometi pecado ou crime.
Minha força, é a vós que me
dirijo,
porque sois o meu refúgio e proteção, Deus clemente e compassivo, meu amor! Deus virá com seu amor ao meu encontro, e hei de ver meus inimigos humilhados.
Eu, então, hei de cantar vosso
poder
e de manhã celebrarei vossa bondade, porque fostes para mim o meu abrigo, o meu refúgio no dia da aflição.
Minha força, cantarei vossos
louvores,
porque sois o meu refúgio e proteção, Deus clemente e compassivo, meu amor!
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Eu vos chamo meus amigos, pois vos dei a conhecer o que o Pai me revelou (Jo 15,15). Evangelho (Mateus 13,44-46)
13 44 Disse Jesus: "O
Reino dos céus é também semelhante a um tesouro escondido num campo. Um homem
o encontra, mas o esconde de novo. E, cheio de alegria, vai, vende tudo o que
tem para comprar aquele campo.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO45 O Reino dos céus é ainda semelhante a um negociante que procura pérolas preciosas. 46 Encontrando uma de grande valor, vai, vende tudo o que possui e a compra".
1. “O tesouro
escondido”
Muda-se o contexto, mudam-se os
ouvintes, provavelmente Jesus acabou de chegar do campo e entrou na cidade,
lá na zona rural o Reino era semente e fermento, agora na cidade ele é um
tesouro e uma pérola preciosa. A diferença entre as duas parábolas é que
agora, descobrindo este reino dentro de si, é preciso tomar a decisão: que
importância tem o Reino na minha vida? Jesus e seu evangelho é apenas mais
uma Filosofia de Vida entre tantas, ou é o único? O Reino de Deus não é uma
mercadoria exposta na vitrine, em meio a outras.
Ao descobrir o tesouro escondido
em um sítio, o homem da primeira parábola o escondeu de novo. Ninguém sabia
que ele já tinha descoberto o tesouro, era alguém em meio a multidão, porém
sentia-se especial pois o tesouro descoberto tornara-se a coisa mais
importante da sua vida, mas para que fosse seu, teria de abrir mão de tudo o
mais que possuía e foi o que fez...
Mas qual a diferença entre as
duas parábolas que parecem tão iguais? Na primeira, o homem encontrou o
tesouro por acaso, e na segunda o negociante estava à procura de uma preciosidade.
Isso significa dizer que de algum modo, Deus revela o seu reino a todos os
homens, nenhum ser humano passará por esta vida sem que a Graça de Deus o
toque e o alcance. É uma ocasião única que ele deve aproveitar bem,
descobrindo que vale a pena relativizar tudo nesta vida, aceitando como
absoluto apenas Deus e os desígnios do seu Reino, que Jesus um dia plantou no
meio de nós.
Ocorre que muitas vezes, jogamos
toda a nossa existência fora, por causa de “quinquilharias” que nada valem,
ou de certas pérolas reluzentes, mas que são falsas e não tem valor algum e
que passamos vida inteira correndo atrás.
2. Parábolas do Reino
Mateus coleta ditos de Jesus e
os reúne, em seu evangelho, em cinco blocos, formando cinco discursos. Estes
são alternados com blocos de feitos de Jesus, milagres, relações com os
discípulos ou com o povo e conflitos com o sistema da sinagoga e do Templo.
No capítulo treze, encontramos o "discurso em parábolas", com sete
parábolas. A seguir apresentará mais oito, dispersas, formando um total de
quinze. Destas, oito são exclusivas de Mateus. E Mateus tem a originalidade
de iniciar dez das parábolas com a frase: "O Reino dos Céus é
como...".
As duas curtas parábolas de hoje
só são encontradas
Oração
Pai, que eu seja decidido e rápido em desfazer-me do que me impede de acolher plenamente o teu Reino. Que meu coração nunca se apegue a coisa alguma deste mundo.
3. DECISÃO
RADICAL
A relação do discípulo com o
Reino deve ser de exclusividade. Em sua vida, nada pode apresentar-se como
concorrente desse Reino, pois este tem a primazia em tudo, deve ser o ponto
de referência para tudo, o eixo de sua existência. E tudo isto se explica
como adesão e serviço total ao Reino.
Jesus comparou a radicalidade
desta opção com o gesto de um homem que, ao descobrir um tesouro escondido
num campo, cheio de alegria vendeu quanto possuía e adquiriu aquele campo.
Essa descoberta levou-o a redimensionar o valor de suas propriedades. A posse
do tesouro justificava desfazer-se de tudo o mais.
Outro ponto de comparação foi a
atitude de um comerciante de pérolas preciosas: ao encontrar uma de grande
valor, decidiu desfazer-se de todos os seus bens, só para adquiri-la. A posse
da pérola levou-o a dar uma reviravolta em sua vida: todas as demais pérolas
que possuía, bem como outras eventuais propriedades, pouco valor tinham para
ele. A posse da pérola preciosa era suficiente para fazê-lo feliz.
O mesmo se passa com o Reino.
Ele constitui a alegria do discípulo, embora tivera de renunciar ao que antes
lhe parecia precioso. Por causa do Reino, o discípulo é capaz de tomar
decisões radicais.
Oração
Senhor Jesus, que eu me desfaça, com coragem e alegria, de tudo quanto me impede de colocar o Reino como centro de minha vida. |
XVII
SEMANA DO TEMPO COMUM *
(VERDE – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Deus habita em seu templo santo, reúne seus filhos em
sua casa; é ele que dá força e poder a seu povo (Sl 67,6s.36)
Leitura (Jeremias
18,1-6)
Leitura da profecia de Jeremias.
18 1 Foi dirigida a Jeremias a
palavra do Senhor nestes termos:
2 "Vai e desce à casa do oleiro, e ali te farei ouvir minha palavra". 3 Desci, então, à casa do oleiro, e o encontrei ocupado a trabalhar no torno. 4 Quando o vaso que estava a modelar não lhe saía bem, como sói acontecer nos trabalhos de cerâmica, punha-se a trabalhar em outro à sua maneira. 5 Foi esta, então, a linguagem do Senhor: "casa de Israel, não poderei fazer de vós o que faz esse oleiro?" - oráculo do Senhor. 6 "O que é a argila em suas mãos, assim sois vós nas minhas, Casa de Israel".
Salmo responsorial
146/145
Feliz quem se apóia no Deus de
Jacó!
Bendize, minha alma, ao Senhor!
Bendize, minha alma, ao Senhor! Bendirei ao Senhor toda a vida, Cantarei ao meu Deus sem cessar!
Não ponhais vossa fé nos que
mandam,
Não há homem que possa salvar. Ao faltar-lhe o respiro, ele volta Para a terra de onde saiu; Nesses dia seus planos perecem.
É feliz todo homem que busca
Seu auxílio no Deus de Jacó E que põe no Senhor a esperança. O Senhor fez o céu e a terra, fez o mar e o que neles existe.
Aclamação do Evangelho
(Mateus 13,47-53)
Aleluia, aleluia, aleluia.
Abre-nos, ó Senhor, o coração, para ouvirmos a palavra de Jesus! (At 16,14) EVANGELHO (Mateus 13,16-17)
13 47 "O Reino dos céus é
semelhante ainda a uma rede que, jogada ao mar, recolhe peixes de toda
espécie.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO48 Quando está repleta, os pescadores puxam-na para a praia, sentam-se e separam nos cestos o que é bom e jogam fora o que não presta. 49 Assim será no fim do mundo: os anjos virão separar os maus do meio dos justos 50 e os arrojarão na fornalha, onde haverá choro e ranger de dentes. 51 Compreendestes tudo isto? Sim, Senhor, responderam eles. 52 Por isso, todo escriba instruído nas coisas do Reino dos céus é comparado a um pai de família que tira de seu tesouro coisas novas e velhas". 53 Após ter exposto as parábolas, Jesus partiu.
1. “Somente o Reino é definitivo”
Esta parábola fecha um conjunto
que se inicia no versículo 1 com a Parábola do Semeador, o panorama muda mas
o ensinamento é o mesmo: o Reino é uma iniciativa Divina. Ás vezes, na visão
rigorosa de Mateus, tem-se a impressão de que o homem em nada participa, mas
esta é uma visão enganosa. O evangelista precisava usar esta linguagem
radical, pois os seus conterrâneos não abriam mão da tradição onde
despontavam nomes sagrados como o Rei Davi, o libertador Moisés e mais na
origem o Patriarca Abraão. Para eles, Jesus de Nazaré não poderia ser maior
que esses, não aceitavam que ele era o próprio Filho de Deus, inaugurador do
Reino definitivo, e muito menos que Deus se ocupasse de outros povos e nações
que não Israel, raça eleita, Nação Santa.
Na rede jogada ao mar caem
peixes de todas as espécies, grandes, pequenos, peixes de ótima qualidade mas
também peixes que não serviam para ser aproveitados. Haverá no final uma
seleção dos convocados, e Israel não tem lugar garantido só porque tem suas
raízes na tradição, sendo povo da antiga aliança. Possivelmente, o que
pensava um judeu tradicionalista era que Israel não passaria por nenhum
julgamento, pois já estavam assegurados.
Por isso Mateus dá ênfase ao
julgamento e ainda as consequências trágicas que virão para quem não for
selecionado. Quando refletimos este evangelho corremos o risco de pensar mal
de Deus, uma vez que os coitados dos peixes que caem na rede, nem imaginam o
destino que espera para os que não passarem no controle de qualidade dos anjos.
Entretanto o versículo final, alinhado á primeira leitura do Profeta Jeremias
desfaz esse equívoco.
O Doutor da Lei que se torna
discípulo de Jesus tem à sua frente o Baú do Antigo Testamento de onde, ele
poderá agora tirar coisas novas e velhas, como um pai de família que ao fazer
uma bela faxina em casa, vai separar algumas coisas que são úteis e outras
que já não servem mais. O Doutor da Lei que se tornou discípulo do Senhor,
agora olha para o Antigo Testamento a partir de Jesus e consegue separar coisas
novas e velhas, pois com Cristo as escrituras antigas revelam seu verdadeiro
e real sentido.
Jesus Cristo, o Messias Salvador
e Redentor, é a plena realização da profecia de Jeremias, pois Nele todo
homem será remodelado, refeito, como um barro nas mãos do oleiro. Conclusão
da parábola: basta que o homem se torne flexível e disponível para deixar-se
modelar pela Graça Operante e Santificante da Graça de Deus, e ele será
totalmente transformado, e daí, os peixes de menor qualidade que caíram na
rede do Reino, poderão sim, serem transformados
Dentre as primitivas comunidades
cristãs oriundas do judaísmo surgiram tradições sobre Jesus inspiradas a
partir do Primeiro Testamento, como o escriba "que tira de seu tesouro
coisas novas e velhas". Os evangelistas elaboram seus evangelhos
coletando estas tradições, marcadas pela ideologia do messianismo davídico de
glória e poder, já descartado por Jesus.
A parábola de hoje, com um
estilo bem característico de Mateus, pretende descrever o juízo final,
apresentando-o de maneira excludente e violenta. A separação entre bons e
maus, e o cruel destino dos maus, na fornalha de fogo, com ranger de dentes,
exprime mais o julgamento do deus do Primeiro Testamento, que, no "dia
de Javé", viria para exterminar os inimigos do povo eleito, o qual,
purificado, seria elevado à gloria e ao poder sobre as demais nações.
A grande novidade de Jesus,
contudo, é a revelação do Deus de amor e misericórdia. A exemplo de Jesus,
nossos julgamentos não são de condenação do mundo, mas, sim, de
reconhecimento do amor pleno de Deus que tudo transforma e a todos acolhe em
seu seio divino.
Oração
Pai, concede-me suficiente realismo para perceber que teu Reino se constrói em meio a perdas e ganhos, e que só tu podes garantir o sucesso final.
Diante da pregação de Jesus, a
comunidade dos discípulos pensou ser conveniente separar, o mais cedo
possível, a humanidade em dois blocos. De um lado, estariam os bons, que se
deixaram tocar pelo Reino e aderiram a ele com fidelidade. De outro, estariam
os maus, os que foram insensíveis aos apelos do Reino e preferiram aderir à
injustiça e toda sorte de maldade. Esta divisão nítida, no pensar deles, lhes
daria segurança. Afinal, não haveria dúvida sobre o lugar onde se encontravam
o bem e o mal. A mistura acarretaria sérios perigos para os bons.
Ao contar a parábola da rede,
Jesus mostrou-se contrário a esta mentalidade. Como a rede recolhe peixes de
toda espécie, o mesmo se passa com o Reino. Gente de toda categoria e com as
mais variadas intenções se fazem discípulas dele. Por ora, não é conveniente
estabelecer uma separação entre elas. A ninguém é dado este poder. Ele é da
competência de Jesus: só a ele cabe julgar as pessoas e separá-las segundo
seu comportamento. Mas isto será feito apenas no fim do mundo. Até lá, os que
se consideram bons e são impacientes com os demais, devem provar que o são,
de fato. Uma maneira de prová-lo é ser paciente com quem é fraco na fé e
ajudá-lo a descobrir o caminho da fidelidade a Jesus e ao Reino. A
intransigência já é uma forma de maldade e poderá resultar em dano para o
discípulo, quando se defrontar com o Senhor.
Oração
Senhor Jesus, livra-me da tentação de arvorar-me em juiz do meu próximo e faze-me ajudar os fracos na fé a descobrirem o caminho do Reino. |
XVII
SEMANA DO TEMPO COMUM *
(VERDE – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Deus habita em seu templo santo, reúne seus filhos em
sua casa; é ele que dá força e poder a seu povo (Sl 67,6s.36)
Leitura (Jeremias
26,1-9)
Leitura da profecia de Jeremias.
26 1 No começo do reinado de
Joaquim, filho de Josias, rei de Judá, foi dirigida a Jeremias a palavra do
Senhor nestes termos:
2 "Eis o que disse o Senhor: coloca-te no átrio do templo e a toda a gente de Judá, que vier prosternar-se no templo do Senhor, repete todas as palavras que te ordenei dizer, sem deixar nenhuma. 3 Talvez as ouçam eles e renunciem ao perverso comportamento. Arrepender-me-ei, então, dos males que cogito desencadear sobre eles por motivo da perversidade de sua vida. 4 E então tu lhes dirás: eis o que diz o Senhor: Se não me escutardes, se não obedecerdes à lei que vos impus, 5 e não ouvirdes as palavras dos profetas, meus servos, que não cessei de vos enviar continuamente, sem que delas vos importásseis, 6 farei deste edifício o que fiz de Silo e desta cidade um exemplo que todos os povos da terra citarão em suas maldições". 7 Os sacerdotes, os profetas e todo o povo ouviram Jeremias pronunciar essas palavras no templo. 8 Mal, porém, acabara de repetir o que o Senhor lhe ordenara dizer ao povo, lançaram-se sobre ele os sacerdotes, os profetas e a multidão, exclamando: "À morte! 9 Por que proferes, em nome do Senhor, este oráculo: 'a este templo: o mesmo acontecerá que a Silo e se transformará em deserto sem habitantes esta cidade?'" Ajuntou-se então a multidão no templo em torno de Jeremias.
Salmo responsorial 68/69
Respondei-me, ó Senhor, pelo
vosso imenso amor.
Mais numerosos que os cabelos da
cabeça
são aqueles que me odeiam sem motivo; meus inimigos são mais fortes do que eu; contra mim eles se voltam com mentiras! Por acaso poderei restituir alguma coisa que de outros não roubei?
Por vossa causa é que sofri
tantos insultos
e o meu rosto se cobriu de confusão; eu me tornei como um estranho a meus irmãos, como estrangeiro para os filhos de minha mãe. Pois meu zelo e meu amor por vossa casa e devoram como fogo abrasador; e os insultos de infiéis que vos ultrajam recaíram todos eles sobre mim!
Por isso elevo para vós minha
oração
neste tempo favorável, Senhor Deus! Respondei-me pelo vosso imenso amor, pela vossa salvação que nunca falha!
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
A palavra do Senhor permanece eternamente, e esta é a palavra que vos foi anunciada (1Pd 1,25). EVANGELHO (Mateus 13,54-58)
13 54 Jesus foi para a sua
cidade e ensinava na sinagoga, de modo que todos diziam admirados:
"Donde lhe vem esta sabedoria e esta força miraculosa?
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO55 Não é este o filho do carpinteiro? Não é Maria sua mãe? Não são seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas? 56 E suas irmãs, não vivem todas entre nós? Donde lhe vem, pois, tudo isso?" 57 E não sabiam o que dizer dele. Disse-lhes, porém, Jesus: "É só em sua pátria e em sua família que um profeta é menosprezado". 58 E, por causa da falta de confiança deles, operou ali poucos milagres.
1. “Santo de casa”
Quando Jesus chegou a sua
“terrinha” de Nazaré, acompanhado dos discípulos, deve ter causado um
verdadeiro “rebuliço”, pois a fama de suas pregações e milagres já tinha
chegado por ali, e no sábado, como todo piedoso judeu, foi á celebração da
palavra da comunidade, onde qualquer pessoa adulta poderia partilhar o
ensinamento na hora da reflexão, e Jesus, usando desse direito, começou a
pregar á sua gente fazendo a homilia.
O povinho da terra nunca tinha
ouvido uma pregação feita com tanta sabedoria, que superava o ensinamento dos
Mestres da Lei e Fariseus, imaginemos que na comunidade, algum ministro da
palavra pregue melhor do que o padre... E com o estudo teológico acessível
aos leigos, isso hoje não seria novidade. Aquilo que causa muita admiração,
também logo acabará despertando inveja e ciúmes. Basta que olhemos para os
nossos trabalhos pastorais, onde o carisma das pessoas não deveria jamais
perturbar o coração de ninguém, ao contrário, deveria motivar um hino de louvor,
por Deus ter dado a alguém um carisma tão belo, colocado a serviço da
comunidade. Mas logo surgem os questionamentos maldosos: Como é que ele faz
isso? Onde aprendeu? Quem o ensinou, de onde é que vem todo esse saber? Será
que o padre o autorizou? (esta última coloquei por minha conta) E a
admiração, contaminada por sentimentos de inveja, vai logo se transformando
em desconfiança aumentando o questionamento: “Quem ele pensa que é, para
falar assim com a gente? Será que ele não se enxerga? E ainda tem gente que o
aplaude...” Os que não gostam muito do padre, logo vão afirmar que o sujeito
faz parte da sua “panelinha”, ou então, irão inventar alguma coisa para que o
padre “corte a asinha” do tal.
As pessoas, quando enxergam algo
de extraordinário no carisma de alguém, começam a fazer do sujeito uma
referência importante, acham que a sua oração é especial, que um toque de sua
mão poderosa pode realizar curas prodigiosas, e em pouco tempo, a propaganda
é tanta, que o tal não pode mais sair as ruas que é logo procurado para
resolver os mais complicados problemas, inclusive de relacionamento entre as
pessoas, apaziguar casais brigados, aconselhar jovens, e assim a sua palavra
se torna poderosa e em consequência passa a ter poder religioso paralelo, e
se na comunidade não houver um espaço para ele atuar, terão de criar um, pois
ele precisa ser o centro das atenções.
Jesus não quis formar um grupo
só para ele, para bater de frente com os Doutores da lei, escribas e
fariseus, e como ele pertencia a uma das famílias do local, a ponto de sua
mãe e seus irmãos serem de todos conhecidos, começaram a vê-lo como um
vulgar, que nada de extraordinário tinha feito em Nazaré, para que merecesse
toda aquela fama. Na verdade, Jesus não quis assumir o papel de “Salvador da
Pátria”, diferente de muitos cristãos, que se julgam o máximo naquilo que
fazem, e pensam que sem eles, a comunidade estaria perdida. Essa rejeição á
ele, suas obras e ensinamentos, iria se ampliar e lhe traria conseqüências
muito trágicas na cruz do calvário, tudo porque suas palavras anunciavam um
reino novo, que exigia uma total renovação e mudança de vida.
Na sinagoga de Nazaré foi assim,
e nas nossas comunidades, não é muito diferente. Quem prega mudanças de
mentalidade e conduta, vai sempre arrumar uma bela de uma encrenca. Enfim, o
Jesus que há dentro de nós, criado pelas nossas fantasias, ou fruto de nossas
ideologias sociais ou políticas, não coincide com esse Jesus, Profeta de
Nazaré, Ungido de Deus. E o pior, é que projetamos tudo isso nas pessoas que lideram
a comunidade, nos cooperadores, nos coordenadores, nos ministros, nas
catequistas, nos padres e diáconos e assim vai. Um dia, basta um
desentendimento mais sério e o nosso Jesus idealizado “vai pro espaço” com a
pastoral e o movimento.
Quanto mais somos realistas em
nossa fé, mais nos adequamos á comunidade aceitando-a como ela é, quanto mais
nos iludimos com o Jesus da nossa fantasia, mais difícil será vivermos em
comunidade, aceitando as pessoas do jeito que elas são. Daí, como em Nazaré,
nenhum milagre acontece, por causa dessa fé infantil e ilusória...
2. O projeto de Deus nasce no meio do povo
No tempo de Jesus o judaísmo
tinha suas esperanças na vinda de um messias que restauraria o antigo império
de Davi, glorioso, segundo dizia a tradição. Estas esperanças tinham suas
raízes naquelas tradições que engrandeciam o antigo reinado de Davi e na
teologia de poder elaborada pelas elites sacerdotais no retorno do exílio da
Babilônia. Estas elites visavam consolidar seu poder e seus privilégios.
O projeto de Deus não é o de
estabelecer estruturas de realeza e poder. O projeto de Deus é resgatar e
promover a vida entre os pobres e excluídos, criando laços pessoais e sociais
de fraternidade e partilha.
Este projeto nasce no meio do
povo. Nasce em uma insignificante cidade da Galileia, na casa de um simples
carpinteiro, José. Este projeto nasce com a proclamação de seu filho Jesus de
Nazaré. Jesus reconhecidamente tem sabedoria e energia de comunicação. Mas
sua origem humilde choca as pessoas submetidas à ideologia de poder do
judaísmo. Rejeitado por aqueles seduzidos pelo poder, Jesus encontra acolhida
entre os pobres e pequeninos.
Oração
Pai, livra-me da tentação de querer enquadrar-te em meus mesquinhos esquemas. Que eu saiba reconhecer e respeitar o teu modo de agir.
3. O MESTRE SOB SUSPEITA
A sabedoria de Jesus deixou
intrigada a população de Nazaré, onde ele vivera desde a infância: De onde
lhe vinham tanta sabedoria e o poder de fazer milagres? Não era possível que
o filho de um carpinteiro, bem conhecido no povoado, manifestasse uma
sabedoria maior que a dos grandes mestres. Era inexplicável como alguém,
cujos parentes nada tinham de especial, falasse com tamanha autoridade. Os
concidadãos de Jesus suspeitavam dele, e não acreditavam de que estivesse
falando e agindo por inspiração divina. Por este motivo, o Mestre tornou-se
para eles motivo de escândalo.
A experiência de rejeição não
chegou a desanimar Jesus. Ele se deu conta de estar vivendo uma situação
semelhante à dos antigos profetas de Israel. Nenhum deles foi aceito e
reconhecido pelo povo ao qual tinham sido enviados. Antes, todos foram
desprezados e humilhados, quando não, assassinados de maneira perversa e
desumana.
Jesus não perdeu tempo com quem
se obstinava em não aceitá-lo. Por isso, não realizou em Nazaré muitos
milagres. Seria perda de tempo, acarretaria ainda mais maledicência,
acirraria os ânimos do povo. Por isso, seguiu em frente, buscando quem
estivesse aberto para deixar-se tocar por sua mensagem. O fracasso não o
abateu nem atenuou o ardor com que realizava a missão que o Pai lhe tinha
confiado.
Oração
Senhor Jesus, que eu saiba inspirar-me no teu testemunho de coragem diante da rejeição e da suspeita, levando em frente a missão que me confiaste. |
SÃO
JOÃO MARIA VIANNEY - PRESBÍTERO E CONFESSOR
(BRANCO, PREFÁCIO COMUM OU DOS PASTORES – OFÍCIO DA MEMÓRIA)
Antífona da entrada: Eu vos darei pastores segundo o meu coração, que vos
conduzam com inteligência e sabedoria (Jr 3,15).
Leitura (Jeremias
26,11-16)
Leitura do livro do profeta Jeremias.
Naqueles dias, 26 11 os
sacerdotes e os profetas clamaram aos oficiais e à multidão: "Este homem
merece a morte porque profetizou contra esta cidade, como todos ouvistes com
vossos próprios ouvidos".
12 Jeremias, porém, retrucou aos oficiais e ao povo: "Foi o Senhor quem me deu o encargo de proferir contra este povo e esta cidade os oráculos que ouvistes. 13 Reformai, portanto, vossa vida e modo de agir, escutando a voz do Senhor, vosso Deus, a fim de que afaste de vós o mal de que vos ameaça. 14 Quanto a mim entrego-me nas vossas mãos. Fazei de mim o que quiserdes e que melhor se vos afigure. 15 Sabei, porém, que se me condenardes à morte, será de sangue inocente que maculareis esta cidade e seus habitantes; pois, na verdade, foi o Senhor quem me ordenou vos transmitisse estes oráculos". 16 Disseram, então, os oficiais e a multidão aos sacerdotes e profetas: "Este homem não merece a morte! Foi em nome do Senhor, nosso Deus, que nos falou". 24 Contudo, a influência de Aicã, filho de Safã, protegeu Jeremias, impedindo que fosse entregue ao povo e condenado à morte.
Salmo responsorial 68/69
No tempo favorável, escutai-me,
ó Senhor!
Retirai-me deste lodo, pois me
afundo!
Libertai-me, ó Senhor, dos que me odeiam e salvai-me destas águas tão profundas! Que as águas turbulentas não me arrastem, não me devorem violentos turbilhões nem a cova feche a boca sobre mim!
Pobre de mim, sou infeliz e
sofredor!
Que vosso auxílio me levante, Senhor Deus! Cantando, eu louvarei o vosso nome e, agradecido, exultarei de alegria!
Humildes, vede isto e
alegrai-vos:
o vosso coração reviverá se procurardes o Senhor continuamente! Pois nosso Deus atende à prece dos seus pobres e não despreza o clamor de seus cativos.
Aclamação do Evangelho
(Mateus 14,1-12)
Aleluia, aleluia, aleluia.
Felizes os que são perseguidos por causa da justiça do Senhor, porque o reino dos céus há de ser deles! (Mt 5,10). Evangelho (Mateus 13,24-30)
14 1 Por aquela mesma época, o
tetrarca Herodes ouviu falar de Jesus.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO2 E disse aos seus cortesãos: "É João Batista que ressuscitou. É por isso que ele faz tantos milagres". 3 Com efeito, Herodes havia mandado prender e acorrentar João, e o tinha mandado meter na prisão por causa de Herodíades, esposa de seu irmão Filipe. 4 João lhe tinha dito: "Não te é permitido tomá-la por mulher!" 5 De boa mente o mandaria matar; temia, porém, o povo que considerava João um profeta. 6 Mas, na festa de aniversário de nascimento de Herodes, a filha de Herodíades dançou no meio dos convidados e agradou a Herodes. 7 Por isso, ele prometeu com juramento dar-lhe tudo o que lhe pedisse. 8 Por instigação de sua mãe, ela respondeu: "Dá-me aqui, neste prato, a cabeça de João Batista". 9 O rei entristeceu-se, mas como havia jurado diante dos convidados, ordenou que lha dessem; 10 e mandou decapitar João na sua prisão. 11 A cabeça foi trazida num prato e dada à moça, que a entregou à sua mãe. 12 Vieram, então, os discípulos de João transladar seu corpo, e o enterraram. Depois foram dar a notícia a Jesus.
1. “Incomodou o poder e perdeu a cabeça...”
Se no tempo de Herodes tivesse
uma imprensa livre, esta seria a manchete no dia seguinte á festa de aniversário
de Herodes. A elite palaciana dos que ocupam algum poder temporal,
tornam-se deuses de si mesmo e fazem o que bem entendem. Herodes gostava de
ouvir João Batista, apreciava suas pregações, até o dia em que o Batista
denunciou o seu pecado de adultério contra seu irmão, tomando a Herodíades,
sua cunhada, por esposa.
Herodes é o mais puro retrato do
homem da pós-modernidade, que ouvem a Palavra de Deus, chegam a se empolgar
com ela, mas quando essa Palavra exige uma mudança de mentalidade e de postura,
no campo da ética e da moral, aí a menosprezam, pois não admitem ser
contrariados na busca da felicidade que é o gozo de todos os prazeres que o
mundo oferece.
Mas todos precisam ouvir o
anúncio da Palavra de Deus, e não anunciá-la a essas pessoas seria uma grave
negligência de todos nós, cristãos, pois o anúncio não tem como objetivo
condená-los, mas sim salvá-los. Nesse sentido a dimensão profética da nossa
Igreja deve cumprir com mais fidelidade a missão que lhe foi confiada e
aí talvez esteja um grande pecado da omissão, quando temos um certo receio de
anunciar o evangelho ás classes elitizadas, ou anunciando um evangelho menos
comprometedor.
João estava preso, mas era um
homem livre, que anunciou a Palavra da Verdade a Herodes. E na sua festa de
aniversário, deixou seus caprichos falarem mais alto ao esnobar o seu poder
real “peças tudo o que quiseres que eu te darei”. Também o Homem da
pós-modernidade, seduzido pelo avanço científico de que é capaz, ocupa o
lugar que é de Deus, e julga-se poderoso, para dar o que quiser a quem assim
o desejar.
A Filha de Herodíades e sua mãe,
a exemplo também da pós-modernidade, corre dos ideais fúteis, da busca do
prazer em um egocentrismo exacerbado e assim, João Batista é decapitado. Sem
a cabeça estará morto e irá silenciar-ser para sempre, ficando os poderosos
livres de sua voz perturbadora. João é o precursor também por isso, por
preceder Jesus Cristo, aquele cujo anúncio irá perturbar a corte palaciana e
o poder religioso, e que irão matar na certeza de que estarão enterrando
definitivamente com Jesus, o projeto daquele Reino estranho que não oferecia
felicidade alguma a quem optou apenas pelo poder dominador e opressor.
2. O banquete de Herodes
Mateus retoma aqui a narrativa de Marcos sobre o banquete de Herodes, resumindo-a. Em ambos os evangelistas ela antecede a narrativa da partilha do pão entre Jesus, os discípulos e a multidão.
Podemos destacar aqui dois
aspectos. Na articulação do poder em vista da morte de João, pode-se ver uma
prefiguração da morte de Jesus e, também, uma advertência aos discípulos:
quem assume a missão assume também o destino daquele que o enviou.
Outro aspecto é a contraposição
entre este banquete dos poderosos, Herodes e os que o cortejam, e a refeição
de Jesus com o povo. O banquete dos poderosos, pretendendo comemorar um
aniversário, tem como desfecho a opção pela morte. Por outro lado, a partilha
do pão com Jesus e a multidão é a festa da fraternidade e da vida.
Oração
Pai, na qualidade de discípulo de teu Filho Jesus, quero inspirar-me na coragem inabalável de João Batista, denunciando profeticamente a prepotência dos grandes.
3. UMA LIBERDADE PROFÉTICA
O testemunho e o destino de João
Batista foram úteis para iluminar a caminhada feita por Jesus. Existe muito
em comum entre ambos. Tiveram de defrontar-se com poderosos opressores, de
cuja maldade foram vítimas. Não pactuaram com a mentira e a prepotência,
denunciando-as com a valentia própria dos profetas. Foram exemplarmente
livres, não se deixando intimidar por quem pudesse servir de empecilho para
sua missão. Igualmente, foram vítimas de morte violenta e ignominiosa, embora
inocentes e não tendo cometido nada digno de censura.
Estas coincidências levavam as
pessoas a identificarem Jesus com João Batista ressurgido dentre os mortos.
Esta leitura equivocada não tomava em consideração que as semelhanças entre
eles eram devidas unicamente à fidelidade de ambos a Deus-Pai. João Batista
não se desviou do caminho traçado por Deus: preparar o povo para acolher o Messias
Jesus. Jesus, por sua vez, absolutizou o querer do Pai, a ponto de ser
submetido a toda sorte de humilhação e desprezo, apesar de sua condição de
Filho de Deus.
O segredo do testemunho exemplar
de João Batista e de Jesus radicava-se, pois,
Oração
Senhor Jesus, que o teu testemunho de fidelidade ao Pai, somado ao de João Batista, inspire sempre minha caminhada de discípulo do Reino. |
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domingo, 29 de julho de 2012
Liturgia da 17ª semana comum Ano Par
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