Liturgia da Segunda Feira — 08.04.2013
ANUNCIAÇÃO
DO SENHOR
(BRANCO, GLÓRIA, CREIO,
PREFÁCIO PRÓPRIO – OFÍCIO DA SOLENIDADE)
Antífona da
entrada: Ao entrar no mundo, Cristo disse: Eis-me aqui, ó
Pai, para fazer a tua vontade (Hb 10,5.7).
Primeira Leitura (Isaías
7,10-14;8,10)
Leitura do livro do profeta Isaías.
7 10 O Senhor disse ainda
a Acaz: 11” Pede ao Senhor teu Deus um sinal, seja do fundo da habitação
dos mortos, seja lá do alto”.
12 Acaz respondeu:” De maneira alguma! Não quero pôr o Senhor à prova”.
13 Isaías respondeu: “Ouvi, casa de Davi: Não vos basta fatigar a
paciência dos homens? Pretendeis cansar também o meu Deus?
14 Por isso, o próprio Senhor vos dará um sinal: uma virgem conceberá e
dará à luz um filho, e o chamará Deus Conosco.
8,10 preparai um plano, e ele malogrará; dai ordens e elas não serão
executadas, porque Deus está conosco”.
Salmo responsorial
39/40
Eis que venho
fazer, com prazer,
a vossa vontade, Senhor!
Sacrifício e oblação não quisestes,
mas abristes, Senhor, meus ouvidos;
não pedistes ofertas nem vítimas,
holocaustos por nossos pecados,
e então eu vos disse: “Eis que venho!”
Sobre mim está escrito no livro:
“Com prazer faço a vossa vontade,
guardo em meu coração vossa lei!”
Boas novas de vossa justiça
anunciei numa grande assembléia;
vós sabeis: não fechei os meus lábios!
Proclamei toda a vossa justiça
sem retê-la no meu coração;
vosso auxílio e lealdade narrei.
Não calei vossa graça e verdade
na presença da grande assembléia.
Segunda Leitura
(Hebreus 10,4-10)
Leitura da carta aos Hebreus.
10 4 Pois é impossível
que o sangue de touros e de carneiros tire pecados.
5 Eis por que, ao entrar no mundo, Cristo diz: “Não quiseste sacrifício
nem oblação, mas me formaste um corpo.
6 Holocaustos e sacrifícios pelo pecado não te agradam.
7 Então eu disse: Eis que venho (porque é de mim que está escrito no
rolo do livro), venho, ó Deus, para fazer a tua vontade”.
8 Disse primeiro: “Tu não quiseste, tu não recebeste com agrado os
sacrifícios nem as ofertas, nem os holocaustos, nem as vítimas pelo pecado
(quer dizer, as imolações legais)”.
9 Em seguida, ajuntou: “Eis que venho para fazer a tua vontade. Assim,
aboliu o antigo regime e estabeleceu uma nova economia”.
10 Foi em virtude desta vontade de Deus que temos sido santificados uma
vez para sempre, pela oblação do corpo de Jesus Cristo.
Aclamação do
Evangelho
Glória a Cristo,
palavra eterna do Pai, que é amor!
A palavra se fez carne e habitou entre
nós. E nós vimos sua glória que recebe de Deus Pai (Jo 1,14).
Evangelho (Lucas 1,26-38)
1 26 No sexto mês, o anjo
Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré,
27 a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de
Davi e o nome da virgem era Maria.
28 Entrando, o anjo disse-lhe: “Ave, cheia de graça, o Senhor é
contigo”.
29 Perturbou-se ela com estas palavras e pôs-se a pensar no que
significaria semelhante saudação.
30 O anjo disse-lhe: “Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de
Deus.
31 Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de
Jesus.
32 Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe
dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó,
33 e o seu reino não terá fim”.
34 Maria perguntou ao anjo: “Como se fará isso, pois não conheço
homem?”
35 Respondeu-lhe o anjo: “O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força
do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer
de ti será chamado Filho de Deus.
36 Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice;
e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril,
37 porque a Deus nenhuma coisa é impossível”.
38 Então disse Maria: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim
segundo a tua palavra”. E o anjo afastou-se dela.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. JESUS, O FILHO
DE MARIA!
Depois do nome, a referência mais
importante de uma pessoa é a sua filiação, filho de fulano e de cicrana, ter
uma mãe e um pai, uma origem, algo que está na essência da nossa humanidade,
sem essa referência, até da existência se pode duvidar. Quem é ele, filho de
quem, onde mora? O Filho de Deus, onipotente, onipresente, onisciente, aceita
trilhar o mesmo caminho do homem. A encarnação é obra de Deus, mas que irá
acontecer com a colaboração do homem.
O rei Davi era a dinastia mais
famosa de Israel, pois unificara o norte e o sul formando um dos maiores
impérios do oriente, o povo sonhava com aqueles tempos em que Israel era uma
nação respeitada e temida pelas demais, pois o rei Davi impunha respeito,
pelo poder do seu numeroso exército, mas acima de tudo por ter sido ungido do
Senhor, pois ser rei era uma missão divina. As profecias falavam que o
esperado messias era dessa família e que seria igual ou até melhor que Davi,
ele era para o povo o braço poderoso de Deus lutando a favor dos pobres,
alinhando-se com os homens justos e punindo os maus.
Os grandes acontecimentos ou
decisões importantes que representem mudança na vida do povo, só poderiam
ocorrer no meio dos poderosos, ao povo cabia ouvir, dizer amém e agüentar as
conseqüências. Entretanto a vinda do messias começa a ser articulada entre
Deus e uma mocinha pobre da periferia chamada Nazaré, até ela própria fica
assustada e surpresa quando percebe que está em suas mãos mudar os rumos da
história do seu povo. A mudança dos rumos de uma nação, só começa a acontecer
de fato, quando o povo descobre a sua força. Deus nunca seguiu as estruturas
humanas para realizar a salvação da humanidade, escolhe como parceiro pessoas
fracas, aparentemente incapazes de fazer qualquer mudança.
Por caminhos tortuosos,
incompreensíveis para os homens, Deus irá cumprir com a promessa, o noivo de
Maria chama-se José e pertence a família do grande rei Davi mas apesar disso,
José é um homem do povo, que vive de sua profissão de carpinteiro. E Maria?
Quais eram seus planos de vida?
Todos nós temos de ter um projeto
de vida, quem não tem, acaba não vivendo bem e nem sabe o sentido da vida.
Maria estava prometida em casamento a José, como seu povo ela também esperava
o messias, ela também alimentava no coração a esperança de dias melhores.
E em um momento de oração Maria se
abre para ouvir a Deus e descobrir a sua vontade a seu respeito. Somente uma
fé madura e consciente consegue se abrir diante de Deus e ao mesmo o questiona.
Há certas coisas em nossa vida de difícil solução, e que seria tão bom se
Deus fizesse do nosso jeito. Não que Deus seja sempre do contra, mas nunca
vai ser do nosso jeito. Em Maria vemos o que é realmente a fé, quando não
fazemos questão que seja do nosso jeito, mas sim do jeito de Deus, daí é que
as coisas vão acontecer. Só que o jeito de Deus não é muito fácil de aceitar
porque ultrapassa a lógica humana.
Maria não é casada, não tem marido,
quando ela apresenta essa dificuldade o anjo anuncia que as coisas irão
acontecer do jeito de Deus e para que Maria possa confiar é lhe dado um
sinal, a prima Isabel, avançada em idade e ainda por cima estéril, irá
conceber uma criança. Os sinais de Deus nunca seguem a lógica humana, mas é
preciso confiar. E Maria aceita totalmente a missão, que não será das mais
fáceis, abre mão de todos os seus planos, inclusive o casamento com José, ela
aceita o risco de ser acusada de infidelidade, o que poderia fazer com que
fosse condenada á morte, caso o noivo a denunciasse.
Eis aqui a serva do Senhor, faça-se
em mim segundo a vossa palavra - Para nós, hoje é muito fácil aceitar e
entender essa história. Mas pensemos um pouco em Maria, que não fazia idéia
do que vinha pela frente, mas sabia que Deus estava com ela.
Hoje o reino de Deus vai
acontecendo e sendo edificado em meio aos homens, na medida em que, como
Maria, nós aceitamos o desafio, fazendo de nossa vida uma entrega total e
silenciosa nas mãos do Pai. Para isso é sempre preciso renovar a cada dia a
decisão em favor de Jesus e seu reino...
2. Eleita Mãe do
Filho de Deus
O texto do anúncio do Anjo Gabriel
a Maria é parte dos evangelhos da infância (Lc 1–2). Os relatos dos dois
primeiros capítulos de Lucas estão entre os últimos relatos a serem escritos.
A mensagem do mensageiro de Deus a Maria (vv. 28-37) tem dois aspectos: a)
cristológico: a identidade de Jesus é expressa em termos de sua vinculação
davídica e de sua função messiânica (cf. 2Sm 7,13-16). Mas Jesus não é
somente o Messias davídico, mas o Filho de Deus (v. 35); b) o segundo aspecto
é mariológico: Maria é a que recebeu o “favor de Deus” (v. 28). O “favor de
Deus” é a sua eleição para ser a mãe do Filho de Deus.
ORAÇÃO
Pai, plenifica-me com tua graça, como fizeste com Maria, de forma que eu
possa ser fiel como ela ao teu desígnio de salvação para a humanidade.
3. MARIA,
CHEIA DE GRAÇA
A Igreja, refletindo sobre a mãe de
Jesus, foi entendendo, pouco a pouco, toda a verdade desta figura singular.
Neste processo, a Igreja chegou a professar que o pecado original, tendo
marcado para sempre a história da humanidade, mas não lançou raízes no ser de
Maria. Vivendo num mundo de egoísmo, ela não foi contaminada pelo pecado.
Esta graça e privilégio, conferidos
por Deus à mãe do Salvador, aconteceram por causa de Jesus Cristo. Deus
preparou para receber seu Filho, que seria imune da culpa original, um ventre
não corrompido pelo pecado. Maria, de certo modo, experimentou, por
antecipação, o fruto da ação de seu filho Jesus, que viria ao mundo para
salvar a humanidade do pecado. A mãe foi a primeira a tirar partido da missão
do Filho. A santidade do Filho Jesus santificou todo o ser da mãe Maria,
desde que fora concebida.
A proclamação do anjo "Ave,
cheia de graça, o Senhor está contigo" fundamenta a total santidade de
Maria. Sendo cheia de graça, nela não podia haver espaço para o pecado e para
a infidelidade a Deus. E sua existência, desde o início, só podia ser total
comunhão com Deus. Por outro lado, toda a vida de Maria foi marcada pela
pessoa de Jesus, a quem estaria ligada desde o momento do anúncio da
encarnação. A concepção imaculada é, pois, mais uma maravilha da graça de
Deus na vida de Maria.
Oração
Senhor Jesus, que a contemplação da concepção imaculada de tua mãe desperte
em mim o desejo de romper, definitivamente, com o pecado que maculou a
humanidade.
|
II
SEMANA DA PÁSCOA
(BRANCO – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da
entrada: Alegremo-nos, exultemos e demos glória a Deus,
porque o Senhor todo-poderoso tomou posse do seu reino, aleluia! (Ap 19,7.6)
Leitura (Atos
4,32-37)
Leitura dos Atos dos Apóstolos.
32 A multidão dos fiéis era um só
coração e uma só alma. Ninguém dizia que eram suas as coisas que possuía, mas
tudo entre eles era comum.
33 Com grande coragem os apóstolos davam testemunho da ressurreição do
Senhor Jesus. Em todos eles era grande a graça.
34 Nem havia entre eles nenhum necessitado, porque todos os que possuíam
terras e casas vendiam-nas,
35 e traziam o preço do que tinham vendido e depositavam-no aos pés dos
apóstolos. Repartia-se então a cada um deles conforme a sua
necessidade.
36 Assim José (a quem os apóstolos deram o sobrenome de Barnabé que quer
dizer Filho da Consolação), levita natural de Chipre, possuía um campo.
37 Vendeu-o e trouxe o valor dele e depositou aos pés dos
apóstolos.
Salmo responsorial
92/93
Reina o Senhor,
revestiu-se de esplendor.
Deus é rei e se vestiu de majestade,
revestiu-se de poder e de esplendor!
Vós firmastes o universo inabalável,
vós firmastes vosso trono desde a origem,
desde sempre, ó Senhor, vós existis!
Verdadeiros são os vossos testemunhos,
refulge a santidade em vossa casa
pelos séculos dos séculos, Senhor!
Aclamação do
Evangelho
Aleluia, aleluia,
aleluia.
O Filho do homem há de ser levantado,
para que quem crer possua a vida eterna (Jo 3,14s).
EVANGELHO (João 3,7-15)
3 7 Disse Jesus a Nicodemos:
“Não te maravilhes de que eu te tenha dito: Necessário vos é nascer de
novo.
8 O vento sopra onde quer; ouves-lhe o ruído, mas não sabes de onde vem,
nem para onde vai. Assim acontece com aquele que nasceu do Espírito”.
9 Replicou Nicodemos: “Como se pode fazer isso?”
10 Disse Jesus: “És doutor em Israel e ignoras estas coisas!
11 Em verdade, em verdade te digo: dizemos o que sabemos e damos
testemunho do que vimos, mas não recebeis o nosso testemunho.
12 Se vos tenho falado das coisas terrenas e não me credes, como crereis
se vos falar das celestiais?
13 Ninguém subiu ao céu senão aquele que desceu do céu, o Filho do Homem
que está no céu.
14 Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim deve ser levantado
o Filho do Homem,
15 para que todo homem que nele crer tenha a vida eterna”.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. Salvação: Tudo
ou Nada!
Nicodemos é uma boa pessoa, conhece
Jesus, sente-se atraído por seus ensinamentos e cada vez quer saber mais, seu
coração anda inquieto diante das sábias Palavras do Mestre de Israel. Membro
da comunidade de Israel, ele percebe que os ensinamentos dos Doutores e
Escribas, sempre têm como referência a tradição do seu povo, fatos concretos
que Deus realizou a favor deles. Jesus, porém, não segue essa mesma linha, há
nele algo diferente, sua sabedoria não vem da tradição antiga e seus
ensinamentos não apontam na direção de homens grandiosos como Moisés. Não
expõe uma simples filosofia de Vida, que é mais uma alternativa entre tantas,
mas fala de uma única Verdade, de um único caminho, de uma Vida que se refaz
e se renova, permitindo inclusive ao homem renascer.
Vai procurá-lo de noite para mais
uma aula de catequese e desta vez não resiste e pergunta-lhe como é possível
um homem nascer de novo.
A Salvação trazida por Jesus, e que
é oferecida a toda humanidade, diferente da tradição antiga por conta da qual
os Israelitas sentiam-se privilegiados, só acontece se houver uma abertura
diante da Vontade de Deus. Abandonar antigos princípios e conceitos, deixar a
tradição religiosa de lado e aceitar o desafio de ser uma Nova Pessoa,
moldando-se ao Modelo de homem Novo que é Jesus Cristo, assim é que ele se
apresenta diante de Nicodemos naquele momento, quando a aula de catequese
chegou ao seu ápice: Nicodemos já têm a resposta que queria, já sabe quem é
Jesus Cristo e o que têm de fazer.
Agora é “Pegar ou Largar”, ou rompe
com todo um passado e uma tradição e fica com Jesus, aceitando-o como Mestre
e Senhor, ou então não poderá mais frequentar a catequese, que a partir de
agora vai falar de coisas celestiais, que só podem ser compreendidas na Fé,
isso é, por quem aderiu a Jesus Cristo.
A Catequese de Jesus para com
Nicodemos, não é Doutrinal, mas querigmática, que provoca inquietação e
fascínio por Jesus, conduzindo o catequizando a um ponto em que terá que
decidir se quer ou não ser Discípulo de Jesus. Assim tem que ser também nossa
catequese, para levar os catequizandos a descobrirem a beleza, o fascínio e o
encanto de se viver a Fé em Jesus Cristo. Daí o conhecimento os levará a um
momento decisivo em suas vidas, e como aconteceu com Nicodemos, é “tudo” ou
“nada”, é “pegar ou largar”.
2. Um diálogo
catecumenal
O texto de hoje é parte do discurso
de Jesus, motivado por seu encontro com Nicodemos (Jo 3,1-21). Podemos
caracterizar este discurso como sendo uma “catequese batismal”. Nicodemos,
fariseu, era uma autoridade entre os judeus (cf. v. 2). É ele quem procura
Jesus, à noite; reconhece que Jesus é enviado de Deus e que sua missão é
autenticada por sinais (cf. v. 2). Entre muitas interpretações possíveis
acerca do motivo da “noite”, podemos dizer que João prepara a afirmação
capital, já presente no prólogo, de que Jesus é a luz que brilha nas trevas
(cf. vv. 19-21).
A Nicodemos Jesus diz: “É
necessário para vós nascer do alto” (v. 7b). É preciso, para ver a realidade
celeste, superar o que é estritamente carnal, ou o que se reduz a isso.
Trata-se, aqui, de se deixar conduzir, mover por Deus. Somente numa vida
“segundo o Espírito” é possível sair do racionalismo ou de uma prática
rigorosa da Lei e conhecer, pela relação íntima com Deus, o seu mistério, e
dele receber a luz da verdade.
ORAÇÃO
Pai, lança-me, cada dia, na aventura do Espírito, que me tira do comodismo e
do abatimento e me faz superar meus próprios limites.
3. SOB O
SOPRO DO ESPÍRITO
Ao exortar Nicodemos sobre a
necessidade de nascer de novo, Jesus apontou o ação do Espírito como
dinamismo deste renascimento. É o Espírito quem leva a pessoa a superar os
esquemas da vida, segundo a carne, e a assumir um projeto de vida centrado na
vontade de Deus. Arranca-a das malhas do egoísmo, e a coloca no terreno firme
do amor. Abre-lhe os horizontes, apresentando-lhe a carência dos pobres e
sofredores como campo de serviço. Liberta-a dos interesses mesquinhos,
levando-a a confrontar-se com ideais elevados, realmente capazes de trazer
felicidade e realização pessoal.
O sopro incontrolável do vento
serviu de comparação para revelar a liberdade de ação de quem é movido pelo
Espírito. Como não se pode segurar, determinar o rumo, exercer controle sobre
o vento, o mesmo se dá com a pessoa que nasce do Espírito. Sua capacidade de
fazer o bem torna-se ilimitada. Nada a detém quando se trata de demonstrar,
com gestos concretos, o amor ao semelhante. O amor que traz dentro de si
permite-lhe expressar, de maneira criativa, sua solidariedade. Tudo, em sua
vida, torna-se novo, pois o Espírito não lhe permite cair na rotina e na
inatividade, características de quem perdeu a razão de viver.
A ressurreição de Jesus é
um convite a nascer de novo. O Ressuscitado é quem nos concede o Espírito
necessário para este renascer.
Oração
Espírito de renovação, que o nascimento pelo Espírito faça-me superar tudo o
que é velho dentro de mim, e experimentar a liberdade de servir
|
II
SEMANA DA PÁSCOA
(BRANCO – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da
entrada: Senhor, eu vos louvarei entre os povos,
anunciarei vosso nome aos meus irmãos, aleluia! (Sl 17,50;21,23)
Leitura (Atos
5,17-26)
Leitura dos Atos dos
Apóstolos.
5 17 Levantaram-se então
os sumos sacerdotes e seus partidários (isto é, a seita dos saduceus) cheios
de inveja,
18 e deitaram as mãos nos apóstolos e meteram-nos na cadeia
pública.
19 Mas um anjo do Senhor abriu de noite as portas do cárcere e,
conduzindo-os para fora, disse-lhes:
20 "Ide e apresentai-vos no templo e pregai ao povo as palavras
desta vida".
21 Obedecendo a essa ordem, eles entraram ao amanhecer, no templo, e
puseram-se a ensinar. Enquanto isso, o sumo sacerdote e os seus partidários
reuniram-se e convocaram o Grande Conselho e todos os anciãos de Israel, e
mandaram trazer os apóstolos do cárcere.
22 Dirigiram-se para lá os guardas, mas ao abrirem o cárcere, não os
encontraram, e voltaram a informar:
23 "Achamos o cárcere fechado com toda segurança e os guardas de pé
diante das portas, e, no entanto, abrindo-as, não achamos ninguém lá
dentro".
24 A essa notícia, os sumos sacerdotes e o chefe do templo ficaram
perplexos e indagaram entre si sobre o que significava isso.
25 Mas, nesse momento, alguém transmitiu-lhes esta notícia:
"Aqueles homens que metestes no cárcere estão no templo ensinando o
povo!"
26 Foi então o comandante do templo com seus guardas e trouxe-os sem
violência, porque temiam ser apedrejados pelo povo.
Salmo responsorial
33/34
Este infeliz
gritou a Deus e foi ouvido.
Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo,
seu louvor estará sempre em minha boca.
Minha alma se gloria no Senhor;
que ouçam os humildes e se alegrem!
Comigo engrandecei ao Senhor Deus,
exaltemos todos juntos o seu nome!
Todas as vezes que o busquei, ele me ouviu
e de todos os temores me livrou.
Contemplai a sua face e alegrai-vos,
e vosso rosto não se cubra de vergonha!
Este infeliz gritou a Deus e foi ouvido,
e o Senhor o libertou de toda angústia.
O anjo do Senhor vem acampar
ao redor dos que o temem e os salva.
Provai e vede quão suave é o Senhor!
Feliz o homem que tem nele o seu refúgio!
Aclamação do
Evangelho
Aleluia, aleluia,
aleluia.
Deus o mundo tanto amou, que lhe deu
seu próprio Filho, para que todo o que nele crer encontre vida eterna
(Jo3,16).
Evangelho (João 3,16-21)
3 16 Com efeito, de tal modo
Deus amou o mundo, que lhe deu seu Filho único, para que todo o que nele crer
não pereça, mas tenha a vida eterna.
17 Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o
mundo seja salvo por ele.
18 Quem nele crê não é condenado, mas quem não crê já está condenado;
por que não crê no nome do Filho único de Deus.
19 Ora, este é o julgamento: a luz veio ao mundo, mas os homens amaram
mais as trevas do que a luz, pois as suas obras eram más.
20 Porquanto todo aquele que faz o mal odeia a luz e não vem para a luz,
para que as suas obras não sejam reprovadas.
21 Mas aquele que pratica a verdade, vem para a luz. Torna-se assim
claro que as suas obras são feitas em Deus.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. A catequese de
Jesus
Todo capítulo 3 de São João relata a conversa entre Jesus e Nicodemos, um
catequizando, que como já vimos ontem, estava a procura de algo mais, e que
pelo jeito decidiu-se por Jesus porque aceitou aprofundar seus conhecimentos
e o desafio de ouvir ensinamentos sobre outra realidades celestiais, que
requerem a abertura da Fé. Vejamos a aula de hoje...
Primeira coisa que Jesus lhe
explica: Deus não está bravo com o mundo e nem premeditando alguma vingança
contra os maus, expectativa que havia no judaísmo, e que fora inclusive
anunciada nas pregações rigorosas de João Batista, Deus ama a humanidade e
por isso lhe dá seu único Filho Jesus.
Segundo ponto da aula de catequese,
com o melhor de todos os mestres: a Fé em Jesus Cristo dá ao
fiel uma nova e inédita expectativa, a Vida Eterna, que de um modo geral não
era crença dos Judeus que ainda acreditavam na bênção prometida a Abraão, e
que seriam dadas nesta vida terrena: descendência numerosa e terra prometida.
A catequese de Jesus muda o foco, agora o horizonte é outro, e o que há além
desse horizonte é uma Pátria celestial, que é oferecido ao homem não por
algum líder como Moisés, mas pelo, próprio Filho de Deus, bastando Nele Crer.
Nicodemos aprende que o Deus da Aliança – Pai de Jesus, não aquele Deus que
condena e que pune, mas é o Deus que Ama e quer salvar a todos, não só ao seu
povo de Israel.
Terceiro e último ponto dessa
maravilhosa aula de catequese noturna, exclusiva para o nosso Nicodemos: O
homem que crê nesta nova realidade de uma Vida que vai além da morte, já a
tem em si e se compromete com ela, vivendo esta nova dinâmica na qual é
inserido pela Graça oferecida por Jesus, sendo algo que ainda se espera na
sua plenitude, mas ao mesmo tempo algo que já chegou em Jesus Cristo. Portanto,
em Cristo a Luz Divina tornou-se acessível ao homem, mediante a Fé.
Se a nossa catequese cristã não
conduzir o catequizando á experimentar essa nova realidade Celestial, oferecida
concretamente em Jesus
Cristo, continuaremos a ver entristecidos nossos
adolescentes comemorando com entusiasmo o Dia da Crisma, porque a partir de
então não precisarão mais vir á Igreja...
2. A vida eterna nos é
dada pela fé em Jesus
Cristo
Como continuação do diálogo com
Nicodemos, o texto nos dá uma interpretação excepcional de todo o mistério da
encarnação e da redenção: é por amor que Deus enviou o seu Filho único ao
mundo (cf. v. 16a). E a finalidade de sua vinda é a oferta da vida eterna para
os que creem nele (v. 16b; ver também: 1Jo 4,9). O final do quarto evangelho
é um locus theologicum: “… estes (sinais) foram escritos para crerdes que
Jesus é o Filho de Deus e para que, crendo, tenhais a vida eterna em seu
nome” (20,31).
A vida eterna é dada pela fé em Jesus Cristo. A
vida eterna é comunhão de vida com o Pai e o Filho. No capítulo 17 esta
explicação é dita nestes termos: “A vida eterna é esta: que conheçam a ti, o
Deus único e verdadeiro, e aquele que enviaste, Jesus Cristo” (17,3). O dom
do amor, da vida eterna, da salvação, precisa ser recebido como tal. Não crer
é ato da liberdade do ser humano e possibilidade de fechar-se ao dom
gratuitamente oferecido por Deus à nossa humanidade.
ORAÇÃO
Pai, instrui-me, por teu Espírito, a respeito da pessoa e da missão de Jesus,
e leva-me a aderir ao teu Filho, sempre com maior radicalidade.
3. O FILHO
SALVADOR
Jesus Cristo veio ao mundo para
trazer salvação à humanidade mergulhada no pecado, e incapaz de ver-se livre
desta trágica situação. De nada adiantaria submetê-la ao julgamento e à
condenação. Já a persistência no pecado não dava margens para dúvidas: o
relacionamento com Deus estava rompido. Era necessário alguém para ajudá-la a
por fim a esta inimizade antiga com o Criador. E nisto consistiu a missão de
Jesus!
O caminho da salvação passa pela fé
no Salvador. Crer, neste caso, não se limita a confessar, com os lábios, que
Jesus salva, mas requer, também, que assimilemos o seu modo de ser. Ou seja,
a total submissão à vontade de Deus, expressa na vivência no amor entranhado
ao próximo, sem jamais deixar-se levar pelo egoísmo. Como na vida de Jesus o
Reino de Deus foi o objetivo absoluto, o mesmo deve ser para todos os
cristãos. O Reino deverá pautar todas as suas ações.
A salvação de Jesus apresenta-se
como uma proposta, a qual pode ser acolhida ou recusada. Jesus mesmo
experimentou a rejeição sistemática por parte dos seus contemporâneos, embora
muitos se tornassem discípulos dele, e acolhessem com fé suas palavras. A
atitude hostil de muitos não intimidou o Mestre. Ele continuou a ser a luz,
apontando, para toda a humanidade, o caminho da salvação.
Oração
Espírito de Deus, conduze-me a uma fé sempre mais entranhada a Jesus, que
veio para nos trazer luz e salvação.
|
II
SEMANA DA PÁSCOA *
(BRANCO – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da
entrada: Ó Deus, quando saístes à frente do vosso povo,
abrindo-lhe o caminho e habitando entre eles, a terra estremeceu, fundiram-se
os céus, aleluia! (Sl 67,8s.20)
Leitura (Atos
5,27-33)
Leitura dos Atos dos
Apóstolos.
Naqueles
dias, 5 27 trouxeram-nos e os introduziram no Grande Conselho,
onde o sumo sacerdote os interrogou, dizendo:
28 "Expressamente vos ordenamos que não ensinásseis nesse nome. Não
obstante isso, tendes enchido Jerusalém de vossa doutrina! Quereis fazer
recair sobre nós o sangue deste homem!"
29 Pedro e os apóstolos replicaram: "Importa obedecer antes a Deus
do que aos homens.
30 O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, que vós matastes,
suspendendo-o num madeiro.
31 Deus elevou-o pela mão direita como Príncipe e Salvador, a fim de dar
a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados.
32 Deste fato nós somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus
deu a todos aqueles que lhe obedecem".
33 Ao ouvirem essas palavras, enfureceram-se e resolveram matá-los.
Salmo responsorial
33/34
Este infeliz
gritou a Deus e foi ouvido.
Bendirei o Senhor Deus em todo o tempo,
seu louvor estará sempre em minha boca.
Provai e vede quão suave é o Senhor!
Feliz o homem que tem nele o seu refúgio!
Ma ele volta a sua face contra os maus
para da terra apagar sua lembrança.
Clamam os justos, e o Senhor bondoso escuta
e de todas as angústias os liberta.
Do coração atribulado ele está perto
e conforta os de espírito abatido.
Muitos males se abatem sobre os justos,
mas o Senhor de todos eles os liberta.
Aclamação do
Evangelho
Aleluia, aleluia,
aleluia.
Acreditaste, Tomé, porque me viste.
Felizes os que crêem sem ter visto (Jo 20,29).
EVANGELHO (João 3,31-36)
3 31 "Aquele que vem de cima é
superior a todos. Aquele que vem da terra é terreno e fala de coisas
terrenas. Aquele que vem do céu é superior a todos.
32 Ele testemunha as coisas que viu e ouviu, mas ninguém recebe o seu
testemunho.
33 Aquele que recebe o seu testemunho confirma que Deus é verdadeiro.
34 Com efeito, aquele que Deus enviou fala a linguagem de Deus, porque
ele concede o Espírito sem medidas.
35 O Pai ama o Filho e confiou-lhe todas as coisas.
36 Aquele que crê no Filho tem a vida eterna; quem não crê no Filho não
verá a vida, mas sobre ele pesa a ira de Deus".
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. Quem é mais?
Nos versículos finais do capítulo 3
de São João, está o relato de uma polêmica envolvendo as comunidades
Joaninas. É quase que a única passagem no Novo Testamento, onde é mencionado
que Jesus Batizava na Judéia enquanto que João Batista batizava em Enon.
Como acontece ainda hoje, a
Comunidade Joanina sentiu ciúmes e inveja porque alguém estava fazendo o
mesmo que o seu mestre João, e logo começaram as discussões sobre a questão
da purificação, a ponto dos discípulos de João irem “denunciar” o outro
“Batista”que já estava ficando mais famoso que o próprio João.
Essa “rixa” entre as comunidades
cristãs tradicionais, e as Joaninas, sempre houve e parece que o autor do
quarto evangelho, pretendeu, com essa passagem encerrar essa discussão inútil
e descabida, sobre quem era superior: Jesus de Nazaré ou João Batista.
E a conclusão final está no
evangelho de hoje 3, 31-46 onde somente om primeiro versículo já pôs fim ao
debate “Aquele que vem de cima, aquele que vem do Céu é superior a todos. E
aqui voltamos lá no início da aula de catequese que Jesus deu a Nicodemos:
“Se tenho vos falado de coisas terrenas e não acreditais, como podereis
acreditar se eu vos falar de coisas Celestiais?”.
O fato é que, essa polêmica das
comunidades Joaninas, conclui de maneira esplendorosa a aula de catequese de
Jesus, que saindo da sala de catequese, foi para a prática. Céu, palavra
largamente empregada por João, designa lugar de Deus, ora, se Jesus veio do
Céu, e dá testemunho das realidades celestes, então ele é Deus!
Não há portanto, ao homem, nenhuma
outra alternativa para desfrutar da amizade e do Amor que Deus oferece, que
não seja a Fé em Jesus
Cristo, Ele e comente Ele, nos dá a Vida Eterna, que no
mesmo evangelho de João, é chamada de Vida Plena, porque supõe o homem na sua
totalidade e não apenas o Espírito como imaginavam os gregos influenciados
pelo Ganostecismo, para os quais o corpo é a prisão da Alma. A graça é
Vivificante, inclusive para o corpo, por isso é Eterna e não sucumbe na morte
biológica.
2. O sopro de
Deus
O discurso precedente é
interrompido pela notícia do batismo de João e o de Jesus (vv. 22-30). Os
versículos 31 a
36 são a retomada do discurso motivado pela visita, à noite, de Nicodemos, um
notável entre os judeus. Aquele que vem do Alto tem não somente sua origem em
Deus, mas é movido pelo “sopro” de Deus (cf. v. 6). O Espírito Santo, o sopro
de Deus, é que faz contemplar e escutar o que é celeste. Como todo enviado,
ele traz a marca, o selo, de quem o enviou. Sua mensagem é uma palavra
apropriada, uma vez que ele fala do que viu e ouviu (cf. v. 32).
É Deus que fala por meio dele; sua
palavra é de Deus. O testemunho do Filho único de Deus está enraizado nesse
dinamismo. Acolher o seu testemunho é fazer a experiência de que Deus é
verdadeiro. Jesus é quem, pelo seu testemunho, pela sua vida, revela o Pai. A
fé no Filho, que vive em comunhão com o Pai, dá a vida eterna. Não é mais a
Lei que dá a vida (cf. Dt 30,15-18), mas a fé no Filho.
ORAÇÃO
Pai, faze-me dócil e acolhedor diante do testemunho de Jesus que nos revela a
tua Palavra, empenhando-me a levar cada ser humano a entrar em profunda comunhão
contigo.
3. JESUS E SUA
MISSÃO
O diálogo com Nicodemos constituiu
uma oportunidade para Jesus explicitar sua origem e missão. Ele veio do alto,
do Pai. Portanto, seu horizonte existencial superava os limites da história
humana e lançava raízes no próprio Deus. Foi assim que Jesus declarou sua
divindade. Sua origem celeste e sua superioridade em relação a todos fazia-o
tão próximo de Deus a ponto de revesti-lo dos atributos próprios da
divindade.
Sua missão consistiu em dar
testemunho do que aprendeu junto do Pai. Neste, suas palavras tinham sua
origem. E seu testemunho era rigorosamente verdadeiro. Não aceitá-lo
corresponderia a rebelar-se contra o próprio Deus. Afinal, Jesus recebera do
Pai um mandato específico. Rejeitá-lo significaria rejeitar quem o enviou.
Toda a vida de Jesus teve como pano
de fundo o amor que o Pai lhe dedicou. E este amor foi tão intenso que o Pai
não hesitou em colocar nas mãos do Filho, inclusive o poder de julgar a vida
de quem se negar a crer nele.
A contemplação do Ressuscitado
coloca-nos diante de uma opção intransferível: aceitar, como veraz, o testemunho
de Jesus e, com isso, obter a salvação; ou rejeitá-lo, e ser fadado à
condenação eterna. Quem é prudente, opta pela salvação.
Oração
Espírito de decisão, leva-me sempre a escolher o caminho da fé e da salvação,
indicados pelo Filho, como o único capaz de me levar à reconciliação com o
Pai.
|
II
SEMANA DA PÁSCOA
(BRANCO – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da
entrada: Vós nos resgatastes, Senhor, pelo vosso
sangue, de todas as raças, línguas, povos e nações e fizestes de nós um reino
e sacerdotes para o nosso Deus, aleluia! (Ap 5,9s)
Leitura (Atos
5,34-42)
Leitura dos Atos dos Apóstolos.
Naqueles
dias, 34 levantou-se, porém, um membro do Grande Conselho. Era
Gamaliel, um fariseu, doutor da lei, respeitado por todo o povo.
35 Mandou que se retirassem aqueles homens por um momento, e então lhes
disse: "Homens de Israel, considerai bem o que ides fazer com estes
homens.
36 Faz algum tempo apareceu um certo Teudas, que se considerava um
grande homem. A ele se associaram cerca de quatrocentos homens: foi morto e
todos os seus partidários foram dispersados e reduzidos a nada.
37 Depois deste, levantou-se Judas, o galileu, nos dias do
recenseamento, e arrastou o povo consigo, mas também ele pereceu e todos
quantos o seguiam foram dispersados.
38 Agora, pois, eu vos aconselho: não vos metais com estes homens.
Deixai-os! Se o seu projeto ou a sua obra provém de homens, por si mesma se
destruirá;
39 mas se provier de Deus, não podereis desfazê-la. Vós vos arriscaríeis
a entrar em luta contra o próprio Deus". Aceitaram o seu conselho.
40 Chamaram os apóstolos e mandaram açoitá-los. Ordenaram-lhes então que
não pregassem mais em nome de Jesus, e os soltaram.
41 Eles saíram da sala do Grande Conselho, cheios de alegria, por terem
sido achados dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus.
42 E todos os dias não cessavam de ensinar e de pregar o Evangelho de
Jesus Cristo no templo e pelas casas.
Salmo responsorial
26/27
Ao Senhor eu peço
apenas uma coisa:
habitar no santuário do Senhor.
O Senhor é minha luz e salvação;
de quem eu terei medo?
O Senhor é a proteção da minha vida;
perante quem eu tremerei?
Ao Senhor eu peço apenas uma coisa
e é só isto que eu desejo:
habitar no santuário do Senhor
por toda a minha vida;
saborear a suavidade do Senhor
e contemplá-lo no seu templo.
Sei que a bondade do Senhor eu hei de ver
na terra dos viventes.
Espera no Senhor e tem coragem,
espera no Senhor!
Aclamação do
Evangelho
Aleluia, aleluia,
aleluia.
O homem não vive somente de pão, mas de
toda palavra da boca de Deus (Mt 4,4)
EVANGELHO (João 6,1-15)
6 1 Depois disso, atravessou
Jesus o lago da Galiléia (que é o de Tiberíades.)
2 Seguia-o uma grande multidão, porque via os milagres que fazia em
beneficio dos enfermos.
3 Jesus subiu a um monte e ali se sentou com seus discípulos.
4 Aproximava-se a Páscoa, festa dos judeus.
5 Jesus levantou os olhos sobre aquela grande multidão que vinha ter com
ele e disse a Filipe: "Onde compraremos pão para que todos estes tenham
o que comer?"
6 Falava assim para o experimentar, pois bem sabia o que havia de
fazer.
7 Filipe respondeu-lhe: "Duzentos denários de pão não lhes bastam,
para que cada um receba um pedaço".
8 Um dos seus discípulos, chamado André, irmão de Simão Pedro,
disse-lhe:
9 "Está aqui um menino que tem cinco pães de cevada e dois peixes.
Mas que é isto para tanta gente?"
10 Disse Jesus: "Fazei-os assentar". Ora, havia naquele lugar
muita relva. Sentaram-se aqueles homens em número de uns cinco mil.
11 Jesus tomou os pães e rendeu graças. Em seguida, distribuiu-os às
pessoas que estavam sentadas, e igualmente dos peixes lhes deu quanto
queriam.
12 Estando eles saciados, disse aos discípulos: "Recolhei os
pedaços que sobraram, para que nada se perca".
13 Eles os recolheram e, dos pedaços dos cinco pães de cevada que
sobraram, encheram doze cestos.
14 À vista desse milagre de Jesus, aquela gente dizia: "Este é
verdadeiramente o profeta que há de vir ao mundo".
15 Jesus, percebendo que queriam arrebatá-lo e fazê-lo rei, tornou a
retirar-se sozinho para o monte.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. JESUS, O
PÃO DOS POBRES
Convoquei meu grupo de “teólogos”
para refletir esse evangelho da multiplicação dos pães, pois com o
evangelista João, todo cuidado é pouco, já que o seu escrito é rebuscado e
nem sempre o ensinamento é o que parece.. O “Mota”, que é aposentado na área
administrativa e auxilia a nossa secretaria, abriu um enorme sorriso quando
viu o texto “Está na cara que Jesus faz uma dura crítica ao capitalismo, é
preciso repartir o pouco que se tem, para matar a fome de todos, sempre soube
que esse Jesus é dos nossos....” concluiu Mota, que defende de unhas e dentes
o socialismo, e briga quando se fala sobre a CEBs. Neste momento, o João
Ernesto que trabalha de encarregado em uma grande empresa, balançou a cabeça
e respondeu “Olhe, se for prá discutir nessa visão, eu desisto, o Mota pensa
que só ele sabe de tudo”.
Calma pessoal...- Intervi -
Não vamos censurar o Mota, pois esse evangelho realmente nos faz a
olhar questão da fome, e se não tocarmos nesse ponto, estaremos sendo omissos
- comentei, tentando apaziguar os ânimos dos debatedores que começaram
bastante exaltados.
Em uma visão bem simples, parece
que o evangelho ensina que Jesus estando por perto, ninguém vai passar fome.
“Ué, mas não é isso? Tinha só cinco pães e dois peixes, não ia dar nem pro
cheiro, daí Jesus deu a bênção e mandou servir, todos comeram a vontade e
ainda sobrou...” – exclamou Maneco, ao que Dona Maria, a doméstica, aparteou
“Gente, isso me lembra um ditado popular, o pouco com Deus é muito, mas o
muito sem Deus é nada”.
“Vocês ficam brabos quando eu falo
em CEBs, mas é um trabalho onde se valoriza muito a partilha e a comunhão de
vida, exatamente como Jesus ensinou.” – retrucou Mota com mais calma, sem
intenção de disparar farpas.
“Eu sei Mota, todos aqui sabem
disso, mas é que você fala como se a CEBs representasse a salvação do mundo,
e isso não é verdade” respondeu Roseli, nossa catequista, que continuou “A
CEBs é uma eclesiologia, uma maneira de ver as coisas, mas não é a única, no
cristianismo existe uma essência que é o eixo de tudo, perguntemos, por
exemplo, qual a missão de Jesus entre nós, será que foi para resolver o
problema da fome que ele veio? E se foi, por que não resolveu?”
Roseli é muito inteligente e sabe como provocar o grupo, um rei que tivesse o
poder de multiplicar os alimentos e saciar a fome de uma multidão, estava de
bom tamanho para aquele povo, aliás, no final do evangelho é exatamente isso
que quiseram fazer, mas Jesus “pulou fora”. A Salvação que ele oferece não se
restringe a deixar o homem com a “barriga cheia”, saciado da fome material. É
muito mais que isso!
“Mas a vida plena que ele veio nos
dar, como diz em João, supõe o homem em sua totalidade, inclusive com suas
necessidades vitais onde a fome é uma delas” - argumentou Mota. “Está certo,
mas temos outras necessidades que não se encontram por aí em supermercados,
como os alimentos.”. - retrucou Roseli.
“Esse João é um danado, escreveu
uma coisa, mas no fundo está querendo dizer outra” – comentou o Maneco em sua
simplicidade, acertando na “mosca”. Os milagres narrados por João são “iscas”
para nos convencer de algo que está por trás de cada um deles.
O homem sempre terá necessidade de
algo que lhe é essencial, e que somente Jesus de Nazaré poderá lhe oferecer.
Todos os problemas humanos, conseqüentes do pecado, poderão de fato ser
resolvidos, se o homem se dispuser a receber a Salvação que Jesus oferece,
então é exatamente nesse sentido que está o ensinamento da multiplicação dos
pães e peixes, Jesus apresenta o problema, Filipe alega que não têm recursos
para resolvê-lo, o irmão de Simão Pedro diz que há um recurso, mas que ele é
insuficiente em relação as necessidades da multidão. Na vida em comunidade
acabamos sendo influenciados pela sociedade consumista que se move a partir
do valor econômico, onde sempre é preciso ter “muito” para poder ser feliz,
se esse conceito fosse verdadeiro, apenas uma minoria da população,
considerada rica, seria feliz, mas sabemos que ao contrário, há pessoas
pobres, muito felizes com a v ida que têm, enquanto por outro lado, há ricos
infelizes, que as vezes recorrem até ao suicídio, insatisfeitos com o que são
e têm. Isso mostra o quanto tal premissa é enganosa e falsa.
O acúmulo de bens financeiros e
patrimoniais nas mãos de poucos, é no fundo uma tremenda ilusão, primeiro
porque alimentam a mentira de que, com o dinheiro e a riqueza a gente tem
tudo, e em segundo, porque da noite para o dia toda essa fortuna pode ir água
abaixo se mal administrada, basta ver os grandes impérios econômicos que
ruíram, e no demais, no final da vida, o rico irá descobrir que a morte o
espera, para separá-lo eternamente de todos os seus bens, daí toda a sua
riqueza de nada valerá.
Já os que são saciados pelo amor de
Deus, manifestado na salvação que Jesus traz, podem esperar muito mais, os
doze cestos que sobraram prenunciam a vida plena do novo povo de Deus, que se
tornará perene -no exato momento em que, ao término da existência terrena,
tudo parece ser um trágico fim. Sou então obrigado a concordar com a Dona
Maria, que nos dizia lá no início da reflexão “O pouco com Deus é muito, e
ainda sobra para a vida nova que Jesus nos deu, mas o “muito” que esta vida
nos oferece, é nada, se a humanidade teimar em menosprezar a Salvação, da
qual somente Jesus, o Filho de Deus, é portador.
2. A multidão segue
Jesus por causa dos sinais em favor dos doentes
O relato da multiplicação dos pães,
nós o encontramos também na tradição sinótica (Mt 14,13-21; Mc 6,30-44; Lc
9,10-17). A multidão segue Jesus por causa dos sinais que ele realizava em
favor dos doentes. O sinal, por sua própria natureza, é ambíguo; precisa sempre
ser interpretado, pois remete a outra realidade, diferente daquela
imediatamente percebida. Jesus denunciará a cegueira da multidão e o equívoco
a que está imersa: “… vós me procurais não por terdes visto sinais, mas
porque comestes pão e vos saciastes” (v. 26).
ORAÇÃO
Pai, que a Páscoa de Jesus renove em mim a consciência de pertencer a teu
povo, cuja existência deve se pautar pela caridade e pela partilha solidária.
3. O VERDADEIRO
PROFETA
A multiplicação dos pães levou a
multidão a considerar Jesus como o verdadeiro profeta, aquele que todos
esperavam, desde longa data. O fato de ter alimentado uma imensa multidão,
contando apenas com cinco pães de cevada e dois peixes, revelou-se como sinal
inequívoco da messianidade de Jesus. Daí o desejo do povo de fazê-lo rei, na
esperança de que todos os seus problemas fossem resolvidos da mesma forma
eficiente e rápida, que acabavam de presenciar. Foi grande a expectativa
criada em torno dele.
Todavia, Jesus não se deixou levar
por tal raciocínio demasiado pragmático. O povo não havia entendido o sentido
do milagre, uma vez que o consideravam apenas sob o aspecto material de
superação da fome pela abundância de pão. O objetivo visado por Jesus era bem
outro: ensinar a todos que a partilha fraterna é um sinal irrefutável da
presença do Reino, acontecendo na história humana. Por outras palavras: a
partilha é um imperativo na vida de quem aderiu ao Reino, fazendo dele o
centro de sua vida. Ou seja, o milagre dependeu da postura interna de cada
pessoa, e não somente da iniciativa de Jesus.
O Mestre é o verdadeiro
profeta não porque multiplicou os pães de forma prodigiosa, à revelia das
pessoas, e sim, porque abriu o coração humano para o amor, muito bem expresso
na partilha dos bens.
Oração
Espírito de partilha, arranca do meu coração toda tentação egoísta de
usufruir sozinho os bens deste mundo, sensibilizando-me para a pobreza dos
meus irmãos.
|
II
SEMANA DA PÁSCOA *
(BRANCO – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da
entrada: Povo resgatado por Deus, proclamai suas maravilhas: ele vos
chamou das trevas á sua luz admirável, aleluia! (1Pd 2,9).
Leitura (Atos
6,1-7)
Leitura do livro dos Atos dos
Apóstolos.
6 1 Naqueles dias, como
crescesse o número dos discípulos, houve queixas dos gregos contra os
hebreus, porque as suas viúvas teriam sido negligenciadas na distribuição
diária.
2 Por isso, os Doze convocaram uma reunião dos discípulos e disseram:
"Não é razoável que abandonemos a palavra de Deus, para
administrar.
3 Portanto, irmãos, escolhei dentre vós sete homens de boa reputação,
cheios do Espírito Santo e de sabedoria, aos quais encarregaremos este
ofício.
4 Nós atenderemos sem cessar à oração e ao ministério da
palavra".
5 Este parecer agradou a toda a reunião. Escolheram Estêvão, homem cheio
de fé e do Espírito Santo; Filipe, Prócoro, Nicanor, Timão, Pármenas e
Nicolau, prosélito de Antioquia.
6 Apresentaram-nos aos apóstolos, e estes, orando, impuseram-lhes as
mãos.
7 Divulgou-se sempre mais a palavra de Deus. Multiplicava-se
consideravelmente o número dos discípulos em Jerusalém. Também
grande número de sacerdotes aderia à fé.
Salmo responsorial
32/33
Sobre nós, Senhor,
a vossa graça,
da mesma forma que em vós nós
esperamos!
Ó justos, alegrai-vos no Senhor!
Aos retos fica bem glorificá-lo.
Daí graças ao Senhor ao som da harpa,
na lira de dez cordas celebrai-o!
Pois reta é a palavra do Senhor,
e tudo o que ele faz merece fé.
Deus ama o direito e a justiça,
transborda em toda a terra a sua graça.
O Senhor pousa o olhar sobre os que o temem
e que confiam, esperando em seu amor,
para da morte libertar as suas vidas
e alimentá-los quando é tempo de penúria.
Aclamação do
Evangelho
Aleluia, aleluia,
aleluia.
Ressurgiu Cristo, o Senhor, que criou
tudo; ele teve compaixão da humanidade.
Evangelho (João 6,16-21)
6 16 Chegada a tarde, os seus
discípulos desceram à margem do lago.
17 Subindo a uma barca, atravessaram o lago rumo a Cafarnaum. Era já
escuro, e Jesus ainda não se tinha reunido a eles.
18 O mar, entretanto, se agitava, porque soprava um vento rijo.
19 Tendo eles remado uns vinte e cinco ou trinta estádios, viram Jesus
que se aproximava da barca, andando sobre as águas, e ficaram
atemorizados.
20 Mas ele lhes disse: "Sou eu, não temais".
21 Quiseram recebê-lo na barca, mas pouco depois a barca chegou ao seu
destino.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. Coragem,
Não Temais!
O evangelho tem como contexto a
situação das comunidades no primeiro século do cristianismo e que refletem
também os primeiros tempos dos discípulos após a ascensão do Senhor. O medo e
a insegurança deles era por causa do acontecimento que desencadeou toda
aquela caminhada, a vida de Jesus de Nazaré, seus ensinamentos, suas obras
prodigiosas, mas que no final resultaram em fracasso com a morte na cruz. Se
antes, caminhando com ele, a história acabou tão mal, agora o risco de um
novo fracasso era ainda maior pois Jesus não estava mais com eles...
Os cristãos do primeiro século
olhavam á sua volta e não viam nenhuma perspectiva de que o cristianismo
fosse dar certo, de um lado o Império Romano, a cultura grega que exaltava o
conhecimento, de outro o Judaísmo e suas raízes. Que futuro teria a
comunidade dos seguidores de Jesus de Nazaré?
Hoje se sabe que o cristianismo
está entre as maiores religiões do mundo, mas a sociedade não reflete essa
realidade, ao contrário, parece que tudo contraria o evangelho e os cristãos
vêem as forças dom mal se fazerem presentes até nas comunidades. Divisões,
discórdias, escândalos, cristãos que desistem de viver a Fé e fracassam em
sua caminhada. A impressão é que as forças do mal imperam na humanidade e
querem engolir a Igreja.
O que pode um frágil barquinho a
mercê de ventos fortes e ondas gigantes? O que pode a Igreja de Cristo fazer
para mudar os rumos da humanidade? O Evangelho terá poder e força suficiente
para reverter esse quadro de tenebrosa escuridão que nossos olhos contemplam?
São inquietações que afligem o
coração de todos os discípulos. Entretanto, quando parece que a barca vai a
deriva, os homens e mulheres de Fé vislumbram, nos momentos mais críticos,
algo que supera todo mal, Jesus acompanha a barca, e tem sob os pés as Forças
do Mal, isso é, há bem lá na frente um porto seguro onde a Barca vai chegar.
Quando pensamos nessa realidade nova, perceptível á luz da Fé, sentimos medo
mais o Senhor nos tranqüiliza "Coragem, sou eu, não temais".
Jesus é o Senhor da História, não é
alguém que influenciou a história no passado e que agora deve ser sempre
lembrado por seu exemplo, como fazemos com nossos homens ilustres, Jesus está
vivo, está vivendo com a Igreja cada momento de sua história, está atento e
atuante nas comunidades cristãs, aponta novos rumos e direção a ser seguido,
para se chegar à outra margem...
E as comunidades de João, com sua
Fé e testemunho de Vida, passou incólume pelas Forças Tenebrosas do Mal e
chegou até nós, com o mesmo evangelho, o mesmo anúncio. Essa é a prova
inequívoca da presença de Jesus em nossa Igreja, são dois milênios de caminhada. O
mar não é sereno, nem nunca será, mas as ondas revoltas e a ventania nada
pode contra a Igreja, porque Jesus navega conosco...
2. Manifestação da
divindade de Jesus
Com algumas variantes, o relato
também é comum aos evangelhos sinóticos (Mt 14,22-34; Mc 6,45-51; Lc
8,22-25). À exceção de Lucas, nos outros dois sinóticos, como em João, o
episódio de Jesus caminhando sobre o mar também segue o relato da
multiplicação dos pães. Os elementos simbólicos presentes no texto são o meio
de transmitir a mensagem. No universo simbólico, mar e noite apontam para a
realidade da morte. O mar, na verdade um lago duzentos metros abaixo do nível
do mar, era agitado pelo vento, que formava ondas. Jesus ainda não estava com
eles; Jesus é visto por eles caminhando sobre as águas.
Em Jó 9,8, nós lemos: “... ele
sozinho estende o céu e caminha sobre o dorso das águas”. Jesus manifesta seu
poder divino caminhando sobre as águas. Ele, que é a luz do mundo (Jo 8,12),
ilumina a vida dos discípulos, para arrancá-los do medo que imobiliza e
distorce a visão: “Sou eu. Não tenhais medo” (6,20). A afirmação de Jesus nos
remete ao livro do Êxodo 3,14: “Assim dirás aos israelitas: ‘Eu sou’ me
enviou a vós”. O relato pode ser caracterizado como sendo uma epifania em que
é revelada a divindade de Jesus.
ORAÇÃO
Pai, em meio às tempestades, faze-me compreender que o Ressuscitado caminha
comigo, incentivando-me a não temer e a permanecer firme no rumo traçado por
ele.
3. RECONHECENDO O
SENHOR
O processo de reconhecimento de
Jesus Ressuscitado foi acontecendo em meio a fadigas e dificuldades que a
comunidade encontrava em seu caminho de fé. Ao professar a fé no
Ressuscitado, os cristãos viam-se questionados de várias formas. O fato mesmo
de fazer a salvação depender de quem fora crucificado deixara-os em crise.
Segundo a mentalidade da época,
quem morria na cruz, era tido como um amaldiçoado por Deus. Com Jesus teria
sido diferente? Ou será que, de fato, Deus o resgatara da morte,
restituindo-lhe a vida, de modo a estar sempre junto dos seus? Essas e outras
dúvidas persistiam na comunidade de fé, exigindo uma resposta.
A experiência no lago, por ocasião
de uma travessia, revela a situação da comunidade. A escuridão da noite, a
força do vento e a agitação do mar impediam os discípulos de perceber Jesus
se aproximando. Sua figura perdia-se na nebulosidade. Os discípulos tiveram
certa dificuldade para superar a situação. Por sua vez, o Mestre os exortou a
não temer, pois ele mesmo estava ali, junto deles. "Sou eu; não tenham
medo!"- assegurou-lhes, chamando-os à realidade. A certeza desta
presença descortinou-lhes um novo horizonte de segurança e de tranqüilidade.
A comunidade de fé reconhece o
Ressuscitado, em meio às adversidades da vida. Importa não se deixar abater,
pois ele está no meio de nós.
Oração
Espírito de lucidez dissipa as trevas que me impedem de reconhecer a presença
do Ressuscitado, junto de mim e da comunidade.
|
Liturgia do Domingo 14.04.2013
3 º Domingo de Páscoa — ANO C
(BRANCO, GLÓRIA, CREIO – III SEMANA DO SALTÉRIO)
__ "Simão, filho de João, você me ama?" __
Ambientação:
Sejam bem-vindos
amados irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO
FOLHETO DOMINICAL PULSANDINHO: Neste terceiro domingo de Páscoa, a Igreja
nos ensina a ter confiança. A morte de cruz encerrou o ministério terreno de
Jesus. Ao exclamar: "Tudo está consumado!", ele proclamou ter
levado a termo a missão recebida do Pai. Todavia, restava muito a ser feito.
O Evangelho deveria ser anunciado a todos os povos, e a salvação chegar até
os confins da terra. A sementinha do Reino não podia ficar infrutífera, mas
era preciso fazê-la desabrochar para tornar-se árvore frondosa. A missão,
agora, seria tarefa dos discípulos. Seguindo o exemplo dos apóstolos, todos
nós somos chamados a pregar o nome de Cristo sem medo, mesmo em meio às
adversidades e perseguições do mundo. Peçamos a Deus, nesta Missa, a graça de
confiar sempre; de confiar sem medo; de confiar sem limites; lançando as
redes em nome de Cristo, com a certeza de que faremos um mundo melhor e uma
sociedade mais justa.
INTRODUÇÃO DO
FOLHETO DOMINICAL O POVO DE DEUS: Neste domingo comemoramos a aparição de
Cristo ressuscitado aos Apóstolos, no contexto em que uma pesca milagrosa
simboliza a missão que lhes foi confiada. Também nós somos convocados a
lançar as redes, a fim de atrair discípulos para Cristo. Nesse sentido,
rezemos pela juventude, que se prepara para a Jornada Mundial, de 23 a 28 de julho de 2013, no
Rio de Janeiro. O lema, justamente, é: IDE E FAZEI DISCÍPULOS ENTRE TODAS AS
NAÇÕES (Mt 28,19). Que esse apelo motive os jovens cristãos a assumir a
liderança da evangelização e repercuta em nossas comunidades, como a pescaria
em águas profundas, símbolo da profundidade da missão.
INTRODUÇÃO DO
WEBMASTER: A grande liturgia
do céu, que constitui o modelo ideal da liturgia cristã no dia de domingo, é
celebrada diante do trono de Deus e do seu Espírito por vinte e quatro
anciãos e quatro seres vivos (símbolo da humanidade e das forças cósmicas).
As primeiras aclamações dirigidas à Deus são sucessivamente atribuídas ao
Cristo que aparece como "cordeiro", vivo, mas com os sinais de sua
paixão. O coro de louvor, que inclui as criaturas espirituais do céu e todos
os seres vivos e inanimados do cosmos, reconhece ao "Cordeiro
Imolado" as próprias prerrogativas de Deus.
Sintamos em nossos
corações a alegria da Ressurreição e entoemos alegres cânticos ao Senhor!
III
DOMINGO DA PÁSCOA
Antífona da
entrada: Aclamai a Deus, toda a terra, cantai a glória de
seu nome, rendei-lhe glória e louvor, aleluia! (Sl 65,1s)
Oração do dia
Ó Deus, que o vosso povo sempre exulte pela sua renovação espiritual, para
que, tendo recuperado agora com alegria a condição de filhos de Deus, espere
com plena confiança o dia da ressurreição. Por Nosso Senhor Jesus Cristo,
Vosso Filho, na unidade do Espírito Santo.
Comentário das
Leituras: Amar é guardar o
mandamento novo, formulado pelo Mestre, por ocasião da última ceia:
"Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei!" foi a ordem dada
aos discípulos. Só quem nutre tal amor, pelos irmãos e irmãs, está em
condições de apascentar o rebanho do Ressuscitado. A missão apostólica de
pregar o mistério de Cristo é como uma pesca frutuosa. Ouçamos com atenção.
Primeira Leitura
(Atos 5,27-32.40-41)
Leitura dos Atos dos Apóstolos.
5 27 Trouxeram-nos e os
introduziram no Grande Conselho, onde o sumo sacerdote os interrogou,
dizendo:
28 “Expressamente vos ordenamos que não ensinásseis nesse nome. Não
obstante isso, tendes enchido Jerusalém de vossa doutrina! Quereis fazer
recair sobre nós o sangue deste homem!”
29 Pedro e os apóstolos replicaram: “Importa obedecer antes a Deus do
que aos homens.
30 O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, que vós matastes,
suspendendo-o num madeiro.
31 Deus elevou-o pela mão direita como Príncipe e Salvador, a fim de dar
a Israel o arrependimento e a remissão dos pecados.
32 Deste fato nós somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus
deu a todos aqueles que lhe obedecem”.
40 Chamaram os apóstolos e mandaram açoitá-los. Ordenaram-lhes então que
não pregassem mais em nome de Jesus, e os soltaram.
41 Eles saíram da sala do Grande Conselho, cheios de alegria, por terem
sido achados dignos de sofrer afrontas pelo nome de Jesus.
Salmo responsorial
29/30
Eu vos exalto, ó
Senhor, porque vós me livrastes.
Eu vos exalto, ó Senhor, porque vós me livrastes
e não deixastes rir de mim meus inimigos!
Vós tirastes minha alma dos abismos
e me salvastes quando estava morrendo.
Cantai salmos ao Senhor, povo fiel,
dai-lhe graças e invocai seu santo nome!
Pois sua ira dura apenas um momento,
Mas sua bondade permanece a vida inteira;
Se a tarde vem o pranto visitar-nos,
de manhã vem saudar-nos a alegria.
Escutai-me, Senhor Deus, tente piedade!
Sede, Senhor, o meu abrigo protetor!
Transformastes o meu pranto em uma festa,
Senhor meu Deus, eternamente hei de louvar-vos!
Segunda Leitura
(Apocalipse 5,11-14)
Leitura do livro do Apocalipse de
são João.
5 11 Na minha visão ouvi
também, ao redor do trono, dos Animais e dos Anciãos, a voz de muitos anjos,
em número de miríades de miríades e de milhares de milhares,
12 bradando em alta voz: “Digno é o Cordeiro imolado de receber o poder,
a riqueza, a sabedoria, a força, a glória, a honra e o louvor”.
13 E todas as criaturas que estão no céu, na terra, debaixo da terra e
no mar, e tudo que contêm, eu as ouvi clamar: “Àquele que se assenta no trono
e ao Cordeiro, louvor, honra, glória e poder pelos séculos dos séculos”.
14 E os quatro Animais diziam: “Amém!” Os Anciãos prostravam-se e
adoravam.
Aclamação do
Evangelho
Aleluia, aleluia,
aleluia.
Jesus Cristo ressurgiu, por quem tudo
foi criado; ele teve compaixão do gênero humano.
EVANGELHO (Jo 21,1-19 ou 1-14)
21 1 Depois disso, tornou
Jesus a manifestar-se aos seus discípulos junto ao lago de Tiberíades.
Manifestou-se deste modo:
2 Estavam juntos Simão Pedro, Tomé (chamado Dídimo), Natanael (que era
de Caná da Galiléia), os filhos de Zebedeu e outros dois dos seus discípulos.
3 Disse-lhes Simão Pedro: “Vou pescar”. Responderam-lhe eles: “Também
nós vamos contigo”. Partiram e entraram na barca. Naquela noite, porém, nada
apanharam.
4 Chegada a manhã, Jesus estava na praia. Todavia, os discípulos não o
reconheceram.
5 Perguntou-lhes Jesus: “Amigos, não tendes acaso alguma coisa para
comer?” “Não”, responderam-lhe.
6 Disse-lhes ele: “Lançai a rede ao lado direito da barca e achareis”.
Lançaram-na, e já não podiam arrastá-la por causa da grande quantidade de
peixes.
7 Então aquele discípulo, que Jesus amava, disse a Pedro: “É o Senhor!”
Quando Simão Pedro ouviu dizer que era o Senhor, cingiu-se com a túnica
(porque estava nu) e lançou-se às águas.
8 Os outros discípulos vieram na barca, arrastando a rede dos peixes
(pois não estavam longe da terra, senão cerca de duzentos côvados).
9 Ao saltarem em terra, viram umas brasas preparadas e um peixe em cima
delas, e pão.
10 Disse-lhes Jesus: “Trazei aqui alguns dos peixes que agora
apanhastes”.
11 Subiu Simão Pedro e puxou a rede para a terra, cheia de cento e
cinqüenta e três peixes grandes. Apesar de serem tantos, a rede não se
rompeu.
12 Disse-lhes Jesus: “Vinde, comei”. Nenhum dos discípulos ousou
perguntar-lhe: “Quem és tu?”, pois bem sabiam que era o Senhor.
13 Jesus aproximou-se, tomou o pão e lhos deu, e do mesmo modo o peixe.
14 Era esta já a terceira vez que Jesus se manifestava aos seus
discípulos, depois de ter ressuscitado.
15 Tendo eles comido, Jesus perguntou a Simão Pedro: “Simão, filho de
João, amas-me mais do que estes?” Respondeu ele: “Sim, Senhor, tu sabes que
te amo”. Disse-lhe Jesus: “Apascenta os meus cordeiros”.
16 Perguntou-lhe outra vez: “Simão, filho de João, amas-me?”
Respondeu-lhe: “Sim, Senhor, tu sabes que te amo”. Disse-lhe Jesus:
“Apascenta os meus cordeiros”.
17 Perguntou-lhe pela terceira vez: “Simão, filho de João, amas-me?”
Pedro entristeceu-se porque lhe perguntou pela terceira vez: “Amas-me?”, e
respondeu-lhe: “Senhor, sabes tudo, tu sabes que te amo”. Disse-lhe Jesus:
“Apascenta as minhas ovelhas.
18 Em verdade, em verdade te digo: quando eras mais moço, cingias-te e
andavas aonde querias. Mas, quando fores velho, estenderás as tuas mãos, e
outro te cingirá e te levará para onde não queres”.
19 Por estas palavras, ele indicava o gênero de morte com que havia de
glorificar a Deus. E depois de assim ter falado, acrescentou: “Segue-me!”
TEXTOS BÍBLICOS PARA A SEMANA:
2ª Br - At 6,8-15; Sl 118 (119), 23-24.26-27.29-30; Jo 6,22-29
3ª Br - At 7,51-8,1a; Sl 30 (31); Jo 6,30-35
4ª Br - At 8,1b-8; Sl 65 (66); Jo 6,35-40
5ª Br - At 8,26-40; Sl 65 (66); Jo 6,44-51
6ª Br - At 9,1-20; Sl 116 (117); Jo 6,52-59
Sb Br - At 9,31-42; Sl 115 (116B); Jo 6,60-69
4º Dom de Páscoa. At 13,14.43-52; Sl 99 (100),2. 3. 5 (R/ 3ac); Ap
7,9.14b-17; Jo 10,27-30 (As ovelhas ouvem a voz do Pastor)
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. O Homem da
Praia...
Um grande amigo que acompanha
atentamente as reflexões, me alertou sobre o evangelho desse terceiro Domingo
da Páscoa: “Olha Diácono, é aquele evangelho onde o “Pedrão”, joga a toalha e
vai pescar..” “Pedrão” é o jeito carinhoso que ele chama São Pedro, eu não o
censuro porque, de fato, a primeira impressão que se tem é essa: Que o
apóstolo Pedro desistiu de tudo e voltou á vidinha antiga, indo pescar. O
mais interessante, é que a sua reestréia na profissão de pescador, foi uma
lástima: lidou a noite inteira com a sua equipe de trabalho, e não pescaram
nada, pelo que diz o texto.
Depois, um fato mais estranho
aconteceu: Jesus, que era carpinteiro e não pescador, aparece na praia, pede
alimento e depois dá palpite na atividade pesqueira de Pedro e dos outros
pescadores experientes, mandando jogar a rede do lado direito. Dá para
imaginar a cara de “poucos amigos” que Pedro fez, com aquele palpite de um
estranho.Por que, vamos e convenhamos, que diferença faz, jogar a rede do
lado esquerdo ou direito da barca? Aquele estranho não entende nada de pesca.
Entretanto, seguindo exatamente a
sua palavra orientadora, aconteceu uma pesca milagrosa, e as duas barcas
ficaram tão cheias de peixes graúdos, que por pouco não afundaram. Antes que
alguém diga que isso mais parece lorota de pescador, deixa-me informar que
essa história é absolutamente verdadeira, mas... É claro que não se trata de
peixes...
Quando Jesus chamou Pedro, Thiago e
João, um belo dia á beira mar, prometeu que daquele dia em diante, iria fazer
deles, pescadores de homens. Não se pode também, imaginar que Pedro decidiu
sair pelos lugarejos, fazendo uma pregação meio louca, da sua própria cabeça,
e que daí as coisas não deram certo. Mas o evangelista se reporta aos
primeiros tempos da comunidade primitiva. Que dureza tentar cumprir a missão,
sem Jesus por perto! A primeira sensação é realmente de um grande fracasso,
em nossas comunidades a gente experimenta muito isso, a própria vida da
comunidade, ás vezes se acha comprometida e parece que todo trabalho não vai
dar em nada.
Os apóstolos sabiam muito bem qual
era a missão que o Senhor lhes havia confiado, nós também nos dias de hoje,
já estamos até carecas de saber qual é a missão primária da igreja, e o que
compete a cada batizado fazer, para que o anúncio do evangelho aconteça, mas
o problema são os métodos que nós utilizamos, será que estão corretos, será
que são os mais adequados, será que não estamos querendo fazer as coisas do
nosso jeito?
Há os que confundem o evangelho com
ideologias políticas, ou com uma Filosofia de vida, há os que pensam que o
evangelho não tem nada a ver com a nossa vida e a nossa história, com a
realidade onde estamos inseridos, e pensando desta forma, lá se vão noites e
noites de uma pescaria infrutífera, trabalhos pastorais, reuniões cansativas
e desgastantes, projetos que não saem das gavetas, catequese “arroz com
Feijão”, normas e regras na Vida dos Sacramentos, que não agregam nada. As
pessoas chegam, procurando alimento, e vão embora esfomeadas, esta é uma
grande verdade.
Tudo isso porque falta ás vezes o
essencial, o reconhecimento de Jesus presente em nossa lida comunitária, aqui
um detalhe extremamente importante: para reconhecê-lo, só a fé não basta, é
preciso uma relação amorosa com Deus presente em Jesus, por isso João, o
discípulo que Jesus amava, exclama feliz, ao constatar o resultado
surpreendente da “pescaria” “É o Senhor!”. Jesus jamais será percebido na
comunidade se faltar aquilo que é essencial: a relação de amor para com ele.
Há os que o buscam somente na razão, outros o buscam e pensam tê-lo
encontrado na emoção, qualquer um desses caminhos não será válido, se faltar
essa relação amorosa.
Mas o coitado do Pedro quase morreu
de vergonha quando escutou falar que aquele homem na praia era Jesus, e
correu vestir-se porque estava nu. Sem a consciência de que Jesus caminha conosco
na igreja, a gente não se reveste da graça santificadora, quando estamos nus,
expomos a nossa vergonha, pois não temos como ocultá-las, mas revestidos da
roupa nova que Jesus nos oferece com a Salvação, tornamo-nos homens novos, e
a Luz da Graça Divina nos dá a roupagem nova, ocultando nossas fragilidades e
limites, somos enfim, recriados, essa seria a palavra certa para o processo
de salvação.
Comunidade é lugar de acolhimento,
portanto de calor humano, que aquece com brasas fumegantes alimentando todos
os que a buscam, Na brasa daquele homem misterioso á beira da praia, e que
eles não sabiam ainda bem, quem era, já tinha um peixe e pão, mas ele pede
alguns dos peixes que eles haviam pescado. Comunidade é lugar de alimentar e
ser alimentado, de receber e de dar. Feito isso, juntando o peixe de Jesus e
o seu pão, e os peixes graúdos, que são os frutos do trabalho em comunidade,
seja ele qual for, o alimento está assegurado a todos. Jesus indicou o lugar,
isso é, o como fazer, e eles acreditaram... Eis aí o eco das palavras da
mulher das Bodas de Cana “Fazei o que ele vos disser...”
Na comunidade, Deus e Homem se
unem, em uma parceria misteriosa chamada comunhão de vida, é isso, somente
isso, que garante alimento em abundância a todos...
2. Jesus se dá a
conhecer pela fé
O capítulo 21 do evangelho segundo
João é um acréscimo posterior. Estamos diante de mais um relato da aparição
do Cristo Ressuscitado. Agora, às margens do mar de Tiberíades. Aparição,
aqui, não deve nos induzir a erro, pois não é o órgão da visão que é exigido,
mas a fé. Por isso, ao ouvir ou ler “aparição”, devemos compreender que “ele
se dá a reconhecer”. Depois da morte e ressurreição do Senhor, a vida dos
discípulos continua. É na lida do dia a dia que o Senhor se faz sentir
(alguns dos discípulos saem para pescar – cf. v. 3) e oferece os sinais de
sua presença.
Simão Pedro, que ao longo de todo o
quarto evangelho não é propriamente o homem da fé, porque depende do
“discípulo que Jesus amava”, será quem alguns versículos adiante dirá: “É o
Senhor!” (v. 7). O diálogo de Jesus com Simão Pedro (vv. 15-19) adquire,
então, toda importância, pois se trata de fundar a missão de Pedro como
“primeiro entre iguais” num mandato do Senhor: “Apascenta minhas ovelhas
(cordeiros)” (vv. 15.16.17); “Segue-me” (v. 19).
Porque essa missão lhe é confiada
pelo Senhor, será necessário que Pedro o ame mais do que tudo. É nesse
sentido que deve ser compreendida a pergunta de Jesus: “Simão, filho de João,
tu me amas mais do que estes?” (v. 15).
ORAÇÃO
Espírito de dedicação, que eu cuide, com total generosidade, do rebanho a mim
confiado pelo Senhor, sabendo conduzi-lo com amor.
3. CUIDA DAS
MINHAS OVELHAS
A morte de cruz encerrou o
ministério terreno de Jesus. Ao exclamar: "Tudo está consumado!",
ele proclamou ter levado a termo a missão recebida do Pai.
Todavia, restava muito a ser feito.
O Evangelho deveria ser anunciado a todos os povos, e a salvação chegar até
os confins da Terra. A sementinha do Reino não podia ficar infrutífera. Era
preciso fazê-la desabrochar para tornar-se uma árvore frondosa.
A missão, agora, seria tarefa dos
discípulos. Com que condições? A primeira delas consistia em estar unido ao
Senhor por um amor entranhado, numa proximidade tal que lhes permitisse
assimilar a vida do Mestre. Esta centralidade de Jesus na vida do discípulo
seria garantia de sua presença no decorrer da missão. A segunda consistia em
estar consciente de ter sido encarregado de uma missão recebida do Senhor. O
discípulo atuaria como servidor dessa missão, e não como dono do rebanho!
Ao ser três vezes interrogado,
Pedro confessou seu amor a Jesus. Este, então, confiou-lhe o encargo de
cuidar de suas ovelhas. O rebanho não é propriedade do discípulo, e a relação
entre ambos deve ser permeada pelo amor do Senhor.
O ministério, portanto, teria três pólos: Jesus que confia a missão - o
discípulo que a executa, por amor - e o rebanho a ser conduzido pelos
caminhos do Senhor.
Oração
Espírito de dedicação, que eu cuide, com total generosidade, do rebanho a mim
confiado pelo Senhor, sabendo conduzi-lo com amor
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