Liturgia da Segunda Feira — 25.03.2013
SEMANA
SANTA
(ROXO,
PREFÁCIO DA PAIXÃO II – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Acusai, Senhor, meus acusadores; combatei aqueles que
me combatem! Tomai escudo e armadura, levantai-vos, vinde em meu socorro!
Senhor, meu Deus, força que me salva! (Sl 34,1s; Sl 139,8)
Leitura (Isaías 42,1-7)
Leitura do livro do profeta Isaías.
42 1 "Eis meu Servo que eu
amparo, meu eleito ao qual dou toda a minha afeição, faço repousar sobre ele
meu espírito, para que leve às nações a verdadeira religião.
2 Ele não grita, nunca eleva a voz, não clama nas ruas.
3 Não quebrará o caniço rachado, não extinguirá a mecha que ainda fumega.
Anunciará com toda a franqueza a verdadeira religião; não desanimará, nem
desfalecerá,
4 até que tenha estabelecido a verdadeira religião sobre a terra, e até que
as ilhas desejem seus ensinamentos".
5 Eis o que diz o Senhor Deus que criou os céus e os desdobrou, que firmou a
terra e toda a sua vegetação, que dá respiração a seus habitantes, e o sopro
vital àqueles que pisam o solo:
6 "Eu, o Senhor, chamei-te realmente, eu te segurei pela mão, eu te
formei e designei para ser a aliança com os povos, a luz das nações;
7 para abrir os olhos aos cegos, para tirar do cárcere os prisioneiros e da
prisão aqueles que vivem nas trevas".
Salmo responsorial 26/27
O Senhor é minha luz e salvação.
O Senhor é minha luz e salvação;
de quem eu terei medo?
O Senhor é a proteção da minha vida;
perante quem eu tremerei?
Quando avançam os malvados
contra mim,
querendo devorar-me,
são eles, inimigos e opressores,
que tropeçam e sucumbem.
Se contra mim um exército se
armar,
não temerá meu coração;
se contra mim uma batalha estourar,
mesmo assim confiarei.
Sei que a bondade do Senhor eu
hei de ver
na terra dos viventes.
Espera no Senhor e tem coragem,
espera no Senhor!
Aclamação do Evangelho
Honra, glória, poder e louvor a
Jesus, nosso Deus e Senhor!
Salve, nosso rei, somente vós tendes compaixão dos nossos erros.
Evangelho (João 12,1-11)
12 1 Seis dias antes da
Páscoa, foi Jesus a Betânia, onde vivia Lázaro, que ele ressuscitara.
2 Deram ali uma ceia em sua honra. Marta servia e Lázaro era um dos convivas.
3 Tomando Maria uma libra de bálsamo de nardo puro, de grande preço, ungiu os
pés de Jesus e enxugou-os com seus cabelos. A casa encheu-se do perfume do
bálsamo.
4 Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, aquele que o havia de trair,
disse:
5 "Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos denários e não se
deu aos pobres?"
6 Dizia isso não porque ele se interessasse pelos pobres, mas porque era
ladrão e, tendo a bolsa, furtava o que nela lançavam.
7 Jesus disse: "Deixai-a; ela guardou este perfume para o dia da minha
sepultura.
8 Pois sempre tereis convosco os pobres, mas a mim nem sempre me
tereis".
9 Uma grande multidão de judeus veio a saber que Jesus lá estava; e chegou, não
somente por causa de Jesus, mas ainda para ver Lázaro, que ele ressuscitara.
10 Mas os príncipes dos sacerdotes resolveram tirar a vida também a Lázaro,
11 porque muitos judeus, por causa dele, se afastavam e acreditavam em Jesus.
COMENTÁRIOS DO
EVANGELHO
1. Maria de Betânia:
Modelo de Agente Pastoral
Nesta semana os relatos dos
evangelhos estarão direta ou indiretamente relacionados com a Paixão do
Senhor. Hoje começamos com o episódio mais conhecido como a Unção em Betânia. O
evangelista coloca essa ceia, logo após Jesus ter ressuscitado Lazaro,
em um jantar em sua homenagem.
Não é difícil imaginar que Betânia era uma comunidade muito acolhedora, pois
ali Jesus se hospedava sempre que tinha necessidade. Se quisermos aprofundar
um pouco mais, podemos dizer que essa comunidade, por alguma razão que não
sabemos, passou por uma crise muito grave a ponto de quase se acabar ( Lázaro
morto e há quatro dias enterrado) e que Jesus a levantou dando-lhe Vida nova
e Ressuscitando o que antes estava morto, e temos a clara alusão a Ceia da
qual párticipam os que receberam esta Vida Nova ,que só Deus pode dar, essa
ceia que celebra a Vida em sua plenitude, é a Eucaristia. João gosta de
contar as coisas do seu jeito, mas no fundo está falando de coisas mais
profundas do que aquilo que os seus relatos permitem nos ver. João faz como
nos rodízios de carne, primeiro serve uma deliciosa salada, a gente não pode
ir fundo logo de cara, pois com João, sempre o melhor vem depois.
Mas há algo que João dá um foco maior nesse evangelho, as atitudes de Maria e
a de Judas Iscariotes. Comecemos por Maria, ela é irmã de Marta e Lázaro,
portanto é também anfitriã, e poderia tranquilamente sentar-se em lugar de
honra ao lado do Mestre e fazer até inveja aos demais convidados, a gente vê
isso em jantar dançante da paróquia, quem tem a ventura de poder sentar-se na
mesa do padre, sente-se importante, não é mesmo ?
Porém, essa Maria deixou de lado o formalismo e principalmente o seu status,
e rebaixou-se a condição de uma escrava quando inclinou-se diante de Jesus e
começou a ungir seus pés com perfume, não um perfuminho qualquer, mas um de
primeiríssimo qualidade, uma libra de nardo puro, que custava os "olhos
da cara" e equivalia, sem exagero, ao salário de um ano de um
trabalhador, ou seja, o que Maria tinha de melhor e mais valioso, ofereceu a
Jesus naquele momento.
E aí entra em ação o agente de Pastroral Juiz e policial, aquele que fica só
de olho no que o irmão faz, para critica-lo, ainda mais se ele está
aparecendo muito naquilo que faz: Judas Iscariotes, um irmão da comunidade
mas que não era flor que se cheirasse, sempre arredio, misterioso, tomava
conta da "bolsa" mas metia a mão sempre que podia. Pessoa calculista
que sempre está pensando no que ele pode ganhar com a situação. O argumento,
cheio de hipocrisia, foi o de que aquele dinheiro poderia ser ofertado aos
pobres. Um detalhe importante, para chegar aos pobres o dinheiro primeiro
teria que passar pelas suas mãos e daí....bom, o leitor já pode imaginar o
resto da história...
Maria, uma mulher generosa, exemplo de agente de pastoral, que se entrega
totalmente por amor a Cristo e a sua igreja, dá o que tem de melhor e mais
valioso, manifestando amor Aquele que irá também dar o que tem de melhor e
mais valioso á humanidade: a sua Vida.
Judas, mesquinho, interesseiro, calculista, tipo de agente de pastoral que
FAZ, mas CONTROLA, Faz mas quer sempre mandar no pedaço,
FAZ mas quer sempre ser consultado e não admite nem que o padre
tome decisões sem ouvi-lo. Não olhemos no passado, mas para nossas
comunidades onde MARIA e Judas estão dentro de nós, eu e todos vocês, quantas
vêzes agimos assim, talvez como Maria, dando á pastoral ou ao movimento, o
melhor de nós, mas também quantas vêzes, a gente tem o comportamento de
Judas, então ...não projetemos Judas nos outros, mas olhemos para
nós, e peçamos ao Senhor que nesta Semana Santa, nossos atos e
palavras consigam impregnar a toda comunidade com o doce e suave odor de
Jesus Cristo, para que a nossa comunidade, como Betânia naquele dia, exale o
doce aroma do amor doação, gratuito e incondicional.
"Nós vos adoramos Senhor Jesus, e vos bendizemos, porque pela vossa
Santa Cruz remistes o mundo"
2. UMA PREOCUPAÇÃO
SUSPEITA
A preocupação de Judas
Iscariotes pelos pobres foi posta sob suspeita pelo evangelista e reforçada
por Jesus. O evangelista interpretou como ganância a preocupação do
companheiro com o desperdício do nardo puro e precioso usado por Maria para
ungir os pés do Mestre. Isto por que era Judas quem cuidava das finanças do
grupo, e estava habituado a roubar as ofertas que eram dadas para o sustento de
todos.
Por sua vez, Jesus alertou os discípulos: teriam sempre a possibilidade de
fazer o bem aos pobres, não teriam, porém, a chance de partilhar de sua
presença para sempre. O momento da partida estava para chegar.
O Mestre revelou aos seus discípulos o valor simbólico do gesto de Maria. Ela
estava antecipando o que deveria acontecer no sepultamento de Jesus, ungindo
o corpo que seria colocado no túmulo. Afinal, havendo de padecer a morte dos
pobres, sem nem mesmo ter um túmulo para ser sepultado, Maria estava suprindo
o gesto de piedade de que seria privado.
Sobretudo, Judas não se dava conta de estar convivendo com Jesus, cuja opção
era ser pobre e viver como pobre. Não só, o Mestre buscava sempre a
convivência com os pobres, com os quais se mostrava solidário. Portanto, a
censura de Judas a Jesus não tinha cabimento. O Mestre sabia muito bem o que
estava fazendo, e o sentido de tudo o que estava acontecendo. O discípulo é
que estava obcecado pela malícia.
Oração
Pai, tira de mim toda malícia que me impede de compreender, em profundidade,
os gestos de Jesus, o qual se fez pobre entre os pobres, e morreu como um
deles.
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SEMANA
SANTA
(ROXO,
PREFÁCIO DA PAIXÃO II – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Não meu deixeis, Senhor, à mercê de meus adversários,
pois contra mim se levantaram testemunhas falsas, mas volta-se contra eles a
sua iniqüidade (Sl 26,12).
Leitura (Isaías 49,1-6)
Leitura do livro do profeta Isaías.
49 1 Ilhas, ouvi-me; povos de
longe, prestai atenção! O Senhor chamou-me desde meu nascimento; ainda no
seio de minha mãe, ele pronunciou meu nome.
2 Tornou minha boca semelhante a uma espada afiada, cobriu-me com a sombra de
sua mão. Fez de mim uma flecha penetrante, guardou-me na sua aljava.
3 E disse-me: "Tu és meu servo, (Israel), em quem me rejubilarei".
4 E eu dizia a mim mesmo: "Foi em vão que padeci, foi em vão que gastei
minhas forças. Todavia, meu direito estava nas mãos do Senhor, e no meu Deus
estava depositada a minha recompensa".
5 E agora o Senhor fala, ele, que me formou desde meu nascimento para ser seu
Servo, para trazer-lhe de volta Jacó e reunir-lhe Israel, (porque o Senhor
fez-me esta honra, e meu Deus tornou-se minha força).
6 Disse-me: "Não basta que sejas meu servo para restaurar as tribos de
Jacó e reconduzir os fugitivos de Israel; vou fazer de ti a luz das nações,
para propagar minha salvação até os confins do mundo".
Salmo responsorial 70/71
Minha boca anunciará vossa
justiça.
Eu procuro meu refúgio em vós,
Senhor,
que eu não seja envergonhado para sempre!
Porque sois justo, defendei-me e libertai-me!
Escutai a minha voz, vinde salvar-me!
Sede uma rocha protetora para
mim,
um abrigo bem seguro que me salve!
Porque sois a minha força e meu amparo,
o meu refúgio, proteção e segurança!
Libertai-me, ó meu Deus, das mãos do ímpio.
Porque sois, ó Senhor Deus,
minha esperança,
em vós confio desde a minha juventude!
Sois meu apoio desde antes que eu nascesse,
desde o seio maternal, o meu amparo.
Minha boca anunciará todos os
dias
vossa justiça e vossas graças incontáveis.
Vós me ensinastes desde a minha juventude
e até hoje canto as vossas maravilhas.
Aclamação do Evangelho
Honra, glória, poder e louvor a
Jesus, nosso Deus e Senhor!
Salve, ó rei, obediente ao Pai, vós fostes levado para ser crucificado, como
um manso cordeiro é conduzido à matança.
EVANGELHO (João 13,21-33.36-38)
Naquele tempo, estando à mesa
com seus discípulos, 13 21 Jesus ficou perturbado em seu espírito e declarou
abertamente: "Em verdade, em verdade vos digo: um de vós me há de
trair!"
22 Os discípulos olhavam uns para os outros, sem saber de quem falava.
23 Um dos discípulos, a quem Jesus amava, estava à mesa reclinado ao peito de
Jesus.
24 Simão Pedro acenou-lhe para dizer-lhe: "Dize-nos, de quem é que ele
fala".
25 Reclinando-se este mesmo discípulo sobre o peito de Jesus, interrogou-o:
"Senhor, quem é?"
26 Jesus respondeu: "É aquele a quem eu der o pão embebido". Em
seguida, molhou o pão e deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes.
27 Logo que ele o engoliu, Satanás entrou nele. Jesus disse-lhe, então:
"O que queres fazer, faze-o depressa".
28 Mas ninguém dos que estavam à mesa soube por que motivo lho dissera.
29 Pois, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe falava:
"Compra aquilo de que temos necessidade para a festa". Ou: "Dá
alguma coisa aos pobres".
30 Tendo Judas recebido o bocado de pão, apressou-se em sair. E era noite.
31 Logo que Judas saiu, Jesus disse: "Agora é glorificado o Filho do
Homem, e Deus é glorificado nele.
32 Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e o
glorificará em breve.
33 Filhinhos meus, por um pouco apenas ainda estou convosco. Vós me haveis de
procurar, mas como disse aos judeus, também vos digo agora a vós: para onde
eu vou, vós não podeis ir".
36 Perguntou-lhe Simão Pedro: "Senhor, para onde vais?" Jesus
respondeu-lhe: "Para onde vou, não podes seguir-me agora, mas
seguir-me-ás mais tarde".
37 Pedro tornou a perguntar: "Senhor, por que te não posso seguir agora?
Darei a minha vida por ti!"
38 Respondeu-lhe Jesus: "Darás a tua vida por mim! Em verdade, em
verdade te digo: não cantará o galo até que me negues três vezes".
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. Amar ou Negar e
trair... Você decide!
Neste evangelho, São João, bem
naquele jeito que nós já sabemos, faz uma linda reflexão com uma narrativa as
avessas! O leitor com certeza, ao tomar contato com este evangelho, se
perguntou "Mas em uma hora dramática e terrível dessa, quando já o
prenúncio de que dois que estão ali na mesa, irão trai-lo e negá-lo no dia
seguinte, Jesus começa a falar em Gloria, porque Nele o Pai foi
Glorificado?" Se a gente não comentou com alguém, pelo menos pensou, não
é?
Fazendo uma releitura diferente dos sinóticos, onde a paixão e morte de Jesus
apresenta-se como um quadro desolador ao espírito do leitor, João enxerga na
paixão de Jesus a sua Vitória definitiva, a sua definitiva Glorificação,
dando-lhe inclusive uma postura de Rei e Juiz, invertendo os papéis com
Pilatos. Essa idéia de João não foi algo que surgiu depois, mas desde o
início de seus escritos, nas Bodas de Caná, por exemplo, ele afirma a Mãe que
"A sua Hora ainda não chegou", não a hora da derrota, do fracasso e
do fim do sonho, mas exatamente o contrário, o que está nascendo, o que está
surgindo, o Reino firma suas raízes sobre o madeiro da cruz, e é um Reino
para sempre, que conduzirá os homens á sua plenitude, é o início da nova
criação, um novo horizonte se descortina para toda humanidade.
É olhando nessa perspectiva joanina que agora podemos focar Judas e Pedro. Um
que o traiu, e outro que o negou. Dois pecados da mesma gravidade. Judas agiu
assim, porque já tinha delineado dentro dele o modelo de Jesus que ele queria
e ambicionava, para sair-se vitorioso em suas ambições possivelmente
revolucionárias, é difícil fazer um juízo sobre a ação do traidor, talvez o
tenha traído porque ele o havia decepcionado, por não ser o modelo que ele
havia delineado dentro de si, ou talvez o traiu, por acreditar que na hora
decisiva Jesus manifestaria o seu Messianismo poderoso e daria a volta por
cima, "virando o jogo". Mas são apenas hipóteses...
2. O TRAIDOR
IDENTIFICADO
O anúncio da traição foi
desconcertante para o grupo de discípulos. Independentemente de qualquer
cultura, a traição é sempre um ato abominável. De modo especial, entre
pessoas cujas vidas foram postas em comum, e nas quais se deposita toda
confiança. Isto explica a surpresa dos discípulos quando Jesus anunciou que
um deles haveria de traí-lo. E essa surpresa foi maior, quando o traidor foi
identificado com Judas, filho de Simão Iscariotes.
O evangelista João dirá várias vezes que se tratava de um ladrão. Logo,
alguém de caráter duvidoso, de quem se pode esperar tudo. A traição seria
apenas mais uma manifestação da personalidade malsã deste discípulo. Os evangelhos,
em geral, referem-se a Judas como alguém que vendeu sua própria consciência
ao aceitar entregar o Mestre por um punhado de dinheiro.
Entretanto, é possível suspeitar de outras razões desta atitude tresloucada.
Será que Judas entendeu, de fato, o projeto de Jesus? Terá sido capaz de
abrir mão de seus esquemas messiânicos para aceitar Jesus tal qual se
apresentava? Estava disposto a seguir um Messias pobre, manso, amigo dos
excluídos e marginalizados, anunciador de um Reino incompatível com a violência
e a injustiça? Judas esperava tirar partido do Reino a ser instaurado por
Jesus. Vendo frustrado o seu intento, não teria tido escrúpulo de traí-lo?
Uma coisa é certa: Judas estava longe de sintonizar com Jesus. Algo parecido
acontecia com Pedro, que haveria de negá-lo. Só que este recuou e se
converteu à misericórdia do Senhor.
Oração
Pai, faze-me viver em sintonia com Jesus, de modo que meus preconceitos não
venham a influenciar minha adesão a ele.
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SEMANA
SANTA
(ROXO,
PREFÁCIO DA PAIXÃO II – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Ao nome de Jesus todo joelho se dobre no céu, na
terra e na mão dos mortos, pois o Senhor se fez obediente até a morte e morte
de cruz. E por isso Jesus Cristo é o Senhor na glória de Deus Pai (Fl
2,10.8.11).
Leitura (Isaías 50,4-9)
Leitura do livro do profeta Isaías.
50 4 O Senhor Deus deu-me a
língua de um discípulo para que eu saiba reconfortar pela palavra o que está
abatido. Cada manhã ele desperta meus ouvidos para que escute como discípulo;
5 (o Senhor Deus abriu-me o ouvido) e eu não relutei, não me esquivei.
6 Aos que me feriam, apresentei as espáduas, e as faces àqueles que me
arrancavam a barba; não desviei o rosto dos ultrajes e dos escarros.
7 Mas o Senhor Deus vem em meu auxílio: eis por que não me senti desonrado;
enrijeci meu rosto como uma pedra, convicto de não ser desapontado.
8 Aquele que me fará justiça aí está. Quem ousará atacar-me? Vamos medir-nos!
Quem será meu adversário? Que se apresente!
9 O Senhor Deus vem em meu auxílio: quem ousaria condenar-me? Cairão em
frangalhos como um manto velho; a traça os roerá.
Salmo responsorial 68/69
Respondei-me, pelo vosso imenso
amor,
neste tempo favorável, Senhor Deus.
Por vossa causa é que sofri
tantos insultos
e o meu rosto se cobriu de confusão;
eu me tornei como um estranho a meus irmãos,
como estrangeiro para os filhos de minha mãe.
Pois meu zelo e meu amor por vossa casa
me devoram como fogo abrasador;
e os insultos de infiéis que vos ultrajam
recaíram todos eles sobre mim!
O insulto me partiu o coração.
eu esperei que alguém de mim tivesse pena;
procurei quem me aliviasse e não achei!
Deram-me fel como se fosse um alimento,
em minha sede ofereceram-me vinagre!
Cantando, eu louvarei o vosso
nome
e, agradecido, exultarei de alegria!
Humildes, vede isso e alegrai-vos:
o vosso coração reviverá
se procurardes o Senhor continuamente!
Pois nosso Deus atende à prece dos seus pobres
e não despreza o clamor de seus cativos.
Aclamação do Evangelho
Salve, Cristo, luz da vida,
companheiro na partilha!
Salve, nosso rei, somente vós tendes compaixão dos nossos erros.
Evangelho (Mateus 26 14-25)
Naquele tempo, 26 14 um dos
Doze, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os príncipes dos sacerdotes e
perguntou-lhes:
15 "Que quereis dar-me e eu vo-lo entregarei". Ajustaram com ele
trinta moedas de prata.
16 E desde aquele instante, procurava uma ocasião favorável para entregar
Jesus.
17 No primeiro dia dos Ázimos, os discípulos aproximaram-se de Jesus e
perguntaram-lhe: "Onde queres que preparemos a ceia pascal?"
18 Respondeu-lhes Jesus: "Ide à cidade, à casa de um tal, e dizei-lhe:
‘O Mestre manda dizer-te: Meu tempo está próximo. É em tua casa que
celebrarei a Páscoa com meus discípulos’".
19 Os discípulos fizeram o que Jesus tinha ordenado e prepararam a Páscoa.
20 Ao declinar da tarde, pôs-se Jesus à mesa com os doze discípulos.
21 Durante a ceia, disse: "Em verdade vos digo: um de vós me há de
trair".
22 Com profunda aflição, cada um começou a perguntar: "Sou eu,
Senhor?"
23 Respondeu ele: "Aquele que pôs comigo a mão no prato, esse me trairá.
24 O Filho do Homem vai, como dele está escrito. Mas ai daquele homem por
quem o Filho do Homem é traído! Seria melhor para esse homem que jamais
tivesse nascido!"
25 Judas, o traidor, tomou a palavra e perguntou: "Mestre, serei
eu?" "Sim", disse Jesus.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. Um de Vós vai me
trair...
É o mesmo relato de ontem, mas
agora do jeito de MATEUS. No evangelho de ontem, quando Jesus vai anunciar
que será traído, o texto fala que ele está angustiado e perturbado em seu
espirito, lembram-se? Podem conferir o texto de João.... Pois no evangelho de
hoje, essa angústia e aflição muda de lado, são os discípulos que ficam angustiados
e aflitos, e começam a indagar "Senhor, por acaso serei eu?". E
Pedro, logo ele, dá uma cutucada a João, que estava perto do Mestre, quer
saber quem é o desavergonhado, quem sabe, para tomar uma providência...
O Jesus de Mateus, que escreve para a comunidade Cristão Judaica, é firme e
não demonstra nenhuma perturbação quando anuncia a traição. É que Mateus
apresenta um Jesus fiel á missão, e que cumpre toda a Vontade do
Pai, com firmeza e determinação. Entretanto, há algo que o leitor fica se
perguntando, "Se ele cumpre a vontade do Pai, porque demonstrou sua
indignação ao dizer "Ai daquele que irá trair o Filho do Homem, melhor
seria que não tivesse nascido....".Ora, se era vontade do Pai, então
Judas estava fazendo o seu papel, e estava, por assim dizer
"Colaborando" para que tudo acontecesse, conforme o
previsto....Jesus até poderia trata-lo bem, era preciso que alguém o traísse
para que ele fosse condenado á morte, e Judas aceitou o papel de traidor....
Esta seria uma leitura ingênua desse evangelho, pois facilmente podemos cair
no fatalismo, "Deus quiz assim....foi feita sua vontade". Coitado
do nosso Deus, quantas desgraças e tragédias jogamos em suas costas....Aliás,
tem gente que se safa de situações apertadas jogando a culpa em Deus ou no
Diabo.
Com toda certeza, muitas vêzes Jesus conversou com Judas, expos sua missão,
exortou-o a não entrar pelo caminho errado, disse-lhe do perigo que corria,
ao confundir o seu Messianismo com alguma ideologia política e ali á
mesa, deu-lhe a última dica...uma oportunidade para Judas pensar no assunto,
rever a sua atitude, quem sabe, usar o seu livre arbítrio e mudar de vida,
por fidelidade a Jesus, mesmo que não compreendesse bem o seu messianismo,
pois Pedro também não entendia, mas o aceitou como ele era.
Portanto, não se trata do anuncio de uma fatalidade, mas um jogo de palavras,
mostrando que a questão estava em aberto e Judas ainda poderia dar outro rumo
á sua vida. Assim que Judas saiu de cena, rompendo portanto com a
comunidade, Pedro, querendo amenizar o mal entendido, e melhorar o clima do
jantar, já no Horto das Oliveiras, quando Jesus anuncia que ele será motivo
de queda para todos eles, vai apresentar-se como diferente, o melhor e
o mais fiel de todos, "Para mim jamais serás motivo de queda,
Senhor". Com essas palavras Pedro estava dizendo que Jesus podia contar
com ele sempre... Pobre Pedro, que ducha de água fria levou na cabeça, quando
Jesus diz que ele irá negá-lo por três vêzes, antes que o galo
cantasse...
Nossas mãos não tocam no mesmo prato, o pão com Jesus, mas tocam em Jesus que
é o Pão da Eucaristia, somos tão íntimos dele como Judas o era, e todos os
discípulos. Seria um erro pensarmos que o nosso pecado é bem menor que o de
Judas e de Pedro, na própria comunidade caímos em contradição, quem dirá
quando estamos fora dela. E por que agirmos dessa maneira, ao estilo de Pedro
ou de Judas? Por que diferente de Jesus de Mateus, buscamos a nossa vontade,
que coincide com a vontade de Pedro e de Judas: vencer pelo caminho mais
fácil, chegar á glória da ressurreição, sem ter de passar pelo triste trajeto
do calvário, que nos assusta e amedronta...
"Nós vos adoramos Senhor Jesus, e vos bendizemos, porque pela vossa
Santa Cruz remistes o mundo"
2. A COMUNHÃO ROMPIDA
O contexto do anúncio da traição
de Judas aponta para a ruptura da comunhão que a traição comportaria. Esta
seria consumada por alguém que partilhava a intimidade de Jesus, na condição
de companheiro de caminhada e missão. Sentar-se à mesma mesa simbolizava
comunhão de vida. A traição revelaria a hipocrisia de Judas no seu
relacionamento com Jesus. Não era quem dava a impressão de ser, e sim um
traidor travestido de amigo.
Judas, no entanto, não detinha o poder sobre a vida de Jesus. O evangelho
sublinha que o gesto dele estava inserido num contexto maior do desígnio
divino a respeito do Messias. Nem por isso sua responsabilidade foi menor. As
palavras terríveis que recaíram sobre ele não deixam dúvida a este respeito:
"Seria melhor que nunca tivesse nascido!".
Toda a cena é comandada por Jesus. É ele quem dá instruções precisas a
respeito do lugar onde deve ser preparada a ceia pascal, da pessoa que haveria
de ceder-lhes o local, da mensagem que lhe seria transmitida e dos detalhes
da preparação. Os discípulos obedecem prontamente, fazendo tudo conforme o
Mestre determinara.
Só Judas age na contramão da vontade do Mestre, mesmo que sua decisão, em
última análise, já estivesse no contexto da vontade de Deus. Nenhum discípulo
deveria seguir um tal exemplo.
Oração
Pai, reforça minha comunhão com teu Filho Jesus, de forma que nenhuma atitude
minha possa colocar em risco este relacionamento profundo propiciado por ti.
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CEIA
DO SENHOR - LAVAPÉS
(BRANCO, GLÓRIA, PREFÁCIO
DA EUCARISTIA – OFÍCIO PRÓPRIO)
Antífona da entrada: A cruz de nosso Senhor Jesus Cristo deve ser a nossa
glória: nele está nossa vida e ressurreição; foi ele que nos salvou e
libertou (Gl 6,14).
Primeira Leitura (Êxodo
12,1-8.11-14)
Leitura do livro do Êxodo.
12 1 O Senhor disse a Moisés e a
Aarão:
2 “Este mês será para vós o princípio dos meses: tê-lo-eis como o primeiro
mês do ano.
3 Dizei a toda a assembléia de Israel: no décimo dia deste mês cada um de vós
tome um cordeiro por família, um cordeiro por casa.
4 Se a família for pequena demais para um cordeiro, então o tomará em comum
com seu vizinho mais próximo, segundo o número das pessoas, calculando-se o
que cada um pode comer.
5 O animal será sem defeito, macho, de um ano; podereis tomar tanto um
cordeiro como um cabrito.
6 E o guardareis até o décimo quarto dia deste mês; então toda a assembléia
de Israel o imolará no crepúsculo.
7 Tomarão do seu sangue e pô-lo-ão sobre as duas ombreiras e sobre a verga da
porta das casas em que o comerem.
8 Naquela noite comerão a carne assada no fogo com pães sem fermento e ervas
amargas.
11 Eis a maneira como o comereis: tereis cingidos os vossos rins, vossas
sandálias nos pés e vosso cajado na mão. Comê-lo-eis apressadamente: é a
Páscoa do Senhor.
12 “Naquela noite, passarei através do Egito, e ferirei os primogênitos no
Egito, tanto os dos homens como os dos animais, e exercerei minha justiça
contra todos os deuses do Egito. Eu sou o Senhor.
13 O sangue sobre as casas em que habitais vos servirá de sinal (de
proteção): vendo o sangue, passarei adiante, e não sereis atingidos pelo
flagelo destruidor, quando eu ferir o Egito.
14 Conservareis a memória daquele dia, celebrando-o com uma festa em honra do
Senhor: fareis isso de geração em geração, pois é uma instituição perpétua.
Salmo responsorial 115/116
O cálice por nós abençoado
é a nossa comunhão com o sangue do Senhor.
Que poderei retribuir ao Senhor
Deus
por tudo aquilo que ele fez em meu favor?
Elevo o cálice da minha salvação,
invocando o nome santo do Senhor.
É sentida por demais pelo Senhor
a morte de seus santos, seus amigos.
Eis que sou o vosso servo, ó Senhor,
mas me quebrastes os grilhões da escravidão!
Por isso oferto um sacrifício de
louvor,
invocando o nome santo do Senhor.
Vou cumprir minhas promessas ao Senhor
na presença de seu povo reunido.
Segunda Leitura (1
Coríntios 11,23-26)
Leitura da carta de são Paulo aos Coríntios.
Irmãos, 11 23 eu recebi do
Senhor o que vos transmiti: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído,
tomou o pão
24 e, depois de ter dado graças, partiu-o e disse: "Isto é o meu corpo,
que é entregue por vós; fazei isto em memória de mim".
25 Do mesmo modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo:
"Este cálice é a Nova Aliança no meu sangue; todas as vezes que o
beberdes, fazei-o em memória de mim".
26 Assim, todas as vezes que comeis desse pão e bebeis desse cálice lembrais
a morte do Senhor, até que venha.
Aclamação do Evangelho
Glória a vós, ó Cristo, Verbo de
Deus.
Eu vos dou este novo mandamento, nova ordem agora vos dou, que, também, vos
ameis uns aos outros, como eu vos amei, diz o Senhor (Jo 13,34).
EVANGELHO (João 13,1-15)
13 1 Antes da festa da Páscoa,
sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo ao Pai, como amasse
os seus que estavam no mundo, até o extremo os amou.
2 Durante a ceia, - quando o demônio já tinha lançado no coração de Judas,
filho de Simão Iscariotes, o propósito de traí-lo -,
3 sabendo Jesus que o Pai tudo lhe dera nas mãos, e que saíra de Deus e para
Deus voltava,
4 levantou-se da mesa, depôs as suas vestes e, pegando duma toalha, cingiu-se
com ela.
5 Em seguida, deitou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos
e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido.
6 Chegou a Simão Pedro. "Mas Pedro lhe disse: Senhor, queres lavar-me os
pés!"
7 Respondeu-lhe Jesus: "O que faço não compreendes agora, mas
compreendê-lo-ás em breve".
8 Disse-lhe Pedro: "Jamais me lavarás os pés!" Respondeu-lhe Jesus:
"Se eu não tos lavar, não terás parte comigo".
9 Exclamou então Simão Pedro: "Senhor, não somente os pés, mas também as
mãos e a cabeça".
10 Disse-lhe Jesus: "Aquele que tomou banho não tem necessidade de
lavar-se; está inteiramente puro. Ora, vós estais puros, mas nem todos!"
11 Pois sabia quem o havia de trair; por isso, disse: "Nem todos estais
puros".
12 Depois de lhes lavar os pés e tomar as suas vestes, sentou-se novamente à
mesa e perguntou-lhes: "Sabeis o que vos fiz?
13 Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou.
14 Logo, se eu, vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis
lavar-vos os pés uns aos outros.
15 Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também
vós".
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. O Eucaristizado é
aquele que se Rebaixa... Para SERVIR
Por acaso em nossas famílias, celebram,-se
aniversários de grandes tragédias? Que Mãe iria querer celebrar com os
familiares amigos, o dia em que seu Filho foi preso, condenado injustamente e
passou por uma morte vergonhosa e extremamente humilhante? Coisas assim, a
gente quer ESQUECER, apagar da memória para sempre...
Na última Ceia, se trocarmos em miúdos, Jesus está dizendo aos seus
discípulos que ele quer que o seu sacrifício, a sua paixão e morte na cruz,
seja sempre lembrada em um ritual. Atentemos para um detalhe dos sinóticos e
do escrito Paulino "Jesus partiu o pão e o deu a seus discípulos
dizendo, tomai e comei pois este é o meu corpo...". Foi o que sobrou de
Jesus na cruz do calvário: seu corpo, massacrado, despedaçado, sem nenhuma
vida, comer o corpo de um morto e lembrar sempre do jeito que ele morreu. Que
ritual macabro é esse?
João toma outro rumo em sua reflexão com as comunidades do seu tempo: Aquele
ritual, aquela celebração tem algo de grandioso e belo por trás de tudo. Ser
rebaixado no último degrau do ser humano, aniquilar-se e deixar- esmagar, dar
o corpo, a Vida e o sangue, até a última gota, esse era o Serviço que Jesus
prestava á todos nós, lavou-nos não só os pés, mas todo o nosso ser passou
por esse banho da regeneração. Aquele que sentou com Jesus á mesa, e continua
a sentar-se hoje, aquele que ouve a sua palavra e a guarda em seu coração,
querendo junto com Ele fazer a Vontade do Pai, torna-se homem e mulher
Eucaristizado, cristianizado, é o mistério do Cristo em Nós.
Pois bem, esse deve ter força e humildade para também rebaixar-se diante de
todos, ser o último, para poder servir. Quando pensamos em nosso status e em
nossa importância, no cargo que ocupamos, na função que exercemos, é difícil
servir o irmão ou a irmã, que precisa de nós. Muitas vezes temos alguns
"Bicos de Papagaio" espiritual, que não nos deixa curvar diante do
outro, queremos servir, mas com certa arrogância e prepotência... De
servidores desse naipe, o inferno está cheio...
Por isso contemplemos nesse evangelho de João, o sentido real da praxis
Eucarística, que começa com o Vexame de um Deus, Grandioso e Onipotente,
Poderoso, Onipresente e Onisciente, que se abaixa diante do Ser humano, para
lavar-lhes os pés. Muitas vêzes como Pedro não aceitamos a idéia de um Deus
que se rebaixa, nós é que devemos nos rebaixar diante Dele...Exatamente isso,
só que esse Deus manifestado em Jesus está sempre bem escondido na vida dos
irmãos e irmãs a quem devemos servir, e que o Senhor coloca diante de nós.
Quem não vive para Servir, não serve para Viver...
2. É PRECISO
CONVERTER-SE!
A recusa de Pedro de deixar-se
lavar os pés revelou uma mentalidade da qual devia abrir mão como
pré-requisito para continuar a ser discípulo de Jesus. Sem isto, era
impossível ter parte com ele, e compartilhar de sua vida e missão.
Pedro comungava com a mentalidade hierarquizada da época, a qual determinava
a cada um o seu devido lugar. A relação entre mestre e discípulo era regulada
pela superioridade, sapiência, respeitabilidade de um, e pela inferioridade,
ignorância e submissão do outro. Ao discípulo competia comportar-se como
servidor do Mestre, por exemplo, lavando-lhe os pés após uma longa caminhada.
O comportamento de Jesus foi, totalmente, diferente. Foi o do escravo que
acolhe um hóspede que chega de viagem à casa de seu senhor. Lavar os pés do
visitante não cabia ao dono da casa, e sim aos servos.
O gesto de Jesus pareceu inaceitável a Pedro, pois rompia a hierarquia,
podendo gerar desrespeito. A mentalidade de Pedro era perigosa. Agindo assim,
corria o risco de introduzir na comunidade dos discípulos de Jesus o esquema
de senhor-escravo o qual o Mestre viera abolir. Corria o risco de pôr a
perder a obra de Jesus, contaminando-a com os modelos superados, próprios do
mundo do pecado. Era urgente que Pedro se convertesse e se convencesse de
que, no Reino, a grandeza consiste em fazer-se servidor de todos sem
distinção.
Oração
Pai, ajuda-me a superar os esquemas mundanos que rompem a fraternidade e me
reduzem aos esquemas do pecado, impedindo que eu me faça servidor do meu
próximo.
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PAIXÃO
DO SENHOR - DIA DE JEJUM E ABSTINÊNCIA
(VERMELHO
– OFÍCIO PRÓPRIO)
Antífona da entrada: (Não há Antífona de Entrada. O Presidente da Celebração
faz a reverência diante do altar e prostra-se por alguns instantes em silêncio. Em
seguida, levanta-se e reza a oração seguinte)
Primeira Leitura (Isaías
52,13-53,12)
Leitura do livro do profeta Isaías.
52 13 Eis que meu Servo
prosperará, crescerá, elevar-se-á, será exaltado.
14 Assim como, à sua vista, muitos ficaram embaraçados – tão desfigurado
estava que havia perdido a aparência humana -,
15 assim o admirarão muitos povos: os reis permanecerão mudos diante dele,
porque verão o que nunca lhes tinha sido contado, e observarão um prodígio
inaudito.
53 1 Quem poderia acreditar nisso que ouvimos? A quem foi revelado o braço do
Senhor?
2 Cresceu diante dele como um pobre rebento enraizado numa terra árida; não
tinha graça nem beleza para atrair nossos olhares, e seu aspecto não podia
seduzir-nos.
3 Era desprezado, era a escória da humanidade, homem das dores, experimentado
nos sofrimentos; como aqueles, diante dos quais se cobre o rosto, era
amaldiçoado e não fazíamos caso dele.
4 Em verdade, ele tomou sobre si nossas enfermidades, e carregou os nossos
sofrimentos: e nós o reputávamos como um castigado, ferido por Deus e
humilhado.
5 Mas ele foi castigado por nossos crimes, e esmagado por nossas iniqüidades;
o castigo que nos salva pesou sobre ele; fomos curados graças às suas chagas.
6 Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, seguíamos cada qual nosso
caminho; o Senhor fazia recair sobre ele o castigo das faltas de todos nós.
7 Foi maltratado e resignou-se; não abriu a boca, como um cordeiro que se
conduz ao matadouro, e uma ovelha muda nas mãos do tosquiador. (Ele não abriu
a boca.)
8 Por um iníquo julgamento foi arrebatado. Quem pensou em defender sua causa,
quando foi suprimido da terra dos vivos, morto pelo pecado de meu povo?
9 Foi-lhe dada sepultura ao lado de facínoras e ao morrer achava-se entre
malfeitores, se bem que não haja cometido injustiça alguma, e em sua boca
nunca tenha havido mentira.
10 Mas aprouve ao Senhor esmagá-lo pelo sofrimento; se ele oferecer sua vida
em sacrifício expiatório, terá uma posteridade duradoura, prolongará seus
dias, e a vontade do Senhor será por ele realizada.
11 Após suportar em sua pessoa os tormentos, alegrar-se-á de conhecê-lo até o
enlevo. O Justo, meu Servo, justificará muitos homens, e tomará sobre si suas
iniqüidades.
12 Eis por que lhe darei parte com os grandes, e ele dividirá a presa com os
poderosos: porque ele próprio deu sua vida, e deixou-se colocar entre os
criminosos, tomando sobre si os pecados de muitos homens, e intercedendo
pelos culpados.
Salmo responsorial 30/31
Ó Pai, em tuas mãos eu entrego o
meu espírito.
Senhor, eu ponho em vós minha
esperança;
que eu não fique envergonhado eternamente!
Em vossas mãos, Senhor, entrego o meu espírito,
porque vós me salvareis, ó Deus fiel!
Tornei-me o opróbrio do inimigo,
o desprezo e zombaria dos vizinhos
e objeto de pavor para os amigos;
fogem de mim os que me vêem pela rua.
Os corações me esqueceram como um morto,
e tornei-me como um vaso espedaçado.
A vós, porém, ó meu Senhor, eu
me confio
e afirmo que só vós sois o meu Deus!
Eu entrego em vossas mãos o meu destino;
libertai-me do inimigo e do opressor!
Mostrai serena a vossa face ao
vosso servo
e salvai-me pela vossa compaixão.
Fortalecei os corações, tende coragem,
todos vós que ao Senhor vos confiais!
Segunda Leitura (Hebreus
4,14-16; 5,7-9)
Leitura da carta aos Hebreus.
4 14 Temos, portanto, um grande
Sumo Sacerdote que penetrou nos céus, Jesus, Filho de Deus. Conservemos firme
a nossa fé.
15 Porque não temos nele um pontífice incapaz de compadecer-se das nossas
fraquezas. Ao contrário, passou pelas mesmas provações que nós, com exceção
do pecado.
16 Aproximemo-nos, pois, confiadamente do trono da graça, a fim de alcançar
misericórdia e achar a graça de um auxílio oportuno.
5 7 Nos dias de sua vida mortal, dirigiu preces e súplicas, entre clamores e lágrimas,
àquele que o podia salvar da morte, e foi atendido pela sua piedade.
8 Embora fosse Filho de Deus, aprendeu a obediência por meio dos sofrimentos
que teve.
9 E uma vez chegado ao seu termo, tornou-se autor da salvação eterna para
todos os que lhe obedecem.
Aclamação do Evangelho
Louvor e honra a vós, Senhor
Jesus.
Jesus Cristo se torno obediente, obediente até a morte numa cruz; pelo que o
Senhor Deus o exaltou e deu-lhe um nome muito acima de outro nome (Fl 2,8s).
EVANGELHO (João 18,1-19,42)
N: Narrador
P: Presidente
G: Grupo ou assembléia
L: Leitor
Paixão de nosso Senhor Jesus Cristo segundo João.
N: Naquele tempo, 1 Jesus saiu com os seus discípulos para além da torrente
de Cedron, onde havia um jardim, no qual entrou com os seus discípulos. 2
Judas, o traidor, conhecia também aquele lugar, porque Jesus ia
freqüentemente para lá com os seus discípulos. 3 Tomou então Judas a coorte e
os guardas de serviço dos pontífices e dos fariseus, e chegaram ali com
lanternas, tochas e armas. 4 Como Jesus soubesse tudo o que havia de lhe
acontecer, adiantou-se e perguntou-lhes:
P: A quem buscais?
N: 5 Responderam:
G: A Jesus de Nazaré.
N: Jesus respondeu:
P: Sou eu.
N: Também Judas, o traidor, estava com eles. 6 Quando lhes disse Sou eu,
recuaram e caíram por terra. 7 Perguntou-lhes ele, pela segunda vez:
P: A quem buscais?
N: Disseram:
P: A Jesus de Nazaré.
N: 8 Replicou Jesus:
P: Já vos disse que sou eu. Se é, pois, a mim que buscais, deixai ir estes.
N: 9 Assim se cumpriu a palavra que disse: “Dos que me deste não perdi
nenhum”. 10 Simão Pedro, que tinha uma espada, puxou dela e feriu o servo do
sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha direita. O servo chamava-se Malco. 11
Mas Jesus disse a Pedro:
P: Enfia a tua espada na bainha! Não hei de beber eu o cálice que o Pai me
deu?
N: 12 Então a corte, o tribuno e os guardas dos judeus prenderam Jesus e o
ataram. 13 Conduziram-no primeiro a Anás, por ser sogro de Caifás, que era o
sumo sacerdote daquele ano. Caifás fora quem dera aos judeus o conselho:
Convém que um só homem morra em lugar do povo. 15 Simão Pedro seguia Jesus, e
mais outro discípulo. Este discípulo era conhecido do sumo sacerdote e entrou
com Jesus no pátio da casa do sumo sacerdote, porém 16 Pedro ficou de fora, à
porta. Mas o outro discípulo, que era conhecido do sumo sacerdote, saiu e
falou à porteira, e esta deixou Pedro entrar. 17 A porteira perguntou a
Pedro:
L: Não és acaso também tu dos discípulos desse homem?
N: Respondeu Pedro:
L: Não o sou.
N: 18 Os servos e os guardas acenderam um fogo, porque fazia frio, e se
aqueciam. Com eles estava também Pedro, de pé, aquecendo-se. 19 O sumo
sacerdote indagou de Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina. 20
Jesus respondeu-lhe:
P: Falei publicamente ao mundo. Ensinei na sinagoga e no templo, onde se
reúnem os judeus, e nada falei às ocultas. 21 Por que me perguntas? Pergunta
àqueles que ouviram o que lhes disse. Estes sabem o que ensinei.
N: 22 A
estas palavras, um dos guardas presentes deu uma bofetada em Jesus, dizendo:
É assim que respondes ao sumo sacerdote? Replicou-lhe Jesus:
P: 23 Se falei mal, prova-o, mas se falei bem, por que me bates?
N: 24 Anás enviou-o preso ao sumo sacerdote Caifás. 25 Simão Pedro estava lá
se aquecendo. Perguntaram-lhe:
G: Não és porventura, também tu, dos seus discípulos?
N: Pedro negou:
L: Não!
N: 26 Disse-lhe um dos servos do sumo sacerdote, parente daquele a quem Pedro
cortara a orelha:
L: Não te vi eu com ele no horto?
N: 27 Mas Pedro negou-o outra vez, e imediatamente o galo cantou. 28 Da casa
de Caifás conduziram Jesus ao pretório. Era de manhã cedo. Mas os judeus não
entraram no pretório, para não se contaminarem e poderem comer a Páscoa. 29
Saiu, por isso, Pilatos para ter com eles, e perguntou:
L: Que acusação trazeis contra este homem?
N: 30 Responderam-lhe:
G: Se este não fosse malfeitor, não o teríamos entregue a ti.
N: 31 Disse, então, Pilatos:
L: Tomai-o e julgai-o vós mesmos segundo a vossa lei.
N: Responderam-lhe os judeus:
G: Não nos é permitido matar ninguém.
N: 32 Assim se cumpria a palavra com a qual Jesus indicou de que gênero de
morte havia de morrer. 33 Pilatos entrou no pretório, chamou Jesus e
perguntou-lhe:
L: És tu o rei dos judeus?
N: 34 Jesus respondeu:
P: Dizes isso por ti mesmo, ou foram outros que to disseram de mim?
N: 35 Disse Pilatos:
L: Acaso sou eu judeu? A tua nação e os sumos sacerdotes entregaram-te a mim.
Que fizeste?
N: 36 Respondeu Jesus:
P: O meu Reino não é deste mundo. Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus
súditos certamente teriam pelejado para que eu não fosse entregue aos judeus.
Mas o meu Reino não é deste mundo.
N: 37 Perguntou-lhe então Pilatos:
L: És, portanto, rei?
N: Respondeu Jesus:
P: Sim, eu sou rei. É para dar testemunho da verdade que nasci e vim ao
mundo. Todo o que é da verdade ouve a minha voz.
N: 38 Disse-lhe Pilatos:
L: O que é a verdade?
N: Falando isso, saiu de novo, foi ter com os judeus e disse-lhes:
L: Não acho nele crime algum. 39 Mas é costume entre vós que pela Páscoa vos
solte um preso. Quereis, pois, que vos solte o rei dos judeus?
N: 40 Então todos gritaram novamente e disseram:
G: 19 1 Não! A este não! Mas a Barrabás!
N: Barrabás era um salteador. Pilatos mandou então flagelar Jesus. 2 Os
soldados teceram de espinhos uma coroa e puseram-lha sobre a cabeça e
cobriram-no com um manto de púrpura. 3 Aproximavam-se dele e diziam:
G: Salve, rei dos judeus!
N: E davam-lhe bofetadas. 4 Pilatos saiu outra vez e disse-lhes:
L: Eis que vo-lo trago fora, para que saibais que não acho nele nenhum motivo
de acusação.
N: 5 Apareceu então Jesus, trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura.
Pilatos disse:
L: Eis o homem!
N: 6 Quando os pontífices e os guardas o viram, gritaram:
G: Crucifica-o! Crucifica-o!
N: Falou-lhes Pilatos:
L: Tomai-o vós e crucificai-o, pois eu não acho nele culpa alguma.
N: Responderam-lhe os judeus:
G: 7 Nós temos uma lei, e segundo essa lei ele deve morrer, porque se
declarou Filho de Deus.
N: 8 Estas palavras impressionaram Pilatos. 9 Entrou novamente no pretório e
perguntou a Jesus:
L: De onde és tu?
N: Mas Jesus não lhe respondeu. 10 Pilatos então lhe disse:
L: Tu não me respondes? Não sabes que tenho poder para te soltar e para te
crucificar?
N: 11 Respondeu Jesus:
P: Não terias poder algum sobre mim, se de cima não te fora dado. Por isso,
quem me entregou a ti tem pecado maior.
N: 12 Desde então Pilatos procurava soltá-lo. Mas os judeus gritavam:
G: Se o soltares, não és amigo do imperador, porque todo o que se faz rei se
declara contra o imperador.
N: 13 Ouvindo estas palavras, Pilatos trouxe Jesus para fora e sentou-se no
tribunal, no lugar chamado Lajeado, em hebraico Gábata.
14 Era a Preparação para a Páscoa, cerca da hora sexta. Pilatos disse aos
judeus:
L: Eis o vosso rei!
N: 15 Mas eles clamavam:
G: Fora com ele! Fora com ele! Crucifica-o!
N: Pilatos perguntou-lhes:
L: Hei de crucificar o vosso rei?
N: Os sumos sacerdotes responderam:
G: Não temos outro rei senão César!
N: 16 Entregou-o então a eles para que fosse crucificado. Levaram então
consigo Jesus. 17 Ele próprio carregava a sua cruz para fora da cidade, em
direção ao lugar chamado Calvário, em hebraico Gólgota.
18 Ali o crucificaram, e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no
meio. 19 Pilatos redigiu também uma inscrição e a fixou por cima da cruz.
Nela estava escrito: “Jesus de Nazaré, rei dos judeus”. 20 Muitos dos judeus
leram essa inscrição, porque Jesus foi crucificado perto da cidade e a
inscrição era redigida em hebraico, em latim e em grego. 21 Os sumos
sacerdotes dos judeus disseram a Pilatos:
G: Não escrevas: “Rei dos judeus”, mas sim: “Este homem disse ser o rei dos
judeus”.
N: 22 Respondeu Pilatos:
L: O que escrevi, escrevi.
N: 23 Depois de os soldados crucificarem Jesus, tomaram as suas vestes e
fizeram delas quatro partes, uma para cada soldado. A túnica, porém, toda
tecida de alto a baixo, não tinha costura. 24 Disseram, pois, uns aos outros:
G: Não a rasguemos, mas deitemos sorte sobre ela, para ver de quem será.
N: Assim se cumpria a Escritura: “Repartiram entre si as minhas vestes e
deitaram sorte sobre a minha túnica”. Isso fizeram os soldados. 25 Junto à
cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de
Cléofas, e Maria Madalena. 26 Quando Jesus viu sua mãe e perto dela o
discípulo que amava, disse à sua mãe:
P: Mulher, eis aí teu filho.
N: 27 Depois disse ao discípulo:
P: Eis aí tua mãe.
N: E dessa hora em diante o discípulo a levou para a sua casa. 28 Em seguida,
sabendo Jesus que tudo estava consumado, para se cumprir plenamente a
Escritura, disse:
P: Tenho sede.
N: 29 Havia ali um vaso cheio de vinagre. Os soldados encheram de vinagre uma
esponja e, fixando-a numa vara de hissopo, chegaram-lhe à boca. 30 Havendo
Jesus tomado do vinagre, disse:
P: Tudo está consumado.
N: Inclinou a cabeça e rendeu o espírito.
(Todos se ajoelham em silêncio)
N: 31 Os judeus temeram que os corpos ficassem na cruz durante o sábado,
porque já era a Preparação e esse sábado era particularmente solene. Rogaram
a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas e fossem retirados. 32 Vieram os
soldados e quebraram as pernas do primeiro e do outro, que com ele foram
crucificados. 33 Chegando, porém, a Jesus, como o vissem já morto, não lhe
quebraram as pernas, 34 mas um dos soldados abriu-lhe o lado com uma lança e,
imediatamente, saiu sangue e água. 35 O que foi testemunha desse fato o
atesta (e o seu testemunho é digno de fé, e ele sabe que diz a verdade), a
fim de que vós creiais. 36 Assim se cumpriu a Escritura: “Nenhum dos seus
ossos será quebrado”. 37 E diz em outra parte a Escritura: “Olharão para
aquele que transpassaram”. 38 Depois disso, José de Arimatéia, que era
discípulo de Jesus, mas ocultamente, por medo dos judeus, rogou a Pilatos a autorização
para tirar o corpo de Jesus. Pilatos permitiu. Foi, pois, e tirou o corpo de
Jesus. 39 Acompanhou-o Nicodemos (aquele que anteriormente fora de noite ter
com Jesus), levando umas cem libras de uma mistura de mirra e aloés. 40
Tomaram o corpo de Jesus e envolveram-no em panos com os aromas, como os
judeus costumam sepultar. 41 No lugar em que ele foi crucificado havia um
jardim, e no jardim um sepulcro novo, em que ninguém ainda fora depositado.
42 Foi ali que depositaram Jesus por causa da Preparação dos judeus e da
proximidade do túmulo.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. A Semente plantada em um jardim, tornará realidade
o Sonho de Deus
Além de ótimo Teólogo, São João
Evangelista era também poeta, aliás, o amigo Alex, professor de Teologia
Moral sempre diz que Poesia e Teologia tem tudo a ver, com certeza porque
ambas falam ao coração. Neste evangelho da Paixão do Senhor, João remonta ao
Jardim do Eden onde começou o desígnio de Deus a respeito do homem, Deus
plantou a humilde semente chamada Adão, como na parábola dos vinhateiros
cuidou dela com todo amor e carinho, colocou em seu redor a melhor terra,
protegeu-a com muros, fez uma torre de Vigia, preparou um lagar onde essa uva
de primeira qualidade se tornaria o vinho inebriante e inigualável das Bodas
de Caná, mas a uva ali produzida, em vez de doce tornou-se amarga... Como um
lavrador sábio e paciente Deus se recolheu a seu canto, aparentemente
abandonando a plantação que foi invadida e pisoteada pelos animais.
Entretanto Deus esperou o tempo oportuno para de novo plantar a semente e
esse tempo da plenitude chegou, com a encarnação do seu próprio Filho Jesus
Cristo.
O evangelho de hoje, contrapõe tristeza e alegria, derrota e gloria
, tragédia pleno êxito, João conta os fatos as avessas,olhando precisamente
com os olhos de Deus. podemos ilustrar a reflexão dizendo que João se
comporta como aquela mãe, que sentada em sua cadeira preferida faz paciente o
seu bordado á mão, nós homens somos como a criança que olha por baixo e vendo
o bordado as avessas não entende como a mãe se dedica a um trabalho que não
tem nada de bonito.
Que pode haver de belo nessa narrativa da paixão do Senhor, em uma ceia
marcada por momentos de tensão, a traição de Judas, o anuncio da negação de
Pedro, a prisão de Jesus no Horto das Oliveiras, as falsas testemunhas diante
do Sumo Sacerdote, e finalmente a sua caminhada até Pilatos de onde saiu
açoitado, massacrado, com a cruz aos ombros até o alto do morro onde iria ser
pregado no madeiro, e padecer um a morte horrível, vergonhosa e
humilhante?????
A Cristologia de João é alta e ele vê assim, de cima para baixo, e enxerga a
beleza do amor de Deus manifestado plenamente em Jesus Cristo, que
refaz em si Adão
e nós todos, iniciando a nova criação, não mais subordinada ao Mal mas livre
para tomar decisão, contrária as forças do mal...
No Jardim da torrente de Cedron tem início a tragédia e o inicio de uma
Vitória definitiva, ao mesmo tempo, quando Judas vem até o Mestre acompanhado
de seus inimigos para prendê-lo. Olhando por baixo do bordado, podemos
dizer que o sonho do novo Reino começa ali a se desfazer, porém, nosso irmão
João Evangelista não pensa assim, podem reparar na postura de Jesus...
"Consciente de tudo o que iria acontecer, saiu ao encontro deles.... A
quem procurais?" Jesus poderia ter pedido ajuda aos discípulos, se
esconder para dentro da mata, fazer uma oração forte ao Pai para acabar com
os seus perseguidores. Mas não! Livremente vai ao encontro do seu destino,
ninguém o prende, Ele se entrega. "Recuaram e caíram por terra..."
A liberdade, a decisão e a firmeza que eles vêem em Jesus os surpreende
fazendo-os cair por terra. É Jesus quem novamente toma a iniciativa, é ele
quem está no controle "A quem procurais?" e eles responderam "A
Jesus de Nazaré!"
Aqui nota-se como é grande o amor de Jesus pelos seus, não porque intercedeu
por eles, para que os soldados o deixassem ir em paz, mas porque deu a cada
um deles a liberdade de decidir, de que lado queriam ficar... Pedro queria
ficar com Ele, mas do seu modo, armado de uma espada e tentando resolver a
situação pela violência. É o pensamento humano da pós-modernidade que Pedro
ali representa. Que solução a maioria das pessoas propõe, para resolver o
problema da violência nas grandes metrópoles? Exatamente com mais violência,
quando a sociedade depara nos noticiários sensacionalistas da TV muitos
corpos de marginais mortos na invasão do morro, ou quando há algum massacre
em um grande presídio, a população vibra e sente-se de certa forma
"vingada". Somos todos da mesma opinião de Pedro, de que a
violência combate a violência. Para nossa decepção Deus não pensa assim pois
a atitude de Jesus mandando o velho Pedro guardar a espada, manifesta isso
claramente.
O episódio dramático e trágico tem o seu desfecho em um outro Jardim onde
Jesus, pelo gesto piedoso de José de Arimatéia, irá ser sepultado. Agora a
mãe terra receberá a semente definitiva do Novo Reino. Os que mataram Jesus
pensavam que o estavam esmagando e que tinham acabado com ele de vez, nem
imaginavam que apenas colaboravam na semeadura de um Reino que iria superar
todos os Reinos do Mundo. José de Arimatéia e Nicodemos é o cristão paciente
que ainda crê, apesar da grande tragédia que se abateu sobre eles, e porque
creem se dispõe a "plantar a semente" esmagada, triturada, no seio
da terra, alimentando no coração a esperança de que algo de novo vai
acontecer, a história há de ter um final feliz.
Que destino aguarda a humanidade? De tragédia em tragédia, e por conta de uma
violenta crise de valores e decadência moral, o homem se arrasta para o caos
das trevas sem nenhuma luz. Será que Deus abandonou a humanidade? Uma grande
maioria, inclusive de cristãos, perderam a esperança e fazem da religião do
Cristianismo apenas um consolo para as dores e decepções desta vida,
fechando-se em suas comunidades ou grupos, sentindo-se protegidos do terrível
mal que aflige a humanidade....José de Arimatéia pensa diferente, ele entra
no Palácio de Pilatos porque tem algo a dizer "Vai plantar a semente na
profundeza da terra, Pilatos autoriza o sepultamento de Jesus, que mal pode
fazer um cadáver ? Tudo o que Jesus representava de ameaça e perigo, contra a
Religião Oficial e o Império Romano, agora não mais existia, sobrou de Jesus
um corpo rígido, um cadáver cheio de marcas da violência, era preciso mesmo
enterrá-lo para tirá-lo dos pensamentos, do coração e da consciência. Morto e
enterrado!
Hoje os poderosos que também manipulam, enganam, mentem, massacram e oprimem,
fizeram a sua opção por um Cristo morto, preso nas igrejas, e que não
incomoda a ninguém, um Cristo impotente para influenciar o homem em suas
decisões pelo Bem, uma lembrança de alguém que tornou-se célebre para toda
humanidade, mas que já passou....
A postura firme de Jesus diante dos seus inquisidores, a sua determinação em
levar adiante a missão que o Pai lhe confiou, a sua firmeza diante dos
poderosos desse mundo, e o seu despojamento para Servir a todos, resgatando
todos os homens das garras do mal, deve servir nessa sexta feira como um
grito de incentivo e alerta para nossas comunidades. Em meio a tanto desânimo
e falta de esperança, entre tantos corações que perderam a capacidade de
sonhar, precisamos nos arriscar como José de Arimatéia e transformar tantos
enterros em semeaduras, confiantes de que a Vida é mais forte que a morte, e
de que em cada tragédia a Vida se refaz e o Reino sem torna mais forte e
indestrutível, os homens não conseguirão impedir que o Sonho de Deus se torne
realidade, esta é a grande lição dessa Sexta Feira Santa, para todos nós.
2. O REI ULTRAJADO
A paixão revelou a dignidade
real de Jesus, embora, tenha havido uma radical contradição entre a
interpretação de Jesus e a dos seus inimigos e algozes.
Ao ser interrogado por Pilatos, Jesus respondeu: "Eu sou rei",
depois de fazer a autoridade romana concluir, por si mesma: "Tu o
dizes!"
A soldadesca insana ultrajou Jesus, servindo-se de mímicas burlescas próprias
de uma investidura real: colocaram-lhe uma coroa de espinhos na cabeça,
vestiram-no com um manto de púrpura. A seguir, prostraram-se, ironicamente,
diante dele, saudando-o como rei dos judeus.
Por ordem de Pilatos, foi preparada uma inscrição, em três línguas, para ser
afixada sobre a cabeça de Jesus, indicando a causa da condenação: "Jesus
nazareno, rei dos judeus". Alertado a mudar o teor da inscrição, Pilatos
apelou para a sua autoridade: "O que escrevi, está escrito". O
evangelista observa que muitos judeus leram a inscrição, por ter sido Jesus
crucificado perto da cidade.
O Mestre, porém, tinha consciência de que seu Reino não era deste mundo, e
estava estruturado de maneira diferente. Fundava-se na fraternidade, na
justiça, na partilha, no perdão reconciliador. Os reinos deste mundo não
serviam de modelo para Jesus fazer os discípulos entenderem o que se passava
com o seu Reino. Por conseguinte, nem Pilatos nem os judeus tinham condições
de compreender em que sentido Jesus era rei.
Oração
Pai, confirma minha condição de discípulo do Reino instaurado por Jesus na
história humana, fazendo-me acreditar sempre mais na força da justiça e do
amor.
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VIGÍLIA
PASCAL
(BRANCO,
GLÓRIA, PREFÁCIO DA PÁSCOA I – OFÍCIO PRÓPRIO)
Antífona da entrada: (A celebração da Vigília Pascal inicia com a saudação
do Presidente, diante da Igreja, em torno do fogo aceso)
Primeira Leitura
(Gênesis 1,1.26-31 (versão breve))
Leitura do livro do Gênesis.
1 1 No princípio, Deus criou os
céus e a terra.
26 Então Deus disse: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que
ele reine sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais
domésticos e sobre toda a terra, e sobre todos os répteis que se arrastem
sobre a terra."
27 Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e
a mulher.
28 Deus os abençoou: "Frutificai, disse ele, e multiplicai-vos, enchei a
terra e submetei-a. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e
sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra."
29 Deus disse: "Eis que eu vos dou toda a erva que dá semente sobre a
terra, e todas as árvores frutíferas que contêm em si mesmas a sua semente,
para que vos sirvam de alimento. 30 E a todos os animais da terra, a todas as
aves dos céus, a tudo o que se arrasta sobre a terra, e em que haja sopro de
vida, eu dou toda erva verde por alimento." E assim se fez. 31 Deus
contemplou toda a sua obra, e viu que tudo era muito bom.
Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o sexto dia.
Salmo responsorial 103/104
Enviai o vosso Espírito, Senhor,
e da terra toda a face renovai.
Bendize, ó minha alma, ao
Senhor!
Ó meu Deus e meu Senhor, como sois grande!
De majestade e esplendor vos revestir
e de luz vos envolveis como num manto.
A terra vós firmastes em suas
bases,
ficará firme pelos séculos sem fim;
os mares a cobriam como um manto,
e as águas envolviam as montanhas.
Fazeis brotar em meio aos vales
as nascentes
que passam serpeando entre as montanhas;
às suas margens vêm morar os passarinhos,
entre os ramos eles erguem o seu canto.
De vossa casa as montanhas
irrigais,
com vossos frutos saciais a terra inteira;
fazeis crescer os verdes pastos para o gado
e as plantas que são úteis para o homem.
Quão numerosas, ó Senhor, são
vossas obras,
e que sabedoria em todas elas!
Encheu-se a terra com as vossas criaturas!
Bendize, ó minha alma, ao Senhor!
Segunda Leitura (Romanos
6,3-11)
Leitura da carta de são Paulo aos Romanos.
Irmãos, 6 3 ou ignorais que
todos os que fomos batizados em Jesus Cristo, fomos batizados na sua morte?
4 Fomos, pois, sepultados com ele na sua morte pelo batismo para que, como
Cristo ressurgiu dos mortos pela glória do Pai, assim nós também vivamos uma
vida nova.
5 Se fomos feitos o mesmo ser com ele por uma morte semelhante à sua,
sê-lo-emos igualmente por uma comum ressurreição.
6 Sabemos que o nosso velho homem foi crucificado com ele, para que seja
reduzido à impotência o corpo (outrora) subjugado ao pecado, e já não sejamos
escravos do pecado.
7 (Pois quem morreu, libertado está do pecado.)
8 Ora, se morremos com Cristo, cremos que viveremos também com ele,
9 pois sabemos que Cristo, tendo ressurgido dos mortos, já não morre, nem a
morte terá mais domínio sobre ele.
10 Morto, ele o foi uma vez por todas pelo pecado; porém, está vivo, continua
vivo para Deus!
11 Portanto, vós também considerai-vos mortos ao pecado, porém vivos para
Deus, em Cristo Jesus.
Aclamação do Evangelho
Evangelho (Lucas 24,1-12)
24 1 No primeiro dia da
semana, muito cedo, dirigiram-se ao sepulcro com os aromas que haviam
preparado.
2 Acharam a pedra removida longe da abertura do sepulcro.
3 Entraram, mas não encontraram o corpo do Senhor Jesus.
4 Não sabiam elas o que pensar, quando apareceram em frente delas dois
personagens com vestes resplandecentes.
5 Como estivessem amedrontadas e voltassem o rosto para o chão, disseram-lhes
eles: “Por que buscais entre os mortos aquele que está vivo?”
6 Não está aqui, mas ressuscitou. Lembrai-vos de como ele vos disse, quando
ainda estava na Galiléia:
7 “O Filho do Homem deve ser entregue nas mãos dos pecadores e crucificado,
mas ressuscitará ao terceiro dia”.
8 Então elas se lembraram das palavras de Jesus.
9 Voltando do sepulcro, contaram tudo isso aos Onze e a todos os demais.
10 Eram elas Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago; as outras suas
amigas relataram aos apóstolos a mesma coisa.
11 Mas essas notícias pareciam-lhes como um delírio, e não lhes deram
crédito.
12 Contudo, Pedro correu ao sepulcro; inclinando-se para olhar, viu só os
panos de linho na terra. Depois, retirou-se para a sua casa, admirado do que
acontecera.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. Apesar de Você...
Amanhã há de ser Outro Dia...
Difícil a gente se esquecer
desse Samba do Chico Buarque de Holanda, cantor e compositor da MPB e dos
melhores. Esse refrão era o grito de esperança que o poeta conseguiu arrancar
da garganta de um povo triste e oprimido, pelo poder que o deveria proteger.
Deus arrancou do fundo da terra, da escuridão do sepulcro seu Filho Jesus,
grito de alegria não mais apenas de uma nação mas de toda humanidade. O poder
religioso e imperialista daquele tempo tinham certeza de que haviam acabado
definitivamente com Jesus de Nazaré e o seu sonho de um Reino Novo. A morte,
a violência, a mentira, as falsas testemunhas, o grito de crucifica-o,
crucifica-o, tudo havia ficado para trás, tudo havia passado como aquele
sábado em Jerusalém, que mudou a história da humanidade e o destino de cada
homem...
As mulheres compram perfumes para saudar a Vida Nova que estava chegando, era
bem cedo, o primeiro dia da semana, ao nascer do sol....A primeira manhã da
Nova criação, podemos imaginar o impacto positivo que aconteceu nas primeiras
comunidades, ao lerem essa narrativa de São Lucas. Tudo novo, tudo renovado,
bem longe vão as trevas da Sexta Feira Santa, agora tudo é luz, tudo é sol,
tudo se refaz com o Cristo que sai da terra e ressurge glorioso.
No caminho das mulheres havia uma pedra e depois da pedra o corpo inerte de
um homem que elas amavam e queriam prestar-lhe a última homenagem, ungindo
com aroma agradável o seu pobre corpo. De repente não havia mais pedra e no
sepulcro a agradável surpresa, em vez de um morto um Ser Vivente de vestes
brancas que dialoga com elas não um diálogo de amargura, de choramingos pela
tragédia ocorrida, mas de Vida, de Boa notícia, da melhor Boa notícia que o
mundo precisava ouvir: Na escuridão da morte brilhou uma Luz que nunca mais
irá se apagar!
Nada de medo e de ficar olhando para o chão, essa é a postura de quem perdeu
e foi tragado pela grande tragédia. Aquele que elas pensavam estar morto
naquela tumba, está vivo!
O crucificado é o Ressuscitado! É o mesmo e não outro, o Cristo esmagado
pelos homens ressurgiu na Glória de Deus, o túmulo está vazio. Algo de novo
vai começar na Galiléia e caberá aos discípulos fazer ao mundo esse anúncio.
O Cristão não anuncia uma possibilidade de Vida no pós morte: ele anuncia que
a Vida verdadeira de cada ser humano está escondida em Cristo e que um dia
será manifestada, Nele um dia experimentaremos esse gosto de Vitória, e o
Vale da Morte que pensamos ser o nosso fim, é apenas um caminho que vai mais
além, lá onde a LUZ de Deus manifestada aos Homens em Cristo Jesus se
tornará definitiva.
Apesar do Mal, apesar da mentira, apesar da violência, da injustiça, apesar
dos desânimos e fracassos, AMANHÃ há de ser outro dia e agora vem o melhor da
nossa reflexão: Em Cristo esse novo AMANHÃ já chegou, para todos os que Nele
creem e percorrem o caminho do Discipulado, alimentando essa esperança que
não morre!
2. À ESPERA DA
RESSURREIÇÃO
A morte e a sepultura de Jesus
impactou profundamente os discípulos. Eles não compreendiam como o Mestre,
tão justo e fiel a Deus, tivesse padecido a morte dos malfeitores; como
tivesse sido reduzido à mais total impotência e fraqueza, já que se
manifestara poderoso em gestos e palavras; como pudesse ter morrido no mais
total abandono, tendo sempre vivido em profunda comunhão com Deus e servido
incansavelmente ao povo.
Quem havia considerado Jesus um Messias político e esperado dele a libertação
do jugo romano, passava pela decepção de ver seus planos frustrados. Quem
havia nutrido uma grande amizade por ele, chorava a perda do amigo querido,
na dor da saudade de não tê-lo mais junto de si.
Num primeiro momento, a comunidade dos discípulos considerou a morte de Jesus
num prisma puramente humano, não contando com a intervenção do Pai. Por isso,
o dia seguinte à sepultura foi tempo de dor e perplexidade para eles, diante
da perda do Mestre.
Porém, a Ressurreição ofereceu uma luz nova para a compreensão da morte de
Jesus, e levou a comunidade cristã a transformar em tempo de esperança aquele
que medeia a morte e sepultura do Senhor e sua Ressurreição. O grão de trigo,
tendo sido lançado à terra e morrido, estava destinado a produzir frutos de
vida para a humanidade.
Oração
Senhor Jesus, abre o meu coração para a esperança, que me leva a superar o
desespero e a frustração diante do mistério da cruz.
|
Liturgia do Domingo — 31.03.2013
Domingo de Páscoa e da Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo — ANO C
(BRANCO,
GLÓRIA, SEQUÊNCIA, CREIO, PREFÁCIO DA PÁSCOA I – I SEMANA DO SALTÉRIO)
__ "Feliz Páscoa - Festa da Ressurreição" __
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados
irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO
DOMINICAL PULSANDINHO: É
Páscoa. A vida venceu a morte. A liturgia deste domingo celebra a
ressurreição e garante-nos que a vida em plenitude resulta de uma existência feita
dom e serviço em favor dos irmãos. Por isso, o acontecimento histórico da
ressurreição de Jesus coloca no mundo uma nova pedra angular onde construir a
vida pessoal e social. Para que isso aconteça, faz- -se necessário que nos
deixemos iluminar e levedar pelo esplendor da ressurreição e nos tornemos
discípulos e discípulas de Jesus. Em diálogo amoroso com o Ressuscitado,
somos por Ele alimentados e, como novas criaturas, assumimos a missão de
testemunhas da vida nova e da paz.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO DOMINICAL
O POVO DE DEUS: Como
diz o salmo 117(118), este é o dia que o Senhor fez para nós; alegremo-nos,
pois, e nele exultemos. A vida venceu a morte! O Cristo ressuscitou!
Celebremos, então, o Domingo da Páscoa como a Eucaristia mais jubilosa da
liturgia cristã.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Hoje ressoa na Igreja o anúncio pascal: Cristo
Ressuscitou; ele vive para além da morte; é o Senhor dos vivos e dos mortos.
Na "noite mais clara que o dia" a palavra onipotente de Deus, que
criou os céus e a terra e formou o homem à sua imagem e semelhança, chama a
uma vida imortal o homem novo, Jesus de Nazaré, Filho de Deus e Filho de
Maria.
Sintamos em nossos corações a
alegria da Ressurreição e entoemos alegres cânticos ao Senhor!
PÁSCOA
DA RESSURREIÇÃO
(BRANCO, GLÓRIA,
SEQUÊNCIA, CREIO, PREFÁCIO DA PÁSCOA I – I SEMANA DO SALTÉRIO)
Antífona da entrada: Ressuscitei, ó Pai, e sempre estou contigo: pousaste
sobre mim a tua mão, tua sabedoria é admirável, aleluia! (Sl 138,18.5s)
Comentário das Leituras: A Liturgia da Palavra proclama a alegria da Igreja pela
ressurreição de Jesus, ao mesmo tempo que convoca a cada um de nós a ser
anunciador e testemunha da ressurreição do Senhor. O modo como testemunhamos
a ressurreição é promovendo a vida nova e a vida plena em nosso meio. Ouçamos
as leituras para vivermos na fé o mesmo júbilo dos primeiros discípulos no
dia de hoje.
Primeira Leitura (Atos
10,34.37-43)
Leitura dos Atos dos Apóstolos.
10 34 Então Pedro tomou a
palavra e disse: “Em verdade, reconheço que Deus não faz distinção de
pessoas,
37 Vós sabeis como tudo isso aconteceu na Judéia, depois de ter começado na
Galiléia, após o batismo que João pregou.
38 Vós sabeis como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com o
poder, como ele andou fazendo o bem e curando todos os oprimidos do demônio,
porque Deus estava com ele.
39 E nós somos testemunhas de tudo o que fez na terra dos judeus e em Jerusalém. Eles
o mataram, suspendendo-o num madeiro.
40 Mas Deus o ressuscitou ao terceiro dia e permitiu que aparecesse,
41 não a todo o povo, mas às testemunhas que Deus havia predestinado, a nós
que comemos e bebemos com ele, depois que ressuscitou.
42 Ele nos mandou pregar ao povo e testemunhar que é ele quem foi constituído
por Deus juiz dos vivos e dos mortos.
43 Dele todos os profetas dão testemunho, anunciando que todos os que nele
crêem recebem o perdão dos pecados por meio de seu nome”.
Salmo responsorial
117/118
Este é o dia que o Senhor fez
para nós:
alegremo-nos e nele exultemos!
Dai graças ao Senhor, porque ele
é bom!
“Eterna é a sua misericórdia!”
A casa de Israel agora o diga:
“Eterna é a sua misericórdia!”
A mão direita do Senhor fez
maravilhas,
a mão direita do Senhor me levantou.
Não morrerei, mas, ao contrário, viverei
para cantar as grandes obras do Senhor!
A pedra que os pedreiros
rejeitaram
tornou-se agora a pedra angular.
Pelo Senhor é que foi feito tudo isso:
que maravilhas ele fez a nossos olhos!
Segunda Leitura (Colossenses
3,1-4)
Leitura da carta de são Paulo aos Colossenses.
3 1 Se, portanto, ressuscitastes
com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo está sentado à direita
de Deus.
2 Afeiçoai-vos às coisas lá de cima, e não às da terra.
3 Porque estais mortos e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.
4 Quando Cristo, vossa vida, aparecer, então também vós aparecereis com ele
na glória.
Seqüência
Cantai, cristãos, afinal: “Salve ó
vítima Pascal!” Cordeiro inocente, o Cristo abriu-nos do Pai o aprisco. Por
toda ovelha imolado, do mundo lava o pecado. Duelam forte e mais forte: é a
vida que enfrenta a morte. O rei da vida, cativo, é morto, mas reina vivo!
Responde, pois, ó Maria: no teu caminho o que havia? “Vi Cristo ressuscitado,
o túmulo abandonado. Os anjos da cor do sol, dobrado ao chão o lençol. O
Cristo, que leva aos céus, caminha à frente dos seus!” Ressuscitou de
verdade. Ó rei, ó Cristo, piedade!
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
O nosso cordeiro pascal, Jesus Cristo, já foi imolado. Celebremos, assim,
esta festa na sinceridade e verdade (1Cor 5,7s).
EVANGELHO (João 20,1-9)
20 1 No primeiro dia que se
seguia ao sábado, Maria Madalena foi ao sepulcro, de manhã cedo, quando ainda
estava escuro. Viu a pedra removida do sepulcro.
2 Correu e foi dizer a Simão Pedro e ao outro discípulo a quem Jesus amava:
“Tiraram o Senhor do sepulcro, e não sabemos onde o puseram!”
3 Saiu então Pedro com aquele outro discípulo, e foram ao sepulcro.
4 Corriam juntos, mas aquele outro discípulo correu mais depressa do que
Pedro e chegou primeiro ao sepulcro.
5 Inclinou-se e viu ali os panos no chão, mas não entrou.
6 Chegou Simão Pedro que o seguia, entrou no sepulcro e viu os panos postos
no chão.
7 Viu também o sudário que estivera sobre a cabeça de Jesus. Não estava,
porém, com os panos, mas enrolado num lugar à parte.
8 Então entrou também o discípulo que havia chegado primeiro ao sepulcro. Viu
e creu.
9 Em verdade, ainda não haviam entendido a Escritura, segundo a qual Jesus
devia ressuscitar dentre os mortos.
TEXTOS BÍBLICOS PARA A SEMANA:
2ª Br - At 2,14.22-32; Sl 15; Mt 28,8-15
3ª Br - At 2,36-41; Sl 32; Jo 20,11-18
4ª Br - At 3,1-10; Sl 104; Lc 24,13-35
5ª Br - At 3,11-26; Sl8; Lc 24,35-48
6ª Br - At 4,1-12; Sl 117; Jo 21,1-14
Sb Br - At 4, 13-21; Sl 117; Mc 16,9-15
2º DOM. DA PÁSCOA Domingo da Divina
Misericórdia. At 5,12-16; Sl 117 (118),2-4. 22-24. 25-27a (R/. 1); Ap
1,9-11a.12-13.17-19; Jo 20,19-31 (Tomé)
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. O SENTIDO VERDADEIRO
DA PÁSCOA
A palavra Páscoa tem sua origem
no hebraico “Pascha” que significa passagem, e no Judaísmo está
contextualizada no fato histórico ocorrido em 1250 A.C que foi a
libertação do povo hebreu da escravidão do Egito. A narrativa encontra-se no
livro do Êxodo, que pertence ao Pentatêutico, conjunto dos cinco primeiros
livros da Sagrada Escritura, cuja autoria é atribuída a Moisés. O ritual da
páscoa judaica segue as determinações dadas pelo próprio Deus ao Sacerdote
Aarão conforme Êxodo 12, 1-8.11-14 e o fato histórico, com esse caráter
religioso, tornou-se para o Povo um memorial da noite em que Deus os libertou da
escravidão do Egito, através de Moisés, derrotando o império do
Faraó.Anteriormente a páscoa era uma Festa dos Pastores, que comemoravam a
passagem do inverno para a primavera quando por ocasião do degelo, e surgindo
a primeira vegetação à luz do sol, os animais deixavam suas tocas, sendo essa
a origem do Coelhinho da Páscoa e do ovo, que ao ter a sua casca quebrada
deixa romper a vida que há dentro dele.
A libertação do Povo da escravidão do Egito é o acontecimento mais importante
na tradição religiosa de Israel que o tornou um memorial celebrado no ritual
judaico, preceito estabelecido pelo próprio Deus, muito rico em sua
simbologia.Trata-se de uma refeição feita em pé, com os rins cingidos,
sandálias nos pés e o cajado na mão, como quem está de partida “comereis as
pressas, pois é Páscoa do Senhor”. O sangue do Cordeiro imolado irá marcar o
batente das portas dos que iriam ser salvos do anjo exterminador, e as ervas
amargas lembram a escravidão e o sofrimento que o povo passou.
Jesus de Nazaré, filho de Maria e de José, tendo passado pelo rito iniciático
do Judaísmo, freqüentava o templo e a sinagoga, como qualquer judeu
fervoroso. Não era sua intenção fundar uma nova religião, mas sim resgatar a
essência na relação dos homens para com Deus, que o judaísmo havia perdido
por causa do rigorismo do seu preceito e dos seus ritos purificatórios. O
fenômeno do messianismo era muito comum naquele tempo, como hoje quando surgem
a cada dia novos pregadores em cada esquina, mas somente Jesus é o verdadeiro
e único messias, aquele que fora anunciado pelos profetas, o Ungido de Deus,
descendente da estirpe de Davi, o grande Rei porém, na medida em que Jesus vai
manifestando quem ele é, e o seu modo de viver, convivendo com os pecadores
impuros, curando em dia de Sábado e fazendo um ensinamento novo que
estabelecia novas relações com Deus e com o próximo.
Tudo isso foi gerando um descontentamento nas lideranças religiosas que de
repente começaram a vê-lo como uma séria ameaça a estrutura religiosa
existente, e a expulsão dos vendedores e cambistas do templo foi a gota dágua
que faltava para à sua condenação, sendo dois os motivos que o levaram à
morte: o primeiro de caráter religioso, pois ele se dizia Filho de Deus e
isso constituía-se uma blasfêmia diante do judaísmo, o segundo de caráter
político, Jesus veio para ser Rei dos Judeus, representando uma ameaça ao
augusto Cezar Soberano do império Romano.
O Povo esperava um Messias Libertador político para restaurar a realeza em
Israel, que se encontrava sob a dominação dos romanos. É essa a moldura
histórica dos fatos que marcaram a vida de Jesus, nos seus três anos de vida
pública, desde que deixara a casa de seus pais em Nazaré e dera início as
suas pregações tendo formado o Grupo dos discípulos.Logo após sua morte e
ressurreição, nas primeiras comunidades apostólicas (dirigidas pelos
apóstolos) se perguntava por que Jesus havia morrido? Nas reuniões que
ocorriam aos domingos, porque Jesus havia ressuscitado na madrugada de um
Domingo, os apóstolos faziam a Fração do Pão, recordando tudo o que Jesus fez
e ensinou, concentrando suas pregações na morte e ressurreição. E assim
começou-se a se fazer as primeiras anotações sobre Jesus e mais tarde, entre
os anos 60 e 70, surgiram os evangelhos que revelavam, não só porque Jesus
havia morrido, mas também como e onde havia nascido e de como vivera a sua
vida fazendo o bem, anunciando um reino novo sempre na fidelidade e
obediência ao Pai e no amor aos seus irmãos.
A Ressurreição de Jesus é um fato apenas compreensível e aceitável à luz da
Fé, que é um dom de Deus concedido aos homens, pois o momento da ressurreição
não foi presenciado por ninguém e o que as mulheres viram, segundo o relato
dos evangelhos sinópticos, foram os “sinais” da ressurreição: túmulo vazio,
os panos dobrados e colocados de lado, e ainda um personagem que dialoga com
Madalena, confundido por ela com um jardineiro, que anuncia que Jesus de
Nazaré não estava mais entre os mortos porque havia ressuscitado.As mulheres
tornaram-se desta forma as primeiras anunciadoras da ressurreição aos
apóstolos. Outra evidência foram as aparições de Jesus Ressuscitado aos seus
discípulos, reunidos em comunidade conforme relato do livro do Ato dos
Apóstolos. Não se tratam de aparições sensacionalistas para causar impacto e
evidenciar a vitória de Jesus sobre os que conspiraram a sua morte, mas sim
de um Deus vivo e solidário com os que nele crêem, para encorajar a
comunidade dos apóstolos, que tiveram a princípio muita dificuldade para
vencer o medo e descrença, que abateu-se sobre eles com a morte de Jesus.
A Ressurreição de Cristo está no centro da Fé cristã, que é, segundo o
pensamento Paulino, a garantia de nossa ressurreição, que não pode e nem deve
ser compreendida como uma simples volta a esta vida porque se trata de uma
realidade sobrenatural entendida e aceita pela Fé, e não de um fato
científico. O Cristo Ressurrecto apresenta um corpo glorioso! É este o
destino feliz dos que crêem e vivem essa esperança que brota da Fé, pois a
Vida venceu a morte!
Celebrar a Páscoa é celebrar esta Vida Nova de toda a humanidade, que
irrompeu da escuridão do túmulo com o homem Jesus de Nazaré. É a passagem do
pecado para a graça de Deus, das trevas para a luz, da Morte para a Vida ,
porque o espírito Paráclito que Cristo deu à sua igreja no dia de
Pentecostes, tudo renova e permite que, caminhando na Fé, já desfrutemos,
ainda que de maneira imperfeita, dessa comunhão íntima com Deus, no Cristo
glorioso que nos acompanha nessa jornada terrestre, e que nos acolherá um dia
na plenitude da Vida Eterna.
Uma feliz Páscoa a todos!
2. O SEPULCRO VAZIO
(O comentário do Evangelho abaixo é feito pelo Pe. Jaldemir Vitório –
Jesuíta, Doutor em
Exegese Bíblica, Professor da FAJE – e disponibilizado no Portal
Dom Total a cada mês).
Os discípulos começaram a se dar
conta da ressurreição do Senhor, ao se depararem com o sepulcro vazio. Maria
Madalena, alarmada, pensou que o corpo de Jesus tivesse sido retirado, à
surdina, e colocado num outro lugar. Pedro, tendo acorrido para se inteirar
dos fatos, apenas constatou onde estavam o lençol e os demais panos com que
Jesus havia sido envolvido. O discípulo amado, este sim, começou a perceber
que algo de muito extraordinário havia acontecido. Por isso, foi capaz de
passar da constatação do sepulcro vazio à fé: "Ele viu e
acreditou".
O sepulcro vazio, por si só, não podia servir de prova para a ressurreição do
Senhor. Seria sempre possível acusar os cristãos de fraude. Poderiam ter dado
sumiço ao cadáver de Jesus, e sair dizendo que ele ressuscitara. Era preciso
ir além e descobrir, de fato, onde estava o corpo do Mestre.
O discípulo amado, de imediato, cultivou a esperança de encontrar-se com o
Senhor. Sua fé consistiu na certeza de que o Mestre estava vivo, não no
sepulcro, porque ali não era o seu lugar. Senhor da vida, não poderia ter
sido derrotado pela morte. Filho amado do Pai, as forças do mal não poderiam
prevalecer sobre ele. Embora sem ter chegado ao pleno conhecimento do fato, a
fé na ressurreição despontava no coração do discípulo amado.
Oração
Espírito de ressurreição, como o discípulo amado, creio que o Crucificado
venceu a morte e as forças do mal.
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