Liturgia da Segunda Feira — 14.01.2012
I
SEMANA DO TEMPO COMUM
(VERDE – OFÍCIO DO DIA DA I
SEMANA DO SALTÉRIO)
Antífona da entrada: Ergamos os nossos olhos para aquele que tem o céu como
trono; a multidão dos anjos o adora, cantando a uma só voz: Eis aquele cujo
poder é eterno.
Leitura (Hebreus 1,1-6)
Leitura da carta aos Hebreus.
1 1 Muitas vezes e de diversos
modos outrora falou Deus aos nossos pais pelos profetas. 2 Ultimamente nos
falou por seu Filho, que constituiu herdeiro universal, pelo qual criou todas
as coisas. 3 Esplendor da glória (de Deus) e imagem do seu ser, sustenta o
universo com o poder da sua palavra. Depois de ter realizado a purificação
dos pecados, está sentado à direita da Majestade no mais alto dos céus, 4 tão
superior aos anjos quanto excede o deles o nome que herdou.
5 Pois a quem dentre os anjos disse Deus alguma vez: "Tu és meu Filho;
eu hoje te gerei?" Ou então: "Eu serei seu Pai e ele será meu
Filho?"
6 E novamente, ao introduzir o seu Primogênito na terra, diz: "Todos os
anjos de Deus o adorem".
Salmo responsorial 96/97
Adorai o Senhor Deus, vós anjos
todos!
Deus é rei! Exulte a terra de
alegria,
e as ilhas numerosas rejubilem!
Treva e nuvem o rodeiam no seu trono,
que se apóia na justiça e no direito.
E assim proclama o céu sua justiça,
todos os povos podem ver a sua glória.
Aos pés de Deus vêm se prostrar todos os deuses!
Porque vós sois o Altíssimo,
Senhor,
muito acima do universo que criastes,
e de muito superais todos os deuses.
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Convertei-vos e crede no Evangelho, pois o reino de Deus está chegando! (Mc
1,15).
Evangelho (Marcos
1,14-20)
1 14 Depois que João foi
preso, Jesus dirigiu-se para a Galiléia. Pregava o Evangelho de Deus, e
dizia:
15 "Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo; fazei
penitência e crede no Evangelho."
16 Passando ao longo do mar da Galiléia, viu Simão e André, seu irmão, que
lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores.
17 Jesus disse-lhes: "Vinde após mim; eu vos farei pescadores de
homens."
18 Eles, no mesmo instante, deixaram as redes e seguiram-no.
19 Uns poucos passos mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu
irmão, que estavam numa barca, consertando as redes. E chamou-os logo.
20 Eles deixaram na barca seu pai Zebedeu com os empregados e o seguiram.
COMENTÁRIOS DO
EVANGELHO
1. Na ínfima Galiléia
começa algo novo para a humanidade
Longe dos Palácios dos Poderosos
do Império Romano, e do sistema religioso, centralizado no Templo de
Jerusalém, sem nenhuma comunicação prévia aos Escribas, Doutores da Lei e
outros homens importantes da Comunidade Judaica, lá na desprezível Galiléia
dos pagãos algo de totalmente novo começa a acontecer depois que João foi
preso... Quanta ingenuidade dos poderosos achando que prendendo João Batista
iriam calar a voz de Deus...
Sai de cena alguém que era
somente uma voz do deserto, para entrar na vida pública aquele que é o
próprio Verbo Encarnado, não foram os homens que interromperam a chegada do
Reino de Deus anunciado por João, mas foi a vontade de Deus que fez chegar o
tempo oportuno que havia se completado, de agora em diante Deus não
mandará avisos, Ele próprio vai falar e tornar-se caminheiro junto ao seu
povo...
Um projeto grandioso como esse,
o único, verdadeiro e mais importante para toda humanidade, começa na
Galiléia, Deus não se alia aos poderosos para fazer o Reino acontecer, mas
busca os mais fracos e desprezíveis, que esperam por algo novo e guardam no
coração a esperança de uma mudança para melhor, mas que só dependa de Deus,
seu desígnio e sua iniciativa.
A Igreja de Cristo não pode
querer construir o reino fazendo parceria com Instituições poderosas, pois o
Reino não depende de nenhum poder humano, nem de algum sistema econômico ou
ideologia política partidária, mesmo porque, no sistema conhecido como
Padroado, Igreja e estado caminhavam juntos no poder, dentro de um
imperialismo que só atrasou a Missão da Igreja de Evangelizar.
É essa a verdadeira e sincera conversão, romper com todo e qualquer sistema
que queira manipular o homem e ser o Dono da Vida, o Homem é Filho de Deus e
a Vida um dom que pertence unicamente a ele. Conversão é mudança de
mentalidade e de atitude, uma volta e uma busca permanente de Deus a única
Fonte de Vida. Os primeiros seguidores de Jesus eram simples pescadores,
considerados impuros diante do sistema religioso juntamente com outras
categorias marginalizadas e desprezadas.
Eles conhecem Jesus, ouvem suas
palavras e a sua proposta de darem uma "guinada de 90 graus" em
suas vidas e aceitam com sinceridade de coração. Não foram arrebatados dentro
do templo, não entraram em êxtase em uma espécie de encantamento, mas Jesus
de Nazaré os procurou em seu ambiente de trabalho, na labuta diária, com as
mãos cheirando peixe.
Impactados pelo anúncio de
Jesus, não pediram um tempo para pensarem n o assunto, afinal, deixar para
trás trabalho e família, não é coisa que se possa fazer da noite para o
dia... Mas o nosso evangelho, que não é uma reportagem jornalística, apenas
quer nos mostrar a urgência que devemos ter ao responder o Senhor que nos
chama para algo novo. Em nossa labuta diária, através de pessoas e
acontecimentos Jesus continua a nos chamar, Ele poderia, de maneira violenta
nos arrebatar e invadir a nossa vida, mas com a humildade de sempre, m
manifestada na sua encarnação, vida, paixão e morte na cruz, nos faz uma
proposta e um convite...
Afinemos bem os nossos ouvidos e
o nosso coração, e não percamos mais tempo, vamos responder com generosidade
a este chamado, como fizeram aqueles primeiros discípulos, que deixando tudo
para trás, o seguiram...
2. Conversão é fé no
Evangelho
No início do ministério público
de Jesus, segundo Marcos, há um apelo: "convertei-vos e crede na
Boa-Nova (o evangelho)". A conversão é necessária para acolher e
reconhecer o Reino de Deus que, em Jesus, se fez próximo de nossa humanidade.
A conversão não se confunde com um sentimento; ela é fé no evangelho,
confiança na Boa-Nova que Jesus anuncia por gestos e palavras; confiança na
própria pessoa de Jesus, que é a Boa-Notícia de Deus para todos.
O relato do chamado dos quatro
primeiros discípulos apresenta a participação destes na missão de Jesus. Se o
chamado, iniciativa de Jesus, é feito no presente, "segui-me", a
missão é dita para o futuro: "... farei de vós pescadores de
homens". Entre um e outro há o discipulado, tempo do aprendizado, da
escuta, do exercício da liberdade interior, pois é preciso desapego para
seguir o Senhor; é preciso deixar os laços afetivos e com as demais coisas
("deixaram as redes e o seguiram"; "deixando o pai Zebedeu no barco
com os empregados, puseram-se a seguir Jesus").
Oração
Pai, torna-me solícito em atender o convite à conversão, proclamado por
Jesus. Que eu não perca a chance que me é dada de aderir, com sinceridade, ao
teu Reino.
3. COMPLETOU-SE O
TEMPO!
A irrupção de Jesus, na nossa
história, pôs fim ao anseio de salvação, longamente acalentado pela humanidade
pecadora. Ao proclamar ter-se completado o tempo, afirmava ter chegado a
libertação, e, com ela, a possibilidade de se criar um mundo novo, onde o
império do pecado e do egoísmo seria desarticulado, para dar lugar ao amor.
Em outras palavras, um mundo regido pela vontade de Deus.
Na língua grega, este tempo é
chamado de kairós, distinto do tempo cronológico, mensurável. O kairós é um
tempo especial, irrepetível. É aquele momento exato, em que nos defrontamos
com a possibilidade única de fazer algo de grandioso, ou em que alguma coisa
importante está acontecendo em nossa vida. O Mestre situa-se, exatamente,
neste tempo oportuno, dando-lhe uma consistência especial.
Neste contexto de kairós, a
admoestação de Jesus assume maior gravidade: "Mudem de mentalidade e se
convertam ao Evangelho!". É o ser humano confrontado com a exigência de
romper as amarras do egoísmo a fim de voltar-se, decidido, para o projeto de
Reino querido pelo Pai.
Sendo um apelo irrepetível, urge
acolhê-lo, decididamente, com sua exigência de ruptura com o passado, para
abraçar a novidade oferecida por Deus. É pura insensatez adiar o momento da
conversão. A prudência aconselha a não perder esta oportunidade singular.
Oração
Pai, torna-me solícito em atender o convite à conversão, proclamado por
Jesus. Que eu não perca a chance que me é dada de aderir, com sinceridade, ao
teu Reino.
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I
SEMANA DO TEMPO COMUM
(VERDE – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Ergamos os nossos olhos para aquele que tem o céu como
trono; a multidão dos anjos o adora, cantando a uma só voz: Eis aquele cujo
poder é eterno.
Leitura (Hebreus 2,5-12)
Leitura da carta aos Hebreus.
2 5 Não foi tampouco aos anjos
que Deus submeteu o mundo vindouro, de que falamos.6 Alguém em certa passagem
afirmou: "Que é o homem para que dele te lembres, ou o filho do homem,
para que o visites?
7 Por pouco tempo o colocaste inferior aos anjos; de glória e de honra o
coroaste,
8 e sujeitaste a seus pés todas as coisas".
Ora, se lhe sujeitou todas as coisas, nada deixou que não lhe ficasse
sujeito. Atualmente, é verdade, não vemos que tudo lhe esteja sujeito.
9 Mas aquele que fora colocado por pouco tempo abaixo dos anjos, Jesus, nós o
vemos, por sua Paixão e morte, coroado de glória e de honra. Assim, pela
graça de Deus, a sua morte aproveita a todos os homens.
10 Aquele para quem e por quem todas as coisas existem, desejando conduzir à
glória numerosos filhos, deliberou elevar à perfeição, pelo sofrimento, o
autor da salvação deles,11 para que santificador e santificados formem um só
todo. Por isso, (Jesus) não hesita em chamá-los seus irmãos,
12 dizendo: "Anunciarei teu nome a meus irmãos, no meio da assembléia
cantarei os teus louvores".
Salmo responsorial 8
Destes domínio ao vosso Filho
sobre tudo o que criastes.
Ó Senhor, nosso Deus, como é
grande
vosso nome por todo o universo!
Perguntamos: "Senhor, que é o homem,
para dele assim vos lembrardes
e o tratardes com tanto carinho?"
Pouco abaixo de Deus o fizestes,
coroando-o de glória e esplendor;
vós lhe destes poder sobre tudo,
vossas obras aos pés lhe pusestes.
As ovelhas, os bois, os
rebanhos,
todo o gado e as feras da mata;
passarinhos e peixes dos mares,
todo ser que se move nas águas.
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Acolhei a palavra de Deus não como palavra humana, mas como mensagem de Deus,
o que ela é, em verdade! (1Ts 2,13).
EVANGELHO (Marcos 1,21-28)
1 21 Jesus e seus discípulos dirigiram-se para Cafarnaum. E
já no dia de sábado, Jesus entrou na sinagoga e pôs-se a ensinar.
22 Maravilhavam-se da sua doutrina, porque os ensinava como quem tem
autoridade e não como os escribas.
23 Ora, na sinagoga deles achava-se um homem possesso de um espírito imundo,
que gritou:
24 "Que tens tu conosco, Jesus de Nazaré? Vieste perder-nos? Sei quem
és: o Santo de Deus!
25 Mas Jesus intimou-o, dizendo: "Cala-te, sai deste homem!"
26 O espírito imundo agitou-o violentamente e, dando um grande grito, saiu.
27 Ficaram todos tão admirados, que perguntavam uns aos outros: "Que é
isto? Eis um ensinamento novo, e feito com autoridade; além disso, ele manda
até nos espíritos imundos e lhe obedecem!"
28 A sua fama divulgou-se logo por todos os arredores da Galiléia.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. Algo novo de lugar
tão pequeno
Sempre me perguntei como era o
ensinamento dos Mestres da Lei, ao meditar esse evangelho, pois o povo
acabara de encontrar algo novo, um pregador diferente que não precisava de
referências outras, para ter credibilidade.
Os Mestres da Lei também falavam
bonito, mas eles o faziam com a autoridade da tradição, da Lei, dos Profetas
e todos os Santos homens que o precederam. Não era uma autoridade própria que
os levava a falar, mas ensinamentos e exortações embasadas nas escrituras, e
nem poderia ser diferente e sempre confirmavam com um “Conforme está
escrito”, “Conforme falou o profeta”, “Conforme disse nosso Santo Patriarca”.
Sem essas referências, aquilo que falavam cairia no vazio, nunca poderiam
falar por eles mesmos...
Por acaso não fazemos isso em
nossas comunidades, quando queremos que aquilo que falamos, tenha
credibilidade e aceitação? “Foi o Padre que falou”, “Foi o Coordenador que
falou”, “Isso quem disse foi o Diácono, ou o Ministro da Palavra”. Se houver
algum questionamento, a gente sai ileso, porque não fomos nós que falamos,
apenas transmitimos o que outro falou. E quando falta incoerência daquele que
anuncia, somente o que o outro falou, e falta testemunho de vida, o pessoal
costuma dizer que se trata de “Bagre ensaboado”, sai sempre liso e nunca se
compromete com aquilo que anuncia...
Assim eram os nossos amigos
Mestres da Lei, que sabiam mas não viviam quase nada daquilo que pregavam e
ensinavam. Jesus fala com autoridade própria, Ele não precisa embasar aquilo
que diz, na tradição das Escrituras, ou na Lei e nos Profetas, ele até as
cita em algumas passagens, mas para refrescar a memória dos seus
interlocutores. Mas o grande diferencial é que ele VIVE tudo o que anuncia e
ensina.
A sua autoridade vem do alto,
Nele Deus não manda mais recados, mas fala claramente. Por isso que na
sinagoga nesse dia, Deus confirmou essa autoridade única e legítima de Jesus,
quando até um espírito mal, que dominava um irmão presente naquela
celebração, reconheceu e se submeteu á sua autoridade “Eu sei quem tu és, Tu
és o Santo de Deus!”. Mas Jesus não se deixa levar por títulos, ainda que
seja a mais pura verdade, e intimou o espírito “Cala-te e sai dele”.
Sempre que anunciamos Jesus
Cristo, seu reino e seu Santo Evangelho, mas não o vivemos em nosso dia a
dia, incorremos no mesmo grave erro dos Doutores da Lei. Mas sempre que nos
esforçamos, por viver, pelo menos um pouco daquilo que cremos e anunciamos
aos outros, essa autoridade do alto está em nós, e nossas palavras movidas
pela Graça, tem sim o poder de tocar no coração dos ouvintes.
2. Um sopro de vida nova
Um dos traços característicos do
Jesus apresentado por Marcos é que ele ensina. O seu ensinamento é novo e
feito com autoridade. Como nós teremos a oportunidade de ver, o seu
ensinamento é novo porque ele representa uma nova interpretação da Lei que
liberta o ser humano para a vida, e na qual é desvelado o rosto
misericordioso de Deus. A autoridade do seu ensinamento, grosso modo, é a sua
coerência interna, e porque ele comunica um "sopro" de vida. Jesus
é apresentado como um judeu piedoso.
O sábado, dia de repouso para
celebrar a obra de Deus na criação e na libertação do seu povo da escravidão
do Egito, é o dia em que se manifesta o poder do Senhor sobre o mal. Esta é a
finalidade do nosso relato: apresentar Jesus como vitorioso sobre o mal. Se o
mal procura se esconder na sombra, a presença daquele que é a "Luz do
mundo", o "Santo de Deus", desvela, para destruí-lo, o mal
presente no ser humano e que o desfigura.
Oração
Senhor Jesus, leva-me a perceber, por trás de teus gestos e palavras, a
presença do Pai agindo por meio de ti.
3. PERSONALIDADES
INCOMPATÍVEIS
A pergunta desesperada do homem
possuído por um espírito imundo revela a incompatibilidade radical que existe
entre Jesus e tudo quanto lhe é contrário. A frase "Que temos nós
contigo, Jesus de Nazaré?" pode ser assim desdobrada: "Que existe
em comum entre nós?"; "O que você está querendo fazer
conosco?"; "Qual a sua intenção a nosso respeito?".
Evidentemente, entre Jesus e o
espírito imundo nada havia em
comum. Um libertava o ser humano, o outro o escravizava. Um
recuperava as pessoas para Deus, já o outro as afastava sempre mais do
projeto do Pai, numa aberta afronta a ele. Um restaurava no coração humano o
sentido da vida fraterna e solidária, o outro, pelo contrário, gerava
discórdia e divisão. Um encarnava a novidade da misericórdia de Deus, o outro
insistia no caminho inconveniente da soberba. Por isso, a única intenção de
Jesus era derrotar este espírito mau.
À ordem do Mestre, ele deixou o
possesso, depois de agitá-lo violentamente e fazer grande alarido.
Esta é a imagem do que se passa
no coração de cada um de nós: o mau espírito reluta em abandonar o espaço
conquistado no nosso interior. Se não nos deixamos ajudar por Jesus, corremos
o risco de permanecer escravos desse espírito do mal. O discipulado cristão
exige que façamos a experiência de ser libertados pelo Mestre, pois é
impossível compatibilizá-lo com as forças do mal que age dentro de nós.
Oração
Pai, dá-me forças para que jamais eu permita ao poder do mal prevalecer sobre
mim. Seja o meu coração totalmente voltado para ti e para o teu Reino.
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I
SEMANA DO TEMPO COMUM
(VERDE – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Ergamos os nossos olhos para aquele que tem o céu como
trono; a multidão dos anjos o adora, cantando a uma só voz: Eis aquele cujo
poder é eterno.
Leitura (Hebreus
2,14-18)
Leitura da carta aos Hebreus.
2 14 Porquanto os filhos
participam da mesma natureza, da mesma carne e do sangue, também ele
participou, a fim de destruir pela morte aquele que tinha o império da morte,
isto é, o demônio, 15 e libertar aqueles que, pelo medo da morte, estavam
toda a vida sujeitos a uma verdadeira escravidão. 16 Veio em socorro, não dos
anjos, e sim da raça de Abraão; 17 e por isso convinha que ele se tornasse em
tudo semelhante aos seus irmãos, para ser um pontífice compassivo e fiel no
serviço de Deus, capaz de expiar os pecados do povo. 18 De fato, por ter ele
mesmo suportado tribulações, está em condição de vir em auxílio dos que são
atribulados.
Salmo responsorial
104/105
O Senhor se lembra sempre da
aliança.
Dai graças ao Senhor, gritai seu
nome,
anunciai entre as nações seus grandes feitos!
Cantai, entoai salmos para ele,
publicai todas as suas maravilhas!
Gloriai-vos em seu nome que é
santo,
exulte o coração que busca a Deus!
Procurai o Senhor Deus e seu poder,
buscai constantemente a sua face!
Descendentes de Abraão, seu
servidor,
e filhos de Jacó, seu escolhido,
ele mesmo, o Senhor, é nosso Deus,
vigoram suas leis em toda a terra.
Ele sempre se recorda da
aliança,
promulgada a incontáveis gerações;
da aliança que ele fez com Abraão
e do seu santo juramento a Isaac.
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Minhas ovelhas escutam minha voz, e as conheço e elas me seguem (Jo 10,27).
Evangelho (Marcos 1,29-39)
1 29 Assim que saíram da
sinagoga, Jesus, com Tiago e João, dirigiu-se à casa de Simão e André.
30 A sogra de Simão estava de cama, com febre; e sem tardar, falaram-lhe a
respeito dela.
31 Aproximando-se ele, tomou-a pela mão e levantou-a; imediatamente a febre a
deixou e ela pôs-se a servi-los.
32 À tarde, depois do pôr-do-sol, levaram-lhe todos os enfermos e possessos
do demônio. 33 Toda a cidade estava reunida diante da porta.
34 Ele curou muitos que estavam oprimidos de diversas doenças, e expulsou
muitos demônios. Não lhes permitia falar, porque o conheciam.
35 De manhã, tendo-se levantado muito antes do amanhecer, ele saiu e foi para
um lugar deserto, e ali se pôs em oração.
36 Simão e os seus companheiros saíram a procurá-lo.
37 Encontraram-no e disseram-lhe: "Todos te procuram."
38 E ele respondeu-lhes: "Vamos às aldeias vizinhas, para que eu pregue
também lá, pois, para isso é que vim."
39 Ele retirou-se dali, pregando em todas as sinagogas e por toda a Galiléia,
e expulsando os demônios.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. A PERIGOSA FÉ DA MAGIA...
Gosto muito de ouvir histórias
de pessoas que montaram um pequeno negócio, e após muito esforço foram bem
sucedidas, tornando-se gestores de grandes empresas, agindo sempre com ética
e honestidade.
O bom empreendedor é sempre
ousado e pensa “grande”, tendo uma visão audaciosa do futuro, atitude muitas
vezes até criticada e questionada pelos acomodados que pensam “pequeno”.
porque têm medo de arriscar. Se o empreendorismo é fator dos mais importantes
no desenvolvimento de uma nação, de uma empresa ou de qualquer negócio, no
reino de Deus não poderia ser diferente, porém, é preciso ter os pés no chão,
trabalhando a cada dia com vistas à grandiosidade que se vislumbra, pois o
homem de fé, mais do que ser otimista, já vai construindo no hoje da
história, o reino de Deus alicerçado pelo próprio Cristo.
No evangelho de hoje
podemos perceber nitidamente essa diferença no modo de pensar e agir,
entre Jesus e os seus discípulos. Enquanto o mestre pensa em algo grandioso,
querendo expandir o projeto recém-iniciado, os discípulos estão seguros de
que já alcançaram o sucesso e demonstram grande interesse em montar ali, na
casa de Simão, uma “Tenda dos Milagres”, pois o carisma de Jesus já tinha
atraído uma grande e imensa clientela, ao curar os enfermos e expulsar os
demônios, por isso aonde ele ia, a multidão maravilhada com os sinais
prodigiosos, o seguia.
Há nesta fé da magia, a
perspectiva de um negócio altamente lucrativo em todos os sentidos, pois
Jesus tem o perfil do Messias esperado, poderia ser ele o salvador da pátria,
capaz de dar a grande virada na história de Israel, e um populismo assim, era
tudo que eles queriam para concretizar a libertação com que sonhavam.
Não conseguiam vislumbrar em
Jesus algo além dos seus ideais humanos, que também eram importantes e tinham
o seu valor, mas Jesus não veio para ser o Rei dos Milagreiros, nem para ser
um libertador político, pensar assim é pensar “pequeno”, ter uma fé com essa
expectativa de um Cristo prodigioso, que interfere com seu poder na vida das
pessoas, quando essas fazem por merecer, realizando milagres e curas inexplicáveis,
é menosprezar toda a obra da Salvação, é fazer da Igreja uma simples tenda
dos milagres, é abusar de certos carismas recebidos, explorando assim a boa
fé das pessoas, e Cristianismo não é isso.
Curas de enfermidades o Cristo
as realizou ontem, e realiza também hoje, mas estas são simples sinais de
algo maior, de um empreendimento mais arrojado, com o qual todos têm de se
comprometer, acreditar, deixar de ser um torcedor para entrar em campo e
“suar a camisa” por aquilo em que se acredita. E como é que podemos, com
nossas limitações e fraquezas, sermos parceiros de Deus nesse projeto tão
arrojado, que plenifica e ao mesmo tempo transcende, qualquer empreendimento
humano?
O evangelho responde em seu
início, logo que Jesus sai da sinagoga e vai á casa de Simão, onde os
discípulos correm para lhe falar que a sogra de Pedro estava acamada e com
muita febre. Era uma pessoa debilitada, entregue ao desânimo, que muitas
vezes chega à vida de alguém, que doença seria essa? O comodismo e o
desânimo, o egocentrismo, a indiferença na relação com as pessoas, nas
comunidades cristãs há pessoas assim, que precisam de ajuda, para cair na
realidade. Jesus não diz uma só palavra, mas apenas estende a mão e a ajuda a
levantar-se do seu leito. Como é bom quando sentimos que o outro nos estende
a mão, em um grandioso gesto de ajuda...
Como é bom agarrar com firmeza a
mão amiga, que nos permite levantar e dar a volta por cima, diante de tantas
situações difíceis da nossa vida.
Amor que se traduz em gestos de
solidariedade, um toque de mão que transmite segurança, afeto, ânimo e
esperança, sem muito ritual pomposo, sem êxtases arrebatadores. Como
resultado desse gesto de ajuda, a mulher se levanta a febre a deixa e agora
se põe a servir a comunidade. É na oração íntima com Deus Pai, que Jesus de
Nazaré fortalece a sua missão, cumprindo a vontade daquele que o enviou, pois
sem a oração, a nossa igreja seria apenas um Posto de atendimento de serviço
religioso ou balcão de Sacramentos.
É na oração que acontece este
colóquio com o Pai, aonde vai se descortinando para nós a plenitude do Reino,
que humildemente vamos construindo com gestos simples como o de Jesus, capaz
de erguer as pessoas que estão ao nosso lado.
Os discípulos, encantados com o
carisma e o Poder do mestre, querem urgentemente abrir um “pequeno negócio”,
um salãozinho de fundo de quintal, onde eles teriam naturalmente o monopólio
sobre Jesus e seus milagres, mas o Mestre pensa grande, ele não veio para que
as pessoas o buscassem, mas para ir ao encontro delas, curando de suas
enfermidades e as libertando dos males físicos e espirituais, como um sinal
da libertação plena.
É esse o Cristo que devemos
anunciar como Igreja missionária, pois qualquer outra imagem diferente da que
nos apresenta o evangelho, seria apenas uma caricatura grotesca, uma cópia
falsificada de um mero “Salvador da pátria”, desses que vez ou outra, o povo
gosta de aclamar como Rei...
2. Toda a vida humana é
lugar da atuação do Senhor
Nosso texto deve ser dividido em
duas partes: cura da sogra de Pedro (vv. 29-31) e sumário (vv. 32-39).
Do lugar público (sinagoga),
Jesus se desloca para a casa de Simão e André, acompanhado dos outros dois
discípulos, Tiago e João. Os discípulos são testemunhas oculares de tudo o
que Jesus fez e ensinou. Todo âmbito da vida humana é lugar da atuação do
Senhor: o público (sinagoga de Cafarnaum) e o privado (casa de Simão Pedro).
Falaram a ele do mal da sogra de Pedro: a febre. Informado, ele toma a
iniciativa de curá-la.
A cura se dá pelo gesto
simbólico de tomar pela mão, que pode ser compreendido como gesto de
transmissão de força e como gesto pelo qual se desperta alguém do sono, que,
em várias passagens da Sagrada Escritura, é símbolo da morte. O gesto de
Jesus tira a sogra de Pedro da sua situação de enfermidade e a põe em pé, em
condições de servir e celebrar o descanso sabático.
O sumário, por sua vez, tem por
finalidade ampliar hiperbolicamente a atividade e o sucesso da atuação de
Jesus sobre o mal.
Oração
Senhor Jesus, eu te procuro com sinceridade, na certeza de encontrar, em ti,
palavras que façam reviver a esperança no meu coração.
3. DO CULTO AO
SERVIÇO
Como bom judeu, Jesus não se
furtava de participar da assembléia sinagogal, em dia de sábado. A celebração
do culto oferecia-lhe a possibilidade de exercer o ministério da palavra.
Servindo-se de um direito facultado às pessoas adultas, do sexo masculino,
ensinava na sinagoga, com uma autoridade desconhecida até então. Sua doutrina
deixava os ouvintes admirados, pois era de qualidade diferente daquela dos
rabinos tradicionais.
Nós conhecemos muito bem a
doutrina de Jesus. Ele falava do amor, da necessidade de viver reconciliado,
da urgência de ser solidário com os pobres e pequeninos, por serem os
preferidos de Deus, enfim, falava do Reino do Pai a ser implantado num mundo
marcado pela impiedade.
Das palavras Jesus passava à
ação. E comprovava, com a vida, a força de seus ensinamentos. De certa forma,
o culto prosseguia no serviço aos doentes, na libertação dos oprimidos pelos
maus espíritos, na sua vida de profunda comunhão com o Pai, mediante a
oração, no seu zelo incansável em ajudar a todos. Por isso, recusava-se a
ficar preso a um só lugar, ou a esperar que viessem até ele. Pelo contrário,
ia pelas cidades e aldeias exercendo o ministério da palavra e o ministério
da caridade, duas faces da mesma moeda.
A íntima relação entre palavra e
ação dava credibilidade ao ministério de Jesus. Sua vida consistia numa
demonstração perfeita do que ensinava. Por conseguinte, ao deixar a sinagoga,
só lhe restava fazer o bem.
Oração
Pai, faze minha vida espelhar-se no testemunho de Jesus, o primeiro a pôr em
prática seus próprios ensinamentos, mostrando como é possível vivenciá-los.
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SANTO
ANTÃO - PAI DA VIDA MONACAL
(BRANCO, PREFÁCIO COMUM
OU DOS SANTOS – OFÍCIO DA MEMÓRIA)
Antífona da entrada: O justo florescerá como a palmeira; crescerá como o
cedro do Líbano, plantado na casa do Senhor, nos átrios de nosso Deus (Sl
91,13s).
Leitura (Hebreus 3,7-14)
Leitura da carta aos Hebreus.
3 7 Por isso, como diz o
Espírito Santo: "Hoje, se ouvirdes a sua voz,
8 não endureçais os vossos corações, como por ocasião da revolta, como no dia
da tentação no deserto,
9 quando vossos pais me puseram à prova e viram o meu poder por quarenta
anos. 10 Eu me indignei contra aquela geração, porque andavam sempre
extraviados em seu coração e não compreendiam absolutamente nada dos meus
desígnios.
11 Por isso, em minha ira, jurei que não haveriam de entrar no lugar de
descanso que lhes prometera! "
12 Tomai precaução, meus irmãos, para que ninguém de vós venha a perder
interiormente a fé, a ponto de abandonar o Deus vivo. 13 Antes, animai-vos
mutuamente cada dia durante todo o tempo compreendido na palavra
"hoje", para não acontecer que alguém se torne empedernido com a
sedução do pecado. 14 Porque somos incorporados a Cristo, mas sob a condição
de conservarmos firme até o fim nossa fé dos primeiros dias.
Salmo responsorial 94/95
Oxalá ouvísseis hoje a sua voz:
Não fecheis os vossos corações.
Vinda, adoremos e prostremo-nos
por terra,
E ajoelhemos ante o Deus que nos criou!
Porque ele é o nosso Deus, nosso pastor,
E nós somos o seu povo e seu rebanho,
As ovelhas que conduz com sua mão.
Oxalá ouvísseis hoje a sua voz:
"Não fecheis os corações como em Meriba,
Como em Massa, no deserto, aquele dia,
Em que outrora vossos pais me provocaram,
Apesar de terem visto as minhas obras.
Quarenta anos desgostou-me
aquela raça,
E eu disse: Eis um povo transviado,
Seu coração não conheceu os meus caminhos!
E por isso lhes jurei na minha ira:
Não entrarão no meu repouso prometido!"
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Jesus pregava a boa-nova, o reino anunciando, e curava toda espécie de
doenças entre o povo (Mt 4,23).
EVANGELHO (Marcos 1,40-45)
1 40 Aproximou-se de Jesus um
leproso, suplicando-lhe de joelhos: "Se queres, podes limpar-me."
41 Jesus compadeceu-se dele, estendeu a mão, tocou-o e lhe disse: "Eu
quero, sê curado."
42 E imediatamente desapareceu dele a lepra e foi purificado.
43 Jesus o despediu imediatamente com esta severa admoestação:
44 "Vê que não o digas a ninguém; mas vai, mostra-te ao sacerdote e
apresenta, pela tua purificação, a oferenda prescrita por Moisés para lhe
servir de testemunho."
45 Este homem, porém, logo que se foi, começou a propagar e divulgar o
acontecido, de modo que Jesus não podia entrar publicamente numa cidade.
Conservava-se fora, nos lugares despovoados; e de toda parte vinham ter com
ele.
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. SENTIU COMPAIXÃO...
A nossa compreensão da palavra
“compaixão”, nunca será completa, pois, na Sagrada Escritura, “sentir
compaixão” é uma virtude própria de Deus e na maioria das vezes, esse
sentimento pelo próximo, que o nosso coração define como “compaixão” não
passa na verdade de um, gesto de piedade, que também é um atributo Divino,
porem em seu sentido mais amplo, que o coração humano nunca será capaz de
alcançar. O evangelho de hoje nos ajuda a aprofundar o sentido dessa ação de
Jesus, presente em momentos significativos, quando ele se defronta com a
miséria humana, motivando-nos a rever se a estamos aplicando na relação com o
próximo, em seu sentido autenticamente cristão.
Pelo conteúdo normativo de
Levíticos, Jesus tinha mil e uma razões para nem sequer se aproximar de um
leproso, que pertencia a classe dos “irrecuperáveis” daquele tempo, na ótica
religiosa. A lepra era incurável e vista como consequência do pecado e assim,
o leproso era considerado um maldito, que além da dor física, sofria também a
dor moral da exclusão, sendo esta bem mais dolorosa porque o colocava à
margem da salvação, banindo-o do convívio social e da comunidade, além de
saber que a sua condenação no pós morte, era tida como certa e definitiva.
Em uma sociedade marcada pelo
ateísmo moderno, onde a fé é subjetiva e Deus é perfeitamente dispensável,
esse quadro não é tão tenebroso, mas no contexto histórico e religioso
daquele tempo, esse desprezo tinha um peso muito maior, o leproso era tido
como um lixo, escória da sociedade, confinado em acampamentos fora da cidade,
tendo que mostrar a sua desgraça e miséria, mantendo uma aparência
monstruosa, e quem se aproximasse dele e o tocasse, estaria violando os
preceitos da lei, tornando-se também um impuro e tendo de isolar-se, até que
pudesse oferecer um sacrifício de expiação, como prescrevia a lei de Moisés,
para só então ser reconhecido como “purificado”.
Podemos então compreender a
compaixão Divina, como uma ação coordenada não por normas legalistas, mas por
uma lei nova, ensinada por Jesus: a Lei do amor, que não revoga a Lei antiga,
mas lhe dá plenitude resgatando o seu sentido verdadeiro, que é a defesa e a
preservação da vida humana. O evangelista Marcos faz questão de mostrar, da
parte de Jesus essa “quebra de protocolo”, quando permite que o leproso se
aproxime, é verdade que este o faz movido pelo desespero, infligindo também
as normas do Levítico, e aqui percebe-se que o leproso é um homem diferente,
uma vez que crê muito mais na misericórdia de Jesus, do que no cumprimento da
Lei, determinada por uma instituição que não tem o poder da cura, mas apenas
declara que ele está “impuro”, ao contrário de Jesus, que permite a
aproximação, derrubando assim o preconceito.
Muito mais do que um simples
encontro de Jesus com um leproso, este versículo sintetiza de forma brilhante
o amor e a ternura de Deus pelo ser humano, permitindo uma reaproximação,
após a queda do pecado, é o Deus que se deixa tocar, que se encarna e assume
a natureza humana, com toda sua miserabilidade, o leproso se prostra diante
dele, por uma razão muito simples: primeiro porque reconhece a sua
insignificância, e em segundo porque não vê outra saída para sua dor, senão a
de recorrer àquele que é diferente da instituição religiosa que o havia
condenado, no fundo crê que Jesus de Nazaré é o seu Salvador e libertador, no
sentido de ter o poder de resgatar a sua dignidade perdida, aquele leproso
considerado um maldito, é na verdade alguém que consegue vislumbrar o
verdadeiro messianismo de Jesus, em contradição com o Poder religioso, que o
rejeita, mostrando uma fé madura, pois não pede simplesmente a cura física,
mas a “purificação”.
Diante de uma fé assim, tão fiel
e humilde, note-se que o leproso não impõe e nada exige e nem coloca a sua
vontade como fator determinante, mas abandona-se à vontade de Deus: “Senhor,
se queres...”. Que comovedora profissão de fé, para o homem arrogante e
presunçoso de nossos tempos! Homem que a exemplo dos nossos primeiros pais,
ousa ocupar o lugar que é de Deus, marginalizando e excluindo certas
categorias sociais consideradas malditas, abandonadas em presídios de
sistemas carcerários, que em quase nada contribuem para a recuperação de quem
errou, de idosos, jovens, adolescentes e crianças, amontoados em asilos e
instituições de caridade, gente que não tem mais esperança de nada, e que há
muito tempo nem é mais contada na “aldeia global”, que só considera quem
produz e consome.
Podemos encontrar com esse
leproso no seio de nossas famílias e comunidades, onde isolamos certas
pessoas em “acampamentos”, consideradas pervertidas, geniosas,
temperamentais, desequilibradas, poderíamos incluir os aidéticos, efeminados,
casais em segunda união, dependentes químicos, prostitutas, mães solteiras,
pessoas que, como naquele tempo, sempre temos uma certa reserva, mantendo a
necessária distância por medo de sermos “contaminados”, e a sua presença em
nosso meio, causa asco e mal estar.
Como cristãos, temos que ter
essa consciência do grave pecado da exclusão, e o evangelho nos mostra por
onde devemos começar, é bem verdade que Jesus afrontou as instituições do seu
tempo, mas em primeiro lugar, em sua relação com as pessoas, usou sempre da
lei do amor, deixando de lado normas de conduta e formalismos religiosos, ao
tocar no leproso. Poderíamos começar no nosso dia a dia, acolhendo com gestos
cordiais, amizade e carinho, os “leprosos” que muitas vezes excluímos, por
conta de preconceitos e até intolerância.
2. O segredo
messiânico
No último dia 11, já apontamos a
gravidade religiosa da lepra e como ela era tratada pelo sistema judaico de
pureza.
Se no texto paralelo ao de hoje,
a saber, Lc 5,12-16, é o narrador quem diz da recomendação de Jesus de que o
homem purificado não dissesse nada a ninguém, em Marcos é o próprio Jesus
quem toma a palavra: "Não contes nada a ninguém.". Com isso estamos
diante de uma das características do segundo evangelho: o "segredo
messiânico".
Esse recurso teológico-literário
tem uma dupla finalidade:
a) permitir que o ouvinte ou
leitor do evangelho responda, ele mesmo, à pergunta central do evangelho
segundo Marcos: "quem é Jesus?"; resposta que só pode ser dada ao
fim da narração evangélica;
b) não identificar Jesus com
qualquer corrente messiânica do seu tempo, mas manter o ouvinte aberto à
novidade de Jesus Cristo. Não obstante a recomendação, a fama de Jesus se
espalha. Ele não é o promotor de sua fama, ao contrário, "ficava fora,
em lugares desertos, mas de toda parte vinham a ele".
Oração
Senhor Jesus, move meu coração para fazer o bem a quem precisa de
misericórdia. Que eu seja tua presença amorosa junto deles.
3. OS LUGARES DESERTOS
O assédio das multidões fazia
Jesus evitar as cidades e preferir os lugares desertos, para onde acorria
quem precisava de sua ajuda. Esta opção explica-se pelo desejo de realizar
sua missão com plena liberdade, sem ser pressionado pelos ideais messiânicos,
largamente difundidos nos meios populares. O deserto era apropriado para ele
se proteger.
Mas é possível fazer uma
interpretação simbólica desta opção de Jesus. O imaginário da época
reportava-se às agruras do êxodo do Egito, quando pensava no deserto. Sendo
desabitado, sem vegetação, este se torna perigoso e mortífero. O deserto é
lugar de provação. Nele é preciso escolher entre confiar em Deus ou confiar
em si mesmo e nas capacidades pessoais de vencer os desafios.
A configuração terrível do
deserto gerou a crença de que, nele, habita o Diabo, como se fosse o lugar
escolhido, por ser neutro, para o confronto com Deus. As cenas evangélicas da
tentação são, por isso, situadas no deserto, para onde Jesus é conduzido pelo
Espírito.
Escolhendo o deserto como lugar
de ação, Jesus combatia o inimigo da humanidade, dentro dos domínios deste.
Esta luta sem trégua marcou a ação do Mestre, pois a implantação do Reino
supunha a derrota das forças diabólicas. Ele as enfrentou e venceu, com
destemor. Sinal disto foram as curas e os milagres realizados nas regiões
desertas. Com a chegada de Jesus, o Diabo perdeu o poder de oprimir o ser
humano.
Oração
Pai, dá-me forças para combater e vencer as forças do mal que impedem o Reino
acontecer na minha vida e na história humana.
|
I
SEMANA DO TEMPO COMUM
(VERDE – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Ergamos os nossos olhos para aquele que tem o céu como
trono; a multidão dos anjos o adora, cantando a uma só voz: Eis aquele cujo
poder é eterno.
Leitura (Hebreus
4,1-5.11)
Leitura da carta aos Hebreus.
4 1 Enquanto, pois, subsiste a
promessa de entrar no seu descanso, tenhamos cuidado em que ninguém de nós
corra o risco de ser excluído. 2
A boa nova nos foi trazida a nós, como o foi a eles.
Mas a eles de nada aproveitou, porque caíram na descrença. 3 Nós, porém, se
tivermos fé, haveremos de entrar no descanso. Ele disse: "Eu jurei na
minha ira: não entrarão no lugar do meu descanso". Ora, as obras de Deus
estão concluídas desde a criação do mundo; 4 pois, em certa passagem, falou
do sétimo dia o seguinte: "E, terminado o seu trabalho, descansou Deus
no sétimo dia". 5 Se, pois, ele repete: "Não entrarão no lugar do
meu descanso".
11 Assim, apressemo-nos a entrar neste descanso para não cairmos por nossa
vez na mesma incredulidade.
Salmo responsorial 77/78
Não vos esqueçais das obras do
Senhor!
Tudo aquilo que ouvimos e
aprendemos,
E transmitiram para nós os nossos pais,
À nova geração nós contaremos:
as grandezas do Senhor e seu poder.
Levantem-se e as contem a seus
filhos,
Para que ponham no Senhor sua esperança;
Das obras do Senhor não se esqueçam
E observem fielmente os seus preceitos.
Nem se tornem, a exemplo de seus
pais,
Rebelde e obstinada geração,
Uma raça de inconstante coração,
Infiel ao Senhor Deus em seu espírito.
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
Um grande profeta surgiu entre nós e Deus visitou o seu povo, aleluia (Lc
7,16).
EVANGELHO (Marcos 2,1-12)
2 1 Alguns dias depois, Jesus
entrou novamente em Cafarnaum e souberam que ele estava em casa.
2 Reuniu-se uma tal multidão, que não podiam encontrar lugar nem mesmo junto
à porta. E ele os instruía.
3 Trouxeram-lhe um paralítico, carregado por quatro homens.
4 Como não pudessem apresentar-lho por causa da multidão, descobriram o teto
por cima do lugar onde Jesus se achava e, por uma abertura, desceram o leito
em que jazia o paralítico.
5 Jesus, vendo-lhes a fé, disse ao paralítico: "Filho, perdoados te são
os pecados."
6 Ora, estavam ali sentados alguns escribas, que diziam uns aos outros:
7 "Como pode este homem falar assim? Ele blasfema. Quem pode perdoar
pecados senão Deus?"
8 Mas Jesus, penetrando logo com seu espírito tios seus íntimos pensamentos,
disse-lhes: "Por que pensais isto nos vossos corações?
9 Que é mais fácil dizer ao paralítico: Os pecados te são perdoados, ou
dizer: Levanta-te, toma o teu leito e anda?
10 Ora, para que conheçais o poder concedido ao Filho dó homem sobre a terra
(disse ao paralítico),
11 eu te ordeno: levanta-te, toma o teu leito e vai para casa."
12 No mesmo instante, ele se levantou e, tomando o. leito, foi-se embora à
vista de todos. A multidão inteira encheu-se de profunda admiração e
puseram-se a louvar a Deus, dizendo: "Nunca vimos coisa
semelhante."
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. NOSSOS
PARALÍTICOS...
Certa ocasião, quando
refletíamos esse evangelho em grupo, alguém perguntou se na casa onde Jesus
estava pregando, havia elevador ou coisa parecida, se olharmos o relato em si
mesmo, vamos acabar fazendo outras perguntas como, “Será que eles não podiam
pedir licença para passar no meio das pessoas e entrar na casa?” e mais
ainda... Seria normal que as pessoas que estavam aglomeradas á entrada,
quando vissem o esforço dos quatro homens, subindo na parede com o paralítico
deitado em uma cama, oferecessem ajuda, buscando uma alternativa mais
fácil...
O próprio Jesus, não poderia ter
dado um jeito de sair para atender o paralítico, sem precisar tanto esforço
de subir e ainda ter de abrir um buraco no telhado? Fazer perguntas como
essas, é muito importante para a nossa reflexão, pois vamos e convenhamos, o
modo que eles encontraram para colocar o paralítico á frente de Jesus, não
foi o mais fácil, aliás, correu-se até o risco de um grave acidente.
Hoje em dia a gente sabe que
nossos templos existentes, ou os que estão em construção, devem ter em seu
projeto, a construção de rampas, para facilitar o acesso de nossos irmãos
deficientes. Mas com certeza, não é este o tema do evangelista, ele está querendo
dizer alguma coisa as suas comunidades e aos cristãos do nosso tempo.
Dia desses, alguém bastante
estressado dizia-me que certas pessoas só atrapalham a vida da comunidade,
porque são muito radicais, geniosas, incomodam a rodos, e o tempo todo só arranjam
encrencas e mais encrencas, concluindo, dão muito trabalho, são sempre do
contra, enfim, chatas e duras de engolir, e que sem elas, a comunidade é uma
maravilha, o conselho deveria tomar providência, ou quem sabe, o padre impor
a sua autoridade.
Pessoas com essas
características não caminham, e ainda dificultam a vida de quem quer
caminhar: pronto, já começamos a descobrir os paralíticos e paralíticas de
nossas comunidades, irmãos e irmãs que não se emendam de seus defeitos, nunca
mudam o seu jeito de ser, não se convertem e precisam portanto, ser acolhidas
e carregadas. Há irmãos na comunidade que a gente tem prazer de encontrar, é
sempre uma alegria imensa, mas há também esses, que nos perturbam, incomodam,
e a gente não fica a vontade, se estão conosco em uma reunião da pastoral ou
do movimento, a troca de “farpas” será inevitável...
Há no texto duas coisas que
chamam a nossa atenção, primeiro o esforço desse quarteto, subir pela parede,
desfazer o telhado e descer a cama com cordas. Jesus elogia-lhes a fé, parece
até que fez o milagre como retribuição a tanto esforço. Eles tinham fé em Jesus Cristo,
sabiam que se o levassem diante dele, seria curado, mas por outro lado,
embora o texto não cite isso, a gente percebe que o amavam muito, tiveram com
ele muita paciência, sei lá quantos quilômetros tiveram que andar, carregando
aquela cama que deveria ser pesada, e ainda, ao deparar com a multidão
aglomerada á frente da casa, poderiam ter desistido, já tinham feito a sua
parte. Mas a força do amor e da fé, fez com que não desistissem, e se preciso
fosse, seriam capazes de derrubar a casa.
Os quatro são uma referência
para as nossas comunidades, onde muitas vezes falta-nos o amor e a fé, para
carregar nossos paralíticos e superar os obstáculos, passando por cima dos
preconceitos. Nas comunidades há pessoas amorosas, pacienciosas, que aceitam
conviver com todos, amando-os como eles são, sem exigências, preconceitos ou
radicalismo, mas há também a turma de “nariz empinado”, como aqueles doutores
da lei, que não crê em um
Deus que é misericórdia, e que perdoa pecados, seguem
normas e preceitos, até trabalham na comunidade, mas são extremamente
exigentes com os “paralíticos”, acham-se perfeitos e não aceitam a
convivência com os imperfeitos.
Jesus elimina o problema pela
raiz, “Filho, teus pecados te são perdoados...”, a cura física vem em segundo
plano, e se a enfermidade impede que o paralítico se aproxime de Jesus, a
comunidade os carrega, possibilitando que ele também faça a experiência do
Deus que perdoa, ora, se houver na comunidade intolerância, preconceitos, e
ranços ocultos, como é que essas pessoas poderão experimentar o amor, o
perdão e a misericórdia? Os intolerantes têm sempre um olhar extremamente
crítico e severo, para com os paralíticos, e não aceitam que outras pessoas
tenham por eles amor e ternura, manifestada na paciência e tolerância.
Por isso Jesus ordena –
levanta-te, toma o teu leito e vai para casa. Deus nunca faz as coisas pela
metade, na obra da salvação, Jesus não fez simplesmente uma reforma no ser
humano, mas o transforma em uma nova criatura, na graça santificante do
Batismo, fazendo com que deixe de se relacionar com Deus na religião
normativa, porque crê no Deus que é todo amor e misericórdia, que perdoa
pecados e os liberta com a sua santa palavra, em Jesus de Nazaré.
2. Dificuldades da
missão
Com o texto de hoje tem início o
que chamamos, no evangelho de Marcos, as "controvérsias galileanas"
(Mc 2,1-3,6), que devem ser compreendidas como disputas, dificuldades e
oposições com as quais Jesus se deparou na realização de sua missão.
Em geral, as dificuldades
provinham da interpretação e da consequente prática da Lei. Quem pode perdoar
os pecados, a não ser Deus? Os escribas têm razão, pois "só Deus pode
perdoar pecados". Jesus, no entanto, não disse outra coisa ao afirmar ao
paralítico "os teus pecados são perdoados". O passivo divino revela
que o sujeito da ação de perdoar é Deus. Mas como parte da aliança nova, em
que a lei será posta no fundo do ser e escrita no coração (cf. Jr 31,33),
está o perdão de toda culpa (Jr 31,34).
Jesus sente-se investido desse
poder. A fé dos quatro homens que carregavam o paralítico provoca a reação de
Jesus. Eles parecem representar os discípulos, cuja missão é conduzir as
pessoas ao Senhor e suplicar por elas. Deus é bom para com todos.
Oração
Pai, cura os pecados que me paralisam e me impedem de caminhar para ti.
Realiza em minha vida a maravilha do perdão.
3. SOB O PESO DO PECADO
A insistência sobre o tema do
perdão dos pecados chama a atenção, na cena da cura do homem paralítico.
Assim que Jesus o vê descer através de um buraco aberto no teto, declara que
seus pecados estão perdoados. Esta declaração provoca alguns escribas que
estavam por perto. Para eles, a palavra do Mestre soava como uma verdadeira
usurpação de algo reservado exclusivamente a Deus. Portanto, Jesus era um
blasfemo!
A maneira como ele rebate a
maledicência dos escribas é significativa: cura o paralítico para provar que
"o Filho do Homem tem, na Terra, o poder de perdoar os pecados". O
gesto poderoso de cura parece insignificante diante do poder maior de perdoar
os pecados. E Jesus, de certo modo, parece sentir-se mais feliz por perdoar
os pecados do que por curar. Por quê?
O perdão dos pecados tem, também,
uma função terapêutica. Trata-se da cura do ser humano na dimensão mais
profunda de sua existência, ali onde acontece seu relacionamento com Deus.
Sendo esta dimensão invisível aos olhos, as pessoas tendem a se preocupar
mais com as dimensões aparentes de sua vida, buscando a cura quando algo não
está bem no âmbito corporal. Jesus vê além, preocupando-se por libertar quem
pena sob o peso do pecado, mais do que sob o peso da doença. O primeiro é
muito mais grave. Permanecer no pecado significa viver afastado de Deus e
correr o risco de ser condenado. Este é o motivo por que o Mestre, antes de
mais nada, que ver o ser humano liberto de seus pecados.
Oração
Pai, cura os pecados que me paralisam e me impedem de caminhar para ti.
Realiza em minha vida a maravilha do perdão.
|
I
SEMANA DO TEMPO COMUM
(VERDE – OFÍCIO DO DIA)
Antífona da entrada: Ergamos os nossos olhos para aquele que tem o céu como
trono; a multidão dos anjos o adora, cantando a uma só voz: Eis aquele cujo
poder é eterno.
Leitura (Hebreus
4,12-16)
Leitura da carta aos Hebreus.
Irmãos, 4 12 porque a palavra de
Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes e atinge
até a divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os
pensamentos e intenções do coração. 13 Nenhuma criatura lhe é invisível. Tudo
é nu e descoberto aos olhos daquele a quem havemos de prestar contas.
14 Temos, portanto, um grande Sumo Sacerdote que penetrou nos céus, Jesus,
Filho de Deus. Conservemos firme a nossa fé. 15 Porque não temos nele um
pontífice incapaz de compadecer-se das nossas fraquezas. Ao contrário, passou
pelas mesmas provações que nós, com exceção do pecado. 16 Aproximemo-nos,
pois, confiadamente do trono da graça, a fim de alcançar misericórdia e achar
a graça de um auxílio oportuno.
Salmo responsorial
18/19B
Vossas palavras são espírito,
são vida,
tendes palavras, ó Senhor, de vida eterna.
A lei do Senhor Deus é perfeita,
Conforto para a alma!
O testemunho do Senhor é fiel,
Sabedoria dos humildes.
Os preceitos do Senhor são
precisos,
Alegria ao coração.
O mandamento do Senhor é brilhante,
Para os olhos é uma luz.
É puro o temor do Senhor,
Imutável para sempre.
Os julgamentos do Senhor são corretos
E justos igualmente.
Que vos agrade o cantar dos meus
lábios
E a voz da minha alma;
Que ela chegue até vós, ó Senhor,
Meu rochedo e redentor!
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
O Espírito do Senhor repousa sobre mim e enviou-me a anunciar aos pobres o
Evangelho (Lc 4,18).
Evangelho (Marcos 2,13-17)
2 13 Jesus saiu de novo para
perto do mar e toda a multidão foi ter com ele, e ele os ensinava.
14 Quando ia passando, viu Levi, filho de Alfeu, sentado no posto da
arrecadação e disse-lhe: "Segue-me." E Levi, levantando-se,
seguiu-o.
15 Em seguida, pôs-se à mesa na sua casa e muitos cobradores de impostos e
pecadores tomaram lugar com ele e seus discípulos; com efeito, eram numerosos
os que o seguiam.
16 Os escribas, do partido dos fariseus, vendo-o comer com as pessoas de má
vida e publicamos, diziam aos seus discípulos: "Ele come com os
publicamos e com gente de má vida?"
17 Ouvindo-os, Jesus replicou: "Os sãos não precisam de médico, mas os
enfermos; não vim chamar os justos, mas os pecadores."
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. O Mestre andando em
más companhias
"Diga-me com quem andas e
te direi quem és" - lembram-se deste provérbio? Na minha infância cresci
ouvindo exortações dos meus pais e educadores para que evitássemos as más
companhias e até confessávamos isso ao Padre porque era considerado pecado.
Quando comecei a ter uso da
razão e deparei com esse evangelho, comecei a achar que tinha algo de errado,
ou com a nossa formação ou com Jesus. Estar junto as pessoas desqualificadas
não significa aprovar suas atitudes erradas e nem compactuar com elas, nossos
pais e educadores tinham medo de que a influência do mal presente na vida
dessas "pessoas" rotuladas como más companhias, acabasse nos
contaminando. Mas... E o Bem presente em nós na Graça de Deus, será que não
têm uma força para contagiar as pessoas com quem nos relacionamos?
Pois aí é que está o grande
problema, inclusive de hoje em
dia. O mal influencia a vida dos cristãos e as comunidades.
Jesus, o Filho de Deus, não teme o mal presente na vida das pessoas, pois foi
exatamente para isso que ele veio, para combatê-lo e eliminá-lo para sempre.
Jesus não só andou com as más companhias, foi mais longe e assumiu a
fragilidade humana por amor a humanidade que estava sob o domínio do mal.
Nos dias de hoje não podemos
mais pensar dessa maneira, pois como discípulos e missionários de Jesus, nós
temos que ter mais fé em nosso "Taco", na poderosa Graça de Deus
presente em nossa vida, no poder de Deus manifestado no Espírito Santo e
assim sairmos do nosso ambiente sagrado e entrarmos sem medo naquilo que
muitas vezes consideramos profano, confiantes de que em Cristo somos mais que
vencedores.
A casa de um Publicano cobrador
de impostos não tinha nada de sagrado, ao contrário, os amigos de Levi eram
todos da mesma "laia" que ele, isso é, pecadores considerados
irrecuperáveis diante de Deus e dos homens. Sem a menor cerimônia Jesus vai á
sua casa, o evangelista não menciona de quem partiu o convite, pode ser que
tenha sido Levi, feliz da vida por ter sido convidado a ser discípulo e por
isso queria comemorar, mas também pode ser que tenha partido de Jesus que
nesse sentido era meio "oferecido", lembram-se da história do
pequeno Zaqueuzinho?
O fato é que, quando se trata de
salvar e oferecer as pessoas essa Vida totalmente Nova, Jesus de Nazaré faz
de tudo e não está nem aí com certos preconceitos. Propõe, convida, chama,
inclusive a "gentalha" que muitas vezes ainda continuamos a excluir
em nossos tempos. Pensem um pouco... Quanta gente rotulada como má ( só
porque não pertencem ao nosso grupo, igreja ou comunidade) dando por aí um
testemunho maravilhoso com palavras e atitudes á favor da vida...
E ao final da reflexão deixo
essa perguntinha, no mínimo provocadora: Quem são os "Enfermos"
dessa história?
2. Jesus senta à mesa
com os pecadores
É o segundo relato de vocação no
evangelho de Marcos. Por que Jesus chama Mateus, um publicano, um pecador
público, portanto, considerado impuro? A resposta: porque ele quis (cf. Mc
3,13). Como os quatro primeiros chamados (Mc 1,16-20), Mateus deixa tudo para
seguir Jesus. A refeição oferecida em casa de Mateus a Jesus e seus discípulos,
e cuja mesa é partilhada com "muitos publicanos e pecadores", é uma
espécie de despedida de Mateus de sua vida anterior ao encontro com Jesus.
A partilha da mesa com os que
eram considerados impuros é o que escandaliza os escribas e fariseus, e põe, para
eles, em questão a identidade de Jesus. A ida de Jesus à casa de Mateus faz
desmoronar um esquema religioso que exclui as pessoas da comunhão com Deus.
Jesus, assim como Deus no Antigo
Testamento (Ex 15,26; Dt 32,39 etc.), se apresenta como médico que cura o ser
humano das feridas profundas onde somente ele pode chegar e para as quais
somente ele tem o remédio. O episódio é a ocasião em que Jesus define a sua
missão: "Não é a justos que vim chamar, mas a pecadores" (v. 17).
Oração
Pai, coloca-me, cada dia, no seguimento de Jesus, pois, assim, estarei no bom
caminho que me conduz a ti.
3. DA MARGINALIZAÇÃO AO
DISCIPULADO
A passagem de Jesus pela vida de
Levi provocou nele uma transformação considerável. Ele saiu imediatamente da
marginalização sócio-religiosa para ingressar no discipulado, ao aceitar o
convite do Mestre, exigindo dele a renúncia a uma atividade odiosa aos olhos
de seus contemporâneos. Doravante, Levi não seria mais um publicano, e sim um
discípulo de Jesus. A opção religiosa desse discípulo teve conseqüências
também no plano social.
Na percepção de Jesus, porém, a
mudança na vida de Levi deu-se num nível bem diverso. A discriminação, devida
à profissão de cobrador de impostos, era irrelevante para o Mestre. Este
procurava colocar-se acima dos preconceitos humanos. Importava-lhe, antes, o
que se passava no coração de Levi, sentado no seu local de trabalho. Embora
vivendo num ambiente corrompido e corruptor, sem dúvida, ele mantinha um
elevado padrão de religiosidade. Os preconceitos que recaíam sobre sua
categoria profissional não foram suficientes para levá-lo a apegar-se aos
bens materiais. Assim, quando Jesus passou, estava suficientemente livre para
segui-lo, sem restrições.
Ninguém ficou sabendo da mudança
operada na vida de Levi, além dele mesmo, e do próprio Mestre. O homem de fé
viu concretizar-se o que, até então, era objeto de esperança. Seguir o
Messias Jesus significava ver realizada a promessa divina. Assim, mais que
uma marginalização social, Levi superou a verdadeira marginalização
religiosa, ao se fazer discípulo do Reino.
Oração
Pai, coloca-me, cada dia, no seguimento de Jesus, pois, assim, estarei no bom
caminho que me conduz a ti.
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Liturgia do Domingo —
20.01.2013
2º Domingo do Tempo Comum - Bodas de Caná — ANO C
(VERDE,
GLÓRIA, CREIO – II SEMANA DO SALTÉRIO)
__ "Em Caná Jesus
manifestou sua glória. Fazei tudo que ele vos disser!" __
Ambientação:
Sejam bem-vindos amados
irmãos e irmãs!
INTRODUÇÃO DO FOLHETO
DOMINICAL PULSANDINHO: Iniciamos
os domingos do tempo comum. A partir de hoje, até quarta-feira de cinzas, a
cor litúrgica será o verde. A celebração de hoje continua sendo iluminada
pela teologia da Epifania. Com o milagre em Caná da Galiléia, Jesus começou a
manifestar sua glória e a despertar a fé em seus discípulos. É uma celebração
epifânica que convida os discípulos a crer e se inserir na Aliança. Neste
sentido, a celebração esponsal de Caná recebe uma função programática: depois
de ver a manifestação da glória de Deus, os discípulos são convidados a
crescer na fé e participar da nova comunidade, que tem no Evangelho a
proposta de justiça para que a vida ocupe o centro da nova humanidade.
INTRODUÇÃO DO FOLHETO
DOMINICAL O POVO DE DEUS: Celebramos
nesta Eucaristia as Bodas de Caná, ocasião em que Jesus realiza o
primeiro sinal messiânico, transformando a água em vinho para sinalizar que
era chegado o tempo da salvação, quando a humanidade pode festejar a presença
de Cristo e do Espírito Santo; hora de mudar o coração das pessoas e o
destino do mundo. O papel de Maria, como intercessora, acompanha a missão da
Igreja em toda a sua jornada através do tempo e da história. Preparemo-nos
para celebrar, na próxima sexta-feira, dia 25, a festa de Nosso
Padroeiro, São Paulo.
INTRODUÇÃO DO WEBMASTER: Jesus é homem como nós; tem amigos e aceita o convite
para um casamento, com sua mãe e seus primeiros discípulos. Esta semelhança
torna-o "acessível", "conhecível" a nós. Mas Cristo é
também "mistério", se ele não se revela, se não se manifesta sua
identidade. Revelação que fará pouco a pouco, com sábia pedagogia. Cristo
começa a revelar sua identidade não de modo verbal, explícito, como uma
fórmula dogmática, mas faz isso através de uma linguagem de gestos. O sinal
de Caná revela a glória de Jesus e desvela seu ser divino, através o pedido e
da bondade de sua mãe ao interceder pelos noivos e a fé de Maria leva Jesus a
"manifestar-se". Os discípulos crêem em Jesus; chegam de certo
modo, até a fé de Maria. Não é esta também a missão da Igreja hoje, a missão
de cada cristão, comunicar a fé?.
Sintamos o júbilo real
de Deus em nossos corações e cheios dessa alegria divina entoemos alegres
cânticos ao Senhor!
II
DOMINGO DO TEMPO COMUM
(VERDE, GLÓRIA, CREIO – II
SEMANA DO SALTÉRIO)
Antífona da entrada: Que toda a terra se prostre diante de vós, ó Deus, e
cante louvores ao vosso nome, Deus altíssimo! (Sl 65,4).
Comentário das Leituras: A leitura evangélica narra uma boda celebrada em Caná
da Galiléia. Mas os protagonistas, mais do que os noivos, são Jesus e sua Mãe
Maria como figuras centrais. Temos, portanto, dois níveis de leitura: o
cristológico, referido a Jesus que realiza o milagre; e o mariológico, em
relação com Maria, que intercede junto de seu filho. Este segundo nível
centrará hoje nossa atenção.
Primeira Leitura (Isaías
62,1-5)
Leitura do livro do profeta Isaías.
62 1 Por amor a Sião, eu não me
calarei, por amor de Jerusalém, não terei sossego, até que sua justiça brilhe
como a aurora, e sua salvação como uma flama.
2 As nações verão então tua vitória, e todos os reis teu triunfo. Receberás
então um novo nome, determinado pela boca do Senhor.
3 E tu serás uma esplêndida coroa na mão do Senhor, um diadema real entre as
mãos do teu Deus;
4 não mais serás chamada a desamparada, nem tua terra, a abandonada; serás
chamada: minha preferida, e tua terra: a desposada, porque o Senhor se
comprazerá em ti e tua terra terá um esposo;
5 assim como um jovem desposa uma jovem, aquele que te tiver construído te
desposará; e como a recém-casada faz a alegria de seu marido, tu farás a
alegria de teu Deus.
Salmo responsorial 95/96
Cantai ao Senhor Deus um canto
novo,
manifestai os seus prodígios entre os povos!
Cantai ao Senhor Deus um canto
novo,
cantai ao Senhor Deus, ó terra inteira!
Cantai e bendizei seu santo nome!
Dia após dia anunciai sua
salvação,
manifestai a sua glória entre as nações
e, entre os povos do universo, seus prodígios!
Ó família das nações, dai ao
Senhor,
ó nações, dai ao Senhor poder e glória,
dai-lhe a glória que é devida ao seu nome!
Oferecei um sacrifício nos seus átrios.
Adorai-o no esplendor da
santidade,
terra inteira, estremecei diante dele!
Publicai entre as nações: "Reina o Senhor!",
pois os povos ele julga com justiça.
Segunda Leitura (1
Coríntios 12,4-11)
Leitura da primeira carta de são Paulo aos Coríntios.
12 4 Há diversidade de dons, mas
um só Espírito.
5 Os ministérios são diversos, mas um só é o Senhor.
6 Há também diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos.
7 A cada um é dada a manifestação do Espírito para proveito
comum.
8 A um é dada pelo Espírito uma palavra de sabedoria; a outro, uma palavra de
ciência, por esse mesmo Espírito;
9 a outro, a fé, pelo mesmo Espírito; a outro, a graça de curar as doenças,
no mesmo Espírito;
10 a outro, o dom de milagres; a outro, a profecia; a outro, o discernimento
dos espíritos; a outro, a variedade de línguas; a outro, por fim, a
interpretação das línguas.
11 Mas um e o mesmo Espírito distribui todos estes dons, repartindo a cada um
como lhe apraz.
Aclamação do Evangelho
Aleluia, aleluia, aleluia.
O Senhor Deus nos chamou, por meio do Evangelho, a fim de alcançarmos a glória
de Cristo (2Ts 2,14).
EVANGELHO (João
2,1-11)
2 1 Três dias depois,
celebravam-se bodas em Caná da Galiléia, e achava-se ali a mãe de Jesus.
2 Também foram convidados Jesus e os seus discípulos.
3 Como viesse a faltar vinho, a mãe de Jesus disse-lhe: Eles já não têm
vinho.
4 Respondeu-lhe Jesus: "Mulher, isso compete a nós? Minha hora ainda não
chegou".
5 Disse, então, sua mãe aos serventes: "Fazei o que ele vos
disser".
6 Ora, achavam-se ali seis talhas de pedra para as purificações dos judeus,
que continham cada qual duas ou três medidas.
7 Jesus ordena-lhes: "Enchei as talhas de água". Eles encheram-nas
até em cima.
8 "Tirai agora", disse-lhes Jesus, e levai ao chefe dos serventes.
E levaram.
9 Logo que o chefe dos serventes provou da água tornada vinho, não sabendo de
onde era (se bem que o soubessem os serventes, pois tinham tirado a água),
chamou o noivo
10 e disse-lhe: "É costume servir primeiro o vinho bom e, depois, quando
os convidados já estão quase embriagados, servir o menos bom. Mas tu guardaste
o vinho melhor até agora".
11 Este foi o primeiro milagre de Jesus; realizou-o em Caná da Galiléia.
Manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele.
TEXTOS BÍBLICOS PARA A
SEMANA:
2ª Hb 5,1-10; Sl 109 (110); Mc 2,18-22.
3ª Hb
6,10-20; Sl 110 (111); Mc 2,23-28.
4ª Hb 7,1-3.15-17; Sl 109 (110); Mc 3,1-6.
5ª Hb 7,25-8,6; Sl 39 (40); Mc 3,7-12.
6ª At 22,3-16 ou At 9,1-22; Sl 116 (117); Mc 16,15-18.
Sa 2 Tm 1,1-8 ou Tt 1,1-5; Sl 95 (96); Lc 10,1-9.
3º DTC : Ne 8,2-4a. 5-6. 8-10; Sl
18(19),8. 9. 10. 15 (R/. Jo. 6, 63c); 1Cor 12,12-30; Lc 1,1-4; 4,14-21 (Jesus
em Nazaré)
COMENTÁRIOS DO EVANGELHO
1. Vinho Novo
Não sei dizer a razão pela qual
faltou o vinho nas Bodas de Cana, talvez a família não tivesse muitos
recursos e fez uma festa bem modesta, só para os mais íntimos. Também pode
ser que o Encarregado da cozinha, tenha errado no cálculo, ou então, porque
havia um número excessivo de “penetras”. Só sei que os convidados das bodas
de Canaã ficaram admirados com a qualidade e o sabor inigualável daquele
vinho que serviram na última hora, quando muitos já estavam até embriagados.
Os discípulos e os que serviam estavam de boca aberta, pois só eles sabiam
que todo aquele vinho delicioso fora tirado de seis talhas de barro, cheias
de água. Um prodígio promissor para Jesus iniciar seu ministério!
Em Israel muita gente andava
descontente com a religião, porque transformaram o Deus da Aliança, tão rico
em bondade e misericórdia, em um legislador implacável, alguém frio que
passava os dias observando atentamente quem ousava desrespeitar a lei de
Moisés. As pessoas iam ao templo ou nas sinagogas com o coração pesado, por
medo do que pudesse acontecer, se deixassem de observar alguma das mais de
seiscentas leis e prescrições da religião. Existiam para os faltosos a
possibilidade de se livrarem da culpa, cumprindo os rituais de purificação
feitos com água, mas que também era complicado pois naquele tempo não se
tinha a facilidade da água encanada como hoje.
Às vezes a prática da religião
se torna um peso quase insuportável, as vezes ao receber um sacramento, ou ao
término de alguma celebração, há quem dê um suspiro de alívio “Arre ! já
cumpri minha obrigação e estou livre!” para curtir o domingão. Certa ocasião
depois da celebração de crisma, um adolescente em frente a igreja dava pulos
e esmurrava o ar festejando quando alguém perguntou; “ feliz com a crisma recebida?”
. ---Muito feliz --- desabafou o jovem – pois agora não preciso mais vir à
igreja e estou livre!
Para ir a uma festa, um dia
antes já estamos na expectativa, já para ir à igreja, chegamos na última hora
e ás vezes, se a celebração se alongar um pouco, saímos antes da bênção final
pois só temos paciência para agüentar a missa por uma hora. Precisamos rever
o que está errado, nossas liturgias não podem resumir-se ao “oba-oba” mas
temos que lhe dar vivacidade para que as pessoas saiam convencidas da graça
de Deus e cheias de coragem para dar testemunho.
Não vale a pena praticar esse
tipo de religião meramente cultual ! Nas bodas de canã Jesus, ao transformar
a água da purificação em vinho da melhor qualidade, acabou com essa “chatice
religiosa” mas muitos ainda hoje insistem em beber desse vinho azedo de uma
religião angustiante, que bota freios no ser humano e coloca em seus olhos
uma “viseira” para somente enxergar na direção que aponta os dirigentes
“iluminados” sendo terminantemente proibido olhar em outra direção.
A verdadeira religião supõe
liberdade e uma alegria incontida pelo fato de se tomar conhecimento de que
Deus, apaixonado pelo homem, manifestou o seu amor no seu filho Jesus, que ao
chegar a sua hora, a hora de mostrar a que veio, em um gesto de loucura aos
olhos de muitos, derramou até a última gota do seu sangue na cruz do
calvário, para que nós pudéssemos ser felizes e ter uma vida nova como homens
livres.
É este o pensamento que deve
nortear a nossa relação com Deus no âmbito da Igreja, uma alegria de saber
que ele nos ama tanto, que ele só quer o nosso bem em seu sentido mais pleno,
um amor que nos ama sem exigir nada, sem cara feia, sem mau humor, sem
palavras amargas e sem nenhuma censura – Deus é amor infinito, bondade eterna
e misericórdia para sempre! É essa, portanto, a novidade que Jesus traz ao
mundo nas bodas de canã, ele é na verdade o noivo apaixonado pela noiva que é
a Igreja, assembléia de todos os que crêem. Uma noiva não muito bela e nem
sempre fiel, que às vezes se deixa seduzir por outros “amantes”.
Entendida e
aceita essa verdade, a Palavra de Deus celebrada e proclamada em nossas
comunidades, é uma carta de amor que ouvimos com o coração aos pinotes, e a
eucaristia se transforma em um jantar a luz de velas com Cristo Jesus, o
amado de nossa vida , ao sabor do vinho novo da graça santificante que nos
salva e liberta. Irradiar este amor a todos com o testemunho de vida, é a
única forma de transformar a sociedade e não adianta se buscar outras
alternativas, pois somente assim a glória de Cristo será manifestada semeando
a fé no coração dos descrentes! (2º. Domingo do Tempo Comum João 2, 1-11)
2. O princípio dos
"sinais" de Jesus
O capítulo 62 do profeta Isaías
faz parte do que se convencionou chamar, na exegese, trito-Isaías. Escrito no
período pós-exílico, o texto apresenta a cidade como esposa, depositária de
uma promessa de salvação.
O evangelho de João deste
domingo está situado na parte do quarto evangelho denominada "livro dos
sinais". O nosso relato é, no dizer do narrador, o "princípio"
dos sinais (v. 11), o que nos leva a compreender que o sinal de Caná é um
evento fundador. Trata-se de uma narração simbólica: ela torna presente algo
diferente do que é imediatamente dito e que lhe serve de expressão. Aqui, o
símbolo é mais importante que a materialidade dos fatos.
O tema geral é o cumprimento por
Jesus da promessa do Antigo Testamento de abundância de vinho nos tempos
messiânicos (Gn 49,10-11; Am 9,13-14). Jesus e seus discípulos são convidados
para uma festa de casamento. A mãe de Jesus também estava lá. Falar de festa
de bodas é evocar não só a Aliança passada (Noé, Abraão, Moisés), mas a nova,
em Jesus, de cuja plenitude todos receberam graça no lugar de graça (cf. Jo
1,16).
A festa humana das bodas serve
na tradição bíblica de metáfora para a Aliança de Deus com o seu povo (Os
2,18-21; Ez 16,8; Is 62,3-5). O vinho é dom de Deus para a alegria das
pessoas, e sinal de prosperidade (Sl 104[103],15; cf. Jz 9,13; Eclo 31,27-28;
Zc 10,7). É por essa razão que ele será abundante nas "bodas
escatológicas" (Am 9,13; Is 25,6).
Em Caná, o vinho oferecido por
Jesus é superior ao vinho servido primeiro. Graças à ação de Jesus, a Aliança
atinge a perfeição. Por trás das palavras da mãe de Jesus está Israel, que
confia na intervenção divina, espera e vê a promessa de salvação realizada. O
termo "mulher" evoca Sião, representada na Bíblia com traços de uma
mulher, de uma mãe (Is 49,20-22; 54,1; 66,7-11; Jo 16,21).
Como em nosso relato a noiva não
aparece, é a mãe de Jesus que representa Sião, cujo esposo é Deus. Em razão
de sua cor, o vinho era tido como o sangue da vinha. Daí ele ter se tornado,
como o sangue, símbolo da vida. "Eu vim para que todos tenham vida, e a
tenham em abundância", diz o Senhor (Jo 10,10). A nós, a tarefa de
distribuir este vinho da alegria e de oferecer esta vida que é dom.
Oração
Senhor Jesus, que Maria me conduza sempre a ti e me leve a descobrir em ti o
caminho da salvação que o Pai nos ofereceu.
3. A GLÓRIA DE JESUS
Com o milagre em Caná da
Galiléia, Jesus começou a manifestar sua glória e a despertar a fé em seus
discípulos.
Para evitarmos conclusões
apressadas, é mister entender bem a relação entre milagre e glória. Esta,
resultante do milagre, manifestou-se no serviço prestado, de forma escondida
e gratuita, a um casal em dificuldades, em plena festa de casamento. Pela
bondade de Jesus, os noivos livraram-se de uma humilhação pública. Assim
acontecia com aqueles, em cujas bodas, vinha a faltar vinho.
No entanto, tudo aconteceu de
maneira discreta. A mãe de Jesus deu-se conta da situação. Fez chegar ao
conhecimento do Filho o constrangimento por que os noivos estariam prestes a
passar. Após um diálogo misterioso com sua mãe, Jesus entra em ação, dando
ordem aos empregados. Só estes ficarão sabendo da origem daquele vinho
delicioso, servido, por último, aos convidados.
Não consta que alguém mais ficou
sabendo ter sido Jesus o autor do milagre e o tenham prestado honra por uma
tal façanha. Não foi esta a glória resultante do milagre, que o Mestre
esperava. Sua glória consistiu em mostrar-se sensível e serviçal em relação
ao casal em apuros.
Oração
Espírito de solidariedade e de serviço, diante das necessidades de tantos
irmãos e irmãs, move-me a servi-los com generosidade, sem buscar aplausos.
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