Ano C
1º
Domingo da Quaresma
No
início da Quaresma, a Palavra de Deus apela a repensar as nossas opções de vida
e a tomar consciência dessas "tentações" que nos impedem de renascer
para a vida nova, para a vida de Deus.
A primeira leitura convida-nos a eliminar os falsos deuses em quem às vezes apostamos tudo e a fazer de Deus a nossa referência fundamental. Alerta-nos, na mesma lógica, contra a tentação do orgulho e da auto-suficiência, que nos levam a caminhos de egoísmo e de desumanidade, de desgraça e de morte.
O Evangelho apresenta-nos uma catequese sobre as opções de Jesus. Lucas sugere que Jesus recusou radicalmente um caminho de materialismo, de poder, de êxito fácil, pois o plano de Deus não passava pelo egoísmo, mas pela partilha; não passava pelo autoritarismo, mas pelo serviço; não passava por manifestações espetaculares que impressionam as massas, mas por uma proposta de vida plena, apresentada com simplicidade e amor. É claro que é esse caminho que é sugerido aos que seguem Jesus.
A segunda leitura convida-nos a prescindir de uma atitude arrogante e auto-suficiente em relação à salvação que Deus nos oferece: a salvação não é uma conquista nossa, mas um dom gratuito de Deus. É preciso, pois, "converter-se" a Jesus, isto é, reconhecê-lo como o "Senhor" e acolher no coração a salvação que, em Jesus, Deus nos propõe.
LEITURA I - Dt 26,4-10A primeira leitura convida-nos a eliminar os falsos deuses em quem às vezes apostamos tudo e a fazer de Deus a nossa referência fundamental. Alerta-nos, na mesma lógica, contra a tentação do orgulho e da auto-suficiência, que nos levam a caminhos de egoísmo e de desumanidade, de desgraça e de morte.
O Evangelho apresenta-nos uma catequese sobre as opções de Jesus. Lucas sugere que Jesus recusou radicalmente um caminho de materialismo, de poder, de êxito fácil, pois o plano de Deus não passava pelo egoísmo, mas pela partilha; não passava pelo autoritarismo, mas pelo serviço; não passava por manifestações espetaculares que impressionam as massas, mas por uma proposta de vida plena, apresentada com simplicidade e amor. É claro que é esse caminho que é sugerido aos que seguem Jesus.
A segunda leitura convida-nos a prescindir de uma atitude arrogante e auto-suficiente em relação à salvação que Deus nos oferece: a salvação não é uma conquista nossa, mas um dom gratuito de Deus. É preciso, pois, "converter-se" a Jesus, isto é, reconhecê-lo como o "Senhor" e acolher no coração a salvação que, em Jesus, Deus nos propõe.
Leitura do livro do Deuteronômio
Moisés falou ao povo, dizendo:
"O sacerdote receberá da tua mão
as primícias dos frutos da terra
e colocá-las-ás diante do altar do Senhor teu Deus.
E diante do Senhor teu Deus, dirás as seguintes palavras:
'Meu pai era um arameu errante,
que desceu ao Egito com poucas pessoas,
e aí viveu como estrangeiro
até se tornar uma nação grande, forte e numerosa.
Mas os egípcios maltrataram-nos, oprimiram-nos
e sujeitaram-nos a dura escravidão.
Então invocamos o Senhor Deus dos nossos pais
e o Senhor ouviu a nossa voz,
viu a nossa miséria, o nosso sofrimento
e a opressão que nos dominava.
O Senhor fez-nos sair do Egito
com mão poderosa e braço estendido,
espalhando um grande terror e realizando sinais e prodígios.
Conduziu-nos a este lugar e deu-nos esta terra,
uma terra onde corre leite e mel.
E agora venho trazer-Vos as primícias dos frutos da terra
que me destes, Senhor'.
Então colocarás diante do Senhor teu Deus
as primícias dos frutos da terra
e te prostrarás diante do Senhor teu Deus.
AMBIENTE
O livro do Deuteronômio - do qual é retirada a primeira leitura de hoje - é aquele "livro da Lei" ou "livro da Aliança" descoberto no Templo de Jerusalém no 18º ano do reinado de Josias (
O livro apresenta-se, literariamente, como um conjunto de discursos de Moisés, pronunciados nas planícies de Moab: antes de entrar na Terra Prometida, Moisés lembra ao Povo os seus compromissos para com Deus e convida os israelitas a renovar a sua aliança com Jahwéh.
Em concreto, o texto que hoje nos é apresentado faz parte de um bloco (cf. Dt 12-26) que apresenta "as leis e os costumes" que o Povo da aliança devia pôr em prática nessa terra da qual iria, em breve, tomar posse. Uma dessas leis pedia que fossem oferecidos ao Senhor os primeiros frutos da terra e que o israelita fiel proclamasse, nesse contexto, a sua "confissão de fé". Provavelmente, o costume é de inspiração cananeia: cada ano, por ocasião da recolha dos produtos da terra, o cananeu celebrava uma festa em honra de Baal, divindade da fecundidade e da vegetação, agradecendo-lhe os dons da terra. Israel, no entanto, sabia que não era a Baal mas a Jahwéh que devia agradecer tudo; a sua confissão de fé centrava-se, então, na ação de Deus em favor do seu Povo, sublinhando sobretudo a libertação do Egito, os acontecimentos da marcha pelo deserto, a eleição e o dom da Terra.
MENSAGEM
O gesto de oferecer os primeiros produtos da terra era, portanto, acompanhado de uma "confissão de fé". No fundo, todo este "credo" que recapitula as antigas intervenções do Senhor em favor do seu Povo (eleição dos patriarcas, êxodo, dom da terra), tem como objetivo último afirmar e reconhecer que essa Terra Boa onde Israel construiu a sua existência é um dom de Deus; e não só a terra, mas tudo o que cresce sobre ela, é produto do amor de Deus em favor do seu Povo. É isso que significavam e simbolizavam as primícias que o israelita depositava sobre o altar, por meio do sacerdote.
Estas profissões de fé que os israelitas estavam obrigados a pronunciar periodicamente na liturgia faziam parte da pedagogia divina, que queria prevenir o Povo contra a tentação da idolatria. Por um lado, Israel era convidado a reconhecer quem era o seu Senhor e que tudo era um dom do amor de Jahwéh - não de outros deuses; por outro lado, Israel era convidado a libertar-se do orgulho, do egoísmo, da auto-suficiência e a reconhecer que tudo o que era e que tinha não era fruto das conquistas humanas, mas provinha de Jahwéh. Israel era, assim, convidado a reconhecer que só no amor e na ação de Deus encontrava a vida e a felicidade.
ATUALIZAÇÃO
Para reflexão, considerar os seguintes pontos:
- Uma das tentações frequentes na vida
do homem moderno é colocar a sua vida, a sua esperança e a sua segurança
nas mãos dos falsos deuses: o dinheiro, o poder, o êxito social ou
profissional, a ciência ou a técnica, os partidos, os líderes e as
ideologias ocupam com frequência nas nossas vidas o lugar de Deus. Quais
são os deuses diante dos quais o mundo se prostra? Quais são os deuses
que, tantas vezes, impedem que Deus ocupe, na minha vida, o primeiro
lugar?
- O orgulho, o egoísmo, a
auto-suficiência também levam o homem a prescindir de Deus. Os êxitos e as
realizações são atribuídas exclusivamente ao esforço e ao gênio humano,
como se o homem se bastasse a si próprio… Deus chega mesmo a ser visto,
não como a referência última da nossa história e da nossa vida, mas como
um estorvo que impede o homem de ser livre e de seguir o seu caminho de
busca de felicidade. Onde nos leva um mundo que prescinde de Deus? Os
caminhos que o homem constrói longe de Deus são caminhos onde encontramos
mais humanidade, mais alegria, mais amor, mais liberdade, mais respeito
pela justiça e pela dignidade do homem? Porquê?
- Tudo o que recebemos é de Deus e não
nosso. Somos apenas administradores dos dons que Deus colocou à disposição
de todos os homens. A nossa relação com os bens - mesmo os mais
fundamentais - não pode, pois, ser uma relação fechada e egoísta: tudo
pertence a Deus, o Pai de todos os homens e deve, portanto, ser
partilhado. Como nos situamos face a isto? Os bens que Deus colocou à
nossa disposição servem apenas para nosso benefício exclusivo, ou são
vistos como dons de Deus para todos?
SALMO
RESPONSORIAL - Salmo 90 (91)
Refrão:
Estai comigo, Senhor, no meio da adversidade.
Tu
que habitas sob a proteção do Altíssimo
e moras à sombra do Onipotente,
Diz ao Senhor: "Sois o meu refúgio e a minha cidadela:
meu Deus, em Vós confio".
e moras à sombra do Onipotente,
Diz ao Senhor: "Sois o meu refúgio e a minha cidadela:
meu Deus, em Vós confio".
Nenhum
mal te acontecerá
nem a desgraça se aproximará da tua tenda,
porque Ele mandará aos seus Anjos
que te guardem em todos os teus caminhos.
nem a desgraça se aproximará da tua tenda,
porque Ele mandará aos seus Anjos
que te guardem em todos os teus caminhos.
Na
palma das mãos te levarão,
para que não tropeces em alguma pedra.
Poderás andar sobre víboras e serpentes,
calcar aos pés o leão e o dragão.
para que não tropeces em alguma pedra.
Poderás andar sobre víboras e serpentes,
calcar aos pés o leão e o dragão.
Porque em Mim confiou, hei de
salvá-lo;
hei de protegê-lo, pois conheceu o meu nome.
Quando Me invocar, hei de atendê-lo,
estarei com ele na tribulação,
hei de libertá-lo e dar-lhe glória.
hei de protegê-lo, pois conheceu o meu nome.
Quando Me invocar, hei de atendê-lo,
estarei com ele na tribulação,
hei de libertá-lo e dar-lhe glória.
LEITURA
II - Rom 10,8-13
Leitura
da Epístola do apóstolo São Paulo aos Romanos
Irmãos:
Que diz a Escritura?
"A palavra está perto de ti,
na tua boca e no teu coração".
Esta é a palavra da fé que nós pregamos.
Se confessares com a tua boca que Jesus é o Senhor
e se acreditares no teu coração
que Deus O ressuscitou dos mortos,
serás salvo.
Pois com o coração se acredita para obter a justiça
e com a boca se professa a fé para alcançar a salvação.
Na verdade, a Escritura diz:
"Todo aquele que acreditar no Senhor
não será confundido".
Não há diferença entre judeu e grego:
todos têm o mesmo Senhor,
rico para com todos os que O invocam.
Portanto, todo aquele que invocar o nome do Senhor
será salvo.
Que diz a Escritura?
"A palavra está perto de ti,
na tua boca e no teu coração".
Esta é a palavra da fé que nós pregamos.
Se confessares com a tua boca que Jesus é o Senhor
e se acreditares no teu coração
que Deus O ressuscitou dos mortos,
serás salvo.
Pois com o coração se acredita para obter a justiça
e com a boca se professa a fé para alcançar a salvação.
Na verdade, a Escritura diz:
"Todo aquele que acreditar no Senhor
não será confundido".
Não há diferença entre judeu e grego:
todos têm o mesmo Senhor,
rico para com todos os que O invocam.
Portanto, todo aquele que invocar o nome do Senhor
será salvo.
AMBIENTE
A
Carta aos Romanos é considerada, por alguns exegetas, a "carta da
reconciliação". Estamos nos anos 57/58; a convivência entre judeu-cristãos
e pagão-cristãos apresenta algumas dificuldades, dadas as diferenças sociais,
culturais e religiosas subjacentes aos dois grupos. A comunidade cristã corre o
risco de radicalizar as incompatibilidades e de se dividir… Nesta situação,
Paulo escreve para sublinhar aquilo que a todos une. O centro da carta seria,
de acordo com esta perspectiva, 15,7: "Acolhei-vos, pois, uns aos outros,
como Cristo vos acolheu, para glória de Deus".
O texto da segunda leitura pertence à primeira parte da carta (Rm 1-11); o título desta parte pode ser: o evangelho de Jesus é a força que congrega e que salva todo o crente (judeus e pagãos). Depois de demonstrar que todos os homens vivem mergulhados num ambiente de pecado (Rm 1,18-3,20), mas que a "justiça de Deus" dá a vida a todos sem distinção (Rm 3,21-5,11) e que é em Jesus que essa vida se comunica (Rm 5,12-8,39), Paulo reflete sobre o desígnio de Deus a respeito de Israel (Rm 9,1-11,36).
Neste texto, em concreto, Paulo põe em relevo aquilo que une judeus e gregos: a mesma féem Jesus Cristo
e na proposta de salvação que ele traz.
O texto da segunda leitura pertence à primeira parte da carta (Rm 1-11); o título desta parte pode ser: o evangelho de Jesus é a força que congrega e que salva todo o crente (judeus e pagãos). Depois de demonstrar que todos os homens vivem mergulhados num ambiente de pecado (Rm 1,18-3,20), mas que a "justiça de Deus" dá a vida a todos sem distinção (Rm 3,21-5,11) e que é em Jesus que essa vida se comunica (Rm 5,12-8,39), Paulo reflete sobre o desígnio de Deus a respeito de Israel (Rm 9,1-11,36).
Neste texto, em concreto, Paulo põe em relevo aquilo que une judeus e gregos: a mesma fé
MENSAGEM
Nos
versículos anteriores (cfr. Rm 9,30-10,4), Paulo havia criticado o orgulho e a
auto-suficiência dos judeus, que pensavam chegar à salvação à custa das obras
que praticavam: se cumprissem as obras da Lei, Deus não teria outro remédio
senão salvá-los. Ora, na perspectiva de Paulo, a salvação não é uma conquista
humana, mas um dom gratuito de Deus que, na sua bondade, "justifica"
o homem.
Essa auto-suficiência dos judeus levou-os a desprezar a salvação de Deus, oferecida gratuitamenteem
Jesus Cristo. Os pagãos, ao contrário, com simplicidade e humildade,
acolheram a proposta de salvação que Jesus trouxe.
Então, tudo estará perdido para os judeus? Não. Basta-lhes acolher Jesus como "o Senhor" e aceitar a sua condição de ressuscitado: isso significa aceitar que ele veio de Deus e que a proposta de salvação por ele apresentada tem o selo de Deus.
Dessa forma nascerá um povo único, sem distinções de raça, cor ou estatuto social. O que é decisivo é acolher a proposta de salvação que Deus faz através de Jesus e aderir a essa comunidade de irmãos, "justificados" pela bondade e pelo amor de Deus.
Essa auto-suficiência dos judeus levou-os a desprezar a salvação de Deus, oferecida gratuitamente
Então, tudo estará perdido para os judeus? Não. Basta-lhes acolher Jesus como "o Senhor" e aceitar a sua condição de ressuscitado: isso significa aceitar que ele veio de Deus e que a proposta de salvação por ele apresentada tem o selo de Deus.
Dessa forma nascerá um povo único, sem distinções de raça, cor ou estatuto social. O que é decisivo é acolher a proposta de salvação que Deus faz através de Jesus e aderir a essa comunidade de irmãos, "justificados" pela bondade e pelo amor de Deus.
ATUALIZAÇÃO
Considerar,
na reflexão e atualização da Palavra, as seguintes questões:
- O orgulho e a auto-suficiência
aparecem sempre como algo que fecha aos homens o caminho para Deus.
Conduzem o homem ao fechamento em si próprio e a prescindir de Deus e dos
outros. Os orgulhosos e auto-suficientes correspondem aos
"ricos" das bem-aventuranças: são os que estão instalados nas
suas certezas, no seu comodismo, no seu egoísmo e não estão disponíveis
para se deixar desafiar por Deus e para acolher, em cada instante, a
novidade e o amor de Deus. Por isso, são "malditos": se não
estiverem dispostos a abrir o seu coração a Deus, recusam a salvação que
Deus tem para oferecer.
- Como nos situamos face a isto? A
nossa religião é um cumprir escrupulosamente as regras para assegurar o
"lugarzinho no céu", ou é um aderir na fé à pessoa de Jesus e à
proposta gratuita de salvação que, através dele, Deus nos faz?
- Quando nos reunimos em assembleia e
proclamamos Jesus como o nosso "Senhor", somos uma verdadeira
comunidade de irmãos, sem "judeu nem grego", ou continuamos a
ser uma comunidade dividida, com amigos e inimigos, ricos e pobres, negros
e brancos, santos e pecadores, superiores e inferiores?
ACLAMAÇÃO
ANTES DO EVANGELHO - Mt 4,4b
Refrão
1: Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo Senhor.
Refrão 2: Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai.
Refrão 3: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai.
Refrão 4: Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo.
Refrão 4: Louvor a Vós, Jesus Cristo, rei da eterna glória.
Refrão 6: Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor.
Refrão 7: A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Refrão 2: Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai.
Refrão 3: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai.
Refrão 4: Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo.
Refrão 4: Louvor a Vós, Jesus Cristo, rei da eterna glória.
Refrão 6: Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor.
Refrão 7: A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Nem só de pão vive o homem,
mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.
mas de toda a palavra que sai da boca de Deus.
EVANGELHO
- Lc 4,1-13
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele
tempo,
Jesus, cheio do Espírito Santo,
retirou-Se das margens do Jordão.
Durante quarenta dias,
esteve no deserto, conduzido pelo Espírito,
e foi tentado pelo diabo.
Nesses dias não comeu nada
e, passado esse tempo, sentiu fome.
O diabo disse-lhe:
"Se és Filho de Deus,
manda a esta pedra que se transforme em pão".
Jesus respondeu-lhe:
"Está escrito:
'Nem só de pão vive o homem".
O diabo levou-O a um lugar alto
e mostrou-Lhe num instante todos os reinos da terra
e disse-Lhe:
"Eu Te darei todo este poder e a glória destes reinos,
porque me foram confiados e os dou a quem eu quiser.
Se Te prostrares diante de mim, tudo será teu".
Jesus respondeu-lhe:
"Está escrito:
'Ao Senhor teu Deus adorarás,
só a Ele prestarás culto'".
Então o demônio levou-O a Jerusalém,
colocou-O sobre o pináculo do Templo
e disse-Lhe:
"Se és Filho de Deus,
atira-te daqui abaixo,
porque está escrito:
'Ele dará ordens aos seus Anjos a teu respeito,
para que te guardem';
e ainda: 'Na palma das mãos te levarão,
para que não tropeces em alguma pedra'".
Jesus respondeu-lhe: "Está mandado:
'Não tentarás o Senhor teu Deus'".
Então o diabo, tendo terminado toda a espécie de tentação,
retirou-Se da presença de Jesus, até certo tempo.
Jesus, cheio do Espírito Santo,
retirou-Se das margens do Jordão.
Durante quarenta dias,
esteve no deserto, conduzido pelo Espírito,
e foi tentado pelo diabo.
Nesses dias não comeu nada
e, passado esse tempo, sentiu fome.
O diabo disse-lhe:
"Se és Filho de Deus,
manda a esta pedra que se transforme em pão".
Jesus respondeu-lhe:
"Está escrito:
'Nem só de pão vive o homem".
O diabo levou-O a um lugar alto
e mostrou-Lhe num instante todos os reinos da terra
e disse-Lhe:
"Eu Te darei todo este poder e a glória destes reinos,
porque me foram confiados e os dou a quem eu quiser.
Se Te prostrares diante de mim, tudo será teu".
Jesus respondeu-lhe:
"Está escrito:
'Ao Senhor teu Deus adorarás,
só a Ele prestarás culto'".
Então o demônio levou-O a Jerusalém,
colocou-O sobre o pináculo do Templo
e disse-Lhe:
"Se és Filho de Deus,
atira-te daqui abaixo,
porque está escrito:
'Ele dará ordens aos seus Anjos a teu respeito,
para que te guardem';
e ainda: 'Na palma das mãos te levarão,
para que não tropeces em alguma pedra'".
Jesus respondeu-lhe: "Está mandado:
'Não tentarás o Senhor teu Deus'".
Então o diabo, tendo terminado toda a espécie de tentação,
retirou-Se da presença de Jesus, até certo tempo.
AMBIENTE
Estamos
no começo da atividade pública de Jesus. Ele acabou de ser batizado por João
Baptista e recebeu o Espírito para a missão (cfr. Lc 3,21-22). Agora,
confronta-se com uma proposta de atuação messiânica que pretende subverter a
proposta do Pai.
Também aqui não estamos diante de uma reportagem histórica, feita por um jornalista que presenciou o desafio entre Jesus e o diabo, algures no deserto… Estamos, sim, diante de uma página de catequese, cujo objetivo é ensinar-nos que Jesus, como nós, sentiu a mordedura das tentações. Ele também sentiu a tentação de prescindir de Deus e de seguir um caminho humano de êxitos, de aplausos, de poder e de riqueza; no entanto, ele soube dizer não a todas essas propostas que o afastavam do plano do Pai.
Também aqui não estamos diante de uma reportagem histórica, feita por um jornalista que presenciou o desafio entre Jesus e o diabo, algures no deserto… Estamos, sim, diante de uma página de catequese, cujo objetivo é ensinar-nos que Jesus, como nós, sentiu a mordedura das tentações. Ele também sentiu a tentação de prescindir de Deus e de seguir um caminho humano de êxitos, de aplausos, de poder e de riqueza; no entanto, ele soube dizer não a todas essas propostas que o afastavam do plano do Pai.
MENSAGEM
Lucas
(como já o havia feito Mateus) vai apresentar a catequese sobre as opções de
Jesus, em três episódios ou "parábolas". O relato constrói-se em
torno de um diálogo em que tanto o diabo como Jesus citam a Escritura em apoio
da sua opinião.
A primeira "parábola" sugere que Jesus poderia ter optado por um caminho de facilidade e de riqueza, utilizando a sua divindade para resolver qualquer necessidade material… No entanto, Jesus sabia que "nem só de pão vive o homem" e que o caminho do Pai não passa pela acumulação egoísta de bens. A resposta de Jesus cita Dt 8,3, sugerindo que o seu alimento - a sua prioridade - é a Palavra do Pai.
A segunda "parábola" sugere que Jesus poderia ter escolhido um caminho de poder, de domínio, de prepotência, ao jeito dos grandes da terra. No entanto, Jesus sabe que esses esquemas são diabólicos e que não entram nos planos do Pai; por isso, citando Dt 6,13, diz que só o Pai é o seu "absoluto" e que não se deve adorar mais nada: adorar o poder que corrompe e escraviza não tem nada a ver com o projeto de Deus.
A terceira "parábola" sugere que Jesus poderia ter construído um caminho de êxito fácil, mostrando o seu poder através de gestos espetaculares e sendo admirado e aclamado pelas multidões (sempre dispostas a deixarem-se fascinar pelo "show" mediático dos super-heróis). Jesus responde a esta proposta citando Dt 6,16, que manda "não tentar" o Senhor Deus: aqui, "tentar" significa "não utilizar os dons de Deus ou a bondade de Deus com um fim egoísta e interesseiro".
Apresentam-se portanto, diante de Jesus, dois caminhos. De um lado, está a proposta do diabo: que Jesus realize o seu papel na história da salvação como um messias triunfante, ao jeito dos homens; do outro, está a escolha de Jesus: um caminho de obediência ao Pai e de serviço aos homens, que elimina qualquer concepção do messianismo como poder.
A primeira "parábola" sugere que Jesus poderia ter optado por um caminho de facilidade e de riqueza, utilizando a sua divindade para resolver qualquer necessidade material… No entanto, Jesus sabia que "nem só de pão vive o homem" e que o caminho do Pai não passa pela acumulação egoísta de bens. A resposta de Jesus cita Dt 8,3, sugerindo que o seu alimento - a sua prioridade - é a Palavra do Pai.
A segunda "parábola" sugere que Jesus poderia ter escolhido um caminho de poder, de domínio, de prepotência, ao jeito dos grandes da terra. No entanto, Jesus sabe que esses esquemas são diabólicos e que não entram nos planos do Pai; por isso, citando Dt 6,13, diz que só o Pai é o seu "absoluto" e que não se deve adorar mais nada: adorar o poder que corrompe e escraviza não tem nada a ver com o projeto de Deus.
A terceira "parábola" sugere que Jesus poderia ter construído um caminho de êxito fácil, mostrando o seu poder através de gestos espetaculares e sendo admirado e aclamado pelas multidões (sempre dispostas a deixarem-se fascinar pelo "show" mediático dos super-heróis). Jesus responde a esta proposta citando Dt 6,16, que manda "não tentar" o Senhor Deus: aqui, "tentar" significa "não utilizar os dons de Deus ou a bondade de Deus com um fim egoísta e interesseiro".
Apresentam-se portanto, diante de Jesus, dois caminhos. De um lado, está a proposta do diabo: que Jesus realize o seu papel na história da salvação como um messias triunfante, ao jeito dos homens; do outro, está a escolha de Jesus: um caminho de obediência ao Pai e de serviço aos homens, que elimina qualquer concepção do messianismo como poder.
ATUALIZAÇÃO
Refletir
sobre as seguintes coordenadas:
- Frente a frente estão, hoje, a
lógica de Deus e a lógica dos homens. A catequese que o evangelho nos
apresenta neste primeiro domingo da Quaresma ensina que Jesus pautou cada
uma das suas escolhas pela lógica de Deus. E nós, cristãos, seguidores de
Jesus? É essa a nossa lógica, também?
- Deixar-se conduzir pela tentação dos
bens materiais, do acumular mais e mais, do olhar apenas para o seu
próprio conforto e comodidade, do fechar-se à partilha e às necessidades
dos outros, é seguir o caminho de Jesus? Pagar salários de miséria aos
operários e gastar fortunas em noitadas de jogo ou em coisas supérfluas
(enquanto os irmãos, ao lado, gemem a sua miséria), é seguir o caminho de
Jesus?
- Dentro de cada pessoa, existe o
impulso de dominar, de ter autoridade, de prevalecer sobre os outros. Por
isso - às vezes na Igreja - os pobres, os débeis, os humildes têm de
suportar atitudes de prepotência, de autoritarismo, de intolerância, de
abuso. A catequese de hoje sugere que este "caminho" é diabólico
e não tem nada a ver com o serviço simples e humilde que Jesus propôs nas
suas palavras e nos seus gestos.
- Podemos, também, ceder à tentação de
usar Deus ou os dons de Deus para brilhar, para dar espetáculo, para levar
os outros a admirar-nos e a bater-nos palmas. A isto Jesus responde de
forma determinada: não utilizarás Deus em proveito da tua vaidade e do teu
êxito pessoal.
ALGUMAS
SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 1º DOMINGO DA QUARESMA
Ao longo dos dias da semana anterior ao 1º Domingo da Quaresma, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa…
2.
Pão e tentação - palavras-chave.
O Evangelho fala de pão e de tentação. Estas duas palavras aparecem na oração do Pai Nosso: "O pão nosso de cada dia nos dai hoje… não nos deixeis cair em tentação".
Uma pista para a homilia poderia ser a ligação entre pão e tentação: se não se alimentar com o pão da Palavra, o cristão não terá forças para resistir, quando chegar a prova da tentação.
Somos convidados a reler o Pai Nosso à luz do Evangelho deste domingo: dá-nos o teu pão para este dia, ajuda-nos a ultrapassar a tentação!
O Evangelho fala de pão e de tentação. Estas duas palavras aparecem na oração do Pai Nosso: "O pão nosso de cada dia nos dai hoje… não nos deixeis cair em tentação".
Uma pista para a homilia poderia ser a ligação entre pão e tentação: se não se alimentar com o pão da Palavra, o cristão não terá forças para resistir, quando chegar a prova da tentação.
Somos convidados a reler o Pai Nosso à luz do Evangelho deste domingo: dá-nos o teu pão para este dia, ajuda-nos a ultrapassar a tentação!
3.
Oração na lectio divina.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.
No
final da primeira leitura:
"Deus, Pai do teu Povo, a Igreja, não Te damos graças. Pelo batismo e confirmação, libertaste-nos das amarras da morte para nos introduzir na nova Terra prometida, a Eucaristia.
Neste início de Quaresma, recomendamos-Te os candidatos ao batismo que entram na última etapa da sua preparação.
"Deus, Pai do teu Povo, a Igreja, não Te damos graças. Pelo batismo e confirmação, libertaste-nos das amarras da morte para nos introduzir na nova Terra prometida, a Eucaristia.
Neste início de Quaresma, recomendamos-Te os candidatos ao batismo que entram na última etapa da sua preparação.
No
final da segunda leitura:
"Pai, nós Te damos graças pela fé que nos ofereces: confessamos que Jesus é Senhor, acreditamos do fundo do coração que O ressuscitaste de entre os mortos.
Nós Te pedimos pelos nossos irmãos e irmãs que duvidam e por nós mesmos: pelo teu Espírito Santo, sustenta a nossa fé, que a tua Palavra habite nos nossos corações.
"Pai, nós Te damos graças pela fé que nos ofereces: confessamos que Jesus é Senhor, acreditamos do fundo do coração que O ressuscitaste de entre os mortos.
Nós Te pedimos pelos nossos irmãos e irmãs que duvidam e por nós mesmos: pelo teu Espírito Santo, sustenta a nossa fé, que a tua Palavra habite nos nossos corações.
No
final do Evangelho:
"Deus fiel, nós Te damos graças porque nos enviaste o teu Filho Jesus. Ele convida-nos a segui-lo nos caminhos da humanidade e a nos comprometermos no caminho da Páscoa.
Nós te pedimos: enche-nos do teu Espírito, à imagem do teu Filho Jesus, para que possamos progredir na fidelidade à tua Palavra.
"Deus fiel, nós Te damos graças porque nos enviaste o teu Filho Jesus. Ele convida-nos a segui-lo nos caminhos da humanidade e a nos comprometermos no caminho da Páscoa.
Nós te pedimos: enche-nos do teu Espírito, à imagem do teu Filho Jesus, para que possamos progredir na fidelidade à tua Palavra.
4.
Oração Eucarística.
A Oração Eucarística "Para circunstâncias particulares", na intercessão 1, situa-se numa tonalidade de conversão.
A Oração Eucarística "Para circunstâncias particulares", na intercessão 1, situa-se numa tonalidade de conversão.
5.
Palavra para o caminho.
Jesus não escolhe partir para o deserto. É conduzido pelo Espírito Santo. E aí, ei-lo afrontado ao Espírito do mal.
Também nós não escolhemos viver no coração deste mundoem que Deus se tornou
desinteressante.
Deserto para as nossas vidas de crentes… para a nossa Igreja… com todas as tentações ligadas às nossas faltas: lassidão, desencorajamento, desejo de nos retirarmos de uma Igreja que nos desconcerta e de abandonarmos Deus…
Por causa de Jesus sabemos que a travessia do deserto é possível. O seu Espírito acompanha-nos e apoia as nossas escolhas de crentes. "Acredita no teu coração…", diz-nos Paulo na Carta aos Romanos.
A Quaresma, travessia do deserto…
A Quaresma, convite a reavivar a nossa esperança!
Jesus não escolhe partir para o deserto. É conduzido pelo Espírito Santo. E aí, ei-lo afrontado ao Espírito do mal.
Também nós não escolhemos viver no coração deste mundo
Deserto para as nossas vidas de crentes… para a nossa Igreja… com todas as tentações ligadas às nossas faltas: lassidão, desencorajamento, desejo de nos retirarmos de uma Igreja que nos desconcerta e de abandonarmos Deus…
Por causa de Jesus sabemos que a travessia do deserto é possível. O seu Espírito acompanha-nos e apoia as nossas escolhas de crentes. "Acredita no teu coração…", diz-nos Paulo na Carta aos Romanos.
A Quaresma, travessia do deserto…
A Quaresma, convite a reavivar a nossa esperança!
2º
Domingo da Quaresma
As
leituras deste domingo convidam-nos a refletir sobre a nossa
"transfiguração", a nossa conversão à vida nova de Deus; nesse
sentido, são-nos apresentadas algumas pistas.
A primeira leitura apresenta-nos Abraão, o modelo do crente. Com Abraão, somos convidados a "acreditar", isto é, a uma atitude de confiança total, de aceitação radical, de entrega plena aos desígnios desse Deus que não falha e é sempre fiel às promessas.
A segunda leitura convida-nos a renunciar a essa atitude de orgulho, de auto-suficiência e de triunfalismo, resultantes do cumprimento de ritos externos; a nossa transfiguração resulta de uma verdadeira conversão do coração, construída dia a dia sob o signo da cruz, isto é, do amor e da entrega da vida.
O Evangelho apresenta-nos Jesus, o Filho amado do Pai, cujo êxodo (a morte na cruz) concretiza a nossa libertação. O projeto libertador de Deus em Jesus não se realiza através de esquemas de poder e de triunfo, mas através da entrega da vida e do amor que se dá até à morte. É esse o caminho que nos conduz, a nós também, à transfiguraçãoem
Homens Novos.
LEITURA I - Gn 15,5-12.17-18A primeira leitura apresenta-nos Abraão, o modelo do crente. Com Abraão, somos convidados a "acreditar", isto é, a uma atitude de confiança total, de aceitação radical, de entrega plena aos desígnios desse Deus que não falha e é sempre fiel às promessas.
A segunda leitura convida-nos a renunciar a essa atitude de orgulho, de auto-suficiência e de triunfalismo, resultantes do cumprimento de ritos externos; a nossa transfiguração resulta de uma verdadeira conversão do coração, construída dia a dia sob o signo da cruz, isto é, do amor e da entrega da vida.
O Evangelho apresenta-nos Jesus, o Filho amado do Pai, cujo êxodo (a morte na cruz) concretiza a nossa libertação. O projeto libertador de Deus em Jesus não se realiza através de esquemas de poder e de triunfo, mas através da entrega da vida e do amor que se dá até à morte. É esse o caminho que nos conduz, a nós também, à transfiguração
Leitura do Livro do Gênesis
Naqueles dias,
Deus levou Abrão para fora de casa e disse-lhe:
"Olha para o céu e conta as estrelas, se as puderes contar".
E acrescentou:
"Assim será a tua descendência".
Abrão acreditou no Senhor,
o que lhe foi atribuído em conta de justiça.
Disse-lhe Deus:
"Eu sou o Senhor
que te mandou sair de Ur dos caldeus,
para te dar a posse desta terra".
Abrão perguntou:
"Senhor, meu Deus,
como saberei que a vou possuir?"
O Senhor respondeu-lhe:
"Toma uma vitela de três anos,
uma cabra de três anos e um carneiro de três anos,
uma rola e um pombinho".
Abrão foi buscar todos esses animais,
cortou-os ao meio
e pôs cada metade em frente de outra metade;
mas não cortou as aves.
Os abutres desceram sobre os cadáveres,
mas Abrão pô-los em fuga.
Ao pôr do sol,
apoderou-se de Abrão um sono profundo,
enquanto o assaltava um grande e escuro terror.
Quando o sol desapareceu e caíram as trevas,
um brasido fumegante e um archote de fogo
passaram entre os animais cortados.
Nesse dia, o Senhor estabeleceu com Abrão uma aliança,
dizendo:
"Aos teus descendentes darei esta terra,
desde o rio do Egito até ao grande rio Eufrates".
AMBIENTE
A primeira leitura de hoje faz parte das chamadas "tradições patriarcais" (Gn 12-36). São "tradições" que misturam "mitos de origem" (descreviam a "tomada de posse" de um lugar pelo patriarca do clã), "lendas cultuais" (narravam como um deus tinha aparecido nesse lugar ao patriarca do clã), indicações mais ou menos concretas sobre a vida dos clãs nômades que circularam pela Palestina e reflexões teológicas posteriores destinadas a apresentar aos crentes israelitas modelos de vida e de fé.
Os clãs referenciados nas "tradições patriarcais" - nomeadamente os de Abraão, Isaac e Jacob - tinham os seus sonhos e esperanças. O denominador comum desses sonhos era a esperança de encontrar uma terra fértil e bem irrigada, bem como possuir uma família forte e numerosa que perpetuasse a "memória" da tribo e se impusesse aos inimigos. O deus aceite pelo grupo era o potencial concretizador desse ideal.
É neste "ambiente" que este texto nos coloca. Diante de Deus, Abraão lamenta-se (cfr. Gn 15,2-3) porque a sua vida está a chegar ao fim e o seu herdeiro será um servo - Eliezer (conhecemos contratos do séc. XV a. C. onde se estipula, em caso de falta de filhos, a adoção de escravos que, por sua vez, se comprometiam a dar ao seu senhor uma sepultura conveniente. Parece ser a esse costume que o texto alude). Qual será a resposta de Deus ao lamento de Abraão?
MENSAGEM
A primeira parte deste texto começa com Deus a responder a Abraão e a garantir-lhe uma descendência numerosa "como as estrelas do céu" (vers. 5). Na sequência, o narrador deixa Abraão a contemplar em silêncio o céu estrelado e volta-se para o leitor, comunicando-lhe os seus próprios juízos teológicos (vers. 6): Abraão acreditou em Jahwéh e, por isso, o Senhor considerou-o como justo. A fé (usa-se o verbo "'aman", que significa "estar firme", "ser leal", "acreditar plenamente") de que aqui se fala traduz uma atitude de confiança total, de aceitação radical, de entrega plena aos desígnios de Deus; a justiça é um conceito relacional, que exprime um comportamento correto no que diz respeito a uma relação comunitária existente: aqui, significa o reconhecimento de que Abraão teve um comportamento correto na sua relação com Jahwéh, ao confiar totalmente em Deus e ao aceitar os seus planos sem qualquer dúvida ou discussão.
Há ainda o complemento habitual da promessa: a garantia de uma terra (vers. 7). Os dois temas - descendência e posse da terra - andam associados, nestes casos.
A segunda parte do texto apresenta Deus a fazer os preparativos de um misterioso cerimonial. Trata-se de um rito de conclusão de uma aliança, conhecido sob esta ou outra forma semelhante em numerosos povos antigos: cortavam-se os animais em dois e colocavam-se as duas metades frente a frente; quem subscrevia a aliança passava entre as duas metades de animais e pronunciava contra si próprio uma espécie de maldição, para o caso de ser responsável pela quebra do pacto.
Seguindo o modo como entre os homens se garantia a máxima firmeza contratual, o catequista bíblico acentua a ideia de um compromisso solene e irrevogável que Deus assume com Abraão. A promessa de Deus fica assim totalmente garantida.
Repare-se, ainda, num outro pormenor: Deus não exigiu nada a Abraão, em troca, nem Abraão teve que passar no meio dos animais mortos (só Deus passou, no "fogo ardente"). A promessa de Deus a Abraão é, pois, totalmente gratuita e incondicional.
ATUALIZAÇÃO
Considerar, para reflexão, os seguintes elementos:
- Apesar da contínua reafirmação das
promessas, Abraão está velho, sem filhos, sem a terra sonhada e a sua vida
parece condenada ao fracasso. Seria natural que Abraão manifestasse o seu
desapontamento e a sua frustração diante de Deus; no entanto, a resposta
de Abraão é confiar totalmente em Deus, aceitar os seus projetos e pôr-se
ao serviço dos desígnios de Jahwéh. É esta mesma confiança total que marca
a minha relação com Deus? Estou sempre disposto - mesmo em situações que
eu não compreendo - a entregar-me nas mãos de Deus e a confiar nos seus
desígnios?
- O Deus que se revela a Abraão é um
Deus que se compromete com o homem e cujas promessas são garantidas,
gratuitas e incondicionais. Diante disto, somos convidados a construir a
nossa existência com serenidade e confiança, sabendo que nos meio das
tempestades que agitam a nossa vida ele está lá, acompanhando-nos,
amando-nos e sendo a rocha segura a que nos podemos agarrar quando tudo o
resto falhou.
SALMO
RESPONSORIAL - Salmo 26 (27)
Refrão:
O Senhor é a minha luz e a minha salvação.
O
Senhor é minha luz e salvação:
a quem hei de temer?
O Senhor é protetor da minha vida:
de quem hei de ter medo?
a quem hei de temer?
O Senhor é protetor da minha vida:
de quem hei de ter medo?
Ouvi,
Senhor, a voz da minha súplica,
tende compaixão de mim e atendei-me.
Diz-me o coração: "Procurai a sua face".
A vossa face, Senhor, eu procuro.
tende compaixão de mim e atendei-me.
Diz-me o coração: "Procurai a sua face".
A vossa face, Senhor, eu procuro.
Não
escondais de mim o vosso rosto,
nem afasteis com ira o vosso servo.
Não me rejeiteis nem abandoneis,
meu Deus e meu Salvador.
nem afasteis com ira o vosso servo.
Não me rejeiteis nem abandoneis,
meu Deus e meu Salvador.
Espero vir a contemplar a
bondade do Senhor
na terra dos vivos.
Confia no Senhor, sê forte.
Tem coragem e confia no Senhor.
na terra dos vivos.
Confia no Senhor, sê forte.
Tem coragem e confia no Senhor.
LEITURA
II - Fl 3,17-4,1
Leitura
da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses
Irmãos:
Sede meus imitadores
e ponde os olhos naqueles
que procedem segundo o modelo que tendes em nós.
Porque há muitos,
de quem tenho falado várias vezes
e agora falo a chorar,
que procedem como inimigos da cruz de Cristo.
O fim deles é a perdição:
têm por deus o ventre,
orgulham-se da sua vergonha
e só apreciam as coisas terrenas.
Mas a nossa pátria está nos Céus,
donde esperamos, como Salvador, o Senhor Jesus Cristo,
que transformará o nosso corpo miserável,
para o tornar semelhante ao seu corpo glorioso,
pelo poder que Ele tem
de sujeitar a Si todo o universo.
Portanto, meus amados e queridos irmãos,
minha alegria e minha coroa,
permanecei firmes no Senhor.
Sede meus imitadores
e ponde os olhos naqueles
que procedem segundo o modelo que tendes em nós.
Porque há muitos,
de quem tenho falado várias vezes
e agora falo a chorar,
que procedem como inimigos da cruz de Cristo.
O fim deles é a perdição:
têm por deus o ventre,
orgulham-se da sua vergonha
e só apreciam as coisas terrenas.
Mas a nossa pátria está nos Céus,
donde esperamos, como Salvador, o Senhor Jesus Cristo,
que transformará o nosso corpo miserável,
para o tornar semelhante ao seu corpo glorioso,
pelo poder que Ele tem
de sujeitar a Si todo o universo.
Portanto, meus amados e queridos irmãos,
minha alegria e minha coroa,
permanecei firmes no Senhor.
AMBIENTE
Na
prisão (em Éfeso), Paulo agradece aos Filipenses a preocupação manifestada
(eles até enviaram dinheiro e um membro da comunidade para ajudar Paulo no
cativeiro), dá notícias, exorta-os à fidelidade e põe-nos de sobreaviso em
relação aos falsos pregadores do Evangelho de Jesus. Estamos no ano 56/57,
provavelmente.
O texto que nos é proposto como segunda leitura faz parte de um longo desenvolvimento (cf. Fl 3,1-4,1), no qual Paulo avisa os Filipenses para que tenham cuidado com "os cães", os "maus obreiros", os falsos circuncidados" (cf. Fl 3,2). Quem são estes, a quem Paulo se refere de uma forma tão pouco delicada? Muito provavelmente são esses cristãos de origem judaica ("judaizantes") que se consideravam os únicos perfeitos e detentores da verdade, que exigiam aos cristãos o cumprimento da Lei de Moisés e que, dessa forma, lançavam a confusão nas comunidades cristãs do mundo helênico. As duras palavras de Paulo resultam da sua revolta diante daqueles que, com a sua intolerância, com o seu orgulho e auto-suficiência, confundiam os cristãos e punham em causa o essencial da fé (o Evangelho não é o cumprimento de ritos externos, mas a adesão à proposta gratuita de salvação que Deus nos faz em Jesus).
O texto que nos é proposto como segunda leitura faz parte de um longo desenvolvimento (cf. Fl 3,1-4,1), no qual Paulo avisa os Filipenses para que tenham cuidado com "os cães", os "maus obreiros", os falsos circuncidados" (cf. Fl 3,2). Quem são estes, a quem Paulo se refere de uma forma tão pouco delicada? Muito provavelmente são esses cristãos de origem judaica ("judaizantes") que se consideravam os únicos perfeitos e detentores da verdade, que exigiam aos cristãos o cumprimento da Lei de Moisés e que, dessa forma, lançavam a confusão nas comunidades cristãs do mundo helênico. As duras palavras de Paulo resultam da sua revolta diante daqueles que, com a sua intolerância, com o seu orgulho e auto-suficiência, confundiam os cristãos e punham em causa o essencial da fé (o Evangelho não é o cumprimento de ritos externos, mas a adesão à proposta gratuita de salvação que Deus nos faz em Jesus).
MENSAGEM
Os
Filipenses têm diante de si dois possíveis e muito diferentes exemplos a
seguir. Um é o de Paulo, que se considera um atleta de fundo, que já começou a
sua corrida, mas tem consciência de que ainda não atingiu a meta; outro é o
desses pregadores "judaizantes" que alardeiam participar já, de forma
plena e definitiva, no triunfo de Cristo. Paulo recusa este triunfalismo e não
duvida em pedir aos Filipenses que não imitem o exemplo de orgulho desses
pregadores, mas o exemplo do próprio Paulo. Aos Filipenses e a todos os
cristãos, Paulo avisa que em nenhum caso devem considerar-se como atletas já
vitoriosos e coroados de glória, mas como atletas em plena competição,
esperando alcançar a meta e a vitória. A salvação não está consumada;
encontra-se ainda em processo de gestação. É um processo em que o cristão vai
amadurecendo progressivamente, sob o signo da cruz de Cristo.
Quanto a esses, "cujo deus é o ventre" (Paulo visa aqui, com alguma ironia, as observâncias alimentares dos "judaizantes"), que põem o "orgulho na sua vergonha" (sem dúvida, a circuncisão, sinal da pertença ao "povo eleito") e "colocam o seu coração nas coisas terrenas" (alguns pensam que Paulo se refere, aqui, a certas práticas libertinas), esses esqueceram o essencial e estão condenados à perdição (vers. 19).
O nosso destino definitivo, segundo Paulo, não é um corpo corruptível e mortal, mas um corpo transfigurado pela ressurreição. Como garantia de que será assim, temos Jesus Cristo, Senhor e salvador.
Quanto a esses, "cujo deus é o ventre" (Paulo visa aqui, com alguma ironia, as observâncias alimentares dos "judaizantes"), que põem o "orgulho na sua vergonha" (sem dúvida, a circuncisão, sinal da pertença ao "povo eleito") e "colocam o seu coração nas coisas terrenas" (alguns pensam que Paulo se refere, aqui, a certas práticas libertinas), esses esqueceram o essencial e estão condenados à perdição (vers. 19).
O nosso destino definitivo, segundo Paulo, não é um corpo corruptível e mortal, mas um corpo transfigurado pela ressurreição. Como garantia de que será assim, temos Jesus Cristo, Senhor e salvador.
ATUALIZAÇÃO
Na
reflexão deste texto, ter em conta as seguintes linhas:
¨
Neste tempo de transformação e renovação, somos convidados pela Palavra de Deus
a ter consciência de que a nossa caminhada em direção ao Homem Novo não está
concluída; trata-se de um processo construído dia a dia sob o signo da cruz,
isto é, numa entrega total por amor que subverte os nossos esquemas egoístas e
comodistas.
¨ Considerar-se (como os
"judaizantes" de que Paulo fala) como alguém que já atingiu a meta da
perfeição pela prática de alguns ritos externos (as normas alimentares e a
circuncisão, para os "judaizantes", ou as práticas de jejum e
abstinência, para os cristãos), é orgulho e auto-suficiência: significa que
ainda não percebemos onde está o essencial - na mudança do coração. Só a
transformação radical do coração nos conduzirá a essa vida nova, transfigurada
pela ressurreição.
ACLAMAÇÃO
ANTES DO EVANGELHO
Refrão
1: Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo Senhor.
Refrão 2: Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai.
Refrão 3: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai.
Refrão 4: Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo.
Refrão 4: Louvor a Vós, Jesus Cristo, rei da eterna glória.
Refrão 6: Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor.
Refrão 7: A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Refrão 2: Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai.
Refrão 3: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai.
Refrão 4: Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo.
Refrão 4: Louvor a Vós, Jesus Cristo, rei da eterna glória.
Refrão 6: Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor.
Refrão 7: A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo, Nosso Senhor.
No meio da nuvem luminosa,
ouviu-se a voz do Pai:
"Este é o meu Filho muito amado: escutai-O".
"Este é o meu Filho muito amado: escutai-O".
EVANGELHO
- Lc 9,28b-36
Evangelho
de Nosso senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele
tempo,
Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago
e subiu ao monte, para orar.
Enquanto orava,
alterou-se o aspecto do seu rosto
e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente.
Dois homens falavam com Ele:
eram Moisés e Elias,
que, tendo aparecido em glória,
falavam da morte de Jesus,
que ia consumar-se em Jerusalém.
Pedro e os companheiros estavam a cair de sono;
mas, despertando, viram a glória de Jesus
e os dois homens que estavam com Ele.
Quando estes se iam afastando,
Pedro disse a Jesus:
"Mestre, como é bom estarmos aqui!
Façamos três tendas:
uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias".
Não sabia o que estava a dizer.
Enquanto assim falava,
veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra;
e eles ficaram cheios de medo, ao entrarem na nuvem.
Da nuvem saiu uma voz, que dizia:
"Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O".
Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou sozinho.
Os discípulos guardaram silêncio
e, naqueles dias, a ninguém contaram nada do que tinham visto.
Jesus tomou consigo Pedro, João e Tiago
e subiu ao monte, para orar.
Enquanto orava,
alterou-se o aspecto do seu rosto
e as suas vestes ficaram de uma brancura refulgente.
Dois homens falavam com Ele:
eram Moisés e Elias,
que, tendo aparecido em glória,
falavam da morte de Jesus,
que ia consumar-se em Jerusalém.
Pedro e os companheiros estavam a cair de sono;
mas, despertando, viram a glória de Jesus
e os dois homens que estavam com Ele.
Quando estes se iam afastando,
Pedro disse a Jesus:
"Mestre, como é bom estarmos aqui!
Façamos três tendas:
uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias".
Não sabia o que estava a dizer.
Enquanto assim falava,
veio uma nuvem que os cobriu com a sua sombra;
e eles ficaram cheios de medo, ao entrarem na nuvem.
Da nuvem saiu uma voz, que dizia:
"Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O".
Quando a voz se fez ouvir, Jesus ficou sozinho.
Os discípulos guardaram silêncio
e, naqueles dias, a ninguém contaram nada do que tinham visto.
AMBIENTE
Estamos
no final da "etapa da Galileia"; durante essa etapa, Jesus anunciou a
salvação aos pobres, proclamou a libertação aos cativos, fez os cegos recobrar
a vista, mandou em liberdade os oprimidos, proclamou o tempo da graça do Senhor
(cf. Lc 4,16-30). À volta de Jesus já se formou esse grupo dos que acolheram a
oferta da salvação (os discípulos). Testemunhas das palavras e dos gestos
libertadores de Jesus, eles já descobriram que Jesus é o messias de Deus (cf.
Lc 9,18-20). Também já ouviram dizer que o messianismo de Jesus passa pela cruz
(cf. Lc 9,21-22) e que os discípulos de Jesus devem seguir o mesmo caminho de
amor e de entrega da vida (cf. Lc 9,23-26); mas, antes de subirem a Jerusalém
para testemunhar a erupção total da salvação, recebem a revelação do Pai que,
no alto de um monte, atesta que Jesus é o Filho bem amado. Os acontecimentos
que se aproximam ganham, assim, novo sentido.
Para o homem bíblico, o "monte" era o lugar sagrado por excelência: a meio caminho entre a terra e o céu, era o lugar ideal para o encontro do homem com o mundo divino. É, portanto, no monte que Deus se revela ao homem e lhe apresenta os seus projetos.
Para o homem bíblico, o "monte" era o lugar sagrado por excelência: a meio caminho entre a terra e o céu, era o lugar ideal para o encontro do homem com o mundo divino. É, portanto, no monte que Deus se revela ao homem e lhe apresenta os seus projetos.
MENSAGEM
O
relato da transfiguração de Jesus, mais do que uma crônica fotográfica de
acontecimentos, é uma página de teologia; aí, apresenta-se uma catequese sobre
Jesus, o Filho amado de Deus, que através da cruz concretiza um projeto de
vida.
O episódio está cheio de referências ao Antigo Testamento. O "monte" situa-nos num contexto de revelação (é "no monte" que Deus se revela e que faz aliança com o seu Povo); a "mudança" do rosto e as vestes de brancura resplandecente recordam o resplendor de Moisés, ao descer do Sinai (cf. Ex 34,29); a nuvem indica a presença de Deus conduzindo o seu Povo através do deserto (cf. Ex 40,35; Nm 9,18.22;10,34).
Moisés e Elias representam a Lei e os Profetas (que anunciam Jesus e que permitem entender Jesus); além disso, são personagens que, de acordo com a catequese judaica, deviam aparecer no "dia do Senhor", quando se manifestasse a salvação definitiva (cf. Dt 18,15-18; Mal 3,22-23). Eles falam com Jesus sobre a sua "morte" ("exodon" - "partida") que ia dar-seem
Jerusalém. A palavra usada por Lucas situa-nos no contexto do
"êxodo": a morte próxima de Jesus é, pois, vista por Lucas como uma
morte libertadora, que trará o Povo de Deus da terra da escravidão para a terra
da liberdade.
A mensagem fundamental é, portanto, esta: Jesus é o Filho amado de Deus, através de quem o Pai oferece aos homens uma proposta de aliança e de libertação. O Antigo Testamento (Lei e Profetas) e as figuras de Moisés e Elias apontam para Jesus e anunciam a salvação definitiva que, nele, irá acontecer. Essa libertação definitiva dar-se-á na cruz, quando Jesus cumprir integralmente o seu destino de entrega, de dom, de amor total. É esse o "novo êxodo", o dia da libertação definitiva do Povo de Deus.
E o "sono" dos discípulos e as "tendas"? O "sono" é simbólico: os discípulos "dormem" porque não querem entender que a "glória" do messias tenha de passar pela experiência da cruz e da entrega da vida; a construção das "tendas" (alusão à "festa das tendas", em que se celebrava o tempo do êxodo, quando o Povo de Deus habitou em "tendas, no deserto?) parece significar que os discípulos queriam deter-se nesse momento de revelação gloriosa, de festa, ignorando o destino de sofrimento de Jesus.
O episódio está cheio de referências ao Antigo Testamento. O "monte" situa-nos num contexto de revelação (é "no monte" que Deus se revela e que faz aliança com o seu Povo); a "mudança" do rosto e as vestes de brancura resplandecente recordam o resplendor de Moisés, ao descer do Sinai (cf. Ex 34,29); a nuvem indica a presença de Deus conduzindo o seu Povo através do deserto (cf. Ex 40,35; Nm 9,18.22;10,34).
Moisés e Elias representam a Lei e os Profetas (que anunciam Jesus e que permitem entender Jesus); além disso, são personagens que, de acordo com a catequese judaica, deviam aparecer no "dia do Senhor", quando se manifestasse a salvação definitiva (cf. Dt 18,15-18; Mal 3,22-23). Eles falam com Jesus sobre a sua "morte" ("exodon" - "partida") que ia dar-se
A mensagem fundamental é, portanto, esta: Jesus é o Filho amado de Deus, através de quem o Pai oferece aos homens uma proposta de aliança e de libertação. O Antigo Testamento (Lei e Profetas) e as figuras de Moisés e Elias apontam para Jesus e anunciam a salvação definitiva que, nele, irá acontecer. Essa libertação definitiva dar-se-á na cruz, quando Jesus cumprir integralmente o seu destino de entrega, de dom, de amor total. É esse o "novo êxodo", o dia da libertação definitiva do Povo de Deus.
E o "sono" dos discípulos e as "tendas"? O "sono" é simbólico: os discípulos "dormem" porque não querem entender que a "glória" do messias tenha de passar pela experiência da cruz e da entrega da vida; a construção das "tendas" (alusão à "festa das tendas", em que se celebrava o tempo do êxodo, quando o Povo de Deus habitou em "tendas, no deserto?) parece significar que os discípulos queriam deter-se nesse momento de revelação gloriosa, de festa, ignorando o destino de sofrimento de Jesus.
ATUALIZAÇÃO
Refletir
a partir das seguintes linhas:
- O fato fundamental deste episódio
reside na revelação de Jesus como o Filho amado de Deus, que vai
concretizar o plano salvador e libertador do Pai em favor dos homens
através do dom da vida, da entrega total de si próprio por amor. É dessa
forma que se realiza a nossa passagem da escravidão do egoísmo para a
liberdade do amor. A "transfiguração" anuncia a vida nova que
daí nasce, a ressurreição.
- Os três discípulos que partilham a
experiência da transfiguração, recusam-se a aceitar que o triunfo do
projeto libertador do Pai passe pelo sofrimento e pela cruz. Eles só
concebem um Deus que se manifesta no poder, nas honras, nos triunfos; e
não entendem um Deus que se manifesta no serviço, no amor que se dá. Qual
é o caminho da Igreja de Jesus (e de cada um de nós, em particular): um
caminho de busca de honras, de busca de influências, de promiscuidade com
o poder, ou um caminho de serviço aos mais pobres, de luta pela justiça e
pela verdade, de amor que se faz dom? É no amor e no dom da vida que
buscamos a vida nova aqui anunciada?
- Os discípulos, testemunhas da
transfiguração, parecem também não ter muita vontade de "descer à
terra" e enfrentar o mundo e os problemas dos homens. Representam
todos aqueles que vivem de olhos postos no céu, mas alheados da realidade
concreta do mundo, sem vontade de intervir para o renovar e transformar.
No entanto, a experiência de Jesus obriga a continuar a obra que ele
começou e a "regressar ao mundo" para fazer da vida um dom e uma
entrega aos homens nossos irmãos. A religião não é um "ópio" que
nos adormece, mas um compromisso com Deus que se faz compromisso de amor
com o mundo e com os homens.
ALGUMAS
SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 2º DOMINGO DA QUARESMA
Ao longo dos dias da semana anterior ao 2º Domingo da Quaresma, procurar meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em cada dia, por exemplo… Escolher um dia da semana para a meditação comunitária da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos eclesiais, numa comunidade religiosa…
2.
Arranjar um tempo de contemplação.
Ao longo da celebração, arranjar um verdadeiro tempo de contemplação silenciosa (seja depois da homilia, seja depois da comunhão), um tempo que será introduzido de maneira a ser um "coração a coração" com Cristo transfigurado, "ele que transformará o nosso corpo miserável, para o tornar semelhante ao seu corpo glorioso" (segunda leitura).
Ao longo da celebração, arranjar um verdadeiro tempo de contemplação silenciosa (seja depois da homilia, seja depois da comunhão), um tempo que será introduzido de maneira a ser um "coração a coração" com Cristo transfigurado, "ele que transformará o nosso corpo miserável, para o tornar semelhante ao seu corpo glorioso" (segunda leitura).
3.
Oração na lectio divina.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.
Na meditação da Palavra de Deus (lectio divina), pode-se prolongar o acolhimento das leituras com a oração.
No
final da primeira leitura:
"Deus de Abraão, Deus de nossos pais na fé, nós Te reconhecemos como o Pai do Povo inumerável dos crentes, que tu multiplicaste como as estrelas do céu e a areia do deserto. Nós Te bendizemos.
Nós Te pedimos por todos os crentes que se reconhecem filhos de Abraão em diferentes confissões. Que o teu Espírito nos guie para a unidade".
"Deus de Abraão, Deus de nossos pais na fé, nós Te reconhecemos como o Pai do Povo inumerável dos crentes, que tu multiplicaste como as estrelas do céu e a areia do deserto. Nós Te bendizemos.
Nós Te pedimos por todos os crentes que se reconhecem filhos de Abraão em diferentes confissões. Que o teu Espírito nos guie para a unidade".
No
final da segunda leitura:
"Pai, nós Te damos graças, porque nos nomeaste cidadãos dos céus e nos deste os modelos de Jesus e dos Apóstolos para nos guiar.
Que o teu Espírito, pelo seu poder, transforme os nossos pobres corpos à imagem do corpo glorioso de teu Filho, que esperamos como Salvador. Confirma a nossa esperança".
"Pai, nós Te damos graças, porque nos nomeaste cidadãos dos céus e nos deste os modelos de Jesus e dos Apóstolos para nos guiar.
Que o teu Espírito, pelo seu poder, transforme os nossos pobres corpos à imagem do corpo glorioso de teu Filho, que esperamos como Salvador. Confirma a nossa esperança".
No
final do Evangelho:
"Deus de luz, bendito sejas por estes momentos de oração em cada domingo. Tu nos transportas sobre a montanha, com Jesus e os discípulos. É bom estarmos aqui, na tua presença.
Nós Te pedimos: abre o coração e o espírito de todos os fiéis cristãos à Palavra viva do teu Filho bem-amado, para que o escutemos".
"Deus de luz, bendito sejas por estes momentos de oração em cada domingo. Tu nos transportas sobre a montanha, com Jesus e os discípulos. É bom estarmos aqui, na tua presença.
Nós Te pedimos: abre o coração e o espírito de todos os fiéis cristãos à Palavra viva do teu Filho bem-amado, para que o escutemos".
4.
Oração Eucarística.
A Oração Eucarística III adapta-se bem à liturgia deste domingo.
A Oração Eucarística III adapta-se bem à liturgia deste domingo.
5.
Palavra para o caminho.
"Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O"…
O catecismo de muitos de entre nós está bem distante, a nossa bagagem religiosa talvez esteja leve: eis a Quaresma, a ocasião para recuperar energias.
Como? Trata-se de ir às fontes, aos fundamentos!
Esta fonte é Jesus Cristo. "Escutai-O", diz a voz que se faz ouvir das nuvens: vinde beber a sua Palavra!
Abrimos o Livro onde corre esta fonte de água viva? Será que ao lermos os Evangelhos - este ano o Evangelho de Lucas - abrimos os ouvidos e deixamo-nos pôr em questão pelo Mestre?
"Este é o meu Filho, o meu Eleito: escutai-O"…
O catecismo de muitos de entre nós está bem distante, a nossa bagagem religiosa talvez esteja leve: eis a Quaresma, a ocasião para recuperar energias.
Como? Trata-se de ir às fontes, aos fundamentos!
Esta fonte é Jesus Cristo. "Escutai-O", diz a voz que se faz ouvir das nuvens: vinde beber a sua Palavra!
Abrimos o Livro onde corre esta fonte de água viva? Será que ao lermos os Evangelhos - este ano o Evangelho de Lucas - abrimos os ouvidos e deixamo-nos pôr em questão pelo Mestre?
3º Domingo da Quaresma
Nesta
terceira etapa da caminhada para a Páscoa somos chamados, mais uma vez, a
repensar a nossa existência. O tema fundamental da liturgia de hoje é a
"conversão". Com este tema enlaça-se o da "libertação": o
Deus libertador propõe-nos a transformação em homens novos, livres da
escravidão do egoísmo e do pecado, para que em nós se manifeste a vida em
plenitude, a vida de Deus.
O Evangelho contém um convite a uma transformação radical da existência, a uma mudança de mentalidade, a um re-centrar a vida de forma que Deus e os seus valores passem a ser a nossa prioridade fundamental. Se isso não acontecer, diz Jesus, a nossa vida será cada vez mais controlada pelo egoísmo que leva à morte.
A segunda leitura avisa-nos que o cumprimento de ritos externos e vazios não é importante; o que é importante é a adesão verdadeira a Deus, a vontade de aceitar a sua proposta de salvação e de viver com ele numa comunhão íntima.
A primeira leitura fala-nos do Deus que não suporta as injustiças e as arbitrariedades e que está sempre presente naqueles que lutam pela libertação. É esse Deus libertador que exige de nós uma luta permanente contra tudo aquilo que nos escraviza e que impede a manifestação da vida plena.
O Evangelho contém um convite a uma transformação radical da existência, a uma mudança de mentalidade, a um re-centrar a vida de forma que Deus e os seus valores passem a ser a nossa prioridade fundamental. Se isso não acontecer, diz Jesus, a nossa vida será cada vez mais controlada pelo egoísmo que leva à morte.
A segunda leitura avisa-nos que o cumprimento de ritos externos e vazios não é importante; o que é importante é a adesão verdadeira a Deus, a vontade de aceitar a sua proposta de salvação e de viver com ele numa comunhão íntima.
A primeira leitura fala-nos do Deus que não suporta as injustiças e as arbitrariedades e que está sempre presente naqueles que lutam pela libertação. É esse Deus libertador que exige de nós uma luta permanente contra tudo aquilo que nos escraviza e que impede a manifestação da vida plena.
LEITURA
I - Ex 3,1-8a.13-15
Leitura
do Livro do Êxodo
Naqueles
dias,
Moisés apascentava o rebanho de Jetro,
seu sogro, sacerdote de Madiã.
Ao levar o rebanho para além do deserto,
chegou ao monte de Deus, o Horeb.
Apareceu-lhe então o Anjo do Senhor
numa chama ardente, do meio de uma sarça.
Moisés olhou para a sarça, que estava a arder,
e viu que a sarça não se consumia.
Então disse a Moisés: "Vou aproximar-me,
para ver tão assombroso espetáculo:
por que motivo não se consome a sarça?"
O Senhor viu que ele se aproximava para ver.
Então Deus chamou-o do meio da sarça:
"Moisés! Moisés!"
Ele respondeu: "Aqui estou!"
Continuou o Senhor:
"Não te aproximes daqui.
Tira as sandálias dos pés,
porque o lugar que pisas é terra sagrada".
E acrescentou: "Eu sou o Deus de teu pai,
Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacob".
Então Moisés cobriu o rosto,
com receio de olhar para Deus.
Disse-lhe o Senhor:
"Eu vi a situação miserável do meu povo no Egito;
escutei o seu clamor provocado pelos opressores.
Conheço, pois, as suas angústias.
Desci para o libertar das mãos dos egípcios
e o levar deste país para uma terra boa e espaçosa,
onde corre leite e mel".
Moisés disse a Deus:
"Vou procurar os filhos de Israel e dizer-lhes:
'O Deus de vossos pais enviou-me a vós'.
Mas se me perguntarem qual é o seu nome,
que hei de responder-lhes?"
Disse Deus a Moisés:
"Eu sou 'Aquele que sou'".
E prosseguiu:
"Assim falarás aos filhos de Israel:
O que Se chama 'Eu sou' enviou-me a vós".
Deus disse ainda a Moisés:
"Assim falarás aos filhos de Israel:
'O Senhor, Deus de vossos pais,
Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacob,
enviou-me a vós.
Este é o meu nome para sempre,
assim Me invocareis de geração em geração'".
Moisés apascentava o rebanho de Jetro,
seu sogro, sacerdote de Madiã.
Ao levar o rebanho para além do deserto,
chegou ao monte de Deus, o Horeb.
Apareceu-lhe então o Anjo do Senhor
numa chama ardente, do meio de uma sarça.
Moisés olhou para a sarça, que estava a arder,
e viu que a sarça não se consumia.
Então disse a Moisés: "Vou aproximar-me,
para ver tão assombroso espetáculo:
por que motivo não se consome a sarça?"
O Senhor viu que ele se aproximava para ver.
Então Deus chamou-o do meio da sarça:
"Moisés! Moisés!"
Ele respondeu: "Aqui estou!"
Continuou o Senhor:
"Não te aproximes daqui.
Tira as sandálias dos pés,
porque o lugar que pisas é terra sagrada".
E acrescentou: "Eu sou o Deus de teu pai,
Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacob".
Então Moisés cobriu o rosto,
com receio de olhar para Deus.
Disse-lhe o Senhor:
"Eu vi a situação miserável do meu povo no Egito;
escutei o seu clamor provocado pelos opressores.
Conheço, pois, as suas angústias.
Desci para o libertar das mãos dos egípcios
e o levar deste país para uma terra boa e espaçosa,
onde corre leite e mel".
Moisés disse a Deus:
"Vou procurar os filhos de Israel e dizer-lhes:
'O Deus de vossos pais enviou-me a vós'.
Mas se me perguntarem qual é o seu nome,
que hei de responder-lhes?"
Disse Deus a Moisés:
"Eu sou 'Aquele que sou'".
E prosseguiu:
"Assim falarás aos filhos de Israel:
O que Se chama 'Eu sou' enviou-me a vós".
Deus disse ainda a Moisés:
"Assim falarás aos filhos de Israel:
'O Senhor, Deus de vossos pais,
Deus de Abraão, Deus de Isaac e Deus de Jacob,
enviou-me a vós.
Este é o meu nome para sempre,
assim Me invocareis de geração em geração'".
AMBIENTE
A
primeira parte do livro do Êxodo (Ex 1-18) apresenta-nos um conjunto de
"tradições" sobre a libertação do Egito: narra-se a iniciativa de Jahwéh,
que escutou os gemidos dos escravos hebreus e teve compaixão deles (cf. Ex
2,23-24).
O texto que nos é proposto como primeira leitura apresenta-nos o chamamento de Moisés, convidado a ser o rosto visível da libertação que Jahwéh vai levar a cabo. Algum tempo antes, Moisés deixara o Egito e encontrara abrigo no deserto do Sinai, depois de ter morto um egípcio que maltratava um hebreu (o caminho do deserto era o caminho normal dos opositores à política do faraó, como o demonstram outras histórias da época que chegaram até nós); acolhido por uma tribo de beduínos, Moisés casou e refez a sua vida, numa experiência de calma e de tranquilidade bem merecidas, após o incidente que lhe arruinara os sonhos de uma carreira no aparelho administrativo egípcio (cf. Ex 2,11-22). Ora, é precisamente nesse oásis de paz que Jahwéh se revela, desinquieta Moisés e envia-o em missão ao Egito.
O texto que nos é proposto como primeira leitura apresenta-nos o chamamento de Moisés, convidado a ser o rosto visível da libertação que Jahwéh vai levar a cabo. Algum tempo antes, Moisés deixara o Egito e encontrara abrigo no deserto do Sinai, depois de ter morto um egípcio que maltratava um hebreu (o caminho do deserto era o caminho normal dos opositores à política do faraó, como o demonstram outras histórias da época que chegaram até nós); acolhido por uma tribo de beduínos, Moisés casou e refez a sua vida, numa experiência de calma e de tranquilidade bem merecidas, após o incidente que lhe arruinara os sonhos de uma carreira no aparelho administrativo egípcio (cf. Ex 2,11-22). Ora, é precisamente nesse oásis de paz que Jahwéh se revela, desinquieta Moisés e envia-o em missão ao Egito.
MENSAGEM
A
afirmação "Jahwéh tirou Israel do Egito" será a primitiva profissão
de fé de Israel. É o fato fundamental da fé israelita. Ora, é essa descoberta
que está no centro desta leitura.
O texto que nos é proposto divide-se em duas partes. Na primeira (vers. 1-8), temos o relato da vocação de Moisés. O contexto é o das teofanias (manifestações de Deus): o "anjo do Senhor", o fogo (vers. 2-3), a onipotência, a santidade e a majestade de Deus (vers. 4-5), a apresentação de Deus, o sentimento de "temor" que o homem experimenta diante do divino (vers. 6); e Deus manifesta-se para "comprometer" Moisés, enviando-o em missão (vers. 7-8) e fazendo dele o instrumento da libertação. Fica claro que o chamamento de Moisés é uma iniciativa do Deus libertador, apostado em salvar o seu Povo. Deus age na história humana através de homens de coração generoso e disponível, que aceitam os seus desafios.
Na segunda parte (vers. 13-15) apresenta-se a revelação do nome de Deus (uma espécie de "sinal" que confirma que Moisés foi chamado por Deus e enviado por ele em missão): "eu sou (ou serei) 'aquele que sou' (ou que serei)". Este nome acentua a presença contínua de Deus na vida do seu Povo, uma presença viva, ativa e dinâmica, no presente e no futuro, como libertação e salvação.
Os israelitas descobriram, desta forma, que Jahwéh esteve no meio daquela tentativa humana de libertação e conduziu o processo, de forma a que um povo vítima da opressão, passasse a ser livre e feliz. Para a fé de Israel, Jahwéh não ficou de braços cruzados diante da opressão; mas iniciou um longo processo de intervenção na história que se traduziu, em libertação e vida para um povo antes condenado à morte.
Para Israel, o Êxodo tornar-se-á, assim, o modelo e paradigma de todas as libertações. A partir desta experiência, Israel descobriu a pedagogia do Deus libertador e soube que Jahwéh está vivo e atuante na história humana, agindo no coração e na vida de todos os que lutam para tornar este mundo melhor. Israel descobriu - e procurou dizer-nos isso também a nós - que, no plano de Deus, aquilo que oprime e destrói os homens não tem lugar; e que sempre que alguém luta para ser livre e feliz, Deus está com essa pessoa e age nela. Na libertação do Egito, os israelitas - e, através deles, toda a humanidade - descobriram a realidade do Deus salvador e libertador.
O texto que nos é proposto divide-se em duas partes. Na primeira (vers. 1-8), temos o relato da vocação de Moisés. O contexto é o das teofanias (manifestações de Deus): o "anjo do Senhor", o fogo (vers. 2-3), a onipotência, a santidade e a majestade de Deus (vers. 4-5), a apresentação de Deus, o sentimento de "temor" que o homem experimenta diante do divino (vers. 6); e Deus manifesta-se para "comprometer" Moisés, enviando-o em missão (vers. 7-8) e fazendo dele o instrumento da libertação. Fica claro que o chamamento de Moisés é uma iniciativa do Deus libertador, apostado em salvar o seu Povo. Deus age na história humana através de homens de coração generoso e disponível, que aceitam os seus desafios.
Na segunda parte (vers. 13-15) apresenta-se a revelação do nome de Deus (uma espécie de "sinal" que confirma que Moisés foi chamado por Deus e enviado por ele em missão): "eu sou (ou serei) 'aquele que sou' (ou que serei)". Este nome acentua a presença contínua de Deus na vida do seu Povo, uma presença viva, ativa e dinâmica, no presente e no futuro, como libertação e salvação.
Os israelitas descobriram, desta forma, que Jahwéh esteve no meio daquela tentativa humana de libertação e conduziu o processo, de forma a que um povo vítima da opressão, passasse a ser livre e feliz. Para a fé de Israel, Jahwéh não ficou de braços cruzados diante da opressão; mas iniciou um longo processo de intervenção na história que se traduziu, em libertação e vida para um povo antes condenado à morte.
Para Israel, o Êxodo tornar-se-á, assim, o modelo e paradigma de todas as libertações. A partir desta experiência, Israel descobriu a pedagogia do Deus libertador e soube que Jahwéh está vivo e atuante na história humana, agindo no coração e na vida de todos os que lutam para tornar este mundo melhor. Israel descobriu - e procurou dizer-nos isso também a nós - que, no plano de Deus, aquilo que oprime e destrói os homens não tem lugar; e que sempre que alguém luta para ser livre e feliz, Deus está com essa pessoa e age nela. Na libertação do Egito, os israelitas - e, através deles, toda a humanidade - descobriram a realidade do Deus salvador e libertador.
ATUALIZAÇÃO
Refletir
nos seguintes dados:
A
humanidade geme, hoje, num violento esforço de libertação política, cultural e
econômica: os povos lutam para se libertarem do colonialismo, do imperialismo,
das ditaduras; os pobres lutam para se libertarem da miséria, da ignorância, da
doença, das estruturas injustas; os marginalizados lutam pelo direito à
integração plena na sociedade; os operários lutam pela defesa dos seus direitos
e do seu trabalho; as mulheres lutam pela defesa da sua dignidade; os
estudantes lutam por um sistema de ensino que os prepare para desempenhar um
papel válido na sociedade... Convém termos consciência que, lá onde alguém está
a lutar por um mundo mais justo e mais fraterno, aí está Deus - esse Deus que
vive com paixão o sofrimento dos explorados e que não fica de braços cruzados
diante das injustiças.
Deus
age na nossa vida e na nossa história através de homens de boa vontade, que se
deixam desafiar por Deus e que aceitam ser seus instrumentos na libertação do
mundo. Diante dos sofrimentos dos irmãos e dos desafios de Deus, como respondo:
com o comodismo de quem não está para se chatear com os problemas dos outros?
Com o egoísmo de quem acha que não é nada consigo? Com a passividade de quem
acha que já fez alguma coisa e que agora é a vez dos outros? Ou com uma atitude
de profeta, que se deixa interpelar por Deus e aceita colaborar com ele na
construção de um mundo mais justo e mais fraterno?
SALMO
RESPONSORIAL - Salmo 102 (103)
Refrão:
O Senhor é clemente e cheio de compaixão.
Bendiz,
ó minha alma, o Senhor
e todo o meu ser bendiga o seu nome santo.
Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e não esqueças nenhum dos seus benefícios.
e todo o meu ser bendiga o seu nome santo.
Bendiz, ó minha alma, o Senhor
e não esqueças nenhum dos seus benefícios.
Ele
perdoa todos os teus pecados
e cura as tuas enfermidades;
salva da morte a tua vida
e coroa-te de graça e misericórdia.
e cura as tuas enfermidades;
salva da morte a tua vida
e coroa-te de graça e misericórdia.
O
Senhor faz justiça
e defende o direito de todos os oprimidos.
Revelou a Moisés os seus caminhos
e aos filhos de Israel os seus prodígios.
e defende o direito de todos os oprimidos.
Revelou a Moisés os seus caminhos
e aos filhos de Israel os seus prodígios.
O
Senhor é clemente e compassivo,
paciente e cheio de bondade.
Como a distância da terra aos céus,
assim é grande a sua misericórdia para os que O temem.
paciente e cheio de bondade.
Como a distância da terra aos céus,
assim é grande a sua misericórdia para os que O temem.
LEITURA
II - 1 Cor 10,1-6.10-12
Leitura
da Primeira Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Não quero que ignoreis
que os nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem,
passaram todos através do mar
e na nuvem e no mar,
receberam todos o batismo de Moisés.
Todos comeram o mesmo alimento espiritual
e todos beberam a mesma bebida espiritual.
Bebiam de um rochedo espiritual que os acompanhava:
esse rochedo era Cristo.
Mas a maioria deles não agradou a Deus,
pois caíram mortos no deserto.
Esses fatos aconteceram para nos servir de exemplo,
a fim de não cobiçarmos o mal,
como eles cobiçaram.
Não murmureis, como alguns deles murmuraram,
tendo perecido às mãos do Anjo exterminador.
Tudo isto lhes sucedia para servir de exemplo
e foi escrito para nos advertir,
a nós que chegamos ao fim dos tempos.
Portanto, quem julga estar de pé
tome cuidado para não cair.
Não quero que ignoreis
que os nossos pais estiveram todos debaixo da nuvem,
passaram todos através do mar
e na nuvem e no mar,
receberam todos o batismo de Moisés.
Todos comeram o mesmo alimento espiritual
e todos beberam a mesma bebida espiritual.
Bebiam de um rochedo espiritual que os acompanhava:
esse rochedo era Cristo.
Mas a maioria deles não agradou a Deus,
pois caíram mortos no deserto.
Esses fatos aconteceram para nos servir de exemplo,
a fim de não cobiçarmos o mal,
como eles cobiçaram.
Não murmureis, como alguns deles murmuraram,
tendo perecido às mãos do Anjo exterminador.
Tudo isto lhes sucedia para servir de exemplo
e foi escrito para nos advertir,
a nós que chegamos ao fim dos tempos.
Portanto, quem julga estar de pé
tome cuidado para não cair.
AMBIENTE
No
mundo grego, os templos eram os principais matadouros de gado. Os animais eram
oferecidos aos deuses e imolados nos templos. Uma parte do animal era queimada
e outra parte pertencia aos sacerdotes. No entanto, havia sempre sobras, que o
pessoal do templo comercializava. Essas sobras encontravam-se à venda nas
bancas dos mercados, eram compradas pela população e entravam na cadeia
alimentar. No entanto, tal situação não deixava de suscitar algumas questões
aos cristãos: comprar essas carnes e comê-las - como toda a gente fazia - era,
de alguma forma, comprometer-se com os cultos idolátricos. Isso era lícito? É
essa questão que inquieta os cristãos de Corinto.
A esta questão, Paulo responde em 1 Cor 8-10. Concretamente, a resposta aparece em vinte versículos (cf. 1 Cor 8,1-13 e 10,22-29): dado que os ídolos não são nada, comer dessa carne é indiferente; contudo, deve-se evitar escandalizar os mais débeis: se houver esse perigo, evite-se comer dessa carne.
Paulo aproveita este ponto de partida para um desenvolvimento que vai muito além da questão inicial: comer ou não comer carne imolada aos ídolos não é importante; o importante é não voltar a cair na idolatria e nos vícios anteriores; o importante é esforçar-se seriamente por viver em comunhão com Deus.
A esta questão, Paulo responde em 1 Cor 8-10. Concretamente, a resposta aparece em vinte versículos (cf. 1 Cor 8,1-13 e 10,22-29): dado que os ídolos não são nada, comer dessa carne é indiferente; contudo, deve-se evitar escandalizar os mais débeis: se houver esse perigo, evite-se comer dessa carne.
Paulo aproveita este ponto de partida para um desenvolvimento que vai muito além da questão inicial: comer ou não comer carne imolada aos ídolos não é importante; o importante é não voltar a cair na idolatria e nos vícios anteriores; o importante é esforçar-se seriamente por viver em comunhão com Deus.
MENSAGEM
A
título de exemplo, Paulo apresenta a história do Povo de Deus do Antigo
Testamento. Os israelitas foram todos conduzidos por Deus (a nuvem), passaram
todos pela água libertadora do Mar Vermelho, alimentaram-se todos do mesmo maná
e da mesma água do rochedo "que era Cristo" (Paulo inspira-se numa
antiga tradição rabínica segundo a qual o rochedo de Nm 20,8 seguia Israel na
sua caminhada pelo deserto; e, para Paulo, este rochedo é o símbolo de Cristo,
pré-existente, já presente na caminhada para a liberdade dos hebreus do Antigo
Testamento); mas isso não evitou que a maior parte deles ficasse prostrada no
deserto, pois o seu coração não estava verdadeiramente com Deus e cederam à
tentação dos ídolos.
Assim também os coríntios, embora tenham recebido o batismo e participado da eucaristia, não têm a salvação garantida: não bastam os ritos, não basta a letra. Apesar do cumprimento das regras, os sacramentos não são mágicos: não significam nada e não realizam nada se não houver uma adesão verdadeira à vontade de Deus. Aos "fortes" e "auto-suficientes" de Corinto, Paulo recorda: o fundamental, na vivência da fé, não é comer ou não carne imolada aos ídolos; mas é levar uma vida coerente com as exigências de Deus e viver em verdadeira comunhão com Deus.
Assim também os coríntios, embora tenham recebido o batismo e participado da eucaristia, não têm a salvação garantida: não bastam os ritos, não basta a letra. Apesar do cumprimento das regras, os sacramentos não são mágicos: não significam nada e não realizam nada se não houver uma adesão verdadeira à vontade de Deus. Aos "fortes" e "auto-suficientes" de Corinto, Paulo recorda: o fundamental, na vivência da fé, não é comer ou não carne imolada aos ídolos; mas é levar uma vida coerente com as exigências de Deus e viver em verdadeira comunhão com Deus.
ATUALIZAÇÃO
Ter
em conta, para a reflexão, as seguintes questões:
O
que é essencial na nossa vivência cristã? O cumprimento de ritos externos que
nos marcam como cristãos aos olhos do mundo (ou dos nossos superiores)? Ou é
uma vida de comunhão com Deus, vivida com coerência e verdade, que depois se
transforma em gestos de amor e de partilha com os nossos irmãos? O que é que
condiciona as minhas atitudes: o "parecer bem" ou o "ser" de
verdade?
Os
sacramentos não são ritos mágicos que transformam o homem em pessoa nova, quer
ele queira quer não. Eles são a manifestação dessa vida de Deus que nos é
gratuitamente oferecida, que nós acolhemos como um dom, que nos transforma e
que nos torna "filhos de Deus". É nessa perspectiva que encaramos os
momentos sacramentais em que participamos? É isto que procuramos transmitir
quando orientamos encontros de preparação para os sacramentos?
ACLAMAÇÃO
ANTES DO EVANGELHO - Mt 4,17
Refrão
1: Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo Senhor.
Refrão 2: Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai.
Refrão 3: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai.
Refrão 4: Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo.
Refrão 4: Louvor a Vós, Jesus Cristo, rei da eterna glória.
Refrão 6: Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor.
Refrão 7: A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Refrão 2: Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai.
Refrão 3: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai.
Refrão 4: Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo.
Refrão 4: Louvor a Vós, Jesus Cristo, rei da eterna glória.
Refrão 6: Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor.
Refrão 7: A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Arrependei-vos,
diz o Senhor;
está próximo o reino dos Céus.
está próximo o reino dos Céus.
EVANGELHO
- Lc 13,1-9
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele
tempo,
vieram contar a Jesus
que Pilatos mandara derramar o sangue de certos galileus,
juntamente com o das vítimas que imolavam.
Jesus respondeu-lhes:
"Julgais que, por terem sofrido tal castigo,
esses galileus eram mais pecadores
do que todos os outros galileus?
Eu digo-vos que não.
E se não vos arrependerdes,
morrereis todos do mesmo modo.
E aqueles dezoito homens,
que a torre de Siloé, ao cair, atingiu e matou?
Julgais que eram mais culpados
do que todos os outros habitantes de Jerusalém?
Eu digo-vos que não.
E se não vos arrependerdes,
morrereis todos de modo semelhante.
Jesus disse então a seguinte parábola:
"Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha.
Foi procurar os frutos que nela houvesse,
mas não os encontrou.
Disse então ao vinhateiro:
'Há três anos que venho procurar frutos nesta figueira
e não os encontro.
Deves corta-la.
Porque há de estar ela a ocupar inutilmente a terra?'
Mas o vinhateiro respondeu-lhe:
'Senhor, deixa-a ficar ainda este ano,
que eu, entretanto, vou cavar-lhe em volta e deitar-lhe adubo.
Talvez venha a dar frutos.
Se não der, mandá-la-ás cortar no próximo ano".
vieram contar a Jesus
que Pilatos mandara derramar o sangue de certos galileus,
juntamente com o das vítimas que imolavam.
Jesus respondeu-lhes:
"Julgais que, por terem sofrido tal castigo,
esses galileus eram mais pecadores
do que todos os outros galileus?
Eu digo-vos que não.
E se não vos arrependerdes,
morrereis todos do mesmo modo.
E aqueles dezoito homens,
que a torre de Siloé, ao cair, atingiu e matou?
Julgais que eram mais culpados
do que todos os outros habitantes de Jerusalém?
Eu digo-vos que não.
E se não vos arrependerdes,
morrereis todos de modo semelhante.
Jesus disse então a seguinte parábola:
"Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha.
Foi procurar os frutos que nela houvesse,
mas não os encontrou.
Disse então ao vinhateiro:
'Há três anos que venho procurar frutos nesta figueira
e não os encontro.
Deves corta-la.
Porque há de estar ela a ocupar inutilmente a terra?'
Mas o vinhateiro respondeu-lhe:
'Senhor, deixa-a ficar ainda este ano,
que eu, entretanto, vou cavar-lhe em volta e deitar-lhe adubo.
Talvez venha a dar frutos.
Se não der, mandá-la-ás cortar no próximo ano".
AMBIENTE
O
Evangelho de hoje situa-nos, já, no contexto da "viagem" de Jesus
para Jerusalém (cf. Lc 9,51-19,28). Mais do que um caminho geográfico, é um
caminho espiritual, que Jesus percorre rodeado pelos discípulos. Durante esse
percurso, Jesus prepara-os para que entendam e assumam os valores do Reino
(mesmo quando as palavras de Jesus se dirigem às multidões, como é o caso do
episódio de hoje, são os discípulos que rodeiam Jesus os primeiros
destinatários da mensagem). Pretende-se que, terminada esta caminhada, os
discípulos estejam preparados para continuar a obra de Jesus e para levar a sua
proposta libertadora a toda a terra.
O texto que hoje nos é proposto apresenta um convite veemente à conversão ao Reino. Destina-se à multidão, em geral, e aos discípulos que rodeiam Jesus, em particular.
O texto que hoje nos é proposto apresenta um convite veemente à conversão ao Reino. Destina-se à multidão, em geral, e aos discípulos que rodeiam Jesus, em particular.
MENSAGEM
O
texto apresenta duas partes distintas, embora unidas pelo tema da conversão. Na
primeira parte (cf. Lc 13,1-5), Jesus cita dois exemplos históricos que, no
entanto, não conhecemos com exatidão (assassínio de alguns patriotas judeus por
Pilatos e a queda de uma torre perto da piscina de Siloé). Flávio Josefo, o
grande historiador judeu do séc. I, narra como Pilatos matou alguns judeus que
se haviam revoltado em
Jerusalém. Trata-se do exemplo citado por Jesus? Não sabemos.
Também não sabemos nada sobre a queda da torre de Siloé que, segundo Jesus,
matou dezoito pessoas... Apesar disso, a conclusão que Jesus tira destes dois
casos é bastante clara: aqueles que morreram nestes desastres não eram piores
do que os que sobreviveram. Refuta, desta forma, a doutrina judaica da
retribuição segundo a qual o que era atingido por alguma desgraça era culpado
por algum grave pecado. No caso presente, esta doutrina levava à seguinte
conclusão: "nós somos justos, porque nos livramos da morte nas
circunstâncias nomeadas". Em contrapartida, Jesus pensa que, diante de
Deus, todos os homens precisam de se converter. A última frase do vers. 5
("se não vos arrependerdes perecereis todos do mesmo modo") deve ser
entendida como um convite à mudança de vida; se ela não ocorrer, quem vencerá é
o egoísmo que conduz à morte.
Na segunda parte (cf. Lc 13,6-9), temos a parábola da figueira. Serve para ilustrar as oportunidades que Deus concede para a conversão. O Antigo Testamento tinha utilizado a figueira como símbolo de Israel (cf. Os 9,10), inclusive como símbolo da sua falta de resposta à aliança (cf. Jer 8,13) (uma ideia semelhante aparece na alegoria da vinha de Is 5,1-7). Deus espera, portanto, que Israel (a figueira) dê frutos, isto é, aceite converter-se à proposta de salvação que lhe é feita em Jesus; dá-lhe, até, algum tempo (e outra oportunidade), para que essa transformação ocorra. Deus revela, portanto, a sua bondade e a sua paciência; no entanto, não está disposto a esperar indefinidamente, pactuando com a recusa do seu Povo em acolher a salvação. Apesar do tom ameaçador, há no cenário de fundo desta parábola uma nota de esperança: Jesus confia em que a resposta final de Israel à sua missão seja positiva.
Na segunda parte (cf. Lc 13,6-9), temos a parábola da figueira. Serve para ilustrar as oportunidades que Deus concede para a conversão. O Antigo Testamento tinha utilizado a figueira como símbolo de Israel (cf. Os 9,10), inclusive como símbolo da sua falta de resposta à aliança (cf. Jer 8,13) (uma ideia semelhante aparece na alegoria da vinha de Is 5,1-7). Deus espera, portanto, que Israel (a figueira) dê frutos, isto é, aceite converter-se à proposta de salvação que lhe é feita em Jesus; dá-lhe, até, algum tempo (e outra oportunidade), para que essa transformação ocorra. Deus revela, portanto, a sua bondade e a sua paciência; no entanto, não está disposto a esperar indefinidamente, pactuando com a recusa do seu Povo em acolher a salvação. Apesar do tom ameaçador, há no cenário de fundo desta parábola uma nota de esperança: Jesus confia em que a resposta final de Israel à sua missão seja positiva.
ATUALIZAÇÃO
Para
refletir e atualizar a Palavra, considerar as seguintes notas:
A
proposta principal que Jesus apresenta neste episódio chama-se
"conversão" ("metanoia"). Não se trata de penitência
externa, ou de um simples arrependimento dos pecados; trata-se de um convite à
mudança radical, à reformulação total da vida, da mentalidade, das atitudes, de
forma que Deus e os seus valores passem a estar em primeiro lugar. É este
caminho a que somos chamados a percorrer neste tempo, a fim de renascermos, com
Jesus, para a vida nova do Homem Novo. Concretamente, em que é que a minha
mentalidade deve mudar? Quais são os valores a que eu dou prioridade e que me
afastam de Deus e das suas propostas?
Essa
transformação da nossa existência não pode ser adiada indefinidamente. Temos à
nossa disposição um tempo relativamente curto: é necessário aproveitá-lo e
deixar que em nós cresça, o mais cedo possível, o Homem Novo. Está em jogo a
nossa felicidade, a vida em plenitude... Porquê adiar a sua concretização?
Uma
outra proposta convida-nos a cortar definitivamente da nossa mentalidade a
ligação direta entre pecado e castigo. Dizer que as coisas boas que nos
acontecem são a recompensa de Deus para o nosso bom comportamento e que as
coisas más são o castigo para o nosso pecado, equivale a acreditarmos num deus
mercantilista e chantagista que, evidentemente, não tem nada a ver com o nosso
Deus.
4º Domingo da Quaresma
A
liturgia de hoje convida-nos à descoberta do Deus do amor, empenhado em
conduzir-nos a uma vida de comunhão com ele.
O Evangelho apresenta-nos o Deus/Pai que ama de forma gratuita, com um amor fiel e eterno, apesar das escolhas erradas e da irresponsabilidade do filho rebelde. E esse amor lá está, sempre à espera, sem condições, para acolher e abraçar o filho que decide voltar. É um amor entendido na linha da misericórdia e não na linha da justiça dos homens.
A segunda leitura convida-nos a acolher a oferta de amor que Deus nos faz através de Jesus. Só reconciliados com Deus e com os irmãos podemos ser criaturas novas, em quem se manifesta o homem Novo.
A primeira leitura, a propósito da circuncisão dos israelitas, convida-nos à conversão, princípio de vida nova na terra da felicidade, da liberdade e da paz. Essa vida nova do homem renovado, é um dom do Deus que nos ama e que nos convoca para a felicidade.
O Evangelho apresenta-nos o Deus/Pai que ama de forma gratuita, com um amor fiel e eterno, apesar das escolhas erradas e da irresponsabilidade do filho rebelde. E esse amor lá está, sempre à espera, sem condições, para acolher e abraçar o filho que decide voltar. É um amor entendido na linha da misericórdia e não na linha da justiça dos homens.
A segunda leitura convida-nos a acolher a oferta de amor que Deus nos faz através de Jesus. Só reconciliados com Deus e com os irmãos podemos ser criaturas novas, em quem se manifesta o homem Novo.
A primeira leitura, a propósito da circuncisão dos israelitas, convida-nos à conversão, princípio de vida nova na terra da felicidade, da liberdade e da paz. Essa vida nova do homem renovado, é um dom do Deus que nos ama e que nos convoca para a felicidade.
LEITURA
I - Js 5,9a.10-12
Leitura
do Livro de Josué
Naqueles
dias,
disse o Senhor a Josué:
"Hoje tirei de vós o opróbrio do Egito".
Os filhos de Israel acamparam em Gálgala
e celebraram a Páscoa,
no dia catorze do mês, à tarde,
na planície de Jericó.
No dia seguinte à Páscoa,
comeram dos frutos da terra:
pães ázimos e espigas assadas nesse mesmo dia.
Quando começaram a comer dos frutos da terra,
no dia seguinte à Páscoa,
cessou o maná.
Os filhos de Israel não voltaram a ter o maná,
mas, naquele ano,
já se alimentaram dos frutos da terra de Canaã.
disse o Senhor a Josué:
"Hoje tirei de vós o opróbrio do Egito".
Os filhos de Israel acamparam em Gálgala
e celebraram a Páscoa,
no dia catorze do mês, à tarde,
na planície de Jericó.
No dia seguinte à Páscoa,
comeram dos frutos da terra:
pães ázimos e espigas assadas nesse mesmo dia.
Quando começaram a comer dos frutos da terra,
no dia seguinte à Páscoa,
cessou o maná.
Os filhos de Israel não voltaram a ter o maná,
mas, naquele ano,
já se alimentaram dos frutos da terra de Canaã.
AMBIENTE
O
livro de Josué narra a entrada e a instalação do Povo de Deus na Terra
Prometida. Recorrendo ao gênero épico (relatos enfáticos, exagerados,
maravilhosos) e apresentando idealmente a tomada de posse da Terra como um
passeio triunfal do Povo com Deus à frente, os autores deuteronomistas vão
sublinhar a ação maravilhosa de Jahwéh que, através do seu poder, cumpre as
promessas feitas aos antepassados e entrega a Terra Prometida ao seu Povo. Não
é um livro muito preciso do ponto de vista histórico; mas é uma extraordinária
catequese sobre o amor de Deus ao seu Povo.
No texto que a liturgia de hoje nos propõe, os israelitas, vindos do deserto, acabaram de atravessar o rio Jordão. Estão em Guilgal, um lugar que não foi, ainda, localizado mas que devia situar-se não longe do Jordão, a nordeste de Jericó. Aproxima-se a celebração da primeira Páscoa na Terra Prometida e só os circuncidados podem celebrar a Páscoa (cf. Ex 12,44.48); por isso, Josué faz o Povo passar pelo rito da circuncisão, sinal da aliança de Deus com Abraão e, portanto, sinal de pertença ao Povo eleito de Jahwéh (cf. Gn 17,10-11). É neste contexto que aparecem as palavras de Deus a Josué referidas na primeira leitura.
No texto que a liturgia de hoje nos propõe, os israelitas, vindos do deserto, acabaram de atravessar o rio Jordão. Estão em Guilgal, um lugar que não foi, ainda, localizado mas que devia situar-se não longe do Jordão, a nordeste de Jericó. Aproxima-se a celebração da primeira Páscoa na Terra Prometida e só os circuncidados podem celebrar a Páscoa (cf. Ex 12,44.48); por isso, Josué faz o Povo passar pelo rito da circuncisão, sinal da aliança de Deus com Abraão e, portanto, sinal de pertença ao Povo eleito de Jahwéh (cf. Gn 17,10-11). É neste contexto que aparecem as palavras de Deus a Josué referidas na primeira leitura.
MENSAGEM
O
rito da circuncisão, destinado a todos "os que nasceram no deserto,
durante a viagem, depois do êxodo" (Js 5,5) terminou e todos fazem, agora,
parte do Povo de Deus. É um Povo renovado, que dessa forma reafirmou a sua
ligação ao Deus da aliança. O rito levado a cabo por Josué faz-nos pensar numa
espécie de "conversão" coletiva, que põe um ponto final no
"opróbrio do Egito" e assinala um "tempo novo" para o Povo
de Deus.
A questão central deste texto gira à volta da vida nova que começa para o Povo de Deus. A Páscoa, celebrada nessa terra livre, marca o início dessa nova etapa. Israel é, agora, um Povo novo, o Povo eleito, comprometido com Jahwéh, definitivamente livre da escravidão, que inicia uma vida nova nessa Terra de Deus onde "corre o leite e o mel".
A questão central deste texto gira à volta da vida nova que começa para o Povo de Deus. A Páscoa, celebrada nessa terra livre, marca o início dessa nova etapa. Israel é, agora, um Povo novo, o Povo eleito, comprometido com Jahwéh, definitivamente livre da escravidão, que inicia uma vida nova nessa Terra de Deus onde "corre o leite e o mel".
ATUALIZAÇÃO
Refletir
a partir das seguintes questões:
Somos
convidados, neste tempo de Quaresma, a uma experiência semelhante à que fez o
Povo de Deus de que fala a primeira leitura: é preciso pôr fim à etapa da
escravidão e do deserto, a fim de passar, decisivamente, à vida nova, à vida da
liberdade e da paz. E a circuncisão? A circuncisão física é um rito externo,
que nada significa... O que é preciso é aquilo a que os profetas chamaram a
"circuncisão do coração" (Dt 10,16; Jr 4,4; cf. Jr 9,25): trata-se da
adesão plena da pessoa a Deus e às suas propostas; trata-se de uma verdadeira
transformação interior que se chama "conversão". O que é que é
preciso "cortar" na minha vida ou na vida da minha comunidade cristã
(ou religiosa) para que se dê início a essa nova etapa? O que é que ainda nos
impede de celebrar um verdadeiro compromisso com o nosso Deus?
A
partir dessa "circuncisão do coração", podemos celebrar com verdade a
vida nova, a ressurreição. A celebração da Páscoa será, dessa forma, o anúncio
e a preparação dessa Páscoa definitiva (a Páscoa escatológica), que nos trará a
vida plena.
SALMO
RESPONSORIAL - Salmo 33 (34)
Refrão:
Saboreai e vede como o Senhor é bom.
A
toda a hora bendirei o Senhor,
o seu louvor estará sempre na minha boca.
A minha alma gloria-se no Senhor:
escutem e alegrem-se os humildes.
o seu louvor estará sempre na minha boca.
A minha alma gloria-se no Senhor:
escutem e alegrem-se os humildes.
Enaltecei
comigo ao Senhor
e exaltemos juntos o seu nome.
Procurei o Senhor e Ele atendeu-me,
libertou-me de toda a ansiedade.
e exaltemos juntos o seu nome.
Procurei o Senhor e Ele atendeu-me,
libertou-me de toda a ansiedade.
Voltai-vos
para Ele e ficareis radiantes,
o vosso rosto não se cobrirá de vergonha.
Este pobre clamou e o Senhor o ouviu,
salvou-o de todas as angústias.
o vosso rosto não se cobrirá de vergonha.
Este pobre clamou e o Senhor o ouviu,
salvou-o de todas as angústias.
LEITURA
II - 2 Cor 5,17-21
Leitura
da Segunda Epístola do apóstolo São Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura.
As coisas antigas passaram; tudo foi renovado.
Tudo isto vem de Deus,
que por Cristo nos reconciliou consigo
e nos confiou o ministério da reconciliação.
Na verdade, é Deus que em Cristo reconcilia o mundo consigo,
não levando em conta as faltas dos homens
e confiando-nos a palavra da reconciliação.
Nós somos, portanto, embaixadores de Cristo;
é Deus quem vos exorta por nosso intermédio.
Nós vos pedimos em nome de Cristo:
reconciliai-vos com Deus.
A Cristo, que não conhecera o pecado,
Deus identificou-O com o pecado por causa de nós,
para que em Cristo nos tornemos justiça de Deus.
Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura.
As coisas antigas passaram; tudo foi renovado.
Tudo isto vem de Deus,
que por Cristo nos reconciliou consigo
e nos confiou o ministério da reconciliação.
Na verdade, é Deus que em Cristo reconcilia o mundo consigo,
não levando em conta as faltas dos homens
e confiando-nos a palavra da reconciliação.
Nós somos, portanto, embaixadores de Cristo;
é Deus quem vos exorta por nosso intermédio.
Nós vos pedimos em nome de Cristo:
reconciliai-vos com Deus.
A Cristo, que não conhecera o pecado,
Deus identificou-O com o pecado por causa de nós,
para que em Cristo nos tornemos justiça de Deus.
AMBIENTE
Por
volta de 56/57, chegam a Corinto missionários itinerantes que se apresentam
como apóstolos e criticam Paulo, lançando a confusão. Provavelmente, trata-se
ainda desses "judaizantes" que queriam impor aos pagãos convertidos
as práticas da Lei de Moisés (embora também possam ser cristãos que condenam a
severidade de Paulo e que apoiam o laxismo da vida dos coríntios). De qualquer
forma, Paulo é informado de que a validade do seu ministério está a ser
desafiada e dirige-se a toda a pressa para Corinto, disposto a enfrentar o
problema. O confronto é violento e Paulo é gravemente injuriado por um membro
da comunidade (cf. 2 Cor 2,5-11;7,11). Na sequência, Paulo abandona Corinto e
parte para Éfeso. Passado algum tempo, Paulo envia Tito a Corinto, a fim de
tentar a reconciliação. Quando Tito regressa, traz notícias animadoras: o diferendo
foi ultrapassado e os coríntios estão, outra vez, em comunhão com Paulo. É
nessa altura que Paulo, aliviado e com o coração em paz, escreve esta carta aos
coríntios, fazendo uma tranquila apologia do seu apostolado.
O texto que nos é proposto está incluído na primeira parte da carta (2 Cor 1,3-7,16), onde Paulo analisa as suas relações com os cristãos de Corinto. Neste texto em concreto, transparece essa necessidade premente de reconciliação que vai no coração de Paulo.
O texto que nos é proposto está incluído na primeira parte da carta (2 Cor 1,3-7,16), onde Paulo analisa as suas relações com os cristãos de Corinto. Neste texto em concreto, transparece essa necessidade premente de reconciliação que vai no coração de Paulo.
MENSAGEM
A
palavra-chave desta leitura é "reconciliação" (das dez vezes que
Paulo utiliza o verbo "reconciliar" e o substantivo
"reconciliação", cinco correspondem a esta passagem). Transparece,
portanto, aqui, a angústia de Paulo pelo "distanciamento" dos seus
queridos filhos de Corinto e a sua vontade de refazer a comunhão com eles.
Mas, para além da reconciliação entre os coríntios e Paulo, é necessária a reconciliação entre os coríntios e Deus. Daí a ardente chamada do apóstolo a que os coríntios se deixem reconciliar com Deus. "Em Cristo", Deus ofereceu aos homens a reconciliação; aderir à proposta de Cristo é acolher a oferta de reconciliação que Deus fez. Ser cristão implica, portanto, estar reconciliado com Deus (isto é, aceitar viver com ele uma relação autêntica de comunhão, de intimidade, de amor) e com os outros homens. Isto significa, na prática, ser uma criatura nova, um homem renovado.
É desta reconciliação que Paulo se fez "embaixador" e arauto; o ministério de Paulo passa por pedir aos coríntios que se reconciliem com Deus e que nasçam, assim, para a vida nova de Deus. É evidente que esta chamada não é só válida para os cristãos de Corinto, mas serve para os cristãos de todos os tempos: os homens têm necessidade de viver em paz uns com os outros; mas dificilmente o conseguirão, se não viverem em paz com Deus.
O texto termina (vers. 21) com uma referência à eficácia reconciliadora da morte de Cristo: pela cruz, Deus arrancou-nos do domínio do pecado e transformou-nos em homens novos. Que quer isto dizer? Ao ser morto na cruz pela Lei, Cristo mostrou como a Lei só produz morte, desqualificou-a e afastou-nos dela, permitindo-nos o verdadeiro encontro com Deus; e pela cruz, Jesus ensinou-nos o amor total, o amor que se dá, libertando-nos do egoísmo que impede a reconciliação com Deus e com os irmãos.
Mas, para além da reconciliação entre os coríntios e Paulo, é necessária a reconciliação entre os coríntios e Deus. Daí a ardente chamada do apóstolo a que os coríntios se deixem reconciliar com Deus. "Em Cristo", Deus ofereceu aos homens a reconciliação; aderir à proposta de Cristo é acolher a oferta de reconciliação que Deus fez. Ser cristão implica, portanto, estar reconciliado com Deus (isto é, aceitar viver com ele uma relação autêntica de comunhão, de intimidade, de amor) e com os outros homens. Isto significa, na prática, ser uma criatura nova, um homem renovado.
É desta reconciliação que Paulo se fez "embaixador" e arauto; o ministério de Paulo passa por pedir aos coríntios que se reconciliem com Deus e que nasçam, assim, para a vida nova de Deus. É evidente que esta chamada não é só válida para os cristãos de Corinto, mas serve para os cristãos de todos os tempos: os homens têm necessidade de viver em paz uns com os outros; mas dificilmente o conseguirão, se não viverem em paz com Deus.
O texto termina (vers. 21) com uma referência à eficácia reconciliadora da morte de Cristo: pela cruz, Deus arrancou-nos do domínio do pecado e transformou-nos em homens novos. Que quer isto dizer? Ao ser morto na cruz pela Lei, Cristo mostrou como a Lei só produz morte, desqualificou-a e afastou-nos dela, permitindo-nos o verdadeiro encontro com Deus; e pela cruz, Jesus ensinou-nos o amor total, o amor que se dá, libertando-nos do egoísmo que impede a reconciliação com Deus e com os irmãos.
ATUALIZAÇÃO
Para
refletir e atualizar a Palavra, considerar as seguintes questões:
Ser
cristão é, antes de mais, aceitar essa proposta de reconciliação que Deus nos
faz em Jesus.
Significa que Deus, apesar das nossas infidelidades, continua
a propor-nos um projeto de comunhão e de amor. Como é que eu respondo a essa
oferta de Deus: com uma vida de obediência aos seus projetos e de entrega
confiada nas suas mãos, ou com egoísmo, auto-suficiência e fechamento ao Deus
da comunhão?
É
"em Cristo" - e, de forma privilegiada, na cruz de Cristo - que somos
reconciliados com Deus. Na cruz, Cristo ensinou-nos a obediência total ao Pai,
a entrega confiada aos projetos do Pai e o amor total aos homens nossos irmãos.
Dessa lição decisiva deve nascer o Homem Novo, o homem que vive na obediência
aos projetos de Deus e no amor aos outros. É desta forma que eu procuro viver?
A
comunhão com Deus exige a reconciliação com os outros meus irmãos. Não é uma
conclusão a que Paulo dê um relevo explícito neste texto, mas é uma perspectiva
que está implícita em todo o discurso. Como me situo face a esta
obrigatoriedade (para o cristão) de me reconciliar com os que me rodeiam?
ACLAMAÇÃO
ANTES DO EVANGELHO - Lc 15,18
Refrão
1: Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo Senhor.
Refrão 2: Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai.
Refrão 3: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai.
Refrão 4: Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo.
Refrão 4: Louvor a Vós, Jesus Cristo, rei da eterna glória.
Refrão 6: Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor.
Refrão 7: A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Refrão 2: Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai.
Refrão 3: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai.
Refrão 4: Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo.
Refrão 4: Louvor a Vós, Jesus Cristo, rei da eterna glória.
Refrão 6: Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor.
Refrão 7: A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Vou
partir, vou ter com meu pai e dizer-lhe:
Pai, pequei contra o Céu e contra ti.
Pai, pequei contra o Céu e contra ti.
EVANGELHO
- Lc 15,1-3.11-32
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas
Naquele
tempo,
os publicanos e os pecadores
aproximavam-se todos de Jesus, para O ouvirem.
Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo:
"Este homem acolhe os pecadores e come com eles".
Jesus disse-lhes então a seguinte parábola:
"Um homem tinha dois filhos.
O mais novo disse ao pai:
'Pai, dá-me a parte da herança que me toca'.
O pai repartiu os bens pelos filhos.
Alguns dias depois, o filho mais novo,
juntando todos os seus haveres, partiu para um país distante
e por lá esbanjou quanto possuía,
numa vida dissoluta.
Tendo gasto tudo,
houve uma grande fome naquela região
e ele começou a passar privações.
Entrou então ao serviço de um dos habitantes daquela terra,
que o mandou para os seus campos guardar porcos.
Bem desejava ele matar a fome
com as alfarrobas que os porcos comiam,
mas ninguém lhas dava.
Então, caindo em si, disse:
'Quantos trabalhadores de meu pai têm pão em abundância,
e eu aqui a morrer de fome!
Vou-me embora, vou ter com meu pai e dizer-lhe:
Pai, pequei contra o Céu e contra ti.
Já não mereço ser chamado teu filho,
mas trata-me como um dos teus trabalhadores'.
Pôs-se a caminho e foi ter com o pai.
Ainda ele estava longe, quando o pai o viu:
encheu-se de compaixão
e correu a lançar-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos.
Disse-lhe o filho:
'Pai, pequei contra o Céu e contra ti.
Já não mereço ser chamado teu filho'.
Mas o pai disse aos servos:
'Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha.
Ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés.
Trazei o vitelo gordo e matai-o.
Comamos e festejemos,
porque este meu filho estava morto e voltou à vida,
estava perdido e foi reencontrado'.
E começou a festa.
Ora o filho mais velho estava no campo.
Quando regressou,
ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças.
Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo.
O servo respondeu-lhe:
'O teu irmão voltou
e teu pai mandou matar o vitelo gordo,
porque ele chegou são e salvo'.
Ele ficou ressentido e não queria entrar.
Então o pai veio cá fora instar com ele.
Mas ele respondeu ao pai:
'Há tantos anos que eu te sirvo,
sem nunca transgredir uma ordem tua,
e nunca me deste um cabrito
para fazer uma festa com os meus amigos.
E agora, quando chegou esse teu filho,
que consumiu os teus bens com mulheres de má vida,
mataste-lhe o vitelo gordo'.
Disse-lhe o pai:
'Filho, tu estás sempre comigo
e tudo o que é meu é teu.
Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos,
porque este teu irmão estava morto e voltou à vida,
estava perdido e foi reencontrado'".
os publicanos e os pecadores
aproximavam-se todos de Jesus, para O ouvirem.
Mas os fariseus e os escribas murmuravam entre si, dizendo:
"Este homem acolhe os pecadores e come com eles".
Jesus disse-lhes então a seguinte parábola:
"Um homem tinha dois filhos.
O mais novo disse ao pai:
'Pai, dá-me a parte da herança que me toca'.
O pai repartiu os bens pelos filhos.
Alguns dias depois, o filho mais novo,
juntando todos os seus haveres, partiu para um país distante
e por lá esbanjou quanto possuía,
numa vida dissoluta.
Tendo gasto tudo,
houve uma grande fome naquela região
e ele começou a passar privações.
Entrou então ao serviço de um dos habitantes daquela terra,
que o mandou para os seus campos guardar porcos.
Bem desejava ele matar a fome
com as alfarrobas que os porcos comiam,
mas ninguém lhas dava.
Então, caindo em si, disse:
'Quantos trabalhadores de meu pai têm pão em abundância,
e eu aqui a morrer de fome!
Vou-me embora, vou ter com meu pai e dizer-lhe:
Pai, pequei contra o Céu e contra ti.
Já não mereço ser chamado teu filho,
mas trata-me como um dos teus trabalhadores'.
Pôs-se a caminho e foi ter com o pai.
Ainda ele estava longe, quando o pai o viu:
encheu-se de compaixão
e correu a lançar-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos.
Disse-lhe o filho:
'Pai, pequei contra o Céu e contra ti.
Já não mereço ser chamado teu filho'.
Mas o pai disse aos servos:
'Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha.
Ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés.
Trazei o vitelo gordo e matai-o.
Comamos e festejemos,
porque este meu filho estava morto e voltou à vida,
estava perdido e foi reencontrado'.
E começou a festa.
Ora o filho mais velho estava no campo.
Quando regressou,
ao aproximar-se da casa, ouviu a música e as danças.
Chamou um dos servos e perguntou-lhe o que era aquilo.
O servo respondeu-lhe:
'O teu irmão voltou
e teu pai mandou matar o vitelo gordo,
porque ele chegou são e salvo'.
Ele ficou ressentido e não queria entrar.
Então o pai veio cá fora instar com ele.
Mas ele respondeu ao pai:
'Há tantos anos que eu te sirvo,
sem nunca transgredir uma ordem tua,
e nunca me deste um cabrito
para fazer uma festa com os meus amigos.
E agora, quando chegou esse teu filho,
que consumiu os teus bens com mulheres de má vida,
mataste-lhe o vitelo gordo'.
Disse-lhe o pai:
'Filho, tu estás sempre comigo
e tudo o que é meu é teu.
Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos,
porque este teu irmão estava morto e voltou à vida,
estava perdido e foi reencontrado'".
AMBIENTE
Continuamos
no "caminho de Jerusalém", esse caminho espiritual que Jesus percorre
com os discípulos, preparando-os para serem as testemunhas do Reino diante de
todos os homens.
Todo o capítulo 15 é dedicado ao ensinamento sobre a misericórdia: em três parábolas, Lucas apresenta uma catequese sobre a bondade e o amor de um Deus que quer estender a mão a todos os que a teologia oficial excluía e marginalizava. O ponto de partida é a murmuração dos fariseus e dos escribas que, diante da avalanche de publicanos e pecadores que escutam Jesus, comentam: "este homem acolhe os pecadores e come com eles". Acolher os publicanos e pecadores é algo de escandaloso, na perspectiva dos fariseus; no entanto, comer com eles, estabelecer laços de familiaridade e de irmandade com eles à volta da mesa, é algo de inaudito... A conclusão dos fariseus é óbvia: Jesus não pode vir de Deus pois, na perspectiva da doutrina tradicional, os pecadores não podem aproximar-se de Deus.
É neste contexto que Jesus apresenta a "parábola do filho pródigo", uma parábola que é exclusiva de Lucas (nem Marcos, nem Mateus, nem João a referem).
Todo o capítulo 15 é dedicado ao ensinamento sobre a misericórdia: em três parábolas, Lucas apresenta uma catequese sobre a bondade e o amor de um Deus que quer estender a mão a todos os que a teologia oficial excluía e marginalizava. O ponto de partida é a murmuração dos fariseus e dos escribas que, diante da avalanche de publicanos e pecadores que escutam Jesus, comentam: "este homem acolhe os pecadores e come com eles". Acolher os publicanos e pecadores é algo de escandaloso, na perspectiva dos fariseus; no entanto, comer com eles, estabelecer laços de familiaridade e de irmandade com eles à volta da mesa, é algo de inaudito... A conclusão dos fariseus é óbvia: Jesus não pode vir de Deus pois, na perspectiva da doutrina tradicional, os pecadores não podem aproximar-se de Deus.
É neste contexto que Jesus apresenta a "parábola do filho pródigo", uma parábola que é exclusiva de Lucas (nem Marcos, nem Mateus, nem João a referem).
MENSAGEM
A
parábola apresenta-nos três personagens de referência: o pai, o filho mais novo
e o filho mais velho. Detenhamo-nos um pouco nestas figuras.
A personagem central é o pai. Trata-se de uma figura excepcional, que conjuga o respeito pelas decisões e pela liberdade dos filhos, com um amor gratuito e sem limites. Esse amor manifesta-se na emoção com que abraça o filho que volta, mesmo sem saber se esse filho mudou a sua atitude de orgulho e de auto-suficiência em relação ao pai e à casa. Trata-se de um amor que permaneceu inalterado, apesar da rebeldia do filho; trata-se de um pai que continuou a amar, apesar da ausência e da infidelidade do filho. A consequência do amor do pai simboliza-se no "anel" que é símbolo da autoridade (cf. Gn 41,42; Est 3,10; 8,2) e nas sandálias, que é o calçado do homem livre.
Depois, vem o filho mais novo. É um filho ingrato, insolente e obstinado, que exige do pai muito mais do que aquilo a que tem direito (a lei judaica previa que o filho mais novo recebesse apenas um terço da fortuna do pai - cf. Dt 21,15-17; mas, ainda que a divisão das propriedades pudesse fazer-se em vida do pai, os filhos não acediam à sua posse senão depois da morte deste - cf. Sir 33,20-24). Além disso, abandona a casa e o amor do pai e dissipa os bens que o pai colocou à sua disposição. É uma imagem de egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência, de frivolidade, de total irresponsabilidade. Acaba, no entanto, por perceber o vazio, o sem sentido, o desespero dessa vida de egoísmo e de auto-suficiência e por ter a coragem de voltar ao encontro do amor do pai.
Finalmente, temos o filho mais velho. É o filho "certinho", que sempre fez o que o pai mandou, que cumpriu todas as regras e que nunca pensou em deixar esse espaço cômodo e acolhedor que é a casa do pai. No entanto, a sua lógica é a lógica da "justiça" e não a lógica da "misericórdia". Ele acha que tem créditos superiores aos do irmão e não compreende nem aceita que o pai queira exercer o seu direito à misericórdia e acolha, feliz, o filho rebelde. É a imagem desses fariseus e escribas que interpelaram Jesus: porque cumpriam à risca as exigências da Lei, desprezavam os pecadores e achavam que essa devia ser também a lógica de Deus.
A personagem central é o pai. Trata-se de uma figura excepcional, que conjuga o respeito pelas decisões e pela liberdade dos filhos, com um amor gratuito e sem limites. Esse amor manifesta-se na emoção com que abraça o filho que volta, mesmo sem saber se esse filho mudou a sua atitude de orgulho e de auto-suficiência em relação ao pai e à casa. Trata-se de um amor que permaneceu inalterado, apesar da rebeldia do filho; trata-se de um pai que continuou a amar, apesar da ausência e da infidelidade do filho. A consequência do amor do pai simboliza-se no "anel" que é símbolo da autoridade (cf. Gn 41,42; Est 3,10; 8,2) e nas sandálias, que é o calçado do homem livre.
Depois, vem o filho mais novo. É um filho ingrato, insolente e obstinado, que exige do pai muito mais do que aquilo a que tem direito (a lei judaica previa que o filho mais novo recebesse apenas um terço da fortuna do pai - cf. Dt 21,15-17; mas, ainda que a divisão das propriedades pudesse fazer-se em vida do pai, os filhos não acediam à sua posse senão depois da morte deste - cf. Sir 33,20-24). Além disso, abandona a casa e o amor do pai e dissipa os bens que o pai colocou à sua disposição. É uma imagem de egoísmo, de orgulho, de auto-suficiência, de frivolidade, de total irresponsabilidade. Acaba, no entanto, por perceber o vazio, o sem sentido, o desespero dessa vida de egoísmo e de auto-suficiência e por ter a coragem de voltar ao encontro do amor do pai.
Finalmente, temos o filho mais velho. É o filho "certinho", que sempre fez o que o pai mandou, que cumpriu todas as regras e que nunca pensou em deixar esse espaço cômodo e acolhedor que é a casa do pai. No entanto, a sua lógica é a lógica da "justiça" e não a lógica da "misericórdia". Ele acha que tem créditos superiores aos do irmão e não compreende nem aceita que o pai queira exercer o seu direito à misericórdia e acolha, feliz, o filho rebelde. É a imagem desses fariseus e escribas que interpelaram Jesus: porque cumpriam à risca as exigências da Lei, desprezavam os pecadores e achavam que essa devia ser também a lógica de Deus.
A
"parábola do pai bondoso e misericordioso" pretende apresentar-nos a
lógica de Deus. Deus é o Pai bondoso, que respeita absolutamente a liberdade e
as decisões dos seus filhos, mesmo que eles usem essa liberdade para procurar a
felicidade em caminhos errados; e, aconteça o que acontecer, continua a amar e
a esperar ansiosamente o regresso dos filhos rebeldes. Quando os reencontra,
acolhe-os com amor e reintegra-os na sua família. Essa é a alegria de Deus. É
esse Deus de amor, de bondade, de misericórdia, que se alegra quando o filho
regressa que nós, às vezes filhos rebeldes, temos a certeza de encontrar quando
voltamos.
A parábola pretende ser também um convite a deixarmo-nos arrastar por esta dinâmica de amor no julgamento que fazemos dos nossos irmãos. Mais do que pela "justiça", que nos deixemos guiar pela misericórdia, na linha de Deus.
A parábola pretende ser também um convite a deixarmo-nos arrastar por esta dinâmica de amor no julgamento que fazemos dos nossos irmãos. Mais do que pela "justiça", que nos deixemos guiar pela misericórdia, na linha de Deus.
ATUALIZAÇÃO
Ter
em conta os seguintes elementos, para reflexão:
A
primeira chamada de atenção vai para o amor do Pai: um amor que respeita
absolutamente as decisões - mesmo absurdas - desse filho que abandona a casa
paterna; um amor que está sempre lá, fiel e inquebrável, preparado para abraçar
o filho que volta. Repare-se: mesmo antes de o filho falar e mostrar o seu
arrependimento, o Pai manifesta-lhe o seu amor; é um amor que precede a
conversão e que se manifesta antes da conversão. É num Deus que nos ama desta
forma que somos chamados a confiar neste tempo de "metanoia".
Esta
parábola alerta-nos também para o sem sentido e a frustração de uma vida vivida
longe do amor do "Pai", no egoísmo, no materialismo, na
auto-suficiência. Convida-nos a reconhecer que não é nos bens deste mundo, mas
é na comunhão com o "Pai" que encontramos a felicidade, a serenidade
e a paz.
Esta
parábola convida-nos, finalmente, a não nos deixarmos dominar pela lógica do
que é "justo" aos olhos do mundo, mas pela "justiça de
Deus", que é misericórdia, compreensão, tolerância, amor. Com que
critérios julgamos os nossos irmãos: com os critérios da justiça do mundo, ou
com os critérios da misericórdia de Deus? A nossa comunidade é,
verdadeiramente, o espaço onde se manifesta a misericórdia de Deus?
5º Domingo da Quaresma
A
liturgia de hoje fala-nos (outra vez) de um Deus que ama e cujo amor nos
desafia a ultrapassar as nossas escravidões para chegar à vida nova, à
ressurreição.
A primeira leitura apresenta-nos o Deus libertador, que acompanha com solicitude e amor a caminhada do seu Povo para a liberdade. Esse "caminho" é o paradigma dessa outra libertação que Deus nos convida a fazer neste tempo de Quaresma e que nos levará à Terra Prometida onde corre a vida nova.
A segunda leitura é um desafio a libertar-nos do "lixo" que impede a descoberta do fundamental: a comunhão com Cristo, a identificação com Cristo, princípio da nossa ressurreição.
O Evangelho diz-nos que, na perspectiva de Deus, não são o castigo e a intolerância que resolvem o problema do mal e do pecado; só o amor e a misericórdia geram ativamente vida e fazem nascer o homem novo. É esta lógica - a lógica de Deus - que somos convidados a assumir na nossa relação com os irmãos.
A primeira leitura apresenta-nos o Deus libertador, que acompanha com solicitude e amor a caminhada do seu Povo para a liberdade. Esse "caminho" é o paradigma dessa outra libertação que Deus nos convida a fazer neste tempo de Quaresma e que nos levará à Terra Prometida onde corre a vida nova.
A segunda leitura é um desafio a libertar-nos do "lixo" que impede a descoberta do fundamental: a comunhão com Cristo, a identificação com Cristo, princípio da nossa ressurreição.
O Evangelho diz-nos que, na perspectiva de Deus, não são o castigo e a intolerância que resolvem o problema do mal e do pecado; só o amor e a misericórdia geram ativamente vida e fazem nascer o homem novo. É esta lógica - a lógica de Deus - que somos convidados a assumir na nossa relação com os irmãos.
LEITURA
I - Is 43,16-21
Leitura
do livro de Isaías
O
Senhor abriu outrora caminhos através do mar,
veredas por entre as torrentes das águas.
Pôs em campanha carros e cavalos,
um exército de valentes guerreiros;
e todos caíram para não mais se levantarem,
extinguiram-se como um pavio que se apaga.
Eis o que diz o Senhor:
"Não vos lembreis mais dos acontecimentos passados,
não presteis atenção às coisas antigas.
Olhai: vou realizar uma coisa nova,
que já começa a aparecer; não a vedes?
Vou abrir um caminho no deserto,
fazer brotar rios na terra árida.
Os animais selvagens - chacais e avestruzes -
proclamarão a minha glória,
porque farei brotar água no deserto,
rios na terra árida,
para matar a sede ao meu povo escolhido,
o povo que formei para Mim
e que proclamará os meus louvores".
veredas por entre as torrentes das águas.
Pôs em campanha carros e cavalos,
um exército de valentes guerreiros;
e todos caíram para não mais se levantarem,
extinguiram-se como um pavio que se apaga.
Eis o que diz o Senhor:
"Não vos lembreis mais dos acontecimentos passados,
não presteis atenção às coisas antigas.
Olhai: vou realizar uma coisa nova,
que já começa a aparecer; não a vedes?
Vou abrir um caminho no deserto,
fazer brotar rios na terra árida.
Os animais selvagens - chacais e avestruzes -
proclamarão a minha glória,
porque farei brotar água no deserto,
rios na terra árida,
para matar a sede ao meu povo escolhido,
o povo que formei para Mim
e que proclamará os meus louvores".
AMBIENTE
O
Deutero-Isaías (autor deste texto) é um profeta anônimo, da escola de Isaías,
que cumpriu a sua missão profética entre os exilados. Estamos no séc. VI a.C.,
na Babilônia. Os judeus exilados estão frustrados e desorientados, pois a
libertação tarda e Deus parece ter-se esquecido do seu Povo. Sonham com um novo
êxodo, no qual Jahwéh se manifeste, outra vez, como o Deus libertador.
Na primeira parte do "livro da consolação" (Is 40-48), o profeta anuncia a iminência da libertação e compara a saída da Babilônia e a volta à Terra Prometida com o êxodo do Egito. É neste contexto que deve ser enquadrada a primeira leitura de hoje.
Na primeira parte do "livro da consolação" (Is 40-48), o profeta anuncia a iminência da libertação e compara a saída da Babilônia e a volta à Terra Prometida com o êxodo do Egito. É neste contexto que deve ser enquadrada a primeira leitura de hoje.
MENSAGEM
Este
oráculo de salvação começa por recordar a "mãe de todas as
libertações" (a libertação da escravidão do Egito). Mas, evocar essa
realidade não pode ser uma fuga nostálgica para o passado, um repousar inerte
na saudade, um refúgio contra o medo do presente (se assim for, esse passado
vai obscurecer a perspectiva do Povo, impedindo-o de reconhecer os sinais que
já se manifestam e que anunciam um futuro de liberdade e de vida nova)... A
lembrança do passado é válida quando alimenta a esperança e prepara para um
futuro novo. Na ação libertadora de Deus em favor do Povo oprimido pelo faraó,
o judeu crente descobre um padrão: o Deus que assim agiu é o Deus que não
tolera a opressão e que está do lado dos oprimidos; por isso, não deixará de se
manifestar em circunstâncias análogas, operando a salvação do Povo escravizado.
De fato - diz o profeta - o Deus libertador em quem acreditamos e em quem esperamos não demorará a atuar. Aproxima-se o dia de um novo êxodo, de uma nova libertação. No entanto, esse novo êxodo será algo de grandioso, que eclipsará o antigo êxodo: o Povo libertado percorrerá um caminho fácil no regresso à sua Terra e não conhecerá o desespero da sede e da falta de comida porque Jahwéh vai fazer brotar rios na paisagem desolada do deserto. A atuação de Deus manifestará, de forma clara, o amor e a solicitude de Deus pelo seu Povo. Diante da ação de Jahwéh, o Povo tomará consciência de que é o Povo eleito e dará a resposta adequada: louvará o seu Deus pelos dons recebidos.
De fato - diz o profeta - o Deus libertador em quem acreditamos e em quem esperamos não demorará a atuar. Aproxima-se o dia de um novo êxodo, de uma nova libertação. No entanto, esse novo êxodo será algo de grandioso, que eclipsará o antigo êxodo: o Povo libertado percorrerá um caminho fácil no regresso à sua Terra e não conhecerá o desespero da sede e da falta de comida porque Jahwéh vai fazer brotar rios na paisagem desolada do deserto. A atuação de Deus manifestará, de forma clara, o amor e a solicitude de Deus pelo seu Povo. Diante da ação de Jahwéh, o Povo tomará consciência de que é o Povo eleito e dará a resposta adequada: louvará o seu Deus pelos dons recebidos.
ATUALIZAÇÃO
Refletir
a partir das seguintes linhas:
O
nosso Deus é o Deus libertador, que não se conforma com qualquer escravidão que
roube a vida e a dignidade do homem e que está, permanentemente, a pedir-nos
que lutemos contra todas as formas de sujeição. Quais são as grandes formas de
escravidão que impedem, hoje, a liberdade e a vida? Neste tempo de
transformação e de mudança, o que posso eu fazer para que a escravidão e a
injustiça não mais destruam a vida dos homens meus irmãos?
A
vida cristã é uma caminhada permanente, rumo à Páscoa, rumo à ressurreição.
Neste tempo de Quaresma, somos convidados a deixar definitivamente para trás o
passado e a aderir à vida nova que Deus nos propõe. Cada Quaresma é um abalo
que nos desinstala, que põe em causa o nosso comodismo, que nos convida a olhar
para o futuro e a ir além de nós mesmos, na busca do Homem Novo. O que é que,
na minha vida, necessita de ser transformado? O que é que ainda me mantém
alienado, prisioneiro e escravo? O que é que me impede de imprimir à minha vida
um novo dinamismo, de forma que o Homem Novo se manifeste em mim?
SALMO
RESPONSORIAL - Salmo 125 (126)
Refrão
1: Grandes maravilhas fez por nós o Senhor.
Refrão
2: O Senhor fez maravilhas em favor do seu povo.
Quando
o Senhor fez regressar os cativos de Sião,
parecia-nos viver um sonho.
Da nossa boca brotavam expressões de alegria
e de nossos lábios cânticos de júbilo.
parecia-nos viver um sonho.
Da nossa boca brotavam expressões de alegria
e de nossos lábios cânticos de júbilo.
Diziam
então os pagãos:
"O Senhor fez por eles grandes coisas".
Sim, grandes coisas fez por nós o Senhor,
estamos exultantes de alegria.
"O Senhor fez por eles grandes coisas".
Sim, grandes coisas fez por nós o Senhor,
estamos exultantes de alegria.
Fazei
regressar, Senhor, os nossos cativos,
como as torrentes do deserto.
Os que semeiam em lágrimas
recolhem com alegria.
como as torrentes do deserto.
Os que semeiam em lágrimas
recolhem com alegria.
À
ida, vão a chorar,
levando as sementes;
à volta vêm a cantar,
trazendo os molhos de espigas.
levando as sementes;
à volta vêm a cantar,
trazendo os molhos de espigas.
LEITURA
II - Fl 3,8-14
Leitura
da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses
Irmãos:
Considero todas as coisas como prejuízo,
comparando-as com o bem supremo,
que é conhecer Jesus Cristo, meu Senhor.
Por Ele renunciei a todas as coisas
e considerei tudo como lixo,
para ganhar a Cristo
e nele me encontrar,
não com a minha justiça que vem da Lei,
mas com a que se recebe pela fé em Cristo,
a justiça que vem de Deus e se funda na fé.
Assim poderei conhecer Cristo,
o poder da sua ressurreição
e a participação nos seus sofrimentos,
configurando-me à sua morte,
para ver se posso chegar à ressurreição dos mortos.
Não que eu tenha já chegado à meta,
ou já tenha atingido a perfeição.
Mas continuo a correr, para ver se a alcanço,
uma vez que também fui alcançado por Cristo Jesus.
Não penso, irmãos, que já o tenha conseguido.
Só penso numa coisa:
esquecendo o que fica para trás,
lançar-me para a frente, continuar a correr para a meta,
em vista do prêmio a que Deus, lá do alto,
me chamaem Cristo
Jesus.
Considero todas as coisas como prejuízo,
comparando-as com o bem supremo,
que é conhecer Jesus Cristo, meu Senhor.
Por Ele renunciei a todas as coisas
e considerei tudo como lixo,
para ganhar a Cristo
e nele me encontrar,
não com a minha justiça que vem da Lei,
mas com a que se recebe pela fé em Cristo,
a justiça que vem de Deus e se funda na fé.
Assim poderei conhecer Cristo,
o poder da sua ressurreição
e a participação nos seus sofrimentos,
configurando-me à sua morte,
para ver se posso chegar à ressurreição dos mortos.
Não que eu tenha já chegado à meta,
ou já tenha atingido a perfeição.
Mas continuo a correr, para ver se a alcanço,
uma vez que também fui alcançado por Cristo Jesus.
Não penso, irmãos, que já o tenha conseguido.
Só penso numa coisa:
esquecendo o que fica para trás,
lançar-me para a frente, continuar a correr para a meta,
em vista do prêmio a que Deus, lá do alto,
me chama
AMBIENTE
A
carta aos Filipenses é uma carta "afetuosa e terna" que Paulo escreve
da prisão aos seus amigos de Filipos. Os cristãos desta cidade, preocupados com
a situação de Paulo, enviaram-lhe dinheiro e um membro da comunidade
(Epafrodito) que cuidou de Paulo e o acompanhou na solidão do cárcere. Com o
coração cheio de afeto, Paulo agradece aos seus queridos filhos de Filipos; e,
por outro lado, avisa-os para que não se deixem levar pelos "cães",
pelos "maus obreiros" (Fl 3,2) que, em Filipos como em todo o lado,
semeiam a dúvida e a confusão. Quem são estes? São ainda esses "judaizantes",
"os da mutilação" (Fl 3,2), que proclamavam a obrigatoriedade da
circuncisão e da obediência à Lei de Moisés.
O texto que nos é proposto insere-se nesse discurso de polemica contra os adversários "judaizantes" (cf. Flp 3). Paulo pede aos Filipenses que não se deixem enganar por esses falsos pregadores, super-entusiastas, que se apresentam com títulos de glória e que parecem esquecer que só Cristo é importante.
O texto que nos é proposto insere-se nesse discurso de polemica contra os adversários "judaizantes" (cf. Flp 3). Paulo pede aos Filipenses que não se deixem enganar por esses falsos pregadores, super-entusiastas, que se apresentam com títulos de glória e que parecem esquecer que só Cristo é importante.
MENSAGEM
Ao
exemplo e à pregação desses "judaizantes", que alardeiam os mais
diversos títulos de glória, Paulo contrapõe o seu próprio exemplo. Ele tem mais
razões do que os outros para apresentar títulos (ele que foi circuncidado com
oito dias; que é hebreu genuíno, filho de hebreus, da tribo de Benjamim; que
foi fariseu e que viveu irrepreensivelmente como filho da Lei - cf. Fl 3,5-6);
mas a única coisa que lhe interessa - porque é a única coisa que tem eficácia
salvadora - é conhecer Jesus Cristo. É claro que os termos conhecer e
conhecimento devem ser aqui entendidos no mais genuíno sentido da tradição
bíblica, quer dizer, no sentido de "entrar em comunhão de vida e de
destino" com uma pessoa. Aquilo que ele procura agora e que é o
fundamental é identificar-se com Cristo, a fim de com ele ressuscitar para a
vida nova.
Os Filipenses - e, claro, os crentes de todas as épocas - farão bemem imitar Paulo e
esquecer tudo o resto (a circuncisão, os ritos da Lei, os títulos de glória são
apenas "prejuízo" ou "lixo" - vers. 8). Só a identificação
com Cristo, a comunhão de vida e de destino com Cristo é importante; só uma
vida vivida na entrega, no dom, no amor que se faz serviço aos outros, ao jeito
de Cristo, conduz à ressurreição, à vida nova.
Mais um dado importante: Paulo está consciente que partilhar a vida e o destino de Cristo implica um esforço diário, nunca terminado; é, até, possível o fracasso, pois o nosso orgulho e egoísmo estão sempre à espreita e o caminho da entrega e do dom da vida é exigente. Mas é o único caminho possível, o único que faz sentido, para quem descobre a novidade de Cristo se apaixona por ela. Quem quer chegar à vida nova, à ressurreição, tem de seguir esse caminho.
Os Filipenses - e, claro, os crentes de todas as épocas - farão bem
Mais um dado importante: Paulo está consciente que partilhar a vida e o destino de Cristo implica um esforço diário, nunca terminado; é, até, possível o fracasso, pois o nosso orgulho e egoísmo estão sempre à espreita e o caminho da entrega e do dom da vida é exigente. Mas é o único caminho possível, o único que faz sentido, para quem descobre a novidade de Cristo se apaixona por ela. Quem quer chegar à vida nova, à ressurreição, tem de seguir esse caminho.
ATUALIZAÇÃO
Considerar,
para reflexão, as seguintes linhas:
Neste
tempo favorável à conversão, é importante revermos aquilo que dá sentido à
nossa vida. É possível que detectemos no centro dos nossos interesses algum
desse "lixo" de que Paulo fala (interesses materiais e egoístas,
preocupações com honras ou com títulos humanos, apostas incondicionais em
pessoas ou ideologias...); mas Paulo convida a dar prioridade ao que é importante
- a uma vida de comunhão com Cristo, que nos leve a uma identificação com o seu
amor, o seu serviço, a sua entrega. Qual é o "lixo" que me impede de
nascer, com Cristo, para a vida nova?
É
preciso, igualmente, ter consciência de que este caminho de conversão a Cristo
é um caminho que está, permanentemente, a fazer-se. O cristão está consciente
de que, enquanto caminha neste mundo, "ainda não chegou à meta". A
identificação com Cristo deve ser, pois, um desafio constante, que exige um
empenho diário, até chegarmos à meta do Homem Novo.
ACLAMAÇÃO
ANTES DO EVANGELHO - Joel 2,12-13
Refrão
1: Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo Senhor.
Refrão 2: Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai.
Refrão 3: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai.
Refrão 4: Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo.
Refrão 4: Louvor a Vós, Jesus Cristo, rei da eterna glória.
Refrão 6: Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor.
Refrão 7: A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Refrão 2: Glória a Vós, Jesus Cristo, Sabedoria do Pai.
Refrão 3: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai.
Refrão 4: Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo.
Refrão 4: Louvor a Vós, Jesus Cristo, rei da eterna glória.
Refrão 6: Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor.
Refrão 7: A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo, Nosso Senhor.
Convertei-vos
a Mim de todo o coração, diz o Senhor;
porque sou benigno e misericordioso.
porque sou benigno e misericordioso.
EVANGELHO
- Jo 8,1-11
Evangelho
de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João
Naquele
tempo,
Jesus foi para o Monte das Oliveiras.
Mas de manhã cedo, apareceu outra vez no templo,
e todo o povo se aproximou de ele.
Então sentou-Se e começou a ensinar.
Os escribas e os fariseus apresentaram a Jesus
uma mulher surpreendida em adultério,
colocaram-na no meio dos presentes e disseram a Jesus:
"Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério.
Na Lei, Moisés mandou-nos apedrejar tais mulheres.
Tu que dizes?"
Falavam assim para Lhe armarem uma cilada
e terem pretexto para O acusar.
Mas Jesus inclinou-Se
e começou a escrever com o dedo no chão.
Como persistiam em interrogá-lo,
ergueu-se e disse-lhes:
"Quem de entre vós estiver sem pecado
atire a primeira pedra".
Inclinou-Se novamente e continuou a escrever no chão.
Eles, porém, quando ouviram tais palavras,
foram saindo um após outro, a começar pelos mais velhos,
e ficou só Jesus e a mulher, que estava no meio.
Jesus ergueu-Se e disse-lhe:
"Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?".
Ele respondeu:
"Ninguém, Senhor".
Disse então Jesus:
"Nem Eu te condeno.
Vai e não tornes a pecar".
Jesus foi para o Monte das Oliveiras.
Mas de manhã cedo, apareceu outra vez no templo,
e todo o povo se aproximou de ele.
Então sentou-Se e começou a ensinar.
Os escribas e os fariseus apresentaram a Jesus
uma mulher surpreendida em adultério,
colocaram-na no meio dos presentes e disseram a Jesus:
"Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério.
Na Lei, Moisés mandou-nos apedrejar tais mulheres.
Tu que dizes?"
Falavam assim para Lhe armarem uma cilada
e terem pretexto para O acusar.
Mas Jesus inclinou-Se
e começou a escrever com o dedo no chão.
Como persistiam em interrogá-lo,
ergueu-se e disse-lhes:
"Quem de entre vós estiver sem pecado
atire a primeira pedra".
Inclinou-Se novamente e continuou a escrever no chão.
Eles, porém, quando ouviram tais palavras,
foram saindo um após outro, a começar pelos mais velhos,
e ficou só Jesus e a mulher, que estava no meio.
Jesus ergueu-Se e disse-lhe:
"Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?".
Ele respondeu:
"Ninguém, Senhor".
Disse então Jesus:
"Nem Eu te condeno.
Vai e não tornes a pecar".
AMBIENTE
Esta
pequena unidade literária não pertencia, inicialmente, ao Evangelho de João:
ela rompe o contexto de Jo 7-8, não possui as características do estilo joânico
e o seu conteúdo não se encaixa neste Evangelho (que não se interessa por
problemas deste gênero). Além disso, é omitida pela maior parte dos manuscritos
antigos; e as referências dos Padres da Igreja a este episódio são muito
escassas. Outros manuscritos colocam-no dentro do Evangelho, mas em sítios
diversos, por exemplo, no final do mesmo - como fazem algumas versões modernas
da Bíblia. Numa série de manuscritos, encontramo-la no Evangelho de Lucas (após
Lc 21,38), que seria um dos lugares mais adequados, dado o interesse de Lucas
em destacar a misericórdia de Jesus. Trata-se de uma tradição independente que,
no entanto, foi considerada pela Igreja como inspirada por Deus: não há dúvida
que deve ser vista como "Palavra de Deus".
Seja como for, o cenário de fundo coloca-nos frente a uma mulher apanhada a cometer adultério. De acordo com Lv 20,10 e Dt 22,22-24, a mulher devia ser morta.
A Lei deve ser aplicada? É este problema que é apresentado a Jesus.
Seja como for, o cenário de fundo coloca-nos frente a uma mulher apanhada a cometer adultério. De acordo com Lv 20,10 e Dt 22,22-
MENSAGEM
Temos,
portanto, diante de Jesus uma mulher que, de acordo com a Lei, tinha cometido
uma falta que merecia a morte. Para os escribas e fariseus, trata-se de uma
oportunidade de ouro para testar a ortodoxia de Jesus e a sua fidelidade às
exigências da Lei; para Jesus, trata-se de revelar a atitude de Deus frente ao
pecado e ao pecador.
Apresentada a questão, Jesus não procura branquear o pecado ou desculpabilizar o comportamento da mulher. Ele sabe que o pecado não é um caminho aceitável, pois gera infelicidade e rouba a paz... No entanto, também não aceita pactuar com uma Lei que, em nome de Deus, gera morte. Porque os esquemas de Deus são diferentes dos esquemas da Lei, Jesus fica em silêncio durante uns momentos e escreve no chão, como se pretendesse dar tempo aos participantes da cena para perceber aquilo que estavaem causa. Finalmente , convida os acusadores a tomar
consciência de que o pecado é uma consequência dos nossos limites e
fragilidades e que Deus entende isso: "quem de vós estiver sem pecado,
atire a primeira pedra". E continua a escrever no chão, à espera que os
acusadores da mulher interiorizem a lógica de Deus - a lógica da tolerância e
da compreensão. Quando os escribas e fariseus se retiram, Jesus nem sequer
pergunta à mulher se ela está ou não arrependida: convida-a, apenas, a seguir
um caminho novo, de liberdade e de paz ("vai e não tornes a pecar").
A lógica de Deus não é uma lógica de morte, mas uma lógica de vida; a proposta que Deus faz aos homens através de Jesus, não passa pela eliminação dos que erram, mas por um convite à vida nova, à conversão, à transformação, à libertação de tudo o que oprime e escraviza; e destruir ou matar em nome de Deus ou em nome de uma qualquer moral é uma ofensa inqualificável a esse Deus da vida e do amor, que apenas quer a realização plena do homem.
O episódio põe em relevo, por outro lado, a intransigência e a hipocrisia do homem, sempre disposto a julgar e a condenar... os outros. Jesus denuncia, aqui, a lógica daqueles que se sentem perfeitos e auto-suficientes, sem reconhecerem que estamos todos a caminho e que, enquanto caminhamos, somos imperfeitos e limitados. É preciso reconhecer, com humildade e simplicidade, que necessitamos todos da ajuda do amor e da misericórdia de Deus para chegar à vida plena do Homem Novo. A única atitude que faz sentido, neste esquema, é assumir para com os nossos irmãos a tolerância e a misericórdia que Deus tem para com todos os homens.
Na atitude de Jesus, torna-se particularmente evidente a misericórdia de Deus para com todos aqueles que a teologia oficial considerava marginais. Os pecadores públicos, os proscritos, os transgressores notórios da Lei e da moral encontram em Jesus um sinal do Deus que os ama e que lhes diz: "eu não te condeno". Sem excluir ninguém, Jesus promoveu os desclassificados, deu-lhes dignidade, tornou-os pessoas, libertou-os, apontou-lhes o caminho da vida nova, da vida plena. A dinâmica de Deus é uma dinâmica de misericórdia, pois só o amor transforma e permite a superação dos limites humanos. É essa a realidade do Reino de Deus.
Apresentada a questão, Jesus não procura branquear o pecado ou desculpabilizar o comportamento da mulher. Ele sabe que o pecado não é um caminho aceitável, pois gera infelicidade e rouba a paz... No entanto, também não aceita pactuar com uma Lei que, em nome de Deus, gera morte. Porque os esquemas de Deus são diferentes dos esquemas da Lei, Jesus fica em silêncio durante uns momentos e escreve no chão, como se pretendesse dar tempo aos participantes da cena para perceber aquilo que estava
A lógica de Deus não é uma lógica de morte, mas uma lógica de vida; a proposta que Deus faz aos homens através de Jesus, não passa pela eliminação dos que erram, mas por um convite à vida nova, à conversão, à transformação, à libertação de tudo o que oprime e escraviza; e destruir ou matar em nome de Deus ou em nome de uma qualquer moral é uma ofensa inqualificável a esse Deus da vida e do amor, que apenas quer a realização plena do homem.
O episódio põe em relevo, por outro lado, a intransigência e a hipocrisia do homem, sempre disposto a julgar e a condenar... os outros. Jesus denuncia, aqui, a lógica daqueles que se sentem perfeitos e auto-suficientes, sem reconhecerem que estamos todos a caminho e que, enquanto caminhamos, somos imperfeitos e limitados. É preciso reconhecer, com humildade e simplicidade, que necessitamos todos da ajuda do amor e da misericórdia de Deus para chegar à vida plena do Homem Novo. A única atitude que faz sentido, neste esquema, é assumir para com os nossos irmãos a tolerância e a misericórdia que Deus tem para com todos os homens.
Na atitude de Jesus, torna-se particularmente evidente a misericórdia de Deus para com todos aqueles que a teologia oficial considerava marginais. Os pecadores públicos, os proscritos, os transgressores notórios da Lei e da moral encontram em Jesus um sinal do Deus que os ama e que lhes diz: "eu não te condeno". Sem excluir ninguém, Jesus promoveu os desclassificados, deu-lhes dignidade, tornou-os pessoas, libertou-os, apontou-lhes o caminho da vida nova, da vida plena. A dinâmica de Deus é uma dinâmica de misericórdia, pois só o amor transforma e permite a superação dos limites humanos. É essa a realidade do Reino de Deus.
ATUALIZAÇÃO
A
reflexão pode fazer-se a partir das seguintes indicações:
O
nosso Deus - di-lo de forma clara o Evangelho de hoje - funciona na lógica da
misericórdia e não na lógica da Lei; ele não quer a morte daquele que errou,
mas a libertação plena do homem. Nesta lógica, só a misericórdia e o amor se
encaixam: só eles são capazes de mostrar o sem sentido da escravidão e de
soprar a esperança, a ânsia de superação, o desejo de uma vida nova. A força de
Deus (essa força que nos projeta para a vida em plenitude), não está no
castigo, mas está no amor.
No
nosso mundo, o fundamentalismo e a intransigência falam frequentemente mais
alto do que o amor: mata-se, oprime-se, escraviza-se em nome de Deus;
desacredita-se, calunia-se, em razão de preconceitos; marginaliza-se em nome da
moral e dos bons costumes... Esta lógica (bem longe da misericórdia e do amor
de Deus) leva-nos a algum lado? A intolerância alguma vez gerou alguma coisa,
além de violência, de morte, de lágrimas, de sofrimento?
Quantas
vezes nas nossas comunidades cristãs (ou religiosas) a absolutização da lei
causa marginalização e sofrimento... Quantas vezes se atiram pedras aos outros,
esquecendo os nossos próprios telhados de vidro... Quantas vezes marcamos os
outros com o estigma da culpa e queimamos a pessoa em "julgamentos
sumários" sem direito a defesa... Esta é a lógica de Deus? O que nos
interessa: a libertação do nosso irmão, ou o seu afundamento?
Neste
caminho quaresmal, há duas coisas a considerar: Deus desafia-nos à superação de
todas as realidades que nos escravizam e sublinha esse desafio com o seu amor e
a sua misericórdia; e convida-nos a despir as roupagens da hipocrisia e da
intolerância, para vestir as do amor.
6º Domingo da Quaresma - Domingo de Ramos
A
liturgia deste último Domingo da Quaresma convida-nos a contemplar esse Deus
que, por amor, desceu ao nosso encontro, partilhou a nossa humanidade, fez-se
servo dos homens, deixou-se matar para que o egoísmo e o pecado fossem
vencidos. A cruz (que a liturgia deste Domingo coloca no horizonte próximo de
Jesus) apresenta-nos a lição suprema, o último passo desse caminho de vida nova
que, em Jesus, Deus nos propõe: a doação da vida por amor.
A primeira leitura
apresenta-nos um profeta anônimo, chamado por Deus a testemunhar no meio das
nações a Palavra da salvação. Apesar do sofrimento e da perseguição, o profeta
confiou em Deus e concretizou, com teimosa fidelidade, os projeto de Deus. Os
primeiros cristãos viram neste "servo" a figura de Jesus.
A segunda
leitura apresenta-nos o exemplo de Cristo. Ele prescindiu do orgulho e da
arrogância, para escolher a obediência ao Pai e o serviço aos homens, até ao
dom da vida. É esse mesmo caminho de vida que a Palavra de Deus nos propõe.
O
Evangelho convida-nos a contemplar a paixão e morte de Jesus: é o momento
supremo de uma vida feita dom e serviço, a fim de libertar os homens de tudo
aquilo que gera egoísmo e escravidão. Na cruz revela-se o amor de Deus, esse
amor que não guarda nada para si, mas que se faz dom total.
LEITURA
I - Is 50,4-7
Leitura
do Livro de Isaías
O
Senhor deu-me a graça de falar como um discípulo, para que eu saiba dizer uma
palavra de alento aos que andam abatidos. Todas as manhãs Ele desperta os meus
ouvidos, para eu escutar, como escutam os discípulos. O Senhor Deus abriu-me os
ouvidos e eu não resisti nem recuei um passo. Apresentei as costas àqueles que
me batiam e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos
que me insultavam e cuspiam. Mas o senhor Deus veio em meu auxílio, e por isso
não fiquei envergonhado; tornei o meu rosto duro como pedra, e sei que não
ficarei desiludido.
AMBIENTE"
No
livro do Deutero-Isaías (Is 40-55), encontramos quatro poemas que se destacam
do resto do texto (cf. Is 42,1-9;49,1-13;50,4-11;52,13-53,12). Apresentam-nos
uma figura enigmática de um "servo de Jahwéh", que recebeu de Deus
uma missão. Essa missão tem a ver com a Palavra de Deus e tem caráter
universal; concretiza-se no sofrimento, na dor e no abandono incondicional à
Palavra e aos projetos de Deus. Apesar de a missão terminar num aparente
insucesso, a dor do profeta, não foi em vão: ela tem um valor expiatório e
redentor; do seu sofrimento resulta o perdão para o pecado do povo. Deus
aprecia o sacrifício do profeta e recompensá-lo-á, elevando-o à vista de todos,
fazendo-o triunfar dos seus inimigos e adversários. Quem é este profeta? É
Jeremias, o paradigma do profeta que sofre por causa da Palavra? É o próprio
Deutero-Isaías, chamado a dar testemunho da Palavra no ambiente hostil do
exílio? É um profeta desconhecido? É uma figura coletiva que representa o Povo
exilado, humilhado, esmagado, mas que continua a ser um testemunho de Deus no
meio do sofrimento em que vive? É uma figura representativa, que une a
recordação de personagens históricas (patriarcas, Moisés, David, profetas) com
figuras míticas, de forma a representar o Povo de Deus na sua totalidade? Não
sabemos; no entanto, a figura apresentada vai receber uma outra iluminação à
luz de Jesus Cristo, da sua vida, do seu destino. O texto que nos é proposto é
parte do terceiro cântico do "servo de Jahwéh".
MENSAGEM
O
texto dá a palavra a um personagem anônimo, que fala do seu chamamento por Deus
para a missão. Ele não se intitula "profeta"; porém, narra a sua
vocação, com os elementos típicos dos relatos proféticos de vocação. Em
primeiro lugar, a missão que este "profeta" recebe de Deus tem
claramente a ver com o anúncio da Palavra. O profeta é o homem da Palavra, através
de quem Deus fala; a proposta de redenção que Deus faz a todos aqueles que
necessitam de salvação/libertação ecoa na palavra profética. O profeta é
inteiramente modelado por Deus e não opõe resistência nem ao chamamento, nem à
Palavra que Deus lhe confia; mas tem de estar, continuamente, numa atitude de
escuta de Deus, para que possa depois apresentar - com fidelidade - essa
Palavra de Deus para os homens. Em segundo lugar, a missão profética realiza-se
no sofrimento e na dor. É um tema sobejamente conhecido da literatura
profética: o anúncio das propostas de Deus provoca resistências que, para o
profeta, se consubstanciam quase sempre em dor e perseguição. No entanto, o
profeta não se demite: a paixão pela Palavra sobrepõe-se ao sofrimento. Em
terceiro lugar, vem a expressão de confiança no Senhor, que não abandona
aqueles a quem chama. A certeza de que não está só, mas que tem a força de
Deus, torna o profeta mais forte do que a dor e o sofrimento. Por isso, o
profeta "não será confundido".
ATUALIZAÇÃO
A
reflexão pode fazer-se de acordo com as seguintes coordenadas:
Não
sabemos, efetivamente, quem é este "servo de Jahwéh"; no entanto, os
primeiros cristãos vão utilizar este texto como grelha para interpretar o
mistério de Jesus: ele é a Palavra de Deus feita carne, que oferece a sua vida
para trazer a libertação/salvação aos homens... A vida de Jesus realiza
plenamente esse destino de dom e de entrega da vida em favor de todos; e a sua
glorificação mostra que uma vida vivida deste jeito não termina no fracasso,
mas na ressurreição que gera vida nova.
Jesus,
o "servo" sofredor que faz da sua vida um dom por amor, mostra aos
seus seguidores o caminho: a vida, quando é posta ao serviço da libertação dos
pobres e dos oprimidos, não é perdida mesmo que pareça, em termos humanos,
fracassada e sem sentido. Temos a coragem de fazer da nossa vida uma entrega
radical ao projeto de Deus e à libertação dos nossos irmãos? O que é que ainda
entrava a nossa aceitação de uma opção deste tipo? Temos consciência de que, ao
escolher este caminho, estamos a gerar vida nova para nós e para os nossos
irmãos?
Temos
consciência de que a nossa missão profética passa por sermos Palavra viva de
Deus? Nas nossas palavras, nos nossos gestos, no nosso testemunho, a proposta
libertadora de Deus alcança o nosso mundo?
SALMO
RESPONSORIAL - Salmo 21 (22)
Meu
Deus, meu Deus, porque me abandonastes?
Todos
os que me vêem escarnecem de mim, estendem os lábios e meneiam a cabeça:
"Confiou no Senhor, Ele que o livre, Ele que o salve, se é seu amigo".
Matilhas
de cães me rodearam, cercou-me um bando de malfeitores. Trespassaram as minhas
mãos e os meus pés, posso contar todos os meus ossos.
Repartiram
entre si as minhas vestes e deitaram sortes sobre a minha túnica. Mas Vós,
Senhor, não Vos afasteis de mim, sois a minha força, apressai-Vos a
socorrer-me.
Hei
de falar do vosso nome aos meus irmãos, hei de louvar-Vos no meio da
assembleia. Vós, que temeis o Senhor, louvai-O, glorificai-O, vós todos os
filhos de Jacob, reverenciai-O, vós todos os filhos de Israel.
LEITURA
II - Fl 2,6-11
Leitura
da Epístola do apóstolo São Paulo aos Filipenses
Cristo
Jesus, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas
aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante
aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à
morte e morte de cruz. Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima
de todos os nomes, para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem no céu, na terra
e nos abismos, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para
glória de Deus Pai.
AMBIENTE
A
cidade de Filipos era uma cidade próspera, com uma população constituída
maioritariamente por veteranos romanos do exército. Organizada à maneira de
Roma, estava fora da jurisdição dos governantes das províncias locais e
dependia diretamente do imperador; gozava, por isso, dos mesmos privilégios das
cidades de Itália. A comunidade cristã, fundada por Paulo, era uma comunidade
entusiasta, generosa, comprometida, sempre atenta às necessidades de Paulo e do
resto da Igreja (como no caso da coleta em favor da Igreja de Jerusalém - cf. 2
Cor 8,1-5), por quem Paulo nutria um afeto especial. Apesar destes sinais
positivos, não era, no entanto, uma comunidade perfeita... O desprendimento, a
humildade e a simplicidade não eram valores demasiado apreciados entre os
altivos patrícios que compunham a comunidade. É neste enquadramento que podemos
situar o texto que esta leitura nos apresenta. Paulo convida os Filipenses a
encarnar os valores que marcaram a trajetória existencial de Cristo; para isso,
utiliza um hino pré-paulino, recitado nas celebrações litúrgicas cristãs: nesse
hino, ele expõe aos cristãos de Filipos o exemplo de Cristo.
MENSAGEM
Cristo
Jesus - nomeado no princípio, no meio e no fim - constitui o motivo do hino.
Dado que os Filipenses são cristãos, quer dizer, dado que Cristo é o protótipo
a cuja imagem estão configurados, têm a iniludível obrigação de comportar-se
como Cristo. Como é o exemplo de Cristo? O hino começa por aludir subtilmente
ao contraste entre Adão (o homem que reivindicou ser como Deus e lhe
desobedeceu - cf. Gn 3,5.22) e Cristo (o Homem Novo que, ao orgulho e revolta
de Adão responde com a humildade e a obediência ao Pai). A atitude de Adão
trouxe fracasso e morte; a atitude de Jesus trouxe exaltação e vida. Em traços
precisos, o hino define o "despojamento" ("kenosis") de
Cristo: ele não afirmou com arrogância e orgulho a sua condição divina, mas
aceitou fazer-se homem, assumindo com humildade a condição humana, para servir,
para dar a vida, para revelar totalmente aos homens o ser e o amor do Pai. Não
deixou de ser Deus; mas aceitou descer até aos homens, fazer-se servidor dos
homens, para garantir vida nova para os homens. Esse "abaixamento"
assumiu mesmo foros de escândalo: ele aceitou uma morte infamante - a morte de
cruz - para nos ensinar a suprema lição do serviço, do amor radical, da entrega
total da vida. No entanto, essa entrega completa ao plano do Pai não foi uma
perda nem um fracasso: a obediência e entrega de Cristo aos projetos do Pai
resultaram em ressurreição e glória. Em consequência da sua obediência, do seu
amor, da sua entrega, Deus fez dele o "Kyrios" ("Senhor" -
nome que, no Antigo Testamento, substituía o nome impronunciável de Deus); e a
humanidade inteira ("os céus, a terra e os infernos") reconhece Jesus
como "o senhor" que reina sobre toda a terra e que preside à
história. É óbvio o apelo à humildade, ao desprendimento, ao dom da vida que
Paulo faz aos Filipenses e a todos os crentes: o cristão deve ter como exemplo
esse Cristo, servo sofredor e humilde, que fez da sua vida um dom a todos; esse
caminho não levará ao aniquilamento, mas à glorificação, à vida plena.
ATUALIZAÇÃO
Para
reflexão, podem considerar-se as seguintes indicações:
Os
valores que marcaram a existência de Cristo, continuam a não ser demasiado
apreciados em muitos dos nossos ambientes contemporâneos. De acordo com os
critérios que presidem ao nosso mundo, os grandes "ganhadores" não
são os que põem a sua vida ao serviço dos outros, com humildade e simplicidade,
mas são os que enfrentam o mundo com agressividade, com auto-suficiência e
fazem por ser os melhores, mesmo que isso signifique não olhar a meios para
passar à frente dos outros. Como pode um cristão (obrigado a viver inserido
neste mundo e a ser competitivo) conviver com estes valores?
Paulo
tem consciência de que está a pedir aos seus cristãos algo realmente difícil;
mas é algo que é fundamental, à luz do exemplo de Cristo. Também a nós é
pedido, nestes últimos dias antes da Páscoa, um passo em frente neste difícil
caminho da humildade, do serviço, do amor: será possível que, também aqui,
sejamos as testemunhas da lógica de Deus?
ACLAMAÇÃO
ANTES DO EVANGELHO - Fl 2,8-9
Refrão
1: Louvor e glória a Vós, Jesus Cristo Senhor. Refrão 2: Glória a Vós, Jesus
Cristo, Sabedoria do Pai. Refrão 3: Glória a Vós, Jesus Cristo, Palavra do Pai.
Refrão 4: Glória a Vós, Senhor, Filho do Deus vivo. Refrão 4: Louvor a Vós,
Jesus Cristo, rei da eterna glória. Refrão 6: Grandes e admiráveis são as
vossas obras, Senhor. Refrão 7: A salvação, a glória e o poder a Jesus Cristo,
Nosso Senhor.
Cristo
obedeceu até à morte e morte de cruz. Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome
que está acima de todos os nomes.
EVANGELHO
- Lc 22,14-23,56 (forma longa) ou Lc 23,1-49 (forma breve)
AMBIENTE
Com
a chegada de Jesus a Jerusalém e os acontecimentos da semana santa, chegamos ao
fim do "caminho" começado na Galileia. Tudo converge, no evangelho de
Lucas, para aqui, para Jerusalém: é aí que deve irromper a salvação de Deus. Em
Jerusalém, Jesus vai realizar o último ato do programa enunciado em Nazaré: da
sua entrega, do seu amor afirmado até à morte, vai nascer esse Reino de homens
novos, livres, onde todos serão irmãos no amor; e, de Jerusalém, partirão as
testemunhas de Jesus, a fim de que esse Reino se espalhe por toda a terra e
seja acolhido no coração de todos os homens.
MENSAGEM
A
morte de Jesus tem de ser entendida no contexto daquilo que foi a sua vida.
Desde cedo, Jesus apercebeu-se de que o Pai o chamava a uma missão: anunciar a
Boa Nova aos pobres, sarar os corações feridos, pôr em liberdade os oprimidos.
Para concretizar este projeto, Jesus passou pelos caminhos da Palestina
"fazendo o bem" e anunciando a proximidade de um mundo novo, de vida,
de liberdade, de paz e de amor para todos. Ensinou que Deus era amor e que não
excluía ninguém, nem mesmo os pecadores; ensinou que os leprosos, os
paralíticos, os cegos, não deviam ser marginalizados, pois não eram
amaldiçoados por Deus; ensinou que eram os pobres e os excluídos os preferidos
de Deus e aqueles que tinham o coração mais disponível para acolher o Reino; e
avisou os "ricos", os poderosos, os instalados, de que o egoísmo, o
orgulho, a auto-suficiência, o fechamento, só podiam conduzir à morte. O
projeto libertador de Jesus entrou em choque - como era inevitável - com a
atmosfera de egoísmo, de má vontade, de opressão que dominava o mundo. As
autoridades políticas e religiosas sentiram-se incomodadas com a denúncia de
Jesus: não estavam dispostas a renunciar a esses mecanismos que lhes
asseguravam poder, influência, domínio, privilégios; não estavam dispostos a
arriscar, a desinstalar-se e a aceitar a conversão proposta por Jesus. Por
isso, prenderam Jesus, julgaram-no, condenaram-no e pregaram-no na cruz. A
morte de Jesus é a consequência lógica do anúncio do Reino: resultou das
tensões e resistências que a proposta do "Reino" provocou entre os
que dominavam este mundo. Podemos também dizer que a morte de Jesus é o culminar
da sua vida; é a afirmação última, porém mais radical e mais verdadeira (porque
marcada com sangue), daquilo que Jesus pregou com palavras e com gestos: o
amor, o dom total, o serviço. Na cruz de Jesus, vemos aparecer o Homem Novo, o
protótipo do homem que ama radicalmente e que faz da sua vida um dom para
todos. Porque ama, este Homem Novo vai assumir como missão a luta contra o
pecado, isto é, contra todas as causas objetivas que geram medo, injustiça,
sofrimento, exploração, morte. Assim, a cruz contém o dinamismo de um mundo
novo - o dinamismo do Reino.
Para
além da reflexão geral sobre o sentido da paixão e morte de Jesus, convém ainda
notar alguns dados que são exclusivos da versão lucana da paixão: · No relato
da instituição da eucaristia, só Lucas põe Jesus a dizer: "fazei isto em
memória de mim" (cf. Lc 22,19). A expressão não quer só dizer que os
discípulos devem celebrar o ritual da última ceia e repetir as palavras de
Jesus sobre o pão e sobre o vinho; mas quer, sobretudo, dizer que os discípulos
devem repetir a entrega de Jesus, a doação da vida por amor. · Só Lucas coloca
no contexto da última ceia a discussão acerca de qual dos discípulos seria o
"maior" e a resposta de Jesus (cf. Lc 22,24-27). Jesus avisa os seus
que "o maior" é "aquele que serve"; e apresenta o seu
próprio exemplo de uma vida feita serviço e dom. Estas palavras soam a
"testamento" e convocam os discípulos para fazerem da sua vida um
serviço aos irmãos, ao jeito de Jesus. · No jardim das Oliveiras, só Lucas faz
referência ao aparecimento do anjo e ao "suor de sangue" (cf. Lc
22,42-44). Esta cena acentua a fragilidade humana de Jesus que, no entanto, não
condiciona a sua submissão total ao projeto do Pai; e sublinha a presença de
Deus, que não abandona nos momentos de prova aqueles que acolhem, na
obediência, a sua vontade. · Também no relato da paixão aparece a ideia
fundamental que perpassa pela obra de Lucas: Jesus é o Deus que veio ao nosso
encontro, a fim de manifestar a todos os homens, em gestos concretos, a bondade
e a misericórdia de Deus. Essa ideia está presente no gesto de curar o guarda
ferido por Pedro no Jardim do Getsemani (cf. Lc 22,51); está também presente
nas palavras de Jesus na cruz: "Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que
fazem" - Lc 23,34 (é desconcertante o amor de um Filho de Deus que morre
na cruz pedindo desculpa ao Pai para os seus assassinos); está, ainda, presente
nas palavras que Jesus dirige ao criminoso que morre numa cruz, ao seu lado:
"hoje mesmo estarás comigo no paraíso" - Lc 23,43 (é desconcertante a
bondade de um Deus que faz de um assassino o primeiro santo canonizado da sua
Igreja). · Todos os sinópticos falam da requisição de Simão de Cirene para
levar a cruz de Jesus (cf. Mt 27,32; Mc 15,21); no entanto, só Lucas refere que
Simão transporta a cruz "atrás de Jesus" (cf. Lc 23,26). Este dado
serve a Lucas para apresentar o modelo do discípulo: é aquele que toma a cruz
de Jesus e o segue no seu caminho de entrega e de dom da vida ("se alguém
quer vir após mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz dia após dia e
siga-me" - Lc 9,23; cf.14,27).
ATUALIZAÇÃO
Refletir
a partir das seguintes linhas:
Celebrar
a paixão e morte de Jesus é abismar-se na contemplação de um Deus a quem o amor
tornou frágil... Por amor, ele veio ao nosso encontro, assumiu os nossos limites,
experimentou a fome, o sono, o cansaço, conheceu a mordedura das tentações,
tremeu perante a morte, suou sangue antes de aceitar a vontade do Pai; e,
estendido no chão, esmagado contra a terra, atraiçoado, abandonado,
incompreendido, continuou a amar. Desse amor resultou vida plena, que ele quis
repartir connosco "até ao fim dos tempos": esta é a mais espantosa
história de amor que é possível contar; ela é a boa notícia que enche de
alegria o coração dos crentes.
Contemplar
a cruz onde se manifesta o amor e a entrega de Jesus significa assumir a mesma
atitude e solidarizar-se com aqueles que são crucificados neste mundo: os que
sofrem violência, os que são explorados, os que são excluídos, os que são
privados de direitos e de dignidade... Significa denunciar tudo o que gera
ódio, divisão, medo, em termos de estruturas, valores, práticas, ideologias.
Significa evitar que os homens continuem a crucificar outros homens. Significa
aprender com Jesus a entregar a vida por amor... Viver deste jeito pode conduzir
à morte; mas o cristão sabe que amar como Jesus é viver a partir de um dinâmica
que a morte não pode vencer: o amor gera vida nova e introduz na nossa carne os
dinamismos da ressurreição.
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